Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 147
Capítulo 147. Ao resgate!


Notas iniciais do capítulo

Quem estava com saudades da história oficial? Sim, pq eu ultimamente postei nos Contos, She doesn't wear dress e ainda escrevi dois capítulos de Além do Castelo na semana passada, tá tudo interligado, mas a gente tem que voltar para as origens. Vou recapitular rápido as coisas:

— Cesc prometeu ajudar Juliet com o clube do teatro; ela e Samuel agora sabem sobre o Ocaso e que eles estão com uma das caixas da família Lestrange;
— Antonella Lo Presti conseguiu convencer Cesc a jogar contra seu time, agora teremos uma partida no início de dezembro entre Hogwarts e Beauxbatons;
— Louise, Heidi, Roxanne e Dominique agora estão nessa seleção improvisada e as três últimas descobriram sobre o Ocaso graças a Juliet;
— Tivemos baixaria lá em Uagadou, John se metendo em confusão, para saber mais, leia os capítulos 26 e 27;
— Cesc e John estudaram juntos em Uagadou e como trabalho final, criaram o símbolo do Ocaso;
— Por fim, Sebastian Leiris, capitão da equipe de esgrima de Beauxbatons, um dia desses deu a entender que os patrocinadores da escola haviam forçado os esgrimistas a jogarem Quadribol, será que a gente vai ver algo mais sobre isso?

Quem souber morre (eventualmente)!

Isso é tudo, meus jóvis.



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Capítulo 147

Olha, preciso falar de algo que ninguém te conta sobre ajudar pessoas: você precisa escolher aquelas que possuem o mínimo de sanidade. Esse, infelizmente, não é o caso da minha colega de casa absurda.

— Juliet, eu já disse que não posso ficar mandando recadinhos para seus atores com a pena do Ocaso, isso aqui não é brinquedo, é coisa séria! — Falei pela milésima vez só hoje, mas a garota me olhou inconformada.

— Eu não preciso da pena por muito tempo, só o suficiente para eu articular algumas coisas e colocar outras em movimento. Juro que ninguém vai perceber que eu estou usando a ferramenta do “grandiosíssimo Ocaso” para isso, eu sou muito discreta. — Ela retrucou com seu melhor olhar de filhotinho carente e eu fiz que não com meu melhor olhar de “nem fodendo”.

— A última Sombra que eu deixei com uma pena me custou um país inteiro de credibilidade! — Falei com raiva, pensando em Sev, seu silêncio e na América perdida – as mensagens no Prime só estavam piorando – e como tudo isso parecia nome de romance barato.

— Acho que sei do que está falando e, se me emprestar a pena, posso resolver esse assunto para você em um piscar de olhos. — Juliet ofereceu brincando com as sobrancelhas e dando um sorrisinho malicioso e eu fiz uma careta de resposta para ela.

— Eu só tenho 15 anos, garota, tenho que economizar minha alma para outros pactos, com outros demônios ao longo da vida, então a resposta é não, obrigado. — Falei com confiança, porque sei bem que posso conseguir coisa melhor em troca da minha alminha meio surrada.

E sim, vou vendê-la mais de uma vez, por que não?

Voltei a olhar minha lista de atividades, ignorando Juliet e matando a saudade devida da minha carreira de organizador de eventos, abandonada depois do trauma que foi o amistoso entre a seleção de Hogwarts e a minha escolinha de Quadribol.

O evento foi obviamente um sucesso, porque fui eu quem organizei, mas como coincidiu com o fim temporário da escola, as lembranças que as pessoas têm daquela noite não são as mais lisonjeiras e aí, meus jovens, não tem marketing que levante uma empresa de eventos depois de um fiasco desses!

Mas voltando a lista de afazeres:

Eu e Juliet já havíamos reorganizado a equipe dela, desfazendo os arranjos iniciais baseados nas habilidades e desejos de cada um, para agrupá-los agora de acordo com a escola em que estavam. Como dizem, a ocasião faz o ladrão, ou algo do tipo, não sei se esse ditado se aplica, mas eu meio que gosto dele, então vou citá-lo sempre que puder, me processem.

Os alunos de Castelobruxo, por exemplo, independente se antes faziam parte da equipe de efeitos ou de direção, agora estavam responsáveis pelos figurinos, aproveitando o curso de moda da escola. O pessoal lá do Brasil ficou mais do que animado em ajudar a montar o espetáculo de retorno de Hogwarts e o que é melhor, vão fazer tudo de graça!

De graça é simplesmente perfeito, adoro coisas grátis, já sabem.

Já em Durmstrang ficou o maior astro da peça de Juliet: o dragão que vai lá, tocar o terror na praia. Aproveitando que não é em toda geração que temos um metamorfomago, a nossa querida diretora do clube de teatro conseguiu cooptar Chris Macmillan para se transformar de verdade em um dragão, o que eu tenho que admitir, vai ser mesmo incrível de ver.

Se ele conseguir se transformar, claro.

Ok, tenho que admitir que, sabendo agora que ele já estava trabalhando na transformação de dragão desde antes do problema com a escola, fica mais fácil acreditar que a história de Scorp sobre sua fuga dramática de Koldorovetz seja verdadeira, afinal, um dos pontos menos credíveis era justamente o fato dele ter escapado com Macmillan, que levou os dois para longe do perigo com suas asas de dragão.

Bem, se o garoto irritante já conseguia criar asas funcionais sob estresse, o que não poderia fazer com todos os holofotes sobre si? Lembrando que ele, assim como Juliet, adora os holofotes, então isso é um motivador, na verdade.

Essa peça tem grandes chances de ser épica!

Bem, isso se Macmillan, além de virar um bicho escamoso com metros de altura, conseguir se concentrar em decorar suas falas direito – pois é, ele será um dragão falante, as mudanças na história real não param, corram para as montanhas!  –, porque infelizmente ele é um dos poucos que não temos contato via celular, já que Durmstrang, assim como Uagadou, não permite tecnologia trouxa em seus terrenos.

Mas não há muito que possamos fazer sobre isso, não é mesmo? É, então eu conclui meu relatório com todos os encaminhamentos da peça, que haviam sido feitos de tarde e agora, quase sete horas de uma agradável noite de novembro – obrigado feitiços de clima de Beauxbatons – estava pronto para mais uma rodada de trabalho.

Sim, eu sei, isso é inesperado, porque nesse exato minuto em uma sexta-feira qualquer, eu já estaria em casa, na Espanha, tendo deixado a escola logo depois da última aula do dia, mas né, a gente tem que lembrar que minha vida mole acabou:

Porque eu tenho um jogo contra o time de Quadribol de Antonella Lo Presti!

Deuses, como eu detesto essa italiana.

Faltando menos de uma quinzena para a partida entre a nova Beauxbatons e a desemparelhada Hogwarts, minha equipe estava começando a tomar forma: Louise já conseguia acertar balaços em alvos móveis e Roxanne até que havia se integrado bem com Romeo e Heidi, compensando sua inexperiência com entrosamento.

Já Dominique estava se provando uma apanhadora nata, embora eu tivesse que puxar suas orelhas de vez em quando, porque ela ainda fica meio distraída com Enrique, quando ele se presta a dar sua consultoria a distância, finalmente obedecendo sua restrição judicial de não poder deixar o país sob nenhuma circunstância.

Eu acho tudo isso um exagero, afinal ele nem está sendo acusado de um crime perigoso, mas quem sou eu para argumentar com a toda poderosa justiça bruxa? Logo eu que já estive no banco dos réus há bem pouco tempo...

Falando em réus, o processo da pequena e muito insistente – tá, ela está no direito dela – apanhadora de Uagadou havia ganhando um pouco de atenção da mídia, embora a maior parte do que foi dito pela imprensa não tenha nada a ver com Enrique.

Começou-se a falar de um possível processo contra o resultado da final do campeonato intercolegial e, eu tenho para mim, que os Dussel estão mexendo as engrenagens da máquina para manter o nome do meu namorado fora das especulações.

Mas em relação a negociação com a garota, continuamos na mesma, porque Warsan não quer conversa com os representantes jurídicos dos Dussel, que por sua vez acham que é uma péssima ideia seu cliente tentar uma abordagem fora da corte.

Talvez seja, mas algo me diz que teríamos melhores resultados se a garota conseguisse falar de igual para igual com o outro apanhador. Ambos tem muito a perder com o processo e ambos tem muito a ganhar com o acordo, quero dizer, Uagadou vai mesmo querer uma vitória de campeonato via decisão judicial?

A fama não vai ser positiva nem para a escola, muito menos para a jogadora, mas a garota está determinada a fazer justiça, custe o que custar. Eu até assumiria o caso e tentaria ajudar o meu namorado meliante propriamente, mas estou bem focado na situação de Aidan e não é como se Enrique estivesse completamente desassistido, né?

Além dos advogados, Fred está aconselhando a criatura e deixando bem claro todo seu desgosto com a situação, estando lá apenas, em suas palavras “para garantir que o melhor interesse de Hogwarts seja levado em conta, independente se você vai se ferrar ou não, Enrique".

Fred, segundo de seu nome, é um anjo caridoso!

Mas voltando para a realidade cruel, assim que entreguei os últimos pergaminhos para Juliet, a garota me olhou com os olhos semi-cerrados, provavelmente tentando explodir meu cérebro com a força de seu ódio, para então tirar minha pena do meu corpo morto, mas quando nada disso aconteceu, ela se contentou em dar um boa noite mal-humorado.

Quanta maturidade...

Peguei minhas anotações do time na mochila e coloquei na mesa, mas antes mesmo de conferir novamente as últimas jogadas que havia montado com Heidi, as meninas e Fred começaram a chegar e se sentar na mesa da sala de estudos do nosso dormitório. Apenas Romeo estava ausente, mas ele iria vir amanhã de manhã, então a turminha estava completa!

— Ok, pessoal, bom que vocês chegaram juntos, como se todos tivessem vindo no mesmo comboio de trem, porque eu pretendo ser breve e deixar o treino curto. Milagres de quase Natal acontecem, mesmo que os céticos neguem as evidências! — Entreguei, animado, o plano dos artilheiros para Heidi, Roxie e Fred, que também tinha papel vital dentro de algumas jogadas de ataque. Então passei o exercício que havia planejado para mim, Louise e Nique fazermos amanhã. — Vamos discutir as jogadas, esclarecer as dúvidas e aí vocês vão direto para o quarto, pensar mais um pouco sobre tudo que discutimos ou dormir, para descansar mais, vocês escolhem.

— Ainda nem deu oito horas da noite, você quer que a gente vá dormir cedo assim? — Fred falou fazendo uma careta e eu revirei os olhos, porque eu preciso de foco aqui.

— Eu quero treinar bem duro amanhã, Fred, conversei com Sebastian e ele liberou a academia de ginástica da equipe de esgrima para treinarmos de manhã cedo e a tarde vamos fazer um reconhecimento secreto no estádio, porque não quero Lo Presti xeretando nossas jogadas. Ou seja, agenda cheia.

— Você bem que podia fazer o que eu disse e dar uma espiada nas jogadas de Antonella, quero dizer, para que Enrique te deu a carruagem do caos, com um belíssimo sistema de disfarce, se você se recusa a usar ela para vigiar seus adversários? — Louise falou sonsa, brincando com seu pergaminho enrolado em um canudo apertado e eu a olhei sério.

— E como eu posso ser considerado o gêmeo malvado dessa dupla, meu Deus? Olha aqui, garota, o esporte trouxe o seu pior lado, mas eu preciso que você o sufoque e deixe morrer, ok? — Eu apontei com sentimento para ela, que só levantou as mãos, como quem se rende. — A gente joga limpo por essas bandas, mocinha. Quadribol é coisa séria!

— Desde quando? E aquela vez em que você... — Heidi começou a falar, provavelmente se lembrando da vez que eu convenci Lily a gravar o treino da Grifinória com Caveira e aí James descobriu e roubou me celular, blá blá blá, o resto vocês lembram bem, não era é como se fosse segredo, mas eu não preciso que minha artilheira fique lembrando dos meus momentos de fraqueza como líder, então a interrompi o mais rápido que pude.

Didi, vamos deixar o passado no passado, vamos? — Falei entredentes, a fuzilando com um olhar de aviso. A sextanista me olhou sonsa, colocando um cachinho teimoso atrás da orelha.

— Vamos, capitão. — Ela falou naquele tom meigo de quem pretende usar a situação de alguma forma vantajosa mais pra frente e eu a olhei desconfiado, ela sorriu sapeca, depois virou para sua companheira de artilharia do lado. — E então, Roxie, alguma dúvida até agora?

A grifinória estava lendo o pergaminho alheia a minha conversa silenciosa com a garota do seu lado, então levantou os olhos distraída e fez que não com a cabeça, voltando a olhar o pergaminho logo em seguida.

Fred e Nique também estavam concentrados nos seus próprios apontamentos, Segundo dando uma de Frank, já modificando minhas jogadas, enquanto Louise abria novamente o pergaminho que havia acabado de enrolar, só para me interromper quando eu estava pronto para retomar a palavra.

— E quanto a essa estratégia de jogo aqui? Ela é meio diferente daquelas que você me deu para estudar na segunda. — Louise falou em dúvida, já tendo superado minha bronca anterior. Sorri satisfeito pela rapidez na percepção, embora passe o interrompimento de fala.

— Sim, é uma estratégia nova, completamente diferente de tudo que eu já fiz antes, seja na Sonserina, na Seleção ou até mesmo na escolinha! É tudo novinho em folha! — Falei animado, mas Fred me olhou com uma sobrancelha levantada em descrédito, pena e pergaminho na mesa.

— Você acha que é mesmo seguro colocar uma estratégia de bastão nova faltando tão pouco tempo para a partida? — O grifinório me perguntou cético e eu o respondi com paciência.

— Lo Presti tem a vantagem do segredo em relação a gente, que tivemos todas as últimas partidas amplamente divulgadas e registradas. Eu preciso trazer algum elemento surpresa também e Louise não é Tony ou Theodor ou Connor, ela não tem a mesma explosão muscular deles, então o melhor é usarmos uma estratégia nova. — Argumentei com calma, recebendo um olhar mais conformado do goleiro e uma expressão interessada da minha gêmea.

— É o estilo de jogo de sua amiga Sharam, de Uagadou? — Louise perguntou com o cenho franzido, relendo as instruções básicas de ataque e defesa.

— Tem alguns movimentos dela, principalmente no ataque corpo a corpo, mas ainda assim Sharam tem muito mais força do que você, então fiz algumas adaptações, aqui, deixa... — Eu estava pronto para mostrar a Louise quais os pontos que eu havia usado Sharam como inspiração, quando ela se mexeu incomodada, puxando o Prime do bolso da jaqueta.

— Mais uma mensagem! Sério, não aguento mais esse negócio, quando acaba meu turno mesmo? — Ela perguntou desgostosa e eu sorri me fingindo de compreensivo.

— Acaba agora em novembro, depois ele vai ficar dezembro todo com Aidan lá no Japão, olha que maravilha! Você vai até sentir saudades. — Falei batendo palminhas animadas, mas Louise só me olhou com ódio.

— Saudades do que? Ainda bem que eu sugeri esse rodízio, porque se dependesse de vocês, eu ia ter que continuar com essa porcaria pelo resto da vida! — Ela falou irritada, mas mais a vontade com a situação agora que quase todas as suas colegas de dormitório sabiam o segredo do Ocaso.

Heidi, Roxanne e Nique assistiam a interação da gente sobre o Ocaso caladas, muito interessadas em nos deixar falando o quanto pudéssemos, afinal estávamos seguindo as sugestões de John, deixando as três, não completamente no escuro, mas em uma penumbrinha agradável aos olhos.

— Não faz drama, Lou, as coisas só ficaram ruins depois desse negócio dos Estados Unidos. — Fred retrucou com um sorriso preguiçoso, depois me olhou com seriedade. — Falando nisso, alguma notícia dos meus primos foragidos?

— Não, mas eu não estou preocupado com a saúde deles como cheguei a ficar há alguns dias, porque eu mandei uma carta para Rose confirmando a surpresa de aniversário de Tony e ela disse e eu cito “está todo mundo bem por aqui e com vocês?”, ou seja, Sev e Lily estão respirando, o que já é mais do que ambos merecem!

Conclui meu desabafo em um fôlego só, batendo a palma da mão na mesa com força, porque aquela situação era muito indignante!

Tá que eu disse que não iria mais julgar os outros sem saber o que estava acontecendo, levando em consideração que quando Aidan me ignorou foi por causa de um negócio sério, mas esse não é o caso dos irmãos Potter, não mesmo!

A minha vontade era de escrever uma carta desaforada, revelando os dois para James e deixar que os três se engalfinhem até não sobrar ninguém dessa descendência maldita de Harry Potter, mas Fred infelizmente votou contra a sugestão.

Dominique pareceu sentir o clima pesado, porque sorriu com cuidado, aceitando pegar a coisa ofensiva – o Prime – das mãos indignadas de Louise, para dar uma olhadinha inocente.

— Como estagiária pró-ativa que sou, vou tomar essa responsabilidade para mim e responderei esse nosso caro colega americano com empatia e cordialidade. — Ela sorriu confiante e Louise só a encarou com diversão, esperando ver a cara da lufana desabar diante das palavras cada vez mais agressivas dos idiotas do outro lado do oceano.

Dito e certo, Nique começou a franzir o cenho, inclinar a cabeça, então torceu a boca bem pintada de um batom rosa clarinho em dúvida, antes de passar o pergaminho para Fred, do seu outro lado.

— Hum... Não estou bem certa se entendi algo, mas parece que é para você, Fred. — Ela o olhou em dúvida, depois deu de ombros para o resto de nós, enquanto o primo pegava o pergaminho para ler. — Parei a leitura quando vi o nome dele, mas definitivamente não é um americano.

— Fred, leia em voz alta. — Roxanne falou mandona do meu lado, fazendo o irmão mais velho revirar os olhos antes de começar a ler.

— “Caro pessoal do Ocaso, aqui quem fala é Bella Thompson, diretamente de Uagadou. Não sei bem quantas tentativas de escrever mensagem e atear fogo serão necessárias antes que o símbolo funcione, mas espero que em algum momento vocês consigam ver isso e nos ajude.” — Fred olhou para mim em dúvida, porque Bella era meio que uma aprendiz de John - que tem uma pena do Ocaso - e não fazia sentido ela ter que recorrer a isso, mas só fiz um sinal em retorno, para que ele prosseguisse.

Vamos guardar as perguntas para o final da aula, amiguinhos!

“Sharam pediu para eu mandar uma mensagem para Cesc para explicar toda a situação, mas como eu não sei como esse sistema aqui funciona, vou preferir endereçar a carta a Fred Weasley II, que, para todos os efeitos, ao menos é quase que oficialmente um adulto, sendo assim, Fred, a gente precisa de ajuda! Em resumo, John foi sequestrado e meio que Lia também, o que é meio errado de dizer já que foi ela quem o sequestrou, só que ela não era bem ela e sim Lestrange vestindo o corpo dela.”

Fred parou de ler e eu quase arranquei o pergaminho da mão dele, ele olhou para mim e para Louise com um olhar assombrado.

— Vocês ouviram o que Bella disse? John foi sequestrado por Rabastan Lestrange! Sequestrado? Meu Merlin, sequestrado! — O garoto ruivo falou assustado, então eu estalei os dedos na frente do rosto dele.

— Fred, continue lendo, pelo amor de tudo que é mais sagrado! Só. Leia! — Falei entredentes, o fazendo despertar para a realidade novamente, ele continuou muito mais enérgico dessa vez.

— “Tudo aconteceu muito rápido, Sharam me disse que uma Lia com a aura estranha estava me procurando, mas a gente achou que não era nada demais e eu fui atrás dela, daí ela revelou que queria o diário do meu irmão e eu percebi na hora que não era a Lia de verdade, porque, mesmo que ela estivesse envolvida com a profecia, como ela saberia sobre o trabalho de Jacob?

Então eu entendi que era Lestrange trocado e John deve ter sacado o mesmo, porque quando chegamos em Cheia para pegar o diário, ele apontou a varinha para a falsa Lia. No caso, não adiantou muito, porque Lestrange está com a verdadeira presa no corpo nojento dele, ou o de outra pessoa que ele está usando, não sei, então a gente não pôde arriscar fazer nada.

Eu peguei o diário do meu irmão e fiz uma gravação rápida com o meu celular, porque não tinha tempo o suficiente para tirar fotos, então a gente vai ter que olhar quadro a quadro depois. Aqui em Uagadou a internet não funciona, então só indo na base da montanha e saindo das terras da escola para ver se consigo algum sinal, Sharam sempre diz que sabe onde dá para fazer isso, aí quando eu descobrir, eu mando para vocês.

Mas basicamente o diário só tem desenhos bobos meus e alguns de Jacob, em alguns momentos não dá para dizer se as linhas tortas e confusas são minhas ou dele e eu sempre achei que fossem brincadeira de criança, mas Lestrange folheou o diário, checou se eu não tinha feito uma cópia mágica, o que eu não fiz, e ficou satisfeito, mesmo vendo só os desenhos bestas! Acho que tem algo que eu deixei passar, mas não faço ideia do que é.

De qualquer sorte, a falsa Lia ordenou que John fosse com ela para Deus sabe onde e eu até tentei me voluntariar para ir no lugar, mas aí deu uma confusão, Lestrange ficou nervoso e acabou levando John com ele de uma maneira bem sinistra. Sharam foi atrás dos dois de vassoura, mas isso já faz quase quinze minutos e nada ainda.

John está com a pena do Ocaso e a varinha, não sei por quanto tempo Lestrange o deixará com eles, mas estão demorando demais e está de noite já, tipo, eu acho que temos quase o mesmo fuso horário, aqui a noite no verão demora mais a chegar, mas mesmo assim, já está escuro, muito difícil de voar assim, né?

Eu sei lá, eu só quero saber na verdade o que eu e Zaki podemos fazer para ajudar. Ah sim, Zaki está aqui também e está perguntando se agora é uma boa hora para chamar a governadora ou os aurores e eu acrescento a Interpol bruxa, que deve existir em algum lugar por aí. Espero que nos respondam logo, porque a coisa não tá muito boa aqui não.”

Fred parou de ler, mas continuou olhando para o pergaminho. O meu raciocínio ainda está correndo para todos os lados, então fiz sinal para que ele continuasse, mas ele apenas mostrou a letra redondinha de Bella Thompson no Prime.

— A mensagem acaba aqui. — Ele disse calmo, assustadoramente calmo, então olhou para a irmã sentada a sua frente, esperando para saber quais seriam suas próximas palavras. — Roxie, preciso que encontre Anne e Anne-Marie e peça para elas virem agora, é urgente. Leve Heidi e Nique com você.

— De jeito nenhum, Fred! Você só tá querendo se livrar da gente! — A grifinória declarou indignada, mas o irmão mais velho a olhou irredutível, então ela buscou o meu olhar por orientação. — Cesc,  a gente pode ajudar! Eu não entendi tudo o que foi dito, a começar por esse Lestrange, que não pode ser o comensal da morte que fugiu de Azkaban, porque isso seria muito sinistro, mas...

— Não temos tempo para colocar vocês três a par de tudo, então o melhor é que vocês façam como ele disse. — Eu falei meio anestesiado, porque tudo que eu conseguia pensar é que Rabastan Lestrange estava com Lia e John. Sequestrados.

Lia e John foram sequestrados! Essas palavras juntas ainda não fazem muito sentido na minha cabeça, eu preciso de mais tempo para processar. Desculpa, mundo, mas eu sou burro e você é muito escroto!

— Mas, Cesc...

— Roxanne, você está nos fazendo perder tempo! Por favor, vai chamar as meninas e não volte, eu estou falando sério. — Fred dessa vez soou como o adulto que Bella o acusou de ser, então a garota levantou o nariz, meio ofendida, mas acenou afirmativamente, se levantando da mesa.

— Ok, mas me deixem saber se algo mudar nessa situação esquisita, Thiollent não é minha pessoa favorita e eu nem sequer sei direito quem é esse John, mas eu quero saber se eles estão bem, tá? — Ela falou dando um leve aperto de aviso no ombro do irmão, que deu um aceno curto, de acordo.

— Cesc, Lia é minha amiga e o irmão de Hugh... Eles vão ficar bem, não vão? — Eu havia contado rapidamente, durante a reunião que fiz com Heidi, quem eram os iconoclastas e como tudo tinha começado, então ela sabia quem era esse John a quem Bella se referia. Agora ela me olhava apreensiva.

— A gente vai esclarecer melhor a situação, mas as coisas são... Complicadas. — Falei, mordendo de leve meu lábio inferior. — Quando tudo isso se resolver, talvez a gente conte a verdade, ok?

As três garotas confirmaram silenciosamente e saíram com determinação para buscar ajuda com as Annes, afinal essa era a única coisa que elas podiam fazer agora.

— Como a gente vai resolver isso? — Perguntei nervoso para Fred e Louise, o grifinório ainda muito quieto e minha irmã mexendo no seu pobre pergaminho de orientações de um jeito que estava deixando o papel todo enrugado.

— Não vamos resolver! Essa é a hora que a gente chama os aurores e explica o que pudermos, com o máximo de evidências que podemos apresentar e rezamos para eles serem rápidos o suficiente para salvar os nossos amigos! — Louise declarou em um só fôlego e eu olhei para Fred na mesma hora, porque essa não podia ser nossa única opção!

— Acho que não podemos fazer isso, porque ninguém acreditaria na gente de verdade e revelar tudo o que supostamente sabemos, vai revelar o Ocaso e nisso eles acreditariam e para isso eles pensariam em consequências! — Eu argumentei rápido, antes que minha gêmea saísse correndo, gritando aos quatro ventos nosso segredo.

— A essa altura não dá para a gente se preocupar muito com isso, a gente passou do ponto onde escolher não fazer nada era possível! Você entende que eles podem morrer, não entende? — Ela olhou para mim com apenas medo nos olhos, nada de julgamento, então eu fiz que sim com a cabeça.

Eu não sei muito bem o que pensar ou dizer agora, acho que estou meio que entrando em pânico, porque Lia e John são meus amigos e eu nem quero pensar na possibilidade de estar tendo que preparar meu traje de luto de Beauxbatons em respeito à eles amanhã.

Droga, por que eu pensei nisso? Por que merda eu pensei nisso e não numa solução?

Bosta de cérebro desesperado!

— A gente não pode expor o Ocaso, porque isso iria nos expor, inclusive para Lestrange, mas não só para ele, como também para o grupo FerrZ, Brenam... — Fred se levantou e começou a andar de um lado a outro, enquanto falava. — Custaria a nossa formação em Hogwarts, custaria a Tony o estágio dele e até mesmo sua segurança direta, porque o conglomerado saberia que a gente sabe algo deles, mesmo que não seja nada ilegal ainda.

— A gente fez uma bela coleção de inimigos... — Eu resmunguei irritado, porque, né, a gente podia colecionar selos ou moedas no lugar de inimigos, seria mais lógico! Mas não, vamos colecionar inimigos...

O que poderia dar errado?

— E se mandássemos uma mensagem anônima para alguém mais próximo da gente, tipo seu primo Teddy? A gente acabou de falar com ele, não acha que ele poderia estar mais inclinado a nos ouvir e guardar segredo? — Louise falou quase em tom de imploro, porque devia se sentir responsável em algum nível por John ter se enfiado nessa merda, afinal foi ela quem o trouxe para o Ocaso.

Eu sei que eu me sinto culpado por tê-lo deixado entrar. A morte dele estará nas minhas mãos também... Ok, nada de pensar nisso agora, eu preciso de foco! Foco, Cesc!

— Mensagens anônimas são investigadas mais do que o crime que relatam, demoraria horas, talvez dias para eles acreditarem na pista e saírem em busca de Lia e John, quero dizer, eles estão desaparecidos ao que, meia hora? Isso não significa nada para um auror! — Fred explicou rapidamente, ainda distraído com suas próprias maquinações.

— Então o que a gente faz? Devíamos contar para os outros ou... — Eu comecei, mas fui interrompido pela chegada apressada das Annes.

Beaumont olhou para Fred com o cenho franzido, enquanto Marie abraçava Louise de leve, escolhendo continuar de pé, atrás da cadeira da minha irmã, como se quisesse assegurá-la de que, qualquer que fosse o problema, ele seria resolvido logo.

— Não pode ser a única solução, Fred, se acalme, elimine a possibilidade e vamos ver que outra resposta a gente encontra, ok? — Anne falou para o grifinório com calma, tocando de leve no braço dele e o resto de nós olhou para os dois sem entender.

— Certo, pessoal, um resumo curto da situação e um resumo das nossas opções, Fred. — Marie falou prática, dando um último aperto no ombro de Louise, antes de se sentar ao seu lado.

— Lestrange esteve em Uagadou com John e Lia e não sabemos para onde ele os levou. — Expliquei rápido, ganhando um olhar assustado em retorno das duas Annes, embora Beaumont não estivesse tão surpresa, ela deve ter captado algo nas nossas mentes assim que chegou. —  Já as soluções, eu não consegui pensar em nenhuma!

— Fred? — Anne tentou e o grifinório sacudiu a cabeça de leve, tirando a própria pena do Ocaso do bolso.

— Acho que tenho algo, preciso de um perga... Não, preciso do seu celular, Cesc! Ligue para Enrique agora! — Ele mudou de ideia rápido, porque seu cérebro criava respostas que ele mesmo não conseguia processar a tempo, se a expressão de dor de Anne sugeria algo.

Coitada, ler a mente de Fred devia ser algum tipo de castigo divino.

— Fred, acalme seus pensamentos, tire Bella completamente da equação e se acalme, não estamos usando ela sob nenhuma hipótese! — A monitora francesa falou naquele tom de capitã e eu meio que senti pena de Sebastian, porque ela com certeza iria arrancar a equipe de esgrima das mãos dele algum dia.

Mas não é hora de pensar nisso, foco, Cesc!

— Vou escrever para ela, avisando que estamos cientes da situação e vou pedir por atualizações, ok? — Louise pegou uma folha de pergaminho em branco e começou a escrever. Fred voltou a se sentar e estalou os dedos para chamar a atenção dela de volta para si.

— Diga a Bella para não se meter na busca, para ela ficar quieta, esperando por orientações. — Ele falou sério, conseguindo uma confirmação rápida da minha irmã.

— Não escreva com essas palavras, você não pede a um grifinório para sentar e esperar, porque só vai conseguir o efeito oposto! — Lembrei a ela, que me olhou com uma leve diversão, antes de voltar a escrever. — Agora qual é o plano, Fred?

O grifinório a minha frente havia colocado a pena do Ocaso na mesa e estava começando a fazer aquelas coisas com a varinha, que puxava runas para traduzir a magia das coisas em símbolos. Ele me olhou, concentrado.

— Já ligou para Enrique? — Perguntou prático e eu me dei um chute mental, porque eu havia esquecido de ligar. — Diga a ele que preciso que ele vá até o arquivo das leitoras de assinatura e procure o seguinte código...

— Espera! Ele ainda não atendeu! — Eu falei com minha cara de pau suprema, fingindo que a demora era toda do meu namorado, não minha. — Ok, atendeu agora! Ei, sem tempo para cumprimentos, cara, preciso que ache uma leitora de matriz mágica agora!

O rosto do meu namorado piscou surpreso na tela, depois olhou para o lado, ouvindo algo fora do meu alcance. Já ia tentar explicar a urgência da situação, mas o que quer que tenham dito a ele, fez o serviço por mim.

— Ok, eu e Erick estamos aparatando para Moor agora, te ligo em um minuto. — Ele desligou o telefone e Fred me olhou ansioso.

— Ele não estava no estádio, não tem leitoras de magia no apartamento deles, Fred, dá um tempo! — Falei exasperado, fazendo Segundo revirar os olhos, provavelmente irritado com a lerdeza do mundo real, fora da cabeça dele! Doido de pedra! — Que tal nos explicar exatamente o que está fazendo?

— Estou pegando a parte da matriz da pena que ativa o feitiço de retorno ao dono, para reverter e conseguir isolar o mecanismo de localização. — Ele falou rápido e eu nem me atrevi a pedir por uma explicação mais clara. — Se eu conseguir fazer isso, a gente acha a pena e se ela não estiver com John, pelo menos nos apontará a direção para onde eles foram levados. É um começo.

— Por que não usar a leitora para rastrear a assinatura da pena? — Louise perguntou com o cenho franzido, sempre um passo a minha frente no quesito entendimento.

— Precisa estar em uso para emitir um sinal forte o suficiente para ser rastreada. — Ele falou concentrado em sua tarefa, então nem viu Louise confirmando o entendimento. — Alguma resposta de Bella, Lou?

— Leva tempo, infelizmente. Expliquei para ela e Zaki o exato mecanismo que envia a mensagem para o Prime, mas ela tem que escrever tudo, depois queimar o símbolo do Ocaso... — Louise explicou, gesticulando com impaciência o percurso burocrático que havíamos criado justamente para possibilitar uma comunicação onde o poder estava nas nossas mãos, não na dos outros.

Nossos colegas tinham que continuar com o inconveniente de ter que ativar o símbolo com o seu elemento básico, porque isso inibiria a velocidade de resposta deles, fazendo com que a gente tivesse tempo de bloquear a conversa, caso eles fossem muito insistentes.

No início era só uma limitação do processo, mas depois John trabalhou melhor o símbolo, conseguindo usá-lo no Prime para estabelecer uma ponte entre... Espera! John já solucionou esse problema!

— Espera, Louise, ao menos isso eu consigo resolver! — Tomei o Prime da mão dela e comecei a desenhar o símbolo do Ocaso no pergaminho enfeitiçado. — John não me contou os detalhes, vou ter que reinventar a roda, mas esse símbolo do Ocaso, sendo usado dos dois lados, pode criar uma ponte entre dois pergaminhos. Talvez se eu...

Ok, agora quem precisa se concentrar sou eu, porque o símbolo que eu conheço limita-se a enviar mensagens com os elementos e gravá-las quando recebidas sob sua presença, mesmo usando o Prime ou uma das penas, o símbolo que Bella tem acesso é limitado, então eu vou ter que quebrar o limitador do feitiço que eu e John criamos em Uagadou.

Quando criamos o feitiço, nós amarramos esse símbolo aos elementos, porque essas são as forças mais básicas e comuns do planeta! Até colocamos na parte escrita do trabalho que quisemos criar um símbolo universal, que fizesse sentido pra bruxos de todo o mundo, só que a gente nunca pensou que os elementos se tornariam um empecilho para nossos objetivos!

— Cesc, preciso do Prime para checar as...

— Garota, não me atrapalhe! Mande uma mensagem para Bella e diga para ela apenas desenhar o símbolo do Ocaso no pergaminho e aguardar enquanto eu acesso o símbolo dela remotamente, para criar uma ponte entre o Prime e o pergaminho dela.

Falei num fôlego só e pude sentir o olhar das três meninas presentes sobre mim, Fred ainda muito concentrado em sua própria tarefa para se dignar a assistir minha genialidade em ação.

— Como vai alterar o símbolo dela remotamente, Cesc? — Louise perguntou desconfiada, mas era uma garota multitarefas, já estava pegando sua própria pena e escolhendo um dos pergaminhos na mesa para mandar a mensagem para Bella.

— Não deixe ela queimar a porra do pergaminho antes de eu acessar o símbolo! — Lembrei tardiamente, porque se Bella tivesse terminado de responder e já fosse queimar o símbolo, atrasaria o meu lado, porque o símbolo que eu já fiz aqui se conectaria com o antigo e queimaria junto!

Droga de imprecisão mágica!

— Cesc meio que tem esse poder de feitiços remotos, mas se eu fosse ele, evitaria usar até ter um certo controle da minha magia. — Marie falou com cuidado, deixando seu sotaque grego ainda mais marcado ao falar essa coisa sem sentido.

— Do que está falando? Se refere ao que eu fiz com Lily no outro dia? Aquilo foi um acidente! — Me defendi, porque calar a boca de Lily a distância foi algo involuntário e só funcionou porque eu podia vê-la através do celular, o que não é o caso hoje.

— O que você fez com Lily? — Fred levantou a cabeça do seu trabalho tão rápido, que eu não sei como o pescoço não estalou com o movimento.

— Matei e enterrei debaixo da árvore de Sonserina em Ilvermorny! O que acha que eu fiz, idiota? — Respondi com raiva, porque Fred era mesmo um babaca super protetor! — E quanto ao meu feitiço, eu só estou usando o conhecimento que eu tenho do símbolo que eu ajudei a criar para...

— Enrique está chamando. — Louise apontou meu celular com a pena, então eu atendi o telefonema e passei para Marie, que estava desocupada.

— Fala com ele e explica o que está acontecendo, Marie! Louise, encaminha o mesmo resumo para Zaki, se não você vai cortar a minha conexão com Bella. A gente não pode deixar eles no escuro, mas também não pode atrasar o meu lado! — Expliquei o mais rápido que eu pude, feliz de sentir que Bella já tinha desenhado um novo símbolo para eu conectar o meu.

Perfeito, estou me sentindo um técnico de informática cuidando do computador travado de um dos colegas de empresa, que pegou um vírus da internet ao assistir vídeos pornôs!

É um sentimento bem específico, se quer saber.

—Pode não funcionar, porque Zaki está olhando o mesmo pergaminho que Bella, a mensagem apareceria no pergaminho que você está trabalhando de qualquer jeito. — Ela me avisou por cima da voz de Marie cumprimentando Enrique no telefone, meio confusa com a tecnologia trouxa em suas mãos.

— Escreve no seu braço para chegar no braço dele, precisa limpar a mente e pensar nele para a mensagem chegar até... Bem, você não conhece ele, pense em Bella e mande uma mensagem para Zaki pelo braço dela. — Falei confuso, tendo que me concentrar em duas coisas ao mesmo tempo.

— Vai ser meio difícil para Louise limpar a mente, vocês todos estão me deixando louca, suas mentes estão muito confusas! — Anne reclamou como se estivesse sofrendo da pior dor de cabeça da vida. Coitada, nunca mais vou invejar a habilidade dela.

— Estamos na sala de Heitor, devo abrir a assinatura da pena? — Meu namorado falou prático, agora no viva-voz que a garota meio grega havia descoberto milagrosamente, então Fred pediu o celular para ela, para ele mesmo poder responder a pergunta.

— Preciso que pegue especificamente a assinatura da pena de John, eu nomeei como P15.3.1.19.15JW. — Fred pediu ainda com o rosto iluminado pelo brilho das runas da matriz mágica que ele estava avaliando e eu tenho que admitir, é impressionante que ele lembre o código exato da pena.

— Cesc, era isso mesmo que você tinha que estar pensando agora? — Anne me perguntou divertida, ainda fazendo uma careta de dor enquanto massageava as têmporas. Talvez seja melhor ela sair daqui para não sofrer tanto. — Não se preocupe com isso também, eu estou bem, juro.

Voltei minha atenção para meu trabalho, porque Anne estava bem, ou ao menos suportando e Fred e Enrique pareciam ter tudo sobre controle. Agora eu preciso apenas resolver isso aqui, para termos notícias novas e um canal aberto de comunicação com Bella e Zaki.

Por que merda eu não pedi a John para me mandar as atualizações dele com o símbolo? Saber o feitiço exato me pouparia um milhão de anos, porque agora eu estava tendo que usar os poucos feitiços de magia reversa que eu tenho no arsenal para resolver o assunto.

Nem a luvarinha dá conta de entender a fluidez mágica necessária para afetar remotamente um feitiço tão longe de mim, sem uma boa dose de pesquisa antes!

Opa! Lembrei que minha varinha oca ainda está comigo, porque tinha saído da aula de poções direto para o jantar, depois para a reunião com Juliet! Ótimo, porque eu me sinto estranho trabalhando com ela, só consigo usar realmente quando estou com a luvarinha, mas admito que ela ajuda a controlar bem os feitiços.

Erick inventou essa coisa de tirar o cerne mágico de todos os meus instrumentos, ainda não sei bem o porquê, mas ao menos eles não são tão decepcionantes quanto eu sempre achei que seriam, principalmente a luvarinha, por quem já tomei um carinho especial, mas a varinha oca também tem os seus momentos.

Comecei a recitar os mesmos feitiços que estava fazendo antes, agora com as duas varinhas apontadas para o Prime – a luvarinha posta acima dele e a oca executando os movimentos básicos do feitiço- então me distrai de leve com o gritinho de Marie.

— O que foi, criatura? — Parei o que estava fazendo para olhar para ela assustado, tinha acontecido algo com Enrique em Moor?

— Nada não, só... Você devia mesmo estar usando duas varinhas? — Marie me perguntou mordendo os lábios, conseguindo um olhar de dois segundos de Fred e um franzir de cenho de Louise. Anne resolveu intervir.

— Ele tem tudo sobre controle, Marie, eu estou vigiando ele, não se preocupe. — A loira falou com seu tom conciliador de sempre e eu a olhei indignado.

— Por que eu usar duas varinhas é algo que precise ser vigiado?

— Longa história,  sem importância para o momento. Foque no seu trabalho! — Ela apontou mandona para o Prime e eu revirei os olhos para a audácia francesa dela, antes de voltar ao trabalho mesmo.

Ok, estou quase conseguindo, só falta uma última peça para eu conseguir manter a conexão forte o suficiente para a ponte não se romper... Mas a distância entre os símbolos é muito grande, eu não estou conseguindo neutralizar isso!

Não se apegue a distância, Cesc, confie na força do seu feitiço, distância e tempo são conceitos relativos que não se aplicam a magia.

A voz de Erick soou professoral na minha cabeça, fazendo Anne me olhar assustada, mas não tinha tempo para acalmar qualquer trauma que ela ainda pudesse ter com a intromissão do meu tio na missão dela com Kaleb Bertrand.

Erick, a distância é um empecilho, estou sentindo como se todos os mecanismos estivessem ajustados, mas o feitiço que eu estou fazendo continua morrendo antes de chegar a Uagadou!

Já disse para não focar na distância, ela não existe realmente, é só um conceito limitador. Foque no destino e aceite o copo d'água que Marie está te oferecendo, agradeça à ela por mim.

A garota grega me entregou um copo que havia conjurado sabe Merlin como, não é como se fosse fácil fazer um feitiço desses em situação de estresse. Conjuração ainda estava bem no início, tanto no quinto ano daqui, quanto no de Hogwarts.

Marie olhou para Anne buscando por respostas, como se tivesse sido instruída a fazer algo que não fazia a menor ideia do que significava. Anne sorriu para a amiga, depois para mim.

— Ela é boa em conjuros, seu tio me avisou para te entregar a água, só que eu não sou tão boa quanto ela. — A loira falou divertida, dessa vez sem careta de dor, então suponho que as nossas mentes não estejam mais incomodando. — Estou recebendo uma ajudinha com isso, agora foque no seu trabalho.

A água não é para beber, Cesc

Erick alertou na minha cabeça, sem ser convidado, mas a mensagem dele havia me despertado para algo que eu estava ignorando:

O símbolo funciona melhor com influência de elementos!

Eu podia ter optado por qualquer um dos quatro, nos nossos estudos de magia elementar eu e John descobrimos que humanos, assim como todos os seres vivos do planeta, tem uma conexão com a natureza, não a toa as escolas e grandes centros de magia bebem dessa fonte há milênios, mas sempre há aquele que é o nosso elemento favorito.

Foi daí que tiramos a ideia da ativação do símbolo via elemento da sua casa em Hogwarts, porque esse era geralmente o elemento que seu corpo tinha mais afinidade. Digo geralmente, porque Aidan tinha um pouquinho de dificuldade com a terra supostamente lufana, enquanto John tinha mais facilidade com ela.

Descobrimos isso quando estávamos testando o mecanismo de funcionamento do símbolo e Aidan continuava enviando a mensagem com um atraso gigante, choramigando que a gente tava sabotando sua casa com o método mais difícil de envio.

John testou o método, que funcionou super bem, já Aidan teve um melhor resultado com o ar da Corvinal, o que significa dizer que, embora ele seja a coisinha mais lufana de todas e John o mais corvinal dos corvinais, os elementos de suas casas estavam coincidentemente trocados.

Mas eles são exceções, azar o deles!

Eu, como o ser humano normal que sou, tenho uma conexão direta com o elemento da minha casa, água, embora nos últimos anos eu tenha tido um contratempo ou outro com ela. Tentei ignorar a lembrança do meu afogamento com Aidan no Lago Negro e depois o meu ataque de pânico na presença de Fred e Sharam, durante a nossa travessia subterrânea na Lagoa de Crescente, em Uagadou, porque isso não era algo que eu precisava lembrar agora.

Ou nunca, para ser sincero.

Você está falhando miseravelmente em evitar tais traumas. As lembranças ruins com seu elemento só são traumatizantes porque você se sente traído por ele. Você precisa perdoar e seguir em frente.

Eu me sinto traído pela água? Que coisa mais estúpida de se dizer, Erick! Você obviamente devia aceitar ajuda psicológica, porque daí saberia que trauma é trauma, eu não tenho medo de água, só de lagos escuros e profundos, de água gelada!

Não tenho medo de um copo d'água, por favor!

Para provar o meu ponto, fechei os olhos e comecei os exercícios respiratórios que eu e John tivemos que aprender para sentir a fluidez da magia, tal qual era descrito nos nossos livros. A água era uma excelente condutora, então deixei o meu dedo indicador, vestido com a luvarinha, encostar de leve nela.

Não era preciso muito, só de encostar na barreira da água e quebrá-la consegui sentir o símbolo de Bella forte, a conexão estabelecida. Sorri e apenas abri os olhos para terminar de recitar os feitiços que iriam estabilizar a ponte.

Ok, missão cumprida.

Peguei minha pena que estava usando para fazer as anotações do esquema de jogo mais cedo, para escrever no Prime ornado agora com o símbolo do Ocaso nele. Mandei uma mensagem teste para Bella.

Tente me responder, acho que estabeleci uma conexão rápida, precisamos testar, só escreva algo para eu ver se consigo ver

Aguardei ansioso, porque passado a necessidade de concentração na atividade, me lembrei da importância dessa comunicação: Lia e John ainda estavam desaparecidos, possivelmente nas garras de Rabastan Lestrange!

Ok, tente adivinhar que número eu estou fazendo com a mão

Olhei com o cenho franzido, depois me lembrei que a idiotice de Bella Thompson não era o problema que eu estava tentando resolver, então sorri animado, avisando aos outros a novidade.

— Bella está online, vou pedir por notícias. — Falei enquanto voltava minha atenção para o Prime de novo, as meninas se juntaram ao meu redor e Enrique pediu para Marie pegar o telefone de volta para ele ler o pergaminho também, Segundo não precisava mais dele.

Alguma novidade sobre John e Lia?

Sharam voltou e disse que não conseguiu rastrear John pela aura, porque a dele se camufla com a magia da escola e a de Lestrange ela não conseguiu se conectar o suficiente para usar como âncora, seja lá o que isso signifique.

Li a mensagem para Fred, que balançou a cabeça com veemência, para algo que ninguém mais podia ouvir além dele. A discussão deve ter sido boa, mas rápida, porque ele chegou a uma conclusão logo.

— Diga a Sharam para esperar, que eu estou quase terminando de localizar a pena de John. — Ele falou incerto, Anne indo para o lado dele.

— Não se preocupe, eu consigo ler o mapa na sua mente, apenas se concentre no que o seu feitiço te diz e eu faço a leitura. — A francesa falou prestativa, então concentrada. — A pena está em uma floresta... Na base da primeira montanha da cadeia das Montanhas da Lua, oeste.

Ela recitou e eu escrevi a tradução baseado nas informações que o Mauduk ainda tinha armazenado dos seus tempos como guia da escola africana.

Bella, diga a Sharam que a pena de John está no bosque a oeste de Nova.

Ele está parado?

— Fred, a pena está se movendo? — Perguntei assim que terminei de ler a indagação com uma letra nova, uma que reconheci das cartas que troquei nos últimos meses. Sharam havia assumido o controle do pergaminho de Bella.

Fred checou novamente as runas de sua pena, ainda brilhantes sobre o objeto. De alguma forma ele estava usando a matriz de localização de sua pena, para localizar a de John, meio que da mesma forma que eu havia usado o meu símbolo para criar a ponte com o de Bella.

Aparentemente não importa o método, a magia sempre se comporta da mesma forma!

— Ele continua seguindo para oeste em uma velocidade constante, está... — Ele olhou confuso para a matriz, usando a varinha para fazer algumas alterações na leitura. — Agora parou.

— Pelo que eu estou lendo na sua mente, a matriz está gerando uma informação nova. — Anne falou com uma expressão concentrada, então segurou o rosto de Fred com as duas mãos, fazendo ele quebrar o contato com o seu trabalho para olhá-la. — Não estou conseguindo achar a informação, Fred, você consegue armazenar mais de uma informação ao mesmo tempo, mas a localização está escorregando para o subconsciente, assim eu não consigo alcançar.

— Desculpe, eu não...

— Olhe apenas para a matriz e ignore todos os outros pensamentos, preciso que traga de volta a informação que eu preciso, sem distrações. — Ela falou com calma e eu olhei para a cara de Louise, que me olhava de volta com uma expressão de “que coisa esquisita, né?”.

Eu ri discretamente, porque aqueles dois trabalhando, nesse exato momento, era o mais bizarro que estava acontecendo.

Cesc, preciso da resposta, não vou esperar mais, eu tenho que ir até essa floresta.

Espera, a gente tá só refinando a localização, vai valer muito mais a pena se te dermos mais detalhes, nos dê só um minuto.

Anne respirou fundo, soltou o rosto de Fred e depois sorriu para mim, animada. A olhei confuso.

— A pena parou realmente e sua localização mudou drasticamente. — A francesa levantou da frente de Fred e eu tive que perguntar logo, porque ela estava fazendo soar como se aquilo fosse uma boa notícia.

— Eles aparataram? — Louise perguntou prática e Anne fez que não com a cabeça, rápido.

— Não, ainda estão a oeste da primeira montanha, mas atingiram uma barreira tangível. — Fred foi quem falou dessa vez, fazendo um aceno de varinha para desligar toda a abertura da matriz mágica de sua pena, pelo visto ele já tinha conseguido o que queria. — Diga a Sharam que John está na fronteira da escola, ela precisa ser rápida, porque agora Lestrange pode aparatar.

— Ah, mas ele não vai mesmo, não no meu turno! — Falei com raiva, escrevendo as informações no pergaminho furiosamente, conclui com uma mensagem motivacional que eu sei que funciona perfeitamente com batedores, independente do lugar de onde eles vieram.

Agora ache aquele filho da mãe do Lestrange e acabe com a raça dele!

Pode deixar, Cesc, será um prazer!

Sharam respondeu na mesma hora e que quase pude ver o sorriso raivoso dela na minha mente. Ninguém mexe com o namorado de um batedor e sai ileso para contar a história. Espero que isso seja verdade hoje também.

***

Demorou uma eternidade até termos notícias de Uagadou de novo, mas finalmente, quase uma hora depois da primeira mensagem, Bella nos enviou a boa notícia de que tanto Sharam, quanto John e Lia estavam a salvos, os dois últimos na ala médica de Uagadou.

Pedimos por mais notícias, mas Bella disse que ela só teria alguma coisa na manhã seguinte, quando eles saíssem de lá, então eu resolvi que o melhor era concluir a noite. Dispensei todo mundo, principalmente Louise e Fred, que ainda teriam treino amanhã bem cedo e fui tentar dormir, porque eu também teria um dia cheio pela frente.

Não preciso dizer que o meu cérebro não achou que era uma boa ideia, preciso?

Continuei acordado, sem conseguir relaxar o suficiente para dormir, mas ao menos me distraí da minha preocupação com meus amigos revendo as jogadas e organizando melhor as atividades de amanhã. Iria encurtar um pouco o treino físico na academia, para poder discutir as jogadas que ficaram de lado com toda a confusão de Uagadou.

Já era quase 3 horas da manhã, quando finalmente fui recompensado pela minha preocupação em excesso, ao receber uma mensagem diretamente de John. Respirei aliviado ao ver a letra familiar do corvinal.

Estou bem, Sharam me contou como vocês a ajudaram a me encontrar, depois vou querer saber os detalhes exatos do que vocês fizeram, mas por hora só quero agradecer, Cesc. Obrigado pela ajuda.

É o tipo de coisa que você nem precisa agradecer, vou te contar exatamente o que a gente fez depois, foi mais obra de Fred, porque eu mesmo só fiz recriar o aprimoramento que você fez no símbolo do Ocaso. Mas me diga, o que foi que aconteceu com vocês? Lia tá bem também?

Ela está bem, não lembra de muita coisa. Sharam conseguiu justificar a situação para os curandeiros dizendo que fomos atacados por um bruxo enquanto passeávamos pelo bosque de Nova. Consegui complementar uma história de que eu conhecia o cara, Carl Dolus, para a escola emitir logo um pedido para os aurores e ele não fugir tão facilmente, mas não dei detalhes, ainda não pensei em tudo, para ser sincero. Vou ter que depor amanhã, ou melhor, hoje oficialmente.

Li tudo mordendo os lábios, porque isso não respondia a minha pergunta, mas era importante o suficiente para eu ignorar o fato de que John havia deliberadamente jogado uma cortina de fumaça sobre o assunto.

Precisa de ajuda para bolar uma mentira convincente?

Não, eu acho que já tenho algo. Vou dizer que assisti ao show dele em Hogsmeade e que mandei uma carta o acusando de usar poções ilegais nas pulgas que do espetáculo, o que pode ser verdade, porque eu não sei se ele fazia as pulgas ingerirem a poção ou se era só algo que era passado nelas. De toda forma, eu vou dizer que minha acusação o irritou e que quando nos encontramos, acredito que por acaso, ele atacou a mim e a Lia.

Não acha que uma simples carta mal educada é um motivo muito fraco para ele vir até Uagadou para te atacar?

O plano é usar algo que eu saiba, que eu tenha domínio, vou deixar claro que eu não sei se ele veio para me procurar ou se foi só coincidência a gente ter se encontrado. Não pode parecer que eu dei muita atenção ao que dizer, porque eu supostamente deveria estar dormindo tranquilamente no meu leito e minhas respostas então seriam as mais espontâneas possíveis mais tarde.

Olhei preocupado para a última parte da resposta, porque mesmo ele não tendo dito nada demais, tinha uma coisa me incomodando seriamente.

John, por que você está em um leito de hospital? O que foi que ele fez com você?

Ele demorou para responder, demorou demais e eu comecei a bater a pena ansiosamente na minha mão. Olhei para a forma de Segundo dormindo na cama próxima a minha e a do lufano, que era meu vizinho do outro lado. Se passou um século antes de John me responder finalmente.

Não quero falar sobre isso agora, mas eu estou bem, só machuquei de leve a cabeça, que por sinal está me matando agora. Vou tentar voltar a dormir, só queria tranquilizar todo mundo aí e agradecer pela ajuda.

Ok, fale quando puder, estou realmente aliviado de saber que você está bem.

Enviei a mensagem de despedida, que na verdade era uma grande mentira, porque agora eu tenho certeza que John não está nada bem.

***

Acordei atrasado, mal-humorado e posso ter descontado ou não toda a minha frustração nos aparelhos de ginástica da equipe de esgrima. Resolvi supervisionar o treino da equipe e só depois fazer o meu, sozinho, sem mencionar nada sobre a mensagem de John, porque Romeo estava presente e não dava para falar abertamente com ele aqui.

Sebastian entrou no ginásio distraído, depois fechou a cara em uma carranca quando me viu jogar o seus preciosos pesos de qualquer jeito no chão.

— Ei, Cesc, não te chamei aqui para você quebrar meus equipamentos! Qual o problema de vocês, jogadores, com a propriedade alheia? Lo Presti faz a mesma coisa, vocês são todos uns selvagens! — Ele acusou pedante como sempre, flutuando os equipamentos para o lugar certo, que aparentemente não era o tablado onde os larguei.

Revirei os olhos para o drama.

— Não sei qual é o nosso problema, mas preciso ver com você quais horários o ginásio vai estar livre, minha equipe precisa de mais do que um dia de treinamento por semana para entrar em forma, que outro dia além do sábado de manhã você tem? — Falei sonso, enquanto tirava o meu protetor de mãos, porque eu não quero que minhas palmas fiquem calejadas que nem as de Tony.

Ele sempre me acusa de ser o batedor mais fresco que ele conhece, mas eu só aceito calos se forem do meu bastão, não de um equipamento aleatório de academia! Calos tem que ter história, todo mundo sabe disso.

— Você é muito cínico... Por acaso vai melhorar o seu comportamento? — O capitão de esgrima cruzou os braços, me olhando com os olhos escuros em fendas.

— Sabe que eu não preciso de sua permissão realmente, não é? Ouvi dizer hoje mais cedo que Anne solicitou uma reunião com os patrocinadores para pedir a nomeação dela como capitã e com ela eu me dou bem. — Falei como quem não quer nada, recebendo um olhar frio de Sebastian como resposta. — Eu particularmente achei um golpe baixo, se quer saber.

— Não quero, então agradeço se você guardar suas opiniões para si. — Ele acrescentou friamente, depois desviou o olhar para os equipamentos que havia acabado de arrumar. Nem saiu de perto de mim, muito menos iniciou outro assunto, o que significa dizer que ele quer falar sobre isso, mas não quer admitir.

Sebastian Leiris é tão sonserino que chega me faz parecer um corvinal idiota em comparação.

— Ela não devia ter feito isso, você tem sido um capitão decente, tem feito um bom trabalho. — Falei compreensivo, porque Anne não era só uma ratinha ambiciosa querendo passar a perna no atual capitão. Sebastian é apaixonado por ela, ele admitindo ou não e ela sabe bem disso!

— Estamos em terceiro no ranking e o rendimento de todos os esgrimistas, oficiais ou não, caiu no último relatório mensal. — Ele falou sem me olhar, verificando com mais atenção do que o necessário o estado dos pesos a sua frente.

— Dificilmente sua culpa, com toda a confusão com Lo Presti e o estresse da greve, é claro que o rendimento ia cair um pouco, mas o seu terceiro lugar é quase um empate com o segundo, soube que é questão de um par de pontos na tabela! — Falei em um tom consolador, porque Sebastian não devia se culpar por coisas que não estão no poder dele para resolver.

— Anne sabe que eu nunca quis ser capitão. — Ele declarou, depois não disse mais nada. Eu também não respondi, porque eu sei que isso é a mente apaixonada dele tentando se convencer de que ela também fez isso por ele. — Ela vai usar isso contra mim e eu não vou ser capaz de negar.

— Você não vai querer negar, porque é apaixonado por aquela garota e carrega essa culpa estúpida por ter sido escolhido pelo seu antecessor como capitão no lugar dela! — Eu apontei sabiamente e dessa vez o garoto pálido me olhou indignado. — Não negue, tá mais do que claro que você não acha que é merecedor de ser o capitão!

— Não é questão de achar que eu mereço ou não, porque eu sou o melhor jogador dessa escola, então não sou alguém inapropriado, mas Anne seria a capitã, se não fosse por aquele campeonato patético de vocês! — Ele me acusou e eu me controlei para não dar um passo para trás com o arroubo de raiva desse vampiro injusto. — Se eu não precisasse ter jogado no lugar da inútil da Lo Presti, os patrocinadores não se sentiriam na obrigação de comprar minha cooperação com uma capitania que eu nem queria!

— Por que aceitou, então? Podia ter jogado na Seleção sem receber nada em troca, você escolheu aceitar a capitania! Você não está fazendo sentido nenhum, Sebastian! — Eu falei irritado com a esquizofrenia desse garoto, porque ele aceitou uma coisa que não queria para fazer outra coisa que não queria!

— Eu não tive escolha! A torcida ficou indignada e quando eu vi, estava sendo anunciado pelo representante da FerrZ que o futuro capitão da equipe se sentiu na obrigação de representar a escola em mais um torneio. — Ele falou inconformado e eu levantei uma sobrancelha intrigada para isso. — Foi o jeito que eles encontraram de calar a indignação da torcida.

Antes que eu pudesse responder o que eu achava dessa estratégia da empresa latina sem escrúpulos, fui interrompido por uma voz com um sotaque carregado como o meu.

— E foi bastante efetivo, ainda mais que a senhorita Beaumont conseguiu nos garantir o campeonato, mesmo sem a sua presença na equipe. — Sebastian empalideceu ainda mais – o que eu achei ser humanamente impossível, mas tudo bem, porque ele é um vampiro – ante a voz desconhecida. Então me virei para ver quem havia falado.

— Senhor Calixto, não quis insinuar que...

— Podia ter sido sincero, Leiris, não somos monstros. Te demos a capitania porque achamos que era o que você queria. Talvez tenha sido um pouco presunçoso da nossa parte acreditar nisso sem te consultar, mas o arranjo poderia ter sido desfeito no minuto que você tivesse nos informado sua vontade.

Encarei o senhor alto, de porte aristocrático e aparência jovem, muito diferente do vilão que eu esperava ver como parte de um dos conglomerados mais sinistros do mundo bruxo. Porque sim, eu sabia bem quem o “senhor Calixto” era, ele era um dos membros da família da doida da Yolanda Calixto, que se acha dona de Tony agora, lá em Castelobruxo.

Resolvi ficar calado, assistindo a interação entre o homem e Sebastian, que ainda estava muito intimidado, bem longe da sua postura normal de confiança pedante.

— Não quis ser ingrato, nem fazer vocês voltarem atrás na decisão, senhor. — E esse tom quase servil também era muito errado e tão não Sebastian, que estava me dando nos nervos.

— Não adianta falar que não são monstros, se cada um de vocês do conglomerado FerrZ agem como se fossem exatamente isso! — Retruquei irritado, esperando Sebastian me matar agora, mas o garoto só ficou calado, sem expressão e o outro homem me olhou intrigado.

— De verdade? Não sabia que eu era assim tão intimidante e cruel. — Ele falou sério, com só um toque de diversão nos olhos, me estendendo a mão com um anel grande de herdeiro no dedo indicador. — Creio que não tenhamos sido apresentados, senhor Fábregas. Me chamo Alexey Calixto e sou o humilde CEO atual do conglomerado monstruoso ao qual se refere.

Ah merda, é claro que no dia que eu acordo mal-humorado por não ter dormido direito, eu vou e ofendo APENAS o presidente da porra do conglomerado mais fodidamente perigoso do mundo!

Ô vidinha injusta!

— Senhor Calixto, estou intimidado com sua presença aqui na escola, mas agradecido por não ser um dos seus patrocinados, que iria ser devidamente punido pelo desrespeito anterior. Mas em minha defesa, eu não sabia quem você era até abrir a minha boca enorme, sinto muito. — Apertei firme a mão do homem e falei meu discurso no meu melhor tom sonso, de quem quer evitar entrar na lista de inimizades desse cara.

Inimizades declaradas, digo.

— Não precisa se desculpar, é sempre bom saber o que as pessoas acham da gente verdadeiramente. Porém, devo dizer que ficaria mais do que satisfeito em mudar o seu status de patrocínio. — Ele falou bem humorado e eu o olhei desconfiado.

— Você está me oferecendo um contrato? Por que eu não acho que isso seja sequer legal! — Eu esclareci logo, porque iria voltar para Hogwarts e esse esquema de patrocinadores era proibido lá. Ele me olhou com um sorriso discreto.

— Infelizmente ainda não é, mas não pude evitar, a ideia de ter o genro de Ciaran Dussel como patrocinado é tentadora, mesmo sendo igualmente impossível de acontecer no momento. — Dessa vez ele riu de verdade, então se aproximou de Sebastian, colocando a mão no ombro do garoto francês. — Agora se me der licença, creio que tenha que ter uma conversa séria com o meu capitão aqui. Até mais ver, senhor Fábregas.

Fiz um gesto de despedida seco para o homem e dei um olhar significativo para Sebastian, que só revirou os olhos como resposta. Assisti aos dois deixarem o ginásio em silêncio, estranhamente perturbado com o futuro da esgrima de Beauxbatons, agora que vi o CEO da FerrZ vir pessoalmente tratar do assunto.

Como se eu não tivesse coisas o suficiente para me preocupar na minha vida, agora mais essa!


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Notas finais do capítulo

Ufa, espero que tenham entendido as pontas soltas de Uagadou, próximo capítulo tb vai ser aqui em HOH, já está na metade, só então vamos para AdC, q como vocês sabem, está na reta final.

Bjuxxx



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