Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 2
Capítulo 2. Hogwarts


Notas iniciais do capítulo

Esse aqui, ficou enorme! Não o culparei se precisar pausar para ir ao banheiro, fazer um lanche... Essa primeira fase eu costumava dividir em micro capítulos, mas quando fui ver agora, se passa tudo num curto período de tempo. Isso é o quanto eu sou prolixa, senhoras e senhores!



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Capítulo 2. Hogwarts

Olha aí! Quem diria? Eu, Cesc Fábregas navegando em um lago, até um castelo pra bater um papinho com um chapéu. É. Ninguém diria...

Olhei para aquela paisagem noturna tentando decorar cada sombra que se fazia presente a cada centímetro que nos aproximávamos de Hogwarts. Exagero! Mas é serio, o lugar é bonito... Depois de exatos trinta segundos, Zabini se pronunciou, sussurrando.

— Cadê nossas futuras esposas?—  Olhei para a cara dele sem emoção alguma e disse num tom bem calmo:

— A minha eu não sei, mas a sua eu tenho certeza que não existe.

— Acha que eu vou ficar pra titia? — Ele disse com um ar indignado.

— Não, eu acho que você vai ficar pra ninguém!— Disse em tom zombador. Ele me deu língua.  – Muito maduro, Sr. Zabini!

— Também me acho maduro para a minha idade. Agora voltando ao que eu estava dizendo, cadê Claire e Lou?—  Espero que na mente distorcida de Zabini, a futura esposa dele seja Claire e ele tenha imaginado um baita de um incesto entre mim e a minha irmã, se não ele vai ver!

Não é uma ameaça, estou pensando no bem dele! Mas ele estava certo. As duas não estavam no barquinho de papel. Ok. Eu sei que não é de papel!

Olhei em volta e vi que estavam falando com a simpática ruiva que interrompeu nossa conversa com o gigante. Ao olhar pra trás para vê-las, vi também que no nosso barco estava o loiro-platina, que conhecia o gigante. Tratei de me apresentar, afinal preciso fazer amizades. Zabini não conta!

— Como se chama?  – O loiro parecia ter acordado de um transe, ele tava olhando estranho pra água.

— S– Scorpius Malfoy! —  Disse um pouco hesitante.

— E eu que achava meu nome diferente... A propósito, sou Cesc Fábregas.— Disse simpático como sempre... Sempre que eu quero, claro!

— E aí, Scorp!— Zabini se pronunciou animadamente. – Nem tinha reparado que estava aqui, irmãozinho!

— Vocês se conhecem?— Mau sinal! Se conhece o Zabini deve ser louco que nem...

— Nossos pais são melhores amigos...  – O garoto disse num quase murmúrio. Tive que me inclinar para ouvir tudo.  – Como vai, Tony?

— Melhor impossível! E aí? Tava olhando o que todo concentradinho? —  Zabini perguntou sem nenhum traço de vergonha na cara. Mas que novidade...

— O lago! Sabia que existe um monte de criaturas aqui embaixo? — Disse o loiro-platina subitamente animado. A careta surgiu no meu rosto inconscientemente. Oh Gosh! Era só o que me faltava! Olhei para os lados, desesperado tentando ver alguma coisa.

— Se refere aos peixinhos e coisinhos pequenininhos, né?— Disse apreensivo, tendo já a certeza absoluta que a resposta ia ser uma negativa cruel.

— Tá brincando? Quem vive aqui embaixo é a Lula Gigante!–  Arregalei os olhos. Ele continuou, para o meu desespero. — E os Sereianos, os Grindylows...

— CHEGA!— O interrompi, chamando atenção de todo mundo. A galera olhou curiosamente para mim. Falei baixinho dessa vez. — Já entendi loiro-platina, o lago é perigoso...

— Loiro-platina?— Ele me olhou como se eu fosse um ET.

— É melhor do que Louco-problemático.— Apontei com a cabeça Zabini. Malfoy deu risada.

— Hey! Eu não sou louco! –  Disse o maluco indignado. Na minha concepção ele era louco sim! O máximo que posso fazer por ele é ver se ele me causará problemas.

— Já repararam que todos têm as iniciais L.P? Loiro-platina, Louco-problemático...— Falei, apontando para cada um, depois de dizer seus respectivos apelidos. – E Lindo- perfeito! —  Não preciso dizer para quem eu apontei ao dizer isso, né?

Eles se entreolharam e começaram a dar risada. No começo fiquei meio ofendido, mas quer saber de uma? Meu convencimento além de charmoso pode ser engraçado também. Comecei a rir com eles.

— Ok, ok, ok... Pra não causar futuras inimizades, eu não vou nem comentar nada sobre isso.— Scorp, como chamou Zabini, disse sem resquícios de timidez na voz.

— Chegamos, galerinha do mal!— Disse Tony, pulando pra fora do barco. Observação: estou sim, chamando Tony e Scorp pelos apelidos, os sobrenomes devem ser guardados para momentos de tensão...

— Seleção das casas... Tá nervoso, Cesc? — O loiro me perguntou com uma cara de quem estava pronto para responder “Eu também!”, assim que eu dissesse minha resposta.

— Na verdade... Não mais.  –Acompanhei Tony, descendo com cuidado do barco, os monstros não fincariam seus dentes sujos na minha preciosa carne hoje! Nem nunca de preferência. — E acho que você não devia se preocupar também. Contanto que não vá para Lufa– lufa!

Deu pra ouvir Tony soltar um risinho pelo nariz. Praga! Tô andando muito tempo com ele. Espero que eu não seja escolhido para a Lufa– lufa, senão eu vou pagar minha língua. Olhei para as meninas que iam mais à frente, mas a Louise fingiu que não me conhecia. Ó– T– I– M– O! Melhor pra mim.

Nos apressamos para acompanhar o grupo, que... Nossa! Tava num nervosismo palpável. Acho que só eu e Tony estávamos muitíssimos tranquilos. Vai ver é por que nós não temos noção do perigo.

Uma senhora, que eu só posso definir como mais velha que o tempo 2.0, não vamos nos esquecer de Madame Malkin, começou a dar nossas primeiras instruções.

— Olá, sejam bem-vindos! Me chamo Minerva McGonagall e sou a atual diretora de Hogwarts.— Ruga sobre ruga, isso é incrível! –  Apesar de não ser mais minha função recepcionar os alunos, gosto de ver os rostos novos que usufruirão dos conhecimentos deste magnífico colégio por setes anos e...

Blábláblá. Me prometeram jantar e eu não vi nada até agora! É serio, estou com fome, isso aqui é um absurdo de grande, deve ter comida pra caramba aqui e eu tenho que ficar ouvindo as expectativas da diretora para o futuro? Me poupe, que eu já estou ficando desgastado...

— ...Agora serão selecionados para as suas respectivas casas, que como já mencionei anteriormente, são todas de igual valor...

Sei. Adianta o passo aí!

— Pelo visto temos alunos que estão com muita pressa, então irei lá para frente e chamarei os seus nomes de batismo, não sobrenome, em ordem alfabética. Dirijam-se ao chapéu-seletor, sentem-se no banco e depois sigam para suas respectivas casas. Alguma dúvida?

Foi estranho. Quando ela disse que tinha alunos com pressa ela olhou pra mim. Claro que eu estava com pressa mesmo, mas será que deu pra reparar? Não dá pra ficar mal com a diretora no primeiro dia de não-aula, né?

Fui acordado da minha reflexão, quando vi a ruiva, que já foi classificada no meu dicionário como CHATA, quase levantando a mão para perguntar alguma coisa inútil.

— Ninguém tem dúvida não! Pode ir lá pra frente... — Todo mundo olhou, pela segunda vez só hoje, pra mim. Fiz um gesto com as mãos, tentando incentivar a diretora a ir andando, ela revirou os olhos e me obedeceu. Ui, que poder!

Pros outros nojentinhos soltei um venenoso “Que é? Tá olhando o que?” Quase todos viraram instantaneamente, menos a ruiva que me encarou com um olhar de revolta e os meus queridos amiguinhos que fingiram não me conhecer, incluindo nessa lista Claire e Louise. A amizade é mesmo linda!

A diretora fez sinal de que podíamos entrar e fomos entrando mesmo, uns tropeçando nos próprios pés - tive que me controlar pra não rir da cara de um baixinho que quase capotou na minha frente.

Chegamos lá na frente de todo mundo e o salão ficou estranhamente silencioso. Digo estranhamente, por que até dois segundos atrás tava um burburinho dos infernos! O chapéu começou a cantar uma musiquinha engraçadinha sobre as casas...

“Quem sabe sua morada é a Grifinória,

Casa onde habitam os corações indômitos.

Ousadia e sangue– frio e nobreza

Destacam os alunos da Grifinória dos demais.”

Retiro o que eu disse! Musica chata dos infernos!

“Quem sabe é na Lufa– lufa que você vai morar,

Onde seus soldados são justos e leais

Pacientes, sinceros, sem medo da dor.”

Pacientes e sem medo da dor? Essa é minha casa com certeza! Ai, acaba logo com essa tortura, Senhor!

“Ou quem sabe  a Sonserina será a sua casa

E ali fará seus verdadeiros amigos,

Homens de astúcia que usam quaisquer meios

Para atingir os fins que antes colimaram.”

Uhu! Sonserina rules! Atingir os fins que antes colimaram é? Se é assim vou ter que dar um fim nesse chapéu agora mesmo, por que esse é o meu atual objetivo!

“Ou será a velha e sábia Corvinal,

A casa dos que tem a mente sempre alerta,

Onde homens de grande espírito e saber

Sempre encontrarão companheiros seus iguais.”

— É impressão minha ou o povo da Corvinal só tem uma qualidade?—  Murmurei para Tony, que me olhou fazendo um bico de quem tava analisando a situação, voltou a olhar pra mim e acenou afirmativamente fazendo uma careta do tipo “Pior que é verdade!”.

A belíssima música acabou! Oooooohhhh! Como estou arrasado... A diretora, que agora eu esqueci o nome, agradeceu ao chapéu e voltou sua atenção para nós, pobres miseráveis que teremos que ficar com aquela tosquice na cabeça por alguns segundos.

— Bem, começaremos agora a seleção das casas! Albus Potter. –  Coitado! O primeiro foi sem anestesia nenhuma. Ele foi caminhando meio hesitante em direção ao banquinho, mas logo se animou ao ver o gigante acenando para ele.  O Chapéu velho deu um sorriso, acho, para o garoto antes de ser depositado na cabeça do pobrezinho.

— Um Potter! Faz dois anos que o último esteve aqui nesta mesma situação e quase nada mudou desde então... GRIFINÓRIA! —  A galera da Grifinória gritou enlouquecida, acho que vi o garoto abraçando outro mais velho...

—Antony Zabini!–  Ah é! O nome dele é com “A”! Iniciais A.Z! Legal... Ele foi todo se achando pra sentar no banco, com uma confiança invejável. Antes do chapéu encostar-se à cabeça dele, já foi gritando:

— SONSERINA!—  O convencido abriu um sorriso de todos os dentes e murmurou um “Te vejo lá!” quando passou por mim. Retribuí com um “Ninguém te merece!” nada animado.

Uns dois alunos com os nomes começados com “B” foram chamados. Os nomes? Sei lá... Bosta e Besta! Satisfeitos? Pulemos para letra “C”... Os mais desatentos podem pensar:  “Agora é sua vez, trastezinho!”Para esses eu lanço um sonoro: MEU NOME É COM “F”, RETARDADOS! Mas era a vez de Claire, então eu vou narrar...

— Claire Sullivan! –  A loirinha deu uma piscadinha pra minha irmã e um sorriso nervoso pra mim. Não entendi!

— Muito inteligente, sem dúvida de uma sabedoria incrível para idade... CORVINAL! —  Sabedoria? A garota usa mais band-aids do que peças de roupa no momento! Ah, também quero ser chapéu-seletor! Não tem segunda opinião mesmo.

Ela foi recepcionada calorosamente pela sua mesa. Os nomes foram passando e eu rezando pra chegar ao meu  logo. Acho que eu cochilei de olho aberto porque quando me chamaram eu só atendi da segunda vez.

— Francesc Fábregas! Sr. Fábregas! –  Tia McGonagall falou impacientemente na segunda vez.

— Oi! —  Respondi meio atordoado. – O eco aqui é terrível... Foi mal!—  Disse sinceramente, mas eu acho que ela não acreditou muito não. Sentei no banco e não pude deixar de fazer uma carinha de repulsa. Carinha, por que eu tentei disfarçar ao máximo, mas aquele chapéu não é só velho, parece sujo também!

— Se não vejamos... Pensou em dar um fim em mim?—  Ele disse surpreso. Eu gelei e depois fiquei vermelho feito um tomate.

— Não!—  Disse rápido demais...–  Quero dizer... Hum... É... Tinha todo um contexto! —  Disse finalmente, em minha defesa.

— Sei, sei... É muito inteligente, nota– se, mas não posso ignorar que tem uma nobreza digna de um grifinório, a sinceridade de um lufa– lufa...— Deus! Lufa– lufa não! Senhor, eu fui um bom menino esse ano, me ajuda a ir para a Sonserina! Sim, eu sei que Deus não é Papai Noel, mas acho que eles usam o mesmo critério, não?

Sonserina, Sonserina, SONSERINA!

— Eu iria chegar aí, Sr. Fábregas! Apesar de todas as qualidades e muitos defeitos que o senhor tem... — A galera riu... OTÁRIOS! Peraí, ele está mesmo ouvindo minha mente! Que horror! –  A melhor casa para o senhor, sem sombra de dúvidas é a... SONSERINA!

Palmas foram ouvidas vindas da minha nova mesa de jantar. Tony foi o primeiro a me cumprimentar e tenho que dizer, os sonserinos são meio frios comparados aos outros.

A seleção continuou e eu já estava me perguntando o quão deselegante seria se eu sugerisse que os outros fossem selecionados depois do jantar.

— Louise Fábregas! –  A drogada da Louise foi toda animadinha pra o banco e sentou-se toda serelepe. Mandei um olhar de apoio do tipo “Quebre o pescoço!” ou seria a perna? Sei lá, mas a infantil me deu língua.

— Outro Fábregas?— Disse o chapéu com uma pontinha de desespero na voz antes de ser colocado na cabeça da minha irmã. –  Ah! Pelo menos essa parece ter juízo! Hum... O orgulho da família com certeza... CORVINAL!

Haha! O Chapéu é comediante também! Uns colegas da casa da minha irmã me olharam da mesa ao lado e eu os encarei com um olhar de morte. Eles viraram pra frente para cumprimenta-la.

— Você se desentende com um chapéu e eu sou o Louco-problemático? —  Zabini me lançou um olhar entre o incrédulo e irônico.

O ignorei, obviamente.

— Rose Weasley!— Já ta no “R”? Nossa o negócio deslanchou de vez agora!

— Inteligentíssima, mas assim como fiz com sua mãe e seu pai antes de você, acho que o melhor local para coloca-la é na... GRIFINÓRIA!—  Ou será no... HOSPÍCIO? Claro que o bonezinho de Adão nunca diria algo assim, maior puxa– saco! A galera vibrou feito louco na mesa da Grifinória.

Aliás, estou começando a achar que todo mundo por aquelas bandas é meio louco mesmo... Não sei! Prefiro me abster desse conhecimento.

— Scorpius Malfoy! –  O último, graças a Deus! Peraí! É impressão minha ou o clima ficou meio tenso? Uhhh... Mistério!

— Traz muitas qualidades que eu nunca tinha visto antes em um Malfoy... Mas ainda sim... SONSERINA!

A galera da Sonserina não pareceu muito surpresa. Na verdade, os únicos que demonstraram uma reação normal fui eu e Tony, porque o resto se contentou em bater palmas bem frias... Ou deveria dizer, geladas?

— Ficamos juntos... Que bom! –  Scorp disse empolgado.

— Cuidado com o que diz, sou espanhol e tenho um vocabulário limitado no seu idioma, tirei outro significado da sua frase... — Eu disse querendo cortar o barato dos L.Ps.

— Ninguém irá tirar uma conclusão precipitada, afinal o único maldoso aqui é você! —  Disse Tony, o sábio!

— Acorda, Zabini! Se ainda não percebeu, estamos na casa das serpentes, garoto!–  Falei baixo, depois lancei um olhar de soslaio para os meus novos companheiros de casa de ambos os lados. Esse será um relacionamento interessante, com certeza.

—Agora que os nossos novos estudantes já estão acomodados...— Podem trazer a comida! Pensei animado. Mas a diretora tinha que acabar com minha alegria. — Vamos falar sobre as regras da nossa escola!

O QUE? Olhei incrédulo para o Tony que murmurou um “Aguente firme!”. Eu não quero aguentar firme! Já fiz isso demais... Dona Maomé começou a falar coisas nada adivinháveis do tipo “A floresta proibida é terminantemente PROIBIDA!”. Oh, sério? E por que colocaram um nome tão atrativo nela?

“Nada de perambular pelo castelo depois do toque de recolher às nove.” Ah, fala sério! Pra que falar as regras se em dois tempos todos, leia-se EU, vão esquecer? Ok. Calma! Estamos mais perto do jantar do que há cinco minutos.

A diretora mandou um olhar para a mesa da Sonserina depois de falar mais uma das milhões de regras do castelo. Lancei pra ela um olhar de puro ódio, sem bondade alguma e ela pareceu entender que já estava passando dos limites ou assim minha mente faminta quis acreditar, porque depois de menos de um minuto ela fez um gesto para que o jantar começasse.

A magia é uma coisa preciosa mesmo, porque do nada apareceu um banquete extraordinário nas mesas. Será que a comida estava aqui o tempo todo, só que disfarçada? Não importa, o importante é que ela está aqui agora e eu estou mais feliz do que pinto no lixo!

— Vai com calma, a comida não vai fugir de você!— Falou um Scorp surpreso e meio lerdo, diga-se de passagem, no meu lado esquerdo. O prato dele ainda estava com uma torta que eu me lembro de ter comido há alguns minutos.

— Aí é que você se engana, meu caro Scorp... — Falei dando uma pausa no jantar. — Surgiu num passe de mágica, desaparece num passe de mágica!

Tendo dito isso voltei a comer feito um condenado, coisa que, aliás, de fato eu sou! Passei não sei quantas horas enfurnado em um trem, com um bando de malucos sem ter uma refeição descente pra me consolar.

Me senti melhor depois de ter quebrado a banca da cozinha de Hogwarts. Eles estavam me devendo essa! Os monitores se levantaram e começaram a chamar os alunos do primeiro ano para os dormitórios.

Uma garota de uns dezesseis anos e belos olhos verdes começou a falar com uma voz bem melodiosa... Totalmente chave de cadeia, como diria meu tio Fernando.

— Alunos do primeiro ano, por favor, nos sigam até os seus respectivos dormitórios.— Tony que até então estava numa animada conversa com um garoto do terceiro ano sobre um campeonato de sei lá o que, despertou rapidinho ao ouvir a voz da garota.

Foi o primeiro a entrar na fila e o primeiro a ver o outro monitor da nossa casa. Um rapaz de uns dezessete anos, com uns dois metros, acho, levantou bem no lugar que Tony ia se enfiar para ficar mais próximo da monitora de longos cabelos negros.

— Vou logo avisando que eu não tolero gracinhas! –  O cara olhou diretamente prs Tony que ficou meio estático. A monitora soltou um risinho baixo, jogou o cabelo pra trás de forma MUITO sedutora e continuou a falar.

— Sigam-me por aqui.— Preciso dizer que ela começou a andar graciosamente, como se estivesse dançando? Olhei para a cara de Scorp pra ver se ele estava vendo o mesmo que eu. O garoto tava com uma expressão de quem viu um fantasma, olhos arregalados e boca aberta. Eu não resisti, tive que dizer...

— Fecha a boca se não vai alagar a escola!— Ele piscou os olhos como se tivesse acabado de sair de um transe. Dei risada da cara dele que ficou todo nervosinho... Mas aí só foi mostrar a cara confusa de Tony, pra ele me perdoar e começar a rir também.

— Do que é que vocês estão rindo?— Falou o Louco-problemático todo mordido.

— De um idiota aí que quase perdeu os dentes por ser muuuito exibido! —  Disse Scorp numa crueldade sem tamanho. Voltamos a rir da cara de Zabini, que realmente estava muito engraçada. Andamos por uns cinco minutos, sempre descendo, num silencio fúnebre, quando finalmente alguém se pronunciou.

— Estão decorando o caminho?— Falou a monitora que só agora me lembrei que se chamava Jéssica Wainz, de uma maneira falsamente doce.

— Porque se não, espero que tenham um bom senso de direção. Nós não vamos fazer isso de novo. — Disse Paul Dolman, com sua voz raivosa que corta até diamante. Eu já estava pensando em começar a chorar, porque tudo que eu tinha visto e gravado era que Hogwarts tinha uma bela coleção de quadros e pedras...

— Não se preocupem! Tenho certeza que encontraremos almas caridosas para nos ajudar a chegar aos nossos destinos! —  Scorp murmurou essa asneira por sobre o meu ombro e o de Tony, que vínhamos caminhando lado a lado, na frente dele. O traste estava se divertindo com a nossa situação caótica! — Calma! Estou brincando...

Agora sim fiquei calmo! Pelo que o Scorp disse não tem almas caridosas nesse lugar. Vou rezar para que a tolerância de atraso nas aulas seja de duas horas.

— Sangue-puro!— Disse Wainz, para uma parede nas masmorras do castelo. Do nada uma passagem surgiu e deu lugar a uma enorme sala, rica em tons verde e prata. Era meio sombria, mas tinha certo charme.

O fato de estarmos nas masmorras fazia com que a única fonte de luz viesse de tochas nas paredes e uma enorme lareira num canto à esquerda. Havia uma janela grande, mas não dava pra enxergar um palmo do lado de fora.

Apesar de escuro, o salão não era claustrofóbico. Enorme daquele jeito impossível de ser! Já estava indo em direção a um dos confortáveis sofás escuros perto da lareira, quando a voz do meu pesadelo, leia– se Dolman, disse:

— A senha é sempre essa! Não precisamos trocar porque nenhum bruxo de outra casa jamais se atreveu a vir aqui sem ser convidado.— Ele deu um sorriso de soslaio, nos mostrando o porquê. O cara era assustador!

— Eu mesmo só estou aqui porque não tem jeito! – Disse Tony, bem baixo para que só eu e Scorp escutássemos. Mas as nossas risadas não saíram tão baixas assim. E o monstro do lago Ness, nos olhou de uma forma que até Hércules se assustaria.

Cara! Ser dessa casa vai ser uma aventura diária! Desisti de sentar perto da lareira. Quanto menos eu me expuser ao perigo, mais me afasto da morte! Subimos as escadas em direção ao dormitório do primeiro ano.

— Estranho! Achei que fossem cinco camas por quarto...— Disse um Tony bem confuso ao entrar no lugar onde iríamos dormir por um ano. Nosso quarto, assim como o salão comunal, tinha janelas escuras.

Viria a descobrir em um futuro próximo, que nós tínhamos uma adorável vista para o lago. Para o FUNDO do lago!

Isso será de muita valia, afinal o sol nunca vai nos incomodar! Mas, pelo mesmo motivo, vou adiantar o horário do despertador. Nunca se sabe quando a cama vai te seduzir, né?

Três grandes camas, que tinham um tamanho entre uma cama de casal e uma de solteiro, estavam dispostas uma do lado da outra. O quarto era grande e tinha um banheiro no fundo. A decoração simples, mas seguindo a linha prata e verde, dava um ar meio imperial ao lugar.

— Meu pai já tinha mencionado algo assim... Parece que as cinco camas por quarto só existem nos outros dormitórios. Na Sonserina, o conforto vem sempre em primeiro lugar. Conforto e ostentação! —  Disse Scorp numa animação contagiante.

— Então viva o Tio Salazar! –  Disse Tony, fingindo que tinha um copo de champanhe nas mãos. Entrei na brincadeira.

— Viva ao tio... Ao tio quem? — Olhei em dúvida pra Tony, ainda com a mão erguida como se estivesse brindando algo.

— Salazar Sonserina, o fundador da casa...— Disse Tony entre impaciente e divertido.

— Viva ao tio Salazar por nos oferecer a morada mais DARK de todas! Viva a casa das serpentes! –  Falei animadamente. Esse ano tem tudo pra ser EXCELENTE!

***

É incrível como basta acordar cedo para empolgação ir toda embora.

— Quem vai usar o banheiro primeiro? –  Perguntou um Scorp meio sonolento.

— Fique à vontade.

— Pode ser você mesmo.— Dissemos eu e Tony quase ao mesmo tempo. Scorp olhou a gente com um olhar do tipo “Vocês, hein?". Como sou um bom colega de quarto, olhei pra ele, sorri e depois me enfiei de volta de baixo das cobertas. Claro!

Depois dele, vai Tony... Só vou tomar banho quando não tiver mais inglês bucha de canhão pra ir na frente! Depois de alguns minutos sai um Scorp já pronto e meio mal-humorado.

— Quem vai agora?— Ele parou na frente da minha cama.

— Sua vez, Tony.— Disse com a voz meio abafada pelos lençóis.— Zabini? ZABINI!

— Não adianta gritar. Aparentemente ele voltou a dormir. — Disse L.P¹ curtindo minha situação. — Acho que é sua vez agora, Cesc...

— Ah é? Vai ser assim então?— Falei na direção do que deveria ser Tony. —Você vai sofrer as consequências da sua preguiça!

Me dirigi bufando de raiva para o banheiro, com um Malfoy tirando onda com minha cara. Passei mais tempo do que o necessário tomando banho, me vesti numa lerdeza admirável. Pra você ter uma ideia, quando eu saí do banheiro, meu cabelo já estava quase seco e Tony acordado...

— Achei que você tinha decido pelo ralo!— Ele disse todo irritadinho quando passou por mim pra tomar banho.

— Oi? Falou comigo?— Me fiz de desentendido. —Foi mal! É que eu costumo demorar um pouquinho no banho. Mas não se preocupe, amanhã eu...

— AMANHÃ VOCÊ VAI SER O ÚLTIMO!–  Ele gritou já dentro do banheiro.

Sentei na minha cama despreocupadamente e comecei a arrumar as coisas pra aula. Percebi que Scorp me olhava com um olhar reprovador. Falei com ele num tom baixo para que Tony não escutasse.

— Tudo que Cesc quer, Cesc consegue! –  Lancei pra ele um sorriso de desafio.

Ele revirou os olhos e falou de forma zombadora:

— Contanto que Cesc não se refira a si mesmo na terceira pessoa, pra mim tudo bem. – Tive que dar risada, porque vamos combinar, gente que fala de si mesmo na terceira pessoa é tosco demais. Tony saiu do banheiro bem-humorado, acho que ele tem uma memória de megabytes ao invés de terabytes.

— Escreveram as cartas como eu disse? –  Ele perguntou sentando na ponta da cama de Scorp. — Vou mandar a minha pelo Joystick, então...

— Peraê! Quem vai levar a carta?— Scorp perguntou mesmo já sabendo a resposta. Loiro sacana, já tava até prendendo o riso.

— Joystick, minha coruja! — Ele disse como se fosse óbvio e na verdade... Era! Scorp começou a dar risada e eu até que tava tentando ignorar aquilo, afinal Tony já tinha me falado sobre essa bendita coruja no trem, ele disse: “Eu ouvi o nome na rua quando estava andando com minha mãe pela Londres trouxa. Sei lá... Gostei da sonoridade!” Bem... O nome tem uma sonoridade legal. Levantei e dei um tapa na cabeça de Scorp.

— É melhor irmos, se não vamos chegar atrasados pro café...— Não que eu ligue muito pra horários, mas eu não tenho certeza até quando o café da manhã vai ser servido. Peguei a carta que tinha escrito ontem para minha mãe. O conteúdo da carta? Isso é contra lei, mas eu vou mostrar pra vocês.

Querida progenitora,

Sei que está chateada comigo ainda pelo lance do trem. Já faz tanto tempo, ou horas, como preferir, que eu acho que podemos colocar uma pedra nesse assunto. Sobre a viagem de trem, foi legal... Nada a declarar!

Fui parar na Sonserina, melhor casa da escola para se morar. Sua outra cria pode até discordar, mas a senhora já sabe o que eu penso da opinião dela sobre as coisas...

Fiz amigos, parecem bons garotos, daquele tipo que não se metem em confusão, sabe? Eles sempre moraram no mundo bruxo, então estão me dando algumas dicas legais sobre tudo aqui...

Louise está viva.

Sei que isso não é fax.

Mas eu acho legal escrever frases curtas.

Mande um oi pro seu marido, meu pai. Diga a ele que ele é um cara legal e avise que divórcio já existe! Brincadeirinha... Sério mãe, é brincadeira!

Infelizmente não posso ligar porque ainda não achei sinal pro celular aqui... Vou continuar procurando.

Não tenho mais nada pra dizer. Beijos, não me ligue! Uhu! Sempre quis dizer isso. Tá, parei, mas admita você tá morrendo de saudade de mim, não tá?

 

                                                                                                        Com carinho (ou não),

 

F.S.F.

 

P.S.: Preciso dizer que a assinatura são minhas iniciais?

P.S.2.: Não mate a coruja, dê comida a ela. E lembre-se: ela precisa das duas asas para voar! Kkkkkkkkk! Brincadeirinha... Não estou querendo insinuar nada sobre os seus cuidados com os outros.

P.S.3.: Essa carta foi baseada em fatos reais... Mas eu posso ter distorcido um pouco os fatos. Sabe como eu sou mal articulado para escrever ou falar, né?

Gostei da carta, ela expressava bem tudo que aconteceu. Eu sei, eu sei. Exagerei nas brincadeiras, mas em minha defesa só fiz isso porque acho cartas um meio de comunicação muito frio! Escrevo como se estivesse conversando com a pessoa e provavelmente falaria essas coisas pra ela. Peraê! Porque eu tô me explicando pra vocês?

Desci com os garotos para tomar café. Bem, na verdade eu desci as escadas do dormitório e subi para parte de cima do castelo, deixando as masmorras pra trás. Vi Louise e Claire conversando na mesa ao lado da minha, mas elas precisariam ser as rainhas da Espanha e da América – eles deviam ter uma, porque é digno - respectivamente, para me fazer sair do meu curso para cumprimentá-las.

— Pelo visto vou ter que me acostumar com o cardápio inglês.— Disse ao me deparar com uma quantidade enorme de tortas e pães, típicos da culinária inglesa. Tomamos café civilizadamente e pela primeira vez tomei suco de abóbora. É meio estranho, mas até que fica bom depois do segundo gole.

— Vou agora levar nossas cartas e encontro vocês na sala de aula. Eu sei! É triste a partida, mas vocês vão me ver daqui a pouco meus fãs.— Tony saiu teatralmente da mesa e eu fingi que ele não estava falando comigo.

Ele é meio estranho, não se encaixa perfeitamente no perfil da Sonserina, mas quem se encaixa? Eu é que não. Vai ver que o chapéu se enganou com ele... Olhei pro lado e vi que Scorp ia comer um bolinho que eu não tinha experimentado, parei a mão dele quando já estava quase mordendo o bolinho.

— Onde você encontrou esse? É de amora?— Adoro bolinho de amora!

— Ele tá ali. – Foi só ele acabar de dizer que a comida desapareceu. Beleza! Eu sabia que já estava na hora de ir pra aula, mas eu fiquei com um bolinho de framboesa sem vergonha na mão e totalmente na vontade de comer bolinho de amora.

— Não liga não! Amanhã você come. — Disse Scorp pra me consolar. Mas a questão é: eu quero comer agora!

— Me dá um pedaço do seu? –  Fiz cara de cachorro abandonado.

— Não.— Chocante! Por essa eu não esperava!

— Vai me negar um pedacinho de bolo, Malfoy? –  Ele me olhou com indiferença. — Vai me dizer que negaria comida a um faminto?

— Não é esse o caso...

— É pior! Está negando comida para o seu colega de quarto, colega de turma, possível...

— Tá, toma! Mas é só um pedaço.— Ele disse impaciente. Eu tirei só um pedaço mesmo, mas o garoto pirou legal e começou a dar chilique.

— Que pedaço foi esse!— Ele tomou o bolinho violentamente da minha mão, avaliou com uma cara de espanto digna de um filme de terror. Pra vocês terem uma ideia ele levantou da cadeira e estava admirando o bolinho como se este fosse uma aberração.

— VOCÊ COMEU MAIS DA METADE DO MEU BOLINHO!  – Ele gritou e todo o salão olhou pra gente. Eu até tentei argumentar, mas eu estava com a boca cheia e prendendo o riso então...

— Seu... Seu...

— Não xinga que é feio!— Eu disse assim que consegui engolir, mas infelizmente saiu com um tom de gozação, então ele me olhou com um olhar de ira total. Ui, que meda!

Peguei minha mochila, meu bolinho de framboesa e já ia passando por ele quando ele me parou com o braço.

— Você vai me dar o seu bolinho. — Ele me disse com uma cara séria. Ele ia mesmo insistir nisso? Como eu odeio brigas, eu disse igualmente sério.

— Vai sonhando!— Depois disso me aproveitei do choque dele pra ir correndo em direção a saída. Claro, lógico e evidente! Ainda pude ouvir o chiliquento berrando e vindo atrás de mim, olhei pra trás pra ver se ele estava muito longe ainda. Me bati com uma parede. Que fala.

— Mas quem... Ora, ora, ora o que temos aqui?— Meu maior pesadelo se tornou realidade! Não, eu não estou pelado no meio da escola... Aliás, eu nunca “pesadelei” com isso.

Meu pesadelo na verdade tem dois metros, pele escura, olhos claros, moicano no estilo do exército americano, cara de maníaco do parque... Não sabem quem é ainda? Ah é! Eu não o descrevi fisicamente. Agora vai ficar fácil: tem um distintivo de monitor da Sonserina. 

Pois é! Paul Dolman ...

— Me perdoe, eu...— Estou tropeçando nas palavras! Ai meu Deus... Ou como diria o Tony “Ai meu Merlin, me ferrei!”–  Por favor, não me mate!

Pois é, eu disse isso. O chapéu seletor tem razão, eu sou a vergonha da família! Mas o que eu deveria fazer? Encarar uma briga com o monstro? Eu já tô no chão, a vida dele tá fácil, é só ele me esmagar com o pé enorme dele.

— Por que eu faria isso? Sou monitor, esqueceu? Eu sigo as regras...— Ele falou com muuuuuuuita ironia. A garotas ao lado dele deram risadas. Neste momento apareceu Scorp, aposto que ele tava observando tudo de longe. Pelo menos ele me ajudou a levantar. – Que sabor é esse bolinho aí?

— Framboesa, eu acho...— Disse avaliando o bolinho, não estava mais com medo, acho que o fato do Scorp está ali pra prestar primeiros socorros me acalmou...

— Meu sabor favorito!— Ele falou de uma maneira infantil. Depois disso eu só consegui sentir meus dedos quase serem arrancados. O cara puxou o bolinho com tudo! Não sei quem ficou mais surpreso: eu ou Scorp!

Nosso querido monitor foi se afastando com as amiguinhas dele a tiracolo e com o meu bolinho... Ou dele, ou de Scorp por direito, já que eu devia mais da metade do bolinho pra ele... Sei lá!

— Viu? Não vale a pena brigar por comida! –  Falei apontando para Scorp como se estivesse dizendo a uma criança para não pôr o dedo na tomada. Ele me olhou com uma cara...

— Você não tem vergonha na cara.— ele disse entre dentes. Dei de ombros, não tenho com que argumentar. É a mais pura verdade!

— Vamos pra aula!— Disse tentando animá-lo, em vão, é claro!

Seguimos uma grande parte do caminho calados, mas não demorou muito até Tony chegar e acabar com toda a paz no mundo... Até rimou!

— Voltei! Cara, o corujal tava um brega... Todo sujo! As corujas não sabem o significado da palavra “higiene”. —  Olhei pra cara dele com uma cara de poucos amigos. O que se passa na cabeça desse garoto pra falar que “corujas não sabem o significado da palavra “higiene”!” Qual o significado que elas sabem?

— Mandei sua carta com o Joy e a sua, Scorp, mandei com uma coruja do colégio. E então sentiram muito a minha falta, hein? Hein?— Com Tony é fácil manter um diálogo, ele fala por você e por ele. Na verdade, é um monólogo.

— Cesc, vi sua irmã! Ela é tão linda, aqueles cabelos lisos e escuros como a noite, olhos que parecem um abismo de tão profundos... E a pele! Ah... Que pele perfeita q...

— Por que está me descrevendo?— O interrompi só pra sacanear! Sendo minha irmã e gêmea ainda por cima, as chances de sermos parecidos eram enormes! Mas é claro que é só nessas características amplas, no resto somos diferentes.

— Pobrezinha! Não tem culpa de ser sua irmã.

— Ela tem culpa por muitas outras coisas...  – Chegamos à sala de aula depois de eu ter conseguido deixar Tony morrendo de curiosidade pra saber os podres da Louise. Falando nela, lá estavam a obtusa e a esquisita sardenta sentadas no lugar dos nerds. É dos nerds, porque elas sentam lá, entenderam a lógica da coisa?

— Bom dia!— Cumprimentei por pura educação. Ela levantou os olhos que estavam presos em um pergaminho. Nossa, é estranho falar isso: pergaminho! Estou me sentindo no Egito antigo. Não, os egípcios escreviam em papiros. Erro histórico, mal aê...

— Bom dia, Malfoy.— Ela me ignorou e ignorou Tony. Nós ligamos tanto que fomos nos sentar no fundo da sala chorando litros.

Scorp sentou na penúltima carteira e eu ia sentar do lado dele, mas Tony reclamou que não queria sentar sozinho, disse que se o professor dissesse que a dupla era até o fim do ano, ele ficaria com um estranho... Blábláblá...

Me sentei atrás dos dois, sozinho, pra ver se ele calava a boca. Mas não fiquei muito tempo sozinho porque logo depois uma garota morena da Sonserina se sentou do meu lado sem cerimônia alguma.

Ela me olhou de cima a baixo com um pouco de arrogância. Eu estava virado pra frente ouvindo Scorp pedindo silêncio a Tony, mas fiz questão de olhar pra ela de lado, com uma das sobrancelhas levantada.

 Ela ficou vermelha e eu segurei um sorriso de escárnio. Não dá pra arrumar brigas no início do ano, né? É. E até que ela é bonitinha com sua pose e belos olhos verdes... Ela me lembra alguém.

— Me chamo Rebeca W...— Ela não terminou de falar porque nossa professora entrou na sala rapidamente. Era uma mulher comum, de uns quarenta e poucos anos, usava um vestido azul bem escuro e fechado que dava a ela uma aparência de mais velha.

Ela observou a todos por cima dos seus óculos e depois apontou a varinha pro quadro e escreveu “Terence Gooding”, com uma caligrafia antiga.

— Me chamo Terence Gooding e serei a professora de transfiguração de vocês nos próximos cinco anos. Alguma pergunta?— Ela disse tudo calmamente, mas não pude deixar de perceber que ela parecia ser séria demais.

Olhei pro lado mais por hábito que qualquer coisa e dei de cara com a garota que seria minha dupla, aparentemente. Qual o nome dela mesmo? É... Rebeca! O sobrenome ela não chegou a dizer, não foi? Acho que devo me apresentar a ela.

— Sou Cesc Fábregas...— Sussurrei para que só ela ouvisse e estendi a mão educadamente. Ela aceitou e deu um breve sorriso. Virou-se para frente em seguida. Eu fiz o mesmo.

A aula foi interessante, não foi aquela AULA MARAVILHOSA, mas até que foi legal. A professora se mostrou paciente e apaixonada pela profissão apesar de sempre parecer que ela precisava de outro tipo de paixão na vida dela, se é que vocês me entendem...

Quando o sinal bateu, todos levantaram rapidamente para ir em direção às próximas aulas. Primeiro dia todo mundo quer fazer bonito! Todo mundo menos Scorp que estava demorando um século para colocar as coisas na mochila.

O pior é que nem tinha nada para anotar, então pra que ele tirou os pergaminhos? Acabamos ficando um pouco pra traz, mas quando eu saí Rebeca estava me esperando.

— Quase não nos falamos direito... Posso te chamar de Cesc?— Ela disse tranquilamente. Até que ela era simpática.

— Vou te chamar de Rebeca então.— Ela sorriu. Ok. Ela não é só “bonitinha”, mas tem algo nela que não parece certo.

— Não me lembro de ter visto você na seleção de casas.— Eu disse tentando puxar assunto.

— Ah é, é que tipo, eu estava mais no fundo, eu vi você e talz, mas você não me viu porque, tipo, não dava né?

Olhei pra ela meio surpreso. Nossa! Ela adora um “tipo”! Espero que não seja assim sempre, nem Claire que é americana fala tanta gíria.

— Gostou de ter ficado na Sonserina?

— Tipo, não dava pra ficar em outra casa, toda minha família é, tipo, íntimo da Sonserina e...  – Eu a interrompi. Eu simplesmente DETESTO gente que tem esses vícios de linguagem!

— Precisa mesmo falar tantos “tipos”?— Perguntei meio receoso, não queria ofendê-la.

— Eu tenho esse probleminha...— Ela sorriu timidamente e começou a olhar pro chão como se este fosse muito interessante. Não sei de onde me veio essa ideia porque quando eu vi já estava falando.

— Você já beijou alguém?— Ela voltou a me olhar, dessa vez bem surpresa. Depois começou a corar.

— Bem... É...

— Parentes não contam!— Ela pareceu refletir um pouco. Ah, qual é? Ela tem onze anos! É claro que ela nunca beijou ninguém, não que isso seja vergonha, eu também nunca beijei. Não deixei que ela inventasse nenhuma história e disse logo minha ideia maluca pra fazer ela parar com essa mania chata. — Aposto que imagina que será com o cara perfeito, no momento perfeito, local perfeito e blábláblá...

— Acho q...

— É, eu sei! Bem... Isso não vai rolar! A menos que você pare de falar toda hora esse seu “tipo”! — Ela me olhou como se eu fosse maluco, coisa que provavelmente eu sou. — Se falar isso de novo, eu vou beijar você e juro que não será nada romântico.

Disse isso em tom de ameaça, mas aparentemente ela não notou. Só agora reparei que tínhamos parado... Ela voltou a andar e continuou a falar como se nada tivesse acontecido. Estava falando sem os “tipos”, mas quando estávamos subindo uma daquelas escadas malucas que dão acesso aos outros andares, ela vacilou.

— ... Ele adora, tipo, tod...— Não deixei ela terminar de falar, a puxei com tudo para um simples selinho. Juro que era minha intenção só um selinho, mas lembram que eu disse que parecia que algo nela não estava certo?  

Pois é, caros amiguinhos, ela me puxou pra mais perto e um simples selinho virou um beijo com direito a língua e tudo! Ela não era BV? Eu correspondi o beijo dela e tenho que admitir foi esquisito, mas interessante. Uma voz feminina nos fez parar bem na hora que eu já estava ficando sem fôlego.

— Hum– hum!— Me separei da garota automaticamente para dar de cara com uma versão mais velha dela. — Vocês não deveriam estar na sala de aula não?

No começo da escada estava Jéssica Wainz olhando pra gente com cara de poucos amigos.

— Nós estávamos indo só que...

— Eu vi o bastante Rebeca, pode ir pra aula agora!— Ela disse olhando pra Rebeca com uma autoridade que nada tinha a ver com o cargo de monitora. Rebeca subiu as escadas rapidamente, sem nem olhar pra trás.— E quanto a você...

Ela fez uma parada na fala só pra ver se me intimidava, acho.

— E quanto a mim...— Mas não intimidou. Não fiz nada de errado, a irmã dela que me agarrou! Vocês estão de prova.

— Acho que me enganei... É um verdadeiro sonserino. – Ela disse com um sorriso de lado e seguiu o caminho dela. Estranho. Eu segui o meu também até as masmorras.

Não, ainda não estou voltando para o dormitório. É que a aula é numa sala lá. Poções, eu acho. Sinceramente, espero não estar muito atrasado, porque parece que os britânicos se importam muito com pontualidade.

Achei a sala depois de cinco minutinhos. Viu? Tô ficando melhor nessa coisa de localização, eu sei, eu sei... Eu já sabia aonde eram as masmorras, mas eu não tenho culpa se tudo aqui é igual! Entrei na sala tentando ser o mais discreto possível, mas acho que discrição não é uma das minhas virtudes.

— Não posso acreditar, um sonserino chegando atrasado? –  O professor falou, parecendo que já estava me esperando. Eu não pretendia responder não, mas certas coisas são mais fortes que nós.

— Posso sair de novo pra ver se o senhor acredita...— MERDA! Quem vê de fora pensa que eu sou ousado ou que eu quero aparecer! Antes fosse isso! Meu problema deveria ser alvo de estudos, poderiam colocar o nome de “Diarreia Mental”, porque tem momentos que eu simplesmente não consigo deixar de falar merda.

E vocês sabem o quanto eu penso merda, então imagine o problemão que isso causa na minha vida. O professor me olhou um pouco surpreso, mas logo recuperou sua pose e começou a falar com o mesmo tom irônico de antes.

— Olhem só! Temos um palhaço na turma! — Algumas pessoas me encararam surpresas, outras deram risadas e eu... Bem, eu levantei uma das sobrancelhas e fiz algo que eu simplesmente detesto!

— Me desculpe professor. Posso me sentar agora?— Que fui humilhado na frente da turma, seu filho da mãe! Ok. Parei... Dessa vez ao menos me controlei! Rimou!

Aff, Cesc.

— Ele não é um palhaço profissional, mas até que tem talento!  – Um doce pra quem adivinhar quem disse isso. Olhei pra Tony, que não parecia nem um pouco envergonhado por ter dito uma merda dessas.

— Levante-se, Sr. Zabini. – Tony olhou atordoado para o professor e depois para mim, eu dei de ombros. Muito bem feito! — O senhor é surdo por acaso?

Ele levantou meio aturdido, empurrou a cadeira pra trás de uma maneira nada gentil e a mesma fez um barulho irritante ao riscar o chão.

— Muito bem! Sr. Potter e Srta. Weasley, por favor, levantem-se também.— Uia! O homem pirou de vez! O que é que a ruiva chata e o namoradinho dela fizeram? Mas apesar da loucura tenho que admitir, ele tem uma memória boa. Como ele sabe o nome de todo mundo assim? Será que ele sabe o meu? Espero que não.

— Srta. Wainz, sente-se ao lado do Sr. Malfoy. Podem se sentar naquela cadeira... — Ele olhou para os grifinórios que estavam com cara de que viram um fantasma... Tá, provavelmente eles viram, o colégio tá cheio deles! Vou reformular a frase: estavam com cara de que viram um fantasma pelado. Pronto! Chocante o suficiente.

Apontou para a cadeira onde Rebeca estava sentada antes. Os dois sentaram quase correndo, demonstrando toda a coragem e o sangue frio da Grifinória. Eu e Tony ainda estávamos em pé esperando a boa vontade do homem pálido de cabelos escuros e porte aristocrático na nossa frente. Estou ficando bom em descrições, não? Estou sim!

— Vocês dois podem sentar aqui na frente...— NÃO! No lugar dos nerds não. Eu até poderia me opor a isso, mas venhamos e convenhamos, eu já estou ferrado o suficiente para querer piorar minha situação...

Me dirigi tranquilamente até a cadeira dos otários, estrategicamente posicionada bem na frente, na fila do meio, do lado grifinório da sala. Sentei e logo Tony estava ao meu lado. Ficamos olhando o professor que parecia saborear o seu próximo passo.  — E menos vinte pontos pra Sonserina!

Os sonserinos começaram a murmurar vários “Não é justo”, “No primeiro dia de aula”, o professor se limitou a lançar um olhar severo ao lado direito da sala que automaticamente se calou.

— Você hein? — Disse Tony bem baixo, se inclinando levemente para o meu lado para que só eu tivesse o desprazer de ouvir o que ele tinha a dizer. — Tinha que irritar o professor Bradbury?

— Com esse nome ele já nasceu irritado! — Disse sem muita emoção, mas num quase sussurro.

A aula correu muito bem, obrigado por perguntar, até chegar na parte em que estávamos fazendo uma simples poção de... De sei lá o que! Eu não reparei direito pra que servia, acho que não serve pra nada, só pra fazer a gente ficar meio entorpecido com aquela fumaça insuportável...

— Tem que mexer...— Parei de reclamar com Tony pra espirrar pela milésima vez só naquela aula. — No sentido anti– horário!

Ele me olhou meio descrente e disse de maneira zombeteira.

— Relaxa cara! Os ingredientes nem sabem o que é um relógio!— Olhei pra ele sem acreditar. Como uma pessoa pode ser tão idiota? — Cesc, você tá engraçado com esse nariz ver...

Ele não pôde completar o que ia dizer, não que fosse assim tão importante... Mas o que aconteceu foi um terror para a minha reputação. A poção começou a fazer um barulho meio estranho que chamou atenção de toda a sala, que olhou curiosamente pra gente. O professor veio andando com uma cara acusadora na nossa direção.

— O que vocês fi... — BUM! Desculpe a onomatopeia terrível. O barulho que fez todo mundo ficar meio atordoado e colocar as mãos no ouvido foi uma mistura de som de metal se partindo por conta da alta pressão no caldeirão, somado a um barulho de líquido ou gosma voando para todos os lados.

Por incrível que pareça, a gosma não estava tão quente a ponto de nos queimar, mas o contato daquele líquido que estava borbulhando até poucos segundos atrás foi realmente desconfortável. Eu e Tony estávamos com as fardas completamente arrasadas e com o líquido escorrendo pelos nossos rostos.

 O professor estava pior que a gente, porque na hora que eu tirei o excesso da gosma dos olhos, o vi cuspindo um pouco da poção ainda com os olhos fechados.

— O senhor está bem? — Perguntou o grande culpado da miséria que iria se abater sobre a minha vida. O professor murmurou alguma coisa que eu não consegui entender direito.

— Como?— Perguntei me inclinando para ouvir melhor o que ele falava.

— EU DISSE: FORA!— Ele falou isso apontando a porta com os olhos esbugalhados de raiva. Ele nem precisou dizer duas vezes, peguei minhas coisas e segui direto para saída com Tony atrás. Assim que passamos da porta me virei pra olhar pra cara do dito cujo que não tinha o carinhoso apelido de Louco-problemático à toa.

— Você... — Minha voz saiu baixa, mas acusadora.

— Epa!— Ele levou as mãos à cabeça em sinal de rendição.— Eu não sei o que aconteceu, mas com certeza a culpa não foi minha!

Zabini disse inutilmente em sua defesa, olhei pra ele com uma cara de ódio, que era exatamente o que eu estava sentindo por ele e fiquei calado para ouvir a explicação que iria inventar.

Ele se abaixou em direção à mochila que tinha jogado no chão segundos antes e começou a folhear o livro de poções que estávamos usando na aula. O muito desastrado deixou marcas de poção em todos os cantos das páginas, até chegar na da aula.

— Hum... Vejamos!—  Ele começou a ler concentrado. Eu cruzei os braços impacientemente, esperando que Tony dissesse um “Você tinha razão! Na próxima vez eu seguirei as instruções à risca...”, mas é claro que as coisas não são tão simples assim e o que ouvi foi:

— A– Há!  Tá aqui a causa de nossos problemas!— Me abaixei pra olhar de perto pro lugar que ele estava apontando no livro. — Aqui diz “moa a losna até que ela solte toda a sua secreção.” ! Você não moeu, você a esmagou!— Ele disse olhando pra mim e apontando o dedo acusadoramente. Continuei sério, peguei calmamente o livro da mão dele, li a frase a qual ele se referia, fechei o livro e... Bati com toda força na cabeça dele!

Joguei o livro ao lado de um Tony que ainda se contorcia segurando a cabeça e voltei a cruzar os braços olhando ele de cima, esperando que parasse com aquele showzinho. Quando ele parecia se recompor, começou a se levantar com uma das mãos ainda na cabeça. Tony me olhou nos olhos e disse algo que me deixou muito triste...

— Você é mau!— Nossa! Aquilo me deixou abaladíssimo. A única coisa que eu consegui dizer e que demonstrava toda a minha tristeza foi:

— Me processe. E agora o que vamos fazer? — Eu disse como se nada tivesse acontecido. Zabini me olhou com um olhar magoado ainda massageando a cabeça.

— Você eu não sei, seu marginal de sotaque engraçado, eu vou trocar de roupa.— Ele disse se abaixando para pegar as coisas dele que estavam espalhadas no chão.

— Você é o culpado, sabe disso e... Não me irrite!— Apontei pra ele. Tony me encarou e depois começou a rir.

— Talvez eu tenha um pouquinho de culpa...— Ele disse fazendo biquinho e sinalizando o tamanho da culpa dele com a mão.

— Que tal toda a culpa?— Falei começando a dar risada também.

­***

— Não acredito que ficou com raiva dele por causa de um bolinho!— Disse Tony rindo e olhando para cara de Scorp fazendo sinal de negativo com a cabeça. — Pelo menos eu tive motivo pra ficar com raiva dele!

— Da pra parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui?— Eu disse indignado. O dia finalmente estava chegando ao fim e os meus amados L.Ps acharam que seria divertido falar mal de mim na minha frente!

— O que você tem a dizer em sua defesa? – Disse o Scorp com um tom divertido bebendo um pouco do seu suco de abóbora.

— Eu digo... Vão se ferrar!— Disse e logo comecei a dar risada com os dois. O resto do dia foi tranquilo, mais nenhuma confusão. Na verdade, estava tudo calmo demais! Um garoto da Lufa– lufa, que devia tá no terceiro ano me acordou dos meus pensamentos.

— Você é Francesc Fábregas?— Ele disse e depois olhou para Scorp e perguntou de novo. — Antony Zabini?

— Fábregas sou eu e Zabini é ele!— Apontei pra Tony. — O que é que você quer?

Falei de uma maneira meio grosseira, mas afinal, quem se importa com isso? O garoto limpou a garganta e começou a falar de novo.

— O professor Bradbury quer falar com vocês após o jantar, na sala dele.— O garoto loiro e meio gorducho falou em tom solene e depois ficou olhando pra nossa cara como se esperasse alguma coisa.

— É só isso?— Perguntei com cara de tédio, ele afirmou com a cabeça. — Recado dado, pode cair fora agora.

Voltei a comer como se não tivesse sido interrompido. O garoto ficou me olhando do mesmo lugar, meio atordoado. Ele devia tá pensando “Mas que folgado!”, mas infelizmente pra ele eu não ligo para o que os outros pensam, por isso não me candidatei à presidente dos EUA junto com Obama.

— Tá esperando o que? Gorjeta? Se manda moleque!— Tony é meu herói! Acho que ele não liga para imagem também. Scorp nos olhou com uma cara de reprovação.

— Já acabou o jantar, Tony?— Olhei pra ele que deu um último gole no suco, colocou o copo com um barulho seco na mesa e levantou rapidamente.

— Vamos.  – Ele disse estranhamente sério.

***

— Boa noite, professor!— Cumprimentei falsamente animado. Tony se limitou a sorrir um sorriso amarelo.

— Boa noite, garotos!— Ele disse bem calmo. Calmo até demais... Ele estava sentado em sua poltrona, com os cotovelos apoiados na mesa e os dedos entrelaçados na sua frente como se estivesse esperando uma reação nossa. — Sabem por que estão aqui?

É uma pergunta retórica Cesc... Uma pergunta retórica, não responda. Soltei o ar lentamente pela boca. Esse negócio de manter a calma é meio estressante.

— Infelizmente serei obrigado a aplicar a primeira detenção do ano... E a primeira e última de vocês, estou correto?— Eu e Tony afirmamos com a cabeça, meio chocados ainda com a notícia da detenção. O professor levantou da cadeira e deu a volta na mesa para ficar na nossa frente.

Ele colocou a mão no meu ombro e olhou de mim pra Tony com um sorriso, que era para parecer de incentivo, mas que parecia de divertimento. Ele foi em direção a porta empurrando a mim e Tony gentilmente pelas costas.

Começamos a nos dirigir para o lado oeste do castelo, subindo por uma torre bem alta. Tony olhou pra mim como se tentasse me dizer alguma coisa, mas como eu não entendi o que era, continuei meu caminho observando lá embaixo. A escola era linda vista do alto!

A paisagem já estava começando a mudar, as folhas das árvores estavam começando a ficar amareladas, com as cores típicas do outono. Paramos na frente de uma grande porta de madeira e só então o Tony finalmente pôde falar comigo.

— É o corujal!— Ele disse bem baixinho e de um jeito meio assustado. O que é que tem o corujal?

O professor começou a murmurar coisas em uma língua que eu não conhecia, depois virou pra mim e pra Tony com um sorriso satisfeito.

— Bem, deixarão esse lugar brilhando... — O sorriso dele aumentou ao ver a nossa cara de pânico. — Só poderão sair quando isso acontecer, certo?

Ele perguntou como se tivéssemos opções. Passou por nós e quando eu já estava pronto para dar um ataque, ele se virou de novo pra gente.

— Ah! Já ia me esquecendo...— Ele começou a dar risada, mas depois voltou a falar ainda divertido. — As varinhas, por favor!

Eu e Tony passamos as varinhas para ele meio a contragosto, ninguém merece. A gente vai passar séculos aqui! Assim que Bradbury saiu, a porta se fechou automaticamente. A única luz que tínhamos era a do luar, mas dava pra ver o quão podre aquele lugar estava.

— E agora?— Perguntei a Tony com a voz um pouco alterada. Ele pareceu refletir por um momento, seu rosto começou a se iluminar com um sorriso de quem tinha tido uma ideia brilhante.

— Tem um papel?— Ele me perguntou subitamente animado. Por incrível que pareça, eu tinha sim! É que eu estava anotando algumas coisas que eu tinha que fazer, tipo irritar a minha irmã e coisas assim, sabe?

— Toma.— Entreguei esperando para ver o que ele ia fazer. Não creio que ele queria o papel para limpar o chão! Tínhamos material de limpeza suficiente pra isso.

— Tem uma pena?— Aí ele tá querendo demais! Mas espera, eu tenho uma caneta que meu pai me deu quando eu fiz dez anos. Ela é toda coberta por ouro branco e tem minhas iniciais gravadas nela. Meu pai disse que um homem de negócios sempre deve andar com uma caneta ao alcance das mãos... VALEU PAI!

— Serve uma caneta?— Mostrei pra Tony. que ficou olhando com cara de dúvida.

— Isso escreve?

— Escreve.

— Cadê a tinta?

— Tá dentro dela! Pega logo, idiota!— Já tava me irritando com a estupidez de Tony. Ele começou a escrever, ainda fez um comentário do tipo “ Escreve azul" e eu simplesmente revirei os olhos esperando a grande ideia dele.

— Caro Scorp, fomos à sala do pro...— Ele começou uma carta, que pelo visto seria longa.

— Me dá isso aqui!— Tomei o papel da mão dele e comecei eu mesmo a escrever um recado pro Scorp.

Caro Scorp, fomos à sala do pro Loiro-platina, estamos no corujal, venha rápido pra cá se não vamos aí quebrar sua cara!

Ass.: Seus L.Ps queridos.

Entreguei o recado de volta a Tony, que me olhava com uma cara feia.

— Que foi? Achei que estávamos com pressa!— Ele me olhou e já ia fazendo menção de falar alguma coisa quando eu o interrompi. – Acha logo uma coruja que preste e manda o recado pra ele!

Ele fez o que eu mandei, pegou uma coruja negra – criaturas horrorosas, essas corujas, todas elas -  que estava empoleirada próxima a nós, amarrou o papel na pata dela e a encaminhou pela janela para a noite fria de fim de julho. Nem tão fria assim, afinal ainda estamos no verão, mas até que deu um efeito dramático, não foi?

Esperamos que o Scorp viesse, apesar de não termos certeza se ele vinha mesmo. Me arrependi da ameaça. Nem sequer pegamos no esfregão pra você ter uma ideia do tamanho da fé que depositamos naquele loiro. Uns vinte minutos de silêncio foram interrompidos por uma voz familiar.

— Tony? Cesc? Vocês estão aí? — A voz estava abafada pela porta, mas ainda assim era a voz da nossa salvação. Eu e Tony corremos em direção à porta e colamos o ouvido nela para escutar melhor o que ele estava dizendo.

— Graças a Merlin! Tira a gente daqui, Scorp!— Tony disse quase dando pulinhos de alegria. Quando digo que esse garoto não é normal.

— Não posso! Vocês estão em detenção!— Como ele sabe disso? Hum... Acho que é meio óbvio.

— Nossa detenção é limpar o corujal, a porta vai abrir quando acabarmos.— Disse a ele, tentando explicar a nossa situação. – Estamos sem as nossas varinhas...

— Ah tá! Que pena... Boa sorte então!— Ouvimos ele se afastar da porta.

— Volta aqui, Malfoy!— Tony gritou desesperado. Acho que ele vai ter um treco. — Precisa ajudar a gente...

— Mas como? Vocês mesmos disseram que a porta só vai abrir quando vocês acabarem!  – Ele agora parecia meio desesperado também.

— Tenta o alohomora!— Disse Tony exasperado.

— A porta foi trancada com magia?— Perguntou um Scorp calmo.

— Acho que sim...— Disse imediatamente.

— Então não vai funcionar! Acho que vocês deviam começar a...

— É ruim, hein!— Tony disse aparentemente indignado. — Zabini nenhum limpa nada... NUNCA!

— Tem uma janela aqui, acha que consegue entrar de algum jeito?— Perguntei tentando não perder as esperanças.

—Talvez com uma vassoura... ACCIO VASSOURA DE SCORPIUS MALFOY! — Tava com o ouvido na porta, levei um susto com esse repente do loiro.

— Scorp? Você ainda tá aí? — Perguntei meio desconfiado, não escutava mais nada do lado de fora.

— Estou aqui! — Disse ele atrás da gente.

— Mas como... Estamos salvos!— Eu e Tony o abraçamos com mais entusiasmo do que o necessário.

— Ok. Ok... Já chega de tanto carinho! Vocês são uns falsos mesmo! Não iam quebrar minha cara?— Ele disse num tom de zombaria. O loiro tava gostando de ver a gente dependendo dele.

— Claro que não!— Tony disse mais alto do que o necessário.— Foi ideia de Cesc a ameaça.

Como é bom ter amigos fieis... Nem sob tortura eles te traem!

— Vamos logo Scorp! Limpa tudo aí que eu... — Bocejei automaticamente. — Tô com sono!

— Eu não sou pago pra isso, mas lá vai!— Ele começou a limpar tudo com um feitiço de limpeza, depois de uns dez minutos tudo estava limpo e a porta se abriu lindamente. Ai, ai... Adoro magia!

Mas é meio curioso que um garoto de 11 anos saiba feitiços de limpeza, não é? Hum....

— Vamos dormir! — Disse Tony saindo rapidamente daquele lugar que nos traumatizou. Sério, estou traumatizado. — Amanhã pegamos nossas varinhas pro professor não desconfiar da nossa rapidez.

Minha nossa! Essa me surpreendeu! É impressão minha ou Tony está muito espertinho hoje? Sei lá... Só sei que o dia foi cheio de surpresas e a única coisa que eu quero agora é CAMA!


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Notas finais do capítulo

Então... Resolvi juntar essas pequenas experiências que ajudam a construir mais ou menos o caráter dos meninos e explicar um pouco como aconteceu e se desenvolveu essa amizade estranha.

Edit: Queria não ter juntado nada, isso aqui ficou muito cansativo.