Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 81
Capítulo 81. Um brinde a quase normalidade


Notas iniciais do capítulo

Vira e mexe sempre tem um capítulo de volta a suposta normalidade...



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Capítulo 81. Um brinde a quase normalidade

Gostaria de dizer que a nossa festa épica de comemoração pela passagem para as semifinais durou três noites e três dias, mas a verdade é que os brasileiros não ficaram tão felizes assim com a nossa cara - não sei porque, somos ótimos festeiros também - então nosso dirigível partiu assim que conseguimos catar todos os nossos pertences e lufanos.

Eu catei também uma pequena bandeja redonda de prata pra dar de presente a minha avó - direito adquirido por ter adivinhado o enigma, eu não me esqueço de nada - e fui perseguido, ou melhor, elegantemente escoltado, por aqueles gnominhos de cabelo vermelho até a porta do nosso transporte escolar, claro.

Mas gente, eles disseram que eu podia pegar o que eu quisesse e eu queria aquela bandeja de prata com incrustações de joias formando um intricado jardim na peça maravilhosa de bonita! Vovó merece!

Então agora estávamos tomando o café da manhã em nosso melhor comportamento na mesa da Sonserina, o que significava dizer que havia um silêncio perturbador, já que qualquer coisa poderia ser considerada ofensiva para um ser humano tão melindroso quanto Weasley. 

Agora que ela era oficialmente a namorada de Tony, - desde ontem a noite, graças a mim e a outros com menor participação no pedido de namoro, tipo Tony mesmo -eu, Scorp e Rebeca estávamos meio que sem saber o que fazer com todas as nossas piadas adoráveis sobre ruivos e por Merlin, eu tenho uma coruja em homenagem a essa garota, ou seja, eu não tenho maturidade para esse relacionamento, essa é a mais pura verdade.

Onde eu estava com a cabeça quando sugeri isso para Tony?

A ruiva fez menção de finalmente quebrar o silêncio, mas no lugar de alguma pergunta cortês dela, veio um sopro nada educado de alívio de Scorp quando o correio matinal chegou.

— Graças a Merlin! - Todos olharam para ele, que apenas disfarçou com um sorriso cínico esse momento de desabafo inadequado. – Minha avó prometeu que mandaria mais fotos de Vega para eu ver o quanto a nossa princesinha cresceu... Não estou me aguentando de ansiedade!

Rose sorriu encantada e eu apenas olhei para a expressão bem humorada de Rebeca, porque todos ali sabiam que Scorp preferia pregar as pálpebras com espinho de mandrágora do que ver fotos da irmãzinha. Todos menos Weasley, claro.

— Sua irmã deve ser uma gracinha, Malfoy, minha mãe disse que foi fazer uma visita de cortesia e que ela não conseguiu fazê-la soltar seu colar. - Rose falou tudo empolgada com o assunto inofensivo que havia encontrado pra conversar com a gente.

— Ah sim, estamos muito orgulhosos da nossa pequena ladra de estimação. - Pena que o assunto não era nada inofensivo.

Uma coruja jogou o jornal terrível da Espanha na minha frente e eu nunca fiquei tão feliz com aquela coisa horrível aparecendo para nos distrair daquele climão, muito ruim que na hora em que eu fui pegar ele, uma carta trazida por minha ave igualmente odiosa quase esmagou meus dedos.

— Está trazendo tijolos agora, Uizlei, sua maldita?!?!  - A ruiva a minha frente me olhou sem entender e eu completei numa voz baixinha e culpada, porque Tony estava me fuzilando com o olhar do lado dela. – Estava falando com a coruja.

— Ah é, lembro disso, sua coruja tem o meu... - Rose começou, mas um pacote imenso, imenso tipo Hagrid, caiu no que era antes uma adorável pilha de panquecas, então voou xarope de bordo na cara de todo mundo. Limpei meu rosto com o que ainda restava de dignidade e dei o meu veredito.

— Eis o meu amado violoncelo, então esse pacote que quase esmagou meus dedos só pode ser as partituras que eu supostamente devo aprender a tocar antes do meu concerto familiar de Natal. Todo ano a mesma bosta, tô pra ver...

Juro que não faço a menor ideia de como minha mãe, porque sim, isso só pode ser arte dela, conseguiu fazer um violoncelo -  porra, um violoncelo! Você sabe o tamanho e o peso de um trambolho desses? - ser levado por uma coruja, da Espanha para a Escócia. 

Nem a lógica mágica ridícula explica um negócio desses...

— Você toca violoncelo? - Rose me ajudou a tirar o papel pardo do conteúdo óbvio pelo formato. Lambeu o dedo com o restinho de xarope antes de finalmente me encarar, esperando pela resposta. Ainda bem que ela se distraiu da pergunta anterior. Mas...

Err... Como falar que eu engano os meus pais há anos com essa história de tocar sem parecer uma pessoa horrível? 

— Tocar é um verbo muito forte, digamos que... - Scorp me olhou procurando por ajuda, mas quem mandou ele começar? Agora termine! – Ele meio que...

— O verbo certo é torturar o violoncelo, Weasley, mas juro que você nunca verá ninguém fazer isso com tanta classe quanto Cesc! - Rebeca me defendeu de um jeito tão enfático,  que nem mesmo a ruiva resistiu, teve que dar risada.

— Bem, agora sim as coisas fazem mais sentido... 

— Hey! - Olhei falsamente ofendido pra ela, fazendo a nova namorada de Tony - essa sim um ser humano decente, diferente da anterior-  voltar mais tranquila para seu lugar. – Vocês não merecem, mas eu vou compartilhar um pouco do meu talento com vocês nesse exato minuto, sintam-se privilegiados.

Meus amigos e até alguns idiotas das cercanias fizeram caras de terror, algumas realmente verdadeiras, o que só prova que as pessoas sempre pensam o pior de mim. Bando de babacas!

Peguei o violoncelo na mesa, passando ele para o banco, ajustei as cravelhas, afinando as cordas de leve, me posicionei atrás dele e fiz uma impressionante apresentação improvisada de 40 segundos para os meus companheiros de casa!

A galera agora fez uma expressão de diversão surpresa e bateu palmas, as quais agradeci educada e pomposamente acenando com o arco, igualzinho a um solista profissional. Weasley me olhou impressionada, mas é claro que meu momento como musicista tão sonhado por meus pais não durou muito.

— Que clássico é esse exatamente, irmão?  - Louise e Rasvan se aproximaram de nós naquela pose arrogante de corvinais, então fui obrigado a sorrir semi simpático, recolocando o violoncelo em seu case.

— É um clássico contemporâneo muito antigo, você não conhece.

— Não conheço também algumas notas que você alcança com esse pobre cello, mas veja bem, cá estamos nós. - Louise sorriu daquele jeitinho irritante dela, mas como sou superior e estou no meu melhor comportamento hoje, fiz somente um gesto para ela e a amiga leonina - o cabelo pelo menos - se sentarem na nossa mesa. – Nossa, estou lisonjeada, mas sério, qual a música? 

As duas fizeram Rose praticamente sentar no colo de Tony para poder caber suas gordurices intrometidas no nosso banco muito pouco sonserino hoje. Como são sortudas, nem posso colocá-las em seus devidos lugares.

Odeio ser educado.

— A música é de Game of thrones. - Rasvan arregalou os olhos e depois ofereceu o punho para eu cumprimentar, porque essa é uma ótima música dramática e cheia de sangue, o que só mostra como sou um cara sensível as agruras do mundo - medieval e fictício, mas mundo ainda assim - e desocupado nas férias. 

— Não conheço a banda. - Louise falou nada impressionada e a amiga dela só faltou estapeá-la de tão horrorizada que estava. Ah bom, Rasvan, teoricamente nós é que não deveríamos saber nada sobre essa série de Tv para maiores de 18 anos... E só por isso mudei de assunto.

—Mas sério, não fiquem lisonjeadas, estou esperando o piano que nossa mãe mandou para você, esmaga-la bem na minha frente, se eu der sorte o sangue vai até espirrar na minha cara, como em um parque aquático! - Ah, as boas influências televisivas...

Weasley me olhou com uma cara horrorizada e eu tive que fazer uma careta culpada porque eu havia prometido o meu melhor comportamento, mas acabei esquecendo disso dois segundos depois. Tudo culpa de Louise! Emendei um sorriso inocente e ainda tive que ver um sussurro ofensivo de Tony me dizendo “menos, bem menos”. 

Aff, público difícil!

— Olha só, não é que Claire tem razão? Seu irmão não é muito bom cuidando das correspondências dele, nem leu a carta da mãe... - Sério, é assim que sou pago por estender minha amabilidade para as amigas irritantes da minha irmã? Mas não vamos focar nisso agora, porque finalmente escrevi uma carta para Claire e aparentemente ela não se dignou a me dar uma resposta, mas falou de mim para essa aprendiz de meliante romena!

— Claire falou de mim para vocês? 

— Ela sempre fala de você, Cesc, mas só agora entendemos porque você parou de falar com ela. - Louise se debruçou na mesa com sua atitude irritante. – Sério, Cesc, você perdeu a carta dela? Bem típico...

Misericórdia,  Claire contou tudo mesmo! E olha que eu abri meu coração naquela missiva, claro que metaforicamente falando, porque eu não tenho esse coração sofredor de que os poetas e músicos tanto se gabam, já sabem.

— E no meio das cuecas sujas ainda por cima...

— Estou aguardando esse piano com muita ansiedade agora e rezando para ele não ser amortecido pelo seu cabelo na queda, Rasvan! - A garota tocou nos cachos ofendida, como se quisesse protegê-los dos meus comentários. 

— Fique você sabendo que meu cabelo é maravilhoso e não precisa de aprovação de um idiota sonserino! - Minha mesa toda olhou ofendida agora e ela se consertou rápido.  – Idiota e sonserino,  uma coisa não estando nada relacionada com a outra, só pra deixar isso claro.

— Não seja estúpida,  garota, eu acho seu cabelo muito bonito. - Ela abriu a boca surpresa e eu completei meu elogio com uma ameaça, porque é assim que eu funciono. – Agora cai fora daqui antes que eu arranque ele e dê para uma garota que realmente o mereça.

Ela levantou da mesa sem cerimônia, oferecendo novamente o punho para eu cumprimentar.  Toquei nele desconfiado e ela fez um gesto enfático de aprovação com a cabeça.

— Senti firmeza, Fábregas. E a proposito, não vai cair piano nenhum, foi isso que eu quis dizer antes: se você tivesse lido a carta da sua mãe, saberia que Louise vai ter que alugar um em algum taverna de Hogsmeade.

Bem, ela nem precisava dizer, na verdade, porque um violoncelo já deve ser considerado grande demais para uma pobre coruja carregar, imagina um piano! Mas eu nunca fui bom com lógica, ou a falta dela, então dane-se.

— Eu não tive tempo pra ler, vocês invadiram meu espaço dois segundos depois do correio matinal! 

— Bonitinho, mas lerdo... - A menina deu de ombros,  ajudando Louise a sair com classe do banco de madeira traiçoeiro da Sonserina.  – Vai entrar na minha lista “admirar sem pegar”, que pena.

— Pena nada! Para você pegar um sonserino, a gente tem que querer antes, Rasvan, não adianta vir com chantagem a lá corvinal não. - Respondi já arrumando minhas coisas para a aula de poções com a Grifinória. Louise enfiou uma carta na minha mochila e sussurrou um “não perca essa” desnecessário.

 –Me poupe, Fábregas,  se eu quisesse você, não ia ter esse negócio de “querer antes” certo! 

Depois dessa as duas corvinais saíram desfilando de volta para sua terra amaldiçoada onde a comida é muito melhor do que a nossa e eu não disse nada, porque tenho medo delas, admito. Com os loucos a gente não discute.

— Elas duas sempre me pareceram razoáveis, o que aconteceu aqui? - Rose perguntou a Tony em um sussurro enquanto deixávamos o Salão rumo as Masmorras reformadas, mas todos nós ouvimos e Rebeca resolveu responder. 

— É o efeito Cesc, dizem que eu poderia virar uma madame fazendo caridade por aí,  se não fosse pela alta exposição que eu sofri desde que entrei em Hogwarts... - Madame Caridade é um grupo de garotas que fazem trabalhos voluntários em Hogsmeade e ocasionalmente são azaradas por Rebeca.

E por isso mesmo eu olhei cético para a monstra, que só deu de ombros sapeca. O namorado igualmente cara de pau resolveu que isso estava pouco e deu ainda mais ousadia a ela.

— Claro que seria, amor, tudo culpa de Cesc! Era para eu aceitar perder com classe também, mas porque meu estado de “cesquisse” é crítico, acabei fazendo crescer um terceiro olho em Baxter nas Cartas de Cassandra ontem... Mas ele bem que mereceu!

— Agora a culpa da maldade de vocês é minha? - Perguntei acompanhando o passo do casal a minha frente pelo corredor e ouvindo Rose rir com Tony atrás de mim.

— Quê? Não!  Estava falando do ótimo feitiço de transfiguração que eu fiz, isso sim foi graças a você e eu sou eternamente grato. - Fiquei feliz agora, Scorp sabe ser tão adorável quando quer! 

***

Tony estava comendo um alcaçuz que ele enfeitiçou para grudar na gravata, enquanto suas mãos estavam supostamente ocupadas fazendo uma poção de limpeza patética, que nem nós dois nessa matéria. 

Agora vinha o intervalo de 10 minutos deixando ferver tudo em fogo baixo, então ele se virou na minha direção com sua perigosa expressão curiosa, quase me fazendo cortar um dedo no processo de pré-preparo do próximo passo da tarefa. 

— O quê? - Perguntei desconfiado, porque nunca na história desse planetinha aquoso, uma expressão curiosa de Tony significou coisa boa. Ele havia pego o doce na mão e o girava como se fosse uma espécie de varinha cor de carne estragada, só corroborando com minha suspeita.

— Você vai ler a resposta de Claire? - Argh, que saco!  Pra quê ele quer saber isso?

— Vou.

— Antes que eu morra de velhice?  - O encarei sério e ele continuou me olhando com sua cara de gângster do alcaçuz, apoiado na nossa mesa de trabalho. Tirei a carta do bolso e ofereci para ele.

— Pode ler se quiser...

— Não, eu prefiro que você leia, aí eu leio por sob seu ombro, porque assim eu mato minha curiosidade ao mesmo tempo que você amadurece um pouco. - Revirei os olhos e pus a carta na mesa enquanto limpava as mãos sujas de secreção de bandinho.

— Eu ia ler dessa vez, ok? - Ele continuou a mastigar o alcaçuz como se fosse bosta de erumpente. – Eventualmente.

— Você é tão imaturo...

— Falou o ser humano que estava escrevendo uma carta furiosa pedindo a mãe para comprar mais presentes esse ano, porque os do Natal passado foram pequenos!

— Leia. A. Carta!

Peguei o envelope comum e usei a faca com que estava cortando o pobre e nojento inseto para abri-lo, então ele ficou um pouco melado de gosma na abertura. Tony se posicionou em meu ombro igual a uma coruja agourenta para ver o que Claire tinha para me dizer depois de tantos meses sem nos falar.

Confesso, estou um pouco nervoso.

Oi, Cesc,

Primeiro devo dizer que estou surpresa em estar respondendo uma carta sua, sério,  porque na primeira semana sem resposta, eu até achei que você estivesse com dificuldades de me mandar uma carta de Uganda, embora eu estivesse ali do lado no Egito (tá, do lado mais ou menos, mas você entendeu), só que os dias foram passando e passando e passando e não é como se eu tivesse escrito um “oi, Cesc” da última vez ou como se qualquer um de nós fosse um poço de maturidade, então minha constatação foi “ai, mais que lerda, ele não quer responder sua carta melosa, garota”.

Isso foi doloroso, mas como pode ver pela minha capacidade de mandar cartas “oi, Cesc” agora, tudo foi devidamente arquivado e esquecido. Bem... Não totalmente, eu meio que falei para uma ou duas amigas sobre você,  então caso venha para Salem ou eu vá para Hogwarts acompanhada ou ainda que a gente se encontre no meio do caminho entre as duas escolas esse ano, pelo campeonato, vamos nos certificar de que seremos vistos em bons termos, porque as garotas daqui são um pouco mais, como eu posso dizer? Efetivas com os desafetos das amigas, que ainda é o seu status por aqui, desculpe.

Mas de toda forma e falando de coisa boa, parabéns pela vitória contra Castelobruxo!  O jogo foi muito legal, mas as câmeras ficavam indo para você e os outros no banco de reserva, o que deixou todo mundo aqui me perguntando se vocês eram tão malucos quanto pareciam. Obviamente eu respondi que não e nem complementei que eram piores do que pareciam, porque alguma lealdade ao dragão adormecido permanece em meu coração.  Infelizmente minhas amigas ficaram com a impressão ainda pior de você. 

Ah, sim, mas voltando as coisas boas: 

Vocês estão nas semifinais! Espero que não contra a gente, porque não quero torcer contra uma das minhas escolas agora, ainda não sei qual vou escolher. 

Scorp pareceu incrível nas câmeras, diga isso a ele, as meninas aqui adoraram o cabelo dele e perguntaram que poção ele usa, já que não adiantou eu falar que era natural, elas me chamaram de inocente, vê se pode!

Diga a Tony que ele jogou otimamente bem e que foi muito legal da parte dele ceder o bastão para Ginns, que a proposito fez um excelente trabalho de marcação, pena que ele só marcou aquele artilheiro grandão, o que não foi muito corvinal da parte dele.  O cara marcado era bom, mas foi uma estratégia arriscada de qualquer forma e não contribuiu em nada para a reputação de Hogwarts.

Outra coisa boa, soube que as Escadarias voltaram a funcionar, Louise tem me deixado atualizada dos perrengues em Hogwarts e eu acho que isso é um bom sinal, né? Quero dizer, o que quer que esteja acontecendo aí é reversível, porém provavelmente instável ou seja, na minha humilde opinião, está acontecendo uma oscilação de magia, o que pode ser bem perigoso, mas ao menos já é algo a se pensar.

No caso, ainda mais perigoso do que já está sendo, porque, veja só,  estive lendo algumas coisas no projeto de pesquisa em runas que comecei e instabilidade mágica é algo bem comum, você que o diga, tinha um monte na sua juventude de alguns meses atrás, né? Mas em todo o caso, algumas dessas instabilidades em lugares antigos são cíclicas, indo embora do mesmo jeito que começaram, mas outras são bem definitivas, como o fim de Atlântida, o fim de Mu, o fim de Lemúria, o fim de Pompeia e err... Eu acho que deixei claro meu ponto, vamos rezar para que o caso de Hogwarts seja o primeiro, uma oscilação cíclica, mas só por precaução, já coloquei o nome da escola no terço de orações da minha avó. 

Humm... Essa carta meio que já perdeu o proposito e sim, eu não vou tocar no que eu escrevi antes, nem nos porquês conscientes e inconscientes de você ter perdido minha carta ou ter demorado tanto para me responder, porque isso definitivamente está no passado e não há mais nada a tratar, me sobrando apenas dizer:

Também senti saudades e também quero continuar sendo sua amiga.

Com incríveis saudações a la Salem,

Claire

— Olha, não foi nem de longe tão ruim quanto eu pensei e ela disse que eu joguei bem, o que só demonstra que Claire melhorou muito nesse tempo longe de você... - Bati a carta na mão, meio distraído ainda, mas Tony continuou seu monólogo.  – Tá que ela queimou seu filme em Salem, mas não sei se você teria qualquer chance com as garotas e... Você nem esta me ouvindo.

— Não,  eu estou te ouvindo sim, mas estou te ignorando porque você está falando um monte de merda. - Guardei de volta a carta e dei uma espiada na poção, ela ainda estava parecendo uma sopa rala de beterraba, então larguei lá no fogo.

— Você está... Como se diz em patetiquez? Chateadinho? - Eu olhei sério pra Tony e ele me pareceu genuinamente surpreso. – Com o quê exatamente? 

— Não estou “chateadinho”, só estou... Impressionado com o quanto ela parece, você sabe, bem e sem dramas, você sabe. - Desviei o olhar, porque não sabia exatamente o que tinha me incomodado na carta, quero dizer, foi tudo legal, ela foi legal, então esse é o caminho perfeito para cimentar tudo e começar uma amizade saudável, né? 

— Francesc Silas Fábregas, não me diga que estava querendo que Claire, a essa altura do campeonato, ainda estivesse arrastando correntes por você! - Tony colocou isso de uma maneira tão horrível que eu não pude fazer nada a não ser cruzar os braços, na defensiva. 

— Eu não estava querendo nada, só estou, sei lá... Você viu o que ela disse, né? Me pintou como uma espécie de vilão para as amiguinhas novas dela, quero dizer, agora tenho que torcer para a gente não cair com Salem na semi, porque se não vou estar com minha vida em jogo, literalmente! 

Parei para respirar depois de falar sem nenhuma interrupção e Tony só me olhou com aquela cara cética de “me poupe” que o deixava ainda mais parecido com um irmão perdido de Segundo. 

Ele sopesou tudo e deu seu veredito. 

— Você é um garotinho muito mau e egoísta.  - Se abaixou para pegar mais alcaçuz na mochila e eu aproveitei esse momento de paz e silêncio para revirar os olhos, porque Tony é um verdadeiro mala! – É mau, egoísta e burro!

— Burro não! 

— Burro sim!

— Com certeza não!  - Antes que ele completasse com um “com certeza sim” de praxe, eu o interrompi rápido.  – Por que burro?

Ele se levantou, se apoiou na carteira, me olhou de cima abaixo e deu uma mordida no novo alcaçuz. Só quando terminou de mastigar tudo parecendo que estava comendo lavagem junto de suínos, se dignou a falar.

— É burro, porque se está desejando que a gente não pegue Salem, é porque quer que a gente pegue Uagadou, que já nos venceu ou Durmstrang, que já venceu até a própria mãe e de goleada ainda por cima!

— Eu não disse isso... - Falei em voz baixa, porque eu sabia que estava errado, Salem era a nossa melhor chance de ir para a final.

— E o que você disse? - Ele me desafiou, sabendo que eu não tinha como disdizer o que eu havia dito. Por que Tony está tão chato, já é influência de Weasley?

— Acredito que tenha sido um “Meu Merlin, definitivamente não era para a nossa poção estar fazendo esse bloft estranho”. - A voz que soou atrás de nós nos fez ficar na dúvida pra ver seu dono ou tentar evitar o desastre iminente com a nossa poção. 

Como somos assim de sincronizados, Tony virou para o nosso mais novo visitante e eu peguei a secreção de bandinho da tábua de corte, joguei no caldeirão, tampei tudo, desliguei o fogo e dei quatro passos para longe, só por precaução. 

— Não explodiu, acho que deu certo, Tony. - Virei para minha dupla e para o não convidado estagiário Lupin, que agora só tinha o meu desprezo e desprazer em vê-lo. 

— Provavelmente não deu, qual exatamente é o projeto de vocês?  - Lupin, com roupas em tons estranhos de mosca queimada e areia molhada, nos olhou com seu cabelo castanho arruivado para combinar com tudo. 

— Uma poção de limpeza. - Tony respondeu evasivo, porque o combinado seria que o que a poção conseguisse limpar, era para o quê ela foi planejada.

— Uma poção de limpeza do quê? - O lufano nos perguntou desconfiado, como se fosse trabalho dele bisbilhotar os nossos assuntos!

— De limpeza da consciência. - Disse falsamente solícito e ele me olhou com aquela cara de pateta dele, que bem diz de que casa veio. – Digamos que, bem hipoteticamente, claro, um lufano digievolução de monitor viu um aluninho inocente carregando uma coisa não tão inocente pelos corredores e digamos que ele tenha prometido que iria guardar segredo sobre isso, mas que, na primeira oportunidade, ele deu com a língua nos dentes para o tio de cabelo de ninho de cobra intrometido dele, chamemos o cidadão de Arry Otter. Nessas circunstâncias, o idiota lufano só precisaria beber todo o conteúdo do caldeirão para que sua consciência ficasse limpa. Fim.

Encarei a cara deslavada de Lupin com o meu melhor olhar desafiador e ele só me olhou de volta com o cenho franzido. Porque Tony adora perder a oportunidade de ficar calado desde os onze anos de idade quando falou indiscretamente da altura de um desconhecido Hagrid, quase me levando as lágrimas na época, ele completou meu raciocínio. 

— No caso, a consciência ficaria limpa, porque o pobre lufano estaria bem morto. - Eu encarei meu melhor amigo irritado e ele só baixou o olhar para o alcaçuz semi mastigado em suas mãos.  – Hipoteticamente falando, claro.

Voltei a encarar Lupin e o filho da mãe nem se deu ao trabalho de olhar nosso caldeirão,  apenas maneou a cabeça e teve a desfaçatez de nos olhar decepcionado!

— Limpem essa bagunça e refaçam o que quer que vocês pretendam apresentar como projeto de adaptação para a aula da semana que vem. - Cruzei os braços, porque faltando 20 minutos para a aula acabar, nem se soubéssemos o que estamos fazendo a gente conseguiria algo! – E menos 5 pontos pra Sonserina, só porque eu posso tirar, ainda que eu seja apenas uma digi... Digi qualquer coisa de monitor!

Ele nos deu as costas e eu o amaldiçoei com todas as minhas forças, essa péssima desculpa de texugo, menos leal do que... Ah, vocês entenderam! Me virei para Tony, realmente arrasado, porque agora estávamos oficialmente ferrados.

— E agora? - Perguntei, roendo o cantinho da unha do polegar com ansiedade. Estava com um estranho gosto de barata morta, eu hein!

— Porra e agora pergunto eu! Vem cá, você quer que eu vá pedir sicles debaixo da ponte no futuro? - Revirei os olhos, porque Tony nunca leva nossos problemas a sério. – Não dá pra prestar um NOM em Poções se eu tiver um Deplorável no boletim!

— E para que demônios você quer um NOM em Poções?  Vai me dizer que quer ser um aurorzinho agora? - Falei debochado e Tony só pois a mão na cintura, parecendo uma imitação ridícula da namorada dele.

— Pois eu gosto de ter opções, Cesc e eu já tenho um Deplorável em Astronomia, graças a você e tô caminhando para isso também em História da Magia, então eu vou acabar ficando sem ter o que fazer! Você quer me ver pedindo nuques e sicles ou me prostituindo para viver?

Ignorei o tom de voz desesperado de Tony, porque estava mais ocupado salvando as nossas peles, quero dizer, tenho certeza que ainda dá pra salvar essa poção aqui, só preciso perguntar a John ou a Rebeca ou até mesmo a James o que é que dá para fazer com um início de poção de limpeza Santini adaptada, que cozinhou por uns dois minutos a mais!

Fácil, fácil. 

— Eu acho que precisa de NOM em História para ser prostituta, Tony. - Comecei a rir e ele me acompanhou, porque a nossa situação beirava ao absurdo. O pobrezinho transformou a risada em um choro fingindo, apoiando a cabeça na carteira, mas depois se levantou como se o próprio diabo tivesse empurrado a testa dele de lá.

O que provavelmente aconteceu.

— Eu tenho um plano. - O grande idiota falou com o olhar vidrado no horizonte, balbuciando de leve pra si mesmo depois de me dizer isso. Gemi baixinho, porque dava para ficar pior e eu nem sequer havia cogitado essa possibilidade macabra!

— Tony, por favor...

— Não, sério, é um bom plano, não tem três partes, mas tem três elementos: eu, você e um dormitório! - O olhei com suspeita, porque isso parecia o início de um pornô bem barato. Ele me sorriu o seu pior sorriso tubaranino. – Quando você vai ter a capa da invisibilidade em suas mãos de novo? 

— Sexta-feira. - Respondi de má vontade.

— Ah, sexta é um dia excelente para invadir o dormitório do sexto ano da Grifinória, excelente, de fato.

Quê? 

— Merlin nos ajude, vamos virar prostitutas!


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Notas finais do capítulo

Para saber mais do pedido de namoro de Tony (isso pra quem não leu ainda), segue link da história onde tem:

https://fanfiction.com.br/historia/700876/Contos_eroticos_de_HOH/

Bjuxxx