Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 27
Capítulo 27. Na casa do nêmesis


Notas iniciais do capítulo

Sétima vez, agora vai.

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Capítulo 27. Na casa do nêmesis

—Há um motivo para ser chamado de Dama da Noite, vocês sabem qual é? – Era quase duas da manhã do dia primeiro e estávamos eu, Tony, Scorp e Louise sentados ao redor de tio Draco, o ouvindo falar sobre uma bebida que ele estava elaborando para o próximo outono.

Repousando na taça de cristal feita por fadas, as não mordentes, claro, que sabem trabalhar com artigos de beleza e com mãos ao invés de dentes, a bebida vermelha com reflexos violáceos esperava o senhor Malfoy terminar as suas instruções de segurança.

—Já podemos be...

—Calma, Antony, seu pai não me perdoará se eu te envenenar em sua própria casa, não é mesmo? – Tony deu de ombros, impaciente. Até parece que vão deixar a gente beber alguma coisa... – Agora girem um pouco a bebida, cuidado para não derramar, senhorita Fábregas, ainda pode causar uma queimadura leve nas suas mãos sensíveis.

Louise deu uma risadinha encantada, como a boa pateta que é. –Nós meio que provamos vinhos com nosso pai, ele nos deixa fazer a análise visual e olfativa, ela não é tão amadora como parece.

Falei apenas para tornar a falta de tato de Louise ainda mais aparente. Que coisa ridícula ficar se derretendo por um cara que literalmente tem a idade para ser pai dela! Tio Draco fingiu que não percebeu o comportamento inadequado da minha irmã e continuou a explicação.

—Vocês vão colocar o nariz completamente dentro da taça, aspirar e me dirão o que sentem. – Ele disse executando ele mesmo o gesto. O imitamos.

—Tem cheiro de... Compota de pêssego! – Tony falou meio confuso. – Esperava algo mais sombrio pelo nome!

O senhor Malfoy apenas riu com a observação de Tony e incentivou o próprio filho a dar um palpite. – Eu sinto doce, mas tem também algo picante, como... Como Apis Dourada?

Tio Draco acenou com a cabeça, parecendo orgulhoso e Scorp ficou visivelmente mais aliviado. Se eu e Louise fazemos avaliações de vinhos com nosso pai por diversão, os Malfoy parecem levar a coisa bem a sério!

—O que é Apis Dourada, senhor Malfoy? – Louise perguntou toda educada, tentando encontrar o aroma picante da bebida. – Eu só consigo sentir cheiro de compota, como Tony...

Apis Dourada é um mel misturado com o veneno das abelhas africanas que o produz, usado na fabricação de algumas bebidas mágicas no Novo Mundo. – Que Scorp saiba desse ingrediente só o torna ainda mais estranho! E não, não sou invejoso, eu sei muita coisa sobre bebidas também!

—Eu só sinto um cheiro ferroso, tipo sangue! Como se tivesse algo errado com toda essa doçura! – Senhor Malfoy me olhou com um renovado interesse, depois de eu ter irritado todo mundo por ter meio que ofendido uma tal senhora Nott, dizendo que ela não deveria saber fazer nem um Leviosa com toda a pureza do sangue dela.

O pior de tudo não foi nem eu ter dito que ela era ruim de feitiços, o que provavelmente é verdade pelo nível dos feitiços de beleza que ela tentou usar na cara, e sim por eu ter falado “puro-sangue” na mansão Zabini. Aparentemente assuntos relacionados com sangue bruxo viraram um tabu por aqui.

A avó de Scorp se inquietou e disse logo que ninguém ali se importava mais com essas coisas bobas e me fuzilou com o olhar quando eu perguntei o porquê da senhora Nott ter me perguntado se eu era dos Fabregas, sem acento mesmo, da França, descendente do grande bruxo Jean Fabre, se ela não estava interessada em saber do meu sangue então!

“Lamento, minha senhora, sou dos Fábregas da Espanha, trouxas até onde se tem notícia e que provavelmente mandaram alguns parentes seus para a fogueira da Santa Inquisição”. A Santa Inquisição parece ser outro tema delicado, porque o chato do senhor Zabini me convidou a ir encontrar com Tony na sala privada da família, onde me encontro agora avaliando uma bebida chamada Dama da Noite.

—Um palpite muito interessante, Sr. Fábregas, que tal testar se está certo em boca? – Scorp olhou surpreso para o pai e confesso que até mesmo eu estava em dúvida. Ele ia mesmo deixar a gente beber uma bebida alcoólica em teste que tinha como instrução de consumo “deixe decantar por pelo menos 6 horas antes de ingerir, afim de evitar queimaduras internas”? Meu pai não me deixa beber nem vinho, imagine isso! Mas não precisa falar duas vezes, senhor Malfoy. – Deixem a bebida preencher toda a boca, tocar todas as áreas da língua e só então engulam ou cuspam, o que sua consciência lhe disser pra fazer.

Se ele me conhecesse melhor saberia que deixar algo para a minha consciência decidir é no mínimo muito arriscado. Meus pais gostam de dizer que não afrouxam as minhas rédeas porque conhecem seu “gado”.

Todos nós demos um gole generoso e pelo menos eu tentei fazer o que meu pai sempre faz, guiar o líquido pela boca, para explorar todas as suas nuances. Era picante, tanto que os olhos lacrimejaram, mas ao mesmo tempo doce, com um leve gosto ferroso no final.

Engoli me preparando para sentir a ardência comum do álcool na garganta, mas apenas as mesmas pequenas picadas foram sentidas à medida que o líquido descia.

Uou. Isso é bom!

Olhei para os meus amigos e todos tinham engolido como eu. As bochechas de Louise estavam vermelhas e Tony engasgou levemente, mas se recuperou fazendo uma careta misturada com um sorriso. Scorp foi o primeiro a se pronunciar.

—Pai, isso é muito legal! – Senhor Malfoy deu risada da expressão encantada do filho. Eu acenei com a cabeça, apoiando a opinião.

—É doce, mas equilibrado e... Não senti muito o gosto do álcool, senti algo diferente! – Louise completou, ainda com o rosto afogueado pela bebida.

—O álcool é mascarado pelos venenos. – Eu arregalei os olhos automaticamente. VENENOSSSSS? Esqueça meus problemas com o pai de Tony, Draco Malfoy ganhou o prêmio de bruxo mais louco da história! – Calma, estão praticamente neutralizados a essa altura.

—Praticamente? – Tony perguntou assustado e com razão! – Que outro veneno tem aqui além do das abelhas?

—Não espera que eu vá revelar o segredo da minha bebida, não é? – Inacreditável! Nem saberei o que dizer aos médicos quando for parar na emergência... – Sentiu o gosto ferroso, Sr. Fábregas?

Fiz que sim com a cabeça e dei mais um golinho na taça, só para confirmar o veredicto. Dane-se, se for para morrer, ao menos que seja com coragem! – Mantenho minha opinião inicial, o senhor colocou sangue de alguém aqui.

Ele sorriu, um sorriso muito ladino para meu gosto.

—Talvez...

***

Voltamos para casa lá pelas 3 da manhã, só para levantar algumas horas depois e voltar para a cinzenta Grã-Bretanha, dessa vez com destino à Toca. Deus me ajude, esse ano mal começou e já está indo ladeira abaixo.

Resolvi que iria aceitar a sugestão de Scorp, farei um voto de silêncio em protesto contra essa visita estúpida à casa dos Weasley. Não falarei uma palavra e deixarei meus pais e Louise à vontade para explicar aos nossos anfitriões a razão da minha mudez. Maturidade? Não é esperada até que eu seja um velho caquético, lá pelos 30 anos...

Não temos uma lareira enorme que dá para comportar seres humanos, como a dos Zabini, mas aí está, não foi como meio de transporte que essas belezinhas foram pensadas, pelo menos não antes de Ignatia Wildsmith e seu pó de flu.

Tivemos que ir até a Calle Lope de Rueda de novo para viajar até a "Toca". Louise está animadíssima com a perspectiva e seria muito triste se ela apenas... Morresse. Ok, nada letal, já sei...

—Cesc, espero que va a mejorar esta expresión antes de que lleguemos allí. [Cesc, espero que você melhore esta expressão antes de chegarmos lá.]– Eu não respondi a minha mãe, que só para constar, não é adepta do "silêncio é a melhor resposta". – No me ignores! [Não me ignore!]

Eu dei o meu melhor sorriso falso, mas mãe é mãe e ela me olhou com suspeita. Meu pai me abraçou pelos ombros e cumpriu todas as etapas do "Vai ser divertido, você vai ver!". A negação é a chave do sucesso.

—Vamos a salir rápidamente, todavía tengo algunas cosas de un proceso para resolver... [Sairemos rápido, ainda tenho algumas coisas de um processo para resolver...] – Ele me disse, tentando aliviar o lado dele nessa arbitrariedade.

— ¡Oh, no, papá! Cesc puede tragar lo llanto y no tratar de arruinar mi vida por unas horas, no tenemos que ir a ninguna parte a causa de él. [Ah não, pai! Cesc pode engolir o choro dele e não tentar estragar a minha vida por algumas horas, não temos que ir a lugar nenhum por causa dele.]– Louise falou tudo de uma vez, como se tivesse ensaiado esse argumento, junto com o discurso de garota decente dela. Pobre espelho de Louise que teve que ouvir isso.

Finalmente fomos para frente da lareira antiga e levemente torta na loja de ferramentas para jardinagem mais esquisita da história. Como ninguém nunca desconfiou que essa loja era fachada? Se não para magia, pelo menos de drogas ou armas alienígenas, sei lá! As pessoas estão ficando muito crédulas e eu estou perdendo minha fé na humanidade.

Tive que dizer o endereço, abrindo uma exceção no meu voto de silêncio, essa é uma daquelas coisas que mais ninguém pode fazer por você, tipo as necessidades fisiológicas, já sabe, mas acho que nem Scorp poderia me julgar...

Quando sai na grande sala de estar bruxa, tão diferente da dos Zabinis, não pude deixar de notar a estranheza inerente a magia, me pergunto se serei excêntrico assim quando tiver minha própria casa...

Os quadros de várias gerações de ruivos nos olhavam, entre o curioso e animados e vários objetos, prêmios e certificados estavam apinhados naquele hall de entrada. Parecia muito com a descrição da sala precisa, mas quando a grande senhora com cara de mãe de todos entrou e começou a nos cumprimentar com um sorriso enorme, resolvi que não seria adequado fazer essa observação.

Hey, espera! Estou fazendo um voto de silêncio, não posso fazer observação nenhuma! Deus, isso vai ser muito difícil de manter, já estou até vendo...

A senhora Weasley veio falar comigo por último, falar é um jeito de colocar, na verdade ela me deu um abraço de urso, que quebraria as costelas de um urso de verdade! Quem diria que uma idosa teria tanta força? O que eu estou dizendo? Ela me lembra a minha avó Carlie, com seu cheiro de biscoitos recém feitos e cara de quem não aceita contra argumentações razoáveis "porque as coisas sempre foram feitas assim".

Minha mãe que o diga, até hoje a senhora Fábregas viúva invade e expulsa ela de sua própria cozinha, porque "Olalla ainda não aprendeu a cozinhar do jeito que meu menino gosta", melhor que ela viva no outro lado do país, né? Só minha vó Lali pode contra ela, duelo de titãs!

—Esse aqui deve ser Cesc, Lily me falou muito de você! Mas esperava que fosse mais jovem, da idade dela, quantos anos você tem?– Mantive meu sorriso simpático e a senhora Weasley manteve o dela, mas deu um olhar estranho para o restante de minha família, por causa da minha demora para responder, claro.

—Senhora Weasley, meu irmão está com um problema na voz hoje, nem perca seu tempo com ele.– Louise provavelmente sacou o que eu estava fazendo, afinal estou nisso desde que acordei, como alguém poderia não notar o meu silêncio?

—Está doente?– Ela perguntou, visivelmente preocupada e eu já ia fazer que não com a cabeça, mas meu pai foi mais rápido e respondeu seguindo a linha de raciocínio de Louise.

—Não é nada sério, apenas o frio que causa uma leve rouquidão. Cesc é um garoto muito propenso a esse tipo de coisa, não é, Cesc? – Não, mas eu fiz que sim com a cabeça, só para não perder o aliado. Ele me olhou de um jeito conhecedor, provavelmente pensando que sou muito propenso a fazer as coisas do meu jeito, o jeito certo, claro.

A senhora Weasley foi na frente nos apresentando a casa e seus cômodos, um mais exótico do que o outro. Falando dos porquês, para quês e quando foram sendo adicionados no desenho original da propriedade. Minha mãe não estava conseguindo disfarçar a cara de confusão em relação à como essa casa se mantinha em pé com ângulos tão absurdos e ao mesmo tempo parecia ser uma pessoa de tão cheia de presença que era.

Eu entendi o porquê do nome Toca agora, era o aconchego em forma de prédio torto.

Saímos do lugar e fomos para os jardins onde uma tenda estava montada. Bem, aí estão os Weasley e seus amigos mais íntimos. Parecia que ninguém tinha ido para casa depois do Ano Novo com "umas 100 pessoas", mas podia ser apenas impressão, porque estavam todos falando ao mesmo tempo.

Lily saiu correndo e me abraçou eufórica, me desejando feliz Natal, Ano Novo, Páscoa, Aniversário e tudo que vinha na sua mente, eu dei risada da maluquice.

—Não acredito que você veio!– Eu fiz que sim com a cabeça, me permitindo dar todos os meus sorrisos sinceros à ela.– O que foi? Por que não fala nada?

Dei de ombros e a abracei de lado. Rose Weasley se aproximou e manchou levemente a sinceridade do meu sorriso.

—Fábregas, que surpresa... Agradável.– Meu sorriso ficou um pouquinho menos sincero agora. Quem eu estou querendo enganar, ele nem sequer se enquadra na categoria sorriso mais. Aquele silêncio bizarro se prolongou outra vez, mas Weasley não é tão simpática quanto a avó. –Que diabos há de errado com você?

Eu revirei os olhos e graças à Deus Pottinha me rebocou dali, antes que Rose Weasley começasse com seu interrogatório inútil para seu jornal ainda mais inútil.

—Ok, já percebi que está de palhaçada hoje, não me importa, eu uso essa técnica sempre com papai, geralmente ANTES de ter que fazer as coisas que eu não quero, mas tudo bem.– Ela falou tudo isso com um sorrisinho astuto, que me deixou orgulhoso da sua mentezinha ardilosa. – Soube que esteve com Tony e Scorp ontem, vocês aprontaram muito?

—Péssima escolha de palavras, Lily! Claro que aprontaram!– Albus me cumprimentou da mesa, disfarçando bem a nossa amizade, usando o jeito "corta falas" patenteado pelos Potter, não que eu fosse falar algo de qualquer forma.

Me sentei com eles, na mesa ainda tinha Fred II, sua irmã e uma menina engraçada, provavelmente amiga de Lily, porque tinha uma sobrancelha levemente arqueada pra mim.

—Você é o nosso capitão.– Não diga. Percebi tardiamente que não era uma pergunta e sim uma constatação, que pelo menos serviu para confirmar que se tratava de uma Sonserina. – Sou Melanie Stone, mas pode me chamar de Lena*.

Ela estendeu a mão, a qual eu apertei, com a minha melhor cara de dúvida, uma derivação estranha do nome esse apelido. Lily esclareceu, como a boa menina que era.

—Temos mais duas Melanies na turma, então tentamos chamar Lena de Elena, seu segundo nome, mas ela diz que é como seu avô chama sua avó e isso é muito estranho, então, só Lena.– A explicação foi mais longa que o próprio motivo do apelido, mas eu fiz um gesto de entendimento, porque sei o que é ter um segundo nome homenageando o avô. Ao menos o meu está morto.

Isso soou horrível, que Deus o tenha!

—Então Capitão Fábregas, como se sente numa casa tão grifinória? – A garotinha morena com sua cara de boneca que acorda no meio da noite e mata você com a sua linda fita azul de cabelo, me perguntou em um tom bem sonserino. Felizmente Lily me poupou do trabalho de responder.

—Ele está fazendo greve de silêncio!– Ela sussurrou, mas bem que poderia ter gritado, porque todo mundo na mesa ouviu. Lena fez uma expressão de "te entendo, cara" que só me deixou mais infeliz. Aparentemente tenho a maturidade de garotinhas de 11 anos.

—Eu ouvi voto de silêncio? – Estava demorando. James Potter puxou uma cadeira perto de Lily, que eu honestamente não sei porque estava vazia. – Então Santa Claus realmente existe e meu principal desejo se realizou.

—O meu também, porque Cesc está aqui.– Lily falou com um tom raivoso que fez com que Potter fechasse a cara automaticamente. Eu sorri com todos os dentes, animado com a defesa ferrenha da minha ruivinha querida.

—Fábregas, vai nos brindar com sua adorável presença, mas não com sua voz de gnomo engasgado? Magoou!– Ele disse em seu típico tom provocativo, mas nem está sendo difícil ficar calado, a não-resposta pode ser bastante irritante também.

Os outros componentes da mesa voltaram a conversar entre si, até Pottinha, que estava travando uma conversa animada sobre a grande possibilidade de ganharmos a Taça das Casas, caso a gente vença o jogo contra a Corvinal.

Me mexi desconfortavelmente na cadeira, me encostando mais, a mera ideia de ter que reavivar o acordo desonesto que fiz com Haardy me deixando mal. Agora já sei o plano dele. Ele vai usar alguma poção no time que fará com que a gente pareça bebês em vassouras de brinquedo e isso tiraria meu sono se eu não dormisse como uma pedra!

Preciso achar o fornecedor deles antes que isso aconteça. Não temos provas, não temos nada que sustente nossa história ainda, então vamos sabotá-lo.

—Não precisa ficar tão intimidado. Se fosse para apostar...– Potter falou baixinho, se inclinando para trás na sua cadeira, lançando um olhar suspeito para Weasley II no outro lado da mesa  –Eu apostaria na Sonserina contra a Corvinal. Vocês são melhores.

Não agradeceria esse voto de confiança nem se estivesse em posse da minha voz, porque ela está psicologicamente indisponível hoje. Potter é tão estúpido, interpretou meu desconforto como medo de Haardy! Tenha dó, vai ser obtuso assim lá na Torre da Grifinória!

Finalmente a hora do almoço chegou e o que tem de Weasley no mundo tem de comida boa nessa mesa, eu poderia morrer em paz aqui!

—É bom, não é? – Lily falou divertida enquanto terminava de mastigar um pedaço de peru muito grande para sua boca, eu fiz que sim, enquanto tentava decidir se ria ou se engolia a minha própria comida. Infelizmente meu corpo escolheu por engasgar.

Não precisaria da manobra Heimlinch, de jeito nenhum, mas Potter tentou usá-la mesmo assim e se eu pudesse usar minha varinha, ele teria recebido mais do que um empurrão e um olhar de ódio mortal.

—Seu ingrato, estava só tentando ajudar!– Ele falou rindo, mas a avó dele o repreendeu, lembrando que eu estava com a garganta inflamada e que por isso eu tinha engasgado. Obrigado por me arranjar uma desculpa, senhora Weasley!

Voltamos para mesa, Potter ainda rindo com a sua risada que parece a de um fazendeiro que pega as pobres ovelhinhas de uma maneira não permitida pelas leis dos homens e nem as de Deus. Estou terminando meu curso de identificação criativa de risadas, rum.

Voltei a comer minha comida, já que não posso respondê-lo como merece e recebi como prêmio Rose Weasley se esgueirando para nossa mesa, já muito cheia, devo dizer.

—O pessoal lá tá muito chato, com seus namoricos e tom de voz melosos...– Ela justificou sua chegada e se eu pudesse dizer algo, diria "Devia manter em segredo o fato de que é uma eterna vela!".

—Bem vinda à mesa dos encalhados, prima!

—Fale por você, eu tenho namorada...- MERDA! Dei um murro na mesa, mas na verdade queria socar a cara de Albus por ter me feito quebrar meu voto de silêncio. Meu pecado capital é o orgulho, eu sei! Não podia ter deixado essa passar? Se ferrar, hein, Cesc?

Todos na mesa riram do meu desgosto, até Lily e Lena, que supostamente deveriam ficar do meu lado como boas sonserinas.

—Quantos minutos durou esse voto? Provavelmente o mesmo tempo que essa menina que topou sair com você vai levar para entender o erro que cometeu! – Potter falou ainda rindo e esperando por uma resposta que não viria.  –Quem é ela?

Vai ficar na curiosidade, seu seborrento!

—Vamos, Cesc, conta!– Lily implorou enquanto sacodia a manga da minha roupa. Não vou contar! –Você já estragou o voto de silêncio mesmo!

Bebi meu suco e dei um sorriso de canto arrogante à ela. Pois não vou contar, morram de curiosidade todos vocês! James levantou subitamente e gritou, chamando a atenção de toda a festa.

—LOUISE, QUEM CESC TÁ NAMORANDO?

Ela largou Longbotton para responder, com as mãos juntas na frente do peito, como se a ideia fosse muito adorável para ser colocada em palavras.

—Com Claire! – Ela disse com uma cara de "Nhon, tão fofos que quero mordê-los"

Vá se danar, Louise! A pessoa não pode nem instigar um pouco de curiosidade em paz? As mães começaram a travar uma conversa estúpida sobre como os bebês crescem rápido e como é difícil abrir mão deles para as noras.

Saco.

Chega perdi à vontade de repetir a torta de abóbora que estava uma delícia, realmente. A quem estou querendo enganar? Nunca me perdoarei se não comer mais um pedaço dessa torta divina!

Mas ainda estou chateado, só pra constar!

***

Depois dessa ceninha, os “jovenzinhos” resolveram entrar para conversar em uma das salas e fazer coisas “que essas crianças de hoje em dia adoram ficar fazendo”. Sim, estou imitando a senhora Weasley, me julguem!

Potter sugeriu jogarmos Verdade ou Consequência e eu apenas me abstive de fazer qualquer comentário sobre o nível de clichê dessa cena toda, os grifinórios não tem um só osso criativo no corpo.

Sentamos em uma sala aconchegante, que parecia ser mais da família do que de visitas e Weasley II apresentou uma garrafa enfeitiçada para o jogo. Eles provavelmente já sabem todos os segredos um do outro, então eu só topei entrar nessa, para dar um pouco de diversão à eles, essa é minha boa ação do ano, fim.

Sentamos em círculo, eu realmente desejando que alguém tirasse de uma gaveta esquecida um velho tabuleiro Ouija, dá para imaginar quantos milhões de Weasley fantasmas revoltados devem ter por aqui? Tio Draco brinca que a pobreza costumava ser a marca registrada deles e agora que estão bem de vida, infelizmente perderam a identidade e os ancestrais não podem estar achando isso bonito.

—Lily, Hugo e Lena não vão participar. – Autoritário e com um falso senso de responsabilidade, quem será, meu Deus?

—Isso não é justo, James! – Pottinha e a amiga fizeram biquinho pra ele, mas já sabem como o cara é intransigente e irredutível, né?

—Meninas, vocês podem assistir! – Potter me olhou pronto para argumentar contra. – É bom que vocês vão regular o nível da conversa e acreditem, assistir é bem melhor do que participar.

—A gente vai ser sempre novo demais para James... – O outro Weasley que eu não sei qual é reclamou também.

—Vocês três podem ser meus assistentes, vão me ajudar a bolar as melhores perguntas. – Os três primeiranistas ficaram animados. Tá vendo como eu levo jeito com crianças? – Podemos começar agora.

—Ok, vamos começar. – Potter colocou a garrafa no meio do círculo e ela parou em Rose Weasley respondendo à Frank Longbotton. Oh, céus, isso vai ser muito... Chato.

—Verdade ou consequência, Rosinha?

—Verdade. –Rose respondeu mal humorada para um folgado Longbotton deitado com a cabeça apoiada no colo da minha irmã.

—Então, Rosinha... Qual o nome do cara da Sonserina por quem você tem uma queda? – Opa, opa, opa! Rose ficou vermelha e Louise deu um tapinha reprovador no braço do namorado, que apenas se aconchegou melhor, rindo. Ele subiu alguns pontos na minha escala.

—Eu não... Eu não tenho uma queda por... Atualmente eu não tenho uma queda por ninguém! – Ela completou de um jeito que me deu até pena. Hahahaha, até parece!

—Como assim, Rose? Até semana passada você estava escrevendo senhora Rose Duss... – Weasley está desperdiçando seu talento como artilheira porque a força e velocidade com a qual ela jogou o enfeite de mesa brega na forma de um dragão em Albus foram impressionantes!

—Oucht, Rose! – Ele massageou o peito, fazendo uma careta. – Só estava dizendo a verdade!

—A pergunta não foi para você! – Ela falou raivosa e ainda muito vermelha.

—Então responda logo, Rose. – Eu olhei interessado para a ruiva afro perto dela, que olhava Albus com um olhar irritado.

—Enrique Dussel, eu tinha uma quedinha de nada por ele. Pronto! Satisfeitos? – Weasley cruzou os braços e voltou a se ajeitar enfezada na poltrona.

—Que mal gosto... Dussel é um babaca! Achei que você tinha uma queda por mim! – Falei quando Potter já estava colocando a garrafa para girar de novo. Rose Weasley me olhou com horror.

—Eu afim de você? – Eu dei risada e as minhas cobrinhas de estimação me acompanharam. – Eca! Mil vezes eca!

—Com Dussel quebrador de corações você não tem problemas, né? Pergunte a sua prima ali quão horrível ele pode ser... – Apontei a cabeça para a loira francesa que encarou a família constrangida. Ops.

—Err... Eu... Vous non estava em um voto de silence? Por quoi non volta parra ele, son serpent nojenta? – Ui, ui, ui, a francesinha tem garras! Eu aqui tentando travar um bate-papo legal e sou tratado assim, tá vendo, Louise, que eu tento?

—Ok, ok, pessoal! Fábregas pergunta à Fred. – Potter anunciou tentando evitar a minha réplica, sem sucesso.

—Na hora de entrar na Sonserina escondida você segurava essa sua língua venenosa... – Ela ia levantar para esbravejar comigo, mas eu fui mais rápido. – Não siga os passos dela, Rose, se ele não te...

—Já chega, Fábregas! Pergunta logo! – Potter levantou a voz. Franzi o cenho para ele, mas resolvi acatar a sugestão.

—Verdade ou consequência? – Perguntei entediado e Weasley segundo me olhou fazendo cara de medinho falso.

—Verdade, não quero acabar fazendo algo horrível, tipo andar na neve pelado. – Droga, isso teria sido uma consequência muito legal!

Espera, Cesc! Fred Weasley II é um grande fornecedor de bebidas e outros materiais... Se tem alguém que pode saber ou até mesmo SER o tal do fornecedor de poções de Haardy, esse alguém é esse cara que paga de santinho para todo mundo, mas na verdade é o maior muambeiro de Hogwarts.

—Então, Sr. Segundo... Qual é o pior produto ilegal que você vende em Hogwarts? – Ele me olhou surpreso, depois olhou para a porta tentando ver se não tinha nenhum adulto espiando o nosso jogo. Falso.

—Que merda é essa, cara? Que porra de pergunta é essa?

—Fred! – Potter falou como se estivesse tentando poupar os ouvidinhos inocentes da irmã. Coitado, se ele soubesse o que ela ouve na Sonserina...

—É uma pergunta legítima, apenas responda. – Ele respirou fundo, me olhando com raiva, mas respondeu mesmo assim.

—Feijõezinhos de todos os sabores adulterados. – Ele respondeu sem vontade.

—Filho da mãe! – Lena esbravejou, acusadora. – Comprei cinco pacotes na sua mão ontem! Que tipo de ser humano engana uma pobre garotinha sem nem hesitar?

—Eu vendi os bons para você! – Ela cruzou os braços, cínico. – Sabe que eu não te enganaria, Leninha. Você é a única Sonserina que eu gosto... Além de Lily, é claro!

—Corta essa, Weasley II! Feijõezinhos é o pior que pode fazer? – Falei irritado com o nível de cara de pau do garoto.

—Desculpa se não vendo o tipo de produto ilegal que vocês do time da Sonserina estão acostumados... – Filho da puta! Levantei para tirar satisfação com esse otário, uma coisa é insinuarem qualquer mentira sobre a minha Casa pelos corredores, outra bem diferente é falar isso na minha cara!

—Senta, Fábregas. – Potter falou olhando seriamente para o primo. – Não tem porque baixar o nível, certo, Fred?

Ele fez que sim com a cabeça. Só faltava pedir uma desculpa mal criada para o papai Potter. Essa família é patética mesmo. Sentei apenas porque Lily me puxou de volta para o meu lugar.

—Foi uma boa pergunta. – Ela me disse dando tapinhas nas minhas costas. – Mas da próxima vez você vai perguntar a gente antes de abrir esse seu bocão. – Lena concordou com a cabeça, duas praguinhas essas que eu arranjei como consultoras.

—Ok, próximo par: Albus me pergunta. – James deu um sorrisinho para o irmão caçula.

—Verdade ou consequência, bro? – Alvo perguntou largado com uma das pernas por cima do braço do sofá. James revirou os olhos e disse “verdade”. – Como você é frouxo, Sirius!

—Consequência então, Al. – Como James é besta, Albus o tem na palma da mão!

—Que difícil, irmão. Que tal... Você ir até o Tio Rony e perguntar a ele como faz para engravidar, diga que esse sempre foi o seu sonho. – James arregalou os olhos e eu engasguei com minha própria saliva, meu Deus, Albus  é ridículo! Hahahahaha

—Albus...

—Você pediu consequência! – Ele falou já rindo da cara do irmão, como uma boa criatura rasteira que é. Como esse garoto não acabou na Sonserina?

—Tem que ser o tio Rony? – James perguntou se encaminhando para a porta como se tivesse se encaminhando para a forca.

—Pode ser para o tio George também... – Todos nós rimos da cara que o Potter mais velho fez. Saímos atrás dele, mas Albus nos parou para não estragar a peça.

Rony Weasley sorriu para o sobrinho com uma taça de gin de duendes na mão, mas a expressão dele foi se fechando, as orelhas ficando vermelhas e o rosto todo seguindo, vermelho tomate como a filha esteve a alguns minutos atrás.

—HARRY POTTER, VENHA OUVIR A LOUCURA QUE SEU FILHO ESTÁ ME PERGUNTANDO!– James correu de volta para sala e trancou a porta, rindo também.

—Meu Merlin, meu pai vai me matar por ter feito tio Rony dar um ataque de pelanca... De novo!– Albus fez um “legal, cara” com a mão e todos nós voltamos para os nossos respectivos lugares.

—Vamos girar essa budega... Ah, fala sério! Eu de novo não! – James Potter começou ele mesmo a dar um ataque de pelanca. – Essa merda tá adulterada!

Queria que esse jogo estivesse acontecendo com todos nós bêbados, imagina o quão pior isso seria! Essa família patética é um prato cheio para gorilas estelares ao invés de micos!

—Dominique me pergunta...- Potter disse conformado e a vaca francesa bateu palminhas feliz.

—Verdade ou consequência?

—Verdade, eu aprendi minha lição, nenhum de vocês vale o ar que respiram! – Albus levantou uma taça imaginária e todos nós brindamos à isso. Quem presta nessa vida? Nem Pottinha...

—Ce qui foi a maiorr loucurra que vous fez porr um “crush”? – Ela provavelmente se lembrou do constrangimento de sair do vestiário da Sonserina aos sons de gritos provocadores. Sério, qual é a poção do amor que Dussel tá usando? James mordeu a boca tentando lembrar. Isso seria meio difícil, levando em conta as milhares de garotas com quem ele já esteve, ou ao menos afirma que esteve.

—Salvei uma vida. – Ok, eu gelei. Em meio a todos os pedidos por detalhes, Potter olhou para mim e riu, o muito sacana! Ele sabe que por mim o flerte bêbado dele pode ficar morto e enterrado, então por que diabos ele tá dizendo isso agora? – Nancy Stump precisava de crédito extras para Poções e eu fiz o trabalho pra ela.

—Ah, son idiota! Isso non é salvarr a vida de personne! – Dominique fez uma cara de brava até charmosinha se não fosse pelo sotaque francês. Não gosto muito de franceses.

—Claro que é! Fiz uma poção do zero em quatro dias que rendeu a ela um Ótimo de Bradbury! – Ele sorriu arrogante. – Salvei a vida dela.

Espera um minuto aí.

—Quer dizer que você é bom em poções, Potter? – Ele riu do meu jeito desconfiado e passou a mão pelos cabelos bagunçados, de um jeito irritante característico.

—Sou bom em tudo... Mas sou ÓTIMO em poções. – Albus  revirou os olhos e o restante da família fez comentários a respeito da arrogância dele, mas nenhum contestando a suposta habilidade em poções.

Então ele é um jogador medíocre, que de vez em quando tem alguns bons momentos.

Ele conhece todo mundo em Hogwarts.

Ele tem a influência do pai para livrá-lo de encrencas... O que eu estou dizendo? O processo de Dolman foi investigado por Ted Lupin, o maldito afilhado de Harry Potter! Não me admira que nenhum fornecedor tenha sido mencionado no processo, por que seria? O grande Harry Potter não sujaria sua imagem desse jeito, ele protegeria o primogênito...

—Filho da mãe...

—Disse alguma coisa, Fábregas? – O cara mais dissimulado que eu tive o desprazer de conhecer me olhou com aqueles olhos castanhos esverdeados, que faziam as meninas suspirarem.

—Não, Potter, eu não disse uma palavra. – Porque quando eu disser será seu fim, meu querido nêmesis.


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Notas finais do capítulo

*Sua homenagem Lena Stone, uma garotinha boba, que caiu na lábia de Fred II. Ela será recorrente, de nada.

Quem quiser uma homenagem tb é só falar!