Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 38
Capítulo 38. Quase lei


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez nem demorou tanto, hein?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635649/chapter/38

Capítulo 38

— Hey, Fábregas, preciso falar com você!— Dei meia volta ao reconhecer a voz de Severus. — Então, eu tenho um novo estudo para o G.E.M.E.

Ele piscou desnecessariamente, como tudo que faz. Eu puxei Albus pelas vestes, nos tirando do campo de visão de alguns lufanos curiosos.

— Que tipo de estudo?

— Os Inomináveis...— Fiz sinal para que ele baixasse o tom, estávamos no meio do corredor Norte, pelo amor de Deus! — Os Inomináveis deram o veredicto sobre a situação de Hogwarts ontem à noite.

— Como você... Esquece, continua!

— Os terrenos externos vão ser liberados para circulação, com horários pré-determinados e alguns funcionários do Ministério fazendo ronda, mas ainda assim...

— É uma boa notícia!

— É uma boa notícia. O diretor Brenam vai anunciar logo, logo, então acho que temos que ser rápidos com isso. – Ele concluiu sério. Coloquei a mão no queixo, pensando.

­— Faz o seguinte: procura Westhampton e pede para ele te ajudar a escrever e publicar o texto, mas antes...

— O quê? Cesc, o quê?— Não, eu não estou fazendo suspense, Albus que é ansioso demais. Eu estou pensando, ESTOU PENSANDO!

— Albus, o seu irmão desconfia de alguma coisa, tipo... Eu sei que ele tem o Mapa do seu avô e...

— Você quer dizer este aqui?— Ele puxou o pergaminho velho de dentro das vestes e eu não pude evitar.

— SÃO DOIS MAPAS?!?!— Albus me bateu na cara, com o pobre pergaminho, provando que o cuidado exagerado do irmão dele é descabido. – Ok, essa eu mereci. Mas como...

— Nós revezamos a guarda, só venho falar com você quando eu estou com o Mapa ou então quando estou debaixo da capa...

— DA INVISIBILIDADE!— Ele me bateu mais algumas vezes com o Mapa do Maroto, que ousadia! –Ai, ai! Já sei, já sei, foi mal, mas é que... Porra, é a Capa da Invisibilidade, uma das Relíquias da Morte!

— Eu sei o que é, Fábregas!  - Ele me respondeu no mesmo sussurro gritado que eu falei. – Você não vai gritar ou chorar, não é?

Aff, mas idiotice tem que ser genética mesmo, só pode! Ok, admito que estou emocionado, mas só porque me imagino com essas duas coisas maravilhosas na mão, meu Merlin, eu dominaria essa escola!

— Não, eu não vou gritar, nem chorar, depois eu vejo isso, agora vamos focar no foco.

— Que seria...

— Que seria você publicar o que descobriu, tem certeza que essa informação é verídica?— Ele me olhou pretensioso e arrogante, guardando o Mapa no bolso. Quando eu puser minhas mãos nele... No Mapa, não em Albus, claro, serei um cara muito feliz!

— Óbvio que é verídica, a informação é da fonte, meu caro.

— Então vai ver isso com Westhampton, seu fofoqueiro.— Ele piscou antes de sair com uma frase sem noção, bem típica de um Potter estúpido.

— Farei isso sim e a propósito... É bom ter você de volta à ativa, cara.

***

Edição especial e corrida porque os NOMS e os NIEMS estão chegando e nossos colegas do quinto e sétimo ano NÃO estão preparados para eles. E por “eles” queremos dizer vida. Definitivamente não estão preparados para a vida.

Sentiu nossa falta? Sentiu? Bem, estamos no modo sorrateiro agora, porque somos foragidos da justiça, já sabe e só por isso não estamos publicando com a mesma frequência. Infelizmente o nosso vice-quero-muito-ser-o-diretor Brenam não ofereceu nenhum prêmio pelas nossas cabeças, mas ainda temos esperanças.

Não parta nossos corações, Brenam.

Mas vamos as pautas de hoje:

Primeiro – Estão abertas as inscrições das chapas para o Grêmio Estudantil de Hogwarts! Sim, nós sabemos que Hogwarts já teve um grêmio estudantil antes, um grupo esquisito que se encontrava na sala 4 das masmorras - agora, essa informação sim deveria ser guardada com carinho, porque foi difícil de conseguir - eles eram o que chamamos de grupo “secreto”.

Enfim, inscreva-se com Lisa McAllister porque dessa vez a coisa é séria, a chapa vencedora participará das reuniões mensais do Conselho da escola e poderá até ter voz e voto nas discussões. “Como assim, iconoclastas?”, você deve estar se perguntando:

 Acabamos de te dar a ideia, pressione o Conselho e pronto.

Segundo – Ok, essa notícia é das boas, chegue perto! Nossa, se alguém aproximou a cara do pergaminho para ler isso, por favor, não se inscreva em nenhuma chapa para o Grêmio, sério. De qualquer forma, já pode comemorar, sua vida sofrida acabou!

Não, não conseguimos cancelar os NOMS e os NIEMS, quem dera, apenas soubemos que a circulação da área externa de Hogwarts será liberada ainda essa semana! Sim, é para comemorar, amigo, porque isso significa aulas práticas de Tratos, de Astronomia, de Runas e todas as outras matérias que sempre arrumam uma desculpa para a gente dar uma volta lá fora e pegar um ventinho nos cabelos.

Estarão de volta também os passeios próximos ao Lago – não sei se já superamos aquelas aranhas – os piqueniques pelos jardins – não coma em cima do túmulo do diretor Dumbledore, isso não é de bom tom – e principalmente, teremos a volta dos treinos de Quadribol e outras atividades físicas.

Estamos chorando de felicidade aqui! Infelizmente não no sentido figurado, tudo muito constrangedor para os envolvidos, sem dúvida.

Mas também voltarão ao trabalho as outras atividades ao ar livre, tipo o... Tipo o clube de voo e... É, é só isso, mesmo. Nossa, somos um bando de preguiçosos.

Pois bem, por hoje é só, até a próxima.

Ass. Iconoclastas.

Eu abri um sorriso automático. Mesmo que eu soubesse exatamente o que sairia, coisa que eu não sabia, ainda sim ficaria feliz. É Quadribol liberado, gente! Alguns momentos são simplesmente muito marcantes para serem ignorados.

— Eu não acredito! Como eles sabem disso?— Weasley estava possessa, isso porque estávamos no meio da aula de História da Magia e todo mundo estava disfarçando as cinzas dos seus respectivos Ocasos.

Prova de que todo mundo fica vadiando nessa aula em específico, inclusive a senhorita perfeitinha, Rose Weasley. Rebeca ao meu lado a olhou com falsa solidariedade.

— Como “quem” sabe “o quê”, senhorita Weasley?— Professor Binns pausou a narrativa sobre o início da escravidão e adoção do termo “doméstico” para definir os elfos - que eram escravos nas casas dos bruxos até quase duas décadas atrás - para questioná-la.

— Ela quer saber como alguém com coração registrou um negócio desses nos livros para que pobres crianças tivessem que estudar essa chatice agora.

— Senhor Fábregas, eu devo...

— Palavras dela, não minhas! Eu particularmente prefiro isso do que estudar mais um capítulo da revolta dos duendes do século XVIII e aquela...

— Todo século tem revolta dos duendes! Eu sempre confundo Ug com Urg, cara, todos os duendes são tão revoltados! Por que isso?— Allanon Starky, que ocupa o quarto ao lado do meu, falou com o seu tom fanho que nunca falhou em me irritar, como se não bastasse ter me interrompido.

— Senhor Starky, por favor...

— Ug era um vigarista, seu idiota, não tem nada a ver com o líder da revolta dos duendes do século XVIII!— Stoddard, da Grifinória, tentou jogar uma bola de pergaminho na mesa do senhor “eternamente com rinite”, mas acabou acertando a orelha esquerda de Scorp.

— Hey, perdedor, pare de vandalismo, a gente não está no chiqueiro que vocês chamam de Casa!— Depois dessa fala inocente do Malfoy, rainha da treta, a balbúrdia tomou conta da sala do fantasma. O que nos leva a algumas conclusões:

Primeira: meus colegas de turma são uns bárbaros, independente da Casa.

Segunda: os duendes são as criaturas mais revoltadas do mundo mágico.

Terceira: o Ocaso tem um forte apoio popular, todo mundo acobertando seu aparecimento repentino.

Quarta: a Weasley é uma babaca. Ok, talvez essa devesse ter sido a primeira, enfim...

Então ficamos nessa confusão por uns 15 minutos, a aula acabou e o professor Binns prendeu na sala aqueles baderneiros que transformaram a pacata - leia-se fúnebre - sala de aula em um campo de batalha.

Scorp e Tony ficaram.

Albus também.

O que me deixou a sós com Rebeca, a pessoa que eu deveria estar evitando por motivos dela ser uma vaca que quer infernizar a vida da minha namorada. Obviamente eu disse isso em voz alta.

— Olha a minha cara de quem se importa com a idiota da sua namorada, Cesc.— Olhei para a cara dela e nossa, Rebeca é muito boa em parecer completamente indiferente a alguém.

Ainda estávamos no corredor de História da Magia, aguardando os vândalos que chamamos de amigos para irmos para a nossa aula de Herbologia. Eu estava apoiado na parede de pedra úmida, aproveitando o vento fresco da quase primavera e Rebeca... Rebeca estava se fingindo de rainha da Grã-Bretanha, como sempre.

A monstra deixou de empinar seu nariz por um segundo, para poder apontar para uma Weasley distraída, esperando o também marginal primo dela. Eu levantei a sobrancelha para Wainz e ela sussurrou um “vai lá”.

— Pra quê?

— Pergunta a ela sobre Haardy!— O inevitável sentimento de “Não. Me. Importo” que sempre tenho quando penso nesse cara apareceu. Mas a expressão de Rebeca de “vou queimar você com fogomaldito quando estiver dormindo” apareceu também.

Rebeca sempre ganha.

Fui me encaminhando, veja bem, simpaticamente na direção da Weasley, porém ela simplesmente me encarou como se eu estivesse trazendo a peste para a tribo dela. Que fique registrado que, assim como Potter, ela não consegue levantar uma sobrancelha em questionamento.

— Então, Weasley... Que confusão essa, hein? — A ruiva sardenta virou, acreditem, para a parede e ficou encarando as pedras velhas do castelo. Isso foi ofensivo. Eu me virei para Rebeca e fiz a minha cara de “tentei”.

Ela bufou irritada, nada feminino isso, devo dizer e veio na nossa direção daquela maneira decidida dela.

— Ok, Weasley não temos tempo para essas merdas!

— Parece sempre que vocês têm tempo de sobra, se me permite dizer...— A garota ruiva começou a falar em um tom de voz de palestra chata que só ela alcança, mas Rebeca foi inconveniente como sempre.

— Não permitimos nada, queremos te fazer uma pergunta! — Eu olhei com uma sobrancelha levantada para o “queremos” da monstra, eu sendo tão vítima quanto Weasley. – O que sabe sobre Haardy?

Oh, a sutileza perdida, morta e enterrada. Eu respirei fundo e olhei para o teto, me lembrando de todas às vezes que Rebeca me disse que estava cansada de tapar os buracos dos meus planos. Que garota mais hipócrita!

Weasley não fez o que era esperado para os de sua raça - que seria gritar e ficar vermelha - apenas olhou para o horizonte com os braços cruzados firmemente. Eu não sei como interpretar isso.

— Sei o que todos sabem, capitão do time de Quadribol da Corvinal, ex-monitor por opção, sexto ano, bom em poções...— Rebeca me olhou com uma cara de “hummm”, que eu não entendi, mas honestamente, dessa vez eu nem tentei entender. – A única coisa instigante aqui é um interesse repentino de vocês por ele.

— Não tem nada de repentino, ele fez uma proposta de entregar o jogo Sonserina x Corvinal para gente.— A minha cara e a de Weasley deviam estar iguaizinhas, MAS QUE DIABOS REBECA PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Não o jogo propriamente, mas ele prometeu que deixaria nosso apanhador pegar o pomo sem problemas, o que é bastante instigante, como você mesma colocou.

Eu já devo ter usado essa expressão antes, mas é isso, essa situação toda é como assistir um acidente de trem: traz aquela sensação de inevitabilidade, choque e horror absoluto e ainda assim, não dá para desviar o olhar. Fico triste em admitir que Weasley se recuperou mais rapidamente que eu.

— Falaram com a diretora?— Ela perguntou, assumindo um tom prático e decidido. Eu encarei Rebeca aguardando uma resposta, porque se ela começar a falar do Ocaso, terei que cometer um monstricídio.

— Ela não acreditaria na gente e é por isso que estamos falando com você.— Rebeca respondeu de um jeito sério, atípico, só que dessa vez a ruiva me olhou, ainda com uma expressão indecifrável. Weasley deve ter visto algo no meu rosto que a convenceu, porque as próximas palavras me deixaram mudo.

— Está bem, vou ajudá-los. Me encontrem no pátio da torre do relógio às 17 horas.— Eu e Rebeca assentimos, fingindo que não estávamos abalados com a solicitude da nossa mais antiga nêmese. — E Fábregas... É melhor que isso não seja mais um truque seu.

Truque meu? Mas se é sempre Rebeca que planeja as merdas? Mundo injusto...

Albus foi o primeiro a sair, encarando a cena com a estranheza devida, Rose Weasley parecia estar nos dando uma lição, mas creio que o mais impressionante é que parecíamos estar ouvindo.

— O que...

— Vamos, Albus.— Weasley e a turba da Grifinória seguiram seu caminho, Merlin sabe para onde, enquanto que Tony e Scorp saíram da sala com um bom humor bem incoerente, dado que eles provavelmente estão de detenção.

— O que nós perdemos?— Scorp perguntou inocentemente, olhando para um Tony que estava terminando de falar algo com o idiota do Starky.

— Eu sei lá, ainda estou tentando entender o que acabou de acontecer aqui.

— Okay, parte DOIS do meu plano.— Rebeca disse, fazendo o número dois com os dedos, quase enfiando as garras enormes e azuis na cara da gente. Scorp fingiu que ia mordê-la e ela fingiu que ia bater nele, mas os dois só trocaram um sorrisinho estranho. Tony bufou de impaciência.

— Que plano?— Ele perguntou e eu me vi na obrigação de responder, já que Rebeca revirou os olhos e fingiu que não ouviu.

— Um plano que ela inventou agora, a parte um consistindo em contar a Weasley sobre a proposta indecente de Haardy.

— Isso soou como algo pervertido.— Scorp deu um sorrisinho e mexeu as sobrancelhas e eu apenas o encarei sem emoção, porém Tony foi mais longe.

— Você tava mesmo querendo dizer isso, Scorp? Porque você disse em voz alta.— Tony o olhou de lado, colocando todo seu desprezo em cada palavra. O loiro deu de ombros, Scorpius Malfoy nunca fala o que não quer. – Por que esse plano agora, Rebeca? Você nem se deu ao trabalho de nos avisar!

— É porque eu pensei em tudo agora, minha mente ainda está trabalhando nos detalhes...— Ela fez um gesto para sua mente trabalhando, mas eu gosto de pensar que é uma mente trabalhosa. Infelizmente essa é a mesma cara que ela faz quando está jogando Cartas de Cassandra e já sabemos o quão boa Rebeca é nisso. – Mas não se preocupem, temos a tarde toda para planejar detalhadamente a parte dois.

Tony a olhou emburrado, ele é o cara dos planos detalhados, feitos no calor do momento, fato, mas cujas consequências são eternas, vide... Bem... Tudo o que fizemos até agora!

— Qual é a etapa dois, Wainz? — Rebeca olhou Scorp com uma sobrancelha em desafio e o loiro só intensificou sua cara de “não me importo com sua intimidação”.

— Vamos andando para as estufas, que já estamos atrasados.— Ela foi andando, mas ninguém a seguiu. Quem se importa com Herbologia? – Eu conto no caminho.

Ah bom.

***

Estava sentado no vestiário improvisado da câmara não-tão-mais secreta, terminando de lixar o cabo da minha vassoura depois do treino, porque o incapacitado intelectualmente do Tony me lançou um balaço completamente fora de tempo e agora minha Twig está cheia de farpas.

O dito cujo já saiu daqui e eu nem posso descontar minha raiva nele e eu ODEIO isso, porque, se você me faz passar raiva, o mínimo que pode fazer é ficar para arcar com as consequências.

Lia se encaminhou para o chuveiro, já sem a parte de cima do uniforme, desfilando apenas com seu top esportivo cor de vinho e calças, me distraindo da minha raiva. Dussel deu uma conferida não disfarçada também, mas depois voltou a anotar alguma coisa em seu pergaminho de poeta decadente.

— Hey, Cesc!— Levantei meu olhar da farpa da vassoura que eu consegui colocar no meu dedo - acho que eu consigo tirar com o dente - para encontrar o de Heidi pelo espelho. Ela estava terminando de se maquiar, só tendo restado nós quatro aqui no vestiário. — O que acha da gente continuar usando esse campo de treinamento ao invés do oficial?

Enrique parou de mastigar a ponta da sua pena - o que sempre o deixava com alguns pontos de tinta na lateral da boca - e encarou Heidi de seu canto sombrio, perto dos armários.

— Não é definitiva a volta do campo, Dee, só saiu no Ocaso.— A “Dee” em questão mandou um beijo para seu reflexo, fazendo aquela coisa que as garotas fazem depois que passam um batom. Os cabelos ainda úmidos do banho foram jogados para o lado, um pouco menos cacheados e bagunçados do que o usual, mas ainda assim... Gata.

Sonserinos são sempre bonitos e/ou sexys, nenhuma novidade aí.

— Tudo que eles falam é verdade, Rick, se tem algo que eu aprendi nesses últimos meses é que o que os Iconoclastas dizem é lei. — Ela falou, já terminado de guardar todos os seus trecos de garota no armário, me olhando por cima do ombro. – E então?

— E então o quê? A única palavra que é lei aqui é a minha. – Ela revirou os olhos e eu comemorei porque finalmente consegui tirar a farpa do dedo. – Mas a ideia é boa, vamos ver como é que fica essa história do campo e...

Heidi sentou no banco, bem na minha frente, cruzando as pernas em um ato contínuo, o que atrapalhou minha linha de raciocínio. A olhei e ela deu um sorrisinho falso, do tipo que as meninas mandam quando querem brincar de ser inocentes e pedir algo.

— Capitão.

— Lowen.—  O cheiro de sândalo do banho de Lia agora estava em todo o lugar, mas isso não sobrepôs o perfume de amora silvestre da artilheira na minha frente. Heidi parecia uma pequena fadinha, com seus cílios impossivelmente longos e olhos azuis, mas eu sabia melhor, já a vi jogar com dedo quebrado e tudo.

De fada ela só tem o jeito.

— Vou te pedir um favorzinho. – Ela falou com um tom infantil, mexendo em um dos cachinhos castanhos.

— Eu sei que vai, vocês não me chamam de capitão por outro motivo.— Ela estalou a língua em desacordo, mas emendou com um sorriso culpado de quem sabe que eu estou falando a verdade. — O que você quer?

Ela não disse imediatamente, apenas me olhou seriamente, como se estivesse avaliando se podia ou não confiar em mim. Eu já estava ficando cansado disso, então voltei a lixar minha amada vassoura, que é a única coisa nesse vestiário em que confio.

— Posso pegar emprestado seu... Como chama? Tem uma caveira enfeitada desenhada...

— Meu celular?

— Isso, celular!— Ela deu um tapa na própria testa, como se fosse muito burra por não lembrar a palavra, o que não deixa de ser verdade. Tá, ela é puro-sangue, mas isso não muda nada, ainda soou burra.

— Pra que você precisa do meu celular?

— Você vai achar que é besteira...—  Ela disse, sacodindo o pé calçado com um sapato de boneca, já tradicional no uniforme de Hogwarts, mostrando um pouco de insegurança.

— Provavelmente.

— Okay, então...— Ela descruzou as pernas e sentou de frente para mim, as mãos no colo, toda uma princesa decidida. – Preciso do seu celular para registrar o Ocaso.

— O quê? Por quê? Achei que gostasse do Ocaso!— Ela me olhou surpresa e depois começou a falar rápido, como se precisasse explicar seu pedido esquisito.

— Não! Eu gosto! Gosto muito, gosto tanto que acho que posso ajudar! - A olhei receoso e ela parecia ter esquecido de sua apreensão anterior, já que desandou a falar. — Estou tentando encontra-los, sabe, porque, apesar de não ter caído na Corvinal, gosto de pensar que sou bastante esperta.

— E é humilde também, obviamente. — Lia falou sarcasticamente, finalmente saindo da área dos banheiros com a varinha em mãos, secando os cabelos muito compridos. – Acha mesmo que tem como rastrear os iconoclastas, Lowen?

O tom foi tão debochado, que Heidi se virou para dar uma resposta mal-humorada para Lia e eu aproveitei a distração de ambas para começar a tirar o uniforme, fingindo pouco interesse na conversa, apesar de que isso muito me interessa.

E preocupa.

Porque, tanto Lia quanto Heidi começaram a falar sobre o Ocaso, sobre os Iconoclastas e ambas mostraram interesse de fazer parte, cheia de ideias, de palpites e teorias, discutindo seriamente as possibilidades, o que me faz pensar, quantos outros não estão fazendo o mesmo?

Deixei meu olhar escorregar para Dussel e qual não foi minha surpresa ao notar que ele me observava. Enquanto tirava as cotoveleiras, mantive a acareação até que Enrique fez algo que me fez sentir gelo nas veias. Ele sorriu como se soubesse a verdade.

Merda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vou tentar postar o próximo na semana que vem, viva!