Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 74
Capitulo 74. Diferente


Notas iniciais do capítulo

Atrasada, eu sei, mas tenho uma ótima explicação. Mentira, não é tão boa, desculpe.



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Capítulo 74. Diferente 

Estávamos finalmente saindo do região pantanosa onde ficava o estádio de Ikley Moor, indo  em direção a Londres de trem. Tony estava sentado ao meu lado, já sem toda aquela tinta no rosto, protegendo seus presentes como se fossem as coisas mais preciosas que ele tinha na vida. 

Eu não duvidava disso. 

Quando a moça dos doces vai passar aqui com o carrinho? Meu pai abriu um dos olhos, aproveitando o balanço da viagem para tirar um cochilo. 

Que moça dos doces, Anthony? Eu sorri para os dois, porque lá vinha mais uma sessão de choque cultural trouxa-bruxo. 

Tony está achando que estamos no Expresso de Hogwarts, pai. Meu melhor amigo me encarou sem entender e eu sorri satisfeito para isso. Trens trouxas não tem carrinho de doce, meu caro. 

Que absurdo! Esperam que eu morra de fome aqui? O garoto dramático gesticulou com uma das mãos, porque a outra ainda segurava firme sua sacola cor de chumbo aumentada magicamente com o brasão vermelho sangue com o cavaleiro coroado dos Dussel. 

A minha estava no bagageiro acima de nossas cabeças, claro. 

Ele está falando sério? Não respondi a indagação de meu pai, então ele dirigiu a palavra diretamente ao garoto esfomeado a sua frente. Você está falando sério, Anthony? Você comeu durante o jogo todo e antes e depois e... 

Minha fome é legítima, senhor Fábregas. Tony falou tão sério, que só restou a meu pai suspirar vencido. 

Aqui, toma dinheiro trouxa para comprar um lanche. Tem um vagão que vende comida a algumas cabines daqui.Tony levantou empolgado, sem fazer cerimônia ao pegar as libras ofertadas por meu pai. 

Olha, tem uma velhinha estampada na nota! 

Tony, essa é a... 

, Cesc, é a rainha, eu sei, eu sou britânico, se não percebeu! O idiota continuou seu caminho muito satisfeito por ter me pregado essa peça cultural. Acho que o salve a rainha é a primeira coisa que as crianças britânicas aprendem, sendo elas trouxas ou não. 

Uma amizade inusitada a de vocês dois, não acha? Quais as chances? Olhei sem entender para meu pai, mas ele já havia fechado os olhos novamente. Falando em inusitado, o que aconteceu com você e sua namoradinha mesmo? 

Ah, pai, que assunto mais desagradável! 

Meu término com Claire foi uma coisa esquisita e eu ficava embaraçado só de mencionar, quero dizer, foi preciso, mas era o tipo de coisa que a gente tenta esquecer arquivando na pasta “memórias constrangedoras”. 

Isso aquele idiota do Bradbury não apagou, não é? 

Digamos que queríamos coisas diferentes na vida... 

Ela queria bebês e você queria viajar pelo mundo? Quê? – Porque isso sim é problema sério e olha o quão bem eu e sua mãe nos saímos mesmo com essa divergência de opiniões! 

Depois de velho está virando uma daquelas pessoas que viram qualquer que seja a conversa para si? 

Você me respeite, garoto, velha é sua avó. Abri a boca para dizer que o deduraria para sua mãe, mas ele foi mais rápido. Sua avó materna, no caso. 

Vou contar para ela! Ele deu de ombros, sabia que eu já teria esquecido disso antes de sair do trem, eu era assim de volúvel. 

Mas voltando para Claire... O que realmente aconteceu? Que saco, achei que ele tinha esquecido disso! 

Infelizmente Claire queria que eu fosse o cara que ela esperava que eu me tornasse e não o que eu estava disposto a ser. Meu pai me olhou sério, mas depois fez que sim com a cabeça. 

Seu inglês está muito bom, quase não entendi o que disse de tão rápido que falou. Meu Deus, pai, já sei de quem puxei a superficialidade. Entendi seu ponto, no entanto e vejo porque isso se tornou um problema. Na verdade, nunca entendi porque começaram a namorar... 

Eu gostava dela! Ele me olhou de um jeito pouco digno para um pai. Gostava sim, de verdade! 

Se você diz... Mas Claire sempre me pareceu normal demais pra você. 

O que quer dizer com isso? Ele se ajeitou melhor na cadeira e deu uma conferida automática no relógio. Ele sempre fazia isso, mesmo quando não tinha nenhuma reunião o aguardando. 

Nada demais, filho, só que... Você foi feito para andar com pessoas diferentes, interessantes... Não que Claire não seja interessante, longe disso! que... Me refiro a pessoas como Anthony, Scorpius... Até mesmo o senhor Dussel que conheci hoje. 

Enrique Dussel só te parece interessante porque é rico, pai. — Ele  me olhou ofendido, mas nós dois sabíamos que isso sempre seria um fator significante pra ele. Claire é uma garota fantástica, o problema não foi com ela, foi comigo. 

Eu discordo... 

Você não estava lá! 

Mas ainda assim discordo. —  Ele retrucou com veemência, depois abriu um sorriso carinhoso. Filho, não há nada de errado com você. Você só é... Diferente.  

Ah, tá. Diferente é só o jeito que os pais encontraram de dizer errado mesmo, sem colocar a culpa na criação deficiente deles! 

Sabia que havia um porquê de você e mamãe se darem tão bem... Ambos acham que produziram as crianças mais perfeitas do mundo! 

Não achamos nada disso, apesar de que você e sua irmã são sim crianças únicas. O olhei cético e ele riu da minha expressão. Sabia que quando criança você e Louise eram o assunto principal de todos os encontros de pais? 

Eu não duvido, sua filha era demoníaca! Era não, é! Ele ignorou minha crítica e continuou com seu tom saudoso. 

Sempre havia uma história inacreditável sobre vocês... Agora que estou parando para pensar, acho que era amostra de magia...Hum... Então acho que já posso parar de dizer que fui um trouxa normal até os onze anos. De todo modo, os outros pais nos diziam o quanto sentiam muito  pelo nosso trabalho, mas os olhos eram invejosos, como se quisessem ter um pouco daquilo que fazia você e sua irmã tão especiais. 

Síndrome do pai coruja... Sussurrei para mim mesmo, mas meu pai ouviu e continuou sorrindo, as ruguinhas ao redor dos olhos ficando marcadas. 

Nos olharam do mesmo jeito lá na associação de pais trouxas, em Madri, quando falamos que vocês foram para Hogwarts... - Ué, por que? Meu pai abriu um sorriso vitorioso. Vocês eram os únicos espanhóis lá, sem ligação prévia com a escola. 

E o que é que tem isso? —  Ele deu de ombros convencido. 

Nada, apenas que crianças do mediterrâneo vão para a escola francesa lá que eu não sei pronunciar o nome. Todos acharam estranho Hogwarts ter escolhido vocês. 

O pouco que sabia do funcionamento do processo de escolha de Hogwarts, havia sim algo sobre ser escolhido, só não poderia precisar o que essa escola escocesa velha  iria querer com dois gêmeos problemáticos da Espanha! 

E daí? Isso não prova que somos melhores do que os outros, pai! Ele fechou os olhos e se ajeitou de volta em seu assento. 

Não. Só prova que são diferentes para alguém mais além de mim. 

*** 

Não me sentia nem um pouco diferente dos outros alunos de Hogwarts hoje. 

Estávamos todos assistindo do lado de fora do castelo como bruxos adultos vindos de Hogsmeade, com certeza tendo aparatado de outros lugares, tentavam conter a água que ainda saía pelas portas de entrada da escola. 

Os monitores não estavam dando conta de fazer a contagem de alunos para saber se havia alguém desaparecido, mesmo que fôssemos menos de 300 no total. Vi Segundo organizando sua Casa por ano e depois de constatar que todos os grifinórios estavam ali, ele passou para Corvinal. A voz de Lia soou furiosa. 

— É claro que todos vocês estão bem, não foi sua Casa que foi destruída, seu merda! - Ela estava com raiva de ninguém em específico, então sua amiga não conseguiu contê-la. 

— Se acalme, Thiollent, estou contando dos mais fáceis para os mais difíceis! - Fred era um cara muito prático e manteve a mesma calma de sempre. O sangue frio dele era impressionante.– Tudo ok com a Grifinória e a Corvinal, vamos para a Lufa-lufa agora. 

— Porque a gente não vale muito, não é? - Lia sussurrou irônica, mas o afro-ruivo ouviu mesmo assim. 

— Valem o suficiente, deixe de drama, agora reúna o time, por favor. - Sabia que ele estava fazendo isso, o pedido, apenas para distraí-la, o que era uma boa jogada. 

Na contagem da Lufa-lufa faltavam cinco pessoas, mas quando seus colegas de classe chamaram seus nomes, três lufanos apareceram, porque estavam com seus familiares de outras casa ou os estava procurando, como foi o caso do último a chegar. 

— Eu não acho meu irmão, cara! - Era a voz de Aidan e eu, Tony, Rebeca e Scorp tentamos enxergar através da multidão para ver com quem ele estava falando.– Ele é desse tamanho, olhos puxados... Ele é da Sonserina. 

A sensação ruim me fez olhar ao redor, mesmo sabendo que não conseguiria encontrar Akira Hataya com facilidade. Depois que mudamos das Masmorras, nunca mais tinha visto o garotinho dissimulado e ainda que eu soubesse que nada disso era minha culpa, o olhar aliviado de Aidan no dia da seleção de seu irmão me dizia o contrário. 

— Akira gosta de Quadribol, por que ele estaria nas Masmorras? - Scorp perguntou abraçado a Rebeca, que se sacudia levemente para evitar o choro, sei disso porque já vi Louise fazendo milhares de vezes. 

— Há inúmeros motivos para ir no dormitório, cara, desde... 

— Eu não encontro Romeo. - Lia falou sem fôlego para mim. Eu a olhei confuso e depois lembrei que eu sou o capitão do time e tinha que dizer alguma coisa. Minha mente estava uma merda, porque só quando fui falar, lembrei que não tinha voz. Onde eu deixei aquele quadro estúpido? – Também não encontro Enrique, mas acho que ele deve ter saído pra resolver... 

Eu não parei para ouvir o resto do que Lia estava dizendo, porque eu tinha certeza que Enrique não estava em uma de suas saídas para resolver coisas do trabalho fora de Hogwarts. Ele estava aqui, ou melhor, ele estava lá! 

Porque eu o havia mandado para as Masmorras. 

Entrei na frente de Fred, que terminava de contar os sonserinos. Ah, droga, faltavam muitos, mas eu não tinha tempo para ver o quanto. James estava junto do primo e abraçava uma Lily nervosa, chorando. 

“Romeo e Enrique estão faltando, precisa avisar a alguém!” 

Tentei chamar a atenção do garoto que parecia ser a pessoa mais preparada para fazer algo a quilômetros de distância, mas todos pensaram igual a mim, porque relatavam seus próprios desaparecimentos em uma só cacofonia. 

— Sabemos de Habermas, uma colega o viu falando sobre ele querer pegar algo na cozinha, não tem jeito, vamos ter que esperar por notícias. - James! Merda, nunca achei que ficaria tão aliviado ao ouvir a voz desse idiota!– Mas você tem certeza sobre Dussel? Porque ele pode estar... 

— Ele não está. - Tony surgiu as minhas costas, muito sério.– Vimos quando ele saiu para as Masmorras, ele foi... Ele está lá, vou falar com meu primo Hector, irmão mais velho dele, me avisem se souberem de algo, ok? 

Tony não esperou resposta, partiu correndo Merlin sabe para onde e eu só esperava, sinceramente, que se o senhor belos olhos rasgados e covinhas Selwyn-Dussel comemorasse o sumiço do irmão, meu amigo tivesse a presença de espírito de dar um soco na cara aristocrática dele! 

James falou algo para Segundo e entregou Pottinha nas mãos dos primos. Ia perguntar o que diabos ele ia fazer, mas o quase ruivo saiu correndo em direção a entrada do castelo. 

“Mas que porra, Potter!” 

*** 

Não somei de jeito nenhum a minha lista uma preocupação descabida por James Potter, porque ela já estava grande demais. Voltei para perto de Lia, Scorp e Rebeca, a sextanista narrando tudo que sabia até o momento. 

— Disseram que foi apenas a janela do salão comunal que se rompeu, a dos quartos estão intactas, ou ao menos estavam, até onde se sabe. - Ela parou para esfregar os braços quando um vento frio passou por nós e eu coloquei minha capa nos ombros desprotegidos dela, nenhum de nós esperava ter que sair a essas horas da noite.– Obrigada, Cesc, de todo modo, as Casas estavam praticamente vazias, a Lufa-lufa e a cozinha foram afetadas também, mas acho que quem estava lá conseguiu sair com mais facilidade. 

— O jogo ainda não tinha começado, os retardatários sempre esperam até o último segundo para sair. - Rebeca não parecia estar ouvindo o namorado, tinha o olhar perdido para o nada.– Fora aqueles que não gostam de Quadribol... 

— Malfoy, por favor, não seja pessimista! -  Lia disse irritada, um pouco menos do que antes, mas ainda assim o bastante para calar meu amigo dramático.– Na contagem final estavam faltando apenas doze pessoas, incluindo dois retardados velhos, que teoricamente podem fazer feitiços elaborados! 

Ela falou isso em seu tom rosnado, mas todo mundo sabia que a raiva de Thiollent era mais preocupação do que qualquer coisa. Romeo e Enrique eram parte do nosso time e por mais que tivéssemos nossas diferenças, a Sonserina era uma unidade forte. 

Estava me apegando a essa mesma ideia de Lia, de que ambos eram mais velhos e experientes, Enrique era especialista em feitiços, pelo amor de Deus, podia fazer alguma coisa não só para se salvar, mas para ajudar mais alguns alunos pelo caminho também. 

Só espero que aquela alma seja boa  nesse tanto. 

Um burburinho perto da entrada nos fez virar para ver o que estava acontecendo. Podia ser nossos amigos, podia ser... Droga, era só James de volta, com a roupa molhada até a cintura. Ele trazia um pergaminho na mão. 

— Tenho notícias! -  Entregou a lista para a monitora da Sonserina, que sorriu aliviada. O garoto estava meio sem fôlego, então deixou que Beth Norman falasse o que estava acontecendo. 

— Boas notícias, pessoal, estou vendo muitos nomes aqui nessa lista, todos sãos e salvos fora da escola, agora, por favor, façam silêncio... - A garota de cabelos ondulados presos no alto começou a falar os nomes, mas dava para ser comparada com papai Noel entregando presentes de Natal, tamanha foi a alegria e alívio de todos. 

Aidan se abaixou lá na Lufa-lufa, cercado pelos amigos de casa. Akira estava bem e era tudo que importava, merda, graças a Deus, aquele pestinha tinha muito o que contar! O senhor e a senhora Hataya devem estar cansados de tanto pegar seus filhos na escola antes da hora. 

Lily comemorou pulando no irmão, o nome de Lena também estava na lista. Lia encostou a testa no meu ombro, Romeo  estava fora de Hogwarts e em segurança. James assobiou, pedindo atenção, claro, porque ninguém podia roubar seu momento de brilho heroico. 

Espera, a lista acabou? 

Todos pareciam muito entretidos com a história do senhor Potter sobre como os elfos domésticos da cozinha aparataram todo mundo para fora de Hogwarts em segurança, eles sendo os únicos que podem fazer isso, na verdade. 

Lia deu uma risada aquosa quando o idiota contou que Romeo foi o primeiro a sair, ainda comendo bolo de caldeirão, sem fazer a mínima ideia do que estava acontecendo. Não compartilhei do seu alívio, porque ainda faltava um nome. Um de doze, mas era um “um” muito importante! 

“Potter, e Enrique? Vocês não disseram o nome dele.” 

Uma lista improvisada não pode ser considerada um instrumento preciso, então podiam simplesmente ter esquecido de colocar o nome dele lá, certo? 

— Tem certeza que Dussel estava nas Masmorras? Porque ninguém viu nenhum sinal dele, todo mundo que estava lá, os elfos tiraram... 

“Ele estava lá, eu mesmo o mandei...” 

James fez uma cara de preocupação misturada com pena que me deu nos nervos. 

“Não me olhe assim, Potter, Enrique foi lá porque quis, só estou dizendo que tenho certeza de onde ele devia estar e não que eu acho que seja minha culpa!” 

— Eu não disse nada disso, relaxe. - Ele colocou a mão no meu ombro e eu deixei, porque estava começando a ficar realmente assustado.– Hey, olha pra mim, se tem alguém que pode sair daquelas Masmorras sem ajuda, esse alguém é Dussel. 

O olhei em dúvida, mas ele sorriu consolador. 

— Ele provavelmente comprou a saída dele a vista. 

Tive que rir, um riso nervoso, mas ainda sim, James merecia um prêmio por conseguir ser tão palhaço em um momento como esse. Eu estava mais tranquilo e com a cabeça mais limpa, então me abaixei na grama verde, agora escura por conta da noite, da frente de Hogwarts e resolvi chamar um amiguinho que poderia me dar certeza das coisas. 

Djinn, apareça, estou precisando de você. 

Continuei com a mesma cara de expectativa dos outros alunos, como se também estivesse aguardando para saber o que tinha acontecido com a escola, com as nossas coisas, agora que todo mundo estava bem. 

Djinn, seu idiota, apareça agora! Eu tenho um pedido a fazer, não era você quem ficava me atormentando por isso? APAREÇA! 

— Não alardeei o sumiço de Dussel porque ainda tem muitas câmeras de transmissão aqui, o mundo todo está nos vendo agora, provavelmente até pararam o jogo. 

“Acham que estão transmitindo isso aqui?” 

Djinn, você tem trabalho a fazer! Pode ter certeza que se não vier agora, na próxima vez que aparecer será pra ser chutado de volta para sua maldita lâmpada! 

— Eu tenho certeza que estão, as câmeras estão todas lá dentro. Sabe o que significaria um dos organizadores desaparecidos, não é? - Merlin, por que não está funcionando?– Ei, Cesc, você está bem? 

“Não está funcionando!” James me olhou sem entender, então continuei falando, mesmo sabendo que ele não entenderia nada mesmo, porque era a bosta de um segredo! “ Eu estou chamando por ele e ele não está me atendendo! E agora, o que eu faço?” 

Devo ter soado muito patético, quero dizer, parecido já que estou mudo, porque James, abaixado como eu, desviou o olhar para o chão, se apoiando na ponta dos dedos de uma das mãos. 

— Tenho certeza que ele está... - Estalei os dedos para ele olhar para mim. 

“Ele não está bem, ele precisa de ajuda!” 

— Como pode saber, Cesc? Se você disser que “sente” isso, eu vou te dar um soco, para deixar de ser um imbecil sentimental! 

Talvez fosse a verdade no relincho de Potter que me fez acordar e tomar uma injeção de ânimo, mas eu dei um tapa em seu peito, forte o suficiente para derrubá-lo pra trás. 

— Seu filho da... 

“Vem!” 

Levantei e dei as costas para ele e sabia que não precisava dizer mais nada, a minha empolgação era tudo que um grifinório sem juízo precisava para acompanhar um doido varrido como eu. 

Estou começando a gostar dos grifinórios, sério mesmo. 

*** 

Fui descendo em direção a margem do lago, que parecia ter recuado apenas alguns centímetros para dentro. Essa coisa devia ter uma infinidade de água, se as histórias eram verdadeiras. James me puxou pelo ombro. 

— O que pensa que está fazendo? - Antes que eu pudesse responder, uma terceira pessoa se juntou a nós. 

— Cesc, para onde vocês estão indo? -  Parei longe o suficiente, mas ainda dava para ver o vulto de nossos colegas mais acima, na entrada do castelo. 

“Ok, preciso que mantenham a mente aberta agora, principalmente você, James.” 

— Eu não entendi nada, onde está seu quadro? - Scorp procurou o quadro sem propósito ao meu redor, mesmo sendo óbvio que eu o havia esquecido no salão na hora da confusão. 

— Ele quer que mantenhamos a mente aberta, ou seja, lá vem merda. - Apontei sério para o senhor Potter péssimo intérprete, porque eu precisava da ajuda dele, infelizmente. 

“Prestem atenção, há uma grande possibilidade de Enrique estar... Err, não estar ok e eu tenho uma chance de trazer ele de volta em segurança, mas para isso vou precisar invocar... Um amigo.” 

Tentei chamar o djinn de amigo, pra ele não parecer tão perigoso, mas acho que o verbo invocar foi o que não pegou bem. Droga! Os dois estão me olhando como se eu fosse um satanista. 

“Não é o que estão pensando, veja, a cruz não me queima nem nada.” 

— Cesc, o que demôn... Que merda você quer com a gente? - Eu engoli um pouco ansioso, porque o tempo estava passando, já que eu tinha bem claro na cabeça que no momento em que trouxessem o corpo de Enrique de dentro do castelo, tudo estaria acabado. 

Eu estaria acabado, não conseguiria fazer o pedido de jeito nenhum depois disso. 

“Preciso que repita minhas exatas palavras!” James me olhou desconfiado e Scorp continuou a olhar de um para outro, avaliativo. “Preciso que acredite que tudo que eu fizer aqui é pelo bem, tudo para que as coisas terminem com um final feliz!” 

— Do que está falando exatamente? - James cruzou os braços e eu tive que fazer algo que eu detesto: implorar. 

“Por favor, James, preciso que confie em mim.” 

— Ok, mas se eu sentir que é algo ru... 

“Você pode parar e nunca mais olhar na minha cara!” 

— Está bem, pode falar! 

*** 

James havia chamado o djinn para mim e a pior parte desse meu plano improvisado era que eu podia estar certo sobre a criatura não poder acessar minha mente fora dos sonhos - isso explicaria o porquê dele não saber nunca sobre meus planos - mas podia estar errado sobre conseguir fazer o pedido através de outra pessoa. 

É um grande jogo de dados e as chances estão todas contra mim. 

— Cesc, aquele não é... - Scorp olhou confuso para a borda do lago e por um segundo achei que era Enrique saindo de lá, mas, qual seria a lógica? Na verdade era meu pai, com direito a terno e gravata com colete fazendo jogo. 

Isso fazia muito mais sentido. 

— Senhor Fábregas, o que... - Coloquei um mão no braço de James, porque aquele com um sorrisinho vilanesco obviamente não era meu pai. 

“ Você demorou muito, onde estava?” 

— Desculpe, filhote, não te escuto. - Que cara mais cínico, vestindo a pele de meu pai, ainda por cima! – Mas ouvi teu apelo na voz de teu amiguinho aqui. Desesperado agora, mestre

“Não seja petulante e não se esqueça que meu título não é figurativo.” 

— Como? Ainda não te entendo. - Dissimulado... Virei para James sério e ele parecia desconfortável, sem saber como o meu pai trouxa havia se materializado no meio de um lago escocês. 

Scorp era menos sutil, ele já estava a alguns metros de distância da gente. 

“Diga a ele que se ele não parar com essa palhaçada, ele vai direto para a lâmpada!” 

— Ele disse que... - James me olhou em dúvida e eu fiz o gesto universal de “vai, vai, desembucha”, mas meu falso pai acabou com o sofrimento do grifinório. 

— Entendi o que o mestre disse, o mestre é muito tonto, podia ter consertado há tempos sua garganta e estripado a olhinho puxado no mesmo pedido. 

Iria dizer para James falar algo bem desaforado em resposta a essa maluquice, mas o demônio, hoje em forma de pai, estalou os dedos e o desconforto na minha garganta passou no mesmo instante. 

— Você me curou? - Ele deu o seu melhor sorriso angelical, mas não era a toa que o meu não funcionava, o de meu pai era igual e tão pouco convincente quanto. 

— É provisório, a menos que o mestre queira que seja permanente e puff, menos um desejo. - Ele fez o número três com os dedos e literalmente apagou um das mãos quando disse "puff".  

Ok, isso foi bizarro. 

— Para de gracinha, djinn, vamos ao que interessa! Preciso que você me diga se Enrique Dussel está vivo. - A criatura fez menção de falar, mas eu fui mais rápido. – E isso não é um desejo. 

— Achas que podes sair pedindo isso e aquilo e depois dizer "não é um desejo"? - Ele imitou minha voz com sotaque na última frase. Olha, que palhaçada, hein, pai? O olhei sério. – Pois estás certo, mas não abuses.  

— Então responda, ele está vivo ou não? 

— Não. 

Assim que ele disse isso, eu senti o ar sair dos meus pulmões com força. Essa não era a resposta que eu estava esperando. Ele me encarou sem expressão e eu olhei para James e Scorp atrás de mim. Ambos nem conheciam o djinn, mas sabiam que, por tudo que haviam visto até agora, aquela só podia ser a verdade. 

—Tem como trazê-lo de volta a vida? - Sussurrei, mesmo que minha voz temporária estivesse perfeitamente funcional. 

— Cesc... - Parei o que quer que James tinha a dizer com um gesto seco de mão, porque não fazer nada não estava sequer em discussão. 

— Há um pedido que possa fazer isso, trazer ele de volta? Ou faz parte de suas regras não vencer a morte? 

— Sabes muito bem quais são as leis que regem minha magia. - Ele me encarou sério pela primeira vez na noite. Respirei fundo, as palavras de Enrique martelando em minha mente: só mudaria se estivesse vivendo em uma realidade com a qual não pudesse conviver... 

Não podia conviver com isso. 

— Desejo então, que Enrique Dussel volte a vida. 

— Tens certeza disso, mestre? - O sorriso maldoso me fez recuar um passo real e outro mental. O que tinha de errado com o pedido? 

— Não! Eu quero... Preciso pensar mais um pouco, me dê um segundo. - Virei para James e um Scorp distante e fiz sinal para que eles se aproximassem. 

— Cara, o que é isso? Eu não estou entendendo nada e estou quase me borrando de medo, acaba logo com isso. - Oh, Cristo, Scorpius Malfoy dá todo um novo significado para a palavra patético. 

— O plano é esse, agora fique quieto e só abra a boca se tiver alguma sugestão. - Ele se calou e pareceu feliz de não ter que choramingar mais. James também não disse um pio. – Me digam tudo que puderem pensar que está errado com esse pedido: desejo que Enrique Dussel volte a vida. 

— Como assim errado? - James perguntou e Scorp me encarou com o mesmo olhar confuso. 

— Errado do tipo... Olha, aquele cara ali, ele não presta. Ele se tornou um djinn com um mestre porque ele foi uma bosta de ser humano e por isso não tem nem direito a morte! - James e Scorp olharam para ele, se desviando de mim em uma cena que deveria ter sido cômica, se vista de fora. – Qualquer brecha que ele puder aproveitar para me ferrar, ele vai usar. 

— Então não peça isso. - Encarei James com todo o meu ódio e ele pôs as mãos para cima, em rendição. – Não com essas palavras, pelo menos! Olha, tipo... Se pedir para Enrique voltar a vida e ele estiver dentro do lago ainda... 

— Ele morre de novo. - Passei a mão exasperado no rosto. – Fora que não posso pedir para voltar nada, é uma das regras do djinn. 

— E quais são as outras regras? - Scorp me perguntou e era uma boa pergunta, devia ter começado por aí. 

— Nada de ter o que já houve, o que ainda haverá ou algo que possa consumir o bruxo. - James franziu o cenho e eu dei de ombros. – Esse último eu nunca entendi direito também. 

— Desculpe-me, ainda se demorarão muito?  

— Por que? Você tem alguma reunião de djinn pra ir? - Eu e James olhamos para um Scorp muito do saidinho. – O quê? Ele é meio irritante e olha que seu pai é super legal! 

— Tá, foquem aqui. Que tal: desejo que Enrique Dussel fique seguro? 

— Tipo em um caixa forte ou em Azkaban talvez? - Ai merda, hoje minha mente não estava funcionando direito mesmo, sendo superada pela de James Potter! 

— Tens um amigo bastante perspicaz, mestre. Estou precisando de um assistente, troco ele por mais um desejo. - Olhei cético para ele, que sorriu ainda mais. – Dois? 

— Ignorem, não trocaria nenhum de vocês por menos do que cinco desejos. - Ambos, Scorp e James, arregalaram os olhos. – Estou brincando, seus idiotas. 

— Ainda bem, porque eu acho que tenho uma ideia. - Scorp olhou para o djinn por cima do meu ombro e eu vi a criatura nos encarando com um desinteresse ofensivo. 

— Fale. 

*** 

O desejo de Scorp era perfeito. 

Tanto eu quanto James não conseguimos encontrar falhas nele, o que, na verdade, poderia ser apenas um problema nosso, quero dizer, as coisas podiam ser diferentes se Tony estivesse aqui... 

Ok, talvez não perfeito, mas o mais próximo disso que deu pra fazer! 

Um grito masculino soou lá em cima e algumas vozes alteradas vieram depois. Não tenho certeza, mas a voz parecia muito com a do irmão de Enrique. Não, não, não! Precisamos de mais tempo! 

— Se concentre e peça. - Olhei novamente para ver se conseguia ver algo na entrada do castelo, mas James puxou meu rosto de volta. – Esqueça o que quer que esteja acontecendo lá, ok? Se tudo der certo, isso nunca terá acontecido! 

Ok, ele tem razão. Preciso me acalmar. Foco, Cesc, foco! 

Me virei para o djinn, deixando um Scorp e James com cara de preocupação atrás de mim. O loiro mesmo estava mais pálido que o normal, como se fosse passar mal. Ah, meu caro, mas se sou eu que vou ter que fazer o pedido! 

— Ok, djinn, eis o pedido: - Ele parou de olhar as unhas com tédio. Espero que essa cena toda não me traumatize com meu próprio pai.  – Eu desejo que as últimas palavras que eu escrevi pessoalmente para Enrique Dussel tenham sido: Deixe tudo no dormitório do dirigível, faça o favor. 

— Só isso, mestre? Tens certeza? - O cara de pau me perguntou com um sorrisinho traiçoeiro, mas eu estava confiante, sabia que ele poderia estar apenas blefando.  

— Sim, tenho certeza. - Ele sorriu desafiador e estalou os dedos, como se não estivesse com todo o nosso futuro em suas mãos. 

— Vamos ver se tens o que é preciso para fazer a diferença, mestre. 

Sim, veremos. 

 


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Notas finais do capítulo

Eis a explicação: estou participando de um amigo secreto de histórias e estou super doida nas galáxias, não é que eu tenha deixado a história de lado, ela estava pronta na minha cabeça, mas com o prazo final do amigo secreto chegando, eu simplesmente não consegui sentar para escrever HOH a tempo, desculpem. O próximo vou tentar entregar no prazo certo, prometo.

Bjuxxx