Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 24
Capítulo 24. São só duas semanas, meu povo.


Notas iniciais do capítulo

Acho que preciso ser mais enfática, leiam o bônus de James. "Dá pra viver sem, tia LC?" Até onde eu sei dá pra viver quase sem tudo, menos água, comida e internet, mas ainda sim, é bom ter um outro olhar da história, só pra vocês verem que as coisas não são exatamente o q Cesc diz, na verdade quase nunca são. Tendo dito isso, leiam:

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— Tony, esse é provavelmente o pior plano que você já teve. – Ele me olhou ainda com um sorriso brilhante como uma luz de LED. Odeio luzes de LED.

—Sério, Cesc? Pior do que o plano do hipógrifo? – Scorp conseguiu uma reação mais adequada de Tony, que fechou automaticamente a cara.

—Me desculpe, mas devo dizer que o plano era excelente e teria sido perfeito se alguém não tivesse ficado com medo e gritado feito uma menininha! – Ele falou, olhando acusadoramente pra mim. Filho da mãe.

—Plano excelente? Dar frango para um hipógrifo e fazê-lo ficar doido com o canibalismo para atacar a Lufa-lufa é um bom plano onde? – Sim, amigos, Tony fez isso e me convenceu a participar. Em minha defesa devo dizer que o meu “eu” do primeiro ano não sabia que hipógrifos NÃO são descendentes de frango. E uns quintanistas lufanos estavam realmente pegando no nosso pé. E hipógrifos irritados são assustadores. E... E é isso, eu era jovem e idiota.

—Notem, por favor, que ele não se defendeu das acusações. – Tony se levantou da cama para falar com o seu tribunal imaginário.

—Anotado. – Scorp alimentou a fogueira da loucura do meu amigo retardado. – Tendo esclarecido isso, gostaria de saber onde você pretende encontrar uma namorada para fazer ciúmes em Louise, Tony?

—O que importa? Isso é tão ridículo... – Falei me dirigindo ao banheiro para escovar os dentes para dormir. Amanhã é a partida dos alunos que vão aproveitar o recesso de Natal e nesse exato momento estou começando a me arrepender do convite que eu fiz a Tony pra ir me visitar.

—Ridículo por que? Louise precisa ver o que estar perdendo e todo mundo sabe que um cara se torna um zilhão de vezes mais atraente quando está namorando. – Tony explicou, Scorp fez uma cara de “Isso sim é ridículo” e eu apenas fechei a porta do banheiro para não ter que ouvir esse tipo de coisa.

Tony se acha o cara mais criativo do mundo, devo dizer a ele que Hollywood infelizmente usa essa fórmula a séculos e em mais filmes do que deveria? Se eu assistir mais algum filme de garota(o) sai com um par para fazer ciúmes na pessoa amada e depois se descobre apaixonada(o) pelo ser humano usado, eu vou matar o Westhampton. Sim, ele porque daria menos processos e tretas, ninguém se importaria.

Falando em processos e tretas, saiu no Profeta Diário que será feita uma inspeção das instalações do Castelo para “atestar a segurança” de Hogwarts. Como não seria o Profeta Diário sem um monte de fofocas e suposições, eles já falaram até em fechar a escola e processar McGonagall.

As pessoas ainda se dão ao trabalho de ler um negócio desses.

As pessoas, leia-se eu, ainda se dão ao trabalho de ouvir Tony.

Sai do banheiro e dei de cara com o próprio fazendo flexões no chão, ele parou assim que eu me deitei na cama.

—Continuando e respondendo à pergunta de Scorp... – Tony falou e o aludido levantou a cabeça de um livro de Contos Romenos, livro esse com cara de péssimo, chato e romeno. – Não preciso procurar uma namorada, já tenho a garota perfeita: Tracy Harmond.

Quem?

—A garota que você costumava trancar no armário de vassouras da sua avó? – Tony apenas fez um gesto de “Detalhes” para um Scorp incrédulo.

—Quem?

—Ela e eu costumávamos brincar juntos quando crianças, bem, as nossas mães obrigavam a gente a brincar juntos, então eu a colocava no armário de vassoura. – Tony concluiu como se fosse a coisa mais normal do mundo. Eu olhei acusador para aquele valentão não reformado. – Ela passou a levar um livro e velas pra lá, acho que eu aumentei a cultura literária dela em 800%.

Scorp apenas meneou a cabeça para toda essa bestagem de Tony e voltou para o seu livro, mas infelizmente eu sou um pouco mais insistente.

—E por que diabos essa menina iria querer alguma coisa com você agora? – Questionei cético e ele apenas me olhou como se eu fosse um troll que havia perdido de ano na faculdade dos Trolls.

—Porque eu sou eu! – Aff. Chega, vou dormir. – E porque ela finalmente terá o que achou ser impossível e no momento em que Louise se der conta que pode ter isso também: Beonw, a gente casa.

—Boa noite, Tony.

—Isso é tudo que você tem a dizer, cunhado?

—Estou tentando salvar a sua dignidade. – Recebi uma travesseirada por isso. – Boa noite, Tony, durma com os Narguiles.

Sim, uma péssima ideia convidar Tony para o almoço pós-Natal, realmente.

***

Ontem depois que eu fui dormir, Tony continuou tomando nota do seu plano horrível de 3 partes: instigar, se aproximar e abocanhar. Eu não vou nem dizer o que eu penso sobre a última etapa. Já Scorp continuou lendo seus interessantíssimos contos até tarde, resultado: fiquei aqui sozinho no Salão Comunal esperando dar o horário do café da manhã, já que os dois ainda estão dormindo.

—Fábregas. – Habermas me cumprimentou da escada, enquanto organizava com magia seu malão para os elfos domésticos levarem para o trem. – Não vai para o café?

—Daqui a pouco. Agora só tem no Salão aquelas pessoas odiosas que acordam com bom humor matinal. – Ele soltou um riso de concordância pelo nariz e se jogou numa poltrona próxima. – Voltando pra Londres?

—Nah! Meu pai comprou uma nova propriedade na Cornualha e tem passado os últimos meses se preparando para começar a criar Megalodons, vamos passar as festas lá. – Olhei pra ele com pesar, que fim de mundo mais lazarento essa Cornualha é! Único lugar do mundo onde criaturas marinhas que deviam estar extintas ainda habitam... Ao menos ele vai ficar mais rico, ouvi dizer que estão pagando uma nota pelos dentes desse tubarão. Ele deu de ombros. – Quem sabe eu não acho o gigante Cormoran* das lendas?

—Boa sorte com isso. – Fechei os olhos, encerrando a conversa. Sem Quadribol meus assuntos com Romeo ficam bem limitados.

—Hey, Cesc. – Ele me chamou, então abri os olhos para encontrá-lo me encarando. – Esqueci de perguntar como você ficou depois do lance lá do Lago. Coisa bizarra, huh?

Suspirei cansado. É um jeito de colocar, Habermas.

—Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. – Ele olhou sem entender o ditado trouxa. – Estou bem, oficialmente curado do lodo nojento do lago.

Falei com um movimento amplo que englobava a nossa adorável vista do fundo do principal cartão postal de Hogwarts. Céus, olhar para esse Lago agora me dá arrepios! Mas eu e Habermas caímos num silêncio confortável, mesmo com a vista.

Estou com uma sensação de que estou esquecendo alguma coisa...

Olhei para trás para tentar ver se uma vistoria rápida no meu malão poderia me dar a resposta, mas os elfos já deram sumiço nas nossas bagagens. De qualquer forma não parece ser algo físico, o que é, Morgana? O QUÊ?!?!?

—Droga...

—Algum problema? – Habermas me perguntou distraído, parecendo que tinha voltado de uma viagem longa induzida por drogas... Ou álcool.

É ISSO!

—Romeo, preciso te perguntar uma coisa! – Ele olhou surpreso com meu súbito surto de energia. Só para piorar minha ansiedade algumas meninas começaram a descer dos dormitórios. – Preciso te perguntar uma coisa, hey, é sério!

Ele se distraiu com um par de gêmeas cheias de risadinhas e pernas compridas como o bom virjão de dente falhado que ele é. Agora eu posso falar isso, valeu, Lia!

—Habermas, aqui! Foco. – Estalei o dedo na frente dele e ele voltou o olhar pra mim entre o divertido e ofendido. – Preciso saber o que aconteceu com Streck na festa da Corvinal, algumas semanas atrás.

—Streck? – Ele me olhou estranhamente e se voltou para mexer na sua abotoadura de prata no punho esquerdo da capa de viagem. Que tipo de adolescente de 16 anos usa uma abotoadura? – Ele estava bêbado pelo que eu soube...

—E pelo que eu soube você o trouxe de volta para as Masmorras. – Ele continuou ajeitando a roupa, fingindo que não estava me ouvindo. Eu apenas me inclinei e apoiei meu queixo nas mãos e cotovelos nas pernas, como um menininho pronto para uma boa história. – Vamos, Romeo! Estou louco para ouvir essa história...

Romeo me encarou como se eu estivesse sendo inconveniente. Coisa que eu não estou, eu SOU.

—O que tem para saber, Cesc? Ele bebeu demais, passou vergonha e eu o trouxe para vomitar em frente a lareira, fim. – Só isso? Ha algo faltando aí.

—E quanto a briga com Haardy? O que você tem a me dizer sobre isso? – Ele deu de ombros, fingindo desinteresse. Já notaram como é ridiculamente difícil conseguir tirar qualquer informação de sonserinos? Às vezes parece que estou nadando contra a correnteza.

—Eles brigaram.

—Argh, já chega, Habermas! Ou me diz o que diabos está acontecendo ou eu faço questão de transformar sua vida num inferno assim que você botar os pés nesse castelo de novo! – Falei isso tudo tendo ficado de pé e tirando vantagem de estar olhando ele de cima. Mas como bom sonserino ele não aceitou minha ameaça como um lorde.

—Vai fazer da MINHA vida um inferno? – Ele me disse bravo, levantando e chegando perto pra me intimidar com sua altura de verdade. Droga, ele podia ser da altura de Lia que tava tudo certo. – Porque não vai infernizar a vida de Streck? Ele que continua fazendo merda e...

—Que merda ele fez? – Porra! Não devia ter interrompido. Ô mania infernal que eu aprendi com os Potters! Romeo apenas se afastou, passando a mão pela quase barba dele exasperadamente. Dois passos pra frente e um pra trás com os sonserinos. Sempre. – Desculpa, Romeo. Sério, só estou tentando entender...

Fiz a minha melhor cara de ser humano compreensível, quero dizer, acho que é essa cara que esse tipo de criatura faz, eu não saberia dizer. Ele me olhou em dúvida. Esperou alguns primeiranistas passarem antes de falar de novo.

—Costumávamos ser amigos, eu e Daniel, meio que unidos pelas circunstâncias, sabe? – Fiz que sim com a cabeça, mas não. Não faço ideia do que raios ele estava falando. – O pai de Dolman devia um favor para o de Daniel então...

Ele deu de ombros se jogando de volta na poltrona que estava antes. Voltei para o meu lugar também.

—Então, o quê? Ele colocou Daniel no time? – Perguntei, ele fez que sim com a cabeça.

—Na época eu era novato no time e os caras não eram legais com novatos, eu e Streck passamos a proteger as costas um do outro então. – Que coisa linda de se ouvir, o time da Sonserina era uma armadilha pronta para seus próprios jogadores, não me admira que hoje eu possa dançar até o flamenco na cabeça deles que eles me idolatram.

Ok, quase isso.

—Tá, mas onde Haardy entra nessa história? – Questionei focado. Ele voltou a olhar para as malditas abotoaduras, juro que eu vou arrancá-las e atirar na lareira se ele continuar fazendo isso. – Sério, Romeo! Eu ouvi umas 15 versões diferentes da história e todas elas diziam que Streck estava bravo com Haardy e ele estava apenas muito interessado em abafar o escândalo.

Mentira. Eu que cheguei a essa conclusão.

Romeo pareceu ver através do meu caô, porque ele revirou os olhos e não falou nada por um tempo. Eu não sou exatamente conhecido pela minha paciência, mas como essa criatura está se mostrando extremamente arisca hoje, eu darei tempo ao tempo.

Ok, o tempo acabou.

—Bora, Romeo, não estamos ficando mais jovens aqui. Desembucha! – Exigi, então ele soltou um suspiro cansado. Sim, eu estou cansado dessa conversa também.

—O que quer que eu diga? Daniel me largou de mão, começou a andar em “melhores companhias”, Dolman, Haardy e até o famoso Alex Baharov...

—O artilheiro novato do Appleby? – Falei impressionado e ele só acenou afirmativamente. Ouvi às vozes de Scorp e Tony descendo as escadas. Merda! Minha janela de tempo está acabando, Romeo não vai abrir o bico na frente dos caras. E as pestes não vão sair daqui como os bons fofoqueiros que são. – Ok. Habermas, aqui.

Fui rápido na mesa de estudos mais próxima e peguei um dos pergaminhos e penas que os elfos sempre deixam para os alunos menos preparados para a vida.

—O que está fazendo? – Romeo me perguntou em dúvida, ainda em sua poltrona, enquanto eu escrevia com pressa num pedaço de pergaminho que parecia ser mais velho que a diretora. Claro! Sonserinos gostam de pergaminhos feitos de papel Washi, produzidos artesanalmente no Oriente e não dessas porcarias de pergaminhos de papel “bond”. Sim, somos nojentos, já sei.

—CESC, cara! – Calado, Tony, calado. – Já estamos indo pro café, vumbora!

—Aqui, Romeo. – Tony me olhou da porta já se preparando para saber o que eu estava fazendo, como um cão perdigueiro. – Meu endereço, me escreva. Quero saber o resto dessa história, ok? Okay, Romeo?

Fui o mais enfático que o meu sussurro permitiu. Habermas tentou soltar a mão do meu aperto, mas eu não o larguei até ele confirmar.

—Tá, cara, relaxa! Eu vou te escrever... – Soltei a mão dele, que continuou me encarando como se eu fosse maluco. Talvez só um pouco maluco. – Vou te contar a merda toda e você mesmo decide o que vai fazer com essa informação.

—CESC! – Tony impaciente como uma noiva no altar estava acabando comigo.

—Por favor. Só não me deixe no escuro. Sabe que pode confiar em mim, não é?

Ele não respondeu. Não esperava que o fizesse de qualquer forma, sonserinos além de ariscos e nojentos, definitivamente não são idiotas.

***

—Velho, nós continuamos sem nenhuma pista aqui! – Scorp falou exasperado. Aproveitei a viagem de carruagem para Hogsmeade para atualizar os L.P.’s da conversa que tive com Habermas – Ficaram séculos conversando e tudo que você conseguiu foi uma promessa de uma carta estúpida?

—E você conseguiu o quê, seu loiro aguado? – Ele me olhou ofendido, mas mereceu pelo atrevimento. – Sério! Parece que só eu trabalho por aqui!

—Você é mesmo muito ingrato, seu fi... Oi, Lily! – Scorp mudou de expressão bem rapidinho, com a simples visão de Pottinha. Falso. – Já sabe com quem vai fazer a travessia?

—Isso soa como a morte. – Tony falou enquanto procurava sua futura namorada de mentirinha na multidão que se despedia na estação de Hogsmeade. Ele já tinha parado de prestar atenção na conversa a muito tempo. O que me consola é que Tony não vai encontrar ninguém com tanta gente se despedindo como se estivessem indo para guerra.

São só duas semana, meu povo!

Scorp revirou os olhos como bom sacana que é.

—Vai ficar com seu amigos primeiranistas, com a gente ou com sua família? – O loiro aguado falou enquanto segurava nos ombros de Lily, quase como uma despedida antecipada.

—Não acho que tenha uma cabine grande o suficiente no mundo para toda a família dela. – Falei apenas porque sou desagradável e não quero perder o hábito, mesmo no Natal. Lily respondeu diretamente pra Scorp, mas olhando pra mim.

—Vou com minha família, mas antes de ir queria me despedir de vocês... – Awn, que gracinha. – E convidá-los para o Reveillon na Toca!

O QUÊ?

—O QUÊ? – Tony leu minha mente, subitamente afastado de seu ridículo plano. – Ficou doida, Lily? Tenho quase certeza que tem um feitiço anti-nós na porta da sua casa!

—Esqueça os feitiços de proteção! Malfoy nenhum entra em um lugar com o nome de “Toca”! – Lily olhou magoada para Scorp, mau jeito, cara. Apesar de ter que concordar. Depois não querem que a gente faça piada com Weasleys se reproduzindo como coelhos...

—Lily, de onde tirou essa ideia, querida? – Falei a puxando para um abraço de lado. Ela fez biquinho. – Dá pra imaginar o inferno que seria a gente e seu irmão mais velho no mesmo ambiente?

—Na verdade, a ideia foi minha, Fábregas. – Mas que porra é essa, Merlin?

Me virei lentamente para encarar um James Potter se protegendo do frio esfregando as mãos em ridículas luvas vermelhas e amarelas. Breguice dói, fato.

—Posso saber por que você não está querendo chegar no ano seguinte? – Perguntei confuso. Ele sorriu enigmaticamente enquanto soprava nas próprias mãos para aquecê-las. – Sério, Potter, que ideia mais descabida...

—Não é descabida! É uma festa para uns 100 convidados... Sua irmã vai. – Ele disse divertido. Não gosto do Potter divertido. O que ele acha que está fazendo? Não recebeu o memorando? A trégua pós quase-morte acabou!

—Ela PENSA que vai. – Eu disse, apenas porque é óbvio. Meus pais nunca deixarão Louise passar o ano novo fora. – E o frio deve estar mesmo congelando seu cérebro se acha que qualquer coisa que Louise faça influenciará em minha decisão!

—Lou vai? – Tony falou como se não tivesse escutado nada do que eu disse. – Nesse caso...

—Nesse caso, obrigado pelo convite, mas não! Já temos planos. – Disse rápido antes que Zabini fizesse uma besteira, ele não me contradisse, ainda bem. Levaria um soco se falasse algo.

—Bem, Lils, eu tentei! – James deu de ombros, se fingindo de chateado. Péssimo ator se aquele sorrisinho de canto diz alguma coisa. – Que tal tentar Varvara e Melanie? Acho que elas são companhias mais adequadas de qualquer forma.

—Acho que sim... – Lily olhou meio decepcionada pra gente, mas o que eu posso fazer? – Vocês vão me escrever?

—São só duas sem...

—Claro, Lily, escreveremos. – Scorp me interrompeu. Todos olhamos para o trem que estava soltando o seu último apito, já com as caldeiras bem aquecidas. – Bem, boas festas, caso a gente não se veja mais, mocinha.

Ele completou educadamente. Potter apenas correu para entrar no trem atrás dos amigos, sendo mal-educado como sempre. Lily, por outro lado, se despediu de todos nós parecendo um pouquinho mais conformada. Bem, era meio óbvia a nossa resposta ao convite dela, não?

Sim, com certeza.

***

Eis o que eu sugeri ao mundo: chega de cartas de Cassandra, que mais fazem mal do que bem para os relacionamentos. Sério, Scorp até agora está vermelho tomate de raiva porque Rebeca estapeou ele. Vejam bem, não estou do lado de ninguém apenas do meu, porque:

Rebeca é uma péssima jogadora, extremamente apressada e desleixada, o que faz com que o jogo acabe antes da hora. Não poderia julgar ninguém por se irritar com ela, mas o fato é que...

Scorp é um filho único mimado, diferente de Tony que parece que nasceu no meio da esbórnia que deve ser uma família com 16 filhos, tipo os Weasleys, logo ele, Scorp, não Tony, não gosta de dividir, ele não sabe interagir com pontos de vistas diferentes, verdade inegável, logo...

Vê-los brigando é tão divertido, que eu só não trago a pipoca porque não quero ser taxado de deselegante.

Fim dos meus porquês.

—Ok, que tal jogarmos um jogo com essas cartas? – Peguei minha insipida coleção de cartas dos bruxos famosos que vem nos sapos de chocolate. É insipida, mas limpinha. Rum.

—Jogar o quê? – Scorp falou meio fazendo biquinho e manha, como um garoto de 4 anos emburrado. Rebeca bufou irritada e cruzou as pernas, dando as costas a ele.

—É um jogo simples, a gente segura a carta na frente da testa e vai pedindo dicas a respeito do personagem. Só vale pergunta de sim e não e quem adivinhar o bruxo que “é” primeiro, ganha! – Tenho uma plateia muito difícil, meus três melhores amigos me olharam nada impressionados.

—Esse jogo é muito besta. – Tony disse, cruzando as pernas, tentando imitar a voz de Rebeca de uma maneira caricata.

—VOCÊ é muito besta. – Retrucou a enfezada homenageada. Devo dizer que ela está certa, Tony é o último ser vivo da Terra que pode reclamar da bestagem de alguma coisa.

—Ok, eu topo. – Scorp falou resignado, falta menos de uma hora para o fim da viagem, queriam que eu sugerisse o quê? Um jogo de tabuleiro tipo WAR? Seria adequado, pensando bem...

—Eu aceito, mas se eu ouvir algo que não esteja diretamente relacionado ao jogo, eu vou azarar o engraçadinho. – Rebeca colocou a mão em cima do lugar onde sua varinha deve estar guardada, fazendo valer seu ponto.

—Se não pode fazer graça, qual a GRAÇA? Eu tô fora, por causa dessa arbitrariedade, mas também porque preciso falar com minha namorada, então... Com vossas licenças!

—Sua o quê? Desde quando está namorando, Zabini? – Rebeca falou de uma maneira desdenhosa que imitador nenhum pode reproduzir.

—Awn! Eu sei que você queria ter meu corpo nu na sua cama, mas agora você perdeu a chance, querida! – Rebeca olhou indignada e provavelmente enojada para esse comentário de Tony, a torção da boca revelando muito.

—Não se preocupe, Wainz! É uma namorada de fachada, ainda pode ter o corpo dele nu na sua cama, se quiser...– Scorp completou a fala de Tony, com um sorrisinho de lado típico dele. Provocativo. Estranhamente Scorp nunca é indiferente a Rebeca, mesmo que seja uma ocasião que pediria uma “ignorada 9.000” da parte dele.

—O que eu quero mesmo é a sua cabeça servida numa bandeja de prata, pedirei a Santa Claus exatamente isso esse ano.– Ela disse inesperadamente mais animada com a perspectiva de travar outro embate ridículo com Scorp. Ou de ganhar a cabeça dele como presente, sei lá!

—Vai receber carvão na sua meia, por ser uma garotinha tão intragável o ano todo. – Scorp disse mantendo o mesmo sorriso de antes. Tony revirou os olhos, vendo que já tinha perdido a atenção dos dois e ia saindo da cabine quando eu o parei.

—Hey! Não pode me deixar sozinho com esses malucos! Haverá mortes! E eu provavelmente serei o assassino... – Ele me olhou de cima como se ele soubesse melhor.

—Você vai ficar bem, não se preocupe. – Me disse com o mesmo tom da Curandeira Bodernave e nós já vimos o quão bem o uso desse tom acabou pra mim das últimas vezes.

—Nós fomos os escolhidos para cuidar deles e não deixá-los se engalfinharem como dois cães sarnentos! – Scorp e Rebeca se aprumaram melhor na cadeira, sincronizados, com um fora de lugar sentimento de ofensa. – Você não pode me deixar aqui sozinho!

—Veja bem amigo, o “eu” cabe dentro do “nós”, mas o “você” não cabe e hoje eu sou o “você”, então, tchau. – O quê? Tony caiu fora depois dessa análise gramatical do uso dos pronomes extremamente capenga.

Minha cara passou do “confuso” para o “resignado porém terá volta, seu bastardo!”.

Não deu nem tempo de começar o nosso novo e “provável fonte de brigas”, jogo de cartas, porque minha irmã entrou tempestuosamente pela porta. Pela janela teria sido mais adequado para esse urubu.

—Como assim eu não vou passar o Ano Novo na casa dos Weasleys? – Ela abriu a porta tão forte que bateu na parede e fez um barulho que ressoou pelo corredor. Depois eu que sou o dramático.

—Você quer dizer a “Toca”?– Scorp fez aspas com as mãos, que dessa vez eu gostei apenas porque irritou Louise. Ela o olhou seriamente e fez simplesmente o sinal de “agora não” pra ele. Eu ri.

— Você não sabe disso, Cesc! Eu ainda não pedi e nossos pais...

—Só antecipei a resposta, não sabia que era segredo. – Disse o mais cinicamente possível, enquanto me ajeitava mais confortavelmente no banco para a apreciar o espetáculo.

—Você não sabe disso. – Repetiu como se eu não tivesse ouvido da primeira vez.– Acho que nossos pais ficariam muito satisfeitos de saber que fui convidada para a festa de um herói de guerra pelo filho de outro herói de guerra.

Ela concluiu com as mãos na cintura, toda arrogante. Estranhamente Louise deu uma olhada ao redor da cabine quando disse a última frase, como se procurasse alguma coisa... Ou alguém.

—Pois é muito mais impressionante o que a gente fez: recusamos o digníssimo convite para a “festança na Toca, uai!”. – Fiz um sotaque caipira admirável que fez Louise me olhar com um desprezo renovado. Imaginem um espanhol falando inglês com um sotaque caipira: perfeição.

—Você é patético! Quem te convidaria para qualquer coisa? – Ela me olhou, não levando fé na minha história. Minha, querida, eu não preciso mentir para ser superior, obrigado, de nada.

—James Potter em “serumanisse” me fez o convite. – Rebeca me olhou em dúvida. – Em pessoa! James Potter em pessoa me fez o convite.

—James? A troco de quê? – Ela me perguntou, finalmente cogitando a ideia de que eu, talvez, quem sabe?, estivesse falando a verdade.

—A troco de bala! – Rebeca levantou de supetão, quase pagando calcinha com o movimento brusco, eu e Scorp olhamos esperançosos para ver alguma coisa, mas ficamos no “quase” mesmo. Não nos culpe, Rebeca faz isso pra nos provocar, todo mundo sabe! – Já cansei dessa conversa, Fábregas. Pode cair fora!

—Não seja ridícula, não vou a lugar nenhum só pela força da sua vontade. – Louise disse cruzando os braços, pronta pra briga.

—E pela força da vontade de dois? Rola? – Scorp levantou e meio que se posicionou entre as duas, conseguindo dar um tom brando a uma clara declaração agressiva. Ele fez no velho tom de “Por favorzinho”.

—Faça três. Desculpa irmã, mas você não é mais bem vinda aqui! – Dei um tchauzinho infantil à ela.

—Irei porque eu quero e a propósito... – Ela olhou Scorp de cima a baixo como se estivesse avaliando se valia mesmo a pena gastar seu inglês. – Diga a Zabini que vocês dois vão ter que dormir de olho aberto lá em casa.

—Diga você mesma, ele tá na cabine 22, com a namorada dele. – Ela hesitou na réplica pronta, surpresa. Meu Deus do céu, Louise está corando, eu sei, eu a conheço faz muitos anos, não é ilusão de ótica, não é coisa da minha cabeça. Ela fez uma saída teatral batendo os pés e Scorp apenas sorriu como um gato que acaba de pegar sua presa.

—Viu isso, Cesc? – Ele me perguntou de um jeito que só me confirmava que o loiro falou da namorada de Tony de propósito, testando o terreno. Não é que o FDP  do Tony tá certo? Que o plano dele talvez não seja tão ridículo e patético quanto parece? Na verdade é exatamente tão ridículo e patético quanto parece, mas talvez funcione.

—Clar...

—MAS QUE CARALHADA É ESSA DE VOCÊS RECEBEREM UM CONVITE DE JAMES GOSTOSO POTTER SEM ME COMUNICAR?

Eu e Scorp nos entreolhamos derrotados. Duas semanas com certeza não será tempo suficiente longe de Rebeca.


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Notas finais do capítulo

* O gigante ao qual Romeo se refere é o que deu origem a lenda do "João e o pé de feijão", dizem que o moleque enganou o tal gigante pra ele cair dentro de um buraco e que até hoje dá pra ouvir o coração dele batendo lá por aquelas bandas da mui longe Cornualha.

E os tubarões que o pai de Romeo cria existiram, mas agora estão extintos. Para os trouxas, ao menos.