Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 89
Capítulo 89. Favor não usar remendo e plano na mesma frase


Notas iniciais do capítulo

Olha a continuação, yay!



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Capítulo 89 

Assim que sai do labirinto de corredores dos corações “despartidos”, voltei para a festa, ainda me balançando ao som da minha recém adquirida dança da maturidade emocional. Sorri ao ver quem estava sentada sozinha na mesa reservada para a minha família.  

— Então Scorp realmente conseguiu te colocar para dentro? - Arrastei uma cadeira para perto da monstra do meu coração embelezada com um vestido azul, porque a pergunta não exigia resposta e Rebeca não exigia cumprimentos sofisticados, dei um beijo no topo da cabeça dela. – Mas a pergunta que não quer calar é: por que você não está na mesa dos Malfoy? 

— Só porque há um limite para se estar com os sogros e no caso dos Malfoy esse limite é de 5 segundos. - Ela disse e eu a olhei curioso, pedindo por mais. – Não me faça contar sobre o meu Natal em Malfoy's Manor, é tudo muito deprimente. 

— Você vai ter que me contar eventualmente, mas já que estamos aqui agora, deixa eu te dar um resumo de tudo que aconteceu na festa, para a gente voltar para a diversão logo. - Rebeca ergueu a taça em concordância.  

— Já ia perguntar, porque as coisas não podiam se resumir a Vega gostando de camarão... Eu não acho nem que uma criança daquela idade devia estar comendo camarão!  - Já ia concordar com ela, porque minha mãe sendo alérgica, eu e Louise só pudemos comer frutos do mar quando ficamos bem mais velhos, mas Rebeca completou sua fala. – Um grande desperdício de camarão, se você me perguntar. 

— Tá, eu vou fingir que não ouvi isso, porque tenho coisas importantes a dizer: começamos com Tony fugindo do sogro ruivo. - Levantei o primeiro dedo, contabilizando os dados.  

— Um surto de inteligência tardia, próximo. - Eu encarei ela sem querer entender o que ela disse - não é assim que amigos agem, Rebeca - e ela só fez um esgar com os lábios.  – A gente bem que avisou a Tony que nada de bom viria de um relacionamento com uma grifinória, não me olhe assim! 

— Não, a gente não avisou não, ficamos bem mudos, com medo de falar besteira. - Falei, não sei se me defendendo ou me acusando, quero dizer, isso se classifica como negligência parental?  

— E precisa avisar uma coisa dessas? Achei que nossa eterna cara de horror estava fazendo o serviço. - Ela bebeu rápido da taça e fez um gesto para eu continuar falando. – Continue com o resumo, querido. 

— Então eu encontrei com Sharam e posso ou não ter feito Enrique pedir Dominique Weasley em namoro, sem intenção, claro. - Rebeca me olhou surpresa, então eu percebi que era sim minha obrigação ter consertado aquela merda. Ainda bem que eu consertei, 100 pontos para a Sonserina!  

— Claro que foi sem intenção, nem você é tão idiota assim, mas então ele pediu ela mesmo em namoro? - Ela me falou enquanto apoiava os cotovelos na mesa, curiosa.  

— Bem, não, né?  E daí deu-se a merda, porque ele disse isso na frente dos pais e Weasley ficou arrasada! - Falei, já sentido necessidade de comer de novo, porque falar de confusões amorosas alheias me dá fome. 

— Espera, ele falou que está namorando ou que não está namorando na frente dos pais? - Olhei sem paciência pra monstra, eu não tinha sido claro o suficiente?  – Você não foi claro o suficiente, essa parte ficou confusa. 

— Ele disse que não estava namorando e por isso passei os últimos minutos tentando convencê-la de que Enrique é um imbecil enquanto ela se desidratava no banheiro de tanto chorar. - Rebeca fez uma cara de “agora sim” e eu continuei aliviado por ela ter entendido. 

— Foi, tipo, uns dois minutinhos só, né, porque não pode ter sido difícil provar a imbecilidade dele. - Ela disse sarcástica e eu respondi igualmente sarcástico. 

— É de uma Weasley que estamos falando, uma ruiva que pinta o cabelo de loiro, ainda por cima, claro que foi difícil!  - Rebeca fez cara de choque e depois deu uma risada maligna. – Não podemos culpá-la, principalmente você, que namora aquele cuja a família sustenta a indústria de poção descolorante para cabelos há séculos. 

— Golpe baixo. - Ela aceitou mais uma taça flutuante, bebeu e abaixou o negócio com um barulho seco na mesa. – Mas vamos ao que interessa, o que aconteceu com os gostosos da Bulgária? Puxa vida, eu doida para conseguir um autógrafo de um deles e nem sinal daqueles braços do tamanho de troncos!  

— Estamos todos decepcionados e a minha pessoa em específico se perguntando onde eles assinariam seu autógrafo. - Rebeca me sorriu maliciosa e eu resolvi devolvê-la para o clima de fofoca. – Acontece que fizeram uma piadinha com o apelido Ira vermelha deles, deixando-os todos nessa cor. 

— Ai que falta de criatividade, tô pra ver... - Ela falou, já perdendo o interesse na história.  

— Mas aí é que tá, minha cara monstra, o plano tinha a intenção de desestabilizar os búlgaros e os africanos, que foram os primeiros a serem acusados. - Sussurrei, porque não queria levantar suspeitas. – Um plano tortuoso, fruto de uma mente maligna. 

— Você por acaso... 

— Um plano de três partes, mas apenas duas partes e meia foram executadas. - Falei sendo o mais óbvio possível, porque todos na face da Terra sabe a quem pertence qualquer plano ridículo de três partes por aqui. Rebeca revirou os olhos. – Novamente você não pode dizer nada, porque a inspiração para o plano foi do livro do seu adorável... 

— Ok, de que planos estamos falando? Porque eu acabei de colocar o meu em ação e vai ser incrível! - Louise sentou animada do meu lado, ainda dando pulinhos, embora agora na cadeira. – Prazer em revê-la, Wainz. Como foi de Natal? 

— Que simpática... Fui mais ou menos, ainda que não seja da sua conta. - Rebeca respondeu com um sorriso falso, mas dessa vez Louise nem ligou, porque estava se abanando cheia de energia. Ela estava muito estranha, na verdade... – Mas de que plano você estava falando? 

— Ah, cobrinha, dessa vez você vai adorar minha ideia, porque eu finalmente estou me desculpando com meu pobre e encalhado irmão aqui. - Minha gêmea satânica respondeu divertida e eu pisquei surpreso pra ela. – Você vai me amar tanto no final de tudo... 

— O que foi que você fez, Louise? - Eu perguntei assustado, porque a gente já sabe o quão bons são os planos dessa tapada. 

— E quando eu digo no final de tudo, eu quero dizer mesmo no final, porque o meio vai ser um pouco turbulento. - Ela falou brincando com os indicadores e Rebeca riu, entretida com meu drama. 

— Eu vou colocar a monstra para arranhar a sua cara , se você não disser o que aprontou dessa vez! -  Eu falei realmente bravo e Rebeca só apontou para si mesma em falsa surpresa, como se dissesse “eeeeuuuu?”. – Ela me deu uma cotovelada na cara de presente de Natal e isso é provavelmente fichinha perto do remendo dela, por favor, não ria, Rebeca! 

— Ah não, meu lindo, eu estou mais preocupada em ter que tirar a maquiagem de sua irmã de debaixo de minhas unhas depois. - Rebeca respondeu animada e me deu uma piscadela.  – Você sabe que eu não vou resistir se você me obrigar a arranhar... Oh, senhor e senhora Fábregas, que prazer em revê-los! Vocês se importam se eu ficar aqui com vocês? É que a mesa dos meus sogros está cheia... 

Rebeca cumprimentou meus pais elegantemente, nem parecendo que estava ameaçando arranhar a cara da filha deles a dois segundos atrás. Não pude apreciá-la em toda sua glória mentirosa, porque estava encarando a cara sonsa de minha irmã se fingindo de santa. 

— Pode ficar sempre que quiser, mocinha, adoramos a sua companhia. - Minha mãe falou sincera, porque realmente gosta de Rebeca e suas boas notas, bom gosto e... Ela obviamente não conhece a monstra de verdade. – Olha, parece que o sorteio do campeonato vai começar! 

Minha mãe apontou para o palco onde antes havia uma banda de duendes e agora tinha apenas o insuportável senhor Potter, cercado pelos treinadores das outras seleções e pelos Dussel. Enrique parecia meio entediado do lado dos pais e dos meio irmãos demoníacos. 

Harry Potter cumprimentou a todos, agradeceu pela presença da galera, em especial das outras seleções, que aceitaram participar do sorteio tão longe de casa e blablabla... Ele fez uma piadinha muito sem graça com elfos e champanhe e eu só revirei os olhos, com muita vergonha alheia. 

Assim que ele terminou sua fala, passou a palavra para o patriarca do clã Dussel, que encheu a sala com sua voz de tenor aposentado pelo uso constante de cigarro. Quando eu crescer eu quero ter uma voz dessas, tô logo avisando. O homem cumprimentou a todos, mas foi logo cortando o papo e indo ao que interessava. 

—Convido agora ao palco, os capitães das equipes semifinalistas do campeonato. - Ele fez um gesto amplo para o salão e os três capitães das outras seleções atenderam o chamado. Fiquei esperando Frank levantar, mas o gótico anarquista não deu as caras. – Capitão Fábregas, por favor, venha ao palco. 

Não sei quem achou que seria uma boa ideia acender um refletor na minha cara, mas eu me levantei rápido, antes que um dos caras das equipes rivais levantassem e gritassem que eu na verdade estava suspenso do campeonato. 

Ou alguém da minha equipe mesmo, porque são todos uns sacanas. 

Vi um gesto encorajador de Dominique Weasley sentada bem perto da subida do palco, mas assim que me juntei aos outros, vi o sorrisinho cínico de Enrique e os olhares feios de todo o resto - a letra H inteira da sessão “desnecessários porém ricos” do Ministério mais os capitães das escolas - com exceção dos pais do dito cujo.  

Ah, mas porque Harry Potter também está bravinho comigo? Eu não tenho culpa se ninguém leva as punições dele a sério!  

— Então vamos agora para o sorteio. - O senhor Ciaran Dussel falou isso para todos, mas me deu uma piscada tão discreta, que se ele não fosse a cara do filho, eu poderia até dizer que foi imaginação minha. – Cada capitão pegará uma dessas belíssimas esferas de cristal e as quebrará ao meu comando, entendido, garotos?  

Olhei para o capitão americano idiota do meu lado esquerdo e para o da Durmstrang - não mais vermelho, mas ainda muito bravo - no meu lado direito e ambos pareciam que haviam entendido tudo. Dei de ombros, vou copiar o que quer que eles façam. 

Quando eu toquei na esfera azulada com o pequeno brasão dos Dussel - tive que me controlar para não revirar os olhos, até aqui propaganda -  me senti otimista, então assim que o pai de Enrique deu o sinal, já sabia quem seria nosso adversário.  

O búlgaro esmigalhou o vidro na mão - oucht, eu não tenho couro de dragão no lugar de pele! - e o americano quebrou a bolinha em baixo da bota do velho oeste dele, então me restou imitar o africano e atirar a bolinha no chão.  

Fumaças azuladas saíram das esferas partidas, mas a minha em particular foi logo tomando a forma de um dragão - que eu suponho que esteja representando o lema de Hogwarts, mas nunca saberei com certeza - briguento, que se enrolou ao redor do pentagrama de Salem. 

Eu não vou falar nada do símbolo de Salem, mas se me procurarem, eu sou aquele me benzendo com água benta e rezando em latim, já sabem. 

A sinistra ave de duas cabeças, patrona de Durmstrang, começou a se engalfinhar com as luas de Uagadou e sim, estou rindo disso, porque a ave ficou rodando esquisitamente ao redor das luas e isso não faz o menor sentido! 

A maioria dos espectadores, sendo britânicos e tendo estudado em Hogwarts,  vibraram ao ver que nós tínhamos caído com a segunda colocada da outra chave. Somando o fato de que o senhor Dussel piscou para mim, Salem insistiu em sortear de novo as chaves, para não ter que jogar obrigatoriamente com Uagadou, eu só posso chegar a uma conclusão:  

Esse sorteio foi mais roubado do que aquela partida louca em que Rebeca ganhou nas Cartas de Cassandra no mês passado, só que dessa vez vocês não vão me ver reclamando disso. 

Sorri animado, porque na pior das hipóteses eu só irei viajar para os fabulosos recém reformados aposentos americanos para dizer que não são tão legais assim, mesmo que sejam, porque obviamente Hogwarts nunca mais será anfitriã de nada. 

 Ah sim, eu sou invejoso e precisaria de muito pra eu dar o braço a torcer para eles, logo, começarei a escrever minha crítica nada construtiva para deixar na caixinha de sugestões de Salem. O pai de Enrique voltou a falar e todos voltamos a prestar atenção nele. 

— Antes que continuemos a festa, com fogos de artifícios, provocações saudáveis e tudo mais, creio que ainda nos resta saber quando e onde cada um desses jogos incríveis irá acontecer, então... - O homem se interrompeu, porque saído do inferno, Enrique surgiu ao meu lado e me deu um beijo, na frente de todo mundo. – Ou podemos fazer isso. 

Mas. Que. Merda. É. Essa? 

Eu obviamente empurrei ele e fiz essa exata pergunta. Cara, por quê? Que diabos, eu vou.... Pude ver os flashs estalando na frente do palco e nem sequer tive coragem de olhar para o restante da festa, porque estava muito concentrado fazendo a minha melhor cara de “mas que porra é essa?”, para um Enrique piscando confuso. 

Eu devo ter ficado encarando a cara dele e ele a minha por meia hora ou cinco segundos, tanto faz, e só parei porque uma voz conhecida chamou minha atenção, o que era dizer muito, já que estou mais petrificado que todas as estátuas de Hogwarts juntas. 

— Já entendi porque você quis me consolar naquele banheiro, Fábregas. - Olhei para baixo só para ver Dominique Weasley, apoiada de leve no palco, me encarando com um olhar venoso que não combinava com ela em nada. – Para a falar a verdade... Não entendi merde nenhuma! Por que inferne você foi me consolar, seu imbecil!?! 

— Não fode, Weasley, não tá vendo que eu tenho problemas mais sérios do que suas dúvidas existenciais pra resolver? - Falei irritado, não com ela, mas com o idiota ao meu lado, que tentava se explicar para o pai. – Fica quietinha aí, que nem tudo no mundo é sobre você!  

— Pois é, Nique, acho que finalmente você não será o centro das atenções. - A outra prima Weasley da Lufa-lufa gritou maldosamente, depois soluçou com seu rosto avermelhado e riu pra valer, ainda sentada na mesa de onde Dominique devia ter saído. – Meu Merlin, trocada por um garoto! E depois você vem me dar sermão sobre dignidade... 

— Dou mesmo, porque você não tem nenhuma! - A falsa loira virou sua raiva para a prima visivelmente bêbada e eu meio que fiquei grato por isso, já que estou dividindo a vergonha com outras pessoas. – Se humilhando por um cara feio, o meu pode ser até um gay enrustido, mas pelo menos ele é bonito e não tem uma falha tectônica nos dentes!  

— HEY! - Bati a mão na testa, porque é claro que Romeo não podia ficar calado na dele. Ah, mas quer saber? Tudo bem, eu sou solidário, vamos dividir a desgraça com meu amigo ogro também, por que não? – Err... Quero dizer, vamos parar com essa galinhagem, garotas, vocês estão nos envergonhando na frente das visitas!  

Eu tapei os ouvidos para não ouvir Segundo indo até a mesa dos Habermas tirar satisfações com o idiota além do limite, vulgo Romeo, e também para não ouvir a discussão das Weasleys aqui na frente, já que o resto da festa estava em um silêncio horrível, assistindo o circo pegar fogo. 

Não vou mentir, se eu não fosse um dos palhaços fritos desse circo dos horrores, eu também estaria calado para não perder um lance da fofoca mais crocante do ano, que nem sequer começou ainda! Me virei para Potter, que instruía dois homens ruivos a apartarem a briga - agora física - de Dominique e da outra prima lá, que Romeo pega. 

— O senhor não vai fazer nada? -  Falei miseravelmente e Potter me olhou perdido, depois olhou confuso para o senhor Dussel, cujo o filho imbecil já havia sumido do palco, claro.  

Filho da puta covarde e doido de pedra! 

— Acha que devemos... - Potter olhou para o homem mais velho e experiente, que apenas deu de ombros, impassível. – Vamos ao sorteio então. 

O senhor Dussel projetou novamente a voz com a varinha e ainda tinha uns resquícios de confusão aqui e ali, mas nada que realmente pudesse atrapalhar ele cantar suas cartas marcadas:  

Jogaríamos em Salem em março e Uagadou iria tentar dar uma surra em Durmstrang, lá naquele fim de mundo cheio de gigantes de capa vermelhas em abril. 

Desci do palco ignorando o aperto de mão oferecido pelo capitão americano - que se foda a cordialidade, ele pode muito bem enfiar o prêmio de fair play no rabo - para encontrar com minha família com uma cara estranha me esperando em nossa mesa. 

— Eu acho que já deu por hoje, né? Vamos para casa? - Falei tranquilamente, peguei caveira na mesa e dei um aceno rápido para Rebeca. Louise e meus pais me acompanharam, sem dizer mais nada. 

Ouvimos o começo da queima de fogos no momento em que nos dirigíamos para a rede de flú, na lareira colossal da mansão belíssima alugada pelos Potter. Chegamos em casa - agora com uma lareira bruxa, obrigado, Malfoys! - com o relógio antigo da época em que meus avós paternos eram jovens soando o último toque da meia-noite, que poético.  

Feliz ano novo! 

Ok, ele já pode acabar agora.  

*** 

— Todo eso es mi culpa... [Isso tudo é minha culpa.] - Minha mãe puxou minha mão para seu colo, quando já estávamos todos sentados no sofá inútil da sala de estar. Olhei cético para ela, que deu tapinhas tristes na minha mão esquerda.  

— ¿Por qué nos permitió nacer en el signo de libras? [Porque permitiu que nascêssemos no signo de libras?] - Perguntei sem emoção, só porque todo mundo da minha casa sabia o quanto ela se ressentia por isso. 

—Un signo horrible, de hecho, pero no, no es por eso. [Um signo horrível, de fato, mas não, não é por isso.] - Ela pausou a fala, talvez pensando em como dizer as próximas palavras. Meu Deus, o suspense é a pior parte. – Niños, probablemente se sorprenderán em saber que su madre no siempre ha sido ese buen ejemplo de mujer respetable que es hoy. [Crianças, provavelmente vocês ficarão surpresos em saber que sua mãe nem sempre foi esse bom exemplo de mulher respeitável que é hoje.] 

— No nos quedamos no. [Não ficaremos não.] - Meu pai respondeu no automático e por isso mesmo recebeu um olhar feio de minha mãe.  

— Yo dije “niños”, no se meta, hombre! En fin, continuando, yo ya estuve ahí exactamente donde usted está hoy, querido: joven, confuso, promiscuo ... Sólo no de Libras, porque hay límites para todo. [Eu disse “crianças”, não se meta, homem! Enfim, continuando, eu já estive aí exatamente onde você está hoje, querido: jovem, confuso, promíscuo... Só não de Libras, porque há limite para tudo.]  - Olhei meio ofendido pra minha mãe, principalmente porque essa deve ser “a conversa com os pais” mais absurda que se tem notícias! 

— ¿Entonces quiere decir, en resumen, que usted tiene un pasado "lesbiano"?[Então quer dizer, em resumo, que a senhora tem um passado “lesbiônico”?] - Louise perguntou dissimulada e antes que minha mãe pudesse recriminá-la, ela completou. – ¿Usted sabe que está robando el protagonismo de Cesc, no es? He tenido un trabajo horrible para dar una capa de profundidad a su hijo y usted está simplemente quitando eso de él![A senhora sabe que está roubando o protagonismo de Cesc, não é? Eu tive um trabalho horrível para dar uma camada de profundidade ao seu filho e você está simplesmente tirando isso dele!] 

Meu pai riu de sua poltrona do comodismo e eu olhei irritado para ele, porque aquilo não podia ser sério.  Minha família toda é digna de um manicômio? Eu meio que estou em uma situação delicada aqui, então eles tratarem tudo com tanta superficialidade é ofensivo, no mínimo!  

Mais respeito, por favor! 

— Ok, familia, vamos a hablar en serio ahora. [Ok, família, vamos falar sério agora.] - Meu pai pigarreou e se inclinou para a frente, respirou fundo antes de assumir sua postura de advogado sem coração. Finalmente iriamos ter a conversa horrível, mas necessária que eu tanto ouvi falar e que me assombrou por tanto tempo.– Cesc, eres gay? [Cesc, você é gay?] 

— No. [Não.]  - Respondi de pronto e Louise só deu um piti típico, mas fora isso meu pai continuou do mesmo jeito e minha mãe só deu um leve aperto em minha mão.  

— ¿Entonces eres bisexual? ¿Pan? Yo veo a Netflix, chico, estoy por dentro de esas cosas. [Então você é bissexual? Pan? Eu assisto Netflix, garoto, eu estou por dentro dessas coisas.] - Meu pai falou de um jeito meio ofendido, sendo que ninguém nunca o acusou de estar “por fora” de nada. –Puede estar seguro, hijo, nadie aquí te está juzgando. [Pode ter certeza, filho, ninguém aqui está te julgando.] 

— No me siento juzgado y ese puede ser el problema, precisamente. [Não me sinto julgado e esse pode ser o problema, precisamente.] - Falei baixo, mas sei que todos me ouviram. – No tomé mucho tiempo para pensarlo, pero juraba que ustedes no estaban de acuerdo, quiero decir, y todos los domingos de misa? ¿Y la cruz que tengo que llevar en el pecho? ¡Literalmente, porque yo uso ese crucifijo que fue de mi abuelo las 24 horas del día! [Não tirei muito tempo para pensar sobre isso, mas jurava que vocês não estariam de acordo, quero dizer, e todos os domingos de missa? E a cruz que eu tenho que carregar no peito? Literalmente, porque eu uso esse crucifixo que foi do meu avô 24 horas por dia!] 

— ¿Somos católicos, pero en qué momento dimos a entender que somos del tipo radicales? [Nós somos católicos, mas em que momento demos a entender que somos do tipo radicais?] - Minha mãe perguntou com um sorriso doce, daqueles que desarmam qualquer um. Desviei os olhos, porque esse poder materno de fazer a gente se sentir vulnerável é uma merda. – Nosotros te deseamos mucho para desistir de ti a causa de convenciones sociales, Cesc. [Nós te desejamos muito para desistir de você por causa de convenções sociais, Cesc.] 

— No son sólo convenciones sociales, madre, la gente realmente cree que estar con alguien del mismo sexo destruye el alma y sé más qué. Usted puede incluso tener un pasado similar, pero las otras personas no y ellas van... [Não são só convenções sociais, mãe, as pessoas realmente acreditam que estar com alguém do mesmo sexo destrói a alma e sei lá mais o quê. Você pode até ter um passado similar, mas as outras pessoas não e elas vão...] - Minha mãe me calou e eu a olhei confuso. 

— La gente eso y la gente aquello ... La gente va a hacer mucho mal, hijo, pero eso es lo que la gente hace. Si uno es hacer todo lo que otros quieren, no viviremos. [As pessoas isso e as pessoas aquilo... As pessoas vão fazer muita coisa ruim, filho, mas isso é o que as pessoas fazem. Se a gente for fazer tudo como os outros querem, não viveremos.] - Ela passou a mão no meu rosto e me forçou a olhar para ela. – Usted es muy nuevo y no hay nada mal en probar los límites, Dios sabe que he probado los míos ... [Você é muito novo e não há nada de errado em testar os limites, Deus sabe que eu testei os meus...] 

— ¿Entonces crees que también estoy pasando sólo por una fase? [Então a senhora acha que eu também estou passando apenas por uma fase?] - Perguntei realmente em dúvida, porque eu não queria decepciona-la caso eu não acabasse minha história bem casado com uma mulher e com um par de filhos, como manda o figurino. 

— No fue una fase para mí, Cesc. Me casé con su padre porque me apasioné por él, sencillo así. [Não foi uma fase para mim, Cesc. Eu me casei com seu pai porque me apaixonei por ele, simples assim.] - Ela olhou para meu pai atrás de mim, mas não pude ver a reação dele, porque estava muito focado no que ela tinha a dizer. – Casi solé todo en la universidad para quedarme con una chica por quien estaba verdaderamente enamorada ... Estar con hombres habría sido una fase entonces? Creo que no. [Quase larguei tudo na faculdade para ficar com uma garota por quem estava verdadeiramente apaixonada... Estar com homens teria sido uma fase então? Eu acho que não. ] 

— Su madre siempre tuvo una caída por chicas francesas, niños y contra todas las opiniones desalentadoras, la invité a salir así. [Sua mãe sempre teve uma queda por garotas francesas, crianças e contra todas as opiniões desencorajadoras, eu a convidei para sair mesmo assim.] - Olhei para meu pai e ele sorriu saudoso. –  Juraba que no tenía oportunidad alguna y cuando percibí que tenía, supe que mi vida no sería ordinaria con esa mujer, aunque nuestros padres, nuestros vecinos y las personas en general, estén seguros de que así es. [Jurava que não tinha chance alguma e quando percebi que tinha, soube que minha vida não seria ordinária com essa mulher, ainda que nossos pais, nossos vizinhos e as pessoas em geral, tenham certeza de que assim é.] 

— Menos los amigos, siempre saben la verdad. [Menos os amigos, eles sempre sabem a verdade.] - Minha mãe disse divertida e passou a mão pelo meu cabelo e eu sorri pra ela, porque ela tinha mesmo umas amigas legais. – No importa lo que suceda, querido, sepa que no sólo amamos a usted, pero también nos gusta. ¿Entiende lo que quiero decir? [Não importa o que aconteça, querido, saiba que nós não só amamos você, mas também gostamos de você. Entende o que eu quero dizer?] 

Olhei para os meus pais, que sempre pareceram muito certinhos e chatos para o meu gosto, com um novo olhar. Era muito estranho saber que as pessoas responsáveis pela sua existência já tinham sido jovens como a gente e que ainda hoje tinham histórias que a gente desconhece.  

Muito, muito estranho mesmo. 

— Lo que su madre está tratando de decir es que para nosotros está todo bien, usted no va a ser uno de esos chicos que es expulsado de casa, no es en ese tipo de cosa que creemos. [O que sua mãe está tentando dizer é que para nós está tudo bem, você não vai ser um daqueles garotos que é expulso de casa, não é nesse tipo de coisa que a gente acredita.] - Meu pai sorriu pra mim e eu tive que sorrir de volta, porque é realmente bom ser filho de pessoas incríveis. – Nuestra familia ya perdió mucho por cuenta de prejuicios, hijo. No vamos a cometer el mismo error de nuevo. [Nossa família já perdeu muito por conta de preconceitos, filho. Não vamos cometer o mesmo erro novamente.] 

Olhei em dúvida para ele e então para Louise, que me encarou de volta com uma cara de “não olhe pra mim, não faço ideia do que ele está falando”. Minha mãe chamou a atenção de volta para si. 

— Ahora, sobre la elección del chico, no sé si me gusta usted salindo con un chico tan viejo, aún más un tan impulsivo. [Agora, sobre a escolha do garoto, eu não sei se gosto de você saindo com um rapaz tão mais velho, ainda mais um tão impulsivo assim.] - Ela me olhou em dúvida, como se não quisesse ofender meu gosto por caras. No mínimo ela deve achar que se for contra, eu vou ser o garoto rebelde que desafia os pais por amor. 

É oficial, vou cortar a Netflix dos meus pais. 

— Si te consuela, mamá, Enrique Dussel no estaba exactamente en su mejor forma en aquella fiesta. [Se te consola, mamãe, Enrique Dussel não estava exatamente em sua melhor forma naquela festa.] - Louise disse divertida e eu a olhei com suspeita. – De nada, querido hermano. [De nada, querido irmão.]  

Depois desse sussurro dela, me caiu a ficha de que Enrique realmente não parecia muito normal naqueles fatídicos minutos pós-revelação. Olhei acusatório para minha irmã tão sem noção para planos maquiavélicos quanto o meu melhor amigo. 

De momento familiar adorável e comovente para tretas malignas. Realmente, ninguém podia dizer que a vida nessa casa é ordinária!  

— Por favor, Louise, no me diga que usted fue responsable de uno de los momentos más vergonzosos de toda mi vida! [Por favor, Louise, não me diga que você foi responsável por um dos momentos mais constrangedores de toda a minha vida!] - Eu esbravejei e ela apenas deu um sorrisinho amarelo. – ¡Louise! ¡Usted puede haber simplemente acabado con la vida de Enrique y ni siquiera le importa! Los padres de ellos difícilmente serán una versión española de Modern Family! [Louise! Você pode ter simplesmente acabado com a vida de Enrique e nem se importa! Os pais deles dificilmente serão uma versão espanhola de Modern Family!] 

— Su hermano tiene razón, la señorita ha pasado de los límites! [Seu irmão tem razão, a senhorita passou dos limites!] - Minha mãe esbravejou e eu olhei surpreso, porque ela nunca, nunca, eu disse nunca? NUNCA esbraveja com Louise! – No puede salir por ahí en la vida de los demás sin importar las consecuencias. [Não pode sair por aí se metendo na vida dos outros sem ligar para as consequências.]  

— Pero, gente, no es como si yo hubiera lanzado un Imperius en él, él hizo lo que realmente estaba a fin de hacer! [Ora, gente, não é como se eu tivesse lançado uma Imperius nele, ele fez o que realmente estava afim de fazer!] - Minha digníssima falecida irmã até se levantou para falar seu discurso e eu a assisti incrédulo. – Sólo di un empujoncito... [Eu só dei um empurrãozinho...] 

Atirei meu celular no ombro dela, porque eu sei que se atirasse na cara, eu perderia o apoio dos meus pais em um piscar de olhos. Minha mãe me olhou feio e eu só fui catar a bateria do pobre caveira, muito indignado para me manifestar. 

— Creo sinceramente que debemos ignorar este episodio y juzgar a Enrique por lo que ya sabemos sobre él. [Eu sinceramente acho que devemos ignorar esse episódio e julgar Enrique pelo que já sabemos sobre ele.] - Meu pai falou e depois sorriu pra mim. – Me gusta él. [Eu gosto dele.] 

Claro que gosta, deu até pra ver os cifrões se acendendo nos olhos dele. 

— Y no me gusta. [E eu não gosto.] - Minha mãe foi categórica e Louise e meu pai fizeram birrinha. Sério, será que é pedir muito por uma família normal? – Pero puedo cambiar de idea si viene a pedir a mi hijo en la cita apropiadamente. [Mas posso mudar de ideia se ele vier pedir meu filho em namoro apropriadamente.] 

— O Cesc puede ir allí en su mansión pedirle en citas, ya que estamos siendo machistas y los hombres de la relación tienen que tomar el frente. [Ou Cesc pode ir lá na mansão dele pedir ele em namoro, já que estamos sendo machistas e os homens da relação tem que tomar a frente.] - Louise disse sua piadinha sem graça, fazendo meu pai rir e minha mãe revirar os olhos. 

— Cesc va a meter la cara en la almohada pidiendo a Dios por paciencia o una glock con silenciador, yo no tengo preferencia, que quede bien claro: si Dios me da un arma, lo arrojo en ustedes, sin broma. [Pois Cesc vai enfiar a cara no travesseiro pedindo a Deus por paciência ou uma glock com silenciador, eu não tenho preferência, que fique bem claro: se Deus me der uma arma, eu atiro em vocês, sem brincadeira.] - Eu disse e depois deixei a sala sem olhar para trás, mas ainda pude ouvir minha mãe falando. 

— ¡Reza un tercio entero por eso, muchacho, porque hijo asesino no acepto! [Reze um terço inteiro por isso, menino, porque filho assassino eu não aceito!] - Revirei os olhos e sorri para a escada vazia. Tá, eu amo minha família.  

*** 

Tomei um banho rápido, aproveitei que ainda era começo do dia primeiro e me dei ao luxo de sentar na escrivaninha com minha pena do Ocaso ao som da festa distante nas casas vizinhas. Estalei os dedos antes de começar a escrever. 

Meus pais esperam que você venha até aqui a Espanha me dar um beijo decente, porque aquele na casa dos Potter foi patético.  

Aguardei impaciente, balançando os pés descalços, mordendo os lábios e fazendo todos os outros trejeitos clichês que uma menininha apaixonada de romance adolescente faz. E me odiei muito por isso, acreditem. 

Depois de quase cinco minutos de espera, o pergaminho em minha escrivaninha começou a se escrever sozinho. Li e tive que dar risada, depois dessa eu vou até dormir. Deitei na cama e deixei aquela mensagem escrota sem resposta, porque diferente das primas Weasley, eu tenho dignidade. 

Sei... Então eu vou aí dar um beijo em você pelos seus pais e outro que vai te fazer tirar a palavra patético do seu vocabulário.  

Babaca convencido e brega pra completar! Droga, Louise! Que merda de compensação é essa que você foi me arranjar? 

 


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Notas finais do capítulo

Ti fofinhu, deu meio q certo o plano de Louise, né? Err... Enfim.

Bjuxxx