Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 80
Capítulo 80. Entrelinhas - parte II


Notas iniciais do capítulo

Como eu sou um ser humano maravilhoso, não só antecipei minha volta, como venho com dois capítulos! Sou lufana mesmo...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635649/chapter/80

Capítulo 80 – Entrelinhas-  parte II 

Estou me sentindo naquela série de ação que as mães gostam, 24 horas, porque desde que eu meio que irritei a garota mais popular de Castelobruxo, estou correndo contra o tempo que nem o pobre agente que não vai ao banheiro, come ou dorme durante um dia inteirinho! 

"Por que você está fazendo isso, Cesc? Tenho certeza que Iara tem mais o que fazer do que ficar remoendo o fato de que você recusou passar um tempo de qualidade admirando os belos peitos dela durante a partida de Quadribol para ficar atazanando sua subordinada mais falsa do que uma moeda de galeão quadrada!" 

Olha, juro que se alguém de carne e osso me dissesse uma coisa dessas, primeiro eu iria azarar de uma maneira cruel, depois eu sentiria muita pena, não por causa da azaração - que obviamente foi bem merecida - mas por conta da incapacidade de ver todos os sinais bem claros! 

Vamos aos sinais: 

Primeiro, por que uma garota como Iara, se é que esse é o verdadeiro nome dela - tá, eu sei que não é, mas isso soa muito detetivesco - estaria tão interessada em assistir uma partida de Quadribol da tribuna da seleção adversária? 

"Talvez ela goste de Quadribol, seu machistinha..." 

Da tribuna da seleção adversária? Sério?  

" Talvez ela goste de atenção, as câmeras ficam rondando o banco de reserva o jogo todo!" 

Olha, esse recurso "advogado do diabo" é um pé no saco, por isso vou usar um outro recurso tão irritante quanto e que vocês já até estão cansados a essa altura, mas dane-se, porque eis o que aconteceu: 

10 horas antes, nessa mesma bati-escola brasileira  

— Numa escala de 0 a 10, o quanto você está certo dessa teoria da menina que está sendo usada como escuta do irmão trapaceiro? - James me perguntou sem imprimir nenhuma entonação na voz, mas eu sei que ele é um descrente. 

— 11! Eu tenho certeza disso, porque não fiquei roncando e coçando o saco a noite inteira que nem vocês, eu estive trabalhando!— Tanto o Potter apanhador medíocre quanto Segundo me olharam ofendidos, mas já deviam estar acostumados com isso a uma hora dessas. _ Vocês estão deixando os sinais óbvios passarem! 

— Eu fico me perguntando quais as chances de mais um casal de gêmeos ser tão torto quanto você e sua irmã... - Parei no meio do corredor de janelas em forma de trapézio para encarar a cara daquele afro ruivo suprassumo do trambique. 

— Quem falou que eles são gêmeos?  - Ele fez aquela cara de " Ah, não são?", o que foi bastante específico, na verdade. _ E logo você falando de alguém ser tortuoso... Parece que não há limites para a cara de pau Weasley, pra ver! 

— Ok, vocês dois, estamos saindo do foco, que é o suposto plano de sabotagem de Castelobruxo. - Fiz menção de corrigir James, mas ele foi mais rápido. _ E sim, Cesc, é suposto, porque você ainda não apresentou nenhum sinal e não, não somos obrigados a ver sinal algum, porque a gente estava dormindo enquanto você caçava pelo em ovo! 

— Não seja vulgar, Potter! - Respondi fingindo estar horrorizado com a insinuação dele. Fred riu e James corou. 

— O quê?  Não!  Eu não estava insinuando que você...  

— Tá, tá, já sei que você não estava insinuando nada, eu conheço o ditado. - Embora eu adore torturar James e seu falso pudor, nós realmente precisávamos focar no trabalho. _ Eu ia dizer que não acho que Castelobruxo esteja trapaceando, só os irmãos e você quer sinais? Então eu vou te dar os sinais, ou melhor, as evidências!  

— Grita mais alto que a tal Iara ainda não deve ter te escutado do outro lado do templo... - Eu ainda estava com o dedo em riste quando fuzilei Fred com o olhar. 

— Ela é uma porta, não entende inglês. Mas vamos para as evidências e James, veja um monólogo de qualidade e chore de vergonha pelos seus! 

— Do que diabos... 

" Então Iara gosta de assistir jogos da tribuna adversária, pode ser por causa da atenção, Cesc, mas quais as chances? Vocês devem estar se perguntando. 

Tá, provavelmente as chances são altas, mas a verdade é que para saber que poderia ser convidada para tribuna adversária pelos capitães em um gesto de cordialidade entre as instituições, a garota precisaria ler o livro de regras com muita atenção e estar muito determinada, o que nos leva aos sinais: 

Em menos de 10 minutos de conversa com Iara eu pude perceber que ela não é do tipo atenta, quero dizer, os supostos amigos dela pregam peças linguísticas nela o tempo todo! Logo essa informação deve ter vindo de outra pessoa, alguém mais esperto. 

Segundo, ela é o tipo de garota que ganha atenção sem esforço, então me parece muito trabalho para pouco retorno negociar com capitães, quero dizer, tá, o mundo todo vai ver ela lá na tribuna, mas ela vai ser só uma garota bonita do lado dos jogadores, o quão importante isso é para que ela sempre faça esse negócio, quase como um ritual? Então essa vontade teria que vir de alguém com um objetivo mais interessante." 

— Se surpreenderia com o que as pessoas fazem por uns minutos de fama... - Olhei sério para James, que encarou sem entender a minha expressão fechada.  

— Você está estragando meu monólogo. — Disse sério, o fazendo se tocar da inconveniência, todo um milagre de Natal, vamos combinar. 

— Ah, tá! Desculpe... Continue. 

" Logo cheguei a conclusão de que ela estava fazendo isso por alguém, mas quem? O namorado fortão? Não, soube por fontes fofoquísticas que eles estão juntos a apenas duas semanas, o que nos leva a pensar em alguém mais próximo, tipo laços de sangue, alguém como um irmão... 

 Então porque eu realmente confio nos meus instinto investigativos, mas sei que não se tem a verdade apenas baseada neles, fui procurar por evidências de que esse comportamento de Iara é tão estranho e suspeito quanto o casamento dos pais de Hagrid, quero dizer, um humano e uma gigante, sério? Muito suspeito.  

Mas tá, as evidências:  fui atrás do registro do jogo entre Castelobruxo e Uagadou, aquele jogão em que as meninas africanas chutaram as bundas dos latinos e que colocou John Westhampton no mapa graças a namorada gostosa dele, enfim... 

Usei meu onióculos para rever o jogo, dessa vez não focando na ação e sim nas tribunas, mais especificamente na bela loira ao lado do capitão mal encarado de Uagadou. E lá estava ela, toda linda, gostosa e saudável, fazendo festa junto com sua torcida, varinha para o alto, porque eles os latinos - tem uma espécie de tradição de acender as varinhas, normalmente em tons de verde, que deixam o estádio dos outros parecendo o esmeraldino deles. 

Ai vocês devem estar se perguntando, tá,  mas e daí,  a garota só estava curtindo os privilégios de ser gostosa, eu também aproveitaria se tivesse saído com aquele corpo, Deus sabe o que faz, porque eu seria uma grandessíssima vadia, mas isso não vem ao caso, o que importa mesmo é que eu comecei a achar os padrões da varinha menos e menos aleatórios a cada minuto que passava.  

Gostaria de dizer ‘Oh, nossa, saquei tudo na hora!’, mas infelizmente tive que mostrar um trecho do jogo para Tony e Scorp e até mesmo para Enrique, esse último sendo aquele que finalmente disse: é claro que você está reconhecendo os padrões, qualquer bruxo que acompanhe o campeonato internacional de Paragliding reconheceria os sinais de luz usado pelas equipes. 

Sim, Fred, eu devo ter feito a mesma cara, porque eu não acompanho campeonato algum de Paragliding, pra mim isso era um esporte trouxa onde as pessoas pulavam de aviões tentando acertar um alvo com seus paraquedas, ou com a cara, caso eles não abram, mas aparentemente os bruxos levaram isso para outro nível, porque tem o estilo individual e o por equipes, onde você pode literalmente chutar o adversário para fora da rota se comunicando com os outros por sinais luminosos, enfim, vocês bem sabem como os esportes bruxos podem ser doidos.” 

— Então a garota estava fazendo sinais luminosos de Paragliding com a varinha para o irmão?  - Fiz que sim com a cabeça, satisfeito que ambos finalmente viram as evidências.  — E Dussel ajudou você a desvendar as mensagens, comprovando que ela realmente estava trapaceando? Nossa, isso é genial! 

— Calma lá,  Segundo, não vamos superestimar a capacidade de Enrique para ajudar, ele sabe que os sinais existem, mas não sabe exatamente o que eles querem dizer. 

— Estava bom demais para ser verdade... Potter resmungou e eu apontei para ele, porque ninguém merece esse desmerecimento do meu trabalho duro assistindo um jogo repetido  e tendo que perguntar por aí a respeito de luzes piscantes! 

— Não seja infeliz, Potter, coloquei Scorp para fazer umas pesquisas sobre o esporte, vamos encontrá-lo logo mais, mas antes temos trabalho a fazer. 

— Ah sim, por isso estamos aqui nesse... Onde estamos mesmo? - Fred olhou ao redor, porque finalmente havíamos saído da escola e estávamos em um sem graça caminho de grama verde, ladeado pela floresta que rodeava o templo de estudos brasileiro.  

— Na verdade vocês estão aqui porque são inconvenientes, eu preciso apenas da capa da invisibilidade... - Joguei verde para colher maduro, mas os dois grifinórios só cruzaram os braços, mostrando que nunca na galáxia eles me deixariam só com sua preciosa relíquia de família, fora do meu dia oficial, claro, porque tenho direitos conquistados. Idiotas, os dois. — E a propósito, nós estamos apenas nos maravilhosos e lendários Jardins Suspensos de Castelobruxo 

Falei teatralmente e olhei para baixo, sendo acompanhado pelos dois trasgos que abriram a boca ao ver a enorme estrutura flutuante em que estávamos grama não tão sem graça agora, hein? só agora notando que as árvores da floresta mais ao longe estavam submersas em água, com apenas as copas cheias de folhas escuras expostas. 

— Como inferno você descobre essas coisas, Cesc 

Bem, James, é que Scorp adora ler os manuais... E guias turísticos.  

*** 

Estava novamente de pé, porque além de Lia e Romeo estarem tendo dificuldades para abrir caminho entre os artilheiros de Castelobruxo, Connor tinha acabado de deixar o batedor travestido de artilheiro derrubar a porra do bastão dele lá no laguinho sem vergonha no centro do campo. 

— Ops, parece que o batedor de vocês está com um probleminha... - Parei de tentar arrancar a grade de proteção da arquibancada só para encarar Claire com meu olhar mais sujo. _ Olha só, seu amigo Zabini entregou o dele ao garoto! Muito confiante ele. 

— Ah é,  Zabini normalmente é confiante demais mesmo, mas não nesse jogo... Vê? Ele está voando sempre pelo lado direito, provavelmente pra proteger o joelho podre dele. - Olhei com meu melhor olhar endemoniado para O'Brien, mas o futuro cara mais morto desse estádio continuou com a fofoca. _ Ele fez isso em todos os treinos, mas sinceramente, não achei que ele fosse continuar, quero dizer, espero que o pessoal de Castelobruxo não descubra... 

Respirei fundo, porque no fundo, no fundo sabia que Theodor não estava fazendo aquilo de proposito, então me controlei para não enforcar o verdadeiro culpado por aquele desastre, já que o pai dele, meu técnico e diretor, provavelmente me suspenderia do time se eu matasse esse inútil que ele ajudou a colocar no mundo! 

Afinal o lufano era o plano B, o A sendo nada mais, nada menos do que o grifinório mais... Filho da puta que já existiu! 

— James, por favor, me explique porque a poção da verdade de Iara está funcionando perfeitamente em O'Brien. Você não disse que ia cuidar disso? - Consegui ouvir o pescoço de Claire estalando em minha direção, mas estava muito focado naquele idiota meio virado para trás a minha frente para olhá-la. _ E sim, Claire, nós sabemos que vocês envenenaram o briganeiro, que golpe baixo! 

— Envenenaram o briganeiro?!?! – Maggie olhou desesperada para o namorado, que apenas sorriu nada surpreso, porque ele sabia que havia uma chance dele estar sob o efeito de uma poção, eu o havia avisado. Vê?  Eu incluo a cota lufana nos meus planos.  

— Vocês estão espionando a gente?  - Sienna olhou muito indignada para a tampinha brasileira, que consertou os óculos nervosa, se vendo pega no meio de vários jogadores irritados. Jogadores irritados e Lexa, que já estalava os dedos antecipando alguma tortura medonha. 

— Eu disse a verdade, eu nunca estragaria um brigadeiro de proposito! - Claire falou rápido, dessa vez olhando para mim. _ Tem que acreditar em mim, Cesc , eu tinha apenas que trazer a caixa para vocês. E sim, eu sabia que tinha alguma coisa errada com ela, a caixa, mas alguém tinha que pagar por ter irritado Iara e vamos combinar, foi você quem irritou ela! 

— Está me dizendo que não sabia do plano todo? Que só veio aqui trazer um “kit surpresa maldita da sereia” sem saber que estava tudo recheado de poção? 

— Bem... Sim!  - Ela me disse com aquela cara de “dã, óbvio!” _ Não vê? Ela não estava exatamente contente com a minha cara, por algum motivo ela me tem como concorrente, olha só a loucura.  

— Soa verdadeiro, eu acredito nela. – Disse, pondo um ponto final no assunto. Eu sabia que provavelmente era mentira, porque Claire pareceu muito interessada em instigar os discursos descabidos de O'Brien, mas fazer o quê? Vejo muito de mim nela.  

Todo o time olhou sem acreditar que eu iria deixar ela sair ilesa disso, mas foi Scorp que quase me matou de susto com seu grito de doninha albina. 

— ACCIO, BASTÃO! - O bastão de Connor, igual ao meu e a todos os outros patrocinados pelas empresas Dussel, saiu voando do espelho d’água até as mãos de Scorp. _ Se vocês não se lembram, ainda temos um jogo para vencer! 

Tony passou como um raio por nós, capturando o bastão atirado por Scorp em sua direção.  

— Bem, agora sim eu aceito o pedido de desculpas, Cesc. - Olhei bem para cara de James, me segurando, dessa vez literalmente, para não estrangular aquele pescoço sardento dele. 

— E por quê ele deveria te agradecer, James? - Lexa foi a única que conseguiu formular a pergunta que aquele traste ostentando um sorrisinho babaca estava esperando. 

— Porque eu, Cesc  e Malfoy podemos usar nossas varinhas... - Ele aumentou ainda mais seu sorriso de quem tinha feito seu trabalho perfeitamente bem e minha sobrancelha levantou automaticamente. – E o resto do estádio não.  

Ainda pude ver meus companheiros de time tentando usar suas varinhas, parecendo tão ridículos com seus cabelos coloridos e caras de “ai meu Deus, cadê minha magia?”, mas o que me deixou realmente boquiaberto foi que, pela primeira vez no campeonato, o estádio em que Castelobruxo jogava não estava completamente aceso em verde. 

Ok, eu estou impressionado. Como eu não tinha reparado nisso antes? 

*** 

Ainda nos jardins suspensos astecas, só que mais cedo, claro 

— Ok, eu estou impressionado. Como eu não tinha reparado nisso antes?  - James disse, olhando surpreso para o caminho flutuante por dentro da floresta naufragada e eu sabia que estávamos no famoso lago cuja a areia dourada foi usada na construção de Castelobruxo e onde o estádio onde jogaríamos logo mais podia ser visto ao longe 

— É porque o seu cérebro é feito de musgo, poeira de estrada e cola. – Respondi solícito. Fred riu e enfiou de proposito o fora do caminho, deixando a água molhar a calça até o joelho, mas tirando a perna do lago depois disso, já que estava óbvio que ali era fundo. 

— A sua capacidade de ofender os outros deveria ser estudada, sério! — Eu sei disso, James não precisa falar o óbvio. Agora o caminho estava ficando cada vez mais estreito e até um pouco molhado, então fiz o universal sinal de silêncio para ele. Estávamos chegando perto. — Eu acho engraçado... 

Shiu, pega a capa! 

O bom dos grifinórios é que eles são os melhores capangas que você pode conseguir com o baixo orçamento de zero galeões, porque eles estão sempre preparados para a hora da aventura e não piram sob pressão.  

James jogou a capa sobre nós e eu novamente me irritei com ele e o primo por terem me acompanhado, porque a capa não foi feita pra três pessoas e sim, eu sei que estava elogiando eles a dois segundos atrás, mas agora mudei de ideia, estou no meu direito, afinal, estamos visíveis do tornozelo para baixo graças a superlotação dessa capa! 

Continuámos andando pela bifurcação da estrada de tijolos amarelos, só que tinham mais caminhos do que uma bifurcação e não era de tijolos amarelos, era feita desse material estranho que permite que as ilhas artificiais com seus jardins flutuem sobre o lago, ao mesmo tempo que aguenta a gente. 

Graças ao meu intrincado trabalho de pesquisa e rastreamento, que consistiu em Enrique pedir para seus funcionários do campeonato nos dizerem onde Iara e/ou o irmão estavam— eu sei que é feio usar o dinheiro dos impostos de Hogwarts e das outras escolas para meu benefício, mas querendo ou não, estou em missão oficial – e a última vez que os dois foram vistos foi nessa direção, que é onde ficam os laboratórios de Herbologia e por que não? Poções.  

Deuses, poções sempre estão mancomunadas com o mal! 

Olhamos ilha por ilha, ignorando o caminho principal que levava ao grande estádio - que só com magia para se manter sob a água, porque aquela técnica asteca que a gente ouviu falar no enigma de entrada não tinha como sustentar essa estrutura pesada já que o lugar estava sendo preparado para o último treino de reconhecimento das equipes e por isso mesmo não tinha ninguém importante lá. 

Desculpe, funcionários de Enrique, vocês não são importantes.  

Na quarta ilha, em uma espécie de jardim com estruturas de madeira sustentando camas no estilo de Avatar, o filme do povo azul, finalmente encontramos os dois irmãos conversando. Iara estava sentada em uma dessas redes feitas de cipós trançados e o irmão estava de pé. 

Ele falava rápido e ela tinha uma caixa de madeira com uma flor exótica entalhada na tampa, depositada em seu colo. Parecia chateada e impaciente, porque balançava tanto a perna que a caixa ameaçava cair no chão.  

Ambos estavam falando em espanhol, mas se comunicavam tão rápido que eu não pude entender todo o diálogo, só um “ela pode fazer”, “já disse que está pronta!” e o que mais me chamou a atenção “ não seja estúpido, veritaserum é minha especialidade!”, tudo isso sendo dito por Iara, já que o irmão praticamente sussurrava e não nos aproximámos dele por motivos de: tornozelos de fora, já sabem. 

Assim que os dois saíram da sala, tirei a capa dramaticamente de cima da gente. 

Eu sabia! 

Fred puxou o pano da minha mão e nos cobriu de novo, ficando tão perto de mim que os nossos narizes quase se tocaram. Ele parecia bravo, mas tenho certeza que foi só porque ele não entendeu nada, o privilégio de falar espanhol sendo todo meu. 

— Se formos pegos de novo porque você é um vilão de quinta categoria, eu juro que dessa vez eu te mato! – Ele sussurrou raivoso,  tanto que voou um pouco de saliva no meu lábio inferior,  coisa que eu limpei na mesma hora, tocando o nariz dele com a ponta do dedo indicador. 

— Dessa vez não seremos pegos, amiguinho, porque nós estamos do lado certo da força! 

Com você na equipe, a gente nunca tem certeza, né?  

— Vai se foder, James. 

*** 

— Explica essa história direito, James, como deixar o estádio todo sem magia vai nos ajudar em alguma coisa? – Perguntei com paciência, porque para um Potter, até que James Potter fazia umas coisas bem legais. 

— O mais importante, como ninguém percebeu ainda que não pode usar magia aqui? – Sienna perguntou algo legítimo, porque isso era para ser motivo de pânico, todo mundo achando que era Rabastan Lestrange invadindo o Brasil ou algo parecido. 

— Isso na verdade foi fácil, Fred entrou na rádio da escola com a capa... Capacidade de se disfarçar e mandou um aviso oficial, em inglês mesmo, a todos dizendo para evitar feitiços durante o jogo, porque podia causar interferência no sistema de som do estádio.  

— Nossa, eu ouvi isso, mas pensei logo “ninguém vai obedecer a essa merda.”. – Claire falou exatamente o que eu estava pensando, mas James apenas deu de ombros. 

— Não precisava que obedecessem, só precisava que as pessoas criassem uma explicação em suas mentes quando as suas varinhas não funcionassem. 

Olha que espertinho. 

— Tá, mas como você  nos tirou a magia? Não era pra fazer um antídoto para o veneno que eu ia beber? - Theodor perguntou chateado, só porque eu não disse a ele que a poção era um veritaserum, quero dizer, qualquer adolescente iria ficar mais tranquilo bebendo veneno do que uma poção da verdade!  

Dessa vez a mentira foi justificada. 

— Isso é óbvio, foi a poção do cabelo colorido no dragão.  – Sienna falou entediada, com seu cabelo azul combinando com seu colar com o símbolo da Corvinal brilhando sabe-tudisse._  Malfoy quase se jogou da arquibancada para não ser atingido e Potter quase quebrou a cara de Cesc para que ele ficasse com seu cabelo intacto. 

— Não aceito fumaças estranhas no meu cabelo. – Scorp passou a mão por suas madeixas descoloridas artificialmente que eu sei! 

— James não “quase quebrou” minha cara, ele quebrou de verdade. –  Estava apontado o óbvio, mas infelizmente não era relevante. 

— Então quer dizer que nada do que foi dito aqui Iara ouviu? Porque até onde eu sei essa caixa tem um feitiço escuta... – Todos encaramos Claire, que levantou as mãos em defesa. A menina nem disfarça o mau caráter!  _ Não me olhem assim, eu disse que sabia que tinha algo errado com a caixa. 

— Iara ouviu tudo sim, não deu para fazer o antídoto de O'Brien, desculpa, cara, mas pelo menos a garota não pôde usar nenhuma das informações que demos a ela, porque a varinha dela não estava funcionando... 

Dei um tapinha no ombro de James, porque aquela saída com a poção de bloqueio de feitiço – provavelmente um dos muitos truques perversos na cartola de Fred II – foi um toque de mestre, ele seguindo o plano ou não.  

Todos parabenizaram a mim e aos outros envolvidos no plano pelo grande feito de ter nos colocado de volta em pé de igualdade com Castelobruxo,  quando Scorp, o pessimista, nos impediu de voltar a assistir o jogo na mais merecida paz de Merlin. 

— Eu só não entendi uma coisa nisso tudo... 

— O que foi que você não entendeu, Oh Malfoy que só fez perder tempo na biblioteca pesquisando sobre Paragliding? – James disse divertido, fazendo todo mundo rir, menos Scorp, que ainda parecia meio nervoso.  

— Ok, Scorp,  ignore James, o que você não entendeu?  - Perguntei porque meu caro amigo albino é tudo, menos lento para entender as coisas. 

— Se o motivo de você ter desconfiado de Iara, para início de conversa, foi ela não ser muito esperta, por nem sequer perceber que estava sendo enrolada pelos amigos com o idioma... – Olhei para Claire, que deu de ombros nada inocente. Scorp continuou.  _ Como diabos ela entenderia o que estávamos falando para passar para o irmão dela agora? 

Oi? 

— Ele tem razão, Iara não teria como entender nada do que dissemos, a menos... 

O apito do juiz pausou o jogo e o grito indignado da torcida de Hogwarts sendo abafado pela comemoração dos brasileiros nos fez olhar de volta para o campo, deixando a fala de Claire pela metade. 

— Ah, mais que merda! – Lexa esbravejou por todos nós.  

Tony tentava voltar para a vassoura que boiava para longe dele, lá embaixo no lago. Não dava para ver direito a expressão de meu amigo, mas quando eu levantei a cabeça, vi um garoto loiro de olhos verdes e cílios impossivelmente longos nos encarando com um sorrisinho cruel no rosto. 

— Obrigado pelas informações valiosas, amigos. - O sotaque espanhol não atrapalhava em nada entendermos o que o irmão de Iara havia dito em um perfeito inglês. Então é assim que as pessoas se sentem quando eu tiro onda com a cara delas? 

Me sentei de volta na cadeira, sem acreditar no que estava acontecendo, porque Tony estava fora do jogo e nós provavelmente fora do campeonato. 

— Eles se adaptaram às adversidades: o irmão estava ouvindo o tempo todo. – Scorp concluiu, agora sim soando satisfeito.  

*** 

— Isso tudo é culpa minha, eu devia ter seguido o maldito plano e dado um jeito de bloquear a poção de Theodor.  – James finalmente desabafou, quando Segundo deixou a terceira goles entrar, aumentando a diferença de Castelobruxo sobre nós em 50 pontos. 

— Como exatamente você faria uma poção dessas em horas, Potter? A culpa é desse filho da mãe corrupto que está usando uma escuta em campo. – Sienna falou com raiva. 

Provavelmente Clara só tinha o trabalho de fazer as perguntas certas para os jogadores, deixá-los entretidos, o irmão Ferraz sim sendo aquele que ouvia tudo diretamente, sem interferências. Espera um minuto ai... Eu tive uma epifania! 

— É isso! Só temos que desmascarar ele, dedurar o tal Ferraz e sua irmã delinquente, que esse jogo será anulado! – Falei empolgado, porque desmascarar vilões tá meio que se tornando minha especialidade, claro que seria simples provar um feitiço de escuta, dessa vez eles deixaram rastros!  

— Vocês não podem fazer isso! – Claire segurou no meu braço, desesperada. _ Só Iara e o irmão fizeram a trapaça, não é justo que toda a escola pague, além do mais, quando ganhamos de Ilvermorny, Castiel nem estava jogando! 

— Isso pouco importa, porque ele está jogando e trapaceando agora! Injusto seria vocês... 

— Calma, Lexa, o jogo não acabou! - Tony falou enquanto mancava para a grade da arquibancada. _ Vamos, seu imprestável,  faça alguma coisa direito!  

Acompanhei o olhar dele para o céu e fui obrigado a me juntar a ele e ao resto do time que havia levantado, quase entrando no jogo de tão ansiosos que estávamos. 

— VAMOS, ENRIQUE, DEIXE A MAMÃE ORGULHOSA! – O quê? Eu me esforço para manter minhas mentiras! Me deixa! 

Obviamente que o nosso apanhador não ouviu nenhum dos nossos adoráveis incentivos,  porque, primeiro, a torcida das duas escolas estavam gritando ensandecidas com a disputa pelo pomo de ouro entre ele e o maldito apanhador de Castelobruxo e segundo, porque... 

— Ah meu Merlin... 

Sussurrei para mim mesmo, porque não estava acreditando no que estava acontecendo de novo. O pomo deu um mergulho brusco e agora estava indo em direção ao lago com toda a velocidade, sendo seguido de perto pelos dois apanhadores. Qualquer deslize agora e era fim de jogo para qualquer um dos times, ambos com chance de vencer. 

— Mas que merda é essa? – Não sei se foi o reflexo na água, mas a impressão que deu foi que o pomo havia passado pelo espelho d’água,  então a pergunta de Tony traduziu o sentimento de todos. 

— Isso é permitido? – Maggie perguntou para Claire, que parecia tão hipnotizada quanto todos nós. Ela fez que não, depois que sim, ou algo do tipo, porque eu não estava realmente olhando pra ela. 

Mas o pior mesmo veio depois, com o apanhador de Castelobruxo desistindo da busca no último segundo e o nosso... Bem, é de Enrique Dussel que estamos falando, então é claro que ele mergulhou em alta velocidade no lago bem no centro do estádio.  

O suspiro coletivo foi palpável, porque não sei se já teve algum apanhador que caçou um pomo dentro d’água.  O silêncio era agoniante, todo mundo esperando o exato momento em que Enrique sairia do lago, com o pomo ou não, mas isso pouco importava pra mim, porque fechei os olhos e a única imagem que eu via era a dele com os olhos sem vida, morto. 

Afogado em um lago de novo. 

Apoiei a testa na grade de Castelobruxo e tenho certeza que só voltei a respirar quando Tony me sacudiu pelos ombros, gritando que ele havia conseguido,  que Hogwarts estava na próxima fase. 

Sentei de volta na cadeira, nem tendo forças para participar da comemoração louca que se instalou em nosso banco, até Claire parecia contagiada com a alegria dos meus colegas, pulando e abraçando todo mundo. Eu ainda estava somente atordoado. 

— Calma, capitão,  ele é um babaca, mas sabe o que está fazendo. – James me deu uma piscada, antes de pegar carona na vassoura do primo, pulando na água em comemoração com o resto do time. 

Romeo me ofereceu carona, mas eu pedi um tempo, então ele levou uma Lexa muito animada em sua garupa. Tony havia recusado a brincadeira por causa do joelho dolorido e Scorp já praticava seu nado cachorrinho depois de ter sido arrastado para a água  por Lia e Romeo há alguns segundos atrás.  

— Pra ficar perfeito, só faltou um beijo cinematográfico na torcedora adversária... – Tony olhou sem entender para Claire e eu apenas dei risada. _ Foi o que eu ouvi dizer! 

Me consertei na cadeira e puxei Claire por sua capa roxa esquisita e dei um beijo estalado nela. Quando me afastei, ela me encarava com os olhos arregalados por trás dos óculos.  

— Se você apenas tivesse investido no cara certo... – Falei brincando pra ela, que sorriu entendendo que não tinha sido um beijo romântico. Virei para Tony, dessa vez com um tom mais sério.  _ Zabini tem namorada, para o bem ou para o mal. 

Tony piscou sem reação, mostrando que sim, ele é a perfeita mistura entre idiotice e genialidade, como sempre acreditei que fosse. 

— Tenho?  

— Pode ter, se deixar de ser tão idiota! – Ele sorriu pra mim, nada ofendido. Tony é mesmo um retardado por ainda não ter ido até Weasley e pedido ela em namoro. Aquela ruiva problemática merece muito mais do que um casinho escondido, qualquer tonto pode ver isso. 

— Então eu tenho.  

Tony pegou sua vassoura e desceu feliz para o lago, deixando a proteção da perna de lado para se divertir, porque infelizmente sua amada havia ficado em Hogwarts e não adiantava nada eu ter usado meu ótimo conselho agora. 

Que timing horrível, Fábregas! 

— E quanto a você?  - Pisquei confuso para Claire. Ah não!  Eu entendi errado, ela achou que meu beijo foi de verdade! 

— O que tem eu? – Perguntei na defensiva. 

— Quando é que vai pôr um ponto final na sua história com minha quase xará? – Virei completamente pra ela, porque, apesar de todas as diferenças, a Claire brasileira tinha o mesmo olhar de quem achava que conseguia me entender melhor do que eu mesmo que a Claire original tinha. 

— Não sei do que es... 

— Meu nome é Clara, capitão, não importa o quanto você me chame de Claire. – Olhei para Clara de frente, porque sabia que aquilo era verdade. Respirei fundo e fiz um gesto afirmativo com a cabeça, conformado. 

— É, parece que eu tenho uma carta para escrever. – Ela me olhou curiosa, mas eu me levantei, espanei a capa e me preparei para pular de cabeça nas águas misteriosas de Castelobruxo. _ Uma longa história, Clara, nem queira saber. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora sim encerro a participação de Castelobruxo no campeonato e me desculpe se ofendi alguém, mas com o momento político que vivemos (até carne falsificada, gente!), não colocar um pouco de corrupção no Brasil seria uma oportunidade perdida. Mas se consola, ao menos foram irmãos argentinos e com fé em Tupi e na Iara verdadeira, a nossa escola vai ganhar uma rainha melhor, falsa, mas ainda assim fofinha e melhor!

#ClaraparanovarainhadeCastelobruxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hogwarts: uma outra história" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.