Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 148
Capítulo 148. O ultimato


Notas iniciais do capítulo

Vou fazer recapitulação não, pq nós acabamos de ver o último capítulo, tenham dó!

Mas vai lá, tem o jogo a caminho, o pessoal da França ficou sabendo da confusão de Uagadou e ainda temos o bonito do Albus se escondendo nos Estados Unidos e Aidan aprendendo coisas esquisitas no Japão.

Pronto, agora estamos nos entendendo!



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Capítulo 148

O estádio de Beauxbatons cheirava a primavera em pleno inverno, os botões de flores diversas formando um tapete colorido abaixo de nós. Havia alguns pássaros e borboletas voando próximo, fazendo a alegria das debutantes e seus fotógrafos profissionais.

Poético.

Tínhamos conseguido um horário no campo, mas não completamente, porque a agenda do ponto turístico – porque aquele estádio era mais turístico do que para jogos reais – estava completamente fechada durante os finais de semana, mas por sorte os fotógrafos preferiam as flores e mal olhavam para o céu.

Apitei com um sopro duplo, fazendo a equipe se aproximar novamente de onde eu estava pairando na minha vassoura há alguns minutos, analisando o tempo de jogo deles. Apontei para Roxanne com o meu bastão.

— Melhorou bastante a pontaria, mas precisa acertar o tempo da passada da goles, você ainda está jogando ela nas costas de Romeo. — O aludido riu, me fazendo revirar os olhos. Falei com ele especificamente dessa vez. — E não finja que é o melhor jogador do mundo, Habermas! Você parece que está jogando com todos os membros quebrados! O que foi aquela tentativa horrorosa de jogada individual que você fez antes de eu apitar?

— Eu tô enferrujado, dá um tempo! Agora sou um duende de escritório, eu não sei nem a quanto tempo estou sem ver o Sol, nem lembrava mais que ele era amarelo! — Ele respondeu dramático e eu tive que rir da cara de pau.

— Tecnicamente o Sol é... Ok, não vem ao caso agora, pode continuar, capitão. — Louise fez um gesto para eu prosseguir e eu a olhei de soslaio, porque sempre que ela me chamava de capitão, não parecia que ela realmente acreditava na minha autoridade.

Exatamente como o resto do time, então está tudo certo.

Percebi um dos jogadores de Antonella se sentando com um sorriso cínico na arquibancada, então fechei a expressão e resolvi que já estava mais do que na hora de encerrarmos o treino, a maioria de nós estava exausto, da noite mal dormida de ontem, e não iria render muito mais.

— Certo, a gente termina a discussão, ou melhor, o meu monólogo amanhã. Romeo, você vai ficar hospedado na escola ou vai para a estação? — Perguntei para o único de nós que não fazia parte da comunidade do colégio e tinha que seguir certos protocolos específicos ao anoitecer.

— Vou para a estação, esquiar um pouco, pagar uma massagem com final feliz, você sabe, relaxar. — Ele falou com um sorriso preguiçoso, então pus meus olhos em fenda. Aquele traste estava tratando o nosso final de semana de treinos como um feriado?

— Só não relaxe demais, porque se não seus músculos vão derreter dos ossos, você já está relaxado demais para o meu gosto! — Falei com desdém, arrancando uma risada do artilheiro aposentado. Ele se despediu de todos, voando para a saída com destreza. Fred esperou ele sair completamente do estádio para se pronunciar.

— Já que terminamos sua sessão de tortura, podemos, por favor, mandar uma mensagem para Uagadou? Eu sei que Bella disse que estava tudo bem, mas a essa altura do dia esperava ter mais notícias do que temos. — Ele falou cansado e eu me senti mal por não ter contado sobre a mensagem de John, mas eu não queria distrair o time das nossas obrigações.

— John falou comigo de madrugada, pediu para eu agradecer pela ajuda de todos e me assegurou que estava bem. — Os que conheciam o corvinal me olharam verdadeiramente aliviados, então eu continuei, mudando o sentimento para algo mais condizente com a realidade. — Coisa que eu não acredito totalmente.

— O que quer dizer? Que ele ainda está com Lestrange e a mensagem de Bella foi uma distração para nos tirar dos planos de resgate? — Pisquei confuso para esse palpite louco da minha gêmea doida.

— Que? Não, eu só acho que ele não está sendo totalmente sincero, parece estar escondendo alguma coisa, só isso. — Falei rápido, depois encarei minha irmã exasperado. — Não surta, Louise!

Puxei a fila de descida das vassouras para o ponto de pouso longe das preciosas flores do jardim central, então conferi as horas em Caveira, era quase cinco horas da tarde, mas não foi aquilo que chamou minha atenção e sim as três chamadas perdidas de um número desconhecido.

Sempre coloco o celular no silencioso durante a semana, para não correr o risco de tocar durante as aulas, mas com a confusão toda de ontem, acabei esquecendo de tirar. No final de semana deixo ele tocar, porque pode ser Enrique, Aidan ou Tony querendo falar comigo e nenhum deles liga em horário de aula.

Selecionei o número e retornei a ligação, sob o olhar curioso de Dominique, única que não estava participando da conversa sobre a penúltima jogada que os artilheiros quase conseguiram executar perfeitamente dessa vez. O time estava melhorando.

— Alô? De quem é esse número? — Perguntei assim que atenderam, sem dar boa tarde nem nada. Sabe-se lá como conseguiram meu telefone, podia ser algum pervertido da internet, não quis arriscar gastar minha educação com alguém que não presta.

Nem as pessoas que me ligam geralmente estão prestando, imagina um desconhecido!

— Cesc, sou eu, Sharam! Muda para a chamada de vídeo, quero ver essa sua cara feia! — O tom animado da minha amiga angolana me fez sorrir automaticamente. Afastei o telefone da orelha e mudei logo a chamada, encarando ela e John na tela, ambos parecendo mesmo sãos e salvos. — Ah, aí está você! Por que demorou tanto de atender, criatura?

— Esqueci de tirar o celular do silencioso, mas eu tenho uma pergunta ainda mais importante, como vocês estão conseguindo participar dessa chamada? Achei que Uagadou não permitisse tecnologia trouxa... — Perguntei confuso, finalmente chamando a atenção do resto do time, Fred e Louise se aproximando com maior curiosidade.

— É porque estamos em Kampala, não em Uagadou. John depôs oficialmente contra Dolus há alguns minutos, na verdade já estamos quase voltando para a escola, por pouco você não nos perdeu! — Ela me avisou e eu fiquei grato por ter olhado o celular quando olhei, embora o silêncio de John estivesse me incomodando.

— Que bom que liguei a tempo então. É bom ver você bem, John, como está a cabeça? — Falei como quem não quer nada e ele só sorriu discretamente, sacando o que eu realmente queria saber.

— O que houve com sua cabeça, John? — Louise perguntou preocupada, se apoiando no meu ombro, então eu ajustei o celular de uma maneira que ela pudesse ver ele melhor.

— Lestrange bateu ela em uma árvore enquanto ainda estava no corpo de Lia, me pegou desprevenido. — Ele falou meio constrangido, depois deu de ombros. — Fora isso, fiz um corte na mão para ativar um escudo mágico, já que ele tomou minha varinha, mas esse já está completamente curado e a cabeça está quase lá, nem sequer estou sentindo mais.

— E Lia, tá tudo bem com ela também? — Heidi perguntou tímida e dessa vez o corvinal sorriu de verdade.

— Ela está completamente bem, não sofreu nenhum arranhão e Lestrange apagou a memória dela, então ela também não se lembra de como foi parar lá. Nem sei se lembra da profecia de Zaki, preferimos não perguntar, para não deixar ela curiosa. — Ele explicou com calma, mais como ele mesmo. Heidi sorriu agradecida pelo relato.

— Bom saber, mas o que houve lá? Você ficou com ele por um bom tempo, ele falou alguma coisa importante? — Fred perguntou prático e eu fiquei feliz que podíamos ver a reação de John agora, porque ele hesitou e olhou para Sharam, antes de responder.

— Ele definitivamente tem um comparsa, chama ele de “besouro”, creio que seja uma referência ao trabalho de Dolus. Se for esse o caso, talvez ainda haja esperança para o insectologista. Ele poderá retornar para o próprio corpo e até mesmo Bradbury pode voltar para o seu, quando nós o acharmos. Não vi o rosto do homem, ele estava encapuzado, mas há uma grande chance de ser o corpo de Bradbury com a mente de Dolus sob a maldição Imperius.

Ele contou tudo com calma, mas novamente aquela sensação de que algo estava sendo propositalmente omitido soou nos meus ouvidos.

— Então Lestrange só queria o diário de Bella e tem um comparsa... Ele não mostrou nenhum interesse nela? — Fred perguntou de braços cruzados, com sua vassoura presa contra o peito.

— Eu lembro bem do que Erick falou sobre Bella e o diário de Jacob Thompson não devendo ser deixados no mesmo lugar, no fim das contas ele tinha razão e foi melhor deixar o diário com Scorp, mas esse outro... Lestrange só queria saber dele, não mostrou nenhum interesse por Bella.

— Você disse que o diário não tinha nada de importante, mas parece que tinha algo, se ele se esforçou tanto para pegá-lo. A menos que Lestrange ache que recuperou o diário que tinha perdido. Pode ser esse o caso? — Louise especulou em voz alta, fazendo o corvinal a olhar um pouco ofendido com a insinuação de que ele tinha deixado passar uma pista importante.

— Ele sabia exatamente o que queria e o diário realmente não tinha nada importante, nem reagiu a nenhum feitiço revelador que eu tentei, mas Bella filmou as páginas, Sharam vai enviar o arquivo. — John buscou a namorada por confirmação. — Você pode dar uma olhada, se quiser, o que quer que esteja nesse diário está além das minhas habilidades de investigação.

— Ok, vamos dar uma olhada por aqui, isso é um começo, uma merda que ele tenha acesso a esse material, mas pelo menos nós não o perdemos completamente. Vamos dar uma avaliada nesses desenhos tão famosos... — Falei com um sorriso consolador, porque não era culpa de John se o maníaco tinha invadido Uagadou e roubado o queria, nem que Thompson tenha escrito o próximo Código da Vinci! — Mas agora falando sério, o que aconteceu naquele bosque que você não quer nos contar, John?

Dessa vez ele baixou o olhar e eu soube que estava certo, Louise me olhou intrigada e Fred franziu o cenho para a pergunta, mas eu preferi esperar o próprio John responder às indagações silenciosas dos dois. Heidi, Dominique e Roxanne continuaram ouvindo tudo, atentas, Nique trocando o peso de um pé para o outro, um pouco nervosa.

— John testemunhou ele voltando para o corpo de Dolus, conseguiu distrair os dois bruxos e proteger Lia com um escudo feito sem varinha. Ele foi muito bem. — Sharam sorriu incentivadora, como se já tivesse repetido isso algumas vezes, mas o corvinal se recusasse a ceder aos elogios.

— Sharam chegou bem a tempo, se ela tivesse se atrasado um minuto... A conversa hoje seria completamente diferente. — Ele falou sério, depois mordeu os lábios, ainda sem encarar a câmera ou a namorada ao seu lado.

Nada disso era um bom sinal.

— Esse tal de besouro lançou uma maldição da morte em John, mas ele deve estar sob um Imperius, como eu disse, porque faltou desejo de matar e o escudo de energia de John foi capaz de proteger ele e Lia. — A batedora falou com cuidado, mas mesmo assim a mensagem não foi menos chocante.

John  recebeu uma maldição da morte? Ela está falando de um Avada Kedavra?

— Espera, você está dizendo que John sobreviveu a um Avada? — Fred perguntou assustado e não cético como era sua natureza normal e o esperado do sobrinho do “Menino que sobreviveu", Harry Potter.

Mas é preciso que a gente relembre que o título completo de Potter é “O único menino que sobreviveu a um Avada Kedavra lançado pelo maior bruxo das trevas, com toda a raiva do mundo, quando tinha apenas um ano de idade e depois mais algumas vezes ao longo da adolescência”.

Todo mundo concordou que era um título muito longo, por isso ficamos com “o Menino que sobreviveu".

— O homem que me atingiu não tinha colocado força real no feitiço, mas Lestrange estava disposto a terminar o serviço. Se Sharam não tivesse chegado a tempo, eu nem estaria aqui falando com vocês, por isso agradeço imensamente a ajuda de todos. — Ele disse como se não fosse grande coisa, mas era muita coisa, era coisa para caralho!

Lestrange quase matou um de nós!

— John, eu sinto muito, você nem tem o que agradecer. — Louise falou quase chorando e o corvinal pareceu novamente incomodado, ele não era do tipo que lidava bem com pena. — Eu nem sei o que dizer, não era para isso ter acontecido de forma alguma!

— Tudo bem, eu escapei, então está tudo bem, sério. Mas serve de alerta, Scorp e Macmillan também estiveram cara a cara com os dois bruxos e podiam ter se machucado ou até morrido. Já foram dois confrontos diretos, não pode haver um terceiro. — John alertou e eu não pude concordar mais, porque saber que Scorp também correu risco de vida e eu nem dei a devida atenção na época, me deixou enjoado.

Primeiro eu ignoro o problema gigantesco de Aidan, não dou a mínima para o risco de vida que Scorp – e Macmillan, que nem devia estar lá – correu e agora John quase morre também, lutando sozinho contra um inimigo que não é só dele. Que tipo de amigo eu sou? Que tipo de equipe os iconoclastas são?

— Se houver um outro encontro, agora já sabemos melhor, sabemos que ele não está para brincadeira, irá matar se tiver a chance, então temos que estar preparados. — Fred falou confiante e eu evitei revirar os olhos para a grifinorice. — Agora me explica uma coisa, John, como a caixa dele funcionou sem ele ter sangue Lestrange? Ele adulterou essa caixa também?

— Sim, infelizmente. Achei que ele estava querendo o diário de Thompson para descobrir como fazer isso, mas esse não foi o caso, ele já desvendou essa parte, então ele quer saber outra coisa, não faço ideia do que. — John falou mais confortável com o novo tópico, embora o que ele falou não melhorou em nada minha sensação de mal estar com a situação toda.

— Ele deve ter desvendado a magia de sangue junto com Cassandra White, há anos! Esse deve ser o mistério que o fez mandá-la para longe! — Louise concluiu espertamente e eu fiquei grato por ter gente verdadeiramente inteligente no grupo. Ao menos isso...

— Há uma grande chance de você estar certa, então a gente precisa saber o que ele quer agora. É o único jeito de impedir ele de conseguir alcançar seus objetivos. — Fred falou pensativo e eu acrescentei mais um elemento ao raciocínio.

— Talvez tenha algo haver com o poder que as três caixas juntas podem alcançar, quero dizer, Samuel contou que duas caixas, além de trocar o corpo, arte que Lesteange já dominou, dão a memória do outro para você quando unidas e com as três caixas, até a magia passa a ser sua! As caixas foram abandonadas pelos Lestrange, porque bruxos antigos da família usaram os artefatos para roubar essas coisas permanentemente!

Relembrei o que tinha descoberto na conversa com Aizemberg e Bertrand, fazendo Fred me olhar com os olhos bem abertos, impressionado com a implicação de tudo isso. John parecia querer falar algo, mas o grifinório foi mais rápido.

— O que acontece com a outra pessoa do outro lado da conexão? — Ele perguntou nervoso, mas eu franzi o cenho, sem entender o que ele queria saber. Ele tentou explicar com outras palavras. — Se um dos bruxos pode ficar com as memórias e os poderes do outro, o que sobra para aquele que não está com a caixa?

Boa pergunta, não sei o palpite certo para isso, mas tenho alguma ideias...

— Não poderia ser uma troca como no caso dos corpos, porque uma troca completa não faz sentido, não sobraria nada seu para usufruir da situação, sua mente, corpo e mágica estariam com a outra pessoa. — Comecei com receio, porque a conclusão que eu tinha chegado não era lá muito feliz. — Então significa dizer que o que é do outro passa a ser seu, só não sei se ele fica com algo ou perde tudo. Acho que a partir da segunda caixa, a relação passa a ser desigual e hierárquica.

— Pode ficar com a memória, talvez em duplicata, mas a magia com certeza seria totalmente perdida. — Heidi falou raciocinando em voz alta e eu fiquei impressionado com a hipótese acurada que ela chegou, mesmo sem saber de todos os detalhes do problema. — Não dá para duplicar a magia, ela pertence a uma pessoa e só a uma pessoa, não tem como dividir, vi isso em alguns apontamentos de Transfiguração e até em DCAT.

— Sim, o princípio de unicidade, um bruxo só existe porque sua magia existe e é única, sem ela não há bruxo. — Fred falou ainda de braços cruzados, sério. — Não é nada bom que Lestrange queira tal poder, porque isso faria ele ir atrás de pessoas talentosas, como Macmillan ou Teddy...

— Sim, isso é no mínimo alarmante, a gente vai precisar proteger não só os iconoclastas, mas também todos que estejam inscritos no Estatuto do dom, com quem Lestrange teve contato recente. — Falei pensando em pessoas mais proximas da gente, tipo Enrique, Erick, Aidan, Anne, Zaki e o próprio Fred. John finalmente se pronunciou, aproveitando o silêncio reflexivo que caiu no grupo.

— Ele meio que disse o que queria... — Ele falou hesitante, então eu o olhei alarmado.

— Ele deu o grande discurso de vilão? — Perguntei curioso, porque, sério? Eu achei que isso só acontecia em filmes e coisas do tipo!

— Mais ou menos... Parte do motivo para ele ter me agredido e tentado me matar foi por causa do que eu falei para ele, eu meio que o irritei. — O corvinal falou com vergonha e eu não pude evitar meu olhar sarcástico, o fazendo rir pela primeira vez desde que essa ligação começou. — Nem comece!

— Você irritou o vilão assassino de propósito? — Eu falei exasperado com o tamanho da cretinice de John, quero dizer, depois eu sou o sem juízo do time? Como pode isso, minha gente? Os corvinais esses tempos estão roubando todos os meu títulos, de competitivo a inconsequente, são os primeiros em tudo agora!

— Não foi bem assim, eu precisava de uma distração e ele parecia ter tudo sobre controle, fingiu que tinha decidido me levar com ele de última hora, mas eu tenho quase certeza que levar alguém sempre esteve nos planos dele. — John começou a explicar e Sharam o olhou com um pouco de irritação.

— Você não me disse isso. — Ela acusou e ele só deu de ombros como resposta. Pior resposta, cara, ela é sua namorada que sabe usar um bastão de Quadribol!

— Achei curioso ele querer parecer mais amador do que é realmente, talvez só não quisesse nos alertar dos riscos, mas definitivamente o modus operandis dele é capturar as pessoas, pegar informações e apagar a memória recente ou usar o corpo, ele é bom nas duas coisas. — John continuou seu raciocínio de maneira brilhante, como sempre, porque a gente ignorou completamente toda a nossa convivência com o cara em Hogwarts!

— Apagar memória era a marca registrada de Lestrange no corpo de Bradbury! Louise, esse é o perfil dele, ele não confronta, ele prefere manter as pessoas vivas! — Eu falei diretamente para minha irmã, porque ela estava comigo quando Teddy nos deu uma aula breve de como traçar perfis de bandidos foragidos.

— Mas ele mata quando é preciso, a gente viu isso com Haardy e Dolman e agora com John também. — Ela me lembrou, provavelmente querendo cortar a minha animação por ter alguma chance dele não tentar nos matar de novo.

Poxa, eu só queria esperanças!

— Não dá para ser perfeito! Ok, John, o que mais descobriu sobre o perfil dele? Conte-nos tudo, não esconda nada! — Falei ansioso, teria batido uma palma para despertar o cérebro dele, mas minha mão estava ocupada segurando Caveira.

— Descobri que os dois tem razão, matar não é a primeira opção de Lestrange, mas ele faz quando necessário. Porém o mais importante é saber o porquê da morte não ser a primeira opção dele! — O corvinal parou para tomar fôlego, ou para dar mais ênfase no que iria falar, não sei, corvinais são sempre tão cheios de firula! — Eu acredito que a resposta para isso é que Rabastan Lestrange não quer mais ser um vilão.

Todos nós recebemos a informação com a devida atenção, então houve aquele silêncio respeitoso, quebrado apenas por Fred, que descruzou o braço e falou em seu tom julgador de sempre.

— Ele está fazendo um trabalho de merda com isso.

— Eu sei, disse a ele a mesma coisa, com outras palavras, claro e isso quase me rendeu uma rachadura no crânio, então vamos manter essa verdade óbvia só entre nós. — John falou divertido e dessa vez Sharam deu a punição dele na hora, algo fora do alcance da tela do celular, mas que fez ele dar exibir uma careta mesmo assim. — Mas voltando ao que importa, é para isso que Lestrange quer as caixas, para ter uma vida onde ele não precise mais fugir. Uma vida que ele possa recomeçar do zero.

— Erick mencionou algo sobre isso, falou brincando que Lestrange não tinha nenhum desejo megalomaníaco, assim como ele, só que acontece que Erick continua se metendo onde não deve e fazendo coisas que fazia como djinn, então por que Lestrange seria diferente? — Perguntei especificamente a John, que sabia mais do que qualquer um ali aquela história antiga com o meu tio querido.

— Ele não é diferente e esse é o cerne da profecia: tirando o fato de que não podemos deixar que um homem roube a vida de outro por motivos éticos óbvios, a profecia de Zaki deixa claro que o maior problema é que, independente do que Lestrange queira, ele não tem como evitar fazer um estrago no mundo! — John concluiu e Louise completou fascinada.

— Ele destrói tudo que toca...

— No fundo ele sabe bem disso e quando é lembrado, perde o controle. — John afirmou, depois se aproximou mais da tela, dificultando da gente ver Sharam ao seu lado. — Eu vejo um padrão: ele teve que eliminar Thompson, Dolman e Haardy... Todos aqueles que de alguma forma podiam estragar seu objetivo primário de ter uma vida sem ser perseguido, quase me eliminou também, não sei quantos deles eram para morrer originalmente, só sei que ele sempre vai atrás das pontas soltas.

— Que engraçadinho ele, por que ele nunca foi atrás dos FerrZ, por exemplo? Dos cachorros grandes ele não vai atrás, muito engraçado! — Falei revoltado, porque os FerrZ foram quem obrigou ele a se meter no negócio de poções em Hogwarts, meio que iniciaram o fim da sua vida pacata de professor torturador de Poções.

Se ele quiser, dou a ele rapidinho a localização atual do CEO do conglomerado, para poupar o trabalho de procurar!

— É uma excelente pergunta, porque mesmo quando Lestrange parece ter atingido o tal estado de segurança que ele tanto quer, algo o impulsiona a ir além, como se ele não conseguisse se conformar com pouco. — John começou incerto, depois adquiriu mais confiança e continuou. — Ele obviamente não atacaria os FerrZ pelo poder de resposta deles, mas eu acredito que, na verdade, ele tenha aceitado a possibilidade de fazer algo além da vidinha medíocre de ensinar em uma escola.

— Ser professor não é medíocre. — Sharam falou chateada e John balançou a cabeça como quem concede um ponto, mudando o tom para um menos enérgico.

— Eu não acho que seja também, mas eu estou tentando pensar como Lestrange deve pensar: ele nasceu como um membro de uma família nobre, por um bom tempo ser rico era tudo que ele conhecia, não é como se isso pudesse ser apagado dele com um estalar de dedos! — Ele fez o gesto para ilustrar seu ponto e isso serviu para estalar algo na mente de Segundo ao meu lado.

— A não ser que tenha sido exatamente isso que aconteceu! — Fred falou com aquele olhar de louco que ele tem quando está pensando em algo grande. — Estamos esquecendo do trabalho de Bradbury, a pesquisa que ele fez em Azkaban, lembra, Cesc? Estivemos lá com Enrique!

Ai meu Deus, sim! Como esquecemos isso? Azkaban foi uma das experiências mais odiosas da minha vida!

— Bradbury estudava essa possibilidade de apagar memórias chaves das pessoas para lidar com os problemas delas no presente, os FerrZ patrocinaram isso, está tudo no nosso quadro! — Eu falei animado, lembrando do nosso esquema complexo que Fred havia minimizado e levava para cima e para baixo na sua bolsinha dos mistérios. — O que a gente não colocou foi as possibilidade de efeitos desse apagar de memórias na vida do rato de laboratório em questão!

— E quais são esses efeitos? Cesc, você teve sua memória apagada, de um jeito diferente, mas ainda assim vale a pena perguntar... O que acontece depois? — Louise me questionou igualmente animada com a perspectiva de ter coisas para adicionar ao perfil de Lestrange.

Valeu pela aula, Teddy!

— Primeiro é como se o que tivesse sido apagado não existisse mesmo, eu não daria um segundo pensamento para o Ocaso, se não tivesse vocês para me lembrar o que eu havia esquecido! — Falei meio incomodado de lembrar daquela época. — A sensação que você tem é que você quer se afastar daquele assunto e não sabe bem o porquê. Sempre que eu pensava em Haardy, por exemplo, minha mente ficava me sabotando, dizendo que não tinha nada demais com o cara.

— Mas o estranhamento estava lá. — John apontou mais como uma certeza, do que como uma pergunta.

— Sim, estava. Na verdade a sensação era quase de medo, como se eu estivesse fazendo algo muito errado, se pensasse demais no assunto que não devia, sabe? Toda vez que alguém falava de Haardy, a sensação que eu tinha era de que devia correr para as montanhas! — Lembrei com incômodo, porque esse não foi um dos meus melhores momentos.

— Bem, então a gente sabe que pode ser isso que está acontecendo com ele, um efeito pendular... Vocês ainda tem o arquivo de Bradbury sobre Lestrange que pegaram de Azkaban? — John perguntou ainda meio contemplativo e eu revirei os olhos para a pergunta idiota.

— Não, imagina! Joguei na privada na primeira oportunidade que tive! É claro que eu ainda tenho o arquivo, eu quase fui preso só para tirar aquele arquivo de lá! — Falei cheio de emoção, porque não é só John que vive situações de perigo real nessa equipe!

— E você leu o arquivo? — Ele me perguntou com um sorrisinho cínico e a vontade que eu tinha era de estrangular ele pelo telefone, não dá nem para culpar Lestrange por enfiar a cabeça desse garoto numa árvore.

Matar já é demais, mas uma leve agressão física ele bem que merece de vez em quando!

— Eu não li, porque tinham um monte de coisa científica e eu estava emocionalmente travado com aquela coisa, porque, você sabe, me lembra do meu tempo em Azkaban e isso tudo é muito traumatizante! — Falei fazendo drama e Segundo me olhou com diversão.

— Ficamos lá por no máximo duas horas, contando a viagem de ida e volta, você fala como se tivesse cumprido uma pena gigante lá! — Ele falou cruel como sempre, porque este grifinório é a maldade encarnada!

— Eu ainda posso cumprir uma pena gigante lá, porque eu fui obrigado a roubar um arquivo da prisão e eu nem sequer tenho um réu primário para aliviar minha punição! — Eu lembrei a ele horrorizado, mas você acha que Segundo ligou? Não, ele deu risada, como o trasgo sem coração que é.

— Cesc, agora a gente só está perdendo o ponto, vamos voltar para Lestrange. John, o que significa esse efeito pendular que você mencionou? — Fred perguntou mais próximo de mim do que eu gostaria, porque ele não presta. O teria afastado, mas era a única forma dele ter acesso a cara de John e Sharam no celular.

— Não é um nome técnico, é só uma analogia ao pêndulo que vai e volta, sempre para duas direções. Por exemplo, o filho de um pai violento pode ser duas coisas, ou violento como o pai ou completamente dócil. — Ele explicou com calma, depois consertou os óculos e continuou. — No caso de Lestrange, ele antes tinha um comportamento forte, que foi apagado. Pelo que estou entendendo a partir da experiência de Cesc, agora ele está indo completamente para o lado oposto desse comportamento.

— Então a gente precisa saber que merda de comportamento é esse! Teoricamente era para Bradbury tentar tirar algo que não prestasse, como o lado oposto do que não presta é pior? — Eu perguntei frustrado com a lógica da coisa. Não era para este homem ter melhorado com o tratamento?

Louise riu do meu desespero e eu só a encarei com raiva, porque isso não era para estar acontecendo, não era para Lestrange ainda ser um vilão e não era para as pessoas rirem das coisas sérias que eu digo!

Qual o problema do mundo?

Alguma coisa aconteceu do lado de lá da conversa, fazendo John e Sharam desviarem a atenção por alguns segundos, terminando com minha amiga batedora confirmando algo em português para o nada, ela sorriu para o que quer que estivesse fora do alcance da tela, então os dois voltaram a nos encarar.

— Hora de ir, o último barco do dia vai sair no Nilo Branco e temos que estar nele. — John falou meio desanimado, Deus sabe o porquê. — Queria poder usar essa engenhoca trouxa com mais frequência, admito que é uma ótima ferramenta, mas é provável que a gente não tenha nenhuma oportunidade de usá-la novamente, antes do meu retorno à Europa.

— Não pode usar agora, mas pelo menos pode comprar um celular para falar com Sharam quando quiser, ela vai ser uma senhora formada em breve, tão velha, quase uma idosa, nossa linda Sharam... — Falei provocativo e ela me mandou um gesto obsceno com a mão, como a boa dama que é. Eu ri e John beijou o rosto dela, sussurrando alguma coisa que não deu para ouvirmos. — Ok, casalzinho, até mais, a gente continua se falando por texto depois.

— Até mais, John, vou te mandar uma mensagem mais tarde, fique atento aos pergaminhos. — Louise falou enquanto me empurrava para ficar na frente da câmera.

— Certo, vou ficar no aguardo. — Ele sorriu com calma, depois apontou para onde eu estava, acertando direitinho a posição da câmera. — E Cesc, desfaça a ponte no nosso símbolo, a gente tinha combinado que não iríamos melhorar essa parte da comunicação!

— Porra, deixa de ser ingrato, eu tava tentando salvar sua vida! — Eu falei ofendido e ele deu risada do meu drama. — Eu não tenho culpa se sua aprendiz não tem uma pena decente para nos escrever!

— Na verdade, você tem sim, esse é seu dever de casa: vai providenciar mais penas do Ocaso! — Ele falou e antes que eu pudesse argumentar contra isso, o filho da mãe desligou na minha cara!

Como John sabe desligar uma chamada telefônica, se ele ainda chama celulares de engenhocas trouxa?

— Ele tem razão, você sabe... Essa entrega de penas está atrasadas há um bom tempo e convenientemente o único que recebeu sua encomenda foi o namorado do fabricante. — Fred falou com sua expressão mais cínica, insinuando um favorecimento da minha parte.

— Bem, talvez eu tenha feito uma pena para Enrique, porque ele foi o único que me deu uma pena para trabalhar! — Apontei o óbvio, porque meu namorado interesseiro só me cedeu a própria pena do Ocaso, quando eu prometi colocar os feitiços em uma versão melhorada da pena original. — Eu não tenho dinheiro para bancar outra dezena de penas caras para esse grupo, vocês nem pagaram pela última remessa!

— Nossa, mas tem que pagar para fazer parte do Ocaso? — Roxanne perguntou indignada e eu a fuzilei com o olhar. Só podia ser irmã de Fred mesmo!

— Não tem que pagar para entrar, mas tem que pagar para ganhar uma pena, essa é a nova regra! — Falei empolgado, porque desse jeito eliminava logo essa ladainha de que eu estava deixando os novos iconoclastas na mão. — Pagamento adiantado! Estou aceitando encomendas a partir de agora.

Saí marchando do estádio, direto para o labirinto, com as novatas pisando nos meus calcanhares: Roxanne indignada com a mudança no tratamento dada aos recém chegados, Heidi partindo para a chantagem emocional para conseguir sua pena e Nique, pobrezinha, apenas tentando descobrir o valor da pena.

— Pra você eu faço de graça, Nique, porque eu meio que roubei o seu namorado. — Falei de brincadeira e ela deu risada, comemorando a vitória inesperada.

— Ain, obrigada pela consideração, Cesc! Mas eu devo te lembrar que você não roubou nada, aquele traste do Dussel nunca foi meu para começar e foi de muito bom grado para os seus braços. — Ela falou com sua recém adquirida aura de garota madura e equilibrada, então eu passei meu braço pelos ombros dela, amigavelmente.

— Verdade, Nique, mas ele ainda vai pagar pela sua pena. — Falei divertido, arrancando um sorriso cúmplice da lufa-lufa. — Vem, criança, eu tenho uma ou duas coisas a te ensinar sobre o uso do trem da culpa em sonserinos ricos.

— Ei, esse sonserino rico poderia, por favor, pelo amor de Circe, pagar as nossas penas também? — Heidi falou isso agarrando meu outro braço, o que não estava ao redor de Dominique. — Por favor, Cesc, diga a Rick que é Didi que está pedindo.

Ela fez um biquinho, então Roxanne passou na minha frente, me parando com uma das mãos no meu peito.

— Diga a ele que Roxie também está pedindo e se ele disser “quem diabos é Roxie?”, você aplica o trem da culpa mais uma vez nele, tipo, “como assim você não sabe quem é Roxie, Enrique?”. — Roxanne pediu tudo isso engrossando a voz na parte de Enrique e anazalando o tom na minha parte.

— Eu não falo assim, tá errado isso aí! — Eu reclamei, sendo segurado e assegurado pelas minhas duas garotas lindas, Nique e Heidi, cada uma de um lado do meu corpo. Elas fizeram uma expressão indignada para Roxanne também.

— “Como assim você não sabe quem é Roxie, Enrique?” — Dessa vez Roxanne fez uma voz ainda mais grossa que a que tinha usado para interpretar Enrique e eu a olhei avaliativo, ela fez sua melhor carinha de anjo, se valendo das suas sardas bonitinhas na ponta do nariz.

— Hum... Irei pensar no seu caso também, mas não prometo nada!

***

Acabou que eu liguei para Enrique e ele estava tão animado, que não foi nada difícil ele me prometer comprar, não só a pena das meninas, mas também umas duas dúzias de pena no mesmo lugar que eu comprei as originais do Ocaso! Ele disse que iria solicitar como material de escritório lá na empresa dele e quem sou eu para julgar os maus hábitos do herdeiro Dussel?

Mas confesso que foi bom ver a empolgação voltar aos olhos do meu namorado, nos últimos dias ele tinha estado bem chateado com sua proibição de não poder sair de Londres. Eu nunca havia reparado, mas a rotina de Enrique basicamente se baseava nele indo para cima e para baixo pela Europa e até no Japão a criatura foi!

Ele visitava os pais no interior da Inglaterra, às vezes ia ver os sobrinhos na Romênia, quando eles estavam passando alguns dias com a família por parte de pai, os Romansek. Tinha as visitas a mim, que lhe faziam ter que ir da Inglaterra para a França, então Espanha e é claro, tinham as visitas a Jweek e Heitor em Vratsa, casa de meio período do casal, o outro endereço sendo em Londres mesmo.

Ele estava se sentindo preso de verdade, mas ante a possibilidade de ir para Azkaban, aquilo não deveria ser tão mal, mas era. Acho que a mãe dele ficou com pena, porque finalmente ela permitiu que ele usasse o presente de aniversário que ganhou de Jweek, lá em abril, mas nunca teve a oportunidade de reivindicar.

Não teria a oportunidade agora também, porque o presente era uma tatuagem com um cara super famoso lá de Vratsa e Enrique não está podendo sair do país, mas pelo menos ele pode se distrair escolhendo os desenhos e efeitos mágicos que a tatuagem vai ter.

A parte mais fofinha disso tudo é que ele teve que esperar a permissão da mãe, minha amada sogra Eileen Dussel, mesmo sendo oficialmente maior de idade e morando sozinho. Deus, o coração não aguenta com tamanha fofura dessa criança grande!

Estava conversando com Aidan justamente sobre isso, no caso, Dood estava louco para poder desligar a ligação para ir zoar Enrique com essa coisa da mãe mandando nele, mas eu ainda não tinha acabado de falar, então o proibi de desligar a chamada na minha cara.

Já basta John ter feito isso hoje!

— Aí eu fiz ele prometer que não iria fazer nada de mal gosto, tipo o pênis enorme que ele e Romeo inventaram de colocar na pia do banheiro do apartamento dele. — Eu falei enquanto comia chocoballs e checava se meu feitiço de som ainda estava funcionando, porque Fred me olhou de cara feia quando eu dei risada da expressão de Dood.

— Eles colocaram o que no apartamento? — Aidan perguntou, quase engasgado com seu youkan de chá verde. Eu dei de ombros, como se aquilo não fosse nada demais.

— Pois é, Dood, você ouviu certo da primeira vez! Devia ter deixado você ver por conta própria quando viesse de visita. — Falei cínico, depois apoiei o celular na cama e limpei o indicador sujo de chocolate com língua, para poder demonstrar o tamanho da coisa com as duas mãos. — É um consolo enorme!

Aidan riu e eu voltei a pegar mais chocolate e jogar para cima e capturar a bolinha deliciosa com a boca, quando percebi uma outra chamada de vídeo na tela do meu celular.

— Olha só, Dood, o que o gato trouxe para a gente... — Falei sarcástico, mas disfarcei um pouco, para não chamar a atenção de Fred. Ele não podia me ouvir, mas podia ver e eu meio que queria atender essa ligação em especial sozinho.

De todas as ligações que eu recebi hoje, essa era a mais importante de todas, John e Aidan que me perdoem.

— Quem é que está te ligando a essa hora? Aí já está quase na hora de dormir, não? — Ele olhou para o próprio relógio, ouvindo o barulho da chamada, que eu estava deixando se prolongar por mais tempo do que o necessário.

— Aqui no identificador diz Kitcat, mas sabemos muito bem que por trás do telefone de Katherine, sempre há uma Sombra perigosa, não é mesmo? — Falei sem conseguir controlar minha irritação, porque era muita desfaçatez Sev ligar para mim, antes de mandar satisfações para todo o Ocaso!

— Ah, eu quero falar com ele também! Coloca ele na nossa chamada, é só apertar a opção com os três bonequinhos arrumados em um triângulo. — Aidan instruiu e eu franziu o cenho, não encontrando essa opção no meu aparelho.

— Não tô achando, aqui só tem atender ou...

— Não, você tem que ir na chamada dele, pode ser que no seu celular esteja nos três pontinhos, perto da opção do viva-voz. — Ele ficou apontando para a parte debaixo da tela, como se realmente estivesse conseguindo ver o que se passava do lado de cá da chamada.

— Ah, achei! — Já ia apertar o botão, quando Aidan me parou no ato.

— Só uma coisa antes de você atender: não fala nada e não demonstra nenhuma emoção. — Ele disse sério e eu o olhei confuso.

— Por que?

— Só confia em mim. — Ele disse, depois ficou calado, aguardando eu adicionar Albus a nossa chamada. Apertei o botão, antes que ele desistisse da ligação e assisti Aidan mudando de postura e colocando a mão de leve sob os lábios, a tatuagem de lealdade feita para à Yakuza ficando à mostra no vídeo.

Oh, Merlin, isso vai ser interessante.

O rosto de Albus apareceu dividindo a tela com o de Aidan, o garoto parecia tão dissimulado como sempre, mas ficou meio surpreso ao ver o lufano dividindo a ligação.

— Está sozinho, Potter? — Aidan perguntou frio e eu tive que me controlar para não rir do leve franzir de cenho do grifinório com o tom.

— Estou, Lily e Kath queriam participar dessa conversa, mas achei melhor só eu falar por agora. — Ele explicou, gesticulando daquele jeito que ele adorava fazer para me irritar, aparentemente.

— Achou certo, porque queremos falar com você primeiro. — Aidan continuou, agora dando uma pausa dramática, olhando para baixo, então voltando a encarar o outro iconoclasta com algo próximo a empatia. — Por que fez isso, Al?

O lufano soou triste, mas disposto a ouvir o que quer que nosso amigo meliante tinha a dizer em sua defesa, o que era mais do que eu iria fazer se tivesse assumido o controle dessa conversa.

— Espera, espera! Vamos voltar um pouco essa história, porque eu preciso saber do que estou sendo acusado aqui. — Ele respondeu divertido, mas eu mantive minha expressão neutra e Aidan colocou os lábios em linha e olhou para baixo com decepção, como se aquele comportamento fosse inaceitável, mas esperado.

— Al, você vai ter apenas uma oportunidade para nos dizer a verdade, depois disso, você vai ter que aceitar o que quer que nós façamos, baseado no que a gente já sabe. — Aidan começou e o garoto do outro lado da tela inclinou a cabeca para o lado, intrigado.

— O que isso quer dizer?

— Significa dizer que, independente do que você fale em sua defesa, a gente já tem uma meia verdade construída. Ou você muda ela com a verdade completa ou aceita que vamos te punir baseado no que a gente acredita. — Ele explicou com calma, fazendo Albus rir sem humor.

— Me punir, Hataya? Uou, aparentemente eu já estou condenado antes mesmo de abrir a boca! — Ele falou sarcástico e Aidan confirmou com a cabeça.

— Está, mas não significa que você não possa ao menos tentar se justificar. Por que fez isso, Albus? Por que usou a ferramenta do nosso grupo para fazer algo tão cruel como o Hall da Vergonha e ainda arrastou Lily e Kath para essa sujeira? — Dessa vez Aidan havia colocado sentimento real na pergunta e isso fez Sev reagir.

— Eu não coloquei as meninas em nada, elas estão limpas e quanto a mim... — Ele hesitou, olhou para baixo bem no momento em que Fred me encarou da cama, atento a minha mudança de humor.

Usei minha mão livre para gesticular como se estivesse escrevendo, apontei para a pena e pergaminho na escrivaninha dele. Segundo me encarou com estranhamento, mas me passou o material sem perguntar nada.

Estamos conversando com Albus, pode ouvir, mas não fale absolutamente nada, ok?

Ele leu a mensagem e fez que sim com a cabeça, sentando na ponta da minha cama, atrás do celular, mas dentro do alcance do áudio do aparelho e da proteção de ruídos do meu feitiço. A primeira coisa que ele ouviu foi a voz de Albus com aquele tom de deboche dele.

— Aparentemente eu já estou condenado, qual o ponto dessa conversa mesmo? Achei que a gente poderia ter uma discussão decente, mas vocês já estão com a cabeça feita, então...

— Não ouse se fazer de vítima, Albus! Estamos te dando a oportunidade de falar e se eu fosse você, eu aceitava, porque o seu silêncio e histórico já falaram demais por você hoje. Seus métodos valem mais do que mil palavras.  — Aidan começou irritado, depois concluiu a resposta sério, fazendo o grifinório levantar uma sobrancelha em questionamento.

— O que eu supostamente devo entender com isso? O meu histórico falou por mim? — Albus riu de novo, irritado, como se não pudesse acreditar no que estava ouvindo. — Os meus métodos falaram por mim? Os mesmos métodos que vocês adoraram que eu usasse para conseguir as informações que vocês queriam? Está lembrado disso, Cesc? De como você me pediu para eu fazer a minha “pesquisa" várias e várias vezes?

Ele fez aspas com uma das mãos, provavelmente encarando o lado da tela onde meu rosto estava. Aidan fez um não discreto para eu não responder e eu obedeci, mesmo odiando cada segundo disso. Fred estava de braços cruzados, encarando a própria perna na cama.

Aquilo não estava sendo divertido para ninguém.

— Nunca pensamos que iria usar seus métodos para nos trair, Albus. A gente acreditava que você era melhor do que isso, melhor do que a Sombra que se gabava de ser. — Aidan acusou em voz baixa, mas pela expressão de Sev era como se ele tivesse gritado.

— Eu não fiz isso para trair o Ocaso, eu só...

— Fez o que, Albus? — Aidan perguntou com frieza, demandando uma confissão completa e eu só pude assistir a essa mudança do meu amigo unicórnio sem poder dizer nada.

Merlin, os Yakuza estavam ensinando ele direitinho a ser implacável!

Sev abriu a boca, depois voltou a fechar, mordendo os lábios, sem nos encarar, como se não pudesse acreditar no que estava a ponto de fazer. Eu e Aidan aguardamos pacientemente, Segundo igualmente quieto.

— Eu criei o Hall da Vergonha. Satisfeitos? Era o que queriam ouvir? — Ele disse e mesmo já tendo certeza disso, eu senti meu coração partindo por ouvir essa confissão.

Aidan tinha razão, Sev traiu a gente!

Eu baixei o telefone para a cama, porque não tinha como ficar encarando Sev agora sem expressão nenhuma no rosto. Eu olhei para Segundo e vi o tamanho da decepção dele também. Albus Severus Potter era primo dele e agora tinha acabado de confessar que era uma pessoa sem escrúpulos, honestamente, Fred não merecia isso.

Nenhum de nós merecia.

Fred tocou de leve no meu tornozelo, para chamar minha atenção e me deu um sorriso triste, como quem diz “o que há de ser feito?” e eu só assenti com a cabeça. Respirei fundo para voltar para a conversa, bem a tempo de ouvir Aidan continuar o interrogatório.

— Por que fez isso, Albus? — O lufano perguntou parecendo bem mais equilibrado do que eu e talvez por isso mesmo Sev tenha ficado em silêncio por mais alguns segundos, provavelmente tentando ler as nossas expressões.

— O Ocaso precisava de pautas e tudo que eu estava descobrindo era fraco demais para sucitar alguma discussão digna e nós estávamos afundados demais em investigações que tinha que se manter secretas. — Ele parou a explicação, para pensar em como dizer o restante do seu raciocínio. — Parecia que eu era o único que ainda me importava com o que as pessoas pensavam da gente, vocês todos estavam aí, distraídos com suas novas vidas!

— Era um período de adaptação difícil para todos, Albus, era natural que houvessem distrações. — Dood falou cansado, não sei bem se ainda dentro da técnica Yakuza de interrogatório, ou se apenas demonstrando o que estava sentindo de verdade.

— Mas aí é que está! Era esperado que o Ocaso fosse diferente e que a gente conseguisse manter os alunos unidos, mesmo distante de Hogwarts! Não era esse o objetivo do Ocaso Mundi? — Ele perguntou frustrado e eu só me recostei na cama, assistindo Aidan buscar pelas próximas palavras.

Ficar calado estava ficando cada vez mais fácil, para ser sincero. Não era como se eu tivesse muito o que falar agora e o pouco que tinha poderia fazer mais estrago do que o meu silêncio. Não queria dizer nada para Sev que eu fosse me arrepender depois.

— E aí você resolveu que era uma boa ideia criar um... Uma... Eu sei lá o que era aquilo! Você resolveu jogar um monte de fofocas cruéis no vento, sem nem pensar como isso poderia machucar as pessoas, em como isso poderia machucar a gente? — Aidan acusou e isso fez o grifinório o encarar ofendido.

— Você agora só está fazendo um drama desnecessário! A maioria das coisa que eu escrevi eram mentiras e o que era verdade não passava de fofocas de escola! Eu precisava do Hall para termos algo grande em significado, mas nada do que eu escrevi era ruim o suficiente para...

— Você divulgou para o mundo todo que um garoto inocente era um lobisomem! — Aidan falou exasperado com a falta de cuidado que Albus demonstrava com o sentimento das pessoas. Esse garoto não tem limites morais nenhum?

— Mas não há nada de errado em ser um lobisomem! — Ele respondeu no mesmo tom, também subindo um pouco a voz. Merlin, não dá para acreditar nesse cara! Ele não percebe a merda que fez! — Lavoie é famoso e agora está lá, na frente das câmeras mostrando ao mundo que não há nada de errado em ser um lobisomem! Se eu não tivesse falado, ele iria...

— Não era seu segredo para você contar ao mundo. — Aidan o interrompeu em voz baixa, mas Albus continuou se justificando.

— Não, mas era importante para a discussão do...

— NÃO ERA SEU SEGREDO! — Dessa vez Fred levantou o olhar perdido de antes, porque Aidan havia gritado e Albus parecia ter escutado ele de verdade. — Você não decide o que as pessoas devem ou não falar de si, você não decide quais consequências elas terão que assumir sozinhas, você não decide nada, está me ouvindo?

Oh, Aidan estamos todos te ouvindo!

Eu olhei para Fred por cima do celular e embora eu não possa demonstrar emoções na frente da câmera, Segundo fez isso por mim desenhando com a boca um “mas que merda foi essa?” impressionado. Desviei meus olhos de volta para a conversa, porque eu também não sei o que foi isso, mas estou gostando.

— Já fizemos isso antes, com o caso de Dolman e...

— Não foi a mesma coisa e você sabe disso! — Aidan continuou sério e Albus continuou intimidado. — Quando a gente escreve as coisas no Ocaso, a gente faz isso com um mínimo de cuidado com o sentimento das pessoas, a gente tenta minimizar ao máximo os danos. Você só fez escrever para a escola toda que Lavoie é um lobisomem e deixou o garoto lidar com as consequências sozinho! E pra quê? Para o Ocaso ter o que publicar?

— Nós precisávamos ter o que escrever e o assunto dos lobisomens é algo que precisa ser discutido, está aí, todo mundo sabe que existe, mas ninguém fala! — Sev continuou teimoso como sempre e eu esperava que Aidan demonstrasse toda a exasperação que a situação pedia, mas ele apenas se manteve sério, ouvindo tudo atentamente. — Eu não queria prejudicar Lavoie, Aidan, não foi só para ter uma pauta, eu queria ajudar, mesmo que ninguém concorde com os meus métodos!

— E por que acha que não concordamos com os seus métodos? — Aidan perguntou com uma calma sombria e antes que Albus pudesse responder, o lufano continuou. — O Ocaso surgiu como uma ferramenta de vingança e nós realmente falamos de coisas que afetam as pessoas, mas agora a gente não faz isso ignorando o que os nossos atos vão significar na vida delas, Albus. Você diz que pensou em ajudar Lavoie, mas eu quero que você seja sincero: quando você escreveu todas aquelas coisas no Hall, por um segundo que seja, você pensou no que isso significaria para as pessoas que você usou?

— Sim, eu pensei. Eu pensei no que era melhor para... — Albus começou, mas Aidan o interrompeu antes que ele voltasse a argumentar o mesmo de antes.

— Eu não acredito em você, Albus. — O lufano falou seco, dessa vez fazendo Albus piscar confuso com o tom sem vida. — Não acredito que você tenha pensado em ninguém, não acredito que você tenha pensado no que era melhor para o Ocaso, não acredito que você tenha pensando em nada! Eu. Não. Acredito. Em. Você.

O grifinório encarou a tela sem reação, depois assumiu sua postura de arrogância de sempre e eu senti que ele não estava mais falando com Aidan e sim comigo. Me preparei para o que vinha a seguir.

— Parece que Hataya já deu o veredito dele e quanto a você, Cesc? Vai me dar uma chance para eu me explicar ou vai apenas me considerar culpado também? — Albus falou cínico e isso foi pior do que se ele tivesse implorando por perdão, porque se ele tivesse implorando, eu teria perdoado, porque é certamente o caminho mais fácil, tendo em vista o quanto eu gosto dele.

— O que mais tem para ser dito, Sev? Eu não... Eu sou sonserino, cara, eu entendo isso de querer usar qualquer meio para alcançar os objetivos, mas eu não sei se suas intenções foram as melhores. — Falei tentando soar lógico, porque a verdade é que estou triste e não quero dizer o que John já tinha dito antes sobre o assunto. — Sev, onde estava seu coração quando você fez esse Hall?

Eu sei que mencionar esse coração romântico, vermelhinho e bonitinho é a coisa mais idiota a ser feita no momento, mas eu sabia que ele tinha entendido, porque mesmo tendo a coragem e sangue frio grifinórios, Albus Severus Potter era um sonserino de coração e se este estivesse no lugar certo, ainda teria esperanças para ele.

Porque um sonserino com o coração no lugar errado não é boa notícia para ninguém.

— Eu só queria que o Ocaso não morresse, Cesc. Eu não pensei nas consequências, admito, não pensei... Não, eu pensei sim, mas achei que valia a pena, porque esse é o tamanho da importância que eu dou ao que nós construímos! Eu acho que o Ocaso vale a pena, ainda acho isso. — Ele concluiu sincero e até mesmo a expressão de Aidan suavizou com essa resposta.

Olhei para Segundo por cima do celular e ele fez que sim com a cabeça, ele também acreditou na sinceridade de Sev dessa vez. Respirei fundo, então dei o meu veredito.

— Não dá para falar sobre o seu futuro no Ocaso, sem antes ter certeza de que você vai assumir as consequências de suas ações. — Falei com cuidado, o fazendo me encarar intrigado. — Nós, os iconoclastas, estamos sendo acusados de fazer algo que não fizemos, Sev, o que pretende fazer para nos proteger das consequências de suas ações?

Ele olhou para algo além do celular e eu tinha certeza que não havia nada lá, apenas a resposta que ele precisava nos dar, porque ele olhou novamente para a câmera com uma determinação diferente no olhar.

— Vou assumir a responsabilidade das minhas ações, Cesc. Vou assumir a culpa por tudo, publicamente. — Ele falou sério e embora fosse toda a resposta que eu precisasse para manter a esperança de que ainda havia decência no grifinório, o meu lado mais fraco, cheio de compaixão, falou mais alto dessa vez.

— Eles vão massacrar você, Sev. — Eu disse triste, a voz quase morrendo no final, porque eu só podia começar a imaginar o que seria para alguém como Albus Potter revelar ser o criador de algo como o Hall da Vergonha.

Os americanos iriam odiá-lo, a família dele ficaria decepcionada e a mídia... Meu Deus, isso vai ser um pesadelo, não quero nem pensar no que Harry Potter irá fazer com o filho quando souber!

— Eu sei que vão. — Ele sorriu sem humor. — Mas estou confiante de que tudo que eu fizer daqui para frente ainda vai valer a pena.

Ele falou isso com uma tranquilidade invejável, então desligou a chamada sem esperar por uma reação minha ou de Aidan, que desde aquela última declaração cruel de que não acreditava nele, não falou mais nada.

— Ok, isso foi muito bom, você foi perfeito, Cesc. — O lufano disse com um sorriso sincero e eu o olhei como se o próprio Voldemort tivesse possuído o corpo dele.

— Como pode dizer isso? Foi uma merda! Sev acabou de confessar que foi o responsável pelo Hall e agora vai dar uma de Cersei caminhanhando nua pelas ruas de Porto Real, como isso pode ser algo bom? — Eu falei irritado, sem conseguir parar de pensar em como Sev estava fodido no mais suave dos cenários.

O pai dele era uma figura pública, como seria a guerra entre os admiradores de Harry Potter e os fãs de Alex Lavoie?

— É bom porque ele admitiu o erro e assumiu as consequências, acredite, não era isso que ele pretendia fazer quando você atendeu a ligação. — Aidan falou desse jeito calmo dele e eu estava odiando isso, preferia meu Aidancórnio que nunca teria conseguido ser tão cruel com um amigo!

— Aidan, a gente acabou de dar o aval para ele ferrar com a própria reputação para livrar a cara do Ocaso sozinho, como você pode não achar isso uma merda? — Falei frustrado e Fred resolveu que estava na hora de se aproximar da tela e anunciar sua presença. Aidan não pareceu surpreso com a presença do outro iconoclasta.

— Não gosto de nada disso tanto quanto vocês, mas estive refletindo sobre o assunto a mais tempo. — O lufa-lufa declarou e então parou para formular a próxima frase com cuidado. — Eu cheguei a conclusão de que, mais importante do que saber o porquê de Albus ter feito o que fez, é garantir que ele não faça isso de novo. Eu não quero expulsar ele do Ocaso, tanto quanto você, mas também não quero que ele volte acreditando que pode fazer o que quiser de novo!

— Você está manipulando meu primo, então? — Fred perguntou com uma sobrancelha questionadora levantada e Aidan fez que não com a cabeça, antes de voltar a falar.

— Estou garantindo que o Albus que vai ficar, não é o mesmo que escreveu o Hall. Eu sei que ele ama o Ocaso, ele tem muito orgulho do que nós fazemos, então ele precisa entender que o Ocaso só vale a pena porque o que fazemos leva em consideração tanto os meios quanto os fins. A gente não pisa nas pessoas para fazer o que é certo, ponto. — Aidan concluiu, mas eu tive que lembrá-lo do que Albus havia argumentado.

— Mas nós já fizemos algo assim também, logo no início. Nós falamos do problema do time da Sonserina, sem levar em consideração o que aconteceria com Enrique, Romeo, Daniel... Todos do time que também seriam afetados com a revelação do uso ilegal de poções na capitania de Dolman.

Falei culpado, porque na época tinha sido horrível ver os meus colegas de casa se escondendo do julgamento dos outros. Enrique até deixou bem claro, mais recentemente, como aquilo tinha sido ruim, porque trouxe de volta a tona um de seus piores erros, dessa vez sob o conhecimento geral da escola.

Eu ainda me sentia culpado por isso.

— Mas até quando vocês fizeram essa primeira publicação, fizeram mostrando que não deveríamos julgar Dolman, nem os outros tão duramente, porque todos cometemos erros. — Aidan falou e então sorriu sincero, daquele jeito meio bobo e inocente dele. — Me lembro que essa sempre foi uma das minhas coisas favoritas no Ocaso: a gente sempre falou a verdade, mas com cuidado para não ser cruel. Poucas pessoas hoje em dia se dão ao trabalho de ser verdadeiramente gentis, mesmo por trás de um tom debochado e irreverente como o dos iconoclastas. Aqui, a nossa boa intenção conta.

Ah, Aidan você sempre nos deu mais crédito do que merecemos, porque na maioria das vezes nós não pensamos nas consequências, nem conseguimos prevê-las e atenuá-las, como você parece acreditar.

— Aidan tem razão, a gente pode até machucar as pessoas, mas a gente não faz isso deliberadamente. — Fred falou olhando para Aidan, mostrando que concordava com ele, depois se virou para falar especificamente para mim. — No entanto, não é a primeira vez que o meu primo faz algo moralmente duvidoso. Cesc, Albus sempre acha que magoar as pessoas faz parte dos efeitos colaterais e que vale a pena. Aidan tem razão, enquanto ele não assumir as consequências dos próprios atos, eu também não acredito nele.

— Mas eu acredito, acredito muito, por isso que tive que ser tão duro. — O lufano falou triste, soando muito mais com o Aidan que conhecemos. — Se eu não acreditasse nele, votaria para ele ser expulso do Ocaso e nunca mais olharia na cara dele, mas não é isso que eu vou fazer: eu vou querer que ele assuma as consequências de seus atos e vou ficar ao lado dele na hora de enfrentar essas consequências, ele não vai estar sozinho!

— A coisa toda é que assumir algo para provar que mudou é sempre complicado, quero dizer, às vezes a gente acha que tem que passar a vida toda se provando e isso é tão desgastante. — Eu falei melancólico, sem saber ao certo ao que eu estava me referindo. Não consigo pensar em nenhum momento que eu tenha me sentido assim, ou talvez eu tenha me sentido assim a vida inteira, sei lá. — Só não quero que Sev viva para sempre achando que a gente não confia nele.

— Cada coisa a seu tempo, Cesc. — Fred falou dando um aperto consolador no meu ombro, depois encarando Aidan pelo celular. — Aidan fez certo, primeiro a gente garante que ele não faça mais nada como isso e depois a gente trabalha para ele se sentir uma parte digna do grupo de novo. Vai ficar tudo bem, você vai ver.

Honestamente, eu espero que Aidan e Fred tenham razão, porque a outra alternativa é perder Sev para sempre, mesmo que ele ainda se mantenha do nosso lado e essa é uma hipótese dolorosa demais para eu sequer cogitar.

Porra, Sev, você tinha mesmo que fazer isso?


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Notas finais do capítulo

Ok, minhas aulas do doutorado e as aulas que eu dou como professora estão voltando essa semana, então vou ficar com menos tempo, q tal me mostrarem o q estão achando, para eu ter mais motivação para escrever mais rápido? Acreditem, ajuda muito! Estou com saudades de vocês!

Bjuxxx



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