Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 145
Capítulo 145. Onde os monstros habitam


Notas iniciais do capítulo

Postei AdC a pouco tempo, mas vou recapitular as coisas mesmo assim, vejamos:

— As Annes foram entrevistar os Aizemberg, mas foram desviadas para conversar com Kaleb Bertrand, para descobrirem mais sobre as caixas misteriosas da família dele;
— O patriarca Bertrand, no corpo do filho, achou que as meninas tivessem roubado um artefato da família e para escapar dele, Anne-Marie usou um feitiço de explosão com o corpo de Cesc que estava usando;
— Já Cesc e Louise estavam pacificamente conversando com Teddy em Londres, para saber mais sobre Bradbury (no corpo de Lestrange) - descobriram como ele escapou de Azkaban;
— Na Rússia, Scorp e Chris Macmillan tiraram de Lestrange (no corpo de Carl "Dolus" Sagan) um diário cheio de anotações de Jacob Thompson;
— Em Uagadou, John tem trabalhado no Ocaso com sua namorada, Sharam e com a irmã de Thompson, Bella, cuja a heterocromia dos olhos esconde um poder muito esquisito;
— No Japão, os Aidans e Enrique confiaram o segredo do acidente com o sonuit e o mimetismo de Enrique para Tracy Harmond e HU Hui Ying;
— As meninas, que trabalham com pedras com propriedades mágicas (naturais ou não), estão agora tentando ajudar os garotos a voltarem a ser um, utilizando a pedra enfeitiçada que Enrique roubou de Lexa na conferência de vestiários da final da copa de Quadribol intercolegial (bônus em Contos);

Acho que com isso dá para entender tudo.



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Capítulo 145. Onde vivem os monstros

Eu literalmente estava olhando para as minhas mãos machucadas e a cara sem noção de Erick, me encarando como se fosse inocente. Encarando as mãos e a cara dele, mãos e cara, mãos e cara... Ah, vocês já me entenderam!

Minha mãe terminou de servir a horchata de Erick, depois me entregou uma pomadinha para passar nos meus arranhões, porque aparentemente eu não tenho um tio que pode fazer um Episkey simples sentado do outro lado da sala. Louise esperou nossa mãe sair de novo antes de perguntar o que diabos aconteceu na missão das Annes.

— O que você estava fazendo lá na França, Erick? Marie não quis explicar direito, mas ela falou que você as enviou para conversar com Kaleb Bertrand ao invés de ir para a casa dos Aizemberg, foi isso? — Ela perguntou em um tom mais acusatório do que em dúvida, Erick só a olhou sem se intimidar.

— É um resumo muito bom, na verdade, eu só trocaria o verbo “mandar" pelo “sugerir". Vocês sabem que eu sou completamente contra obrigar qualquer pessoa a fazer o que quer que seja. — Ele deu um gole em sua bebida, soltou um daqueles gemidinhos de apreciação, para só então continuar. Apontei para a minha mão machucada na palma, depois para a outra arranhada no dorso. — Ah sim, isso foi um contratempo infeliz.

— Você deixou Samuel Aizemberg roer minha mão? — Falei furioso, então Erick me olhou confuso, depois riu de jogar a cabeça para trás, antes de me responder.

Eu estou muito perto de dar um tiro na cara desse homem e olha que eu nem sequer tenho uma arma de fogo aqui comigo, vou ter que conjurar uma do nada, só com a força do meu ódio!

— Já ficou estabelecido que não fomos ver os Aizemberg e... De onde tirou que ele roeu suas mãos? — Ele perguntou divertido e eu só gesticulei como se fosse óbvio a coisa toda, porque era. — Ah sim, os dentes de capivara! Você perde o fio da meada, mas não perde a piada, não é,  sobrinho querido?

— Você ainda não nos respondeu, Erick, o que estava fazendo na França? — Louise questionou com seriedade, cruzando os braços e ele apenas se consertou na poltrona com um sorrisinho malicioso.

— Estava resolvendo alguns assuntos importantes, mas irrelevantes no momento, porque vocês deveriam estar me agradecendo, já que se as meninas tivessem ido até os Aizemberg, elas não teriam descoberto nada. — Ele falou com arrogância, depois olhou especificamente para mim antes de continuar. — Os Bertrand são bem mais Lestrange do que os Aizemberg, perderam o nome mais cedo, porém mantiveram as tradições intactas.

— Foi isso que descobriram lá? — Louise perguntou curiosa, mas eu preferi ir para o ponto mais importante.

— Estou menos interessado no que descobriram e mais interessado no que aconteceu com as minhas mãos, porque até onde eu sei, isso é sinal de que as coisas saíram um pouquinho do controle, não? — Falei o óbvio, principalmente porque os arranhões estavam coçando. — Fora que todo mundo ficou enchendo o saco para eu cuidar do corpo de Anne-Marie e olha a merda que ela fez com o meu!

— Se está infeliz com esses cortes bobos nas mãos, imagine como vai ficar ao saber o que ela fez com nosso nome! — Erick falou franzido o cenho, indignado. Ou melhor, falsamente indignado, porque ele não tem nome nenhum para proteger aqui! — Aí é que você se engana, sobrinho, porque a primeira coisa que suas duas amiguinhas falaram foi que estavam lá por obra minha, olha o tamanho do disparate!

— E não foi? — Perguntei sem esboçar nenhuma reação.

— Foi, mas não para benefício próprio, então elas não precisavam fazer parecer que eu as enviei lá para fazer um trabalho infantil de espião! Veja só se eu iria trabalhar com tamanha indiscrição e amadorismo... — Ele falou ofendido e dessa vez eu até acreditei nele. — Obrigado, estou sendo sincero de verdade agora.

— Tá, então os Bertrand estão bravos com a gente ou só com você? — Perguntei confuso e esperançoso de ser só com ele, então ele me olhou irritado.

— Para deixar as coisas claras, Anne-Marie explodiu o irmão de sua amiga Juliet em pedaços, na presença da mente do pai dele. — Erick deu a informação como se não fosse nada demais e eu e Louise fizemos as perguntas que vieram primeiro nas nossas cabeças horrorizadas.

— Explodiu em pedaços?

— Na presença da mente dele? — Conclui a pergunta e já emendei outra igualmente importante. — Está me dizendo que o pai de Juliet Bertrand estava presente nesse encontro só em espírito?

— Fico feliz que foque no que é mais importante, sobrinho e sim, ele assumiu a mente da cria como se não fosse nada, eu fiquei assustado com o poder do artefato. — Ele falou parecendo mesmo surpreso e eu tentei entender a implicação disso. — Que tipo de família doente cria um mecanismo de possessão de mentes tão sem limites?

— Você esteve na minha mente, tentando me manipular enquanto eu dormia, se esqueceu? — Falei irônico e ele apenas deu um gole estratégico em sua bebida antes de me responder, sonso.

— Foi diferente, você ainda estava em posse do seu corpo! O pobre Kaleb nem soube o que o atingiu, Cesc. Em um momento ele estava presente e no outro foi completamente sublimado! — Erick colocou a horacha na mesinha de centro, com cuidado para não manchar a peça de madeira de minha mãe, porque ele não é suicida. — Obviamente o funcionamento da caixa Lestrange original é muito mais poderoso do que o da que vocês têm em mãos.

— O que isso significa em termos práticos? — Louise perguntou sentada na ponta da poltrona, sua dúvida sobre a segurança de Kaleb Bertrand esquecida.

Pobre Juliet, espero que ela não seja muito apegada ao irmão.

— A caixa do amigo de vocês foi reparada, Heitor diria que foi agredida, mas de certa forma ela ganhou algo que eu aprecio enormemente, que é o consentimento. — Erick falou com ponderação, cruzando as mãos sobre o colo. — As dos Lestrange parecem que se submetem às vontades do herdeiro, que nesse caso, ainda é o senhor Friedrich Bertrand. É como se ele tivesse poder de ser qualquer um conectado ao sangue Lestrange.

— Ele poderia se conectar a Rabastan Lestrange? — Louise perguntou animada e meu tio fez uma careta de nojo.

— Não no corpo errado. — Ele falou e realmente, isso era meio que óbvio.

— Então ele pode se conectar com o corpo que Bradbury está usando? — Louise arriscou e Erick voltou a pegar a bebida, como se aquela conversa toda fizesse mal para seu estômago.

— Não com a alma errada. — Louise se jogou na poltrona exausta e ele resolveu ser mais útil do que estava sendo, só dizendo não para as ideias dela. — Ainda não me decidi quanto a isso, mas é possível que uma pessoa só seja uma pessoa, se estiver completa. Ela pode existir incompleta, mas não será... Ela.

— Isso não faz o menor sentido. — Falei cético e ele me encarou com aborrecimento.

— Faz sentido sim, você que está se esforçando para não entender. Os Lestrange fizeram um dispositivo baseado no que ser um Lestrange representa. Se fosse só pelo sangue, Bradbury estaria conectado a eles, se fosse só a alma, o próprio Rabastan estaria junto a família, mas acredito que as coisas só funcionam se for corpo e alma juntos.

— Sério? Porque a caixa literalmente dividi esses elementos tão importantes. — Louise apontou o óbvio e eu apontei para ela, uma criança sensata, meus caros.

— Dividia entre eles, Lestrange com Lestrange. — Erick apontou se sentindo bem consigo mesmo, porque aparentemente chegamos onde ele queria. — A caixa do seu amigo Fred não faz mais a troca entre Lestrange e a caixa roubada...

— Que caixa roubada? — Perguntei alarmado e Erick se fez de surpreso, um péssimo ator, se me perguntarem.

— Eu não mencionei a caixa roubada? Ah sim, três artefatos como Heitor identificou e dois fora das mãos dos Lestrange: um tirado do prisioneiro há uma década e outra caixa tirada dos Aizemberg recentemente, não a toa os Bertrand estão tão protetores com suas coisas. — Erick falou como quem não quer nada, mas isso mudava tudo!

Mais uma caixa roubada!

— Você acha que Lestrange roubou a caixa dos Aizemberg? — Perguntei tentando usar as informações privilegiadas dessa esfinge para alguma coisa que prestasse.

— Lestrange ou Bradbury... Alguém roubou! O importante aqui é o que você está perdendo de vista: as caixas originais só funcionam com os Lestrange, para a de Fred funcionar com outros, precisou do trabalho conjunto de Bradbury e Thompson. — Ele esfregou o raciocínio na nossa cara e acompanhou finalmente a ficha cair para mim com um sorriso satisfeito. — Não gosto desse Thompson, a propósito.

— Ninguém se importa, porque Lestrange está tentando encontrar as peças e desvendar as anotações de Thompson, que vão permitir ele quebrar a caixa dos Aizemberg também, para poder usar o poder dela, mesmo não sendo mais um Lestrange! — Eu concluí o que Louise pareceu entender também e o que Erick já devia ter sacado há séculos.

— Aplausos para você, meu caro. Agora que já sabem do mais importante, me retirarei e deixarei vocês...

— Pode ir sentando de novo, Erick! Você ainda não disse com o que vamos ter que lidar lá com os Bertrand! Fala sério, Kaleb Bertrand foi feito mesmo em pedaços? — Perguntei cético, porque tenho certeza que se esse fosse o caso, o pai dele já estaria aqui com uma fileira de capangas prontos para nos eliminar do outro lado da porta.

Nesse exato momento batidas soaram, depois a campainha e antes que eu me mijasse de medo, porque eu não tenho condições de enfrentar o exército Bertrand com essas mãos arranhadas,  Enrique aparatou de qualquer jeito na sala, derrubando um dos falsos vasos de flores de minha mãe.

Ela não gosta de se responsabilizar por coisas vivas, já sabem.

— Se a sua mãe perguntar, eu toquei a campainha e vocês abriram a porta, ok? — Enrique falou isso enquanto se ajeitava de pé, meio tonto, e consertava o vaso com um feitiço rápido de reconstrução.

Minha mãe apareceu da porta da cozinha, como se tivesse sido invocada, mas tanto ele já estava recomposto, como o vaso estava de volta no lugar. Todos nós sorrimos sonsos, ante o olhar de cenho franzido, desconfiado dela.

— Enrique... Pensei que não iria vir esse final de semana. — Ela se esforçou para falar em inglês e meu namorado levou mais segundos para responder do que uma pessoa sã levaria.

— Pois eu vim, mas não vou dormir essa noite, foi mais para buscar Erick. — Ele justificou rápido, provavelmente uma grande mentira, que minha mãe sacou na hora.

— Sei... Aceita uma... Água? — Ela falou falsamente solicita. Eu a fuzilei com o olhar, porque para Erick o tratamento tinha sido diferente, quase podia ouvir ela respondendo que Erick é da família, coisa que ele não é!

— Não, estou bem, senhora Fábregas. — Enrique respondeu com um sorriso falso e assim que ela saiu da sala, ele continuou encarando o marco da porta por onde ela havia passado. — Sua mãe me ama tanto, que eu até me sinto sufocado.

— Ela te sufocaria de verdade, se não fosse contra a lei. — Louise disse divertida e eu tive que rir, embora ache essa patifaria da minha mãe um grande exagero. Aposto que ela nem sabe porque odeia Enrique mais!

— Criatura de Deus, eu jurava que você era Bertrand querendo caçar minha alma! Erick, você já... Enrique, você já tá sabendo o que rolou em Lyon? — Eu perguntei, porque Erick provavelmente já tagarelou tudo para ele antes de vir para cá, por que outro motivo Enrique viria, se realmente havíamos combinado que ele não ia vir?

— Sobre Kaleb? Soube, um absurdo, né? Um terrorista trouxa atirou uma bomba nele, por sorte não teve nada sério, Romeo me contou que ele só teve um arranhão, fazer a barba com a lâmina trouxa causa mais dano que isso, segundo ele. — Enrique deu de ombros e eu deixei Erick ter o prazer de contar a notícia.

— O terrorista era Cesc. — Ele falou saboreando cada palavra e antes que Enrique pudesse ter sua merecida surpresa, eu apontei irritado para a cara daquele ex-gênio sem noção alguma do perigo.

— Conta a história direito, seu demônio! O corpo era meu, mas a terrorista foi Anne-Marie! — Eu esclareci tudo e Enrique até pareceu menos chocado, mas ainda assim não completamente aliviado.

— Isso significa dizer que eu não devo ir para o apartamento de Kaleb, acabar com o estoque de Dama da noite dele? — Enrique perguntou com uma pontinha de esperança e eu o olhei com toda a paciência do mundo.

— Você acha que isso é uma boa ideia? — Perguntei com sarcasmo.

— Kaleb vai ficar mais disposto a te perdoar, se eu interceder por você e o álcool interceder por nós dois. — Ele falou cínico e Louise riu, antes de encerrar a questão.

— Misturar desentendimentos com álcool é a receita certa para uma tragédia, Enrique, vamos pelo menos deixar a poeira baixar. Fico feliz de ouvir que o rapaz tá bem, mas vamos continuar com o nosso plano. — Ela falou sucinta e eu concordei.

— Sim, vamos voltar para as caixas, agora são oficialmente três: uma está com a gente, a outra com os Bertrand e a terceira era dos Aizemberg, mas foi roubada e está possivelmente com Bradbury, mas muito provavelmente com Rabastan Lestrange. — Resumi tudo e Louise complementou com as informações que conseguimos na nossa própria missão.

— Creio que a caixa está mesmo com Lestrange, porque isso explicaria a ida dele a África e até mesmo a Rússia: ele precisa entender os trabalhos antigos de Thompson para destravar a caixa que roubou dos Aizemberg. — Ela concluiu, porque era exatamente isso que tínhamos discutido antes de Enrique chegar.

— Só para contextualizar, descobrimos com Lupin que Bradbury fugiu da carruagem de Azkaban com um feitiço africano, provavelmente resquícios do trabalho dele com Thompson, ou seja, Scorp e Rebeca provavelmente não conseguem entender as anotações da Rússia, porque elas devem estar com algum feitiço africano. O Marduk de John vai dar conta de traduzir isso. — Falei simplista, porque eu não tenho certeza disso.

— Então manda o diário que tá com Malfoy para Westhampton, resolvido o problema. — Se eu sou simplista, Enrique é a própria primeira célula amorfa que deu origem a vida. Erick riu sozinho, depois resolveu dar uma sugestão provavelmente horrível e misteriosa.

— Não será nem horrível, muito menos misteriosa, só iria aconselhar vocês a manter certos elementos longe um do outro: o diário de Thompson e a irmã dele, por exemplo, não deveriam ficar no mesmo lugar... Talvez com isso vocês estejam acenando para Uagadou com uma bandeira vermelha. — Erick falou dando de ombros e eu perguntei intrigado.

— Isso soou muito misterioso, tem algo a ver com o fato de você não gostar de Jacob Thompson, um cara que você nem sequer conheceu? — Perguntei entre o sarcástico e o curioso, porque rejeição de nomes não era bem do feitio de Erick.

— Não é que eu não goste dele, eu não gosto do papel dele na trama. — Ele ponderou se devia nos contar ou não, mas até parece que ele não está escondendo o principal. — A forma como ele sumiu e o que a irmã dele é... Acho que o melhor a se fazer é deixar os escritos de Thompson em segurança em Durmstrang, vocês não precisam saber do que se trata, só precisam deixar fora do alcance de Lestrange.

Eu ri dessa sugestão tosca de Erick, depois apontei acusatoriamente para ele.

— Boa tentativa, mas não vai colar! Sério que você acha que a gente não vai tentar decifrar os estudos de Thompson? Fala a verdade, o que você está tramando, hein? — Perguntei e Erick teve a cara de pau de se fazer de ofendido.

— Eu estou ofendido! Você vai me ignorar porque acha que eu estou tentando te impedir de saber alguma coisa? Ora, criança imbecil, estou fazendo isso porque é o lógico! Lestrange já invadiu Uagadou, o que o impede de fazer de novo? — Ele esbravejou, mas não me intimidou, nem convenceu.

— Ele esteve em Uagadou e o sistema de segurança da escola o fez jogar a caixa no poço dos desejos! O diário de Thompson vai estar perfeitamente seguro lá e John vai garantir que a gente saiba exatamente no que Lestrange quer pôr as mãos. — Falei satisfeito de ter a história do meu lado, cruzando os braços. — E, obviamente, eu não confio em você.

— Eu não vou passar a vida inteira te pedindo perdão para que possa confiar em mim, Cesc. — Ele falou se fingindo de chateado e eu revirei os olhos.

— Não me lembro de te ver pedindo perdão nem uma vez sequer... — Falei cínico.

— Pois vou embora, só voltarei alegremente para te mostrar que está errado e que sua odiosa Uagadou não é tão segura quanto você pensa! — Ele se levantou irritado e eu finalmente saquei qual era o real problema.

— Você não quer envolver Uagadou porque está proibido de ir até lá, não é? Pois bem, o diário vai e você pode se inteirar depois do que se tratava tudo isso, depois que a gente terminar com Lestrange, digo. — Falei debochado e Louise me olhou irritada. — O que?

— Não liga para ele não, Erick, nós levamos em consideração as suas sugestões, iremos perguntar aos outros iconoclastas o que eles acham antes de decidir sobre o diário. Farei questão de informar a todos o que você nos disse. — Ela falou tentando apaziguar o coração do nosso tio infernal, mas ele só me olhou com desprezo, antes de respondê-la.

— Agradeço a cortesia, sobrinha, mas seu irmão já se decidiu, agora ele irá arcar com as consequências da imaturidade dele. — Ele empinou o nariz e tudo antes de ir para a porta, eu ri com vontade. Enrique me recriminou com o olhar antes de levantar também.

— Imaturidade... Tá bom, um sujeito de 12 mil anos que age como um adolescente de 12! — Apontei e ele me deu dedo, porque eu estou certo. — Aí está, Erick, o grande Peter Pan sumério, palmas para ele.

Enrique prendeu os lábios para não rir, depois me deu um selinho de despedida, seguindo Erick para fora de casa. Louise maneou a cabeça chateada. Ah, mas que se foda! Todo mundo esquece o que ele me fez passar, ele quase levou minha sanidade embora com aquela história de futuro apagado!

Não me arrependo de nada, foda-se Erick e seus enigmas!

Não se arrepende ainda.

O desgraçado ainda se acha no direito de falar coisa na minha cabeça? Fiz menção de ir atrás para jogar umas verdades nas fuças dele, mas nem precisei, porque os dois voltaram, Enrique com um riso preso e Erick com uma cara de vilão contrariado.

— Eu não acredito que eu ia embora sem falar o porquê de ter vindo aqui! — Meu namorado idiota explicou o retorno com um sorriso incrédulo. Revirei os olhos e Louise riu de leve. — Volta todo mundo para seus lugares! Vamos, eu tenho informações importantes para passar!

Teoricamente eu e Louise ainda estávamos nos mesmos lugares, então Erick se jogou de volta na poltrona, como um moleque mimado, com zero daquela aura sofisticada dele e Enrique sentou na ponta do sofá onde eu estava.

— O que foi que você descobriu, criança? — Falei condescendente, porque se fosse importante mesmo, ele não teria esquecido, teria sido a primeira coisa que ele falaria.

— Descobri um pouco mais sobre o que aconteceu entre Bradbury, o verdadeiro, Thompson e até mesmo Hector! — Ele falou animado e eu estou retirando o que acabei de dizer: Enrique tinha algo importante para falar, mas não disse porque é idiota!

— Se você tivesse ido, eu teria matado você na volta! O que descobriu? — Empurrei ele pelo ombro, então o meliante só deu risada antes de responder.

— Pois bem, Heitor enviou Fred para me ajudar com Hector em um experimento novo com uma câmara de isolamento. Fred foi a cobaia, então no fim foi uma boa que a caixa estivesse com você e Louise, porque, do contrário, ele teria que deixá-la no armário dos funcionários. — Ele falou fazendo uma careta engraçadinha. — Eu não tô dizendo que faço parte de uma família de ladrões, mas Heitor provavelmente roubaria a caixa de lá.

— Você não está dizendo, mas eu digo: roubo é a coisa mais leve que sua família faz, não a toa Heitor é considerado o menos impiedoso dos seus irmãos. — Falei divertido, mas depois fechei a cara ao ver que Erick iria se pronunciar em uma história que ele nem participou.

— Não precisam me agradecer por isso, já sei que pelo menos um dos presentes é muito ingrato, logo não espero nada vindo dele. — Ele falou como se estivesse me ignorando sumariamente, o grande idiota. Ah, agora ele vai falar direto para mim, que honra... — Deixa eu explicar melhor, Cesc: se eu não tivesse sugerido a Fred a agenda do dia tal qual aconteceu, nesse exato momento a caixa estaria nas mãos de Heitor e vocês estariam mortos quando enfrentassem Lestrange!

— Você sabe o que vai acontecer no fim da profecia? — Louise perguntou assustada e Erick desfez da sugestão com um gesto afetado de mãos. É claro que ele não sabe, ele não faz ideia mais de nada, tá ficando fraco e inútil!

— Eu sei o que você está tentando fazer, mas não vai acontecer, eu não vou me deixar abalar por seus insultos infantis, Cesc! Eu tenho uma visão do tabuleiro de xadrez muito melhor do que vocês e já compreendi que a batalha aqui será entre quem tem mais recursos. — Ele falou com um sorriso misterioso e quem não ficou intimidado fui eu, porque isso não nos diz absolutamente nada. — Não diz, porque você é estúpido.

— Erick, para com essa briguinha mental com Cesc, porque isso é coisa séria. Se você sabe algo sobre Lestrange, conte agora, antes que eu termine a história. — Enrique falou sério, então Erick me encarou com desprezo, depois se voltou para o lado de Louise e Enrique na sala, me deixando de fora de seu campo de visão.

Demônio infantil!

— Não sei do onde, nem o quando, mas o como está se desenhando cada vez mais claramente: a caixa permitirá que vocês ou Lestrange tenham um acúmulo de recursos muito úteis e necessários em um possível confronto. Por enquanto a vantagem parece com vocês, que são um conjunto habilidoso de crianças, mas depois daquele episódio da Rússia... Acho que vocês irão ter uma surpresa em breve.

— Que tipo de surpresa? — Perguntei não querendo dar muito crédito para essa nova profecia inacabada, mas o traste sorriu satisfeito com meu interesse mesmo assim.

— Há muitas variáveis no futuro de vocês, mas me parece que embora tenha perdido o diário, Lestrange está mais próximo de virar o jogo, porque ter adversários em uma mesma causa não só te dá motivação, como também, em caso de uma trapaça, pode te dar vantagens que talvez você não fosse conseguir se tivesse que fazer todo o esforço sozinho.

— Está dizendo isso só porque quer que a gente não coloque John para decifrar o código. Convenientemente agora estamos produzindo pistas para Lestrange, não é? — Falei com ironia e Erick me olhou com irritação.

— Não tem nada de conveniente quando você está envolvido, Cesc, mas sim, Lestrange agora sabe que há gente atrás do mesmo que ele, então seu trabalho fica infinitamente mais fácil, afinal vocês são um bando de crianças inexperientes e teimosas! — Ele concluiu maldoso e eu o olhei com raiva.

Traste irritante!

— Mas temos você, que não é inexperiente, embora seja teimoso... Você não nos deixaria na mão, não é, tio? — Louise arriscou, depois abriu um sorriso inocente, fazendo Erick rir da chantagem emocional.

— Se eu puder evitar um final trágico, vou fazer o que for preciso, mas confesso que seria bem mais fácil apenas apoiar Lestrange. Ele não parece ser o tipo de criatura do mal megalomaníaca, é bem provável que se vencesse, ele iria apenas viver sua vida em paz. — Erick falou cínico e eu o relembrei de uma coisa importante.

— A profecia diz que ele destrói tudo que toca, tenho certeza que viver a vida dele em paz vai ser meio o que você faz: parecer inofensivo, mas no fundo estar arquitetando o fim do mundo como o conhecemos. — Falei só por falar, porque todo mundo sabe que é isso mesmo o que ele tá fazendo com a segunda chance dele.

— Você fala como se esse mundo de vocês fosse uma maravilha... — Ele desdenhou, admitindo que o que eu disse era verdade. — Mas já falei demais. Enrique, termine logo esse assunto para irmos embora.

— Ok... Tá, deixa eu voltar para o início: estávamos com Hector fazendo os testes, quando Fred tocou no assunto de Bradbury ter trabalhado um tempo ali, em Moor. Ele falou sobre a desconfiança dele de que o trapaceiro deveria ter algo a ver com o misterioso e famoso desaparecimento de Jacob Thompson. — Enrique falou animado, provavelmente com a tortura que isso deveria ser para o irmão mais velho dele.

— E foi aí que Hector lançou um Bombarda na cara de Fred? — Perguntei esperançoso, fazendo Enrique rir antes de responder.

— Infelizmente não, ele estava calmo hoje, apenas disse que isso não seria possível porque Bradbury tinha um álibi e zero de motivação.— Ele esclareceu, então fez uma pausa dramática antes de continuar, não sei bem o porquê. — Então eu e Fred continuamos tagarelando que isso do zero de motivação tinha sido antes de todo mundo descobrir como ele era um arrombado apagador de mentes, achamos que não ia dar em nada, até que Hector mandou a gente ficar de olho no experimento, que ele tinha que fazer uma coisa importante.

— Vou falar para Heitor que você está usando a palavra “arrombado” de uma forma completamente ultrajante! — Erick disse sem nem um porquê, nem pra quê e eu o encarei com irritação.

— Cala boca, coisa ruim! Deixe ele continuar a história!

— Continuando... Obviamente eu e Fred fomos atrás dele e vimos que ele entrou na sala de Heitor. Mandei Fred voltar para o laboratório e fiquei esperando Hector sair de lá, ele fez isso depois de quase dez minutos, então eu entrei lá escondido, dei um jeito de descobrir qual foi o último cofre aberto pelo meu querido irmão e lá eu encontrei o arquivo urgente que ele precisou ler no meio de um trabalho importante.

— Como você entrou no escritório super secreto de Heitor tão facilmente e qual feitiço usado para saber qual cofre tinha sido aberto? — Louise perguntou de cenho franzido e não a toa Enrique havia sido vago na descrição da ação e dispensado Fred do trabalho sujo: obviamente ele usou o mimetismo, mas Louise não precisa saber disso.

— Não quis perder meu tempo com detalhes bobos, mas eu simplesmente desenvolvi uma técnica bastante eficaz para entrar no laboratório de Heitor sem levantar suspeitas, acho que o sangue Dussel me ajudou no processo. — Ele falou sonso, mas não mentiu, porque a habilidade dele de abrir portas e cofres “conversando" com os materiais foi herdado do lado Dussel da família mesmo. — Mas enfim, li o arquivo, que é claro, era o de Michael Bradbury.

— Você trouxe o arquivo aí com você? — Louise perguntou interessada, então Enrique tirou o celular do bolso do casaco, animado.

— Não podia fazer uma cópia mágica do arquivo, porque Heitor trabalha com feitiços poderosos e isso iria alertar ele, mas ele não se preveniu contra fotos de celulares trouxas, então... — Ele entregou o celular para Louise dar uma olhada nas fotos, então tardiamente se lembrou de alguma coisa. — Ah, cuidado na hora de passar as fotos, você pode acabar vendo coisas que não deve.

Eu ri, mas depois o olhei com suspeita, porque, que diabos é isso aí que ele tem na galeria do celular que não pode ser visto por minha irmã? Eu não me lembro de ter mandando nada recente para ele, o que é que ele tá vendo de baixaria por aí?

— É bom você está com fotos de mutilação e gente morta nesse celular, se não você vai ser o cadáver mutilado e bem morto da história, estamos entendidos? — Ameacei e ele só me olhou com superioridade.

— Se é cadáver, só pode estar morto, Capitão Óbvio! E a propósito, não posso impedir as pessoas de me mandarem coisas, nem de fazerem coisas impróprias na minha frente! Você queria que eu fizesse o que? Não tirasse foto delas? — Enrique falou com indignação e eu só fiquei de boca aberta, o olhando com total horror.

Como ele pode falar isso realmente acreditando que se trata de algo inevitável e justificável? Sei nem por onde começar a educar essa alma perdida, sinceramente.

— Depois que Enrique, eu e Jweek começamos a usar celulares, o aparelhinho trouxa virou uma febre na Londres bruxa, mas infelizmente nossa comunidade ainda não está versada na etiqueta da internet. Está tudo muito vulgar e inapropriado, mas vai melhorar, eu tenho certeza. — Erick falou voltando a encarnar seu personagem refinado e pomposo, então me senti na obrigação de contar a ele a realidade da vida.

— Não devia ter certeza, porque não importa quanto tempo passe, as pessoas continuam sem noção alguma na internet e os bruxos não são melhores do que ninguém nos quesitos vulgaridade e conteúdo inapropriado. — Relembrei porque era necessário, mas depois me voltei para Enrique. — Mas continue a história... Ou o arquivo foi tudo o que descobriu?

Louise ainda estava analisando as imagens, então não pude ver o quão interessante era o arquivo de Michael Bradbury, compilado pelos irmãos Dussel.

— Mais ou menos, porque tem muita coisa que eu não li, tipo formação acadêmica e projetos realizados... Mas foquei na história do acidente que antecedeu o sumiço de Thompson e concordo com a americaninha, esse pode ter sido justamente o momento em que as vidas foram trocadas. — Ele concluiu a ideia.

Havia informado a dedução de Katherine para Enrique e ele tinha duvidado, mas agora concordava que a troca de corpos de Lestrange e Bradbury deve ter acontecido há uns 10 anos.

— Que acidente? Temos algum registro no quadro sobre isso? — Perguntei com alguma dificuldade de lembrar todos os detalhes da história. O Mauduk fez questão de responder que não tínhamos nenhuma informação a esse respeito ainda.

— O acidente foi o álibi de Bradbury: alguns dias antes do desaparecimento, ele testou uma de suas poções nele mesmo e passou mal, sendo levado por Thompson para o St. Mungus. Bradbury não tinha permissão para estar lá naquele horário, mas Thompson havia deixado ele entrar por camaradagem entre pocionistas. — Enrique falou com um tom de estranhamento para o conceito. Também pudera, isso nem existe, pocionistas não tem camaradagem.

— Sondei por conta própria a respeito de Thompson com os funcionários mais antigos da empresa e todos foram categóricos: era a pessoa mais inteligente que já haviam conhecido. — Erick acrescentou a informação sem motivo aparente, então ficamos esperando mais, até que Enrique interrompeu o silêncio.

— Era mais inteligente do que Hector? — Ele perguntou impressionado e não era para menos, Hector havia sido eleito mais de uma vez como um dos inventores bruxos mais bem sucedidos da Europa!

— Sim, muito mais, pelo que entendi. Mas a inteligência era a única coisa que as pessoas conseguiam destacar, aparentemente ele era muito fechado e um corvinal bastante arrogante. Caiu nas graças de Ciaran e usava a situação privilegiada para desafiar Hector. — Ele falou como se não fosse nada demais, mas era. — Na briga entre os dois, que antecedeu seu desaparecimento, Thompson estava sendo pedante novamente e Hector destemperado, isso na frente de todos, claro, como era costume.

— Não por acaso Hector se tornou o maior suspeito do desaparecimento dele... Mas você descobriu o porquê deles estarem brigando? — Enrique questionou intrigado e Erick deu de ombros.

— Pelo que eu entendi, eles brigavam por tudo, mas ninguém sabe o motivo específico da briga daquele dia. — Erick ponderou, antes de terminar a informação. — Harmond, que hoje meio  que ocupa o cargo de Thompson como segundo em comando no laboratório, só que com menos privilégios, acredita que tenha sido por causa de uma patente. Thompson queria sair da empresa e levar o projeto que estava desenvolvendo com ele.

— Provavelmente foi a patente, Hector teve que esperar o fim do prazo de reivindicação da família de Thompson para finalmente usá-la. Como eles não colocaram impedimento, creio que por falta de conhecimento das leis bruxas, Heitor autorizou o uso da poção espacial de Thompson em Ikley Moor e mais recentemente Hector conseguiu transferir os efeitos mágicos dela para os veículos Dussel. — Enrique informou com cuidado.

— Carruagem do caos. — Falei, mas nem tinha intenção de que saísse em voz alta. — Desculpe, estava testando o nome.

— Então tem o acidente com Bradbury e de repente Thompson decide sair da empresa onde ele tinha privilégios com o projeto da vida dele? — Louise questionou intrigada, depois acrescentou de cenho franzido. — Ele estava com medo de alguém, tipo, os FerrZ, talvez?

— Dificilmente, porque ao que parece ele iria trocar os Dussel justamente pelos FerrZ. — Erick informou com um tom de desdém, ele não gosta mesmo do cara, hein? — Já disse que não tenho problemas com ele, Cesc, mas ele deixou uma bagunça danada com esse desaparecimento. Que não deixasse o corpo para trás, mas podia ao menos ter deixado pistas...

— Talvez ele tenha deixado, quero dizer, Lestrange estava com um dos diários dele, então é bem capaz de além de elimina-lo, o cara ter apagado os passos de Thompson completamente! — Concluí incomodado, porque isso seria cruel demais, matar e apagar tudo o que uma pessoa fez e era.

— Eu não tinha pensado sob essa perspectiva, Cesc. — Erick disse reflexivo e eu fiquei chocado, porque era um milagre ouvi-lo admitir que não conseguiu prever algo! — Sim, também estou chocado, de toda forma, Thompson ter desaparecido deixando rastros que foram apagados, me deixa ainda mais incomodado com a situação da irmã dele.

— Em que sentido? — Louise perguntou inexpressiva, mas eu estava abertamente curioso, porque Erick continuava citando Bella Thompson como se ela tivesse algum papel nisso tudo.

— E provavelmente tem, Cesc, porque ela ouviu a profecia em primeira mão, então com certeza a envolve. — Ele falou com cuidado não sei o porquê. — Bella Thompson não é uma garota comum, assim como o irmão dela não foi, então se tem alguém que poderia, se desejasse isso, encontrar os rastros de Thompson, esse alguém seria ela.

— Acha que Jacob deixou pistas para a irmã? — Louise tentou angariar novamente alguma dica de Erick, então dessa vez ele resolveu responder a seu questionamento diretamente.

— Não, porque Thompson parecia arrogante o suficiente para não se preocupar com o futuro. Alguém com o intelecto dele seria protegido e disputado a tapas pelas grandes corporações, coisa que Ciaran fez, mesmo ele tendo fracassado à frente da divisão de poções dos Dussel. — Erick explicou e Enrique o corrigiu.

— A divisão não fracassou por culpa dele e sim pelo sufocamento que a FerrZ provocou. — Enrique estalou os dentes, indignado, depois de uma rápida reflexão. — Mas que filho da mãe! Se formos parar para pensar... Ele ia sair para a concorrência! Alguém poderia culpar Hector se ele realmente o tivesse matado?

— Sim. — Louise foi categórica e eu dei risada. — Mas isso não vem ao caso, precisamos voltar para Bradbury, porque embora essas informações sejam relevantes, você disse que havia descoberto algo sobre ele. Consegui ver aqui que ele teve uma formação bem tradicional, nada de Uagadou, apenas o mestrado em Castelobruxo, que foi onde ele conseguiu o contato com os FerrZ, porém nada incomum, a escola é conhecida pelo seu excelente programa de Poções. Algo mais, Enrique?

— O que eu descobri não tem nada a ver com isso e sim com o acidente: Bradbury não foi suspeito, porque ele estava em coma e antes, quando ele tinha o caráter ilibado, ninguém cogitou que o álibi fosse falso, mas se você olhar com atenção os arquivos, vai ver que ele começou o tratamento em St. Mungus, mas depois foi transferido para uma pequena clínica no interior da França! — Ele falou tudo quase em único fôlego, provavelmente com medo de o interrompermos de novo.

Ok, essa informação me é familiar. O que sabemos sobre clínicas no interior da França? Hum... O Marduk havia arquivado algo de uma conversa que havia tido com as Annes, Enrique e Fred logo depois de invadirmos a casa de Carl Sagan na vila próxima a Beauxbatons.

— Essa clínica não seria a mesma em que Carl Sagan ficou internado no ano passado, não é? — Perguntei incerto, por que, quais as chances?

— É exatamente essa, Fred reconheceu o nome, mas ainda não sabemos o que isso significa... — Enrique falou empolgado, mas eu estou muito incrédulo, tipo, QUAIS AS CHANCES? — Mas tem mais! Bradbury não é francês, nem tinha ligação com alguma empresa de lá. A única coisa que motivou a transferência dele foi o fato da irmã dele ser uma curandeira que tinha acabado de começar seu primeiro trabalho nessa clínica.

— Ele tem uma irmã? — Louise perguntou igualmente animada. — Isso é ótimo, a gente tem pelo menos alguém com quem começar a falar para saber onde Michael Bradbury está!

— Sim, talvez... Mas eu e Fred pensamos em algo completamente diferente: achamos que a nossa teoria está certa e Lestrange deve ter convencido a irmã de Bradbury a ajudar ele a conseguir um álibi perfeito: em coma e fora do país ainda por cima! Bradbury era a única família dela, então não deve ter sido tão difícil assim convencê-la a ajudar.

Enrique deu de ombros, porque talvez ele fosse capaz de fazer algo assim por seus irmãos. Me refiro a Helena e principalmente Heitor, porque Hector eu tenho certeza que ele teria o maior prazer de entregar para os aurores.

— Se Rabastan foi tão sem escrúpulos a ponto de usar a irmã alheia para conseguir um álibi, o que o impediria de usá-la para algo ainda mais engenhoso? — Erick perguntou para ninguém em particular, então eu resolvi morder a isca, já que Enrique parecia um pufoso confuso e Louise havia voltado a olhar as fotos do celular dele.

— O que está pensando?

— Uma curandeira teria acesso aos prontuários e não seria tão difícil assim identificar o melhor alvo para o irmão trocar de vida: um cara com acesso a vários lugares e isolado de familiares e possíveis amigos, por conta de uma vida de nômade. — Ele sugeriu e a ficha caiu, não sem um toque de horror pela implicação.

— Você acha que ela foi capaz de ajudá-lo a trocar de corpo com Carl Sagan? — Eu falei horrorizado, porque isso quer dizer que essa mulher não era só uma irmã desesperada, era alguém sem o mínimo de caráter!

— Não descartaria a hipótese, algumas pessoas têm uma ótica bastante egoísta, ainda mais se acreditar que há apenas uma pessoa que vale a pena no mundo todo. — Ele falou simplista e eu o encarei intrigado. — Eu não acredito nisso, tão pouco no bem maior, Cesc. Creio que eu fique no meio termo, protegendo os meus, mas sem que isso custe o bem estar de muitos. Há limites até onde podemos ir para proteger alguém que amamos.

Estranho ouvir isso de Erick, porque ele sempre pareceu ressentido com a família por não ter feito nada para impedir que fosse aprisionado na lâmpada. Quero dizer, ele devia esperar que a irmã desafiasse os tais anciões que o prenderam, não?

— Não esperava nada disso, Cesc e diferente de Lestrange, não pediria a minha irmã que assumisse essa posição por mim. Mas não podemos culpá-lo, ele não tinha laços reais com a irmã de Bradbury. — Erick deu de ombros como quem encerra a questão, mas eu ainda não tinha terminado.

— Não pediria a sua irmã, mas pediu a mim. — Falei com seriedade e ele pelo menos teve a decência de não fingir que não sabia do que eu estava falando.

— Pedi e não me arrependo, apenas porque isso não te custou o que teria custado a ela. — Ele falou parecendo sincero, então deixei que continuasse. — Sei que você pensa que eu não tenho limites e escrúpulos, mas eu tenho. Se aprendi alguma coisa dentro daquela lâmpada, foi que tem certas coisas que não devem ser feitas e certas linhas que não devem ser ultrapassadas. No final das contas, você e Enrique nunca estiveram em perigo real.

Enrique e Louise estavam quietos, esperando para saber o que mais iríamos dizer. Me encostei no sofá, ainda encarando Erick, porque não sei muito bem o que pensar sobre isso, quero dizer, eu não o culpo por ter me usado para escapar da lâmpada, quem não faria o mesmo? Mas confiar nele...

— Deixe-me ser sincero sobre minha opinião do diário novamente, dessa vez vou falar tudo o que eu sei, prometo. — Ele se inclinou na poltrona, apoiando os braços no joelho, em uma pose mais informal e acessível. — Não tenho bons argumentos para te convencer, porque o que sei a respeito dessa sua decisão não passa de um pressentimento ruim. Não é uma previsão exata, mas não quer dizer que não seja real.

— Acha que se John decifrar o diário ficaremos em desvantagem? — Louise perguntou com cuidado.

— O problema nunca foi decifrar o diário e sim colocá-lo em Uagadou, perto de Bella Thompson. Não tenho certeza do porquê, mas acredito que isso deixaria Lestrange mais perto do que precisa para ser bem sucedido em seus planos. — Ele falou incerto, então resolvi mudar de tática.

— E se eu tentar decifrar o diário usando meu Marduk? Eu não sou bom em Poções, mas posso fazer a tradução dos encantamentos... — Sugeri, mas ele negou a ideia com a cabeça.

— Pior ainda, porque colocaria o diário perto da caixa de Fred e de você, uma pessoa em quem Lestrange adoraria pôr as mãos. Não vamos esquecer que ele trabalha melhor com a motivação de vingança. — Ele explicou e eu fiz uma careta para isso, mas não estava completamente convencido.

— E se enviarmos para o Japão? Temos um Aidan desocupado o suficiente para decifrar algo, ou pelo menos tentar... O problema maior de Scorp e Rebeca é a falta de tempo, então Aidan podia...

— O diário não precisa ser decifrado, então não tem porque ser retirado de um lugar em que está seguro. — Erick falou com ênfase e dessa vez foi Louise que testou a força de sua certeza.

— Lestrange esteve na Rússia, Erick, ele queria algo lá. O que o faz pensar que Durmstrang, tão próxima de Koldorovetz, seria mais segura do que Uagadou ou Mahoutokoro? — Ela questionou brilhantemente e eu fiquei feliz de ter uma corvinal na conversa.

Erick sorriu enigmaticamente.

— Durmstrang é segura o suficiente, sobrinha, mas acredito que seja a melhor escolha justamente porque Lestrange tinha assuntos inacabados no Norte. — Ele falou isso, mas no fim não disse nada. Riu de leve das nossas caras de bunda. — Algo me diz que, mais do que não estar em Uagadou, esse diário precisa estar o mais próximo possível da Rússia.

— Scorp e Rebeca irão para Koldorovetz no final do mês, acho... Para a competição deles de poções. — Falei incerto, porque não sei se é agora em novembro ou no início de dezembro, só sei que ambos estão muito empolgados com isso.

— É bom que levem o diário com eles então. — Erick concluiu, sabendo bem que não tinha como eu tirar o diário das mãos de Scorp e Rebeca depois disso. — Sabia que iria cair em si, sobrinho querido.

Merda de manipulador genial!

***

Ainda estava pensando em tudo que tínhamos discutido na sala, Enrique e Erick tinham saído há quase meia hora agora, então fiz um sanduíche com qualquer coisa que achei na geladeira e parei para alimentar meu estômago faminto, porque nem isso Marie fez por mim, aquela desnaturada!

Iria aproveitar esse momento de paz para escrever diretamente para John, perguntando se ele sabia se tinha algo de errado com Bella Thompson e avisando que iria cancelar o plano de Scorp enviar o diário para ele, mas meu celular tocou no meu bolso. Olhei o visor e era Aidan, então só por isso resolvi atender.

— E aí, Dood? Recebeu minhas encomendas? Uizlei saiu de lá da França hoje de manhã, ela tá ficando bem rápida, hein? — Cumprimentei sem olhar realmente para a tela, porque estava procurando onde havia deixado minha pena do Ocaso. Espero que não tenha deixado na escola.

— Na verdade ela ainda não chegou, mas não foi por isso que liguei não. — Ele falou meio desanimado, então peguei o celular e pus no chão, para não perder muito do contato visual enquanto tateava debaixo da cama.

Que idiotice, eu nem estive nesse quarto até agora! Devo ter deixado em Beauxbatons mesmo.

— Ligou só para ver esse meu rosto lindo enquanto os Bertrand não acabam com minha raça ou teve algum avanço na colagem das almas aí? — Perguntei curioso, então Aidan deu de ombros pela tela do celular, nem se interessando pelo meu drama pessoal.

— Tracy e Hui continuam estudando, mas ainda não encontraram precedentes para a situação e estão começando a ficar temerosas das consequências de tentar colocar uma carga dessas numa simples opala.  — Ele falou simplista, depois sorriu sonso. — Mas isso ainda não é sobre o que eu quero falar.

— E sobre o que você quer falar então, Aidan?

— Você já parou para pensar que todas as pistas da profecia tem alguma ligação com os iconoclastas e os países em que estão, com exceção daqui? Digo, do Japão, Mahoutokoro ou até mesmo de mim! É como se o destino tivesse deixando bem claro que a gente não faz parte do Ocaso. — Ele se lamentou e eu o olhei sem paciência.

— Essa foi a maior besteira que você já disse! Scorp teve que ir para a Rússia para achar alguma pista e Sev voltou para a Escócia, porque é um enxerido! É claro que você é um iconoclasta, Aidan, não há a mínima dúvida disso, só te falta campo de atuação! — Falei bravo, porque até entendia que esse Aidan aqui, o Dood, estivesse desmotivado longe da família e da escola, mas daí a duvidar de tudo, isso já era demais!

— Eu me considero um iconoclasta agora, mas e se a profecia estiver excluindo a gente, eu e o outro Aidan, porque a gente não vai conseguir estar lá na conclusão de tudo? — Ele falou triste e eu não soube o que responder a isso, porque fazia um pouco de sentido. — Eu tenho pensado muito nisso, Cesc, o outro Aidan conseguiu partir as nossas vidas com muita facilidade, então a gente está achando que dá para juntar tudo da mesma forma. E se não der?

— Não temos medo de trabalho difícil, Aidan, se não for fácil, a gente vai pelo caminho difícil mesmo, fazer o que? — Falei querendo colocar um ponto final no assunto, mas ele parecia ter pensado sobre isso por muito tempo mesmo.

— As meninas estão estudando as pedras e como elas poderiam juntar as nossas almas, mas nenhum de nós tem a menor pista do que aconteceu, a não ser aquilo tudo que Heitor falou e ele não nos deu muita esperança de recuperarmos a nossa vida, ele foi bem claro em dizer que, para o destino, dois Aidans é o certo. — Ele relembrou e eu fiz que sim com a cabeça.

— Dois Aidans soa infinitamente melhor do que dois Cescs, então por mim tudo bem, não seria realmente uma tragédia. — Falei fazendo graça, depois falei sério. — Olha, Erick não sinalizou nenhum tipo de perigo a esse respeito, ele teria falado algo, já que mandou Enrique para o Japão da última vez para te ajudar, mas em todo o caso, se você não se sente pronto para fazer o tal ritual da pedra, não faça e pronto.

Tentei deixar ele mais tranquilo, mas ele não parecia nervoso realmente, na verdade estava mais para conformado. O que de certa forma é ainda mais preocupante.

— Seria um desperdício de toda a pesquisa de Hui e Tracy, eu não as desapontaria assim, mas o que me incomoda mesmo é que não estamos estudando o ponto principal: o sonuit. — Ele falou o nome da coisa e eu levei alguns segundos para lembrar desse outro artefato bizarro que tínhamos em mãos. — Ele causou tudo isso e Ark continua usando como se fosse um brinquedo inofensivo!

— É isso que está realmente te incomodando? Ark brincando com o sonuit, enquanto você fica preso com os Yakuza? — Perguntei tentando entender onde estava o real problema, rezando para não ser o clássico caso de Aidan com inveja de Aidan.

Não sei porque chamei de clássico, uma coisa assim não tem precedentes.

— Não, eu não estou com inveja de mim mesmo, Cesc! Eu só acho que a gente devia estudar melhor o sonuit, só isso. Se ele causou a confusão, ele bem que poderia consertar tudo! — Aidan respondeu exasperado e eu tenho que concordar com essa lógica, porque faz sentido. — Ele é um artefato regulamentado, todo certinho com as leis, mas não tem nada referente a esse tipo de loucura nos registros oficiais do Instituto de Magia de onde ele saiu! Nada, nadinha mesmo, é muito estranho!

— Ark disse que não fez nada demais e ele não teria porque mentir, a menos que tenhamos voltado para a teoria de Akira de que ele é do mal e tá cheio de segundas intenções... — Falei como quem não quer nada, porque isso seria bizarramente incrível!

— Não acho que seja por aí, acho que a estranheza da coisa fica por conta da ligação que se estabeleceu entre Ark e o artefato. Nosso avô diz que é raro e fica agradado quando vê, segundo Akira, então talvez a gente precise encontrar uma pessoa que tenha uma ligação similar a essa. — Ele falou com cuidado e eu tive que franzir o cenho.

— Você já tem alguém em mente?

— Acho que sim... Quero dizer, você leu o relatório de Scorp sobre a missão na Rússia? O cara que ajudou ele e Macmillan a escapar tinha um relógio mágico que ele mexia e fazia feitiços extraordinários! Quantos artefatos podem existir com essas descrições? — Ele perguntou cético e eu tive que relembrar o tal dono do relógio, o professor misterioso de Koldorovetz.

— Bem, acho que não muitos, poderia sim ser um sonuit. Você acha que se você enviar uma carta para ele, para o tal professor, ele te responderia? O cara parece bastante arisco, pela descrição estranhamente detalhada de Scorp. — Fiz uma careta, porque Scorp escreveu umas trezentas páginas sobre sua aventura circense com Chris Macmillan, teve direito a explosões e asas de dragão na fuga.

Acho que só metade disso foi verdade.

— Poderia arriscar, mas não saberia nem por onde começar uma carta dessas. Estava pensando em ser mais prático e ir até a Rússia, o que acha? — Ele mordeu os lábios e eu tive que dar risada.

— Como pode ter a palavra prático na mesma frase que ir a Rússia, Aidan? Tem nada de prático em sair do Japão e ir até lá! — Falei ainda achando tudo divertido e ele foi forçado a rir comigo.

— Eu sei que parece loucura, mas falar com esse cara poderia ser a minha chance de ter minha vida de volta, por que não tentar? — Ele falou com leveza, mas eu senti o peso daquelas palavras. Devolver a vida de Aidan deveria ser a minha prioridade número um, que tipo de amigo eu sou afinal?

— Não vejo porque não, qualquer ajuda é bem vinda. — Falei com simplicidade, porque assim que desligasse essa ligação, iria telefonar para Enrique providenciar essa excursão de Aidan por Koldorovetz e nem sequer ia pedir para ele mexer com as coisas do circo de pulgas que passou por lá. Antes que Aidan pudesse falar alguma coisa, uma ideia estranha surgiu na minha mente. — Sabe o que eu acabei de pensar? Que talvez você não esteja incluído na profecia, porque a profecia na verdade vai participar da resposta do seu problema!

— Que??

— Estou falando dessa caixa estranha e super poderosa que estamos tendo que lidar! Talvez depois de jogarmos Lestrange de volta em Azkaban, a gente possa a usar a caixa que troca vidas para, sei lá, colar você e Ark no mesmo corpo! Ainda não pensei em todos os detalhes, mas parece plausível para mim.

— Eu não sei o que é mais doido, você achar que meu problema é maior do que a profecia ou estarmos falando em jogar Rabastan Lestrange na prisão, como se fizéssemos coisas assim todo dia! — Aidan riu nervoso, então continuou depois do meu dar de ombros arrogante. — A ficha ainda não caiu... Sinceramente, olha o inimigo que nós fomos arrumar!

— Agora sim, gostei de ver, Aidan, está se colocando no meio do fogo cruzado! Você é um de nós, então se for para Lestrange matar todos, você não vai ficar de fora da matança, não senhor! — Ele riu de verdade agora, provavelmente achando que eu estava brincando com isso. — Pois então ficamos assim: vou falar com Enrique para bancar essa sua viagem para a Rússia e vou puxar a orelha de Fred até ele achar um jeito de te ajudar com a caixa.

— Não pode! Minha divisão de vida é segredo, Cesc! — Aidan falou horrorizado e eu tive que perguntar no ápice da minha ingenuidade.

— É segredo por que mesmo?

Aidan revirou os olhos e estava pronto para me dar um discurso impressionante sobre os milhares de porquês de ainda estarmos mantendo um segredo absurdo desses entre nós, mas depois pensou melhor e me olhou com uma cara de confusão hilária.

— Sabe que eu não sei? — Ele me falou isso sem o menor constrangimento, então agora quem revirou os olhos fui eu.

— Pois trate de avisar a Ark que essa merda não vai ser mais segredo para os iconoclastas! Coisa absurda, Harmond sabe das coisas e o resto de nós não! Se prepare, porque Tony vai ficar furioso com isso! — Avisei, porque aquele era o tipo era problema que você conseguia com todos esses segredinhos.

— Acho que posso lidar com a fúria de Tony, mas tô aqui só imaginando o deboche de Albus... Ele sabe ser mal quando quer! — Aidan fez um biquinho infeliz e eu sorri para isso, porque Sev era uma criatura das Trevas com certeza.

— Não se preocupe com ele, o meliante está bastante ocupado resolvendo o lance do Hall da vergonha, não acho que tenha sobrado tempo para ele rir da sua cara. — Falei com tranquilidade, mas o lufano me olhou com o cenho franzido.

— Não acha estranho essa história do Hall não? Tipo, como Al deixou passar quem está por trás disso? Ele geralmente sabe de tudo, antes de todos... Eu acho estranho. — Aidan cruzou os braços e eu o encarei de volta pelo celular, igualmente intrigado.

— Acha que Sev está nos escondendo alguma coisa? — Perguntei com a pulga atrás da orelha, porque Lily parecia chateada com isso, mais do que a ocasião pedia.

— Acho que ele pode saber mais do que está nos dizendo, mas não quer contar, porque está protegendo alguém, sabe? — Aidan cogitou e eu fiz uma careta estranha, porque o raciocínio não tinha lá muita lógica.

— Tipo quem? O próprio capeta? Quem teria esse grau de importância para Severus? — Perguntei retoricamente, mas Aidan deu de ombros mesmo assim.

— Se eu fosse você, eu investigava melhor isso aí...

— Se você fosse você, coisa que você é, você investigava isso aí! — Eu esbravejei e ele deu risada, porque Aidan é um preguiçoso de marca maior. — Aproveita que tá aí cheio de tempo para pensar em teorias malucas e vai descobrir que merda tá acontecendo em Ilvermorny, criatura!

— Pode deixar, chefe, vou começar interrogando Lily. — Ele avisou e embora eu esteja feliz com sua animação, não pude deixar de provocar.

— Tinha que começar com o trabalho mais fácil, né? Vai lá, vou aceitar isso, mas é bom você conseguir resultados, Aidan ou eu vou aí no Japão quebrar esse seus pescocinho de frango lufano! — Falei, finalizando a ligação com um sorriso sincero. — Tenha um bom dia na terra do Sol nascente, Aidancórnio.

— É psicopatia que chama, quando... — Desliguei o telefone na cara dele, garoto desaforado! Ele não ligou de novo, mas mandou um emoji de lixo tóxico bastante auto-explicativo no nosso chat.

O Japão definitivamente não está fazendo bem para Aidan.

Abri minha conversa infinita com Enrique no celular e mandei algumas mensagens ultra importantes, que era melhor que ele visualizasse imediatamente!

Bosta de dragão infernal, acho que perdi minha pena de novo, o feitiço de retorno deve tá com algum defeito, não é possível, a segunda pena que eu perco!

Falei com Aidan aqui, ele quer investigar mais sobre o sonuit na Rússia, teria como você conseguir enfiar ele lá em Koldo... Você sabe o resto, lá no dia da competição de Scorp? Tá vendo que eu estou melhorando, tô te pedindo um negócio com um mês de antecedência!

Demorou um pouquinho, mas Enrique estava viciado no celular, ele visualizava e respondia minhas mensagens na mesma hora sempre, até mesmo quando deveria estar trabalhando ou, sei lá, dormindo!

Qual dos Aidans?

Dood

Vou ver o que pode ser feito, mas não garanto nada. Já tô aqui me fodendo todo para conseguir arrumar a viagem para o aniversário de Tony!

Tá vendo? Devia trabalhar como agente de viagem, você é muito bom nisso.

Eu seria bom nisso se ganhasse alguma coisa, mas eu só tô tendo prejuízo, tô pra ver!

Está perdendo uma coisa comum como o dinheiro e ganhando uma coisa muito mais valiosa

Se disser amizade, eu vou voltar aí na Espanha para te jogar pela janela, para ver se seu juízo retorna para o cérebro!

Eu ia dizer amizade mesmo, mas mudei de ideia, vou dizer que ganhou experiência de vida, tá satisfeito?

Tô, obrigado.  Experiência ao menos da para usar para alguma coisa

Amizade também, mas fica mais difícil quando os amigos são mais pobres do que você.

No meu caso são menos ricos, porque eu não sou pobre nem para termos de comparação

Que nobreza frágil essa, meu Deus!

Vai dormir, Cesc

Vai deitar, Enrique, tá mal humorado

Enviei um gif de um gato emburrado que me lembrava ele e ele fez a pior coisa que um namorado pode fazer nessas circunstâncias: visualizou e não respondeu!

Um monstro desses merece perdão?


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Notas finais do capítulo

Acho que estamos nos aproximando do fim desse ciclo, Erick já até antecipou como vai ser a batalha final, hahahaha

Bjuxxx



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