Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 86
Capítulo 86. Feliz (quase) ano novo


Notas iniciais do capítulo

Pensaram que eu não iria rebo... Ok, não sou Anitta (grazadeus), mas sério, acharam que não teria capítulo nesse feriadão, né?



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Capítulo 86. Feliz (quase) ano novo 

—  Ok, Cesc, qual é o plano desse ano? - Louise me perguntou esfregando as mãos ansiosas e eu sorri animado. 

Era véspera de Natal em Sevilha e obviamente não tinha neve, mas tinha comida gostosa, árvore de Natal cheia de presentes e a vovó com seus melhores amigos aguardando o já tradicional concerto musical de seus adoráveis netos. Respondi também em inglês, continuando o clima de segredo dos gêmeos. 

—  Não tenho plano nenhum, eu vou tocar! - Disse empolgado, assistindo a expressão da minha irmã desmoronar. 

—  Mas você não sabe tocar violoncelo! -Ela sussurrou nervosa, como última tábua salva-vidas, no desastre que seria sua noite. Papai serviu mais vinho ao senhor Espar e eu pisquei para ele, o fazendo me olhar desconfiado.  –  Ou sabe? 

—  Ou sei! - Posicionei o violoncelo no lugar certo e mordi os lábios animado, em antecipação ao que ia acontecer.  –  Vai para o piano, Louise, nós vamos arrasar. 

—  Cesc, eu estou te implorando, inventa alguma coisa, qualquer coisa! — Ela me disse horrorizada, encarando a nossa plateia se deliciando com os petiscos de minha mãe.  Dei de ombros para o seu desespero. 

—  Desculpe, irmã, mas dessa vez você está sozinha. - Ela arregalou os olhos, o que mexeu um pouco comigo, confesso. –  Quer que eu comece com o meu solo, pra te dar tempo de pensar em algo? 

—  Cesc, por favor, faça al... 

—  Vamos a empezar con mi solo, señoras y senõres! [Começaremos com meu solo, senhoras e senhores!] - Falei para o meu adorável público, composto em sua maioria por velhinhos de folga de seus respectivos asilos, mas não de suas fraldas geriátricas, espero. 

Ajustei os dedos na corda e o arco na posição certa e comecei a tocar como um verdadeiro talento, emocionando a mim mesmo com tamanha graça e delicadeza. Fechei os olhos e até mesmo prolonguei as notas certas com o meu movimento,  já que eu havia estudado a partitura o suficiente pra saber as partes mais destacadas em que eu devia representar melhor. 

Como eu amo Heidi, a magia e por que não?  A música clássica!  

Fiz um sinal para que Louise passasse a página da partitura, ela piscou distraída com o meu sucesso, a grande invejosa, mas no momento certo ela... 

—  MIERDA, LOUISE, QUE INFIERNO! [MERDA, LOUISE, QUE INFERNO!] - Louise havia tropeçado nos próprios pés e acertado com toda a força o cotovelo ossudo dela no meu pobre nariz, ainda em recuperação! –  Ay, Dios mío, que dolor! Eso esta... Mierda, está sangrando de nuevo! Está sangrando profusamente!  [Ai, meu Deus, que dor! Isso está... Merda, está sangrando de novo! Tá sangrando muito!]  

Não sei se era porque o meu corpo estava frio, sem toda a adrenalina do jogo e da briga, mas dessa vez o meu nariz estava doendo tanto, que até os olhos, que já estavam em um tom amarelado de cura, voltaram a lacrimejar! 

—  Ay Dios mío, Dios mío, Dios mío! Que torpe! [Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! Que desastrada!] -Minha irmã escrota ainda veio com um lenço tirado de não sei onde, pra estancar o sangue que não parava de jorrar. Eu não acredito que vou morrer de hemorragia por causa de Louise! –  Madre de Dios, cuánto sangre! Creo que voy... [Mãe de Deus, quanto sangue!  Eu acho que vou...] 

Ela desmaiou. 

Ou ao menos fingiu muito bem e eu urrei de raiva, porque essa desgraçada da minha irmã conseguiu o que queria.  Meu pai já estava inclinando minha cabeça para frente, pra evitar piorar o estrago, enquanto minha mãe socorria a filha detestável dela no chão.  

—   Vamos a terminar este concierto, ni que para esto tenga que desvanercese em mí sangre! [Nós vamos terminar esse concerto, nem que para isso eu tenha que me esvair em sangue!] -Falei para qualquer um que pudesse me ouvir, mas no final das contas, ninguém me ouviu.  

Que novidade. 

*** 

—  Você não pode estar ainda com raiva de mim... -Louise sussurrou enquanto entrávamos no carro, saindo da emergência do hospital trouxa onde tinham re-remendado a minha cara. Nem me dignei a olhar para a cara descarada dela. 

—  Posso e estou. -Ela calou a boca quando meu pai ligou o carro. Fechei os olhos para não abrir a porta e empurrá-la do veículo em movimento, porque isso só me traria uma satisfação passageira e uma dor no nariz por rir maleficamente da morte prematura de minha irmã.  

—  Você bem que mereceu, não acha? -Ela sussurrou isso já em casa, enquanto subíamos as escadas para trocar de roupa - a minha ensanguentada e a dela só porque era feia mesmo -a encarei com meu melhor olhar de ódio. –  Não devia ter me abandonado em um momento de grande necessidade!  

Seu grito sussurrado e injustiçado me fez virar no último degrau de cima e usar toda a minha força de vontade para não empurrá-la escada abaixo. Ela me olhou assustada. 

—  Você está oficialmente muito perto de colocar o último prego em seu... -Não pude completar minha ameaça para a sonsa se fazendo de vítima na minha frente, porque minha avó resmungou algo ao pé da escada. –  Qué, abuela? [Quê, vó?] 

—  Ven a poner el unguento que he preparado em la nariz, Xesco! [Venha colocar o unguento que preparei no nariz, Xesco!] -Ela falou naquele tom que não cabe argumentos, enquanto ia em direção a cozinha. Eca, não sei o que detestei mais, a perspectiva de colocar alguma meleca sem comprovação científica na cara ou de ouvir meu apelido esquisito de infância.  

Louise sorriu disfarçadamente para o “Xesco” e eu a empurrei o suficiente para que ela desse um gritinho de susto ao escorregar dois degraus e ter que se segurar firme no corrimão. Gritei minha resposta educada.  

—  Lola es mareada, abuela, necesita uno de esos tónicos su... [Lola está tonta, vó, precisa de um desses tônicos seus... -Sorri malignamente para a cara de nojo da idiota. Ela me olhou com raiva. 

—  Ya estoy haciendo! [Já estou fazendo!] -Sorri para a resposta energética de nossa avó mais velha, era bom vê-la assim e também tinha o bônus de Louise sofrendo com sua própria meleca não comprovada por médicos ou qualquer ser humano com juízo enfiada goela abaixo. –  De nada, hermana! [De nada, irmã!] 

—  Vou recompensá-lo pelo nariz, embora não mereça... -Ela resmungou em inglês atrás de mim e eu apenas fiz um gesto obsceno para ela por cima da cabeça. As recompensas de Louise são piores do que maldições! -Ingrato! 

*** 

Por um milagre divino ou satânico, já não sei mais, porque acho que Deus já perdeu a paciência comigo, meu nariz realmente havia melhorado com o unguento fedido de vovó, então lá estava eu nas minhas vestes de gala bruxas, adentrando o baile de Harry Potter, quase perfeitamente lindo como sempre. 

Os fotógrafos não oficiais do campeonato se aglomeravam do lado de fora dos portões cobertos de neve da grande propriedade que eu sabia ser uma antiga mansão vitoriana em que os Potter sempre davam suas festas, por motivos de segurança, bem longe da casa real deles, claro. 

Me senti uma estrela do rock, principalmente porque os repórteres realmente queriam me perguntar coisas e sabiam o meu nome! Levou alguns segundos pra eu lembrar que para todos os efeitos eu ainda era o único capitão nomeado de Hogwarts, o que explicava todo o assédio.  

Era capitão por enquanto. 

—  Fábregas, é verdade que foi expulso do time e que só está aqui porque chantageou Harry Potter com fotos de... -Ah, lá vem Rita Skeeter de novo! 

—  Olha, Rita, querida, eu bem queria que fosse verdade! -A repórter mais fofoqueira de toda a Grã-Bretanha se espremia entre os outros pobres paparazzi tentando conseguir algum furo de notícias. Completei meu raciocínio sarcástico. –  Assim te ajudava a vender alguns jornais pra pagar esses feitiços de beleza que já estão te faltando! 

Um último flash cegante e uma piscadela marota minha na direção dos jornalistas e então mostrei o convite dirigido a mim e a minha família para o auror com sua farda roxa de sempre e cara de quem queria socar todos aqueles vagalumes fofoqueiros do lado de fora da casa do chefe. 

—  Sejam bem-vindos. -O homem disse hermético, nos conduzindo para uma jovem bruxa muito mais simpática, que nos cumprimentou com um sorriso ainda mais luminoso que as câmeras lá fora. 

—  Sejam bem-vindos, mostrarei seus lugares. -A morena de cabelos presos em um coque alto e vestes pretas e roxas nos conduziu, primeiro por um intricado jardim em forma de labirinto protegido por um feitiço óbvio de aquecimento e então para dentro da mansão, pelo labirinto de mesas, repórteres licenciados com seus gravadores e penas, bruxos distintos em vestes de gala e taças flutuantes do que deveria ser umas bebidas bem caras pagas com o imposto dos contribuintes. 

Era uma festa oficial, depois de tudo. 

Os Potter não podiam ser vistos em lugar algum, mas não é como se eu estivesse realmente procurando eles, numa festa dessas, cara, procurar os Potter é até pecado! 

—  Ai, olha para os búlgaros de vermelho! Me arrepio toda com esse uniforme deles! -Louise sussurrou pra mim e eu virei irritado pra ela. 

—  Mantenha a distância, eu ainda não te perdoei. -Ela fez um biquinho chateado, que eu não fiquei olhando muito, já que fui dar aquela conferida nos jogadores da Durmstrang. 

É, nada mau. 

—  Você os viu também? Ai meu Merlin, eu não sei se vou lá pedir uns autógrafos ou se saio correndo na direção oposta! -Você podia pensar que era uma garota falando isso, mas na verdade foi Scorp, que já me dava um abraço rápido e prático, daquele jeito sonso dele. –  A propósito, feliz Natal e ano novo, cara! 

—  Feliz ano novo, criatura! Natal já passou... -Falei divertido e abracei logo Tony, que vinha atrás.  –  Idem pra você, queridinho! 

— Idem no seu idem! -O bom de ter amigos legais é que eles sempre sabem o que dizer. Tony riu e cumprimentou educadamente meus pais e Louise atrás de mim. Depois desse surto de educação, voltou para sua loucura de sempre. –  Scorp não sabe o que fazer, mas eu acho que a gente devia pregar uma peça neles e dizer que foi Uagadou! 

Levei dois segundos para entender do que ele estava falando, até que meu amigo maluco me pegou pelos ombros e me virou completamente para os brutamontes búlgaros chamando toda a atenção em suas vestes carmim no meio do salão. 

—  Reflita essa treta maravilhosa, Cesc. -Tony sussurrou no meu ouvido, ainda me segurando com um braço atravessando meu peito, mas acabou fazendo um “Ah”, suspeito e se escondendo atrás de mim completamente. 

—  Scorp, o que Tony... 

—  Ele está se escondendo do pai de Rose. -O loiro fez uma careta e depois disfarçou batendo a boca como se estivesse me contando alguma piada engraçada. –  Entra no jogo. 

O olhei ainda confuso, ele continuou batendo a boca sem sentido e sussurrando as instruções malucas entre dentes. Louise me encarou maneando a cabeça sem acreditar naquela cena absurda. 

—  Weasley furioso às 14 horas -O loiro platinado me informou e depois deu uma risada horrorosa, chamando a atenção de metade da festa pra si. Essa era a ideia de descrição desses dois? –  Ele já foi? 

—  Se você se refere ao senhor Ronald Weasley, sim, ele já foi para o outro lado. -Louise disse isso para o ser humano agachado atrás de mim, que se levantou com a cara mais deslavada do mundo, ajeitando a gravata verde escura de seu traje elegante. Nós dois tivemos a mesma ideia de homenagear a Sonserina, Scorp fechou o trio com sua gravata prata. –  Não seria mais fácil você encarar o seu sogro, Tony?  

—  Só se for no seu universo, minha querida Lou! -Minha irmã deu um sorriso condescendente para Tony, que olhou para um lado e para o outro antes de decidir sua rota de fuga. –  Agora deixa eu ir, que eu prometi encontrar minha ruiva no pomar. Mas shiu, vocês não estão sabendo de nada! 

—  E não estamos mesmo, não quero tomar parte em nada disso! -Falei enquanto tentava agarrar uma taça de champanhe flutuante. Scorp me olhou com pena. 

—  Eu acho romântico... -Louise suspirou encantada e depois olhou sério pra Tony. –  E covarde! Por que nada com vocês sonserinos é do jeito certo? 

—  Porque a gente gosta de andar no lado escuro da lua. -Tony respondeu enigmático e depois apontou para algo atrás da cabeça da minha irmã. –  Hey, aquele ali não é Longbotton beijando Lexa Prutt? 

Todos nós nos viramos para onde Tony havia apontado, mas havia apenas a grifinória dançando divertida com um garotinho pisando em seus pés. Quando voltamos a olhar para o lugar onde o mentiroso Zabini estava, ele já havia desaparecido de nossas vistas. 

—  Que golpe baixo... -Scorp lamentou, mas deu de ombros assim que o silêncio estranho tomou conta do nosso círculo de conversa.–   Bem, vou ver se Rebeca já chegou na entrada, você sabe, eu disse a ela pra não tentar vir de penetra, mas ela me ouve? É claro que não!  Então eu vou lá tentar tirar ela da... 

Scorp continuou resmungando enquanto abria caminho em direção ao lugar do qual viemos. Louise me olhou entediada. 

—  Seus amigos são uns palhaços. -Nem tive forças para defendê-los, porque é tudo verdade. –  Ei, aquela ali não é sua amiga africana perto do buffet? 

—  Se você quer sumir que nem Tony, só precisava ter dito a palavra “buffet”, que eu já te deixaria a vontade! -Resmunguei me virando para a mesa, ouvindo um suspiro pesado da tonta da minha irmã.  

—  E eu ainda perco meu tempo com você!  

Louise reclamou enquanto eu me afastava em direção a mesa repleta das mais variadas comidas. Um prato de porcelana flutuou até mim e eu não me fiz de rogado, comecei a escolher o que eu ia colocar nele até que transbordasse de comida e satisfação!  

—  Bongololô, a quanto tempo! -Senti mais do que vi o abraço apertado de Sharam. Hey, não é que Louise estava dizendo a verdade? –  Como vai você,  criatura? 

—  Eu estou fantástico, como bem pode ver e você? Como foi em Hogwarts? -Eu perguntei realmente animado, meio cego com os flashs refletindo no super vestido dourado de Sharam. Ela parecia uma deusa brindando a festa com sua presença. 

—  Foi maravilhoso, até sermos pegos, claro, mas até essa parte foi meio que divertida... -Ela parou um instante para dar uma mordida comportada em um daqueles sanduíchinhos minúsculos e ridículos de festa, que eram para ser comidos em uma bocada só. –  Devia ter visto a cara de John quando os pais dele apareceram, era tipo... 

Ela se interrompeu novamente, dessa vez para dar um sorrisinho falso para uma das artilheiras de Salem passando por nós, usando um vestido preto brilhoso, muito esquisito para uma adolescente, se me perguntarem. 

—  Argh, não gosto desses americanos, até perderia o apetite, se eu fosse dada a essas coisas, você sabe. -Ela fez um maneio com um camarão empanado e dessa vez comeu tudo, deixando só o rabinho do bicho de fora da boca. –  Você acredita que eles tiveram a desfaçatez de dizer que queriam tirar a gente no sorteio só para poder fazer uns “trabalhos filantrópicos na pobre África “? 

—  Duvido que eles disseram com essas palavras... -Falei enquanto colocava um pouco de molho no meu carpaccio e por isso a batedora maluca me pegou de guarda baixa, me fazendo sujar a manga das minhas vestes ao me dar um empurrão no ombro. 

—  Pois foi com essas exatas palavras, que eu não sou mulher de inventar coisa! -Sharam fungou ofendida e eu revirei os olhos. –  Veja bem, eu sei que ainda tem muita miséria no meu continente, mas se eles querem mesmo fazer o bem, deviam tirar as cabeças de dentro de seus tra... 

—  Fábregas, vejo que não perdeu tempo e está confraternizando de novo com o inimigo. Deixe o treinador ficar sabendo disso... -Me virei para ver quem havia interrompido o monólogo de Sharam, apesar de reconhecer a voz até no inferno. 

—  Ela não é o inimigo, Enrique, mas falando nisso, Dominique, vous êtes... Err... Une vision! -Usei todo meu francês nesse maravilhoso elogio a loira pendurada no braço esquerdo de Enrique. Beijei até a ponta dos meus dedos, como os franceses fazem, depois os lambi discretamente, porque ainda estavam com um delicioso gosto de molho de carpaccio. 

—  Arrasou no francês, ainda que a pronúncia esteja uma bosta como sempre, mas tanto faz, né? -Sharam falou divertida e assim que viu minha cara feia, pigarreou de leve e resolveu sair a francesa. –  Hey, que incrível isso que você fez no cabelo, moça, as raízes laranjas e o cumprimento loiro, qual o nome da técnica?  

Eu franzi o rosto pra tentar ver do que diabos essa maluca estava falando, até que finalmente, depois de dar dois passos para o lado e mudar de luz, consegui ver que o cabelo de Dominique Weasley realmente tinha duas cores, como as raízes escuras em uma loira falsa. 

—  Ah, meu Merlin e não é que é verdade? -Continuei analisando a estranha e diminuta faixa de fios alaranjados bem na linha do cabelo da loira não tão loira assim. 

—  Ela na verdade é ruiva, Cesc, sai de perto! -Enrique me deu um empurrão de leve muito do desnecessário. Agora eu voltei a ser Cesc, é? 

—  Como você sabe disso, Rick? -Weasley perguntou surpresa com aquele sotaque irritante dela, muito menos acentuado que há um ano atrás, usando o apelido que apenas “Dee”, no caso Heidi, chamava ele. Enrique a olhou meio sem paciência e antes que ele fosse grosseiro com a pobre garota, resolvi ser mais rápido e simpático.  

—  É porque sua cortina provavelmente não combina com o carpete. -Merda, no segundo que eu acabei de falar e ouvi a risada escandalosa de Sharam e vi o olhar ofendido de Dominique Weasley, soube que não foi tão simpático quanto eu queria. 

—  Sei porque ela me contou. -Enrique disse entre dentes, a ruiva corou, provavelmente porque minha resposta devia ser a certa e Sharam apenas olhou de um para o outro, divertida.  

Eu devia ter deixado ele responder, que vacilo. 

Capturei uma das taças de água flutuantes que passaram perto da gente e dei um gole comprido. Enrique olhou para a conversa animada entre uns americanos e os búlgaros, Dominique olhou para seus sapatos bonitos, com plumas e sei lá mais o quê e Sharam... Sharam só olhou de um para o outro, ainda divertida. 

 – Enfim, eu sou Sharam Diniz, sua humilde serva. -Minha amiga angolana fez uma vênia elegante e eu a olhei estranho. Quando ela se levantou, tinha um sorriso suspeito no rosto bonito. –  Mas é claro que é só um jeito de dizer, porque eu não sou serva de ninguém.  

—  Algumas pessoas deviam ter aula com você, garota. -Fiz um brinde com um canapé recém capturado da mesa de pratos frios, com o que deve ser caviar ou fezes de rato, não saberia dizer. –  Mas deixa eu fazer as devidas apresentações: Sharam, esse é Enrique Dussel e Dominique Weasley, a namorada dele. Enrique, Dominique, essa é Sharam Diniz, namorada de John Westhampton. E eu sou Cesc Fábregas, mas isso vocês já sabem. 

Só me apresentei porque não gosto de ficar de fora da bagunça. 

—  Dá licença, meu filho, que antes de John colocar os olhos nessa belezinha aqui, eu já era uma batedora muito da talentosa! Eu faço parte da seleção de Uagadou! -Sharam jogou os cabelos presos de um lado só por cima do ombro, como só uma mulher ruim que nem ela poderia fazer. Revirei os olhos. –  Mas gosto de ser namorada de John, que isso fique bem claro. 

—  Eu não faço ideia de quem seja John.  -Enrique disse só para ser antipático, porque é claro que ele conhece John do Ocaso e antes disso dos bregas que o irmão mais velho do garoto sempre organizou. –  Mas é um prazer conhecê-la.  

—  Então vocês estão mesmo namorando? -Achei por bem questionar, já que nenhum dos dois, Enrique ou Dominique, haviam confirmado a informação que eu havia jogado verde no espaço, a título de especulação. Com Sharam na conversa, fica difícil qualquer um confirmar qualquer coisa. 

A loira me deu um olhar encantada, mas foi o franzir de cenho do namorado dela que realmente me divertiu. Dominique se agarrou ainda mais no braço de Enrique, jogando o longo e extremamente liso rabo de cavalo loiro para o lado. 

—  Ainda não somos oficiais, mas já está na cara, não é? Ele não consegue me apagar da mente dele, tadinho. Nem do espelho, se quer saber... -Assim que a garota sem noção alguma acabou de se gabar, tico e teco, meus únicos neurônios sãos, fizeram a conexão das coisas, então acabei me engasgando com o segundo canapé de fezes de rato que eu joguei na boca.  

—  Ah minha Jurema adormecida, então foi você quem escreveu aquele feitiço com o batom vermelho no espelho do quarto maneiro! -Sharam falou isso, aumentando ainda mais minha crise de tosse. Ela me deu um tapa monumental entre as omoplatas depois disso. –  Para de tossir, criatura. 

—  Ei, como você sabe o que estava escrito no espelho do meu quarto? -Enrique perguntou irritado e Sharam fez aquela cara de “oi?”, com a mão pronta para me dar outro tapa nas costas. Mas da vontade de matar essa filha da mãe!  

—  Cesc me contou. -Puta que pariu, eu vou mesmo matar Sharam, ela deu a pior resposta que poderia ter dado! Por que ela simplesmente não disse a verdade? 

“Eu fiquei transando com meu namorado em sua cama porque de acordo com o mapa que eu ganhei de Natal, esse era o melhor aposento de toda a Hogwarts!” 

Vê? Uma resposta infinitamente melhor do que me incriminar desse jeito! 

—  Eu contei a ela do seu feitiço incrível. -Tá na merda? Abraça o capeta! Coloquei um braço ao redor dos ombros de Sharam, apertando ela tentando transmitir todo o meu ódio com o gesto.  

—  E como você ficou sabendo do meu feitiço, Fábregas? -Dominique soltou o braço de Enrique e o cruzou com o outro, desconfiada.  Maldito artigo de Rita Skeeter que fez uma perfeitamente boa resposta de “fui lá porque somos amigos” meio que sem validade agora. 

Besoura nojenta que nasceu apenas para me desmoralizar! 

—  Pff... Todo mundo na Sonserina sabe! Fizeram até bolão para saber quem foi a garota ou garoto que escreveu isso! -Falei feliz de ter encontrado uma boa mentira pra chamar de minha. A cara emburrada da Weasley não mudou muito, então resolvi acrescentar de boa vontade mais informações. –  Mas era um consenso que definitivamente era uma garota, pff... Qualquer outra hipótese seria... 

—  Eu acho que eu ouvi alguém me... Você ouviu também, Cesc? -Sharam se inclinou para o lado com uma mão na orelha e começou a me arrastar, então só me restou seguir com a maluquice dela. 

—  É, eu meio que ouvi, vamos ver quem é? -A angolana revirou os olhos e me puxou com força, dando um tchauzinho para o casal entre o confuso e bravo a nossa frente. –  Se nos dão licença, a gente tem que ver quem diabos está nos chamando! 

—  Por tudo que é mais sagrado, Cesc, você quase acabou com um namoro que ainda nem começou! Tem vergonha nessa cara, não? -Assim que estávamos longe o suficiente do casalzinho 20, Sharam me deu essa pedrada de falta de bom senso. 

—  Pior é a senhorita que parece que tem buracos no filtro mente-boca! -Ela me olhou indignada e eu continuei com o dedo quase no nariz dela. –  Que história é essa de “Cesc me contou”? 

—  E não contou não? -Ela tirou meu dedo da cara quase torcendo o coitado, porque nada com Sharam é suave. –  Tava lá escrito no seu mapa: “melhor mola de todas!” Eu entendi o recado! 

—  É, mas não era pra você sair contando para o dono que... -Uma explosão seguida de urros de raiva em uma língua esquisita me fez parar com a expressão congelada, olhando para a cara confusa de Sharam – Isso foi com os búlgaros?  

—  Como é que você sabe? -Ela me perguntou desconfiada e eu olhei para o lugar onde uma aglomeração tentava ver ou ajudar a comissão das futuras promessas do Quadribol búlgaro a se recompor do quer que tenha acontecido com eles. Dei de ombros, consternado. 

—  Se eu fosse você, parava de dizer que é de Uagadou... 

—  E o que isso quer dizer? -Ah bom, que não serei eu que vou contar para a barraqueira Sharam Diniz a merda que está prestes a se abater sobre essa pacífica e adorável festa. 

Ai, ai, que comece a baixaria! 


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Notas finais do capítulo

E a gente achando que a baixaria seria pouca...

Bjuxxx

(Repararam que eu estou tentando responder os comentários? Vai acontecer, respondi até os bônus, não cheguei no final, mas estou esperançosa!)