Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 70
Capítulo 70. Estratégias de sobrevivência


Notas iniciais do capítulo

Postando em cima do prazo dado, completamente envergonhada, mas acontece que eu faço mestrado e ao contrário do que parece, eu não virei mestre de ninguém, pelo contrário, sou uma escrava que tem que ficar mudando referências da abnt para as normas de Vancouver... Longa história!



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Capítulo 70 Estratégias de sobrevivência 

Olhei para cada um dos meus alunos e eles estavam entre o medo e a excitação completa, o que é o tipo de sentimento que eu acredito que todos mereciam ter em uma base semanal, pelo menos, para se sentir vivo, sabe? 

 –Vocês sabem porque estamos aqui curtindo esse maravilhoso pôr do sol no lago, em cima da Floresta Proibida? – Basil coçou o nariz nervosamente, fez menção de falar, mas depois de olhar para o colega de casa acenando negativamente, resolveu que não. – Deixe a criança falar, Philippe. 

 –Eu acho que você vai nos fazer entrar na floresta e voar... 

 –Mas é Proibida! – Simon estava contestando, como o bom corvinal que era. O lufano deu de ombros, sem acrescentar mais nada. – Sabe que se um de nós se machucar ou morrer lá em baixo, você será responsabilizado, não é? 

 –Por isso mesmo eu fiz vocês assinarem aqueles papéis anteontem. – Falei olhando minhas unhas, fingindo desinteresse. 

 –Aqueles papéis não tem validade jurídica! 

 –Os corvinais... Olha, de todas as casas de Hogwarts, a que eu mais detesto é a Corvinal! – Liana e Simon se entreolharam ofendidos. Eu apontei para o secundarista petulante, falando diretamente pra ele. – Não tem valor jurídico, mas isso pouco importa, porque: primeiro, eu tenho um plano, que eu chamo de plano de inocência, muito bom. E segundo, mas não menos importante, vocês assinaram aquele papel apenas para se, em último caso, nada der certo, eu chantagear vocês como cúmplices, em troca de vosso silêncio. 

 –Impressionante... – Habermas me cumprimentou agradado e eu retribui o gesto. Ele tem estado menos arisco, pelo que sou grato. 

 –Ok, chega de papo, porque vocês não vão querer entrar na floresta depois que o sol for embora, acreditem em mim. – Vários muxoxos e um sorriso meu. Com ou sem sol, isso não faria a menor diferença lá dentro e eles sabiam. – Pois bem, li em algum lugar que a competição saudável é um ótimo meio de ensinar as crianças, então, quem pode me dizer o que faremos aqui? 

 – Uma corrida! 

 –Uma corrida com obstáculos! – Lily e Lena falaram ao mesmo tempo e depois se mediram irritadas. Lily, que havia dado a resposta mais completa, já ia reclamar sua vitória, mas eu fui mais rápido. 

 –As duas estão certas, 20 pontos para a Sonserina! E não, Simon, os pontos que eu dou não tem valor jurídico. – O garotinho moreno de olhos azuis acenou feliz por trás dos óculos. Eu respirei fundo, porque era corvinal, mas era um corvinal filhote e eu tinha que ter paciência com ele. – Faremos uma corrida para treinar reflexo e velocidade e o prêmio não é apenas a sua sobrevivência, não, o professor maravilhoso aqui tem dois prêmios a mais: um para os vencedores e outro para... Bem, os menos vencedores. 

 –Perdedores... – Brianna, uma das sonserinas trazidas por Lily, do segundo ano, fingiu tossir a palavra e eu apenas revirei os olhos. É por isso que a gente nunca ganha a Taça das Casas. 

 –Para os oito que chegarem por último, teremos uma maravilhosa oportunidade de melhorar suas habilidades! – As crianças me olharam com suspeita e eu apenas sorri inocentemente. – O professor Longbotton pediu voluntários para ajudá-lo a passar o fungicida anual nas raízes do Salgueiro Lutador e eu tomei a liberdade de voluntariar oito de vocês.  

 –Quê? 

 –Irado! – Meissa, uma grifinória bonitinha, de cabelos cacheados nos ombros, me olhou animada e eu apontei para ela. 

 –Esse é o espírito! Vocês terão a oportunidade de melhorar seus reflexos, sua velocidade e o mais legal, com alguém ao lado que realmente se importa com vocês! 

 –O senhor houve o que diz, capitão? – Liana, a outra corvinalzinha irritante falou, com mão suspensa e tranças embutidas voando ao vento. Ao menos ela era mais respeitosa que Simon. 

 –Ouço sim, obrigado pela preocupação. – Bati palmas, tentando fazer as coisas andarem mais rápido, estávamos com o cronograma apertado. – O prêmio para os sete primeiros é participar de um treino oficial com a seleção, dirigido por Ginevra Potter, todos prontos? Então vamos às regras... 

 –Espera! O quê? -  Eu havia falado tudo rápido, porque queria evitar que eles ficassem muito animados e batessem a cara em algum olmo lá em baixo, isso seria ruim. Mas não funcionou, porque os pastinhas estavam cochichando excitados com a possibilidade de jogar com a seleção e pegar dicas com a ex-artilheira das Harpias de Holyhead.  

 – Vocês me ouviram, vamos às regras: os sete primeiros que atravessarem a orla da Floresta vivos, se estiverem mortos estão automaticamente eliminados, vão comigo para o treino, o restante se apresenta ao professor Longbotton antes das aulas de amanhã. Alguma dúvida? 

 –Todas! 

 –Sim! – Lily e Simon falaram ao mesmo tempo e Liana havia levantado a mão, pedindo a palavra. 

 –Já sei que é sua mãe, Lily, pensarei em um prêmio diferente pra você, caso ganhe. 

 –Não era isso que eu ia dizer, eu quero muito esse prêmio, jogar com minha mãe sempre foi um sonho, ela nunca participou dos nossos jogos familiares... A equipe que ela estivesse ficaria em vantagem. – Acenei meu entendimento, então ela continuou. – Queria apenas saber se posso lançar feitiços na concorrência ou se... 

 –Pode sim, vale tudo, mas devo alertá-la que é uma corrida de curta distância, você vai acabar se atrasando fazendo isso. – Ela sorriu enigmática, bem, cada um com sua estratégia. 

 –Isso não está previsto nas regras do Quadribol, então... 

 –Sua pergunta está relacionada à isso, Simon? – Ele parou no ato e reformulou seu discurso chato, para não perder a oportunidade de falar. Eu não sentiria nem um pouco por ter que fazê-lo perder a vez. 

 –Como vai saber quem ganhou? Essa névoa não deixa ver as coisas muito bem lá em baixo. – Sorri para ele, feliz de verdade com a pergunta. 

 –Que bom que perguntou, meu caro. – Tirei meu onióculos do bolso das vestes, apresentando o objeto para todos os presentes. – Esse aparelho aqui vai me permitir não só ser muito justo, como conseguirei mostrar aos descrentes o replay e poderei usar as imagens para trabalhar em cima dos seus erros, no nosso próximo encontro teórico, na segunda. 

 –É um onióculos especial? – Philippe perguntou interessado e eu deixei que ele o pegasse, para olhar de mais perto. 

 – Sim. Liana, sua dúvida, por favor. 

 –Certo, capitão. Então... Somos sempre dois grupos, os iniciantes e os avançados, como é que essa corrida vai ser justa? – Bati em minha testa, às vezes me surpreendo com minha idiotice. 

 –Ah sim, esqueci de mencionar! Os iniciantes começam de baixo, dentro da Floresta e os avançados vão ter que mergulhar, partindo daqui de cima. Isso deve lhes dar alguma vantagem... 

 –Como ficar dentro da Floresta Proibida mais tempo pode ser considerado uma vantagem? 

 –Simon, seu babaquinha, eu não quero mais ouvir a sua voz hoje, a não ser para pedir socorro, estamos entendidos? – Ele fez que sim, assustado e eu quase fiquei com pena, porque ele ainda não era um corvinal pleno, se fosse John, Louise ou até mesmo Harmond, isso não ia ficar assim, eles retrucariam. – Estamos entendidos, todo mundo? Podemos começar? 

Como não houve mais objeções, finalmente adentramos na floresta maligna e misteriosa. Vai dar tudo certo, claro! Tenho nem dúvidas... 

*** 

E não é que deu tudo certo mesmo? Estou impressionado! 

Bem, quase tudo. 

Lena havia caído já em cima da linha de chegada, por sorte ela teve apenas alguns arranhões, e logicamente foram feitas as devidas investigações e quando constatamos que Lily era inocente - como ela afirmava ser, mas ninguém acreditou - pudemos deixar isso de lado. 

O outro acidente foi com a vassoura de Philippe, ele infelizmente fez um rabiada errada entre duas árvores centenárias e acabou com as cerdas presas em uma das trepadeiras pendurada nos galhos. Ele não se machucou, mas me fez reforçar a chantagem dos papéis assinados, antes de constatar que ele estava bem. 

Nunca se sabe, segurança em primeiro lugar! 

Então agora estava indo para a câmara com os vencedores do sorteio aberto para toda escola e anunciado no Hogs News, claro.  E sim, eu menti sobre isso e já que Potter não se deu ao trabalho de verificar, fica o dito pelo não dito, como diria a minha vó. 

 –Ok, quero que vocês se comportem, nada de ficarem de conversinha paralela ou importunando a senhora Potter, ela não tem tempo para suas idiotices e isso vale para você também, Lily, quero que se comporte como uma profissional. 

A ruivinha acenou seriamente para mim, dando toda a importância que o assunto merecia. Haviam ganhado a prova, Lily, Marco, Basil, Meissa, Brianna, Cameron e Simon, um lufano, um corvinal, dois grifinórios e três sonserinos. No final das contas ficou parecendo mesmo que houve um sorteio justo, que bom! 

Chegamos na câmara de treino e a maioria ali soltou sons de apreciação, nunca haviam estado aqui antes, com a exceção de Lily, Marco e Cameron, que já haviam participado de treinos abertos pelas suas respectivas casas. 

As atividades ainda não tinham começado, então me encaminhei para Segundo e Tony, que conversavam muito sorrateiramente em um canto. Os dois poderiam se passar por irmãos, tinham quase o mesmo tom de pele, mas o cabelo avermelhado esquisito de Weasley estragava a semelhança. 

 –O que estão aprontando? – Fred saltou da própria pele com meu susto proposital, mas Tony só se ajeitou melhor em sua bengala estilizada a lá Zabinis, de uma forma que pareceu meio dolorida. – Você devia ir se sentar um pouco, criatura. 

 –Logo mais vou estar sentado em uma vassoura e essa beleza aqui vai ter um minuto de descanso. – Tony sinalizou a bengala com um punho de caveira com olhos de esmeralda, que eu realmente não sei de onde ele tirou. – Mas respondendo a sua pergunta, estou acertando alguns detalhes com Weasley aqui, me voluntariei para ajudá-lo naquele projeto dele. 

Hum... 

Acenei feliz, porque além de não ter que esvaziar, limpar e planejar a nova sede do Ocaso eu mesmo, Fred ainda tinha encontrado uma ocupação para um Tony entediado, o que era uma bênção.  

Apesar do meu melhor amigo já poder subir em uma vassoura apenas como espectador, eu sabia que o joelho dele ainda incomodava como o inferno, Connor estava me passando o relatório das noites mal dormidas dele e segundo o corvinal, havia uma possibilidade de Tony não estar tomando todas as poções, o que seria uma grande idiotice da parte dele, o jogo contra Ilvermorny já está perdido para ele de todo o jeito! 

Deixei os dois continuarem seus planos mirabolantes e segui para me trocar no vestiário, diferente dos meus alunos, eu não estava com roupas próprias de treino. Quando retornei, percebi que minha turma havia se separado, nenhum dos Potter, nem Harry, muito menos Ginevra haviam chegado e tudo parecia na mais perfeita paz. 

Me juntei a Lexa e a Cameron, conversando perto das pequenas arquibancadas do lado esquerdo do campo de treino. O garoto tinha toda a pinta de nerd, mesmo sem usar óculos, porque era magricela e muito alto, mas assim como Spark, era muito ágil em uma vassoura, o que sempre me deixava surpreso. Ambos sorriram para minha aproximação. 

 – Cam estava me contando aqui que você está treinando alunos de todas as casas, muito legal isso, capitão! – Lexa havia conseguido prender seus cabelos curtos, de pontas coloridas, em um penteado bonito e prático e sorria agora como se estivesse muito a vontade aqui na câmara. 

 – O plano era treinar só os da Sonserina, mas, no espírito da cooperação inspirado pela seleção, resolvi deixar as outras casas participarem também. – Lexa abriu ainda mais o sorriso, então acrescentei. – Belo penteado, a propósito. 

 – Gostou? Sienna que fez pra mim, ela é muito boa com essas coisas. – Se gostei? Eu adorei! Aparentemente o plano do treinador de unir o time estava dando certo no geral. Mas preferi apenas fazer que sim com a cabeça, mudando a conversa para outro tópico. 

 – E então, Cameron? Pronto para mostrar que dá sim para tirar um pouco da grifinorice chata de vocês com muito empenho e trabalho duro? 

 – Hey! – Lexa reclamou falsamente ofendida e Cameron deu risada. 

 – Achei que odiasse a Corvinal, capitão! -  Ele completou, esbarrando de leve no ombro de Lexa, procurando por apoio de um modo divertido. – Você o conhece melhor, Lexa, ele não mentiria para gente, né? 

 – Não mentiria não, só falo verdades, para o bem e para o mal e eis aqui uma verdade das mais verdadeiras: meu coração é grande o suficiente para odiar as duas casas e ainda sobrar algo para a Lufa-lufa! – Os dois riram e eu dei um tapinha no ombro de Cameron, antes de chamar Lexa para trabalhar. – Junte os outros na lateral do campo, por favor, Cameron, preciso colocar o time em formação. 

Assim que toda a seleção estava no centro da câmara - com exceção de Tony que havia resolvido sentar um pouco, dada a demora dos Potter - a nossa convidada especial e seu marido resolveram dar as caras. 

Havia orientado tanto a seleção quanto meus alunos a não ficarem de fanboyzice, então todos se comportaram razoavelmente bem quando foram cumprimentamos um por um por Ginevra Potter. 

A mãe de Pottinha, Sev e Zé Penico era uma lenda! Ela estava usando o uniforme oficial da seleção britânica, que deixava seus cabelos de fogo ainda mais bonitos. Vi mais de um sorriso abobalhado nessa câmara. 

 –Bem... Acho que vou assistir o treinador e o capitão de vocês trabalharem por alguns minutos e então, se tiver algo que eu possa fazer para ajudar a melhorar nosso time para o jogo de depois de amanhã, eu farei, ok? 

Se ela dissesse que explodiria a câmara com a gente, dentro ainda sim teria ouvido aquele coro sincronizado e animado. Potter, o que não presta, deu as diretrizes do treino e eu coloquei tanto a seleção, com o time reserva e o titular, quanto os alunos convidados, em formação. 

O treino estava puxado para alguns de meus alunos, então fui colocando eles para fazer um descanso de dez minutos, dois de cada vez, porque não era esperado que eles tivessem o mesmo rendimento dos outros atletas. 

Ainda. 

Cameron e Marco declinaram do intervalo e eu não me importei, os dois provavelmente estariam em seus times na próxima temporada, então não era surpresa alguma que eles aguentassem o tranco.  

Lily, por outro lado, estava apenas sendo teimosa, então voei para o lado dela. Ela prendia o cabelo em um coque frouxo com as mãos levemente tremendo , então optei por ser simples, sem chamar muita atenção para nós dois. 

 –Água e descanso, Lily, pelo menos por cinco minutos. 

 –Eu estou bem! 

 –Soou como um pedido? Porque na verdade foi uma ordem. – Ela ia retrucar, mas eu dei a ela um olhar significativo e ela apenas colocou sua vassoura em trajetória descendente. Boa garota! 

 –Ok, isso foi impressionante. – Não tinha notado a aproximação da senhora Potter, então minha cara foi engraçada o suficiente para fazê-la rir. –Lily não costuma obedecer com facilidade, mas ela te ouviu da primeira vez... Eu quero saber o truque! 

 –Olha... É na base do acerto e erro, até jogá-la no lago já tive que jogar! -  A mulher me olhou com o cenho franzido. – Senhora Potter, lidar com sonserinos teimosos é uma batalha diária, não julgue meus métodos, julgue apenas meus resultados! 

 – Bem, você está fazendo um ótimo trabalho, tanto com os sonserinos quanto com os demais. – Sorri para o elogio muito merecido sim, obrigado. Ela continuou. – Meu marido, por outro lado, ainda está com um certo problema de autoridade acontecendo, não é? 

Só para ilustrar o fato, Enrique e James começaram uma das suas discussões épicas e até divertidas para quem está de fora, se os risinhos de Simon e Brianna diziam alguma coisa. Respirei fundo, porque Potter estava ocupado passando instruções para Lia e Maggie no lado oposto do campo. 

 – A senhora me dá só um segundo?  

 – Ele faz de propósito, sabe? – A olhei sem entender e ela sorriu divertida. – Harry sabe exatamente o que está acontecendo sob seus domínios, mas na maioria das vezes ele escolhe a própria paz ao invés da ordem... 

 – Quer dizer que... 

 – Quase vinte anos de casados, senhor Fábregas. Aprendi uma ou outra coisa sobre meu marido. – Aquele imbecil da testa rachada! 

 – Obrigado pela dica, senhora. Com sua licença. 

Bem, não sabia muito bem como usar essa informação, mas com certeza sabia usar meu bastão para ameaçar quebrar os dentes de James Potter e sabia também fazer Enrique servir água para todos na câmara, algo que ele fez de muita má vontade, umas duas ou três pessoas se engasgaram com o que quer que ele tenha colocado naqueles copos. 

Bem, do Potter sênior teria que cuidar depois. 

*** 

De banho tomado, eu quase me sentia como um ser humano decente. Scorp já havia deixado os aposentos do time e Tony, como estava andando bem mais lentamente do que estava no início do dia, havia feito o favor de me esperar. 

 –É impressão minha ou a sua perna está piorando? – Olhei com suspeita para aquele mancar bem acentuado que ele estava fazendo agora. Tony franziu o cenho, bateu a bengala com mais firmeza no chão e continuou a andar, sem me encarar. 

 –Se formos por esse caminho, vamos brigar. 

 –Não gosta de passar pelo retrato novo de Sir Cardogan? – O cavaleiro olhou ofendido de sua moldura e Tony me encarou irritado com a dose extra de sarcasmo. 

 –Estou falando sério. – Ele acelerou o passo, o que foi ridículo, já que eu o alcancei sem esforço algum. 

Ao chegar ao Salão Principal, poucos lugares nas arquibancadas haviam sido ocupados. Hoje era mais uma noite de jogos e embora Harry Sem vergonha alguma na cara Potter não nos deixasse ver todos os jogos junto com nossos colegas, esse em específico foi permitido. 

O campeonato havia modificado toda a rotina da escola e isso ficou claro dessa vez, porque finalmente jogaríamos em casa. A comitiva de Ilvermorny chegaria amanhã no primeiro horário e a semana havia começado com uma bateria de jogos das mais diversas chaves, o que duraria até o final da seguinte. 

Tony ainda não estava falando comigo quando pegamos nossos lugares, mas consegui comprar um sorriso dado com pouca intenção, mas verdadeiro, ao trazer um prato de recém-saídas do forno tortas de carnes. 

A gente tem que conhecer nosso público. 

 –Ok, eu estou um pouco nervoso, Sharam foi meio misteriosa na carta dela, então eu estou achando que ela vai jogar hoje. – O corvinal irritante de oclinhos azuis se sentou do meu lado sem ser convidado, se servindo do que deveria ser o complemento do meu jantar magro de mais cedo. 

A senhora Potter nos aconselhou a evitar comidas muito pesadas antes dos jogos, mas acontece que eu tenho 14 anos e essa coisa de cuidar de alimentação funciona melhor em atleta velho, meu organismo ainda aguenta o tranco. 

 – Quem é Sharam mesmo, John? – Tony perguntou mais animado, tendo achado uma posição satisfatória para sua perna machucada e um terrível pastelão de rins extraviado no meio das minhas tortas. Que mau gosto. 

 – Sharam é a namorada dele de Uagadou. -  Tony fez uma cara de surpresa engraçada, jurava que tinha mencionado ela pra ele antes. – Eu falei com você sobre ela, a doida que me fez pegar uma detenção, lembra? 

 – Ah sim! Não me lembro de você ter dito que ela estava na seleção... Ela estava no banco no nosso jogo? – Revirei os olhos para Tony, é claro que ela estava, acho que ele teria notado uma batedora jogando contra ele. 

 – Meu desejo é que ela permaneça no banco nesse jogo também. – Eu e Tony encaramos John com iguais doses de repreensão. – Vocês já viram o pessoal de Castelobruxo? Eles fazem vocês dois parecerem anjos em vassouras... 

 –Ninguém faz a gente parecer anjos, quando se trata de Quadribol! – John mediu Tony da cabeça os pés e depois balançou a cabeça como se tivesse sopesando o resultado das análises. 

 – Bem... Talvez não você, mas eles comem estrategistas como Cesc no café da manhã! 

 – Bom saber, idiota, mas eu não sei que feitiço de desilusão Sharam usou em você para que acreditasse que ela é uma flor de estufa. -  Falei divertido e relaxado, até que uma das câmeras voadoras irritantes sobrevoaram nosso lado das arquibancadas. 

Romeo já havia nos alertado para isso. Parece que virou uma espécie de passatempo dos aficionados por Quadribol observar até mesmo os mínimos detalhes do campeonato que revelaria futuros jogadores das grandes ligas. 

Ninguém queria perder o nascimento de uma grande estrela, então as pessoas de fora da comunidade estudantil estavam levando a sério nossos jogos, fazendo apostas, analisando o comportamento dos jogadores nos bancos, nos jogos, em campo... 

Disseram que um velho nos Países Baixos adivinhou com precisão que James Potter amarelaria contra Uagadou apenas por conta do sorriso nervoso que ele deu na foto de apresentação da seleção de Hogwarts. 

Claro que aquele sorriso tinha acontecido porque Enrique o havia provocado, mas ainda sim, foi um palpite impressionante e muito acurado. 

O salão de repente ficou escuro e o céu iluminado foi substituído por um céu de estrelas do Sul. Sorri para o burburinho cessando ao nosso redor, essa atmosfera sendo uma novidade muito boa. Tony limpou os farelos de torta das vestes e deu um tapinha no peito de Westhampton por cima de mim. 

 –Vamos ver se essa é sua noite de sorte, cara. – O corvinal fez menção de sair para perto dos amigos, mas eu puxei ele de volta, com um sorriso divertido. 

 –Vamos, somos companhia muito melhor, não faça essa desfeita! – Ele revirou os olhos, mas sentou de volta. 

Todos os protocolos oficiais foram cumpridos, a tabela atual de todo o campeonato apresentada – a gente lá na metade de baixo, mas ao menos não éramos a pior seleção de todas – então começou a apresentação de cada time. 

Uagadou novamente tinha o mando de campo, então os tradicionais tambores começaram a tocar e os ressentidos torcedores de Hogwarts começaram a vaiar. Será que não se davam conta que Castelobruxo era simplesmente o rival que ainda não tínhamos enfrentado? 

Uma projeção se iniciou no céu, primeiro com o brasão da escola africana e depois com uma foto animada de cada um dos jogadores titulares. A primeira foi a pimentinha de 11 anos que deu um baile em James. 

A garota cheia de trancinhas parecia uma fadinha inocente, mas adentrou o campo como mais um dos vultos de capa negra, nem dando para ver que ela era tão pequena quanto Lily, ou menor ainda, se era para ser sincero. 

 –VOCÊ ESTÁ VENDO ISSO? – Lily era tão irritante... Fiz que não, apesar de que ela sorriu vitoriosa mesmo assim. Obrigado, garotinha que não conheço, você acaba de fazer da minha vida um inferno! 

Depois da mini apanhadora, veio a goleira, as artilheiras... 

 –Não, eles não fariam isso, não colocariam um time todo de garotas contra a seleção mais violenta do campeonato! – Tony falou meio sem certeza, mas quando mais uma garota, agora uma batedora, foi anunciada, ele falou em um sussurro incrédulo. – Não pode ser... 

Ah mas podia e a prova de que Uagadou só tinha loucos veio mesmo quando a última das batedoras foi anunciada. 

 –Ah não... 

Vários assobios partiram da ala masculina de Hogwarts quando o breve vídeo de Sharam passou na projeção, ela não era a capitã da equipe, mas era claro que a produção do evento procuraria o atleta mais interessante para falar por cada uma das seleções. 

 –”As pessoas gostam de subestimar o que desconhecem...” – A voz de Sharam soou divertida e maliciosa, dita junto com uma sobrancelha arqueada e uma jogada sexy de cabelos. – “E nós,  de Uagadou, adoramos ver as expressões delas depois que acabamos com elas.” 

O barulho do salão ficou ainda mais alto, quando o símbolo de Uagadou brilhou mais forte e as câmeras focalizaram em Sharam, ao vivo. Ela tirou o capuz negro do rosto - estava com uma trança lateral bonita, que fazia uma espécie de coroa ao redor da cabeça - e como a rainha maligna que era, apontou para os telespectadores com o bastão. 

Minha querida amiga é toda uma showgirl! 

 –Hey, Westhampton, essa aí não é a sua namorada? – Fred não gritou, mas ainda assim várias cabeças viraram para nós e outras para Hugh Westhampton, que negou com uma pontada de chateação. John ficou sem reação, então o ajudei como o bom amigo que sou. 

 –É ela sim e espero que você lembre o quão forte é o tapa dela! – Segundo riu e virou para frente, respondendo animado o questionamento dos seus colegas estúpidos da Grifinória. 

Hugh olhou estranho para o irmão e deu de ombros para as perguntas dos próprios amigos. Curiosamente ninguém veio perguntar nada para gente, mas as câmeras voadoras que tinham ido dar uma volta perto do lugar onde os Potter tinham sentado, voltou a pairar sobre nós. 

 –Acho que perdi a vontade de assistir esse jogo... 

 –Deixa de ser frouxo! Sua namorada gostosa está jogando e o mínimo que você pode fazer é assistir! – Tony disse falsamente bravo, piscando para a câmera logo em seguida. O loiro continuou sentado, mas não fez questão nenhuma de assistir a entrada de Castelobruxo. 

A equipe sul-americana foi um show a parte! No jogo de abertura eles já haviam arrasado com uma breve apresentação de sua rica coleção de criaturas exóticas e hoje, porque estavam fora de casa, surgiram em uma revoada de pássaros das mais diversas cores, sincronizados em um voo absurdamente elaborado. 

 –Uou! 

Os atletas foram apresentados um a um e bem, o que Uagadou tinha de garotas, Castelobruxo tinha de garotos. Assobiei impressionado para o tamanho daquelas crianças, isso poderia ficar feio muito rápido... 

 –Parece que vai ser o derradeiro confronto entre meninas e meninos... – Tony disse fazendo drama, mas a verdade é que, no mundo do Quadribol profissional, nenhuma das formações era realmente inédita. Ginevra Potter mesmo jogou toda sua carreira em um time só com mulheres e foi muito bem sucedida. 

 –Eu não quero nem ver! – Revirei os olhos para John. 

 – Deixa de ser um homem das cavernas! -  Ele me olhou irritado e eu dei de ombros. – Se não quer mesmo ver, vai lá na cozinha arrumar umas bebidas pra gente então! 

E é claro que ele ficou, só pra ser do contra. 

*** 

Não vou mentir, fiquei tenso por Sharam,  mas nos primeiros 30 minutos de jogo ficou claro qual era a estratégia de Uagadou: eles eram infinitamente mais rápidos do que a seleção adversária e essa era a vantagem deles! 

Tony tinha dito alguma besteira sobre o técnico africano maluco ter arriscado tudo numa falsa premissa de cavalheirismo sulista, mas eu olhei com minha melhor cara de “Não fala bosta, idiota”, respondida por ele com um gesto obsceno. 

Sharam e sua dupla, por exemplo, cortavam o campo em uma rapidez absurda, intercalando rebatidas habilidosas, com desvios providenciais,  o que estava deixando os caras de Castelobruxo irritados.  

 –Eles vão fazer alguma besteira! – Tony disse com uma animação repreensível, mas esse jogo trazia o tipo de excitação esquisita, que não se vê com muita frequência. 

Mais um ponto de Uagadou e as meninas conseguiram colocar uma vantagem de 50 pontos, antes da primeira falta grave dos latinos acontecer. O artilheiro argentino de Castelobruxo deu com os ombros no tronco da pegadora de rebote africana, a jogando nas arquibancadas de visitantes. 

A menina chegou a sair da vassoura, mas usou a grade de proteção como passarela, voltando para cima dela logo em seguida. Os ofegos de surpresa de Hogwarts combinaram, provavelmente, com o do restante do mundo. 

 –Fato curioso sobre a escola africana, muitos alunos em Uagadou são animagos. – Eu e Tony olhamos para um John muito mais tranquilo, agora que percebeu que sua namorada era foda,  assim como o resto do time. – Essa garota provavelmente se transforma em alguma espécie de felino... Olha aquele equilíbrio! 

A distribuidora de imagens estava passando o replay do lance, mostrando com um zoom e câmera lenta os três passos, pé ante pé, da garota em dez centímetros de superfície. Bem, esse era o tipo de habilidade que eu queria ter também, porque pisar na grade pode, o que não pode é tocar no chão. 

 –Vê? É disso que precisamos! – Tony falou apontando para o céu tomado pelo jogo e eu o encarei sem entender. 

 –Uma animaga felina? Não acho que dê tempo de conseguir uma... 

 –Não, idiota! Precisamos pensar em uma estratégia e temos que nos manter fiéis a ela, mesmo que haja furos! – E como havia furos na estratégia de Uagadou!  

As meninas eram rápidas, habilidosas e entrosadas sim, mas toda vez que um balaço de Castelobruxo ou um de seus jogadores violentos conseguiam atingi-las, o estrago era feio o suficiente para o juiz parar o jogo. 

 –Vocês ainda não fecharam a estratégia do nosso jogo? – Eu e Tony fizemos um “Shiiiiii” irritado para Westhampton. Ele certamente não estava ajudando! 

 – Eu tenho uma ideia bem clara de como enfrentar Ilvermorny na cabeça, mas o problema é que tenho que esperar a escalação do idiota do técnico. - Uma câmera passou perto nessa hora, então terminei minha fala com a mão sobre a boca. – Eles são ainda mais rápidos do que Uagadou, mas o que eles tem de rápidos, tem de impulsivos. Não importa o quê, eles sempre fazem o mais arriscado e inesperado, inclusive é marca registrada deles no campeonato interno. 

Ilvermorny levava a sério essa coisa de ser destemido e inventivo, tanto que seu lema no Quadribol é “Crie e quando tudo parecer perdido, creia!”. Muito irônico vindo de uma escola que era a cópia descarada de Hogwarts. 

 –Você fala isso como se fosse algo bom, como vocês vão jogar contra um time que faz coisas que não dá pra prever? 

Eu olhei para Tony e ele sorriu de volta. 

 –E quem disse que queremos prever alguma coisa?


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Notas finais do capítulo

Não mereço nem um pouco, mas cheguei ao comentário de número 400 graças a uma leitora nova, Ice Cream! Obrigada, criatura! Obrigada tb a todos os leitores e leitoras fiéis que me acompanham, mesmo eu estando devendo respostas de dois capítulos e um bônus, shame on me, mas responderei em breve, juro, juradinho!

Bjuxxx