Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 59
Capítulo 59. Todos os desejos...


Notas iniciais do capítulo

Oi, povos e povas, último capítulo de Vossa Alteza, enjoy.



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Capítulo 59. Todos os desejos...

Estava com meu queixo apoiado na mesa feita de rocha esculpida em uma das alcovas de Minguante, só dando um tempo enquanto John tomava vergonha na cara e parava de me evitar.

Isso tudo porque eu passei o domingo inteiro abusando um pouquinho - pouquinho mesmo, gente, porque sou uma pessoa legal - o menino J. por finalmente ter saído do 0x0 na vida.

A festa havia sido produtiva em vários sentidos, houve Nara e houve Neith - ambas amigas, mas fiquei com uma escondida da outra, porque longe de mim querer destruir uma amizade tão bonita - e quase houve Aaron, mas eu que não quis, porque ele deixou Emmanuel ser um idiota com a gente só porque tocou Imagine Dragons - banda americana e branca ainda por cima!  - na festa, aquela criança é doente, sério.

E então houve a minha adorável pessoa bancando o cupido para o ingrato do John - me lembrem de não fazer mais isso - com Sharam, a garota não estava lá muito disposta a dar uma chance, mas eu insisti e pelo visto deu certo, porque não vi os dois até o almoço do dia seguinte.

E foi quando começou a minha muito justa brincadeirinha com o galês.

Olhei para um lado e outro, verdadeiramente entediado, veja a que nível chegamos, estou até sentindo falta de John, porque as atividades estão todas feitas e cá estou eu agora, triste e abatido, por não ter nada de bom para fazer.

Todos que conheci aqui estão em aula, meu relatório sobre a importância dos totens na cultura norte-americana - vejam vocês, nem tudo é sobre África aqui - ficou muito bom, modéstia à parte, e porque o livro sobre a cultura americana resumida - em 2047 páginas, eu conferi - era muito interessante, resolvi dar uma lida na parte sobre vodu também.

Isso porque, para o desespero do romeno que com certeza chupou dedo quando criança, não vimos o vudu da Luisiana – vudu e não o vodu, que a garota de Black power tinha razão, é uma religião, a principal de Benin - e sim vimos mais sobre feitiços de amor, transferência de energia, amarrações leves, como as de dificultar certos feitiços alheios... Aquele saquinho de estopa que ele se gabou na primeira aula? Era um feitiço protetor somente!

Nada de bonequinhos espetados para você, ruivo! Teria sido melhor para ele ter ido passar as férias no Instituto Marie Laveau, que, segundo o Tudo que você precisa saber sobre a magia das 50 estrelas, é o lugar referência para esse tipo de trabalho.

Tinha me esquecido como é bom ver ruivos se ferrando... Ai, ai.

O pergaminho que eu estava segurando na mesa começou a ganhar letras bastante simples e genéricas, me fazendo sorrir automaticamente, deixando de lado meu problema a ser resolvido - com mais zueira - com John e até mesmo as frustrações do senhor romeno que eu já nem lembro mais o nome, de tão importante que é.

OCASO

Edição de férias, porque nós podemos.

Como estão crianças? Bronzeados?  Gordinhos de tanto comer doce na casa da avó? Ou estão de castigo só pra não perder o costume? Tenho quase certeza que a última opção...

Nós estamos bem e bem informados, que é o que realmente importa e viemos hoje trazer novidades sobre o Torneio de Quadribol! Sim, porque tudo que vocês viram nos jornais era verdade - nem só de mentiras vive o Profeta Diário - mas deixe-nos esclarecer um ou dois pontos.

— Sim, é verdade que nossa seleção já foi escolhida e sim, é verdade que Harry Potter, além de diretor da Sonserina, será também técnico da seleção. Espera... Vocês não sabiam disso? Ah, sim, essa é uma daquelas coisas que só Merlin sabe como conseguimos ficar sabendo, mas ficamos.

Uma coisa boa a se dizer sobre isso é que seria Ginevra Potter nossa técnica, já que Madame Hooch foi convidada para compor o quadro de juízes do campeonato, mas a comissão decidiu que não haveria ex-profissionais envolvidos em “jogo para crianças”, parem de intrigas então, Viktor Krum é professor de contos nórdicos na Durmstrang e que ele seja recém-contratado é só uma fortuita coincidência para o time deles - nos ajude, Durmstrang, contos nórdicos é difícil de engolir.

Dissemos coisa boa? Queríamos dizer uma boa merda, na verdade, desculpe iludir vocês.

Mas enfim, somos muito seguidores das regras - e sem credibilidade alguma no mercado - então... O quê? Vai dizer que não lembra porque ficamos com a moral tão em baixa? Pois vamos te refrescar a memória: de McGonnagal a Brenam; da Escadaria às Acromântulas; isso sem falar de Bradbury, que foi uma edição a parte... Enfim, devemos ficar gratos de participar!

Tenho certeza que estamos no torneio somente porque é mais fácil organizar os jogos com números pares, o que nos leva ao segundo ponto: a organização do campeonato!

— Serão oito times, três americanos, três europeus, um africano e um asiático - não nos pergunte o porquê dessa distribuição injusta, dois times dos EUA ninguém merece! – divididos em duas chaves com quatro times, onde todos jogarão com todos e apenas dois de cada lado passarão para a fase seguinte.

No mando de campo há algo de interesse global: cada escola poderá levar para o jogo fora de casa uma comitiva de cinquenta alunos e para jogos de outros times que não o seu, dez alunos. Agora, o critério de escolha dessas comitivas ficará a cargo de cada instituição e, não sei vocês, mas nós do Ocaso estamos rezando desde já para que não seja o critério de notas, senão só vai dar corvinais na nossa comitiva!

Mas para aqueles que ficarão de fora das comitivas - que podem ou não ser as mesmas toda vez-– há uma ótima notícia também, que nos leva ao nosso terceiro ponto:

(Falamos só um ou dois, mas acontece que somos prolixos)

— A transmissão de TODOS os jogos serão feitas para as escolas e para aqueles bruxos que comprarem o serviço pela corporação Dussel! Aí nós vimos vantagem, para quem não sabe, eles foram os responsáveis pela organização e transmissão dos shows e jogo de despedida das Esquisitonas e de Ginevra Potter, respectivamente.

A gente podendo assediar o herdeiro da corporação e deixando passar em branco... Agora é tarde, o caçula da família se formou no ano anterior e nem vamos poder pedir uns ingressos dos jogos para a nossa família, muito triste isso.

Mais detalhes sobre a transmissão, porque nós vamos a fundo nas notícias:

As transmissões serão feitas através de feitiços de projeção no céu do Brasil, da França, do Japão e nos céus de Salem, EUA; em espelhos d’agua para Uganda e Bulgária; Ilvermorny e Hogwarts optaram por usar seu Átrio Principal e o céu encantado do Salão Comunal, respectivamente.

Não sabemos quanto custará para cada escola isso - mentira, sabemos sim, mas vamos fingir que não para a cabeça de ninguém rolar nas empresas Dussel - mas o custo para cada aluno será zero.

E para finalizar com chave de ouro essa edição de férias do Ocaso, segue uma lista de curiosidades acerca de nossos rivais:

Uagadou escolherá seus jogadores entre 12 times de todo continente africano e dará bolsas de estudos, caso as crianças não sejam da escola.

Durmstrang contará, como já sabemos, com um técnico estrela e ainda tem três jogadores cotados para sair direto da escola para as ligas profissionais. Sabe quando foi a última vez que Hogwarts emplacou um trio na liga? Há sete temporadas!

Castelobruxo detém os recordes escolares de jogo mais longo (13 dias), jogo mais vazio por causa de atletas expulsos e/ou machucados gravemente (8 na temporada retrasada) e maior número de expulsões em um mesmo jogo (5, 4 de um mesmo time) , sem nenhuma interligação entre os casos. Sério, gente, é o que consta nos relatórios oficiais e ai de nós dizer o contrário.

Beauxbatons virá para a competição com um uniforme assinado pela famosa estilista Liete Dubois, que, em suas palavras, será “deslumbrante, leve e categoricamente o mais belo de todos os uniformes”. Fale isso com todos os erres dobrados, como as irmãs Weasley.

Os japoneses também investiram em trajes, mas a inovação dos alunos da Mahoutokoro ficará mesmo nos equipamentos escolhidos para cada tipo de clima - o pessoal do Japão já é conhecido por gostar de vassouras de fibra de carbono contra seus voluntariosos e constantes ventos de cauda.

Já Salem será a anfitriã modelo, todas as suas acomodações são recém-reformadas e o diretor do Instituto garante que os atletas serão tratados como reis, contando com uma infraestrutura digna das grandes ligas de Quadribol.

Sua escola rival, Ilvermorny, contará com três equipes reservas cadastradas no campeonato, por prevenção contra possíveis contratempos - e para garantir que mais nenhum jogador seu seja roubado pela inimiga. “Não tô usando, mas não empresto!” Esse é um belo lema, América.

E o prêmio de estádio mais belo ficará entre a Orquídea esmeraldina de Castelobruxo, A ilha flutuante de Mahoutokoro e as Luas em névoa de Uagadou.

E aí? Ansiosos para esse campeonato? Nós estamos e prometemos dar um jeito de trazer para vocês as notícias mais quentes, dessa que promete ser a maior competição intercolegial desse século!

Iconoclastas

Tinha que lembrar de mandar um ossinho para Sev, que havia tido a maior parte do trabalho de reunir informações das outras escolas e sobre os pais dele - tenho quase certeza que ele já estava fazendo isso antes de enviarmos as penas, porque assim que ele recebeu a dele, nós recebemos uma chuva de informações aleatórias.

Quem escreveu a versão final do Ocaso foi Rebeca, que ficou com o pergaminho oficial, único que consegue fazer as mensagens apagarem no ar. Eu e John ainda estamos resolvendo esse assunto com as penas.

Sabemos que é um feitiço remoto a resposta, mas não do tipo que se aprende nesse módulo de Criação avançada de encantamentos, não é só o ruivo idiota que vai sair daqui frustrado, valeu, Vossa Alteza!

Voltando para o Ocaso, Enrique recebeu emprestado uma pena para enviar as informações sigilosas da empresa do pai, principalmente porque o projeto desse torneio estava nas mãos de Helena e ele estava mais do que satisfeito em contribuir com a cara de eterna constipação da irmã, assim que ela descobrir que as informações vazaram, claro.

Teríamos ficado felizes por completo em ajudá-lo com isso, se não fosse pelo recadinho que ele enviou em sua última mensagem: “o velho provavelmente vai cortar a cabeça de alguém, mas não se preocupem, não será a minha”. Ninguém teria ligado se fosse a dele, mas Louise e Aidan ficaram culpados pelo pobre trabalhador que perderia o emprego com essa brincadeira.

Ora, mas ele deveria saber melhor do que confiar essas coisas sigilosas ao herdeiro da companhia! Estava mais do que na cara que Enrique não ia fazer nada de bom com as informações e o pouco que sei da habilidade dele com feitiços, o pobre funcionário ainda recebeu um obliviate nas fuças para completar.

O idiota - Enrique e não o trabalhador anônimo - além disso, ficou gastando minha pena maravilhosa e o meu tempo precioso para contar como as americanas eram fáceis e que uma das professoras de Beauxbatons estava nas mãos dele.

Não sei quem perguntou alguma coisa!

Meu único comentário foi “trate de devolver minha pena o mais breve possível”, coisa que ele ainda não fez, diga-se de passagem. Cheguei até a dizer para ele levar quando fosse visitar Hogwarts a trabalho, mas o filho da mãe disse que quem ficaria na Escócia era Hector e ele só voltaria para aquelas bandas arrastado pelos cabelos.

Cretino.

Terminei de limpar as cinzas do Ocaso das minhas mãos a tempo de ver John aparecer correndo, seguido de perto por uma Sharam esbaforida. Iria abrir minha caixinha de ferramentas para infernizar aos dois, mas assim que John me entregou um pergaminho, Sharam o tirou da minha mão, acabando com minha linha de raciocínio.

— Devo perguntar? - Falei, apontando para a garota que agora lia o papel como se sua vida dependesse disso.

— Deve, porque isso muito te interessa! - Iria perguntar se era um nude de Sharam, mas o loiro foi mais rápido. – É  a última edição do Ocaso!

— O quê? - Nem tive força de espírito para gritar, porque o pânico de ter uma edição do Ocaso que não se desfez em cinzas era muito para isso.

John tomou o papel das mãos da “namorada”, lhe rendendo um muito bem dado cascudo por isso. O loiro estava tão focado que nem sequer parou o ato de me entregar o jornal por causa do castigo.

— Olha só que beleza! Já faz quase dez minutos e o feitiço de desaparecimento nem surtiu efeito!

— A definição de beleza mudou da noite para o dia? Toma logo essa porcaria, Sharam! - A garota pegou o pergaminho feliz, sentou-se na mesa a minha frente, de pernas cruzadas. O sorriso de John foi manchado com um pouco de dúvida. – Por que diabos deveríamos estar felizes por um dos nossos feitiços não ter funcionado bem?

Assim que falei, arregalei os olhos com John, mas quando olhamos, Sharam parecia não ter percebido meu deslize. Se fosse em Hogwarts estaríamos fodidos! O loiro me deu um murro no ombro, isso sim chamando a atenção da garota, mas ela logo voltou a ler.

— Não deixou de funcionar por uma incompetência nos... Deles! Eu consegui criar um símbolo personalizado para gente, que vai nos render uma ótima nota! - Olhei para ele sem entender e ele simplesmente estendeu a mão para o jornal que Sharam havia acabado de ler. – Aqui está, esse símbolo hoje teve o poder de anular o feitiço de desaparecimento, mas o céu é o limite! Podemos fazer praticamente tudo que quisermos com um símbolo próprio, eu li num...

Ele havia apontado para um desenho malfeito no início da página, empolgado. Fui obrigado a interrompê-lo.

— Tá, isso parece promissor, mas você tem tudo sob controle, porque está me dando um trabalho de magia elementar de graç... -  O pergaminho com um símbolo que se assemelhava com uma letra “o” minúscula cursiva - cujo traço final definitivamente era uma serpente - virou cinzas na minha mão.

— Precisa de ajustes.

— Precisa mais do que isso, seu sonso. – Ele sorriu amarelo, sem discutir comigo. Ao menos para isso Vossa Alteza prestou: ela mostrou que John é excelente em começar os projetos para eu terminar e vice-versa. Sim, porque dificilmente trabalhamos juntos, no mesmo ambiente, respirando o mesmo ar.

Westhampton é irritante demais para isso.

***

No final das contas o projeto de John era bastante aceitável, um símbolo de poder meu e dele - tipo a Marca Negra de Voldermort, só que do bem - que executaria feitiços remotos específicos quando ativado, como corrigir ortografia e letras borradas em pergaminhos.

O “o” na verdade era uma águia com uma serpente, numa clara demonstração de arte “““conceitual”””.  John alegou que tinha que ser algo prático e que nos representasse - sei... - e não tínhamos magia suficiente para fazer algo tão elaborado quanto o Mormordred do lorde das trevas e isso constava bonitinho no relatório oficial.

Claro que eu perverti a ideia e agora usaríamos para passar na matéria e elevar a experiência do Ocaso - na área em que estamos falhando - para outro nível. Nada disso consta no relatório da classe de Criação.

Aguardem notícias sobre esse símbolo...

Estou super satisfeito com esse resultado, tudo estava ocorrendo exatamente como o planejado nessa última semana de aula:

— Passar nas matérias ok

— Aprender coisas úteis ok

— Irritar John até ele literalmente arrancar os cabelos ok

— Desencalhar John ok

— Não pegar detenção ok

— Conseguir deixar uma marca em Uagadou ok

— Conseguir deixar uma marca não solicitada e querida em Uagadou

Em progresso...

Um garoto baixinho vinha zanzando entre as mesas com uma bolsa quase maior que ele e eu realmente fiquei tentado a jogar uma casca de banana em sua frente - completamente fora de minhas divagações criminosas agora - só pra ver se aquelas cenas de desenho animado acontecem, mas ele olhou bem na hora.

— Você é Luke Carmichael? - Fiz que não com a cabeça, o coitado parecia que tinha virado coruja da escola e pelas marcas nas mãos, havia passado muito tempo com elas. – Adelaide Birmingham? - Sério, cara? Devia ter jogado a casca de banana. – Cesc Fábregas? Robert...

— Hey, espera! Eu sou Cesc Fábregas! - Ele me olhou encantado. Mexeu na bolsa e tirou de lá um bolo de pergaminhos amassados, que me entregou com alívio.

— Correspondência, senhor Fábregas! - Sorri para ele e meu sorriso aumentou ainda mais porque ele não parecia querer gorjeta, que nem as corujas fazem. – Da próxima vez tenta se comunicar através de uma naveta, senhor!

— Como a governadora iria conseguir te castigar então? Passa daqui, cabrunco! - Sharam, senhoras e senhores, um amor como sempre.

— Tem algo aí para mim? - Fui passando as cartas, lendo os remetentes, enquanto John ajudava o garoto a achar algo para ele.

Rose Weasley, Romeo Habermas, La Lechuza Matutina, eca, promoção de vomitilhas a preço de acidinhas e... Uma carta de Claire?

— Alguma coisa interessante? - Sharam pois a mão apoiada na mesa debaixo do queixo, como se realmente pudesse achar algo que não gira ao redor do próprio umbigo legal.

— Recebi uma carta da minha ex-namorada, isso é bom ou ruim? - John parou de folhear sua recém-chegada edição do Profeta Diário para me encarar.

— De Claire Bear? - Olha a intimidade do outro! Já ia colocá-lo no seu devido lugar - é Sullivan para você, otário! - quando Sharam me interrompeu.

— Depende, quem foi que terminou?

— Eu, por qu...

— Me dá isso aqui que eu vou queimar. - Ela literalmente se jogou em cima de mim para tentar pegar a carta que tirei do seu alcance, por puro reflexo. – Deixa de palhaçada, é para o seu próprio bem!

— Claire não é desse tipo de garota! - Falei enquanto tentava manter um pouco da minha dignidade lutando com uma menina. Estúpida, mas menina.

— Toda garota é esse tipo de garota! - Ela conseguiu tomar a carta da minha mão, me dando uma cotovelada no plexo solar. Que baixaria! – Vou ler só por via das dúvidas.

— Meu Merlin, como eu te odeio! - Falei ainda meio sem fôlego, mas a moleca já estava compenetrada lendo a correspondência alheia. – É como ter um Tony de saias!

— Que pesadelo. - John disse alheio ao meu drama, já que ele tinha tido uma casquinha das partes macias da garota e eu só das duras, como o cotovelo, joelho e testa.

Não pergunte, vamos apenas dizer que Sharam não é uma dama.

— Ah, puxa! - Me voltei para Sharam e ela fazia que sim com a cabeça. – Puxa vida, que coisa triste...

— O quê? O que ela disse? - A menina continuou lendo, apenas levantou um dedo para que eu me calasse.

Não foi um gesto metafórico, Sharam literalmente calou minha boca com um feitiço não-verbal. Quando finalmente terminou de ler, abriu a mão e por consequência minha boca.

— Merda! Não faça mais isso!

— Vocês garotos são uns porcos mesmo, você não a merecia! - Ela bateu com a carta no meu peito, parecendo realmente chateada. Fiz menção de ler, mas ela não deixou. – Leia depois, o que mais você tem aí?

É de uma cara de pau...

— Tenho uma da minha rival, uma do meu artilheiro quadrúpede, um jornal esp... 

— Leia a do artilheiro.

— Me pergunto se você não recebe cartas normais, tipo de amigos, pai, mãe... - John me perguntou ainda lendo algo que deveria ser um tédio no Profeta Diário.

— Eu vivo eternamente em uma história em quadrinhos, só isso para explicar a minha sina.

— Lê logo, anda! - Resolvi me apressar antes que a energúmena aqui me ataque de novo.

Fiz uma leitura superficial, até porque meu Q.I. cairia vertiginosamente se eu lesse algo que Romeo escreveu com atenção.

— Escuta só isso, John: " Por favor, me diga que está pensando em algo para nos colocar na seleção de Hogwarts essa temporada! Veja bem, Marco até disse que não quebraria sua espinha e daria para..."

— Quem é Marco? - John me disse com o seu melhor tom "do que diabos você está falando?". Sharam estava estranhamente calada.

— Marco, primo de Romeo. - O loiro não mudou a expressão. Ele iria mesmo me fazer descrever um ogro com dor de barriga? Ah, já sei! – MAS QUE PORRA! JÁ DISSE QUE NÃO PODE MEXER NO FRANGO ANTES DE MIM!

Arthur ao meu lado deixou seu suco cair em sua farda, respingando um pouco em mim, por causa da força com que bati na mesa. John riu, bateu uma palma e apontou.

— O ogro do quarto ano! - Eu ri e o cumprimentei com um "toque aqui", eu sou ótimo em imitação, já sabem. – Por que não disse antes?

— Não importa, o fato é que os primos, direita e esquerda do cérebro de um rato, querem que eu os coloque na seleção, é mole?

— E você não pode? - Sharam parecia realmente interessada. Desde aquela edição do Ocaso, ela estava cheia de perguntas sobre o Quadribol em Hogwarts, como se nós fôssemos um adversário a se temer. Coitada de Hogwarts, chega nem perto disso...

— Claro que não! Nem sei se eu vou conseguir fazer um plano pra pegar uma vaga! Infelizmente a comissão do campeonato já escolheu o time...

— Ah sim, verdade, o que mais ele disse? - John pareceu levemente intrigado, o que para os padrões dele é muito.

— Não sei, aparentemente o marduk não traduz idiotês... - Sério, as cartas de Romeo viram um grande amontoado de palavras quando ele começa a contar uma história que ele acha interessante.

— Leia a de sua inimiga então. - Sharam me incentivou com as mãos e Arthur fez que sim ao meu lado, todo empolgado. Garotinho estranho.

— É de Rebeca?

— Como assim de Rebeca? Rebeca é quase o amor da minha vida, não uma rival, John!

— Vocês sonserinos são tão estranhos... - Ele maneou a cabeça negativamente.

— Cala a boca! A carta é da Weasley. - Li ainda mais rápido do que a de Romeo, ela tinha a letra bem grande e redonda e hoje tinha decidido finalmente ser objetiva. – Ela soube por Tony que estaríamos aqui e quer que sejamos correspondentes na edição de férias do Hogs News...

— Edição de férias também? Que morte horrível... - Sim, meu caro John, tenho que concordar. Weasley é uma imitona de marca maior. – Você vai escrever algo pra ela?

— Vou, com uma condição: que ela não me mande a dita edição do jornaleco dela. - John concordou com a cabeça. – Ah! Albus mandou lembrança!

— Albus, como em Albus Potter? - Olhei para o outro naniquinho do lado de Arthur e fiz que sim com a cabeça. – Você conhece os Potter?

— Potter como em Harry Potter, da lenda da maldição da morte? - Arthur completou e Sharam parou de mexer na unha e me olhou levemente interessada.

— Infelizmente não é lenda, antes fosse, porque aí Harry Potter não teria cacife para se candidatar a diretor da minha Casa...

— Cara, isso é tão irado! Você conhece Harry Potter! - Achei que Arthur e o amiguinho iam soltar um gritito afetado.

Hey, espera aí!

— Vem cá... Quanto vocês dois medem mesmo? - Os garotinhos australianos se entreolharam assustados e eu sorri malignamente.

***

Ok, não estou orgulhoso do que estamos fazendo, mas momentos de desespero pedem medidas desesperadas.

— Segura a corda direito, John! - No fim das contas Arthur era o mais baixinho e magrelo, perfeito para ser içado no poço dos desejos de Minguante.

Fato interessante sobre esse poço dos desejos, o que você quer realmente está nele, isso porque ele não é mágico, ele só tem um maldito feitiço que inibe qualquer encantamento de recuperação, ou seja, os professores adoram jogar as coisas distrativas dos pobres alunos dentro dele.

Quem diria que uma governadora poderia ter tanto senso de humor para criar um castigo desses?

— Essa é... A pior ideia que alguém já teve! - Sharam disse, fazendo esforço para manter a corda descendo aos poucos.

— Cale a boca, que você é a maior responsável por estarmos nessa situação! - Sim, por causa dela o professor de Astronomia havia jogado meu onióculos no poço dos desejos e sonhos destruídos.

Eu nem tenho aula de Astronomia aqui!

Bem, novamente, quem diria que a turma toda iria querer ver a final da liga inglesa de Quadribol? Quem diria que Sharam se gabaria de poder ver a final da liga inglesa de Quadribol no meio da aula?

Pensando bem, eu devia ter previsto isso.

— Aqui tá muito escuro! - Olhei feio para o oriental que segurava a varinha com um lumus ativado. Ele direcionou melhor o foco de luz para onde o amigo estava. – Ah, bem melhor.

— Cesc, minha mão está... - John largou a corda e o tranco fez com que eu e Sharam soltássemos também. O grito de Arthur gelou meu coração. Nós corremos para a borda do poço para ver se o garoto estava vivo.

— Eu tô... Eu tô bem, tô bem, gente! - Suspiramos aliviados, aproveitei a distração de John para dar um soco no braço dele.

— Seu idiota, poderia ter matado a criança! - Ele me olhou chateado e eu quase bati nele de novo. Garoto infernal! – Consegue ver meu onióculos, Arthur? O quê? Perguntar não ofende...

— Você é uma pessoa horrível. - Sharam falou sem emoção.

— Ah, para! Agora vai dar certo! É como quando os trouxas deixam cair dinheiro no vaso sanitário, joga-se uma nota maior para ter motivação para enfiar a mão lá dentro!

Sharam pareceu entender a analogia, mas não se conformou em ter que dar o trabalho braçal para ver o resultado final do plano. Motivação é a chave, minha cara!

Mas, no fim das contas, Arthur não achou meu onióculos e nenhum de nós encontrou um jeito de tirá-lo de lá, quero dizer, que tipo de pessoa não prevê que um aluno idiota poderia se jogar no poço dos desejos?

— Não pegar uma detenção ok

***

Entrega de trabalhos feitas - passamos com louvor - só faltava uma coisa que havia ficado pendente na minha lista de afazeres. Amanhã partiríamos da escola e eu estava muito incomodado com isso, já havia me despedido de todos, com aquelas falas de praxe e tudo seguia sua monotonia natural, até John Westhampton aparecer quase duas da manhã na minha porta.

"Vamos fazer isso", essas três palavras mudaram tudo. 

Agora cá estávamos nós, vivendo a nossa última aventura em Uagadou. Pelo menos por hora, porque eu pretendo voltar aqui algum dia. Olhei para a cara de John e ele fez que sim, estava pronto e no segundo que o monitor de Cheia seguiu para ala norte, entramos no portal para Crescente.

Em Crescente as coisas eram outra história, tochas com fogo maldito encanado faziam os espelhos refletores funcionarem como se o próprio sol estivesse nos iluminando: era claro, vazio e muito fácil de detectar dois alunos estrangeiros fora da cama.

A sorte - sorte? - era que eles não contavam com a malandragem sonserina e a perspicácia corvinal, o que significava que não nos embrenharíamos por aí como fugitivos rasteiros, faríamos algo melhor:

Com um leviosa enviei uma surpresinha no fosso de Crescente, contei 1, 2, 3 e então uma série de gemidos indecentes e constrangedores começaram a ecoar pelas paredes graças a mais nova versão do berrador pornô das Gemialidades Weasley.

Obrigado, coelhos ruivos!

Eu dei uma risada silenciosa ao ver os dois monitores de Crescente irem tentar desvendar quem é que estava fazendo essa pouca vergonha escandalosa. John sussurrou um "se concentre" desnecessário e nós seguimos viagem para o oeste da lua.

Viagem para o oeste da lua, isso dá nome de música de rock, não?

Entramos no corredor pré-islã e nem sequer esperamos para ver onde os "homens" estavam, pegamos a já conhecida e animada rota pela bifurcação de sempre.

Quando chegamos perto do nosso amigo amaldiçoado, nem eu, muito menos John ousamos acender nossas varinhas, porque o que estamos prestes a fazer é perigoso, ilegal e maneiro para caralho!

— Ok, quer fazer as honras? - Perguntei soprando as mãos, já que aquela galeria em específico parecia capturar todo o frio do cume do monte.

— Fique à vontade! - Frouxo.

Peguei um punhado da areia, apreciando um pouco a temperatura morna na palma da mão, respirei fundo e a esfreguei na lateral fria da lamparina antes que John mudasse de ideia.

Nada aconteceu, mas honestamente, isso era esperado, nunca acontece, apenas quando menos se espera é que...

— Cesc...

Deixei de encarar a lamparina para olhar para um John meio atônito, não sei bem o porquê, ele só...

— Caralho! - A lamparina do gênio era a mesma, a chama fraca e bruxuleante também, mas aquela sombra... Engoli em seco, porque, ao lado da projeção da minha sombra e da de John havia uma muito maior e meio humanoide na parede atrás.

Minha respiração estava fazendo fumaça na escuridão do corredor e eu não saberia dizer como estava a de John, já que não poderia, por minha vida, tirar os olhos daquela figura macabra.

— Djinn? - Minha voz soou fraca e vacilante e a criatura não se moveu, olhei para John, engoli em seco e repeti. – Djinn, pode nos ouvir?

A sombra se mexeu, se alinhando de maneira a fazer a minha desaparecer da parede.

Ele escolheu o mestre.

Péssima hora para falar, marduk! John acenou para mim e falei exatamente como havíamos combinado.

— Exijo saber as suas regras, não é uma negociação, não é um dos desejos. - Ele nada fez, então continuei com uma confiança saída Deus sabe de onde. – Se não puder fazer isso, voltaremos por onde viemos e nunca mais nos verá.

Não era um blefe, ele tinha só uma chance e se não pudesse dançar conforme a nossa música, iria voltar para sua lamparina ridícula e mofar lá dentro!

A dita lâmpada caiu e ficamos momentaneamente no escuro. Meu coração parou, principalmente quando John se agarrou ao meu lado. Antes que eu pudesse xingar todas as gerações da família dele - do passado e futuro - enquanto corria com todo o fôlego que havia em meus pulmões, algo aconteceu.

A pequena e discreta inscrição que havia dado nosso ponta pé inicial há dias atrás brilhou, sendo a única luz em todo o ambiente.

Hão de ter o que outrora havia.

Hão de ter o que no vindouro haverá.

Hão de perecer sob o julgo do que não podem controlar.

Tudo no tempo do Tempo.

— As regras? - Ajeitei a lamparina, soltando ela rápido ao perceber como estava quente dessa vez. Sua luz voltou ao normal assim que a coloquei no lugar. – Essas são as regras?

— São sim, claro! - Pude ver o vulto rápido da mão de John batendo em sua própria testa. – Devia ter visto isso, era tão óbvio!

Para quem?

— John, traduza as regras pra mim, por favor. - Não quis olhar para parede para ver a sombra do Djinn, tinha medo de ver um sorriso tenebroso lá, de alguma forma, por conta da nossa ignorância.

— Ok, err... Não podemos pedir nada que já tivemos, que ainda iremos ter ou que possa... Nos dominar?

Ele estava me perguntando? Ok, certo, vamos testar, como divagado antes.

— Djinn, quero um hambúrguer da McDonalds. - John olhou para mim em dúvida, mesmo tendo combinado que - caso fôssemos fazer essa loucura de pedidos - começaríamos com algo simples e depois seria um desejo para cada.

— Você já teve ou pode ter um desses? Não pode ser nada que esteja na linha do Tempo, passado ou futuro. - Ah, claro! Essa parte do plano eu tinha que alterar.

— Djinn, eu quero um hambúrguer vegetariano vindo diretamente de... Sidney!

A lamparina piscou e quando a luz voltou, um hambúrguer caiu do teto, desconjuntado e bem, nada comestível já que estava agora enfarofado de areia.

Mau sinal.

— Eu disse a você, Cesc, ele é trapaceiro! - Sim, ele disse. Djinn são conhecidos por fazerem nossos desejos se voltarem contra nós, assim como os deles se voltaram contra eles.

Quando capturados, os Ghul são submetidos a essas regras estritas e pelo visto eles aplicam elas com muito rancor e ódio aos nossos desejos também.

É impressão minha ou a criatura parece um pouco mais sólida e sua sombra um pouco mais... Densa?

— Faça seu pedido, John ou eu farei. - Ele passou a mão pela cabeça, visivelmente assustado.

— Tá... Tá! Uma pergunta, ok? Meu desejo é apenas uma resposta, eu... Eu desejo saber a cura para o que quer que haja de errado com Hogwarts! Qual... Qual a cura?

Novamente, nada aconteceu.

— A resposta pode ser algo que a escola já teve, tem ou a dominará! - Disse, mesmo sabendo que John deve ter chegado a essa conclusão dois segundos antes de mim.

— Desejo saber então qual das regras a minha pergunta anterior descumpre, Djinn.

Era um desejo razoável, simples e inocente. Suponho que esses sejam os principais motivos para que o Djinn não tenha saído do lugar. Ou então...

— Ordeno que cumpra o que ele pediu!

A luz piscou e com ela uma voz gutural, baixa e mais antiga do que as rochas que nos cercavam soou em nossos ouvidos.

— Todas elas.— Ok, agora não era só impressão, porque John deu dois passos para trás com medo. O bicho estava ficando mais sólido!

— Cesc...

Respirei fundo, agora era a minha vez, antes que pudesse dizer meu desejo, uma voz soou em meus ouvidos.

Darei mais três desejos, se realizares um único meu.

— Cesc?

O quê? Eu... Que desejo?

Assim que realizares o que quiseres, apenas... Apague a chama.

— Eu desejo... Sob a proteção eterna de que os envolvidos não morrerão, nem sofrerão nenhum mal de tipo algum ao guardar os segredos dos acontecimentos dessa noite, que... Todos os marduks de Uagadou deixem de funcionar pelo tempo que durar o ciclo dessa lua.

— Cesc, o qu... - A luz piscou novamente e pude ver aquele sorriso macabro que temia no início de tudo.

Dei dois passos para frente, toquei o indicador e o polegar na ponta da língua e apaguei a chama fraca da lamparina milenar.

— Não se preocupe, John, isso vai ser divertido. - Havíamos caído na escuridão e caos total, eu mais do que qualquer um.

— Conseguir deixar uma marca não solicitada e querida em Uagadou ok

Adeus, Vossa Alteza.

 


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Notas finais do capítulo

Eu sei, não falei sobre a festa... Façamos um acordo, se eu conseguir os 4 comentários que me faltam para completar 300, eu posto o bônus de John e Sharam até quarta-feira (ainda falta escrever, não é uma chantagem deslavada), se não rolar, o q é bem possível visto q o capítulo anterior ganhou apenas 3 comentários (foi por causa dos capítulos grandes? Eu vou voltar para as 3 mil palavras de sempre), eu posto no domingo que vem mesmo.

Bjuxxx