Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 137
Capítulo 137. Melhor lidar com os inimigos...


Notas iniciais do capítulo

Tanta demora para postar, socorro!

Mas só para lembrar e conectar com Além do castelo:

— Cesc teve uma festa dada por Enrique em celebração de seus 15 anos, onde ganhou vários presentes;
— Ele precisa dar encaminhamento no seu plano de conciliar os esgrimistas e quadribolistas de Beauxbatons;
— Em Uagadou, John, Sharam e Bella fizeram descobertas importantes sobre a caixinha de música de Fred e sua conexão com Carl Dolus, o insectologista;
— Em Beauxbatons, Fred, Anne e Anne-Marie descobriram a verdadeira identidade de Dolus e a quem pertencia a caixinha amaldiçoada;
— Os eventos deste capítulo acontecem antes do capítulo de Enrique no Japão com os Aidans.

Tendo dito isso, aproveitem a leitura.



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Capítulo 137. Melhor lidar com os inimigos...

Estava comendo chocoballs, dirigindo meu carro mágico e mostrando alguns dos meus presentes de aniversário para um Enrique assistindo tudo do celular grudado com um feitiço colante no painel escuro, apesar de algumas pessoas acharem que isso de dirigir distraído é uma má ideia.

Pessoas invejosas, claro.

— Então eu enviei o presente de Lupin para Tony no Brasil, quem melhor para receber um kit de Poções para crianças? Lupin é tão sem graça, me lembre de nunca mais convidar ele para lugar nenhum... - Falei enquanto fazia uma curva fechada em uma das paredes de cerca viva do labirinto. Estava usando o lugar para treinar minhas habilidades de motorista. — E olha que eu nem convidei dessa vez!

— Certo, mas o que achou do presente de Heitor? Para o meu aniversário eu vou colocar um “nada de livros” no convite, aposto que ele vai surtar, porque aquele cara acha que só um monte de páginas serve como presente! - Enrique falou se divertindo enquanto comia alguma porcaria açucarada feita por Ekti, longe dos olhos de Erick, o vegano radical.

— Preciso te lembrar que você me deu um livro também?

— Claro que dei! Depois de conferir todos os seus presentes, eu me senti na obrigação de te dar um livro também, parece que todo mundo teve a mesma ideia e eu queria me sentir da turma! - Ele falou sonso, como se não tivesse preparado meu presente especial com meses de antecedência. — Falando nisso, já terminou de ler?

— Sim! E achei uma gracinha a lição de moral para as crianças, Enrique, você realmente leva jeito para coisa! - O livro simplesmente era um retrato muito adorável de como ocorreu o processo ridículo da fundação do Ocaso e as ilustrações e montagens de Mirela eram perfeitas para a história. Meu namorado me olhou com o cenho franzido e eu estranhei. — Qual o problema?

— Não tinha lição de moral no livro, que absurdo! Quem você pensa que eu sou? -  Ele falou ofendido, não sei se de verdade, então eu dei risada.

— Pois eu aprendi uma lição valiosa sim e só não é mais valiosa do que o vale-presente dado pela minha amada e adorada Jweek! - Mostrei o bilhete dourado da Gambal & Japes, enviado afim de contornar o fracasso do presente do namorado dela. Enrique fez uma cara de impressionado para o valor, então coloquei o cartão no bolso interno do uniforme azul celeste. — Vou usar como objeto de barganha, que Jweek não me ouça!

— O que conversamos sobre usar os presentes para ganhar vantagens na escola, garotinho? - Ele perguntou como o suposto adulto maduro que era e eu fiz questão de lembrar que eu ainda não tinha o perdoado completamente daquele vacilo no caso dos Hataya.

— Não vou ouvir sermão de gente que mente descaradamente sobre a duplicação de Aidans em cativeiro! - Alfinetei bem consciente de que nem precisava continuar sendo raivoso, porque ele não falou nada demais dessa vez.

Mas acontece que eu sou rancoroso.

— Me arrependo apenas de ter mentido, porque não envolver você nisso foi a melhor coisa que eu fiz. Relaxe, nós sabemos que o que estamos fazendo. - Ele disse sucinto e eu o olhei cético.

— Não sabem não.

— Claro que sim... O que mais ganhou? - Ele desconversou, tentando olhar mais para dentro do celular dele, mas só conseguiu deixar seus óculos sujos de marca de gordura mais próximos na minha tela. Sorri malicioso tirando os olhos do caminho cercado de folhagens a minha frente, aceitando sua cortina de fumaça metafórica.

Por hora.

— Olha o que Macmillan mandou... - Mostrei o livro com ilustrações interessantes de coisas proibidas em uma escola: um Kama sutra mágico ainda era bastante tabu por essas bandas. Olhei com atenção para o título do livro verde e dourado... Que bizarro. — Por que os bruxos sempre pegam uma coisa trouxa legal e adicionam um “mágico” no final?

— Porque tudo fica melhor com magia. - Enrique deu de ombros, com cinismo. — Falando nisso, o que achou do recado de Macmillan?

— Falando no que, criatura? - Me fiz de desentendido, com tédio, porque eu não queria participar daquela piadinha particular dele com o outro colega de casa igualmente idiota, que gosta de irritar os outros.

— Falando nisso de uma versão ser melhor do que a outra... Soube que Chris me deixou um recado no seu cartão de aniversário. O que tinha escrito? - Ah filho de uma harpia desdentada! Como se ele já não estivesse em maus lençóis! Pus os olhos em fendas e o fuzilei com a força do meu pensamento.

— Eu só acho engraçado que toda a Hogwarts parece ter um apelido especial para você, menos eu. Que bonito! Vou passar a te chamar de banco do Salão Principal, porque todo mundo gosta de sentar em você.

— Vou tomar como um elogio.

— Eu sei que vai, mas chega desse negócio de “Enrique Ciaran” ou “Rick, quero dizer, quem chama a mesma pessoa de dois nomes diferentes em um cartão de aniversário que nem é para ela? - Falei tentando mostrar o quanto Chris Macmillan não era uma criatura razoável, mas Enrique apenas deu risada.

— Chris está apenas brincando, Cesc, o que importa é a intenção por trás do presente, ele obviamente simpatiza com você, se não nem se daria ao trabalho de te mandar alguma coisa lá de Durmstrang. - Ele apontou em defesa do indefensável senhor metamorfomago que provavelmente vai ser prostituto em algum lugar xexelento assim que se formar em Hogwarts.

Tipo a Disney “mágica”.

— Qual a intenção por trás de um “p.s.: me chame para outra festa, Enrique Ciaran, prometo que vou comparecer na próxima”? Suponho que tenha uma ênfase no “comparecer”, mas nem eu vou me atrever a tentar adivinhar o que se passa na cabeça daquele ser. - Guardei o livro pecaminoso de volta no saco de presentes, porque já chega de perder meu tempo com isso. — Todo metamorfomago é retardado, não é possível...

— E quanto ao presente de Burke? - Enrique perguntou distraído, olhando para algo acontecendo fora do alcance da câmera de seu celular.

— O que tem ele?

— Gostou? Jon me pediu para perguntar, ele é um cara bem legal na verdade, então a gente deve uma resposta a ele... - Não gostei do tom de voz docinho usado, então fiz pouco caso da coisa toda.

— Estou pensando em usar para subornar alguém, todo mundo gosta de uma versão ilustrada de um manual de feitiços práticos. - Girei o volante do carro uma última vez no labirinto, antes de perguntar ao Marduk novamente onde estava o meu programa da tarde.

Estava aguardando a quase uma hora pelo fim do treino de esgrima de Leiris e aparentemente o vampiro mais amado da França resolveu mexer o seu traseiro pálido para fora da arena.

— Não seja maldoso, você adora feitiços e Jon Burke foi atencioso o suficiente para me perguntar do que você gostava antes de comprar o presente! - Enrique falou com seu tom de bronca e eu o olhei pouco tocado.

— Ainda estamos nisso? Tá, que seja, vou enviar um cartão de agradecimento para ele também, e com isso quero dizer que dou permissão para Courtie fazer o trabalho dela. - Antes que ele pudesse retrucar qualquer coisa, peguei o celular na mão para desliga-lo. — Agora tenho que ir, porque nem todos nós podemos nos dar ao luxo de não trabalhar em plena a quinta-feira.

— Que seja, você sabe que eu estou de folga porque vou viajar a trabalho! O que me lembra, você vai viajar comigo no sábado? - Ele me perguntou com pouca atenção agora, não parecia feliz com algo que estava acontecendo no apartamento, longe dos meus olhos.

— Infelizmente não, minha mãe não quer que eu fique viajando toda hora, ainda mais para o Japão e vai ter uma espécie de grupo de estudos para os pré-NOMs, sinto que devo participar, embora saiba que no fim do dia estarei odiando todo mundo.

— Certo, então vou tirar um tempo para olhar aquelas aplicações para as faculdades trouxas que conversamos no quarto do hotel, meu pai me quer matriculado para alguma coisa já no semestre da primavera! - Ele falou fazendo drama e eu revirei os olhos para o absurdo da reação dele.

— Já não era sem tempo, seu pai é um santo! Eu no lugar dele já teria te alistado para o serviço militar!- Ele fez uma careta com a minha veemência, mesmo sabendo que eu dava apoio a ele em tudo. — Na Marinha britânica, para ser mais preciso, porque você iria ficar lindo de uniforme branco e teria que cortar o cabelo.

— Ou faria a Marinha adotar um novo penteado. - Ele falou convencido, piscando para mim com malícia.

— Tchau, Enrique, certifique-se de dormir de lado essa noite, para seu ego não te esmagar. - Ele deu risada e eu desliguei o telefone, enquanto adentrava finalmente nos corredores da escola francesa.

Ok, admito: andar com esse veículo excludente e extravagante em público é mais divertido do que eu achei que fosse e é engraçado encontrar argumentos novos para justificar o uso dele nos corredores da escola.

Já falei de joelhos lesionados, segurança pessoal e até mesmo de um suposto teste para implantação de veículos para todos os alunos - essa sendo a explicação com melhor aceitação entre os meus colegas invejosos, que adorariam ter um carro igual ao meu - mas o mais importante era a possibilidade de poder receber as pessoas para conversas sigilosas, ao mesmo tempo que apreciava as belas paisagens de Beauxbatons.

Buzinei de leve quando finalmente localizei quem eu estava procurando.

— Leiris, sobe aqui, preciso falar com você. - Falei com pouco entusiasmo, passando a língua nos dentes para tirar os resquícios de chocoballs, me olhando no espelho do automóvel.

— Eu não vou entrar nesse seu atestado de arrogância, Fábregas, isso é ridículo. - Ele continuou andando daquele jeito empinado dele, então eu só fui dirigindo ao seu lado, olhando toda aquela metidez bem pouco interessante para um simples pedestre.

— Mais ridículo ainda é você andando quando obviamente pode ir sentado para o dormitório, bebendo uns energéticos e tudo mais... - Fiz sinal para o baú bem abastecido que eu levava para cima e para baixo. — Vamos, deixa de ser orgulhoso, preciso falar algo importante e o feitiço de sigilo não vai funcionar com você aí fora.

Ele parou e olhou por alguns segundos para o horizonte, provavelmente sopesando o quanto de sua dignidade estava perdendo ao se associar comigo e eu, como uma pessoa muito bem comportada, aguardei e por fim sorri convidativo quando ele abriu a porta para entrar.

— Certo, estou aqui, agora seja breve. - Ele resmungou mal-humorado e eu pus o carro para voltar a andar, dessa vez com o feitiço de sigilo ativado, conferi no painel.

— Bem, já sabe do que eu vou falar, da nossa aproximação com Joanna D'Lefevre e eu bolei um plano muito bom na verdade. - Sorri otimista e Sebastian fez uma careta só porque, coitado, ele ainda não teve contato direto com nenhum dos meus planos fantásticos. — Como nós dois sabemos, a nossa querida menina azul tem problemas de confiança, então o que fazer para chegar em uma garota assim?

— Dirigir um carro que é o suprassumo da necessidade por atenção? - Sebastian falou com um sarcasmo desnecessário e eu desfiz daquele comentário com a mão que não estava no volante.

— Nah! O que temos que fazer é parecer vulneráveis, entende? Pessoas acessíveis que não iriam julgar a pobre menina e que a deixariam a vontade! - Falei o óbvio ainda sorrindo, porque sim, estou de muito bom-humor.

— Você é o famoso capitão da Seleção de Hogwarts que ganhou o campeonato intercolegial de Quadribol e eu sou o capitão da equipe hexacampeã de esgrima de Beauxbatons e nós dois estamos andando em um veículo motorizado pelos corredores da escola. - Ele parou seu raciocínio para me encarar. O olhei de volta. — Como isso faz de nós pessoas acessíveis?

— Não faz e é por isso... Ah, Ok, err... Se importa de pegar a pequena sacola aí no baú? Sim, sim, essa mesma, obrigado. - Tentei não tirar os olhos do caminho, porque embora o feitiço de proteção de Enrique garantisse que nos espremêssemos entre as pessoas e obstáculos, ele ainda não tinha muito o que fazer contra paredes sólidas.

— É para eu abri-la? - Sebastian perguntou tendo colocado a dita cuja sobre o colo, a olhando como se fosse algo extremamente perigoso.

— Sim, por favor. Ah, aí está: essa é a solução dos nossos problemas! - Falei apontando animado para os vidrinhos coloridos e aparentemente inocentes depositados em um fundo acolchoado. — Conheça os soros isolados do kit mata aulas das Gemialidades Weasley!

— Quê?

— Não foi fácil conseguir essas belezinhas aqui, mas acontece que eu tenho bons contatos, então...

— Do que demônios você está falando, Fábregas? Como poções coloridas vão nos ajudar a convencer D'Lefevre que somos pessoas humildes, quando nós obviamente não somos? - Ai, ai, que descrente... Sebastian continuou me olhando com toda a sua indignação vampiresca.

— Pois fique sabendo você que nós não temos tempo para essas discussões bobas, o plano já está em andamento e Louise já está nos esperando distraindo Joanna, então escolha um vidrinho, dê um gole e siga com a maré! - Falei confiante e Sebastian me encarou como se eu tivesse alguma doença mental.

— Não, para o carro. - Ele falou, fazendo menção de abrir a porta. Acelerei ainda mais. — Fábregas, para agora mesmo! Isso não tem graça!

— Bebe a poção! Eu recomendo a vermelha. - Falei ganhando uma velocidade alarmante, que fez o esgrimista se apoiar com uma mão no teto e uma cara hilária de assombro. — Apenas beba!

— Isso é... Chantagem? - Ele parecia em dúvida, assustado demais com o quão perto passamos de um casal de primeiranistas. — Ok, eu tomo!

— Então tome!

Não me julguem, Leiris e toda a Beauxbatons vão me agradecer depois!

Ele pegou o vidrinho com a poção vermelha, destampou com destreza e virou tudo na boca de uma vez, fazendo uma careta no final. Eu freei bruscamente para aquela maluquice sem precedentes!

— NÃÃÃÃÃÃOOOOOO! - Sebastian bateu o nariz no painel do carro - de leve, calma, já tive experiências piores -  e eu ainda fiquei dando tapas nas costas dele, para ele cuspir o excesso de poção. — Era só para dar um gole, seu imbecil!

— VOCÊ AMEAÇOU A MINHA VIDA! - Ele esbravejou vermelho, provando que não era um vampiro e tinha sangue correndo nas veias ou pode ser que seja apenas a poção colorida correndo nos vasos secos dele.

— Sim, mas não era para você desobedecer a minha ordem, eu fui bem específico em dizer que era só um gole! - Eu apontei com cuidado, porque o francês estava tentando cuspir a poção pela janela do carro. — Tenta colocar o dedo no fundo da garganta...

Tentei ajudar, muito solicito, mas só recebi aquele olhar escuro dele, de quando ele fica com a íris e pupila enormes, misturadas em um único buraco negro sinistro. Levantei as mãos em sinal de rendição.

Alguns colegas nos olharam com estranhamento, mas sem poder nos ouvir. Fico só imaginando o que eles acharam dessa cena toda. Depois que Sebastian provou que vampiros não conseguem regurgitar nada, coitados, ele me olhou irado.

— Se eu morrer, vou ficar feliz sendo a assombração da sua cela da prisão! - Ele falou amargurado e eu estalei a língua nos dentes.

— Bobagem, você ficaria muito infeliz, a vingança nunca é plena. - Falei sem realmente acreditar, porque todo mundo sabe o quanto eu adoro uma boa vingança. — Agora vamos encontrar com as meninas a pé, porque sim, estou te dando razão, o carro é muito extravagante...

— O que essa maldita poção faz?

— É melhor você sair logo, eu ainda não sei fazer feitiços de limpeza no estofado e ele está novinho! - Implorei de mãos juntas, assistindo Louise se aproximando de braços dados com uma Joana D'Lefevre intimidada. — Agora entra no personagem e finge que está...

O nariz dele começou a jorrar sangue como em uma torneira de uma orgia vampiresca onde os ancestrais dele se banhavam com sangue de virgens. Louise, Joanna e mais uns quantos colegas o encararam, horrorizados.

E eu voltei a interpretar o meu papel digno de Oscar, claro.

— Meu Deus, Sebastian, o seu nariz está parecendo a torneira de uma orgia vampiresca! - Obviamente eu não ia perder a oportunidade de dizer essa frase maravilhosa. Ele ainda tentava conter o sangramento, mas isso só o fazia engasgar ainda mais.

Eu sei, amigo, sei muito bem como é ter um nariz sangrando, Louise está aí para não me deixar mentir!

— Fábregas, seu...

Sebastian nunca completou a frase, porque caiu pela porta do carro, de cara no chão, em uma poça de sangue. Louise olhou sonsa, para uma Joanna chocada.

— Ei, você tinha mencionado que sabia feitiços de primeiros socorros, né? Acho uma boa hora para você colocá-los em prática, D'Lefevre! - O francês com o sotaque espanhol de minha irmã ajudou a disfarçar sua péssima atuação.

A garota de cabelo azul do lado dela parecia que tinha visto um fantasma e esquecido o próprio nome, o que dirá lembrar feitiços de saúde complexos! Apontei para o esgrimista largado no chão.

— É melhor você fazer alguma coisa ou iremos todos finalmente inaugurar aquele uniforme chique para eventos especiais. - Falei sem expressão e a garota pareceu acordar do transe e arregaçar as mangas das vestes oficiais de Beauxbatons.

Vocês acreditariam se eu dissesse que ela tinha desenhos azuis na parte interna do braço? Pois ela tem!

— Ok, Fábregas, liga a carruagem e me ajuda a coloca-lo no banco. - A garota parecia determinada, então eu e Louise a ajudamos. Eu tranquei os lábios para não rir da figura bizarra de um Sebastian com seu uniforme de esgrima todo manchado de vermelho berrante. Louise me encarou furiosa.

Tá, hora errada para rir, admito.

***

Joanna D'Lefevre podia ser tímida, esquisita e azul, mas a verdade é que, na hora da necessidade, ela sabia ser prática e tinha uma bela de uma voz de comando, talvez Lo Presti tivesse uma grata surpresa com está mocinha azulada aqui.

Entramos na Enfermaria de Beauxbatons como nos filmes de Hollywood: chutando portas e flutuando um corpo mais para cá do que para lá no véu da vida. As enfermeiras francesas não tinham o mesmo brio de Madame Pomfrey, mas ainda assim conseguiram fazer um bom trabalho de estancar todo aquele sangue.

Joanna ainda parecia chocada, provavelmente por ter ajudado a salvar a vida de alguém que nem sequer gostava e eu e Louise, atrás dela, nos entreolhamos como os bons vilões de romance de banca que somos.

Alguma hora a garota teria que perceber que aquela quantidade de sangue perdido não podia ser real.

— Quem diria que vampiros tinham tanto sangue dentro de si... - Falei para começar a quebrar o gelo com a menina do meu ano, mas ela só fez uma careta de quem tinha esquecido de quem era sua companhia. — Dava para encher 10 humanos e ainda sobrava.

— Acho que só parece que ele perdeu muito sangue, mas você sabe, quando a gente tem um cortezinho de nada, as vezes parece uma ferida enorme! - Louise piscou inocente e eu tive que me controlar para não revirar os olhos. — Vamos torcer para ele ficar bem.

D'Lefevre não disse nada, então eu apenas cruzei os braços, esperando pelo contato de alguma alma bondosa disposta a nos informar como estava o nosso “amigo". Não demorou muito até que uma das mulheres se encaminhou até nós, com um sorriso bondoso.

— Está tudo bem, crianças, o amigo de vocês irá ficar bem. - A mulher falou tocando no meu ombro e eu pus a mão no peito e sorri contrito para ela, como se realmente me importasse com aquela alma penada do Sebastian. — Podem entrar para vê-lo agora.

— E todo aquele sangue? - Louise perguntou, fazendo bem o seu papel de intrometida.

— Não foi nada demais, provavelmente algum feitiço ou poção que fez multiplicar a produção de sangue no nariz dele, não havia uma perda de sangue real... - Ela falou fazendo pouco caso do assunto, pelo que fui grato.

Já pensou se ela tenta descobrir quem envenenou ele?

— Vamos deixar isso entre nós, não é mesmo, Joanna? Posso chamar você de Joanna? Enfim, uma fama de heroína não lhe cairia nada mal, não é? - Pisquei maroto e ela piscou confusa. — Deixe que o povo pense que você salvou Sebastian das portas do inferno.

Ela não disse nada, mas eu sou quase um leitor de mentes, imagino que ela deva estar pensando “Por que eu estou aqui mesmo?”, mas como a resposta dessa pergunta só iria fazê-la sair correndo, melhor deixar esse silêncio constrangedor aumentar por mais alguns segundos.

— Oh, Sebastian, querido! Como você está? - Louise falou de um jeito dramático e eu desejei ter uma arma na mão para atirar no pé dela.

Pé pode, né? Não é como se ela usasse para algo que preste...

Sebastian estava com dois chumaços de algodão enfiados um em cada narina, então eu sorri inocentemente, porque a outra opção era rir sem nenhum escrúpulo e vergonha na cara e isso não faria bem nenhum a nossa causa.

— Estou bem, Fábregas, obrigado por perguntar. - Ele respondeu com mau humor a minha irmã e depois se calou, cruzando os braços como uma criança mimada.

Odeio amadores que não seguem o plano.

— Que bom ouvir isso... Ah, sabia que foi Joanna que te salvou da morte certa? Não quero te ensinar educação nem nada, mas seria de bom tom você agradecer a ela, você sabe, já que ela te salvou e tudo mais. - Falei dando a ele a deixa perfeita para parecer menos com uma desculpa de Drácula e mais como uma pessoa acessível.

Sebastian ficou me encarando com ódio e eu encarei ele de volta, com determinação e eu suponho que ele conseguiu ler algo no meu olhar que gritava “NÃO COLOCA TUDO A PERDER, SEU TRASTE, VAI COM A MARÉ!”, porque ele se virou para uma Joanna procurando uma rota de fuga para escapar daquela loucura toda.

— Obrigada, D'Lefevre, foi muito bacana da sua parte me ajudar, você não precisava... Quero dizer... - Ele parou subitamente tímido e eu admirei a boa atuação dele. Aprende, Louise! — Nem todos fariam.

— Bobagem, tenho certeza que você faria a mesma coisa por qualquer um. - Eu arregalei os olhos com surpresa, Joanna não só falou, como sorriu ao responder Sebastian!

Meu plano está mesmo dando certo, nem acredito!

Ok, deixa eu trabalhar nesse sentimento aqui, antes que a gente perca essa oportunidade de ouro.

— Provavelmente as pessoas te ajudariam, não tão bem quanto Joanna aqui, mas ajudariam, agora falando sério... - Eu realmente estou agindo como alguém preocupado, presta atenção na atuação. — Não acha que precisa diminuir um pouco o ritmo do treino, não? Acho que seu corpo está mandando um sinal.

Me sentei na cama e, em defesa de Sebastian, devo dizer que ele não saiu esbravejando e gritando para todo mundo que o motivo dele ter sangrado que nem uma leitoa abatida na lua de sangue foi um envenenamento induzido por mim.

— Não estou pegando pesado... - Ele começou cauteloso e eu fingi que não estava acreditando naquela desculpa esfarrapada. — Sério, eu só...

— Cara, eu sou capitão também, eu entendo como é essa coisa de ter que fingir que tá tudo bem para levantar a moral da equipe. - Falei compreensivo, porque ao menos isso era verdade. — Mas eu não tive que lidar com a pressão de uma ex-namorada querendo meu cargo e uma rival de outro esporte querendo por tudo a perder!

— Ah, fala sério! Estive falando com Antonella e ela não é tão ruim assim! Muito me admira você, Cesc, falando desse jeito de uma capitã de Quadribol! - As vezes, só as vezes, Louise tem atuações brilhantes e providenciais.

Joanna parecia mais interessada em se fundir a parede, mas pelo menos devia estar menos tentada a sair do que estava há alguns minutos.

Bom.

— Eu gosto de Antonella, mas pelo que eu estou vendo, ela não é razoável e nem tenta ver o lado de Sebastian! Quero dizer, eu literalmente entreguei uma saída para a crise do time dela e ela me ignorou, eu não sei a quem essa garota poderia ouvir! - Falei fingindo exasperação e Sebastian deu um riso cínico, tirando o algodão do nariz.

— Bem vindo ao meu mundo, estou tentando enfiar razoabilidade na cabeça daquela garota há meses, ela acha que eu sou o inimigo e não está nem disposta a ouvir! - Ele jogou os chumaços na lixeira ao lado de seu leito, colocando as pernas para fora, pronto para levantar. — Como eu disse a você antes, Lo Presti prefere criar inimigos imaginários do que admitir que cometeu erros.

— Isso não é justo e ela nem está aqui para se defender. - Louise soou chateada e eu estou honestamente admirado como ela e o aprendiz de Nosferatu aqui parecem em sintonia nessa mentirada toda! — Eu ainda acho que se conseguíssemos fazer ela conversar com você, sem tanto drama, talvez você pudesse mostrar a ela que não fez as coisas do campeonato intercolegial para prejudica-la.

— Não fico exatamente triste quando a vejo na merda também, então prejudica-la foi um bônus. - Essa era possivelmente a primeira vez que via Sebastian xingando e quase dei um soco nele, era para ele parecer acessível e razoável!

Só não o acertei, porque Joanna finalmente se sentiu a vontade para fazer alguma contribuição na conversa.

— E se...

Ela começou incerta, corando com a nossa atenção instantânea. Sorri com só um leve toque de curiosidade, porque ao invés de ficar com as bochechas rosadas, elas ficaram azuladas. Que tipo de feitiço produzia esse efeito?

— Ia dizendo alguma coisa, Joanna? - Tentei, simpático e ela se mexeu desconfortável.

— Eu... Eu só... - Ela parecia prestes a desistir, como fazia algumas vezes na classe de debates, mas alguma coisa a impeliu a falar. — Talvez precisem apenas que alguém a convença a conversar.

— Essa é uma ideia boa, mas a verdade é que eu não conheço ninguém que possa convencer Antonella nesse sentido. Cheguei a tentar os gêmeos Sartori e foi como tentar voar com aspirador de pó trouxa... - Falei desmotivado e a garota franziu o cenho, antes de falar com aquele tom de voz doce e baixo dela.

— Os gêmeos são grandes amigos, mas... Antonella ouve melhor, você sabe... - Ela olhou tímida para Sebastian, depois desviou o olhar. — Abigail.

— Abigail Theuerkauf? - O esgrimista perguntou com estranhamento e a garota azul do nosso dormitório confirmou com a cabeça. — Não sabia que ela e Lo Presti eram tão amigas.

Mentiroso, sabia sim.

— Mesmo que sejam, ela é mais próxima do que os gêmeos? - Louise perguntou incerta.

Outra mentirosa, ela sabe muito bem que sim!

— Sim e Abigail com certeza a convenceria a discutir um jeito de parar as brigas entre as duas equipes, embora... - Joanna dessa vez me olhou em dúvida e ao invés de levantar uma sobrancelha interrogativa, preferi a tática de Enrique de inclinar a cabeça como um filhotinho confuso. — Não veja o que vocês dois ganhariam com isso.

Ela se referia a mim e a Louise e corou assim que terminou de falar. Bem, aparentemente essa era uma das coisas mais difíceis de explicar, as pessoas têm esse péssimo julgamento sobre nós dois, podemos fazer coisas só pelo bem da humanidade sim, mundo!

— Bem, propus a Antonella participar do campeonato novo de Hogwarts, porque seria divertido ter uma equipe com um estilo completamente diferente do nosso jogando e de quebra ajudaria na consolidação do esporte aqui na França. - Dei de ombros com um sorriso simpático. — Não consigo ver desvantagens no plano.

— Ok, desculpe, tenho que perguntar só uma coisa: mesmo que Theuerkauf consiga convencer Lo Presti a falar comigo, como conseguiríamos que de fato ela me ouvisse? - Sebastian falou parecendo estar exasperado e um pouco cansado por conta do treino e de todo o estresse, sabe, de se esvair em sangue falso e tudo mais.

— E que você ouvisse ela. - Louise acrescentou antipática, mas justa, Sebastian também era intratável sempre que queria, o que significava dizer todo dia.

— Talvez eu tenha uma solução para isso. - Joanna falou com um sorriso sapeca, depois olhou diretamente para um Leiris massageando a testa como se estivesse com dor de cabeça. — Você se lembra de uma boneca de pano que Bia tinha?

Quem é Bia?

— Ela ainda tem, na verdade, por que quer saber? - Leiris perguntou desconfiado e eu fiquei aqui remoendo na minha memória o nome, porque eu tenho certeza que tinha...

Ah, é Beatriz Gomez, vulgo portuguesa chata melhor amiga de Sebastian, vulgo prima de Joanna! Sabia que tinha que ter prestado atenção naquele diabograma de Louise...

— Porque quando éramos crianças, nós duas costumávamos brigar bastante, inclusive brigamos por aquela bonequinha... - Ela falou sorridente e realmente deu para ver uma garota divertida por trás daquela timidez e esquisitice azul toda. — A mãe dela enfeitiçou a boneca para permitir que quem tivesse com ela nas mãos, não conseguisse falar, então a outra podia contar a versão dos fatos. Depois trocávamos de posição.

— Sua tia colocou um feitiço de silêncio na boneca? - Louise perguntou gentilmente e a garota de cabelos azuis curtos fez que sim com a cabeça.

— Assim foi mais fácil, porque embora ficássemos quietinhas tendo a boneca no colo, ela preferiu se certificar de que não iríamos interromper uma a outra. - Ela sorriu saudosa e até mesmo Sebastian correspondeu seu sorriso. — Éramos crianças barulhentas.

— Então está sugerindo que eu e Lo Presti... - Leiris começou, mas depois parou, incerto. — Usemos a boneca de Beatriz para respeitar a fala um do outro?

— Não precisa ser a boneca, se isso te faz ficar desconfortável, mas a ideia funciona, posso garantir. - Ela falou confiante e eu acabei concordando, era um bom plano.

— Pode valer a pena, você pode fazer uma lista curta de exigências e Antonella faz uma para ela, então colocamos  vocês dois para se entenderem como adultos: usando uma boneca de pano enfeitiçada para mantê-los quietos! - Falei empolgado, fazendo as meninas rirem e Sebastian sorrir de leve, revirando os olhos.

— É um bom plano... Acha que consegue falar com Abigail para ela convencer Antonella? - Louise perguntou com cuidado, mas todos nós esperamos pela resposta da francesa.

— Posso convencer Abigail sim, pode deixar comigo. - Ela falou com uma confiança fofa e Sebastian finalmente se levantou da cama.

— Isso seria ótimo, obrigada, D'Lefevre. Novamente. - Ele sorriu, demonstrando que não tem que ser o vampiro assustador o tempo todo, ele pode ser sim um ser da Luz se quiser!

— Vai ser legal ter uma escola sem drama... - Ela falou um pouco mais intimidada e eu quase forcei Sebastian a voltar para a cama. — Agora tenho que ir, eu...

— Sim, já tomamos muito do seu tempo e no fim das contas nem consegui descobrir como me inscrever no ballet! - Louise bateu na própria testa, como se fosse muito tonta para ser verdade.

O que de fato é a realidade: ela é tonta e nada disso de ballet é verdadeiro.

Deixamos Joanna sair da enfermaria, esperamos Leiris ganhar sua liberdade assinada pela enfermeira-chefe, então nós nos esprememos no carro, sob o sigilo mágico do feitiço bem instalado pelos Dussel.

— Somos uma equipe incrível. - Falei arrogante, Sebastian ao meu lado sorriu sarcástico.

— Sim, mas da próxima vez que você me envenenar, eu vou matar você e dar de comida para minhas raposas.

E eu, meus caros, não duvidei nem por um segundo que essa criatura das trevas realmente tivesse uma matilha de raposas em algum lugar do inferno.

***

Enrique finalmente tinha chegado no Japão, estava empolgado, Hector suficientemente distraído para permitir ele saracotear pelas ruas de Tóquio e agora, nesse exato momento, ele estava me mostrando o novo uniforme de Ekti.

— Tem certeza que os japoneses não vão se ofender ao ver sua elfa doméstica vestida de quimono? - Perguntei cauteloso e Enrique deu de ombros, pouco se importando.

— Não me interessa o que eles pensam, me interessa o que minha elfa pensa! E então, Ekti, o azul ou o com a estampa de flor de cerejeira? - Ele apontou para um e outro, pendurados nos cabides na mão da vendedora.

— Prefiro o azul! - A criaturinha falou animada, então eu me senti na obrigação de confirmar.

— O que acha disso tudo, Ekti? Não se sente... Desconfortável?

— Desconfortável? Quando alguém poderia imaginar uma elfa doméstica usando seda? - Ela bateu palminhas e Enrique focou a câmera em seu próprio rosto convencido, então só a voz dela soou ao longe depois. — Posso ficar com os dois?

— Pode sim... Hey, olha! - Ele colocou um jornal japonês, que devia estar no balcão da loja, no foco da câmera. Tinha algo escrito a mão. — Parece que Westhampton está tentando falar alguma coisa do Ocaso.

Sopesei se valia a pena ou não ir buscar um papel para ver o que John tinha a dizer dessa vez, mas a decisão foi tomada, quando Fred e Louise entraram na sala de estudos onde eu tinha começado a ler a matéria dos NOMs de feitiços.

— John quer falar. - Louise apontou sucinta, se sentando de um lado e Fred do outro.

Ela colocou um pergaminho bem na minha frente, para que todos pudéssemos ler as maluquices de seu colega corvinal. Fred não falou nada, então aproximei o papel para finalmente ver as notícias lá de Uagadou.

Enfeiticei o pergaminho que estou usando para não receber nenhuma mensagem, porque não quero nenhuma interrupção, preciso do máximo da atenção de vocês para o que eu vou contar agora, porque acho que finalmente avançamos com todo o imbróglio da profecia.

Primeiro tenho que dizer, Lia falou para as autoridades da escola sobre a profecia, então não está mais só entre nós, o que em si não é um grande problema, porém, de alguma forma os nossos colegas também ficaram sabendo sobre o assunto, Sharam acredita que a própria Lia contou.

De qualquer forma, ela não contou os detalhes para os outros, então não temos com o que nos preocupar, por hora. Sobre as outras duas partes envolvidas, Zaki Magoro não quer saber de nada que tenha a ver com o assunto e Bella Thompson já sabe sobre o Ocaso.

Sim, ela já havia descoberto há algum tempo, tanto que foi esse o motivo que a fez estar ao meu lado no dia do ocorrido, mas não vamos todos fingir surpresa ou pelo menos vamos cortar a hipocrisia, não é mesmo, Segundo?

Eu e Louise olhamos para Fred, mas ele fingiu que não sentiu o nosso olhar, encarou o pergaminho com o cenho franzido. Voltei a ler as acusações de John para cima do grifinório do último ano.

Enquanto Fred me pedia para manter Bella longe de qualquer confusão com a profecia, ele mandava cartas para a garota pedindo para ela investigar mais sobre a caixa de música premonitória dele, que adivinhou sobre a queda de Hogwarts dentro de cinco dias, todos recordam disso?

— Eu mandei apenas uma carta... - Fred resmungou ainda com os olhos presos ao pergaminho e eu o encarei, sarcástico.

— Isso muda alguma coisa, criatura falsa? - Questionei irritado com o nível de hipocrisia que podia caber em um grifinório. Louise apontou de volta para a mensagem de John, então o deixei em paz, por hora.

Bella nos informou que a caixa além de prever o futuro, também possui alguma função transfigurativa ou assim consta na carta que Fred enviou a ela. De qualquer sorte, ela me pediu ajuda e eu e Sharam fomos com ela até o registro de pessoas e objetos que passaram por Uagadou nos últimos anos.

Vamos deixar de lado as críticas a atitude de Segundo por um minuto, porque, de fato, concluímos coisas importantes nessa investigação:

Primeiro, a caixa não é africana, Sharam acredita que seja nórdica, mas não sabe precisar de que lugar. Segundo, a primeira premonição dela foi o nome daquele insectologista dono de um circo, Carl Dolus, lembram? Então, o nome dele constava nos registros da escola de antes de Fred achar a caixa e também nos de depois, porque, teoricamente, ele estava aqui organizando um show que nunca aconteceu!

E o mais interessante de tudo, ele foi fazer uma única apresentação em Hogsmeade, apresentação essa onde estávamos nós, quase todos do Ocaso, a pedido de Samuel Aizemberg, que foi extremamente insistente quanto a fazermos uma edição do Ocaso sobre esse circo, algo totalmente sem pé nem cabeça, então acreditamos que ele estava de alguma forma sendo coagido, porque...

Carl Dolus é o dono da caixa amaldiçoada e possivelmente o vilão da profecia!

Ok, essa última parte foi uma extrapolação da minha parte, mas quais as chances de estarmos lidando com dois vilões distintos? Deve ter alguma ligação entre a profecia e a história dessa caixa, porque todas as evidências apontam para isso, só me restando perguntar: o que diabos você está escondendo da gente, Fred?

John não escreveu mais nada por um tempo, então imagino que ele queira uma resposta para seu questionamento. Peguei minha pena do Ocaso e enviei uma mensagem para ele, em algum momento ele vai ler a mensagem em algum pergaminho sem o feitiço novo dele.

Vamos espremer toda a verdade dele, enviamos o relatório da tortura depois.

Estalei os dedos e encarei Fred com meu melhor olhar recriminador. Ele me encarou com aquela marra dele, que todos já conhecemos. Louise o encarou de braços cruzados também. Tá, chega de enrolação, vamos logo colocar as coisas as claras:

— E então, Segundo, vai falar tudo que sabe por bem ou por mal? - Perguntei sem humor algum e ele sorriu cínico.

— Agora você vai querer ouvir sobre a caixa? Porque não foi isso que você me falou há um mês... - Olha como eu sou benevolente, já estou deixando Segundo ter uma sobrevida além do que ele merece, mas ele precisa de muito pouco agora para ser assassinado.

— Ele tem razão, Cesc, você deixou claro que queria uma vida diferente e eu também cai nessa ilusão sua aí. - Enrique ainda está aqui? Trouxe o celular que estava largado na mesa, de qualquer jeito, para perto do rosto.

— Não quero ouvir nada disso agora, ainda mais se for para ficar do lado desse orc traidor! Depois eu te ligo para saber de Aidan.

— Mas... - Desliguei a ligação sem deixá-lo completar sua argumentação, mas tirei um minutinho para digitar uma mensagem dizendo que mais tarde iria passar o relatório da conversa para ele também, talvez até por vídeo chamada, quem sabe?

— Ok, desembucha. - Gesticulei para Fred, que se ajeitou melhor na cadeira.

— Vou ser breve, por que estou louco para discutir o que descobrimos hoje, ok? - Ele perguntou inquieto e eu franzi os olhos para ele.

— Ok, concordamos, vamos ficar calados. Nos conte tudo, Fred! - Louise falou enquanto tocava na minha mão em cima da mesa, pedindo calma.

— A caixa tem uma função transfigurativa, ela troca corpos e eu sei disso porque já troquei de corpo algumas vezes com Anne Beaumont. - Ele começou com um tom monocórdico e tanto eu quanto Louise fizemos expressões iguais de “QUE?!?!”.

— Eu sei, parece louco, mas essa nem é a parte mais estranha: Anne acha que as mensagens que ouvimos fazem mais sentido juntas do que separadas, então talvez a caixa nunca tenha tido uma função premonitória. - Ele continuou aproveitando o nosso espanto emudecedor, mas agora me senti na obrigação de fazer uma pergunta.

— Você ouviu algo mais além daquilo que me contou? Por que tudo ainda parece sem sentido para mim... - Falei ignorando propositalmente todos esse furos na história dele, que diabos de conto de Beddle, o bardo é esse de trocar de corpo, minha gente?

— A verdade é que a gente não estabeleceu uma conclusão concreta, mas sabemos que nenhuma função se repete: estamos falando de sujeito, lugar, período, adjetivo... Fora que a chance de ser algo com duas grandes matrizes dificilmente faz sentido.

— Nada faz sentido, Fred, mas você ao menos teve alguma sorte relacionando isso a profecia? - Louise perguntou ansiosa, sua curiosidade corvinal quase a matando.

— Descobrimos que, eu e Anne, que a caixa de música provavelmente pertencia aos Lestrange, porque tanto Bertrand quanto Aizemberg estão preocupados com ela... - Ele falou soando incerto, então tive que voltar um pouco no que John falou.

— John lembrou muito bem lembrado que foi Samuel Aizemberg que nos solicitou o artigo sobre o circo de pulgas de Carl Dolus, na verdade ele nos chantageou! - Falei exasperado e Louise me olhou sem entender. — Qual é exatamente a ligação desse cara com Aizemberg?

— Ele é um Lestrange? - Louise tentou e Fred descartou a ideia com a mão.

— Estive conversando com Anne-Marie, também colega de vocês, porque ela descobriu a verdade sobre mim e Anne, e ela nos garantiu que a família Sagan, que é o nome verdadeiro de Dolus, não tem nada a ver com os Lestrange. - Ele disse com calma e eu fiz que não para essa informação.

— Como ela poderia saber disso?

— Os Sagan são famosos na vila, uma família antiga e Anne-Marie é muito boa em arrancar informações privilegiadas , acredite, se ela diz que a conexão não é essa, eu acredito. - Ele falou confiante na palavra da monitora grega e eu decidi deixar isso para lá, por enquanto.

— Se esse tal de Sagan não é um Lestrange, qual a ligação dele com Samuel e Juliet? Como você disse que descobriu a origem da caixa mesmo? - Perguntei desconfiado, principalmente com o coçar de mão que Segundo começou agora.

Suspeito.

— Eu não disse, mas eu acabei entreouvindo uma conversa deles a caminho da vila. Bertrand parecia preocupada e Samuel a estava atualizando sobre assuntos da caixa de música. Não pude ouvir direito o que diziam, mas lembra que te perguntei qual era a família que ele tinham em comum? Então, foi naquela época.

— Ok, só para fecharmos esse ponto: você tem certeza que a caixa pertence aos Lestrange? - Louise tentou organizar a bagunça e Fred fez que sim com a cabeça. — E tem certeza que Dolus ou qualquer que seja seu nome, não é um Lestrange?

— Ele não é, mas as Annes acham que devemos investigar melhor a história dele, estão pensando em ir na casa da família, no topo da montanha de neve mais alta da vila, investigar. - Ele falou tenso, provavelmente não 100% contente com o plano das meninas.

— Certo, então elas precisam ser atualizadas sobre a possibilidade de estarmos lidando com um vilão perigoso. - Alertei com cuidado, porque sendo comparsas de Fred nessa história, as duas bem podiam ser loucas impulsivas.

— Elas estão cientes, mas de qualquer sorte, averiguaram que ele não está na vila, está em turnê pelos países nórdicos. - Ele continuou com seu tom racional. Confirmei a informação com a cabeça.

— Certo, norte... Quão perto de Durmstrang? - Perguntei já arquitetando um plano aqui na minha cabeça. Talvez a gente precise que Scorp é Rebeca dêem uma conferida nessa história.

— Não sei dizer. - Ele deu de ombros, não acompanhando meu raciocínio.

— Vamos checar isso, porque seria bom da uma olhada nesse cara de perto... Me lembro que Enrique não foi muito com a cara dele no circo...

— Eu sei! Eu perguntei a ele sobre isso e ele me disse que não foi nada demais, perguntei se ele havia percebido algo, se ele tinha alguma imunidade mágica a feitiços... Não que eu tenha, mas naquela tarde, eu senti que tinha algo de errado naquele show, mas não consegui dizer o que!

Olhei para Fred com uma sobrancelha levantada, porque eu sei muito bem que habilidade mágica meu namorado tem e sei muito bem também o porque dele ter ficado calado quanto a isso.

— Vou averiguar isso direito, mas de qualquer sorte, quero muito falar com as Annes primeiro, checar o quanto elas sabem e organizar melhor esse plano de investigação que elas bolaram... - Falei decidido e tanto Louise quanto Fred me olharam com diversão. — O que?

— Isso significa dizer que seus dias longe de confusão acabaram? - Fred começou com seu tom jocoso e eu o encarei irritado.

— Vou tentar manter minha taxa de dias de malignidades em uma crescente, mas sim, significa dizer que eu estou mergulhando nessa merda de cabeça. - Respondi mal-humorado.

— Aí no seu bottom consta 2 dias sem malignidade... - Louise apontou com cautela e eu fui obrigado a olhar para baixo, porque... QUE?!?!

— Ah merda... Ele considerou o meu lance com Sebastian como algo maligno! - Louise riu, me fazendo arrancar aquele bottom estúpido, atirando ele longe, no fundo da sala. — Feitiço estúpido!

— Acabou o show? - Fred perguntou de braços cruzados, sorriso cínico no rosto.

— Vai se ferrar, Segundo, com um colega de equipe como você, não tô precisando nem de inimigos!

E o pior é que cada palavra do que eu disse é verdade. Quem mais tá escondendo alguma merda de mim aqui?


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Notas finais do capítulo

Estava com saudades disso aqui e muitas saudades de saber o que vocês estão pensando, hora do drama:

VOCÊS NÃO ME AMAM MAIS?

(quando amaram, né? só tão aqui por HOH, snif, snif)

Bjuxxx

Edir. 1: Sebastian tem raposas no lugar de lobos, obrigada Jweek pelo aviso, isso se chama desorientação em seu grau mais avançado. Perdão, minha gente.