Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 35
Capítulo 35. O plano infalível


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não tem Cesc, mas é extremamente importante. Prestem atenção nas passagens de tempo.

Enjoy



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Plano infalível

23 horas e 12 minutos para o plano (18:38h)

Aquele caminho já era completamente familiar para o lufano, não mais que seis metros de distância da entrada de sua Casa, mesmo corredor, quadro de peras. Aidan Hataya fez cosquinhas em uma das frutas e viu a passagem para a cozinha central de Hogwarts se abrir, com um sorriso no rosto.

—Senhorzinho Aidan, senhorzinho Aidan! – Pelo menos uns cinco elfos-domésticos, todos bem agasalhados, com aparência de felizes, o cercaram.

—Senhorzinho Aidan, quer um bolo de chocolate?

—Quer uma torta de amora e ruibarbo? Sorvete de pistache? – Aidan riu, nem sequer conseguindo distinguir as outras opções que as pequenas criaturas falavam e ofereciam ao mesmo tempo. Todos os elfos de Hogwarts sabiam que ele era louco por doces.

—Vou aceitar um daqueles bolos de caldeirão ali e Marina e Hazel me imploraram para eu levar um pouco de pudim de Natal flamejante para elas...

Um por um, os elfos foram parando o que estavam fazendo e piscaram quase que em sincronia para o garoto. Aidan sorriu internamente com isso. Aquilo seria fácil... Itilus, que era uma espécie de porta-voz do grupo, falou, soando muito sentido.

—Senhorzinho, mas não tem mais pudim... Itilus sente muito, mas não tem mais pudim de Natal... Err... Não tem mais, senhorzinho. – Aidan suspirou, se fingindo de triste, Deus, estava andando tempo demais com sonserinos... A vontade real era de rir do jeito como o pobre elfo evitou dizer que era óbvio que não tinha mais pudim flamejante de Natal, já que não era mais Natal.

—Temo que terei que dar a má noticia às garotas... – Outro suspiro falso. – Parecia que isso era a única coisa que daria a elas um incentivo para continuar estudando para a prova do professor Bradbury, que pena.

Tanto quanto Aidan sabia, as gêmeas lufanas do quarto ano eram tão adoradas pelos elfos quanto o diretor da Sonserina era desgostado. Os pequenos não podiam deixar de antipatizar com o homem que fazia a vida dos jovenzinhos gentis tão difícil.

—Oh, oh, oh! – Sookie, uma elfa que estava sempre com uma muito divertida, na opinião de Aidan, faixa rosa na cabeça levemente desproporcional, levantou uma das mãos, pedindo atenção. Parecia uma corvinal quando sabia uma resposta particularmente difícil.

—Sim, Sookie.

—Nós pode fazer um pudim para as meninas, senhorzinho, nós pode! – Várias cabecinhas assentiram ou simplesmente fizeram como Itilus, repetindo um “sim, sim, nós pode”, felizes. Aidan sorriu para todos eles.

—Que maravilha de ideia, Sookie! Sendo assim, vou esperar aqui do lado, para não atrapalhar vocês.

Aidan se posicionou em um pequeno banquinho perto do estoque de mantimentos, observando o vaivém de alguns elfos preparando o pudim pedido rapidamente e outros deixando os preparativos do café da manhã do dia seguinte nos conformes.

Nenhum deles, atarefados que estavam, notou o momento em que o jovem lufano de olhos puxados desapareceu pela porta do estoque. E nem notaram também quando ele voltou de lá, com um sorriso satisfeito e com os bolsos indiscutivelmente mais leves.

—Céus, como eu amo bolo de chocolate! – O garoto oriental falou para ninguém em particular. Sorriu para si mesmo. Muito bom que elfos eram criaturas com pouco ossos maldosos no corpo. Ele, por outro lado...

22 horas e 42 minutos para o plano (19:18h)

Weasley estava, novamente, dando seus discursos sem fim de como “escrever com um inglês formal, sem gírias, é de extrema necessidade para o jornal” e claro que adicionou um “estou cansada de ficar corrigindo seus textos, eu sou muito ocupada, vocês sabem”.

Sim, sabemos, pensou Rebeca Wainz, não muito feliz de conhecer a entediante agenda de Rose Weasley. A que ponto tinha chegado a sua vida?

Assim que a ruiva bateu um martelinho, saído sabe lá Morgana de onde, na mesa da sede do Hogs News, a Sonserina levantou o mais rápido que suas boas maneiras de berço permitiram e passou na frente de um grifinório estúpido. Ela não ficaria esperando o garoto que tinha uma séria queda pela furão ruiva gaguejar seus elogios de praxe, não mesmo.

—Weasley, meu texto, como solicitado. – Rebeca disse com um tom falsamente angelical. Rose, mentalmente, agradeceu que a pequena escrivaninha de editora-chefe do Hogs News ficava em cima de um tablado, desse modo Rebeca Wainz não estaria nunca a olhando de cima.

Merlin, como Rose odiava a autoconfiança dessa garota.

A grifinória pegou o pergaminho, que só podia ser do tipo mais caro, já que sonserinos eram exibidos a esse nível e observou a bonita e feminina letra da outra. Em uma análise superficial pôde ver que estava tudo certo, como sempre.

—Muito bem, Wainz. Parece que o seu vou poder mandar exatamente do jeito que está para o vice-diretor. – Weasley fez uma leve careta. “Diretor, Rose! Ele é diretor agora.” – Está dispensada.

Rose tinha que admitir para si mesma, era meio patético se sentir bem em dispensar Wainz com um simples gesto de mão desdenhoso, mas fazia isso de qualquer modo, toda santa semana. A dita cuja apenas lhe deu um sorriso falso e se virou de uma maneira que fez com que seus cabelos negros fizessem um arco perfeito.

Rebeca seguiu feliz que tudo tinha dado certo. Weasley era uma maldita incógnita a menos no plano agora e as coisas seriam mais fáceis com o pergaminho certo, na hora certa, no lugar certo.

Virou a esquina em direção a Escadaria paralisada e quase morreu de susto ao ver um certo loiro platinado nojento surgir do nada.

—Fez o serviço direito, monstra? – Ela apertou os olhos, rezando para todas as divindades celtas que conhecia explodirem a cabeça de Scorpius Malfoy de uma maneira grandiosa. Rebeca não era exigente, aceitava a oferta de qualquer deus menor, seria sua serva para sempre de bom grado.

—Ora, ora, ora, se não é o Sr. “Não me importo com suas histórias e fofocas, Wainz”. – Falou, enquanto cruzava os braços desafiadoramente. Era quase uma rotina provocar o loiro aguado. – Não te mata a ironia?

—Não, mas bem poderia matar você. – Ela lhe deu um sorriso de lado, concedendo um ponto para o rival pela boa resposta. – Fez ou não?

—Claro que sim, Malfoy. Ainda está para ser inventado algo no mundo que eu não faça bem feito. – Ela passou pelo outro, sem se importar em dar um encontrão nele. E sem saber que quando fazia isso deixava um rastro frutado... Seria morango? Ou talvez framboesa...

—Ser humilde, talvez? – Ele perguntou, ainda parado no mesmo lugar, olhando-a se posicionando para descer as escadas. Rebeca o olhou por cima do ombro, com um sorriso levemente irônico.

—Talvez. – Sussurrou mais do que falou. E o loiro não pôde deixar de pensar que talvez ela estivesse falando a verdade.

19 horas e 57 minutos para o plano (22:03h)

—Ok, cara, hora da troca. – Albus entrou sem bater na porta e muito menos sem dar boa noite a um Frank bastante concentrado em acertar um acorde particularmente difícil de sua nova composição musical no violão.

James parou de escrever a carta que fazia para uma amiga que havia se transferido para Salem ano passado e olhou o irmão sem levantar a cabeça de todo.

—Você não poderia ser mais discreto? – Não que isso importasse, Frank sabia muito bem da existência do Mapa do Maroto e da Capa da Invisibilidade dos Potter. Albus sorriu, um sorriso sem dentes e humor, como se apenas não estivesse com saco para discutir as regrinhas do irmão mais velho, o que não deixava de ser verdade. – A capa está debaixo da cama.

“Oh, que novidade! “, pensou, irônico. Não estava ela sempre lá? James era assim de previsível: Capa debaixo da cama e o Mapa...

O ruivo levantou uma das mãos, com a palma para cima, sem olhar o irmão mais novo. O Mapa do Maroto James fazia questão de ter sempre grudado com ele.

Albus entregou o pergaminho velho, que foi depositado com pouco cuidado na escrivaninha do quintanista, ao lado de seus escritos sem importância. O moreno já estava pronto para sair do dormitório do irmão, quando este o chamou, ainda sem levantar os olhos da carta que escrevia.

—Albus? – O garoto conteve um suspiro cansado. – Sabe que não deve usar a capa e o mapa para fazer besteira, não é?

Frank parou de tocar para assistir melhor a troca de palavras dos irmãos. James era um pouco controlador e Albus levemente impaciente e isso era sempre algo interessante de se ver.

—Claro, irmão. – Ele sorriu, seu melhor sorriso inocente. – Quase não consigo lembrar a última vez que usei qualquer um dos dois para fazer besteira.

James levantou a cabeça, cético. Albus era uma criatura que gostava de seus mistérios, o que para ele estava bem, contanto que não se metesse em encrencas. Sorriu para o caçula.

—Então faça bom proveito. – Voltou para sua carta, ouvindo a porta bater levemente atrás de si. Continuou a escrever, observando o pergaminho que fazia sua vida mais fácil, ou mais difícil, dependendo do ponto de vista, pela visão periférica.

Suspirou exaurido, chamando a atenção de Frank.

—O quê? – O garoto, que já havia recomeçado a dedilhar o violão, meio deitado, meio sentado folgadamente, o olhou.

—Nada demais, acho apenas que vou ter que passar o olho no Mapa hoje, só por desencargo de consciência. – Frank riu, uma mistura de riso e bufo descrente. James não tinha jeito mesmo... Sempre parecia estar alerta e vigilante com a família. O Sr. Vigilante Potter, pensou, divertido.

Albus estava pensando a mesma coisa enquanto guardava com cuidado a Capa da Invisibilidade em seu lugar secreto de sempre. Mas o filho do meio de Harry Potter não achava aquela predisposição do irmão divertida, como Frank o fazia.

Pelo contrário. Aquilo só complicava tudo.

3 minutos para o plano (17:57h - dia seguinte)

Rebeca tamborilava com suas unhas compridas na mesa, esperando o discurso do diretor acabar. Por que tinha chegado no Salão mais cedo mesmo? Aparentemente sua vida agora se resumia a ouvir discursos, porque ontem foi o da Weasley monga, hoje mais cedo de Cesc pedindo para ela deixar sua namorada ridícula em paz, pelo amor de Merlin e agora esse.

Olhou para a mesa da Corvinal, de onde só teve o vislumbre da capa negra do amigo que chegara bem na hora que o diretor calara a boca. Sabia que havia sido sugestão de Tony que Cesc jantasse na Corvinal, mas, honestamente, aquilo a irritava.

A morena sabia da verdade, mas isso não impedia que ficasse incomodada e ciumenta com a situação. Ela não era apaixonada por Cesc, como qualquer criatura viva ou morta poderia comprovar, mas tinha um certo sentimento de posse com o garoto. Esperava que ele percebesse sua idiotice e desse o pé na bunda da insossa da Sullivan de uma vez.

Porque Cesc não estava apaixonado.

Era tão óbvio que às vezes pensava que só ela tinha olhos na cara. Cesc gostava da menina, admitia isso, e provavelmente estava se divertindo com seu teatrinho romântico, mas a verdade estava lá, na cara dele. Ele não a amava.

A primeira vez que havia visto foi quando ele a contou como fez o pedido. Cesc não queria perder Claire. Céus, ele teria pedido ela ou Lia e até mesmo um dos garotos em namoro se isso significasse que sua rede de segurança estaria sempre ali para ele.

O espanhol era um garoto que precisava de um bando para ser feliz, isso estava muito claro para Rebeca.

E a segunda vez que havia visto, ou melhor, sentido foi quando ele retribuiu o seu beijo de brincadeira no quarto há alguns dias. Ele não se sentiu culpado, viu em seu olhar e em um certo ponto do interlúdio o garoto até se sentiu saudoso, se o suspiro dele e aperto mais forte em sua cintura podiam ser tomados como indicativos.

Não, Claire Sullivan nem sequer estava sendo suficiente para Cesc nesse quesito.

Foi pega levemente de surpresa com a aparição da comida na mesa e resolveu que estava na hora de parar de divagar e voltar a cabeça para o plano. Respirou fundo e se parabenizou por não escorregar o olhar para Tony e Scorp, alguns lugares mais para frente. Teria que fingir que estava tudo bem, como todo mundo.

Serviu-se de uma generosa poção de vegetais gratinados, não era como se aquele queijo fosse se alojar mesmo em suas coxas, ela estava esperando que a qualquer momento...

—AH, MEU MERLIN!

—QUE NOJO!!!!

—MAS QUE PORRA É ESSA?!?!?!

Rebeca não verbalizou seu nojo, mas jogou seu prato de volta na mesa e fez caras e bocas junto com gritinhos, como o restante das amigas. A mesa da Sonserina, assim como as demais, estava abarrotada de comida, comida da qual saía pequenas, gosmentas e asquerosas lavas de Flobberworms.

A verdade era que nem mesmo Westhampton, com todos os seus contatos, conseguiu trazer os famosos vermes-cegos na idade adulta, no alto de seus 25 centímetros de nojentice para Hogwarts, o que para Rebeca estava bem também e foi até mais fácil para Hataya assim, desse jeito.

A comoção era tanta no Salão que se permitiu olhar para a mesa da Corvinal, torcendo para Claire ter comido uma boa porção de comida antes de perceber o engano. Contudo, o que viu foi Cesc empurrando um garoto qualquer no chão, para evitar ter o sapato vomitado.

Rebeca teve que se controlar para não rir, o momento não pedia risos. Os Iconoclastas essa noite não passavam de atores dissimulados e Rebeca não iria ficar para trás, mesmo que os olhos acabassem voltando para um Cesc se defendendo de uma Claire brava com a atitude dele.

Ela estava certa, não tinha dúvidas. O namoro daqueles dois não ia durar nem um par de meses.

17 minutos para o plano (17:43h)

A confusão aconteceria a qualquer momento agora, então Albus sabia que tinha sido uma boa ideia pôr sua parte do plano, que já estava em marcha desde o início da tarde, para acontecer antes que se desse a confusão.

Havia faltado as duas aulas finais da tarde já sabendo que James, com o seu sempre à mão Mapa do Maroto, iria querer saber o porquê. Quando o irmão entrou no seu quarto o encontrou em um sono pesado.

Havia pego uma das poções do sono do quintanista e diluído em suco de abóbora e tomado, ficando sonolento o suficiente para não reagir completamente quando fosse chamado, mas alerta o suficiente, quando preciso.

James, como a coruja protetora que era, ficou preocupado com as respostas desconexas do irmão somadas à incapacidade dele de manter os olhos abertos, então resolveu velar o sono do caçula, já que Frank disse que era um exagero levar o garoto a Enfermaria.

O terceiranista acordou bem e descansado, a ponto de deixar James tranquilo para ir jantar, deixando Albus livre, leve e solto para continuar “descansando”. Assim que o maior saiu da Grifinória, Albus  vestiu a sua adorada Capa da Invisibilidade e ganhou os corredores de Hogwarts.

Tinha um álibi nas mãos e um trabalho a fazer.

Plano em andamento (18h)

Era como uma corrente elétrica correndo em suas veias. Aidan não sentiu uma onda tão forte assim nem quando colocou os vermes-cegos transfigurados temporariamente em sal no estoque da cozinha central.

Dessa vez era na frente da escola toda que iria usar as suas habilidades recém-descobertas na arte do engano. As pontas de seus dedos estavam formigando de ansiedade. Olhou para a confusão com um olhar conhecedor e quando viu que finalmente os colegas se acalmavam sob a autoridade dos professores, ele fez seu movimento.

—SABIA QUE ESTAVA APRONTANDO UMA, ZABINI! – O dito cujo que estava em pé, gesticulando abertamente seu desagrado com os vermes, parou abruptamente os movimentos.

—Desculpe, você está falando comigo? – Aidan tinha que admitir, estava vendo um mestre em ação. O tom levemente surpreso, desconfiado e ofendido tinha saído tão natural que ele quase acreditou que era verdade.

—Não se faça de desentendido, Zabini, vi você rondado a cozinha ontem à noite. Esse foi mais um dos seus planinhos, não foi?

Em sua defesa, Tony pareceu surpreso e depois bravo, o sonserino soltou um riso meio rosnado e continuou a falar no seu tom de raiva contida.

—É melhor ter provas ou retirar o que disse, se não...

Aidan tinha refletido muito sobre a cena e que linha seguiria para dar veracidade a tudo. Resolveu que iria arriscar, pelo bem do Ocaso e de todos.

—Posso até retirar o que disse, mas não vai mudar o seu histórico... Ou o da sua família, não é? – Tony Zabini podia ser um puta ator, mas quando Aidan viu a pele escura do amigo empalidecer e a expressão dele refletir apenas choque puro e genuíno, o garoto se perguntou se não tinha ido longe demais.

Sabia que colocar a família dos Sonserinos no meio era ir longe demais.

Zabini não disse mais nada, ele apenas endureceu a expressão de um jeito assustador e agiu tão rápido que Aidan mal pôde ver o movimento, se não fosse por Scorp ele teria apenas sentido. Meu Merlin, Tony sacou a varinha com intenção de lhe acertar!

A confusão estava armada, porque Scorp tentava conter Tony, assim como outros colegas da Sonserina e mesmo Aidan sabendo que o melhor agora, pelo bem de sua amizade com os sonserinos, era deixar tudo como estava, sabia que tinha um plano a seguir.

Ao invés de recuar, ele avançou e completou. – Sonserinos não gostam de ouvir verdades, hein?

A briga ficou mais generalizada, a mesa das serpentes e a dos texugos defendendo seus representantes na peleja, com os ânimos alterados drasticamente. Aidan se sentiu, na verdade, aliviado quando foi conduzido pelo diretor para a sua sala, junto com Zabini. Causar tretas não estava nele, percebeu tardiamente.

(18:14h)

O loiro discreto, sentado no fundo do Salão da Corvinal, olhou para o relógio de pêndulo entre as flâmulas azuis e bronzes da parede oeste pela quarta vez só nos últimos vinte minutos. Sua sorte era que, apesar dos seus atípicos óculos quadrados de lentes azuis violáceas, ele nunca chamava atenção.

Estava quase na hora.

Roubou alguns doces do irmão mais velho jogado numa poltrona qualquer do Salão Comunal, que ainda estava resmungando por só ter sobremesa para o jantar da noite e seguiu para baixo da escada dos primeiranistas. O setor deles era o mais distante e abandonado da Corvinal, não havia mais movimento algum lá porque eles já estavam se preparando para dormir.

John Westhampton retirou o papel que havia enfeitiçado mais cedo com a ajuda de Rebeca Wainz do bolso. Respirou fundo, olhando para a cópia exata do pergaminho que ela havia ficado responsável de dar um jeito de colocar na diretoria.

Só mais 6 minutos agora.

(18:15h)

Ok, ele havia perdido um pouco o foco, mas já havia se recuperado.

Tony tinha estado na defensiva desde o Réveillon, sabia que era uma bobagem e agradecia que Cesc e a família já tinham ido embora quando tudo aconteceu, porque aquilo deixou seu pai furioso, mas era muito recente para ficar em paz.

Algum idiota do Ministério acionara os Inomináveis que acharam por bem fazer uma vistoria surpresa na Mansão Zabini, por conta da “alta concentração de familiares de ex-comensais no recinto”, disseram eles, mas Tony sabia melhor. Isso havia acontecido por causa da indicação de seu pai à Coordenadoria de Segurança de Eventos Mágicos.

Blaise Zabini nunca fora um comensal da morte, mas os boatos de patrocínio da família para a causa do Lorde das Trevas na última Guerra, feito por seus tios e até por sua mãe, nunca comprovados, claro, foram o suficiente para manchar uma candidatura, até então, imaculada.

Os membros do Ministério sabiam como ser desprezíveis.

Mas não era o caso de Aidan. Aidan, cuja família era parte trouxa  e parte japonesa, não sabia absolutamente nada sobre politicagens bruxas britânicas, guerra de influências e caveiras tiradas de armários no fundo de Mansões ancestrais.

O sonserino diminuiu o passo, se colocando na linha de visão do oriental que estava andando um pouco mais lento que ele e o “diretor” Brenam. Aidan levantou a cabeça e sorriu para a piscada marota do amigo.

Eles estavam bem.

Diretor Brenam disse a senha para as gárgulas e Aidan fez um movimento teatral ridículo para amarrar os cadarços, que teria feito Tony revirar os olhos se não estivesse tentado chamar o mínimo de atenção para as estranhezas que poderiam acontecer dali para frente.

O lufano manteve a porta aberta por exagerados 30 segundos enquanto amarrava metodicamente o cadarço do pé esquerdo, já o diretor sentou-se sem esperar pelo aluno retardatário.

A porta se fechou e Tony torceu ardentemente para que Albus Potter tivesse conseguido entrar na sala, com a ajuda de algum feitiço de desilusão ou pegadinha especial do tio, que o grifinório garantiu que seria infalível.

(18:19h)

Albus assistiu Zabini e Hataya receberem uma bronca sem inflexão alguma na voz do diretor. Eles tinham corrido um risco grande, porque Brenam poderia ter sido arrogante o suficiente para não querer resolver o problema dos dois terceiranistas ele mesmo.

Por isso Tony fez questão de que fosse uma confusão generalizada.

—Talvez eu tenha me equivocado, não tenho provas contra o senhor Zabini. – O tom de voz de Aidan demonstrava que para ele isso era apenas uma tecnicalidade e que ainda acreditava que o outro era o culpado dos vermes nojentos na comida. Albus estava impressionado com a dissimulação do lufano, talvez tivesse algo a ver com o seu grande senso de fidelidade.

—Essa foi uma acusação muito séria, senhor...

—Hataya. – Tony estava parado, assistindo tudo sem emitir um som, parecia uma estátua, formando com Aidan uma linha diagonal que direcionava a visão do professor para a saída, o ponto mais diametralmente distante do local que Albus disse que se posicionaria. Zabini era um cara muito atento aos detalhes, o grifinório tinha que admitir.

—Se ele se desculpar logo, não vejo motivos para continuar aqui, ainda tenho que caçar algo para comer no meio daquela comida podre do Salão, tenho reunião do time também e Merlin sabe que aquele pergaminho de Herbologia não vai se escrever sozinho... – O sonserino tomou fôlego para continuar sua lista infinita de atividades, começou a gesticular de uma maneira irritante, fazendo com que o diretor adquirisse uma expressão levemente aborrecida.

—Certo, senhor Zabini, seremos rápidos então, nenhum de nós tem tempo a perder. – Ele olhou para o lufano que não havia se desculpado e não parecia nem um pouco disposto a fazer. – Duas noites de detenção para o senhor Hataya e uma para o senhor.

Tony iria retrucar, com certeza indignado de verdade, mas o homem mais velho foi mais rápido.

—Por sacar a varinha com claras intenções de machucar um colega. – O sonserino se calou diante do argumento irrefutável. Albus viu seu relógio digital trouxa emitir um brilho azulado e agradeceu mentalmente estar debaixo da capa da invisibilidade.

Tinha exatamente 30 segundos agora para se preparar.

Tirou o anel com o brasão da família Westhampton do bolso e caminhou o mais silencioso que pôde para junto da pilha de títulos raros que pertenciam a diretora McGonnagal. No topo da torre de livros, de quase dois metros de altura, repousava a caixa escura que fazia jogo com o anel em sua mão.

A qualquer momento agora.

(18:19h)

A qualquer momento agora, Louise, se prepare, pensou a jovem corvinal ao se enfiar atrás de umas das armaduras assustadoras do sétimo andar. Aquele local era perfeito, perto o suficiente da diretoria e da escada que a levaria para longe de toda a confusão e ao mesmo tempo longe e escondida o suficiente do olhar dos quadros bisbilhoteiros da escola.

Segurou sua pequena medalhinha da Virgem dos Reis, padroeira de Sevilla, por baixo das vestes e pediu por proteção. Sua tarefa era a mais simples, mas nem por isso menos importante, tinha que dar tudo certo ou então estaria perdida.

Daria tudo certo, tinha certeza.

(18:19h)

Scorp levantou os olhos para sua inusitada parceira de xadrez, vendo que a garota não estava com o coração verdadeiramente no jogo. Os olhos azuis de Rebeca encontraram os seus e depois desviaram para o relógio em seu pulso.

—Torre para D6. – Ela executou seu movimento completamente não-calculado, fazendo o loiro levantar uma sobrancelha questionadora.

Seria a qualquer momento agora, sabiam.

(18:20h)

John limpou o suor da testa com a parte de trás da manga de suas vestes da Corvinal. Ok, cara, se concentre, pensou enquanto respirava fundo. Deixou a magia vir como havia treinado no feriadão, enquanto sua irmã caçula infernizava os elfos domésticos com seus gritos irritantes.

Speculo ablatione. - Fechou os olhos com força, mas ainda assim viu tudo por trás de suas pálpebras cerradas se tornar vermelho sangue, o calor do feitiço fazendo a pele ao redor dos olhos sentirem desconfortavelmente quentes. Abriu os olhos, vendo vários pontos enegrecidos na visão mesmo estando usando os seus óculos especiais, com proteção extra contra a claridade.

Estava feito.

(18:20h)

Rebeca ouviu, mais do que viu, o ponteiro do relógio de Scorp chegar ao local certo, a hora em que a parte final do plano se desenrolaria, sua audição era de outro mundo, sabia disso. O loiro a sua frente parecia realmente concentrado na sua próxima jogada.

—Rainha na A8. Xeque.

A sonserina esperou seu colega de Casa retirar uma parte da franja de seu cabelo platinado, normalmente arrumado, da frente do rosto e encará-la com seus bonitos olhos azuis acinzentados. Ele levantou o olhar, com um sorriso convencido de quem sabia que estava muito perto da vitória.

—Boom. – Rebeca formou a onomatopeia com os lábios, soprando as letras no sussurro mais leve que Scorpius já tinha visto na vida.

Um movimento tinha sido feito e não acontecera naquele tabuleiro de xadrez bruxo todo trabalhado em alabastro e ônix, o loiro podia garantir.

(18:20h)

Albus Potter fechou os seus olhos com força, escondendo todo o rosto dentro das vestes escuras e ainda assim sentiu o clarão absurdamente desorientador que teve lugar na diretoria de Hogwarts.

Ignorou os gritos escandalosos de seus companheiros de crime e desviou-se da figura trôpega a que tinham reduzido o pobre vice-diretor da escola. Os quadros dos antigos e nobres ocupantes do cargo também estavam temporariamente cegos, percebeu.

Aquela era a hora.

Trouxe o baú de Westhampton para perto de si com um simples accio sussurrado, colocou o anel galês ancestral no dedo indicador e riscou uma fresta na superfície negra da caixa, como o corvinal o havia instruído.

Uma fenda prateada se abriu com o simples gesto, parecia não ter sequer um centímetro de largura, mas quando o grifinório colocou a mão ainda com o anel do outro dentro da caixa, a abertura se mostrou maior do que aparentava.

Alvo sentiu o suave toque do couro de briba* que revestia todo o interior do artefato. Aquele material mágico permitia que somente o dono dos objetos colocados em seu interior pudessem retira-los.

Era muito bom que estivesse usando o anel mágico do dono.

Finalmente alcançou com a ponta dos dedos o que parecia ser papel, a caixa já havia engolido seu braço quase até a junção do ombro. Puxou de volta o membro e sorriu ao constatar o que havia pescado.

—Aí está você. – Sussurrou para si mesmo.

(18:22h)

Os olhos ainda ardiam e Aidan ainda xingava John por aquele maldito feitiço de desaparecimento clareador tão bem executado. O pergaminho trazido por Rose Weasley, entregue a ela no dia anterior por Rebeca, havia queimado todos os papéis em cima da escrivaninha do vice-diretor em um clarão cegante.

O homem parecia furioso agora, com as mãos nos olhos, tentando recuperar um pouco da visão enegrecida. Tony e Aidan sabiam que demoraria pelo menos um par de horas mais até estarem com seus olhos cem por cento funcionando, mas nenhum dos dois diria isso ao homem encolerizado.

A passagem para a saída foi aberta e ambos dispensados sem cerimônia. Dessa vez Tony foi aquele quem se apoiou na porta escancarada, fingindo tentar enxergar a escada à frente, não sendo uma mentira completa, aquele feitiço era uma desgraça!

Albus passou pelos dois amigos cegos, achando divertida as caretas que ambos faziam, mas principalmente levando consigo o grande prêmio.

(18:25h)

Louise viu o exato momento em que um Tony e um Aidan cambaleantes saíram entre as gárgulas que davam para a entrada do gabinete do diretor de Hogwarts. Ela se escondeu ainda mais atrás da armadura antiga, deixando o caminho dos dois livres para os andares inferiores da escola, através da Escadaria paralisada.

Suspirou aliviada, parecia que estava tudo dando certo, agora só precisava esperar que...

—Ah! – Sentiu a mesma mão desencarnada que havia tocado seu ombro, tapar sua boca abruptamente por causa do gritinho que deu.

—Shiu, Louise! – Albus  soprou irritado, olhando para os quadros a somente alguns metros de onde eles estavam. – Toma, leve para o esconderijo.

A garota assentiu só com a cabeça, mesmo tendo sua boca liberada pelo grifinório de imediato. Albus estava todo a negócios e nem perdeu tempo com conversinha furada. Empurrou a amiga para fora do esconderijo improvisado, não sem antes dar um beijo estalado em sua bochecha, afinal de contas, haviam conseguido!

Louise sorriu para ele, dando uma última piscada. Seguiu seu caminho, com o pergaminho do Ocaso firmemente seguro sob as pesadas vestes da escola. Guardaria ele no mesmo local em que havia guardado seu diário, Merlin, haviam conseguido! E o melhor, ninguém daria falta de algo que nunca souberam que existia.

Para todos os efeitos, nada saiu daquela sala.

Albus guardou a Capa da Invisibilidade nas vestes, observando a corvinal de cabelos curtos descer a grande e parada Escadaria do seu modo sempre elegante e prático, mas ele mesmo não caminhou dois passos antes de dar de cara com uma pessoa não totalmente inesperada.

—James. – Seu irmão mais velho estava de braços cruzados, com uma expressão indecifrável.

—Fui checar como você estava no seu quarto e qual não foi a minha surpresa ao ver que você não estava lá? – O ruivo soou algo acusador e... Decepcionado. Droga, por que James tinha que ser tão abelhudo?

—Você me seguiu?

—Queria saber se estava bem!

—Me seguiu. – O maior olhou de cima, sem parecer nem um pouco arrependido de ter feito o que tinha sido acusado de fazer. Era assim que James Sirius Potter funcionava, ame ou odeie-o.

— Albus, o que você estava fazendo se encontrando com Louise Fábregas em um corredor deserto? – O terceiranista suspirou, isso fazia parte do seu plano de contenção, mas não significava dizer que gostava de ter que colocá-lo em prática. Engoliu em seco antes de fazer a mente de seu irmão pensar o pior de si.

—Só não conte a Frank, ok? – Sabia que o que estava fazendo era errado, tinha que ter falado a Louise dessa possibilidade antes, mas não pôde fazê-lo e sim, era decepção profunda aquilo que via na expressão do seu irmão mais velho agora, não obstante, sabia que James não falaria nada.

Sabia de tudo.

Só esperava que algum dia James pudesse saber da verdade também.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do plano de Tony? Espero que todas as partes tenham ficado claras.

Bjuxxx



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