Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 146
Capítulo 146. É só pedir por favor!


Notas iniciais do capítulo

Não vou recaptular muito, pq nem tem tanto tempo assim que o capítulo anterior foi postado:

— Tivemos a confusão com Kaleb Bertrand e o mistério das caixas Lestrange;
— Aidan desconfiando dos irmãos Potter e o Hall da vergonha;
— Os americanos irritados com esse mesmo Hall;
— Hogwarts com sua data indefinida para o retorno;
— O time de Quadribol de Beauxbatons ensaiando seus primeiros passos para jogar contra as Casas de Hogwarts;



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Capitulo 146. É só pedir por favor!

Voltar para Beauxbatons depois de passar um final de semana inteiro em casa é uma tortura!

Primeiro que mal dá para matar a saudade do seu colchão velho e de seu cachorro pulguento – que eu tive que dar banho, mesmo com minhas mãos arranhadas! – já da comida de minha mãe eu nem senti muita falta, a da França é melhor.

Segundo que eu me acostumei a fazer a maior parte dos exercícios e tarefas escolares da semana nas últimas horas do domingo, mas viajar com chave de portal me deixa cansado, então eu não fiz nada e nem vou fazer, coisa que estranhamente irrita os professores das matérias de segunda-feira.

E terceiro que eu já tô de saco cheio dessas ninfas da neve chatas, dessas flores coloridas demais e dessa fardinha com um tecido irritante que desliza pela pele, tipo, que merda de tecido é esse que parece que você tá passando eternamente aqueles sabonetes super hidratantes feitos a base de leite?

Indignante!

Peguei meu velho Caveira para atender a ligação que me distraiu da azaração que eu ia acertar na testa do irmão caçula de Anne-Marie, só porque eu preciso me vingar dos arranhões que ela deixou no meu corpo e porque o pirralho merece pelo conjunto da obra.

O moleque é um capeta pior do que Akira!

— Aidan, estava pensando no seu irmão nesse exato momento! Saudades dos filhotes de Lúcifer que eu posso usar nos meus planos malignos... — Cumprimentei com criatividade, como sempre e Aidan sorriu simpático, como sempre também.

— Confesso que conheço o suficiente da bíblia cristã para ficar um pouco incomodado com esse comentário, mas não o suficiente para te julgar. Enfim, tenho atualizações sobre Ilvermorny. — Ele falou animado e eu franzi o cenho.

— Já?

— Já, porque eu não brinco em serviço! — Ele falou sério, depois riu da própria piada quando viu minha cara cética. — Tá, deixa eu falar logo, porque hoje eu tenho um compromisso importante, os Yakuza me conseguiram uma varinha no estilo inglês e querem que eu os ajude em um trabalho.

Oh, céus, isso não pode ser bom...

— Aidan... Como eu posso dizer isso sem soar preconceituoso? — Perguntei com hesitação e ele me olhou curioso. — Os Yakuza provavelmente vão colocar você para dar fim em um corpo com magia.

— Se você tentou não ser preconceituoso, falhou miseravelmente. — Ele respondeu com um tom de reprovação e eu revirei os olhos. — Eu acho legal ser útil e vamos combinar, a magia pode ser bem versátil, estou disposto a ajudar eles a entendê-la melhor, já que vão ter um chefe que será bruxo algum dia. Você sabe, Kurai é o herdeiro deles!

Ok, vou tentar ser o mais didático possível com esta criança. Cumprimentei alguns colegas pelos corredores, enquanto me dirigia para o meu dormitório. Louise havia pedido para estacionar a carruagem – com um dos gêmeos Sartori – e eu deixei, porque baixaria a gente tem sempre que incentivar, né? Falando em baixaria...

— Enrique comentou vagamente sobre ele, disse que o sobrenome dele ajudou a intimidar uns caras de negócios aí, mas esse não é o ponto. O ponto é que a Yakuza é uma máfia, que todo mundo sabe que é uma máfia e ninguém faz nada. — Eu disse tentando demonstrar minha sensatez e Aidan piscou inocente, aguardando que eu concluísse o raciocínio, que era óbvio por si só. — Significa que eles estão acima da lei, ou seja, perigosos além dos limites.

— Hum... Eu discordo educadamente. Ark também tinha essa impressão no início, mas agora até ele tem que admitir que os caras são muito legais! Eles têm nos ajudado muito e sem pedir absolutamente nada em troca, achei justo retribuir o favor agora. — Ele sorriu ainda mais inocente e eu resolvi que essa era uma causa perdida.

— Ok, Aidan, espero que se divirta muito nessa sua missão, agora me diga, o que descobriu lá com Lily em Ilvermorny? — Perguntei, enquanto fechava a porta do quarto com o pé. Terminei de aumentar minha bagagem de mão que tinha levado para o final de semana e comecei a arrumar a roupa limpa que tinha trazido de casa nas gavetas.

Se puder evitar a lavanderia, vou evitar a lavanderia, máquinas de lavar são mais legais do que esses feitiços domésticos franceses, fato.

— Eu fiz uma certa pressão sobre Lily, fui incisivo, usei técnicas que aprendi aqui com Yutaka, ele trabalha na contabilidade da família Shinoda. — Ele informou feliz da vida com seu aprendizado no Japão e eu não resisti em provocar.

— Por que um contador precisa saber técnicas para aplicar pressão e ser incisivo? — Perguntei como quem não quer nada e Aidan deu de ombros.

— Acho que é o tipo de coisa que todo mundo deveria saber, não? Enfim, Lily não caiu na pressão, porque é melhor quando você está cara a cara com a pessoa, assim me disse Yutaka, mas de toda forma ele também me ensinou a ser mais sutil, porque, você sabe, não dá para usar a mesma técnica para todo mundo, né?

— Imagino que não...

— Sim, não dá, então perguntei a ela o que estava achando da escola, ela disse que era boa. Perguntei como estava de amigos e ela disse que tinha alguns, mencionou Kath, que já conhecemos, então perguntei como estava os namoradinhos. — Ele falou divertido e eu tive que rir da audácia.

— E ela respondeu?

— Disse que andou saindo com um carinha, mas que ele havia irritado ela e James ficou honrado de ameaçar o pobre coitado na hora do almoço. Segundo Lily, ele tem estado muito violento esses tempos. — Aidan informou sério sua fofoca crocante, que não nos dizia nada!

— Bem, quando eu chamo James Potter de selvagem, ficam me julgando... — Comentei por comentar e Aidan só me olhou com muito sarcasmo para alguém que se diz lufano.

— É no mínimo irônico que os julgamentos baseados em nada te incomodem, né,? — Ele falou com um sorrisinho escroto e eu cerrei os olhos para esse novo Aidan muito do filho da mãe.

— Você não tinha um relatório de missão para reportar não, Hataya?

— Tá, tenho sim, vamos voltar para o assunto. Depois dela comentar sobre James, eu perguntei o porquê disso, porque ele sempre foi um cara tranqui... Bem, ele era tranquilo com a gente, Cesc, acho que o problema era com vocês sonserinos! — Ele se justificou ante minha cara de incredulidade para essa descrição de James, ou de qualquer grifinório, se formos ser honestos.

— E há um motivo para o santo James, conhecido por nunca ter se metido em nenhuma briga de corredor ou azaração nas estufas, estar tão incrivelmente longe de seu padrão de retidão moral e paz interior? — Falei na maior sinceridade, mas Aidan me encarou chateado.

— Dispenso o sarcasmo.

— Não precisa, pode pegar, é de graça. — Falei com um sorriso feliz e amável. Ele revirou os olhos antes de continuar.

— Bem, independente do que você pense de James, é um comportamento esquisito, tanto que Lily falou que era por causa do estresse com as briguinhas com Salem e até mesmo com colegas da própria Ilvermorny. — Ele falou sério de verdade agora, chega eu me sentei na cama. — Parece que as coisas não estão boas com isso do Hall e a última edição que John fez do Ocaso falando sobre as diferentes magias que estávamos aprendendo ao redor do mundo, de inocente, passou a ser considerada como deboche!

— Ué, por que? Aquele foi provavelmente o nosso artigo mais... Fofo! — Falei com dificuldade de pronunciar o adjetivo, porque era difícil associar o Ocaso com fofura, ele foi feito para ser uma ferramenta de caos e destruição, o nome não nega.

— É, mas os americanos não gostaram da parte que diz que a magia americana é muito similar a nossa e que por isso os alunos de Hogwarts não tiveram dificuldade de adaptação e estavam conseguindo se dedicar a várias atividades extracurriculares. — Aidan falou e novamente eu não vi qual era o problema. — Eles interpretaram como se os iconoclastas tivessem dito que eles eram copiadores, só que com uma versão mais simples da nossa escola e magia, tanto que a gente nem precisava se dedicar tanto aos estudos.

Mas não é isso mesmo?

— Minha nossa, por que eles interpretaram assim? — Falei sonso e Aidan pareceu não perceber.

— Porque eles estão realmente chateados com a gente! Lily disse que os americanos ficaram sabendo do lance do código para se comunicar conosco, então não ficaria surpreso se começássemos a receber um monte de desaforos...

— Louise tem recebido algumas perguntas esquisitas no Prime, ainda são poucas, mas suponho que não irá melhorar, se a gente não resolver logo essa merda. — Resmunguei mais para mim mesmo, mas Aidan ouviu mesmo assim.

— Então deixa eu falar logo qual é a verdadeira fonte do problema, pelo menos em Ilvermorny: Alex Lavoie. — Ele disse sucinto e eu o olhei com estranhamento, porque eu realmente gostava das músicas desse cara e por tudo que tinha lido e visto sobre ele, ele parecia ser um cara bem de boa.

— O que tem ele?

— Você sabe que o hall da vergonha disse que ele era um lobisomem, não sabe? — Aidan falou em dúvida e eu fiz uma careta, não me lembrava bem disso, mas tenho a impressão que já havíamos cuidado do assunto.

— John e Albus não escreveram uma nota de apoio a ele não? Algo mencionando Remus Lupin e os Roma, povo que tem um entendimento diferente do que é ser um lobisomem? — Perguntei coçando o olho com uma vaga lembrança disso, mas na época não havia me envolvido na discussão porque estava atazanando Lo Presti em um de seus treinos horríveis.

Se arrependimento matasse... Os treinos de Lo Presti continuam horríveis, a propósito.

— Escreveram, mas aparentemente não foi o suficiente. Deve ter soado que nem o vilão que faz a doença e depois oferece a cura, sabe? — Ele perguntou em dúvida com sua metáfora, mas eu entendi.

— Tipo a indústria de alimentos e a indústria farmacêutica. — Falei, lembrando da história do protesto contra a Monsanto - grande empresa trouxa que fabrica produtos agrícolas horríveis - que minha mãe havia participado lá em Iowa, Ohio, na época em que era só uma universitária lésbica.

Bons tempos, suponho...

— Sim, sim, mas em todo o caso, eles continuam infernizando os nossos colegas e alguns são mais cabeças quentes do que outros e as coisas têm ficado feias. — Ele falou sombrio, depois me olhou melancólico. — Tem certeza que não temos nenhuma perspectiva de retorno a Hogwarts?

— Aparentemente não, mas não é como se você pudesse ficar triste com isso, se Hogwarts ficar pronta antes de resolvermos sua divisão de vidas, você vai ficar preso no Japão para sempre, enquanto Ark volta para casa! — Eu lembrei, mesmo que contrariado. Eu quero Hogwarts de volta, mas preciso ser prático. Aidan é prioridade agora, depois a gente pensa no que fazer com a escola.

— Eu posso voltar e Ark ficar aqui, ué! Ele tem se dado bem em Mahoutokoro, a gente só precisaria fazer o nosso avô achar que a escola ainda não foi consertada e meus pais acharem que eu voltei para a casa! — Ele falou otimista e eu sorri cínico.

— Tá mais fácil uma adolescente esconder dos pais uma gravidez de gêmeos no oitavo mês de gestação... — Sorri da cara dele, quase mandando a foto da minha mãe com 7 meses de gravidez - parecendo um vagão de trem lotado de tão enorme que estava - que ela mandou para mim por ser um filho tão ingrato.

Eu nem me lembro qual foi a ingratidão dessa vez!

— Você é muito cruel. — Ele falou sucinto e eu sorri, antes de ficar impaciente de novo, porque estava tentando lembrar onde demônios eu coloquei a porra da minha pena do Ocaso! Não estava em nenhum dos lugares óbvios e eu já havia perdido quase cinco minutos nisso.

— Tá, mas você tem algo mais a dizer ou só vai ficar aí constatando o óbvio? — Falei procurando a pena debaixo da cama, quase ficando de cabeça para baixo em cima dela.

— Bem, eu conversei um pouco mais com Lily sobre o Hall, pedi mais detalhes e ela foi bem arisca e em um dado momento até irritada, sabe? — Ele falou e eu voltei para cima da cama, depois de só achar poeira e o maldito trabalho de Etiqueta que eu tive que refazer por não achar na sexta-feira. Tenho certeza que essa merda não tava aí antes!

— Entendo o sentimento...

— De toda forma, cheguei a uma conclusão muito esperta sobre o caso todo. — Ele falou com confiança e dessa vez até parei de vasculhar o malão para encarar a cara lufana de Aidan. — Albus Severus Potter está escrevendo o Hall da Vergonha!

O que?!?!

Fechei definitivamente o malão, porque embora eu não esperasse essa conclusão de Aidan, eu não estava conseguindo forçar meu cérebro a descartar completamente a possibilidade, afinal, é de Sev que estamos falando!

— Aidan, por que você acha que...

Accio celular. — Uma voz feminina falou o feitiço, fazendo Caveira voar da minha mão e a minha pergunta ser cortada para todo sempre, amém. — Ele te retorna mais tarde, Hataya. Mande lembranças para a família, beijos, tchau.

Juliet Bertrand desligou a ligação e jogou meu celular de qualquer jeito na primeira cama do meu quarto, que ela não foi convidada a entrar.

A garota teatral sorriu cruelmente para mim e se as coisas não tivessem ruins o bastante, Samuel Aizemberg entrou logo atrás dela, fechou a porta e agora estava sussurrando alguns feitiços na entrada, que eu não faço ideia do que se sejam!

— Olha aqui, Bertrand, Aidan é inocente e coisa e tal, mas até ele vai conseguir ligar seu nome a minha causa da morte, então eu recomendo que...

— Cala a boca, seu mentecapto! Achou mesmo que iria atacar um familiar nosso e sairia livre para abanar seu rabinho espanhol por aí? — Samuel esbravejou como a boa capivara raivosa que é e eu tive que franzir o cenho para uma coisa.

— Mentecapto? Samuel, é você mesmo, sendo um metido de merda ou eu estou diante do ilustríssimo Friedrich Bertrand? — Perguntei de braços cruzados, fazendo Juliet me olhar confusa e o próprio fazer uma careta ainda mais assustadora do que sua cara normal.

— O que? O que meu pai tem a ver com qualquer coisa? — Ela perguntou ofendida, mas curiosa acima de tudo. Ótimo, gente curiosa não mata suas vítimas rápido, logo, eu ainda tenho algum tempo para pensar em um plano para escapar desses dois.

— Ele não te contou? Ele estava no corpo de seu irmão Kaleb naquele café e eu não era exatamente eu mesmo naquela situação. Aquela foi uma tarde estranha... — Falei colocando as mãos para cima, em sinal de colaboração, mas bem ciente da luvarinha envolvendo o meu braço, pronta para a ação.

— Eu não sou idiota, Cesc. Primeiro tire essa sua luva ilegal, porém muito interessante, admito e depois você explica direito essa história de meu pai no corpo de Kaleb, o que você quer dizer com isso? — Juliet continuou apontando a varinha para o meu peito, então não pude fazer nada além de tirar a luvarinha sem entusiasmo e virar o jogo a meu favor com minha língua de prata mesmo.

— Acho um absurdo que os mais velhos te deixem na ignorância, Juliet, mas a verdade é que seu pai tem um brinquedinho do clã Lestrange, que o permite ficar invadindo o corpo de vocês como se fosse uma galocha velha que ele calça para limpar o quintal em dia de chuva. — Falei com bom humor e Samuel franziu o cenho para mim.

— E como você sabe disso? — Ele perguntou desconfiado e a prima o encarou de sobrancelhas arqueadas em acusação. Ele deu de ombros. — Não me olhe assim, eu te informei sobre as caixas e, você sabe, isso é coisa de herdeiro, eu já até te contei demais!

— Não o suficiente, pelo visto! Quando eu acabar com Hogwarts, eu vou revirar todos os podres dessa família, não vai sobrar pedra sobre pedra! — Juliet prometeu e eu sorri em acordo, era um bom plano pós formatura. — Mas o que você tem a ver com isso tudo, Cesc?

— Eu não tenho nada a ver, Deus me livre de me envolver com essas coisas, mas acontece que a gente foi pacificamente conversar com seu irmão sobre isso, a título de curiosidade somente e seu pai invadiu o corpo dele com tudo, ameaçando e sendo malvado! — Repeti as exatas palavras que as Annes usaram, porque deve ter alguma verdade nisso aí.

— Por que estavam querendo saber sobre nossos assuntos, para início de conversa? — Samuel perguntou cruzando os braços, mas com a varinha sempre a postos. Juliet ainda apontava a dela para mim, mesmo a minha luvarinha já estando largada na cama, inofensiva como eu.

Garota desconfiada!

— Essa pergunta é fácil de responder. — Juliet falou cínica, mexendo em algo no bolso de seu casaco azul escuro. Jogou o objeto no chão sem cerimônia. — Você ao menos deveria tentar ser mais cuidadoso, se resolveu ter uma vida secreta, iconoclasta. Como pôde ser tão desleixado a ponto de deixar a maior prova contra você para trás?

Poderia ter sido a máscara do Batman, dado o discurso que ela fez, mas era só minha pena do Ocaso desaparecida. Fiz menção de pegá-la do chão, mas Samuel imitou a posição da prima, apontando a varinha para o meu peito.

Que família filha da puta, viu?

— Não pode me culpar realmente por isso, já disse que não era eu no meu corpo naquele momento. — Dei de ombros, pouco abalado com a acusação.

— Mas era você quando perdeu sua outra pena lá nos bosques da Espanha para uma família de lobisomens, não era? — Epa, como ela sabe disso? Juliet sorriu sinistra. — Obviamente você hoje está com a vantagem de informações, mas eu ainda tenho alguns truques na manga.

— Ok, admito que estou impressionado. Mas se conseguiu recuperar minha pena, deve ter falado com seu pai e descoberto que nós estamos sim com a caixa que pertenceu a Rabastan Lestrange, mas que não temos nada a ver com o roubo da caixa dos Aizemberg, certo?— Falei com cuidado e os primos me olharam igualmente inexpressivos, depois se entreolharam.

— Você sabia disso? — Juliet perguntou a Samuel, sem desviar o olhar de mim, estou lisonjeado com toda essa desconfiança e medo de que eu faça alguma loucura poderosa, mesmo sem varinha.

— A caixa dos Lestrange devia estar com os Dussel, nunca conseguimos barganhar para que nos devolvessem. Eles tinham um acordo com nosso tio Rabastan que era realmente válido, mas não devíamos ficar surpresos de Fábregas ter conseguido pôr as mãos nisso, Dussel deve ter dado de presente de namoro ou algo assim. — Ele falou com uma expressão de desprezo e dessa vez fui obrigado a me impor.

— Não foi Enrique que me deu a caixa, sua ratazana de esgoto! Aparentemente o seu tio Rabastan adorava vender a torre Eiffel várias vezes, porque fez um acordo com outro cara, passando a perna nos Dussel! — Larguei a bomba sem piedade e sem saber se era verdade também, porque Bradbury pode muito bem ter sido manipulado ou ter pego a caixa sem a permissão do dono, vai saber!

— E como você conseguiu rastejar esses seus dedinhos nojentos para cima da caixa de Lestrange então, seu lixo imundo? — Samuel rosnou por entre seus dentes enormes e Juliet o olhou de olhos arregalados.

— Não chama ele de lixo imundo, ele é nascido-trouxa, você vai acabar sendo processado por isso! — Ela alertou e Samuel sorriu cínico.

— Então vai ser justo, porque chamei ele assim exatamente por isso! Fábregas, os pertences Lestrange devem permanecer entre os nossos e a única pergunta aqui é: o que você fez com nosso artefato para ele aceitar fazer qualquer trocar com esse seu sangue que nem sequer é mestiço? — Ele questionou enojado, como o bom pedaço de bosta purista que ele é. Juliet baixou a varinha e se virou indignada para o primo.

— Pode ir parando com essas merdas, Cesc deve tantas explicações quanto você! — Ela cutucou ele no peito, o fazendo recuar dois passos e baixar a varinha. — Eu estou cansada dessas baboseiras de segredinhos de herdeiros! Quando lhe é conveniente me contar as coisas, você fala, agora está apenas sendo um imbecil, pagando o preço por não ter confiado no lado esperto da família antes!

— O que você quer que eu diga? Já disse que teria sido melhor que você fosse o herdeiro dos Bertrand, não o tonto do seu irmão, mas a vida é injusta e você nasceu de saia, o que eu posso fazer? — Samuel é uma metralhadora de merda: além de purista, é machista também. Juliet respirou fundo, de olhos fechados.

— Não vou gastar meu réu primário com você, Samuel, nem adianta me tentar... Não vou matá-lo hoje. — Ela resmungou, depois abriu os olhos e me encarou sem paciência.

— Como conseguiu usar uma caixa que só funciona com o sangue Lestrange? — Ela perguntou simplista, mesmo tendo sabido dos poderes do artefato tipo, há dois segundos. A praticidade dessa garota é assombrosa.

— A caixa foi modificada há alguns anos, foi achada recentemente em Uagadou. Agora funciona com qualquer pessoa, não só com sua família. — Respondi com honestidade, omitindo todos os nomes da equação.

— O que vocês queriam com a caixa do meu irmão? — Ela perguntou novamente e eu estranhei a informação dada.

— Estava com seu irmão? Jurava que estava com seu pai. Como ele conseguiu entrar na cabeça do filho se a caixa não estava com ele? — Questionei com estranhamento e dessa vez Samuel respondeu no lugar da prima.

— A caixa conecta a família, independente de quem está com ela no momento, a conexão é feita uma vez e dura para sempre. — Samuel explicou e eu fiz uma careta para essa loucura, Erick tem razão, que família com a mente fodida do caralho!

— Quer dizer que qualquer um de vocês pode ficar transitando na mente do outro? — Juliet perguntou entre o curiosa e o assustada, exatamente com a mesma expressão quando eu tinha começado a revelar toda essa loucura da família dela.

— Há uma ordem de prioridade, eu e Kaleb, por sermos futuros herdeiros, não os cabeças das famílias de fato, estamos nas últimas posições, qualquer um pode invadir a nossa mente. Mas já temos a posse das caixas, então significa dizer que o tempo das trocas quem controla somos nós, para treinar a responsabilidade. Eu geralmente deixo a minha caixa com apenas vinte minutos na ampulheta, porque... — Ele falou e depois fez um leve esgar de insatisfação com a boca e eu fiz questão de falar em voz alta o que ele deve ter lembrado.

— Deixava, porque roubaram a caixa que você supostamente deveria proteger, não foi? — Falei aproveitando cada segundo daquela sensação de ver Samuel Aizemberg tendo que admitir a sua incompetência.

Se fode aí, mentecapto!

— Eu fui enganado e para meu eterno sofrimento, levei muito tempo para perceber que tinha algo errado. A pessoa que me roubou sabia o que estava fazendo, fez uma réplica idêntica da caixa e como não usamos esse tipo de magia com frequência nos dias de hoje, percebi tarde demais a troca.

Ele falou aparentando estar chateado, Juliet atenta e eu apenas bem satisfeito, sentadinho na minha cama assistindo tudo de camarote, claro.

— Suponho que você não saiba quem te roubou, não é? — Falei aproveitando mais um tantinho desse momento glorioso, onde um nascido-trouxa demonstra toda a sua superioridade ante um puro-sangue patético.

E não, isso não é purismo reverso, essa merda não existe, já disse!

— E você sabe, por acaso? — Ele perguntou sarcástico e eu sorri com a descrença dele.

— O nome Carl Dolus te diz alguma coisa? Ah sim... Quando você pediu para o Ocaso todo comparecer naquele maldito circo de pulgas, mal sabia você que estava fodendo a vida de todos nós! — Falei tudo de uma vez, chocando os primos com minha revelação bombástica.

— Dolus? Por que ele iria querer alguma coisa com a nossa caixa? Como ele sequer saberia o que procurar? — Samuel falou ainda não de todo convencido com a minha informação crocante.

— Porque Dolus na verdade é o seu querido tio Rabastan Lestrange! — Revelei com um gesto dramático e Juliet só me olhou sem expressão.

— Ele não é tão querido assim, nunca o conhecemos de verdade. — Ela falou sem emoção e eu fiquei meio chocado com isso, confesso. Com a inexpressividade dela e não com a falta de carinho entre familiares, digo. — Eu saquei quem era no minuto em que Samuel falou que a caixa havia sido replicada. Só um herdeiro Lestrange poderia fazer uma cópia tão perfeita da caixa a ponto de enganar outro e como meu irmão é um anjinho puro e nosso tio fugiu da prisão no verão passado...

— Você realmente é a mais esperta da família, não é? — Elogiei com sinceridade, omitindo de propósito toda a confusão com a identidade de Bradbury que Lestrange assumiu por anos. — Bem, ao menos sabemos que Lestrange tem uma caixa e não podemos deixar que ele pegue mais nenhuma!

— Você tem é que devolver a que está com vocês, Fábregas! — Samuel falou indignado e eu dei de ombros.

— Seu tio jogou fora e nós achamos, todo mundo sabe que achado não é roubado. Você devia se preocupar em conseguir a sua de volta, porque se ele corromper ela também, ele poderá ficar trocando de corpo que nem um doido por aí, com qualquer um! — Alertei sonso, porque embora eu tenha dito a Fred um milhão de vezes que ele deveria devolver a caixa para os donos de verdade, agora que o dia chegou, tô afim não.

— Qual o interesse dos iconoclastas em ficar com a caixa? — Juliet perguntou curiosa e eu a olhei com um sorriso inocente.

— Seu tio não gosta da gente, vamos manter a caixa longe dele e isso por si só faz ele nos odiar ainda mais. — Falei sem culpa e nem vergonha na cara.

— Por que ele não gosta de vocês? — Juliet devolveu a pergunta, ainda mais curiosa.

— Porque ele não fugiu ano passado, fugiu há quase dez anos, assumindo a vida de nosso amado professor de Poções, Bradbury, cara que a gente nunca conheceu, na verdade. Ele, no corpo de Bradbury, teve seu esquema para uma aposentadoria confortável desmascarado graças a aquele primeiro artigo nosso, sobre Dolman. — Entreguei mais um pedaço da história, porque não sei se estou autorizado a falar da profecia, que era a outra opção de justificativa.

Se bem que... Já pararam para pensar que quem vai enfrentar Lestrange é um igual? Com o mesmo poder? Samuel e Juliet são iguais, tem o mesmo sangue e tudo, se tiverem a caixa, vão cumprir todos os requisitos da profecia!

Só não sei como as coisas nas mãos deles vão ser mais seguras do que nas do tio...

— Como ele assumiu o corpo? — Juliet perguntou com seriedade e economia de palavras. Dei de ombros.

— Bradbury conheceu seu tio em Azkaban em seu estudo de mestrado, de alguma forma soube sobre a caixa, deu um jeito de roubá-la dos Dussel, corrompeu o feitiço de sangue e sei lá, fez a troca com Lestrange, eu não sei o porquê. — Falei, então esperei que os primos processassem a história com calma. Samuel foi o primeiro a falar algo.

— Provavelmente a caixa deu a prioridade devida a seu dono. Bradbury deve ter achado que conseguiria enganá-la, mas ela escolheu dar uma segunda chance a seu mestre, cujo sangue estava marcado nela. — Samuel sorriu com deboche e eu não entendi o porquê. — Com certeza ele devia estar tentando trocar com outro sangue impostor, mas a caixa fez a troca com tio Rabastan na cadeia.

Oh, merda, isso faz sentido!

Tipo, a gente meio que já sabia que dificilmente alguém iria se voluntariar para assumir a pena de um prisioneiro de Azkaban condenado a perpétua e Lestrange não teve acesso a varinha, não poderia usar uma maldição imperdoável, só restando contar com a fidelidade da caixa da família!

Será que ele fez isso com premeditação? Contou sobre a caixa para Bradbury justamente para ele tentar a troca e acabar preso no corpo do herdeiro Lestrange? Não vou mentir, isso me lembra muito o que Erick parecia disposto a fazer comigo, não a toa eu corro e fujo gritando toda vez que ele quer que eu confie nele!

— Vocês gostam dessa coisa de chamar os outros de impostor, né? A caixa de Lestrange disse isso, suponho que estava acusando a gente... Que melindrosa! Antes um outro sangue, do que um torturador preso em Azkaban! — Falei com nojo, porque a caixa era purista como os donos, credo!

— Bem, acho que isso não vem ao caso agora, porque precisamos ser práticos: Cesc fica com a caixa L e eu dou um jeito da caixa B ficar em segurança nas mãos de Kaleb. Pronto, resolvido.— Juliet falou com decisão, depois colocou a mão no queixo de uma maneira bonitinha, digna de desenho animado. — O maior problema é a caixa A, que eu não sei bem como recuperar.

— Vou ignorar essa ideia da caixa ficar com Fábregas, porque isso não vai acontecer, para dizer que eu já tentei de tudo para recuperar a minha caixa, mas ela não responde aos meus chamados. — Samuel falou chateado e eu o olhei com curiosidade. Chamados?

— O que você quer dizer com chamados? — Perguntei já tendo um palpite muito sólido sobre o que ele estava falando.

— Eu sou o portador oficial da caixa, tive que aprender tudo sobre ela, inclusive como recuperá-la imediatamente em caso de perda. — Ele falou com as mãos na cintura e pose de herdeiro. Nem parece que tá tão fodido quanto o resto de nós, impressionante a autoestima da capivara.

— Será que Lestrange tentou chamar a caixa dele também? Porque nós ficamos ouvindo mensagens aleatórias na caixa dele, nenhuma fazia muito sentido, achamos que ela estava nos dando premonições difíceis de decifrar. — Contei fazendo minha melhor cara de inocente, mesmo que Samuel agora me olhasse de cenho franzido.

— Que tipo de premonições? — Ele perguntou, Deus sabe pensando o que de mim.

— Começou falando de Carl Dolus, o insectologista, que agora já sabemos que era o seu tio disfarçado, falou para aguentar firme no jogo na América, alertou sobre os cinco dias, que culminaram no desastre de Hogwarts, falou em francês também, muito chique ela, usou a palavra impostor que nem você e até indicou a fonte Flamel para a gente ir, o que justificou a nossa vinda a Beauxbatons. Tô esquecendo alguma coisa?

— Como eu vou saber? — Juliet respondeu, como se eu não tivesse feito uma pergunta retórica. Palhaça.

— Me parece que Lestrange tentou recuperar a caixa, em condições normais ela consegue influenciar o falso portador para que ele a devolva ao seu mestre. — Samuel esclareceu e eu fiz uma careta para a informação, porque a caixinha bem que pentelhou Fred para ir até onde ela queria, ele só não foi porque deve ser mais teimoso e cabeça dura do que ela.

— O fato de Lestrange não estar em seu corpo pode ter influenciado na força de seu apelo sobre ela... — Juliet ponderou sabiamente, depois franziu o cenho intrigada. — Falando nisso, onde está o corpo dele?

— Isso é fácil de responder: com o Michael Bradbury verdadeiro. — Informei solicito.

— E onde está Bradbury? — Samuel perguntou curioso e eu sorri inocente.

— Foragido.

— Bem, pouco importa, aparentemente nosso tio desistiu de seu corpo, tanto que está tomando providências para as caixas obedecerem a ele sem o empecilho do sangue, então detesto admitir, mas vocês dois estão certos, a prioridade é impedir que Lestrange pegue mais alguma caixa. — Samuel concluiu sério e eu vi uma brecha para tirar minhas dúvidas importantes.

— O que acontece se ele puser as mãos nas três caixas? — Perguntei como quem não quer nada e Samuel apenas me olhou com desdém.

— O que acha que pode acontecer?

—Não se faça de desentendido! Pela matriz mágica da caixa dá para ver que ela se basta, mas faz parte de um mecanismo maior. — Falei seguro, porque Heitor parecia bem certo quando falou sobre isso no seu salão do fim do mundo. Erick tem a sala do fim do mundo e Heitor o salão, que fique bem claro. — Que tipo de loucura vocês fizeram? O que ela pode fazer além de trocar de corpos, que já é bizarro o bastante?

Samuel fez menção de dar as costas, provavelmente para sair do quarto sem me responder nada, porque em sua mente de mutação de humano com roedor ele não me deve explicações, mas Juliet o segurou pelo braço, com um olhar sério.

— Responde, garoto. — Ela disse e mesmo sendo uma baixinha com cara inofensiva, Bertrand não era exatamente o tipo de garota que as pessoas ignoravam quando ela se propunha a ser intimidadora.

— Não é nada demais. — Ele tentou desconversar, mas não colou. — Ok, uma caixa troca as mentes, duas caixas juntas trocam a mente e fazem um compartilhamento de memória e conhecimentos e com as três caixas juntas... Você pode fazer tudo isso e um acúmulo de magia.

— Acúmulo de que? — Perguntei com incredulidade e a capivara vinda de uma família de loucos falou como se não fosse grande coisa.

— Acúmulo de magia, de habilidades mágicas, Fábregas. Mas ninguém faz mais isso desde que os ramos da família se afastaram. Quando a família vivia sobre o mesmo nome, era normal que no momento da morte de um membro, ele passasse para o herdeiro alguma habilidade interessante, caso tivesse. — Ele falou displicentemente. — Perdeu o sentido há uns duzentos anos, quando um ancestral maníaco resolveu roubar os talentos alheios sem permissão e com as pessoa ainda querendo viver suas vidas.

Ah bom, não dava para prever esse desfecho horrível, né?

Ele usou mesmo a palavra normal para definir esse costume? Um poder absurdo desses nas mãos de uma família de gente com tradição de ser ambiciosa e ainda por cima com valores ridículos de purismo, é tipo entregar a tecnologia da bomba nuclear na mão de nazistas!

— Por que vocês não destruíram essas merdas de caixas ainda? — Perguntei prático, porque não me incomodaria de começar a fazer isso agora, daria um fim em cada uma das caixas só por diversão. Melhor jeito de frustrar Lestrange!

— Faz parte da nossa tradição e legado, Fábregas! Não espero que você entenda o que isso significa, mas o sangue e a força do todo, do nosso nome, sempre esteve acima até mesmo de nossas identidades individuais e segurança! — Samuel falou com paixão e eu olhei para Juliet em busca de apoio.

— Você precisa internar ele com urgência, obviamente este filhote de alguma criatura mágica bizarra não está bem! — Apontei para a capivara megalomaníaca e Juliet sorriu para mim.

— Não se preocupe, Cesc. Lestrange não vai pôr as mãos em mais nenhuma caixa e eu vou garantir pessoalmente que essa prática maluca da minha família continue no passado, de onde ela nunca deveria ter saído. — A líder do clube de teatro me falou otimista, não sei se de todo sincera e eu fiquei com a história da profecia na ponta da língua, mas preferi não dizer nada a ela.

— Ainda bem que o sangue não estragou todo mundo, você ainda tem salvação, Juliet! — Pisquei para ela, com falsa confiança.

Só espero que todos nós tenhamos salvação de verdade.

***

Depois de relatar a conversa com Juliet e Samuel, Fred dar aquela leve surtada que lhe é característica quando fica sabendo de alguma coisa mágica muito foda – ele literalmente ficou encantado com o poder das caixas, com o perdão do trocadilho – a segunda-feira terminou relativamente em paz.

Então, metaforicamente falando, eu olhei para um lado e depois para o outro antes de atravessar a rua, desconfiado, porque paz por dois dias seguidos é muito estranho e embora o professor de Herbologia tenha me ameaçado com uma suspensão por danos “irreparáveis” a uma planta de valor inestimável - não me perguntem o nome – a terça também havia sido muito tranquila.

Deixei de conter o fôlego apenas na quarta-feira, quando Louise me mostrou uma resma de pergaminhos cheios de transcrições que ela tinha feito das mensagens recebidas no Prime. Agora sim o mundo voltou a sua normalidade!

— Todos estão nos elogiando pelo ótimo trabalho no Ocaso? — Perguntei com esperança e ela me olhou sem paciência.

— No dia que os nossos colegas pararem suas vidas inúteis para tecerem um elogio para a gente, vai ser tentando nos convencer a não desistir dessa bola de problemas que se chama Ocaso! — Ela falou mais irritada do que a situação pedia, então eu lhe dei um sorriso malicioso.

— Brigou com Sartori pela primeira vez, foi?

— Sim, Cesc! Meus problemas começam e terminam com garotos, não tenho mais nada para fazer da minha vida! — Ela falou com uma dose extra de sarcasmo, revirou os olhos, então selecionou alguns pergaminhos daquele conjunto impressionante de documentos. — Aqui, dê uma olhada nesses comentários para ver se você continua com esse bom humor.

Aceitei as cópias das mensagens enviadas para o Prime, porque era meio que um procedimento padrão de Louise me passar as mensagens que ela não sabia muito bem como responder.

Tínhamos estabelecido que todos os colegas que conseguiram solucionar o enigma do Ocaso e que tentavam falar com a gente mereciam ao menos uma resposta, embora sua causa carecesse de importância coletiva ou dados mesmo.

A gente não faz ideia do que poderia ser feito em relação aos alunos que abominam a torre de coxas de frango nos banquetes de Hogwarts enquanto alegoria da tortura animal, por exemplo.

A minha resposta para isso foi: moça, eu acho que nem sequer entendi o que você quis dizer, como vamos propor uma solução ou discussão sobre isso? As coxas de frango não eram só para comer não?
Bloqueei essa lufana por precaução, porque eu perguntei essas coisas por educação, não tenho interesse algum em problematizar as torres de frango do banquete! O falecido Tony ainda acrescentaria que lufano tem mais é que agradecer, porque a comida deles é melhor do que a nossa e isso sim é algo digno de nota.

Saudades de Tony.

— Que merda é essa? — Sussurrei para mim mesmo ao ler as mensagens bem mais longas do que as convencionais, cheias de teoria e acusações. — Os americanos perderam o juízo?

— Continue lendo, por favor. — Louise falou com um sorriso sombrio. Passei para a próxima mensagem e a próxima e a próxima.

— Estão questionando a legitimidade do Ocaso? Acham que nós somos professores tentando ordenar o “ímpeto da juventude sob um discurso de rebeldia controlada e guiada"? — Eu arregalei os olhos, porque alguns dos argumentos eram bastante elaborados. — Que tipo de hambúrguer com fritas batizado estão servindo para essas crianças?

— O pior é que muito do que é dito faz sentido, sabe... Porque já nos perguntamos o nosso papel e essa questão da verdadeira representatividade do nosso grupo. — Louise falou chateada e eu neguei a ideia com a cabeça.

— Nem comece! A gente já superou essa crise existencial! — Apontei para ela, enfiando os pergaminhos na mochila. Esses americanos iam ver todo o poder da minha argumentação melhorada na guerra que eram as aulas de Debates! — Eles têm todo o direito de questionar nossa origem, eles não viram como começamos, mas estão fazendo isso baseado em suspeitas infundadas!

Falei com sentimento, depois lembrei da conversa inacabada com Aidan sobre a possível participação de Severus no processo de criação do Hall da vergonha de Ilvermorny.

— O que foi? O que está pensando? — Louise perguntou desconfiada, provavelmente porque eu murchei aqui no banco da sala de estudos.

— Aidan levantou a hipótese de Sev estar por trás de todo esse lance do Hall, dada a dificuldade ou interesse dele em resolver o assunto, sendo assim, realmente há uma possibilidade de ao menos um iconoclasta estar envolvido nisso. — Falei de uma vez, porque havia dado uma satisfação do meu sumiço para Aidan no domingo por mensagem e tinha pedido um tempo para refletir sobre o assunto.

Coisa que eu não fiz, porque esqueci, me processem! Estava mais preocupado com a merda iminente que é o trio de caixas Lestrange nas nossas vidas! Se separadas já causam o terror, imagina juntas!

— É uma hipótese razoável, normalmente Al já teria chegado ao cerne da questão a essa altura, mas a gente tem que levar em consideração que ele está fora de seu ambiente lá em Ilvermorny. — Louise ponderou e eu acrescentei isso a minha lista de motivos para Severus ser inocente.

É uma lista bem pequena, para ser sincero.

— E ele estava focado no lance do laboratório de Bradbury, depois na história de White... — Acrescentei com esperança e Louise fez aquela careta que precedia suas argumentações só para ser do contra.

— Por outro lado, o lance do laboratório não foi para frente e ele não deu mais notícias nem sobre White, muito menos sobre as palavras que ele descobriu lá na carta de suicídio de Haardy. — Ela apontou com esperteza e eu tive que dar o braço a torcer.

— Sim e tem o fato de que Lily parecia muito inquieta com o assunto, mais irritada do que preocupada, o que sugere que ela sabe de alguma coisa que Sev escolheu esconder de mim. — Lembrei um pouco chateado, porque as evidências não estavam a favor dele.

— Mas a gente precisa levar em consideração que não há uma razão concreta para ele fazer algo como o Hall da vergonha, quero dizer, Al é prático antes de qualquer coisa. — Louise argumentou, me fazendo trocar de lado de novo.

— Sim e o caso expôs a coisa mal resolvida entre você, Frank e James, que incluía ele e arriscava um dos casos do Ocaso! — Sinalizei feliz de ver que isso afastava bastante Severus da possibilidade de ser o idiota por trás do Hall. — Sev pode até ligar o foda-se para todo o resto, mas nunca arriscaria o Ocaso, né?

— Porém o Ocaso estava com poucas pautas para publicar na época, o Hall deu uma movimentada nesses tempos de indecisão nossa e...

— Louise, minha flor de laranjeira, escolha um lado para ficar, para eu poder ir junto! — A interrompi impaciente, porque essa ridícula fica trocando de lado toda hora, com um argumento melhor do que o outro!

— Eu ainda não sei o que pensar sobre isso! — Ela falou irritada, depois se acalmou e me olhou com um sorrisinho malandro. — Ok, vamos ser práticos. Você ainda tem o telefone de Katherine Davis?

— Tenho.

— Ligue para ela. — Ela disse com decisão, então eu achei o contato em Caveira e apertei o ícone da chamada. Já estávamos no final da tarde, significava dizer que era hora do almoço na América, então Kath não estava em aula e por isso mesmo atendeu rápido.

— Oi, Cesc. — Ela falou animada, depois ficou meio intimidada. — Lily não está, você quer deixar recado?

— Oi, Davis, aqui é Louise, irmã de Cesc. Na verdade estamos procurando por Al, ele está por aí? — Louise invadiu a frente da câmera antes que eu pudesse sequer da um oi para a menina, que ainda devia achar que eu era alguma espécie de dragão não adestrado.

— Eu não faço ideia de onde ele possa estar, eu quase não o vejo no refeitório, na verdade... Acho que ele é muito ocupado. — A menina falou em dúvida e eu e Louise nos entreolhamos, porque Sev na verdade era muito alcoviteiro, devia estar procurando notícias para o Ocaso.

E possivelmente para o Hall da vergonha.

— Kath, segura as pontas aí, que eu vou fazer um feitiço a distância que... — A imagem da menina saiu de foco, porque ela deixou o celular cair no chão. Assim que ela voltou para a tela, eu expliquei tudo, enquanto dava risada. — Brincadeira! Eu não sei como fazer isso, mas queria muito ver a sua cara...

— Meu Merlin! Não faça isso, por favor! Eu fiquei realmente com medo de você me explodir a distância! Lily disse que você é bonzinho e não me leve a mal, eu acho que você é super bonzinho, mas eu prefiro que você não faça esses feitiços de tão longe, você sabe, porque a precisão pode ficar meio comprometida, né? — Ela se enrolou toda para tentar não me ofender, então eu continuei dando risada. Louise me olhou com impaciência.

— Do que vocês estão falando?

— De nada, irmãzinha. Kath, vou te ensinar a fazer um feitiço básico de localização, é bem simples. — Ensinei a ela a palavra e o balançar de varinha, mas na terceira tentativa, ela estava tão frustrada quanto eu. — Que estranho... Geralmente funciona muito bem, até Aidan sabe usar esse feitiço!

— Não vai funcionar se a pessoa em questão estiver bem disfarçada... — Louise sugeriu, brincando com uma mecha do cabelo que agora já ultrapassava os ombros. Ela estava se referindo ao que?

Minha querida irmã me olhou com mais ênfase e após dois segundos eu lembrei que Sev tinha herdado a capa da invisibilidade do pai e ela não era detectável nem pela Morte, quanto mais por um feitiço bobo de localização! Inclusive os Potter estão me devendo várias sextas com ela!

Acordo é acordo.

— Ok, Kath, vou precisar que você encontre Severus ainda hoje e peça para ele me ligar com urgência. — Falei chamando a atenção da terceiranista americana, que me olhou com seus olhões bonitos.

— Vou fazer disso minha missão de vida, pode deixar. — Ela bateu continência animada e então fez uma careta logo em seguida. Tão bonitinha que chega dói! — Pra ser sincera... Eu não sei nem por onde começar a procurar ele.

— Ache Lily e diga a ela que eu descobri tudo sobre a idiotice do irmão dela e que ele está com a capa, então ela vai ter que ser criativa para achá-lo, se não quiser ser queimada na fogueira da Santa Cesquisição junto com ele! — Falei apontando para ela e com um tom bem sério. A menina me olhou com cara de nada.

— Eu não vou lembrar de tudo para falar palavra por palavra... Pode repetir? — Ela falou com sua carinha de anjo, mexendo em algo a suas costas, provavelmente a mochila pendurada na cadeira, então Louise não resistiu e tomou o celular da minha mão. Injusto, porque eu ia repetir para ela anotar no caderno, meu discurso não foi feito para ser jogado ao vento somente!

— Apenas diga a Lily que precisamos falar com ela e Al, é urgente. — Louise falou antipática, então eu cruzei os braços, indignado. Ela revirou os olhos. — Diga que se eles não ligarem, vão ser queimados na fogueira da Santa Cesquisição.

Olha só, eu amo uma irmã, nunca critiquei!

Dessa vez Kath acenou mais animada e desligou o telefone para resolver a missão dada. Olhei para Louise, que demorou, mas me olhou de volta com seu olhar corvinal.

— O que fazemos agora? — Perguntei sem nenhuma vontade real de fazer algo, mas é o que se espera de mim, não é?

— Agora você atende Antonella Lo Presti, que parece que está vindo para cá só para te prender em um de seus discursos inflamados. — Louise falou risonha e eu retirei a minha mentira sobre nunca criticá-la, porque ela é uma criatura odiosa!

A capitã siciliana, ainda com o uniforme de treino, se sentou no banco do outro lado da nossa mesa de estudo, tomando alguns segundos para recuperar o fôlego.

— Fábregas, preciso de um posicionamento sobre o calendário de jogos. Vamos mesmo fazer os amistosos na segunda metade do ano mesmo ou foi só conversa furada sua? — Ela falou sem rodeios, como sempre e como se estivesse preparada para enfrentar qualquer um dos nossos times, mesmo que eles ainda nem estivessem montados.

— Foi só conversa furada minha. — Disse dando de ombros, mas Antonella não é conhecida por seu brilhante senso de humor.

— Não me venha com essas suas merdas, Fábregas! Você me prometeu jogos para mobilizar os jogadores, agora não pode voltar atrás! — Ela acusou e eu levantei o livro de Poções na minha frente, para me defender de um possível ataque físico.

— Mas isso não depende só de mim, Antonella! Eu disse a você que iríamos articular as coisas com o Ocaso, que inclusive já mencionou a ideia para os alunos de Hogwarts espalhados, alunos esses que adoraram tudo, como sempre. — Falei, olhando por trás do compêndio de Poções de Luxemburgo e adjacências, cujas notas de rodapé o professor adorava usar em questão de prova.

— E depende de quem? — Ela perguntou raivosa, abaixando meu livro com uma mãozada eficiente. Essa garota deve ser uma artilheira fantástica, quem ganha uma disputa de goles contra ela? Nem Frank!

— Depende, no mínimo, de Hogwarts ficar pronta! — Falei temendo por minha cara bonitinha, porque, passam os anos e eu nunca me acostumo a ser socado no nariz. Por favor, Senhor, não deixe ela socar meu nariz! — Você deve ter ouvido falar que o prazo de nossa volta foi adiado indefinidamente, não ouviu?

— Sim, mas e daí? — Ela perguntou gesticulando com as mãos, daquela maneira siciliana engraçada.

— E daí que a gente não tem estádio, por exemplo. — Respondi o óbvio, a fazendo revirar os olhos.

— Vocês podem usar o nosso, sem problemas. — Ela gesticulou vagamente para o local onde o belo estádio de Beauxbatons deveria estar, através de todas aquelas paredes que nos separavam da área externa do colégio.

— Nós não temos uma equipe! — Falei já ficando muito cansado dessa burrice cristalizada a minha frente. Antonella pensou um pouco, depois deu de ombros decidida.

— Vocês podem montar uma equipe híbrida e jogar. — Ela fez o gesto de lavagens de mãos, feliz com sua ideia brilhante. A olhei incrédulo, então ela me deu um sorrisinho feliz ao se levantar para ir embora da sala de estudos. — Vocês são os campeões mundiais, podem reunir uma equipe para... O dia 30?

— De que século? — Perguntei alarmado, Louise, que não me defendeu desse ataque em nenhum momento, deu risada.

— De novembro, Fábregas! Deixa de ser obtuso, esse prazo é mais do que suficiente. — Ela falou com deboche e Louise riu ainda mais. Essa garota por acaso tem molho de tomate siciliano no lugar do cérebro?

— Dia 30 de novembro cai numa terça-feira, Lo Presti. Que tal no primeiro final de semana de dezembro? — Louise perguntou solicita e Lo Presti apontou para ela, animada.

— Boa ideia! Final de semana é melhor, chama mais público. — Ela levantou os polegares para mim, em aprovação e Louise fez um gesto para me tranquilizar por trás das costas da garota italiana.

Eu continuei encarando as duas completamente embasbacado com a idiotice de ambas: NÃO DÁ PARA MONTAR UMA EQUIPE DECENTE DE QUADRIBOL EM ALGUMAS SEMANAS!

— Antonella, eu não tenho uma equipe de Hogwarts aqui. A Sonserina está espalhada pelo mundo e mesmo que estivessem todos dormindo na casinha de cachorro ao lado, a gente não joga há meses! — Tentei ser bem didático, porque sutileza não tá funcionando aqui.

— Você se gabou como um louco da sua escolinha, disse que transformava qualquer um em jogador, falou um monte! Pega qualquer um e coloca em um uniforme. — Antonella falou como se isso não fosse problema dela. E não era, de fato. — Só certifique-se de estar no estádio às 14 horas, no dia 04 de dezembro.

Louise confirmou a data com um aceno de cabeça, quando Antonella buscou por seu apoio mais uma vez. Eu olhei para ela com minha melhor cara de “Não conte com isso".

— Esse jogo não vai acontecer, nem que para isso eu tenha que tocar fogo no seu maldito estádio, Lo Presti! — Falei irritado, ante aquele sorrisinho convencido de quem tinha conseguido exatamente o que queria.

— Isso vai ser tão maravilhoso, Fábregas! Mal posso esperar para atirar uma goles no aro de Weasley! Vai ser... Épico! — Ela beijou a ponta dos dedos, como se tivesse falando de uma pasta maravilhosa, servida com molho bolonhesa artesanal. Deu as costas e saiu da sala animada.
Olhei para Louise, irritado.

— Nós não temos um time, porque incentivou essa ideia louca de Lo Presti? — Apontei para a porta, por onde o nosso novo objeto de discussão tinha acabado de passar.

— Vai ser em um final de semana, você consegue ao menos trazer Enrique e Romeo e como Antonella já disse, você tem um excelente goleiro a disposição, Fred, no caso e tem sua artilheira Heidi. Quão difícil é encontrar mais um artilheiro e um batedor? — Ela falou como se qualquer um deles fosse saltar por de trás do armário de livros para consulta.

— Um bom artilheiro e um batedor razoável. — Falei pessimista, porque não é como se eu fosse conseguir um milagre que demovesse Antonella Lo Presti dessa ideia ridícula!

— Dois jogadores a mais, né? Hum... Se eu fosse você, começava a garimpar os tesouros daqui da escola... Acho que Nique e Roxie jogam Quadribol, posso falar com elas! — Louise falou animada, como se tivesse me dado a solução de todos os problemas.

— Que tal colocar você em campo para ver como é bom apanhar sem nenhuma esperança de vitória, hum? — Perguntei sarcástico e ela arregalou os olhos, como se eu tivesse acabado de recitar a fórmula secreta do hambúrguer de siri do seu Sirigueijo!

— Ai meu Deus, Cesc! Eu posso ser sua batedora?!?! O instrutor de tênis da mamãe disse que eu tenho muita força na rebatida e que se o esporte fosse sobre arrancar a cabeça das pessoas, eu seria uma medalhista olímpica! — Ela falou encantada e eu a olhei horrorizado.

— Louise, isso não foi um elogio!

— Ai, por favor, por favorzinho! É um jogo amistoso sem valor nenhum, me deixa jogar como sua batedora, eu juro que vou obedecer todas as suas ordens, eu vou, assim, ser tipo a sua melhor e mais obediente e esforçada e atenta e...

— Ah, que inferno! Você pode ser a merda da batedora! A gente vai perder essa bosta de jogo mesmo! — Falei irritado, então ela se levantou mais rápida que um raio, me abraçou pelo pescoço, me deu um beijo nojento na bochecha e saiu correndo desembestada porta fora.

— Eu vou contar para as meninas! Ai meu Deus, Cesc, você não vai se arrepender! — Essas foram as últimas palavras que ela disse antes de sua voz e rastro sumirem pelo corredor. Eu fui obrigado a falar com ninguém, porque precisava desabafar.

— Não tem nem dois segundos e eu já estou arrependido!

***

Estava encarando as caras animadas de Louise, Heidi, Roxanne e Dominique e a cara debochada de Fred no início da manhã de uma tranquila e silenciosa quinta-feira, no pequeno espaço aberto que antecedia o labirinto de sebes. Estavam todos com seus moletons de Beauxbatons e bastante disposição, pelo visto.

— Ok, eu preciso perguntar: você três ao menos sabem voar em uma vassoura? — Falei com as mãos juntas, quase fazendo uma prece para Deus, mas além de Fred e Heidi que sabiam que a pergunta não era para eles, as outras meninas me olharam ofendidas.

— Você faria essa pergunta para um garoto, Cesc? — Nique cruzou os braços, toda ícone feminista com seu meio rabo de cavalo milimetricamente arrumado.

— Faria. Eu subestimo qualquer um, não é uma exclusividade feminina. — Falei como o ícone igualitário que eu sou, depois continuei. — Conhecem as normas de segurança do voo em vassoura?

— Sei tudo que há para saber, posso até recitar elas para você! — Louise disse empolgada e eu sorri cínico.

— Pois esqueça tudo, Quadribol não tem nada a ver com segurança! — Retruquei mal-humorado e três pares de olhos me encararam surpresos. — Jogadores de Quadribol trocam segurança por velocidade e voam naquela faixa entre a zona de perigo fora das normas e a morte!

Falei, fazendo Heidi e Fred rirem cúmplices e Louise e Dominique me encararem com os olhos arregalados. Roxanne cruzou os braços, pouco intimidada.

— As normas de segurança se aplicam ao Quadribol também, Cesc, a gente não nasceu ontem. — A irmã de Fred falou pedante igual a ele, coisa de família, suponho.

— Nós não temos talentos lapidados aqui, do contrário vocês já fariam parte do time das Casas de vocês, não temos tempo para treinar, então o que nos sobra é ser um time audacioso! — Falei com convicção e bastante ciente da minha responsabilidade de ao menos dar um espetáculo decente para minha torcida.

— Não haverá audácia, se estivermos mortos por infringirmos as normas de segurança de voo. — Roxanne resmungou novamente e eu a encarei irritado.

— Coragem é a única coisa que eu admiro nos grifinórios e você deixou a sua na cama hoje, hein? Não tô dizendo para se atirarem das vassouras, mas também não quero que voem com as duas mãos presas ao cabo! — Falei olhando para as três garotas teimosas a minha frente, então sorri sem muito humor. — Mas por hora preciso somente de uma apanhadora, uma artilheira e uma batedora, então...

— Eu vou ser a batedora! — Louise disse empolgada além da conta e eu a ignorei.

— O que houve com nosso apanhador oficial? — Fred perguntou desconfiado e eu tive que dar a péssima notícia.

— Romeo até vai conseguir vir, mas Enrique teoricamente já se expôs demais naquela feira de tecnologia no Japão, se ele fizer outra aparição pública fora da Inglaterra, o Conselho internacional de Quadribol vai achar que ele está debochando deles, por conta do processo de Uagadou. — Dei de ombros, concluindo o raciocínio.

— Que processo? — Fred perguntou e eu lembrei que ainda não tinha falado com ele sobre os problemas de Enrique com a apanhadora mirim de Uagadou.

— E não está? — Louise perguntou cínica e eu a ignorei novamente, assim como fiz com Fred agora.

— Então tá, vamos começar com um teste mais eficiente do que o Chapéu Seletor! Aqui atrás de mim, tenho o baú com os equipamentos oficiais do campeonato passado, então vocês três vão competir entre si para ver quem faz mais pontos! — Falei animado para ver essas criaturas se engalfinhando sobre vassouras, ao menos isso deve ser divertido de assistir!

— Como nos colocar para disputar pontos vai nos ajudar a virar uma boa equipe? — Louise questionou com as mãos na cintura, toda afrontosinha.

— Primeiro que eu não tenho esperanças de formar um time “bom", sendo algo acima do patético eu já estarei satisfeito. — Falei com sinceridade e elas me olharam fazendo caretas, Dominique chegou até a fazer um polegar para baixo, demonstrando sua insatisfação. — Segundo que eu sei o que estou fazendo e não quero ouvir ninguém me questionando.

— Mas e se...

— Você, de todas as pessoas, me prometeu que iria se comportar, então não vou aceitar esses seus questionamentos todos! — Apontei para Louise, que fingiu que estava trancando a boca com chave e cadeado. — Continuando, eu vou...

— Como vai decidir quem vai ser o que no time, capitão? — Heidi levantou a mão, como se tivesse algum respeito por mim, mas me interrompeu do mesmo jeito. Dei um olhar frio para ela.

— Como eu ia dizendo e fui interrompido, vocês vão competir por mais pontos, mas estarei observando suas habilidades. Quem acertar uma goles nas minhas mãos e eu já vou logo avisando que não vou me esforçar para agarrar nada, ganha 10 pontos. Quem acertar uma rebatida de balaço, ganha 5 pontos, quem acertar um balaço na outra, ganha 10 pontos e quem pegar o pomo, ganha 150 pontos e encerra o jogo.

— Mas como vamos carregar um bastão e acertar a goles ou caçar o pomo ao mesmo tempo? — Roxanne me perguntou confiando pouco na minha sanidade e eu fiz minha melhor cara de tô nem aí para ela.

— Eu não faço ideia. — Disse displicente.

— E o que eu e Heidi vamos fazer enquanto isso? — Fred imitou o gesto da irmã, cruzando os braços com pouco respeito.

— Primeiro vão dar 10 voltas ao redor do labirinto, porque estão obviamente fora de forma. Depois quero ambos no alto treinando arremessos e defesas, muito bom que são um goleiro e uma artilheira, né? Perfeição! — Falei imitando o gesto de Antonella de ontem, beijando a ponta dos dedos.

— Ui, nem me fale! — Heidi sorriu maliciosa para Segundo e eu apontei com firmeza para ela.

— Eu estarei lá no alto com as meninas, vou conseguir ver se vocês estão correndo ou não, estão me ouvindo? — Falei mais como um general do que capitão, então Heidi bateu continência e Fred revirou os olhos, já começando a correr. — E não se percam, seus marginais!

Eles partiram para a borda do labirinto, então eu me virei para os três projetos de jogadoras que sobraram sobre minha responsabilidade. Elas me encararam com diferentes graus de curiosidade, ansiedade e deboche, esse vindo, em sua maioria, da irmã de Fred.

Peguei os dois bastões do baú oficial do campeonato que ganhei de Enrique e entreguei para as primas Weasley, Louise me olhou ansiosa, então para ela eu peguei o meu próprio bastão oficial, com o qual inclusive ganhei o campeonato.

— Eu quero que você cuide desse aqui com sua própria vida, se for preciso, está me ouvindo? — Entreguei a ela como se fosse o Santo Graal e ao menos ela o pegou com uma dose grande de respeito. Ela respondeu com um sim reverente, então analisou o objeto com cuidado. — Cada ranhura dessa é um momento grandioso, então não me decepcione!

— Ah, nos poupe, Cesc! Todo mundo sabe que eu vou derrotar essas malair de primeira! — Nique falou girando o próprio bastão com arrogância, mas o meu cérebro ainda estava processando o que ela disse.

— O que foi que você falou?

— Do que nos chamou? — Roxanne falou por cima de mim, muito ofendida, tanto que a prima levantou as mãos, com cara de culpa.

— Sinto muito, não sabia que era tão ofensivo! Meus primos por parte de mãe me chamam assim todo o tempo, eu não sabia que equivalia a um “aborto" ou algo pior... — Ela falou chateada, mas ainda não tinha me dito o que eu queria saber.

— Então malair é uma gíria francesa? O que quer dizer exatamente? — Perguntei ansioso, Louise, que não tinha se dado conta do que estava acontecendo, finalmente olhou curiosa.

— É uma gíria que a gente conheceu com o pessoal da ilha Paté, vila da família da mãe de Nique, em Geronde. — Roxanne esclareceu e eu continuei querendo saber o principal.

— Tá, mas e o significado? O que significa malair? — Perguntei irritado com toda essa enrolação.

— Ah, eu não sei exatamente. A gente usa quando quer dizer que a pessoa não sabe voar, alguém tão ruim que mal consegue se segurar na vassoura, sabe? — Nique explicou bobamente, mas de uma forma esclarecedora, finalmente.

— Sei... — E sabia mesmo, porque Sev tinha razão, Haardy estava sinalizando o caso de Dolman, tentando reconectar os dois suicídios, mas tipo, como o pai dele conseguiria desvendar essa merda?

“Ah, o corvo é Lestrange e malair esta apontando para a morte de um jogador de Quadribol se jogando de uma vassoura, como se fosse um voador iniciante! Como não pensei nisso antes?”

Porra, Haardy! A gente só conseguiu decifrar seu enigma porque tínhamos as respostas vindas de outra parte, porque se dependesse de você...

— E então, nós vamos jogar ou os gêmeos Fábregas vão ficar se entreolhando e conversando mentalmente? — Roxanne perguntou divertida e eu pisquei confuso, porque nem tinha notado que estava encarando Louise e ela me encarando de volta.

— Tá ok, para as vassouras! — Falei um pouco desorientado. Roxie tinha a sua própria, mas Louise e Nique pegaram um par emprestado do armário de vassouras da escola. — Nada de jogo sujo e tentem dar o seu melhor, meninas, não é só porque vocês são amadoras que precisam ser preguiçosas!

— Que discurso de motivação sofrível... — Nique resmungou, mas depois fechou o bico antes que eu a fizesse voar com uma bola de ferro amarrada no tornozelo.

Ela devia ter ouvido os discursos de Jweek no treinamento para ver o que é discurso sofrível...

As meninas levantaram voo com destreza, até mesmo Louise, que na minha cabeça não voava desde as aulas do primeiro ano com madame Hook. Ela se desequilibrou um pouco por conta do bastão, mas assim que percebi que as três já estavam confortáveis em suas vassouras, soltei os balaços e arremessei a goles sobre minha cabeça. Roxanne a pegou antes que ela caísse próximo a entrada do labirinto.

A grifinória ficou meio desengonçada segurando o bastão debaixo de um dos braços, que se agarrava ao cabo da vassoura e a goles com o outro, mas foda-se, ela é tão irritante quanto o irmão.

Antes de me posicionar na minha zona preguiçosa - de onde eu não sairia, pegaria somente as goles atiradas perfeitamente nos meus braços - soltei o pomo de ouro, que circulou diante da cabeça de Louise, passou próximo a bota de Dominque e depois sumiu nos arbustos do labirinto.

Voei para perto delas e fiz uma careta sarcástica de quem diz “as madames estão esperando um convite oficial para se moverem?”, então quase tive uma goles acertada na orelha. Desviei a cabeça e Roxanne fez muxoxo, enquanto Louise ia buscar a goles perdida.

— Eu disse que só aceitaria a goles na minha mão, Weasley. Zero pontos para você. — Falei divertido e antes que ela pudesse retrucar, um balaço quase a acertou no cotovelo. — O bastão não é decorativo, então sugiro que você o use pelo menos para se defender.

Parei de falar e deixei elas se acostumaram com as responsabilidades do jogo. Dominique se desequilibrou perigosamente algumas vezes e apenas Louise tentou rebater os balaços, acertando uma média de 6/10, o que lhe garantiu alguns pontos, mas a garota parecia incapaz de mirá-los em alguém.

Já Roxanne desistiu do seu e o atirou de uma altura decente no gramado, para investir somente na goles, como eu achei que ela faria. Como eu supus de novo, a grifinória tinha garra e voava bem como Fred, mas carecia da mesma falta de pontaria da minha querida irmã.

Nique era sua maior adversária nas disputas pela goles e acertava com maior frequência que a garota ruiva de cabelos crespos, mas como atirava menos em minha direção, era também a com menos pontos. Mas a falsa loira mantinha um olho nas adversária e o outro no céu.

Tive que me segurar para não dar dicas a nenhuma delas, embora elas estivessem errando aquelas coisinhas bem simples, que facilmente podiam ser corrigidas. Roxanne era afobada e largava a goles um milésimo de segundo antes de estar em sua melhor forma, já Nique hesitava nas divididas.

Louise era um capítulo a parte, teria sido uma artilheira de rebote decente, se não tivesse tão focada em caçar os balaços pelo ar. Ela não esperava que eles se aproximassem e ainda não sabia como aproveitar os diferentes tipos de rebatidas.

Às vezes temos que imprimir certa força, mas os melhores batedores se concentram nas estratégias para investir a energia necessária para proteger seus companheiros e trucidar seus adversários, sem se cansar em excesso.

Mas eram voadoras decentes, as três, e passado a insegurança inicial, vislumbrei algumas habilidades específicas, que poderiam ser usadas em estratégias mais elaboradas, contando com a minha experiência, a de Fred, Heidi e Romeo.

Tenho que admitir que foi meio que legal ver que Louise voava com um estilo parecido com o meu, rápida e agressiva, mas assertiva, sem perder tempo com movimentos inúteis, embora pudesse circular o campo bem menos do que estava fazendo.

Finalmente Nique desistiu de tentar agarrar a goles da mão de Roxie, seguindo um caminho a 90°, que deixou a prima confusa. Ironicamente Nique havia se apaixonado por um apanhador – no caso o meu – e ela mesma estava se mostrando uma excelente apanhadora.

Se aproximou duas linhas mais abaixo de onde eu mesmo tinha avistado a bolinha dourada, provavelmente antecipando uma possível guinada do pomo. Se ele fosse para cima, a corrida seria maior, mas ele indo para baixo, ela estaria na zona certa. No fim das contas era 50/50 de chances, arriscar era melhor do que ficar em cima do muro nesses casos.

Tanto Roxanne quanto Louise pararam suas próprias atividades, Roxanne até atirou a goles de qualquer jeito para mim, só para empreender uma corrida atrás da prima, seguida por minha irmã. A vassoura da escola não era lá muito rápida, mas mesmo assim Louise conseguiu atingir uma boa velocidade, o suficiente para ficar ombro a ombro com Nique.

Saquei meu querido onióculos, porque essa era finalmente uma jogada que valia a pena ser assistida e reprisada. Três garotas, cada uma com um perfil de jogo diferente, disputando o pomo polegada a polegada, que coisa legal se gravar para a posteridade!

Louise deu uma trombada cheia de malícia em Nique, que provavelmente deixaria seu braço rox, pela falta de técnica, mas ao menos eu vi determinação e veneno, elementos essenciais em uma batedora que faria dupla comigo.

Roxanne seguiu a estratégia oposta, ignorando Nique e investindo no setor acima da linha de corrida do pomo, porque estava bem disposta a apanhá-lo e fazer uma aposta com a mesma chance de acerto que a prima, 50/50 de que ele fosse para cima, em sua direção.

Mas no fim das contas a bolinha dourada escolheu ir para baixo e quando se preparava para passar marotamente no vão formado pelos corpos de Nique e Louise, a lufana agarrou o bichinho por uma das asas com a pinça feita pelo polegar e indicador, que eu só consegui ver por causa do meu onióculos.

Acho que nenhum pomo jamais foi capturado com tamanha precisão cirúrgica!

Apitei o fim da partida muito feliz com o resultado do treino. Desci da vassoura e esperei as três meninas se juntarem a mim na orla do labirinto, onde um Fred e uma Heidi suados já nos esperavam.

— E aí, quem ganhou? — O grifinório perguntou curioso com a mão na cintura, então eu sorri para ele e tomei a palavra, antes que Nique começasse a se gabar pelo seu feito.

— Todos nós ganhamos, lhes apresento a nossa apanhadora Dominique Weasley, nossa artilheira Roxanne Weasley e a minha querida dupla de bastão, Louise Fábregas. — Apontei pomposamente para cada uma delas, que se entreolharam animadas. — O jogo foi só uma desculpa para vocês revelarem o que realmente queriam ser no time.

— Mas eu queria ser batedora desde o início! — Louise reclamou e eu a olhei sonso.

— Queria ser batedora porque é cabeça dura, porque você teria sido uma artilheira razoável também, não podia arriscar aptidões trocadas, não com tão pouco tempo para refiná-las! — Respirei fundo, antes de continuar com minha maravilhosa estratégia de capitão. — Agora vou usar esse resto de tempo antes da primeira aula para...

— Hey, Fábregas! Ainda bem que encontrei os dois juntos, porque tenho uma notícia muito importante para o nosso plano de contenção de Lestrange! — Juliet falou tudo em um só fôlego, deixando Dominique e Roxanne confusas e curiosas. Quase a estuporei ali mesmo.

— Juliet, meu anjo, cala a boquinha, porque a gente pode resolver essa nossa charada sonserina em outro momento! — Alertei para a presença das duas meninas que não eram iconoclastas como o restante de nós, mas a sextanista deu de ombros, pouco interessada.

— As Weasley não são do Ocaso ainda? Falha minha... Ou melhor, falha dele, que é super protetor com as garotas da família. — Juliet apontou para Fred, que a olhou com ódio. Depois minha colega sonserina deu de ombros, pouco intimidada. — Mas agora falando sério, vamos ter que repensar a nossa estratégia para deter meu querido tio, porque as coisas ficaram meio nebulosas lá em Hogwarts!

— Bertrand, para de falar informação confidencial na frente da minha família! Nique e Roxie, vão para o dormitório, para não se atrasaram para a aula, vão! — Fred tentou enxotar a prima e a irmã, mas ambas o olharam como se tivesse crescido um chifre de unicórnio no meio da testa dele.

— Nem morta, Fred! A gente quer saber de tudo! Como assim vocês são do Ocaso? — A grifinória encarou eu, Louise e o próprio irmão com um olhar de adoração empolgada, quase como se fossemos os seus heróis. Nique parecia positivamente extasiada também.

— Quer dizer que foram vocês que escreveram todas aquelas coisas incríveis? Ai, que bacana, Fred! Deixa a gente participar também, por favor! — A lufana juntou as mãos em imploro, olhando para o primo com sua melhor carinha de santa. Fred olhou para o céu pedindo por orientação, depois sorriu com cinismo.

— A minha primeira resposta é não, mas vou ver com os outros iconoclastas, porque talvez o não deles vocês escutem. — Ele falou de uma só vez e eu preferi não me meter nesse assunto de família.

— Por que eles diriam não? — Roxanne perguntou ofendida, com as mãos na cintura. Uma mistura assustadora de Rose, Lily e James, que me fez dar um leve passo para trás por conta dos meus extintos de autopreservação alertados.

— Isso não vem ao caso agora, porque eu tenho algo importante para dizer! — Juliet voltou a chamar a atenção para si, de uma forma dramática. — Trago notícias importantes de Hogwarts!

— Se for para dizer que ela não está sendo reformada e que, pelo contrário, foi colocada em quarentena, sem data e solução previstas para a resolução do problema, isso já ficamos sabendo há semanas, está atrasada. — Informei meio chateado, porque Juliet não precisava revelar a gente na frente das meninas, ela deve ter feito isso só porque ainda não superou completamente o lance com o irmão, tenho certeza!

— Claro que não é isso que eu vim dizer, inclusive tenho certeza que a fonte que informou a vocês, foi a mesma que me informou, o mesmo elfo invisível, por assim dizer. — Ela falou enigmática, mas não é tão difícil assim deduzir que uma Sombra contou a outra o que aconteceu na excursão secreta feita a Escócia. Maldito Sev fofoqueiro! — O que eu vim dizer, ou melhor, mostrar, é isso.

Juliet me entregou uma carta aberta, endereçada a ela, mas com o selo Ministerial e de Hogwarts emoldurando a borda superior do pergaminho. Provavelmente as nossas cartas semelhantes ainda estavam com nossas corujas, prontas para serem entregues no correio matutino.

— O que diz a carta? — Louise finalmente se pronunciou, então fiz uma leitura rápida, a respondendo antes mesmo de processar o que aquilo significava.

— Aqui diz que Hogwarts foi consertada e que as celebrações originais serão mantidas para a véspera de Natal e o nosso retorno ao Castelo previsto para a primeira segunda-feira do ano, dia 03 de janeiro de 2022!

Falei confuso, porque... Como aquilo era possível?

— Al foi bastante categórico em dizer que a escola não tinha nem começado a ser reformada, parecia pior do que a deixamos, como eles podem ter consertar tudo em semanas? Nem mesmo com um exército de bruxos e toda a tecnologia mágica disponível isso seria possível! — Louise falou exasperada, depois me encarou em dúvida. — Ou é?

— Heitor, Erick e Váli estavam lá, talvez... — Comecei, mas Fred me cortou, igualmente inquieto.

— Nem mesmo os Dussel poderiam resolver aqueles problemas de magia elementar tão rápido, seu tio gênio, por outro lado... — Ele falou, insinuando aquilo que eu realmente temia: Erick havia finalmente aprontado alguma coisa séria.

— Ele tem sido sincero com a gente, será que se perguntarmos se ele tem algo a ver com isso, ele nos contaria? — Louise me perguntou e uma voz irritante me respondeu mentalmente.

Não posso, sinto muito, sobrinho.

Fiz uma careta para a inconveniência dele, parece que alguém andou colocando um feitiço convocatório no próprio nome, né? Ao menos ele teve a decência de não negar minha acusação. Respondi a pergunta de Louise em voz alta.

— Erick definitivamente tem algo a ver com isso e não, ele não vai nos falar nada. Mas quer saber? Talvez não seja da nossa conta, vamos apenas agradecer pelo favor e fingir que não saiu de um doido pré-histórico, que fez algum pacto com alguma criatura do submundo! — Falei em tom de conclusão otimista, mas meu sorriso murchou assim que eu recebi a resposta na minha mente.

Nossa, Cesc, palpite assustadoramente acurado, meus parabéns!

— Agradecer? Fale por você! Eu tenho que retomar uma peça de teatro com o elenco e a equipe toda espalhada pelo mundo! O meu lindo dragão está brincando de clube da luta na Escandinávia e isso sem falar do meu enfeitiçador de cenários na América... O que vai ser de mim, minha Circe?!?! — Juliet falou dramática, com direito a mão na testa e tudo. A encaramos com diversão.

— Tenho certeza que você vai sobreviver. — A amparei, dando tapinhas consoladores em seu ombro e ela aproveitou a proximidade para se apoiar em mim, se fingindo de fraca.

— Eu não estou tão certa disso, Cesc... É muito trabalho! — Ela fez um biquinho dramático, então eu a ajudei a voltar para o dormitório, ouvindo todas as suas lamentações e prometendo ajudá-la em uma ou duas... Ou talvez trinta atividades para que aquela peça doida dela saísse do papel.

Se eu tiver sorte, Lestrange vai ter matado todos nós antes do Natal, do contrário eu terei um destino pavoroso a frente, que Merlin me proteja! Tudo isso porque não soube dizer não quando tive a chance...


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Notas finais do capítulo

Muito esforço para postar esse capítulo com meu pacote de dados, pelo celular.

Bjuxxx



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