Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 136
Capítulo 136. Pessoa especial aqui, da licença!


Notas iniciais do capítulo

Capítulos podem sair um pouco grandes, porque eu tenho que seguir o planejamento e as maluquices que aparecem no caminho, rsrsrs



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Capítulo 136. Pessoa especial aqui, dá licença!

Ok, eu não morri. Muito menos Enrique.

Ainda.

Tá, eu já sei que eu falo isso com uma frequência pouco comum para uma pessoa da minha idade e boa saúde, mas acontece que eu não tenho como prever que cair de uma sacada - de um prédio que nem sequer é um arranha céu - sem nenhum tipo de equipamento de segurança ou feitiço, não vai levar a minha morte, né?

É, então de qualquer sorte cá estou eu sobrevoando a noite londrina, Enrique tendo puxado o manche - bem, agora o volante me lembra um manche, porque se você puxa para baixo ele inclina o carro que nem um avião - na hora exata em que o chão havia se tornado uma realidade próxima de mais de nós para ser saudável.

O carro deu uma arrematada de parar o coração, um mergulho seguido de uma decolagem brusca - tenho certeza que fizemos um U no ar - e eu apenas me larguei no banco, deixando ele controlar o volante do banco do carona.

— Nesse exato momento eu estou te odiando tanto... - Falei entredentes, porque tenho certeza que se abrisse um pouco a boca para falar, minha mandíbula ficaria batendo ridiculamente.

— Você é um jogador de Quadribol, já deve ter feito manobras assim um milhão de vezes! - Enrique falou se divertindo muito, pilotando com uma mão e abrindo um compartimento secreto no painel escuro a sua frente com a outra. — Ok, mais uma coisa legal que você precisa saber: esse aqui é o seu painel de controle, não precisa ficar checando o tempo todo, mas ele te ajuda a conferir se os feitiços estão em ordem e se a carruagem está estabilizada, vê?

Ele mostrou o quadrado que indicava se estávamos voando em linha reta. Fiz que sim com a cabeça, tentando checar que outras informações tinha naquele painel que mais parecia ter saído de um submarino da segunda guerra mundial!

Eu sei que ficar comparando as tecnologias dos dois mundos é injusto, até porque o que os Dussel fazem está anos-luz do que os trouxas estão produzindo ainda, mas esse painel negro com linhas verdes tinha um ar muito retrô! Parecia saído daqueles jogos tipo batalha naval ou Atari, que meu pai joga quando vai em um barzinho vintage perto de casa.

— Onde fica o piloto automático? - Perguntei curioso e Enrique se inclinou um pouco para trás para me deixar conferir os dados: feitiço anti-trouxas ativado, modo voo panorâmico, 117 metros de altura, velocidade constante de 52 km/h...

— Não tem piloto automático.

— E onde ficam os sistemas de segurança? - Perguntei menos curioso e mais nervoso.

— Não fale com esse tom, como se eu tivesse te enfiado em um carrinho de montanha-russa voador! Tem sistema de segurança, ele avisa se você estiver em uma zona de voo ou de aparatação com trouxas próximos, ele tem sistema anti-impacto e um monte de outras coisas, nós não somos amadores!

— Sim, mas onde estão? - Eu fiz um gesto amplo para a cabine toda e Enrique me olhou com o cenho franzido, irritado. — Eu não estou sendo ingrato, se é isso que você está insinuando, eu realmente gostei do presente, mas nesse exato momento eu quero muito saber como a gente pode aterrissar isso sem terminar como uma massa disforme no asfalto!

— Ah, tá! Você quer saber como aterrissar? Ok, eu te explico: você precisa apenas colocar o volante em posição de pouso, em um ângulo côncavo para diminuir a altitude e como a gente não precisa se preocupar com combustível, muito menos com o conforto de cavalos, grifos ou testrálios quebrando a resistência do ar, podemos descer aos poucos, prezando pela estabilidade dentro da cabine e...

— Isso é simples pra você? - Perguntei atônito e ele me olhou com paciência.

— É a mesma coisa que você faz em uma vassoura, só que ao invés de usar o instinto, você usa... Quer saber? Vamos usar o instinto mesmo, você vai ver que não é nada demais, deixa eu fechar essa coisa. - Ele fechou o painel de controle e eu arregalei ainda mais os olhos.

— Não!!! Abre de novo! Como é que abre? Enrique, você não tem instinto de sobrevivência, abre essa coisa! - Tateei cegamente o painel do carro, tentando transforma-lo novamente em um painel de controle, mas eu não estava conseguindo achar a alavanca ou botão que abria o troço. — Como é que abre essa coisa?!?!

— Para de drama e relaxa aí! - Ele me empurrou de volta ao banco e começou a dar a volta, para retornamos para o apartamento. — Eu tenho mais de 300 horas de voo, eu sei o que eu estou fazendo!

— 300 horas de voo com esse carro? Como é que você conseguiu isso tudo? - Perguntei desconfiado e ele sorriu para mim, cínico.

— 300 horas de voo com a carruagem e com vassoura, claro. - Eu o olhei irritado, porque isso até eu devo ter! — E eu já disse a você, o princípio é o mesmo, o que vamos ter que fazer é iniciar a descida e quando estiver próximo do solo, eu levanto um pouco o bico para estabilizar o pouso e depois puxo o volante para mim, para parar completamente o movimento.

— Você percebe que se você errar um tiquinho só, você pode arruinar seu apartamento novo e os nossos corpos antigos, mas que, teoricamente, precisam ser preservados até o fim de nossas vidas, não percebe? - Perguntei com uma falsa calma e ele me deu um olhar sarcástico.

— Fico feliz de ver o quanto você confia em mim... Olha, isso não é um protótipo, eu tenho trabalhado na linha de produção há meses com Hector, comecei instalando o feitiço de temperatura do frigobar e hoje já ajudo na programação do painel! Eu juro que sei o que estou fazendo!

— Ok, vou acreditar em você, mas se não é um protótipo, como nunca ouvimos falar disso aqui? Sério, porque isso não é uma vassoura, muito menos um bastão, estamos falando de um meio de transporte! Desde quando vocês produzem isso? - Perguntei com cuidado, porque a gente não irrita quem está com nossa vida literalmente nas mãos.

— Meu pai quer montar um conglomerado para a família, porque ninguém pode acusa-lo de não ser ambicioso... Enfim, ele tentou expandir o negócio com as poções, mas não deu certo por causa da soberania FerrZ, então Hector apresentou esse projeto, que segundo Helena tem potencial até de virar esporte, tipo uma corrida ou algo assim, onde nós seríamos os principais patrocinadores e beneficiados.

— Eu pagaria para assistir uma corrida de carros voadores! Seria como ver Star Wars virando realidade! - Falei empolgado, mas depois o olhei desconfiado. — Então o meu presente foi uma jogada de marketing Dussel?

— Sim e não. Eu já iria te dar a carruagem de presente, para você poder aparatar com facilidade, já até dei entrada na documentação para você usar como chave de portal fixa também, fora que ela vai ficar comigo enquanto você está estudando, então Helena achou que seria uma boa se...

— Ei, ei, ei! Espera um minuto aí! Meu presente não vai ficar comigo, cara, como assim? Você não entrega o presente e diz que vai guardar até sabe-se lá quando! Ainda mais que eu sei muito bem que você e Erick são péssimos em aparatação, vão ficar usando meu carro para todo lado e ele vai ficar rodado e todo detonado! - Acusei sem piedade, mas Enrique só me olhou divertido.

— Então quer dizer que você gostou do presente?

— Vou gostar ainda mais quando eu aterrissar e tiver a oportunidade de ler o manual, mas principalmente, vou gostar definitivamente se eu puder levar para a França! - Falei em um tom que não cabia argumentação e Enrique me olhou com uma careta.

— Você vai ler o manual? Achei que você não lesse manuais! Como as pessoas nos enganam e decepcionam... Tá, não me olhe assim! Tem um manual estúpido, mas de qualquer forma isso pouco importa, porque eu duvido que Beauxbatons vá deixar você usar uma carruagem no meio da escola.

— Ah, meu queridinho, isso é o que veremos.

***

Voltamos para a festa em relativa segurança - Enrique optou por aterrissar no estacionamento do prédio, porque não havia trouxas por perto - mas a paz durou pouco, durou exatamente até Romeo aparecer na nossa frente como um demônio fugido do inferno.

— E então, capitão? Curtiu o passeio? Viu as poções que eu coloquei no frigobar? - Ele riu com seu dente falhado, derramando um pouco de bebida no sapato de Enrique. — Não pode tomar enquanto dirige, a menos que você esteja preparado para ser caçado pelos aurores alemães...

Ele riu se apoiando no meu namorado e eu levantei uma sobrancelha questionadora para essa história. Enrique deu de ombros, inocente, provavelmente do mesmo jeito que um condenado de Azkaban deve fazer.

— Já chega de idiotice, Romeo, onde foi que você estava? Pensei que chegaria na cidade ontem! - Enrique falou naquele tom de bronca que de vez em quando ele assume e Romeo reagiu a isso piscando os olhos com certa dificuldade, provavelmente já estava bêbado, para você ver o nível da criatura.

— Eu cheguei ontem, mas tive que resolver umas coisas do escritório... Sério, que droga de vida! As vezes me pergunto se era melhor aprender sobre taxação de poções para criaturas mágicas na escola ou se isso só iria fazer a gente querer desistir da vida mais cedo! - Ele fungou chateado e Enrique o encarou com pouca pena.

— Bem, isso pouco importa, porque você chegou tarde, as gêmeas do Pó de presa de mamute já saíram acompanhadas pelos artilheiros reservas dos Falcons! - Continuei assistindo a conversa dos dois com bastante estranhamento, do que diabos ele tá falando dessa vez? Romeo olhou para Enrique como se o amigo tivesse apunhalado ele pelas costas.

— Mas você tinha prometido elas para mim!

— Você tinha prometido que ia chegar antes da meia-noite, não duas horas da manhã! - Olhei para Enrique irritado, porque tinha entendido tudo e era só o que me faltava, eu estava namorando com um cafetão! — Para de me julgar, Cesc! Eu apenas ia ajudar as gêmeas e Romeo aqui a fazerem uma transação comercial! O pai delas tem uma fábrica de beneficiamento que transforma tudo que você imaginar em pó, o que teria sido bom para os negócios do senhor sem pontualidade aqui!

— Meu pai vai me matar... - Romeo lamentou, olhando ao redor, como se o senhor Habermas fosse se materializar no meio da festa. Disfarcei minha risada do desespero dele com uma tosse, que não passou despercebida pelo meu namorado. — Ferrou com tudo! Agora nunca mais vou sair de trás daquela mesa de escritório, vão escrever na minha lápide: taxa de 2,3% sobre a importação de poções pelas Cicatrizes Mágicas!

— Que? - Falei ainda controlando o riso, pegando uma das bebidas em taças decoradas com mini-bastões prata. Espero sinceramente que não sejam de prata de verdade, porque se forem, eu vou querer fazer coleção! — É preciso muita coragem para colocar você para lidar com essas coisas de taxas e números, Romeo! Parabéns aos envolvidos...

— Pois fique você sabendo que eu sou muito bom com números, tá? - O meu ex-artilheiro retrucou ofendido, mas não deu continuidade a argumentação, com certeza por falta de argumentos, já sabem. Ele olhou desolado por mais alguns segundos para os outros jovens herdeiros desocupados como ele, até que sua expressão de repente se iluminou. Medo disso. — Hey! Já mostrou o banheiro a ele, Enrique?

Enrique olhou sem entender, depois sua expressão também se encheu de uma alegria quase infantil. Bebi mais um gole daquele drink com um gosto de... Espera, isso lembra muito aquela bebida de Draco Malfoy, só que mais fraquinha! Como era mesmo o nome?

— Cesc, Romeo tem razão! E olha que eu não pensei que iria dizer isso nessa vida, mas ele realmente está certo, você precisa ver o banheiro! - Enrique tomou a taça da minha mão e a desconjurou sabe-se lá Merlin como, mas aproveitei o momento para perguntar sobre o conteúdo dela.

— Me diz uma coisa... Essa bebida tem algo a ver com... A dama do... A Dama da Noite? - Lembrei enquanto era arrastado por dois brutamontes animados com alguma coisa que eu tinha a impressão de saber o que era, mas não conseguia me lembrar do quê.

— Mas veja só! Onde um pirralho feito você achou tempo para aprender sobre a queridinha dos clubes londrinos trouxas? - Romeo falou com diversão e eu fiz um gesto obsceno para a idiotice dele, porém tenho dúvidas que devem ser sanadas.

— Clubes trouxas? Mas essa bebida pertence a Draco Malfoy, o que ela está fazendo em clubes trouxas? - Perguntei verdadeiramente curioso, porque jurava que tio Draco estava fazendo uma bebida para colecionadores e gente da elite bruxa.

— Não faço ideia de como as coisas aconteceram, só sei que eu provei essa doce vadia no Subterrâneo pagando os olhos da cara num mês e no outro o povo não falava de outra coisa! - Romeo falou piscando para uma pobre garota apoiada no corrimão da escada, mas para a sorte dela fomos no sentido inverso, saindo da varanda para o fundo do apartamento.

— Agora que eu estou me recordando... É verdade, a bebida é dos Malfoy! Lembro de ter visto algo sobre essa coisa de bares trouxas no Profeta, mas por minha vida, não vou lembrar o que estava escrito naquela papel de embrulhar peixe com fritas. - Dei risada, porque essa fala de Enrique foi muito britânico da parte dele.

É impressão minha ou eu estou achando graça em tudo?

— Pois o Subterrâneo tem definitivamente os melhores drinks com a Dama: tem o cortesã sanguinária, o pura malícia, o beijo de virgem... - Romeo contou nos dedos os tais drinks com nomes doidos. — Pena que os caras lá não gostam de gente jovem, o que é uma grande ironia, se você for parar para pensar que o pub fica em Hogsmeade...

Ele fica onde?

— Não me lembro de ter visto um pub com esse nome na vila... É novo? - Perguntei curioso. Romeo riu e Enrique o fuzilou com o olhar.

— Não é um estabelecimento do tipo que põe nome na fachada, Cesc. Melhor você nem saber do que se trata, eles aceitam Romeo como cliente e não dá para ir mais baixo do que isso, como você pode ver. - Enrique apontou para o brutamontes que tinha acabado de chutar o vão de uma porta qualquer e agora estava pulando de um pé só, com uma careta de dor.

— Não dá para ir mais baixo do que isso, mas você bem que contratou a dona para te ajudar a fazer suas festinhas, não foi? - Romeo falou sarcástico, soluçando daquele jeito meio bêbado e Enrique dessa vez o ameaçou com mais do que o olhar.

— Cala a boca, Habermas! - Enrique rosnou para o amigo e depois sorriu para mim com falsidade. — Courtie tem uma pequena parte da sociedade do bar e temos que admitir, aquilo lá melhorou bastante depois da chegada dela.

— Não temos que admitir nada, porque eu ainda não sei do que inferno vocês estão falando! O que é que tem eu saber que Courtie tem um pub pra chamar de seu? Eu nem me lembro como chegamos nessa história... - Falei olhando ao redor, tentando me localizar naquele labirinto de corredores. Sempre foi assim, tão... Labirintoso?

Paramos na frente de uma porta igual a qualquer outra e ninguém respondeu minha pergunta, nem falou nada, então olhei para Romeo e depois para Enrique, ambos estavam prendendo a risada, então eu só cruzei os braços e fiquei esperando algum sinal de sanidade.

— Cesc? - Enrique me chamou com uma voz de riso e eu só respirei fundo. Ele tentou de novo. — Lembra daquela peça decorativa que eu te mostrei há algumas semanas?

Oh céus, eu lembro!

Minha cara deve ter denunciado o fato de eu finalmente ter lembrado daquele treco horrível e sim, de mau gosto, encarapitado na bela pia de mármore de um banheiro que deveria ser de uma dupla de caras adultos.

— Pronto para ouvir a história? - Enrique perguntou animado e Romeo colocou uma mão no meu ombro, apertando com companheirismo. Fiz uma careta involuntária.

— Não acho que ninguém estará pronto algum dia, mas é, meu estômago está meio vazio, acho que não dá pra ficar melhor do que isso. - Falei conformado, então Romeo apertou uma última vez meu ombro e abriu a porta do maldito banheiro.

E lá estava ele e olha, era maior do que o meu braço, possivelmente da grossura dos dois juntos e tinha... Veias esculpidas e... Cara, quem vai querer usar um banheiro olhando para o maior consolo de sex shop já visto no mundo?

— Ok, estou pronto para ouvir a história desse enorme pau com a via láctea estampada nele, comecem. - Me sentei do outro lado da pia e cruzei os braços, mas tive que esperar os dois idiotas se recomporem de sua crise de riso infantil, antes de falarem.

— Tudo começou em uma bela tarde nublada de...

— Pode parar, Enrique, eu prefiro a versão curta, Romeo, por favor. - Não me levem a mal, mas ouvir meu namorado floreando a compra de um brinquedo sexual não está nos meus planos para os próximos cinco minutos.

— Boa escolha, capitão, não vou te decepcionar. - Romeo falou alegre e eu já estou me arrependendo. — A gente tinha saído para ver algumas coisas para a inauguração do apartamento que... Nem de longe foi tão boa quanto seria com você aqui, óbvio!

Ele concluiu com um sorriso falso, buscando por aprovação do líder da matilha e eu só revirei os olhos para esses dois. De novo. Prevejo eles rolando pelo chão muito em breve de tanta paciência que eu vou ter que invocar para aguentar isso aqui.

— Não estou chateado por vocês terem dado uma festa sem mim, eu não sou assim tão mesquinho. - Falei dando de ombros e ambos me encararam com cara de quem não acreditavam muito. — Assim vocês me ofendem!

— Continuando... Enrique perguntou a Trudy... Trudy é a mulher que vive dentro do aparelho trouxa de comunicação dele e...

— A gente chama de celular. - Ensinei com calma, mas Romeo desfez da informação com um gesto afetado.

— Que seja! Trudy mapeou a cidade e disse que tinha uma loja bem legal perto daqui, então nós fomos lá ver o que...

— Espera! Foi a assistente pessoal do celular que mandou vocês irem numa sex shop? O que vocês pediram a ela? - Falei já dando risada e a dupla mimada me olhou com irritação.

— A parte engraçada ainda não começou, Cesc! Deixa Romeo contar a história! - Enrique esbravejou e eu coloquei minhas mãos para cima, na defensiva.

— Ok, ok... Mas... Vocês pesquisaram o quê? - Insisti, porque eu sou isso e Enrique revirou os olhos, me imitando. Parece que o jogo virou, não é mesmo? — Essa informação é crucial para o meu entendimento da história.

— Não, não é.

— É sim, é muito essencial. - Provoquei, balançando as pernas ainda sentado no balcão de mármore da pia.

— A gente pesquisou por artigos sexy, discretos e criativos para a decoração da festa, tipo, não dava pra saber que os trouxas tinham um outro entendimento da coisa toda! - Romeo se defendeu chateado e eu pressionei os lábios para não rir da cara dos dois.

— Não, não dava para saber, ainda mais sendo tão puros como vocês são... - Falei debochado, mas só a metade com cérebro da dupla entendeu.

— Pois é! E ainda tinha Erick, que sabe de muita coisa, mas nada que seja prático. - Romeo complementou meu suposto raciocínio em sua defesa e eu fiz uma careta divertida para a nova informação.

— Erick também foi para a aventura na sex shop? - Perguntei, já prevendo o horror do meu tio com alergia a trouxas no meio dessa história toda.

— Ele foi sim, mas deixa Romeo terminar de contar a história, daqui a pouco o povo vai se perguntar o que nos três estamos fazendo dentro desse banheiro por tanto tempo e aí já sabem... - Enrique começou impaciente, depois terminou com um tom sugestivo, relembrando a piadinha dele de mais cedo.

Podre.

— Tá, deixa eu contar...
“ Trudy nos mandou para esse lugar que tinha o nome de Doce desafio, então nós pensamos, hey, que foda! A gente vai poder comprar uns desafios do caralho e aí... Por que vocês estão rindo? Ah, vão se foder vocês dois! Continuando...

A gente chegou onde o mapa falante mandou, mas no lugar onde a loja devia estar, tinha apenas uma porta escura e uma vitrine com roupinhas bem curtas de mulher, que a gente imaginou que pudesse ser os uniformes das garçonetes da festa, porque eram sexy, e de fato usamos como uniforme do staff, mas isso não vem ao caso agora.

Entramos no lugar e tipo, foi como entrar numa fenda para outra dimensão mágica, porque tudo que estava lá parecia versões de coisas reais, só que dentro de um sonho induzido por poções de alguém! Tipo...

Eu vou dar um exemplo, espera, Cesc: tinha um troço chamado concubina e era simplesmente um quadrado, que tinha uma boca de mulher em formato de O em um canto, um peito no outro e uma boceta e um cu para completar a peça!”

Ok, o vocabulário deu uma decaída aqui, mas com Romeo, né, já era esperado.

— Espera, não sei se eu entendi direito: era tipo uma mulher... Desmontada? - Fiz uma cara de “como assim, cara? De onde tiraram essa ideia fodida?”.

— Tipo não, era exatamente isso! Vou te dizer, capitão, os trouxas tem uma mente fodida do caralho, quero dizer, meu Merlin, os caras transam com partes de gente! - Romeo falou como se estivesse realmente perturbado com a ideia, o que dá pontos para ele, ao menos ele não é tão escroto a ponto de achar que garotas são só orifícios para enfiar o pau.

— Err... Romeo, você percebeu que era tudo feito de plástico e materiais de mentira, não é? - Enrique perguntou em dúvida e Romeo fez uma cara de surpresa impagável. —Ah, isso explica porque você ficou segurando a varinha escondida com aquela cara assustada...

— Ah meu Salazar querido, você achou que aquelas coisas eram de pessoas reais? - Eu perguntei já dando risada da cara do meu amigo com meio cérebro funcional. Apontei para aquela peça de decoração horrenda que estava do outro lado do balcão onde eu estava. — Você achou que aquilo pertenceu mesmo a um cara de verdade?

Dessa vez até Enrique me acompanhou na risada, porque Romeo estava corado, Deus do céu, ele realmente acreditou que os produtos trouxas eram partes de pessoas reais! Eu não... Eu não acredito!

Desci do balcão e me joguei no chão, porque a mistura de álcool e a cara da lerdeza em forma de gente só poderiam significar a minha morte de tanto rir! Eu não sei bem o que Enrique estava fazendo, mas senti um chute nas minhas costas, provavelmente de um Romeo muito indignado.

— Vai se foder, Fábregas! Como é que eu ia saber o quão desgraçado da cabeça são os trouxas? Seu tio também não ajudou em nada, colocou a máscara dele e ficou com cara de nojo para tudo, eu achei que ele tava pensando em todas as pessoas mortas! - Romeo falou exasperado e eu me encostei no armário da pia, limpando as lágrimas da minha crise de riso, massageando minhas costas chutadas, tentando recuperar o fôlego.

Enrique respondeu ao melhor amigo, abraçando ele pelos ombros.

— Se estivéssemos falando de gente morta e mutilada, capaz de Erick ficar até animadinho, você sabe como ele é... - Meu namorado falou com aquele tom apaziguador que não convence ninguém e Romeo olhou para a parede oposta, ainda chateado com a nossa reação a sua retardadice já conhecida e bem estabelecida. — Continue a história, por favor!

— Foda-se a história, não quero mais! - Ele respondeu fazendo birra e antes que Enrique piorasse a situação, resolvi intervir.

— Termine você, criatura, deixa Romeo quieto! - Me levantei com dificuldade, me apoiando no mármore escuro como um velho caquético. — Como chegamos a esse enorme pau brilhante de vocês aqui, que obviamente pertenceu a um gigante intergaláctico...

— Cesc... - Enrique me repreendeu de leve e Romeo ameaçou pegar a varinha para me acertar alguma azaração. — Vamos ignorar essa pequena falha de interpretação do nosso querido Romeo aqui e continuar a história:

“ Vários horrores depois, Erick quase ameaçando expor o mundo bruxo para a exótica atendente que estava insinuando que nos três éramos um casal... Trisal? Enfim, não sei, de qualquer sorte, eu tentei explicar a ela que tudo não passara de um mal entendido, que queríamos fazer uma festa inesquecível e de preferência que não fosse traumatizante e ela continuou apontando um monte de produtos esquisitos da casa.

Erick pediu uma dúzia de uniformes para as nossas atendentes, um de cada tipo, de qualquer tamanho, porque obviamente a gente iria ajustar nas garotas com magia, então a mulher ficou super empolgada e perguntou se não queríamos mais nada.

Eu comprei umas coisinhas para ajudar na comissão dela, porque Heitor uma vez me disse que os trouxas ganham por venda quando o negócio não é deles e aí quando já estávamos saindo, Romeo voltou para perguntar se tinha algum joguinho, já que o nome da loja era Doce desafio.”

Olhei para Romeo e ele ainda estava enfezado, então resolvi acalentar o ego ferido dele.

— Muito corajoso da sua parte perguntar qual desafio um bando de necrófilos trouxas tinham em mente. - Falei com um sorriso incentivador, ele sorriu de volta.

— Sim, eu achei que poderia ser algo realmente desafiador e assustador! - Ele falou empolgado e depois controlou o riso ao olhar para a peça de decoração principal do banheiro do amigo. — Eu meio que estava certo quanto a isso...

— Sim, quero dizer, o que diabos é isso? - Perguntei dando risada, já prevendo a resposta bosta de Enrique só pela cara de filho da puta dele.

— Ah, meu caro, esse é o maior desafio de todos: a via Láctea! - Ele falou pomposo, depois apertou os lábios, antes de completar seu discurso absurdo. — Segundo a vendedora, quem senta nisso aí... Vê... Estrelas!

Dessa vez Romeo e Enrique começaram a dar risada e eu fiquei meio sem entender, mas, né, comecei a rir da risada deles, porque os dois são tão ridículos, quero dizer, são esses dois caras que já são considerados legalmente adultos maduros?

— Não esquece... Não esquece do leite da Via Láctea! - Romeo falou entre os roncos de riso e Enrique aumentou ainda mais a risada ridícula deles e eu fiquei entre o “cara, até que tem graça” e o “que dupla com a mente desgraçada!”.

A porta se abriu com um Erick com cara de poucos amigos olhando para nos três como se fossemos vermes que tinham adquirido a capacidade de falar de uma hora para outra. Dessa vez eu dei risada de verdade, só imaginando a cara dele no dia que esses dois idiotas trouxeram essa obra de arte para a casa.

— Já vi que conheceu a peça mais valiosa da coleção de seu namorado. - Erick falou com aquele desdém típico dele e isso só fez a gente rir ainda mais. — Quando os três concupiscentes pararem de grasnar como gansos no cio, por favor, atendam ao chamado de Courtie no hall.

Com cuspe o quê?

Rimos ainda mais e Erick só nos deu as costas e bateu a porta. Levou algum tempo até a gente recuperar um pouco da nossa elegância sonserina nata. Respirei fundo para relaxar os músculos da barriga, que estavam doendo de tanto rir e finalmente segui Enrique, que tinha que falar com sua organizadora sobre algum problema na festa.

Vi Fred girando Louise no meio da da sala espaçosa ainda cheia de desconhecidos elegantes, os dois pareciam meio bêbados, mas pelo menos eu sei que ele não tentaria nada com ela, por causa das regras dos caras e tudo mais, ela foi namorada de Longbotton, o que foi um mal necessário, porque isso a fez intocável para uma grande parte da ala masculina da Grifinória!

Oh Deus, obrigado pelas pequenas bênçãos!

— Tá rindo do que aí, garotinho? - Enrique perguntou com uma desconfiança bem humorada e eu resolvi voltar ao assunto anterior, antes dele ser absorvido pelos problemas de adulto.

— Ainda rindo do jovem Romeo e do jovem Enrique que realmente acharam que aquilo lá no banheiro era uma boa ideia. - Apontei aleatoriamente, por cima do ombro, para o local onde jazia a decoração ridícula escolhida por esses dois cérebros de araramboia.

— Pois a beleza dela ainda não está completa, eu e Romeo estamos bolando um jeito de fazer quem entrar no banheiro só conseguir sair dando um beijinho na peça! Eu não... - Não entendi o restante do que ele falou, então Enrique me parou, porque eu não estava conseguindo ouvir ele perfeitamente, com toda aquela música.

— Por que vocês...

— O quê? - Romeo me interrompeu fazendo careta de quem não estava ouvindo, então Enrique fez um feitiço bolha antirruído. — Obrigado! Eu tenho que aprender a fazer essas merdas...

— Sim, já passou da hora de aprender. Mas o que você estava dizendo, Cesc? - Meu namorado abriu caminho para uma Bertrand conversando muito seriamente com algum rapaz que parecia sob o efeito de algum cogumelo alucinógeno.

Coitado.

— Eu queria saber o porquê de vocês ainda não terem feito essa pegadinha do banheiro, mas sabe de uma? Melhor nem saber e deixar as coisas como estão! - Falei rindo, porque não é como esses dois precisassem de incentivo, né?

— É porque eu tenho que combinar com um feitiço etário pra Mirela e tudo mais e ainda tem os feitiços chatos de segurança de Heitor interferindo e... Mas quer saber? Não se preocupe, porque tem um setor na empresa que trabalha só com essas coisas, então eu vou lá na segunda e vou dar um jeito nisso de uma vez por todas, está decidido.

— Eu não estou preocupado. - Falei cínico e Enrique respondeu com os olhos franzidos.

— Pois devia! Eu pretendo ficar nessa casa por um bom tempo, então eu tenho que começar a fazer as coisas que vão fazer dela um lar bruxo de verdade! - Ele falou com paixão e eu olhei pra ele e depois para Romeo, que concordava com a cabeça, como um cachorrinho de madame.

— Todo lar bruxo tem feitiços, pegadinhas e caprichos de seus donos, é quase uma regra não dita! - Ele disse concordando com o dono da casa, enquanto pegava mais uma taça de alguma bebida vermelho sangue, que soltava um leve vapor hipnótico. — Veja Hogwarts, por exemplo, tem um monte de coisas que foram sendo deixadas nela com o passar do tempo: feitiços, objetos perdidos, nomes entalhados nas paredes, sonhos despedaçados...

Essa última parte ele falou com um tom melancólico, dando um gole longo em sua bebida. Olhei para Enrique procurando por algum conselho de como lidar com isso e ele só fez aquela cara dele que hoje eu posso traduzir como “Ele tá bêbado, ignore”.

— Hogwarts é um caso a parte, tem muita mão mexendo naquele castelo e o pior, a gente nem sabe se eles vão manter a maioria das coisas que a gente gosta, tipo o feitiço que dá choque na maçaneta da sala de estudo 3... - Enrique falou saudoso e eu o olhei desconfiado.

— Foi você que colocou aquilo?

— Eu não. - Ele disse sem nem tentar ser convincente, depois acenou para alguém atrás de mim. — Ok, a gente tem que ir, Courtie tá começando a perder a paciência e é só a primeira festa dela, ela ainda não pode receber motivos para desistir de nós.

— Achei que estivesse pagando ela. - Romeo disse com pouco interesse e Enrique respondeu já de costas para ele.

— Queria que as coisas fossem simples assim, mas infelizmente algumas pessoas precisam mais do que dinheiro para sobreviver... - Eu e Romeo nos entreolhamos e ele deve ter percebido o movimento, porque virou para trás para completar o raciocínio. — Tipo sanidade.

Ah sim, verdade, sanidade é importante, ouvi dizer.

***

Chegamos no hall de entrada e tinha algumas pessoas ao lado de Courtie, um grupo com umas dez cabeças, contando assim do topo da escada. Erick não era uma delas e eu só estou salientando isso porque eu jurava que ele estaria aqui dando um jeito de resolver qualquer que seja o problema que eles tinham em mãos.

Até gostaria, mas você sabe que eu não posso me meter em certos assuntos.

Desde quando, se você está justamente se intrometendo nos meus pensamentos, que são possivelmente a coisa que você deveria ficar mais longe no mundo?

Ele obviamente não respondeu a isso e quer saber? Dane-se, porque eu vi Teddy Lupin entre os barrados no baile e ele apontou para mim, tendo terminado de falar algo com Enrique, que tinha se adiantado a mim e a Romeo no hall.

Desci as escadas lentamente, tentando me lembrar se eu tinha feito alguma merda que pudesse justificar alguma saída estratégica para longe de Lupin, tipo roubar outra poção de um coleguinha ou sabotar algum vestido de baile...

Não há nada que eu me lembre, mas pode ser só o álcool.

— Aí está ele! Cesc, por favor, diga a seu namorado e a Maly... A senhorita Courtie, que você me convidou, para deixarmos todo esse assunto embaraçoso para trás. - Ele falou meio aliviado e eu tentei não parecer tão perdido, porque eu ainda não estou bem certo do que estamos falando.

Olha, não foi só porque a namorada dele, ou noiva - ou irmã menos simpática de Dominique - estava me olhando com uma cara de impaciência sem motivo, mas resolvi ser bem sincero no assunto.

— Desculpa, Lupin, não estou lembrado de ter te convidado para a festa... Desculpa mesmo. - Falei com um sorriso sem graça e ele me olhou com uma cara de quem não estava entendendo nada.

— Não tem problema, cara, eu já disse que você pode entrar, eu conheço você e não me importo realmente...

— Mas eu me importo! Eu estou dizendo com 100% de certeza que eu não sou um penetra, Dussel, eu realmente recebi um convite assinado por... Fábregas. - Ele apontou para mim de novo, fazendo todo mundo me encarar.

Eu hein, acho que eu lembraria se tivesse enviado um convite para Edward Lupin comparecer na minha festa e eu não mandei! Estava a ponto de dizer isso a ele de novo, mas uma voz vinda do Tártaro quebrou minha linha de raciocínio.

Apenas diga que o convidou e pronto, deixa de ser um obnubilado!

Ok, Erick, porque estamos cheios de palavras difíceis hoje? Achei que você estava evoluindo fazendo algum esforço para se encaixar no século XXI!

Faz parte do personagem! As pessoas esperam certas performances de mim e muito melhor que eu possa ampliar o vocabulário delas, não? Agora resolva logo isso!

Não é melhor se você fica colocando palavras ridículas no vocabulário do povo, mas ok, deixa eu adiantar o lado aqui, antes que me joguem em um sanatório.

Sanatório é outra coisa. Iriam te jogar em um manicômio ou hospício, ou melhor, em um hospital psiquiátrico!

Vai se foder, Erick!

— Cesc, você está... - Enrique começou, mas ele não soube muito bem como perguntar o que eu estava fazendo parado, discutindo com a minha própria cabeça.

— Acabei de me lembrar, devo ter esquecido por causa do álcool... QUE EU NÃO TOMEI! Droga, desculpa, saiu mais alto do que eu planejei, desculpa, err... - Eu pisquei confuso, mas ainda assim consegui ver o futuro casal Lupin se entreolhando meio assustado. — Eu convidei eles sim, eu tinha esquecido completamente, desculpa, não sabia que teria essa loucura aí fora! Teria avisado a todo mundo, se soubesse.

Apontei para os outros não convidados que tentavam falar com Enrique, tentando chamar atenção para alegar que o conheciam de algum lugar. Courtie me olhou desconfiada, mas disfarçou com um sorriso simpático.

— Mais algum acréscimo que você esqueceu de nós notificar? - Ela perguntou em voz baixa e eu fiz que não com a cabeça. — Athina, por favor, desobstrua a passagem, acabamos por aqui. Senhor Lupin e senhorita Weasley, perdoem o inconveniente, me acompanhem, por favor.

— Feliz aniversário, Cesc e... Não quero ser o adulto chato, mas... Chega de álcool por hoje, se eu bem me lembro você está completando 15 anos, não 18. - Lupin piscou divertido e eu fuzilei as costas dele com o olhar.

— “Não quero ser o adulto chato...”, coitado, missão não cumprida! - Cruzei os braços irritado e Enrique me encarou com desconfiança. — O que?

— Por que não me avisou que tinha convidado Lupin? - Espera, estou ouvindo uma nota de ciúmes nesse tom de voz?

— Porque eu não o convidei, foi Erick, aquela marmota ridícula! - Enrique me olhou com uma careta de quem não acreditava e eu joguei as mãos para cima, exasperado. — Vamos lá atrás dele, então, ele deve estar por perto, estava agora mesmo na minha cabeça, me infernizando e... Ah! Olha ele aí!

— Não vou poder dar explicações elaboradas, mas não é como se vocês dois não gostassem de Lupin... Quero dizer, é Lupin, todo mundo adora esse rapaz! - Erick falou dissimulado e eu e Enrique o encaramos com sarcasmo.

— Não precisa elaborar nada, mas pelo menos explica alguma coisa! - Exigi com as palavras, o que eu queria arrancar com os punhos. Ele sorriu travesso para mim.

— Eu precisava que fosse assim, porque... Eu já disse, a grandeza tem que começar de alguma parte! - Ele falou já sabendo que isso só iria me deixar irritado, mas dessa vez Enrique não aceitou essa afirmação cheia de mistério.

— Desembucha a verdade, Erick, porque isso foi muito esquisito até para seus padrões. - Enrique falou cruzando os braços, com seriedade. Olha só para o senhor Dussel, cheio de autoridade.

Eu gosto.

— Você obviamente não está familiarizado com os meus padrões... Tudo bem, tudo bem, eu vou contar o básico: precisava que o senhor Lupin chegasse dessa maneira, para um certo alguém não poder ignorar sua presença alegando estar ocupada com o trabalho. - Ele deu de ombros, inocente.

— Você queria que Courtie encontrasse com Lupin? Por que? - Enrique perguntou confuso, o que eu estava me perguntando mentalmente. — Por acaso você está tentando dar uma de cupido as avessas? Porque o cara tem noiva, se você não percebeu!

— Esse noivado não tem absolutamente nada de aproveitável para os meus planos e não, Cesc, meu objetivo final não é ser um casamenteiro moderno ou algo que o valha, eu estou pensando mais a frente, como sempre. - Ele falou nos dando as costas, mas a gente não estava afim de deixar essa história morrer por aqui.

— Como assim?

— Estou falando da minha mais promissora pupila, Cesc! Você acha que os grandes Mestres ficam esperando que uma série de acasos gerem os seus pupilos mais fortes, para só então ir lá e guia-los no caminho da grandeza? - Erick havia se virado para falar esse monte de baboseira do alto da escada, nos olhando com superioridade dos degraus acima.

— Sim, para tudo isso que você falou! - Constatei com sarcasmo e ele me olhou com cinismo. — Não vai me dizer que você está tentando juntar Lupin e Courtie só para eles gerarem essa tal pupila sua!

— Está certo, não vou te dizer nada.

— Não, espera aí, que outros casais você está juntando para formar o seu séquito? - Enrique perguntou segurando no braço de Erick, o parando. Perguntei a ele do que diabos ele estava falando, com o olhar. — Ele vai ter um séquito de seguidores, eu vi nas anotações dele, que ele fica discutindo com Váli.

Puta que me pariu, Erick está montando um esquadrão classe A com bebês super dotados?!?!

— Nem todos os meus bebês seguidores serão super dotados... Eu sei que infelizmente o seu não vai ser. - Ele falou debochado e eu franzi o cenho para isso.

— Do que você está falando? Meu bebê ou o de Cesc? - Enrique perguntou com uma careta e Erick só deu de ombros.

— Isso não importa agora, porque só temos atualmente, já nascido, o pequeno Enri. - Erick falou sonso e eu e Enrique nos entreolhamos.

— Meu sobrinho Enri?

— O nome dele realmente ficou Enri? - Perguntei surpreso, porque achei que Helena estava zoando Enrique com esse lance de homenagem e tudo mais, ainda mais que o bebê tinha Hector como padrinho.

— Enri Romansek, nome de bruxo poderoso, vai ser um líder para a nova ordem mundial, vocês verão! - Erick falou animado, com um brilho estranho nos olhos, mas logo voltou a nos encarar com sua cara de entojo de sempre. — Ou não.

— O que isso quer...

— Não, Alice, não siga o coelho branco, não vale a pena! - Puxei Enrique para um lado e empurrei Erick para longe, com a outra mão. — Vai caçar algumas almas para sugar longe da gente, dementador!

Ele riu, mas foi. Eu e Enrique acompanhamos o andar elegante dele por entre os convidados da festa, alheios ao perigo que corriam.

— Você não acha que a gente deveria fazer alguma coisa para impedir os planos de Erick? - Enrique perguntou em dúvida.

— Eu acho. - Eu e meu namorado pulamos de susto, porque Romeo tinha acabado de aparecer do nada.

— Há quanto tempo você está aí, criatura? - Perguntei tentando acalmar meu pobre coração.

— Eu tô aqui desde sempre, cara, qual é! - Ele respondeu indignado e eu olhei assustado para Enrique. Ele tava mesmo aqui o tempo todo?

Credo, assombração talentosa faz assim, né?

***

Finalmente despistamos Romeo, deixando ele responsável pela torre flutuante de champanhe, porque Enrique disse que estava na hora do meu presente número 4.

Finalmente.

— Ok, o sexo não vai rolar enquanto tiver toda essa gente no apartamento, Courtie disse que temos que ficar até o final de tudo e não está parecendo que ninguém aqui vai embora tão cedo... - Ele falou como se estivesse se justificando e eu dei de ombros.

— Não tenho que está em Beuaxbatons até às 18h, então... Pode ser um sexo diurno. - Falei exagerado, porque nem devíamos ter chegado às 3 horas da manhã ainda, acho. — Mas e o meu presente 4, cadê?

— Então já tivemos a festa, o presente família e o extravagante, agora vamos para o... Você sabe... - Ele fez uma careta engraçada e eu ri de seu constrangimento. — Simbólico.

— Opa! - Falei meio pego de surpresa. — Simbólico tipo um cofre cheio de galeões com o meu nome no Gringotes?

Falei tentando deixá-lo mais a vontade, mas ele só me deixou sozinho para ir até o closet de seu quarto enorme, ainda maior do que o que ele tinha na Mansão Dussel. Ele voltou com uma caixa quadrada, que pelo formato deveria ser um livro ou talvez um álbum de fotos.

— Você fez um álbum de colagem nosso? - Perguntei com um tom de voz meloso, só para irrita-lo. — Que fofo e brega, vou mostrar para todas as visitas que vierem tomar chá das cinco com a gente!

— Vai se ferrar, Cesc, não é um álbum! - Ele falou me empurrando pelo ombro, colocando a caixa nas minhas mãos. Sentei na cama, para abri-la com mais cuidado. — E foi você que começou a tradição de dar presentes com significados, então não enche!

— Eu dei a máquina de escrever para você fazer um best-seller e ficar ainda mais rico, você que viu um significado oculto! - Falei fazendo graça, depois apontei sério para o nariz dele. — E você nem sequer está usando meu presente.

— Usei ele para fazer o seu. - Olhei para ele e depois apontei para a caixa simples, sem laço nem nada, na cor verde musgo. — Sim, abre logo!

Abri com cuidado e tive que olhar ainda mais de perto, porque era um livro cuja a capa verde parecia... Feita de uma pedra preciosa! Mas como isso é possível? Parece um couro, só que de alguma criatura brilhante e...

— É de couro e ametista, eu que fiz com o meu dom. - O olhei sem entender e ele teve dificuldade para fazer parecer que ele não estava se gabando — Descobri há alguns meses que eu posso mudar há essência das coisas, eu já fazia antes com minha mão assumindo os metais, mas você lembra que eu fiz com sua varinha quando compramos?

— Eu não... Ah, com a luvarinha? Quando você deu a ela uma aparência de pele? - Perguntei fascinado de verdade, ele fez que sim com a cabeça. — Mas aquilo não durou muito e foi... Foi você passando sua pele para o metal, tipo... Na verdade, como inferno você fez aquilo?

— Não há muitos textos sobre isso, mas aparentemente eu tenho essa facilidade de me conectar com a essência das matérias, então só levou algum tempo para eu conseguir estabilizar a troca de características. - Ele deu de ombros, como se não fosse nada demais.

— Você pode transformar água em fogo, carvão em ouro? - Perguntei com ansiedade, porque eu estava diante de um deus ou algo assim. — Você é tipo um alquimista que deu certo?

— Não posso trabalhar com materiais fluidos, só coisas sólidas, não pretendo trabalhar nem sequer com gelo, porque já pensou se meu dedo derrete? Heitor acredita que eu não consigo restabelecer formas, só texturas.

— “Só texturas", só podia ser Heitor mesmo para falar algo incrível como se fosse algo chato! - Falei exasperado e Enrique deu risada. — Sério, seu irmão é um pé no saco! Mas não vamos nos ater a isso... E a parte do ouro? Rola?

— Sim, mas é como eu disse, precisa de muita concentração para eu conseguir estabilizar a matéria e fazer algo permanente e... Não é como se eu pudesse sair por aí criando ouro do nada, a gente tem que declarar a origem da riqueza ao fisco, não é assim tão fácil!

— Você pode dizer que achou uma mina de ouro! - Falei empolgado e Enrique me olhou com ceticismo. — Mas isso não é para agora, a gente volta a falar disso em alguns anos... Voltemos para o presente: o que você me trouxe aqui?

— Vê o aspecto da capa? Era couro, eu tive um trabalhão para manter a aparência e toda essa coisa intrínseca dele, mas eu queria que você tivesse algo duradouro e... Valioso. Infelizmente a ametista é a única matéria que eu domino, por enquanto, as outras eu ainda... Heitor diz que eu devia ter começado a treinar mais cedo, ele diz que agora eu estou um pouco enferrujado, mas...

— Heitor é um babaca! O que ele queria? Que você saísse por aí transformando as coisas enquanto ainda era criança? - Perguntei com irritação e Enrique maneou a cabeça para a minha lógica. — Você acabou de comprar um pau brilhante para decorar seu banheiro! Teria dado uma merda colossal se você tivesse começado a explorar suas habilidades antes, vai por mim...

— Vou tentar não me ofender...

— Isso, agora vamos ver o que tem nesse livro foda, provavelmente o único no mundo com uma capa mistura de pedra e couro! - Falei com pompa, dando um selinho de agradecimento nele. Ele sorriu com arrogância.

— Provavelmente.

Abri a capa pesada e dei de cara com uma primeira página em uma folha bonita, daqueles materiais antigos, do que tipo que resistem a eras, em bibliotecas grandiosas como as de Alexandria ou a Imperial de Constantinopla.

Não havia nada na página macia, passei a mão por toda a superfície, meio que hipnotizado pelo material. Algumas letras cursivas bonitas surgiram.

“Onde a verdade se esconde”

Olhei para Enrique surpreso, mas ele apontou para o rodapé da página com um sorriso carinhoso no rosto.

“Um livro da plêiade DRS, dedicado ao ilustríssimo Capitão F, líder dos bravos iconoclastas”

— Não sou o líder dos iconoclastas... - Sussurrei encantado, ainda olhando para onde as palavras haviam surgido, exatamente como elas fazem no Ocaso.

— Você é na história... Não me olhe assim, vai fazer sentido quando você ler! - Ele pôs as mãos para cima, ante meu olhar questionador.

— Certo... Mas o que quer dizer plêiade DRS? É o seu... Como se diz? Nome de escritor? - Perguntei realmente curioso, Enrique só sorriu com arrogância.

— De acordo com Erick, plêiade é o conjunto de artistas e o D, é de Dussel, R de Romansek e o S... Tenta adivinhar do que é o S. - Fiz uma careta para o desafio, porque nunca gostei muito de adivinhar as coisas. — Vira a página e vê se mata a charada.

Fiz o que ele disse, ouvindo o barulho gostoso de folha virando. O livro parecia ter sido todo feito para causar as melhores sensações que os livros causam nos leitores ávidos. Sorri para isso, porque sempre gostei de ler, mesmo tendo feito pouco nos últimos tempos.

A página nova revelou seus segredos assim que eu abri bem o exemplar no meu colo, era como ver uma dança de sombras preenchendo as folhas com letras iguais às da máquina de escrever de Enrique, mas haviam cores também, formando...

A silhueta de uma fada!

Sorri para Enrique, porque agora sabia quem era a misteriosa letra S da sigla, não tão misteriosa assim quando você para pra pensar que a única Romansek que iria se dispor a sentar para fazer um livro para mim, seria Mirela!

— Você conseguiu convencer Sabby a fazer um livro com você e Mirela? - Perguntei divertido e realmente tocado, meu Deus, Enrique podia ser mais fofo? Ele chamou a sobrinha de 4 anos e sua fada de estimação para ajuda-lo a fazer meu presente!

Salazar Sonserina está se revolvendo no túmulo, mas dane-se, nunca fui muito com a cara dele mesmo!

— Difícil foi fazê-las pararem de se intrometer nas minhas decisões artísticas! - Ele falou com falsa exasperação e eu dei risada. — Mas no fim das contas consegui colocar as duas na linha e, modéstia à parte, acho que a história ficou muito boa!

Comecei a ler superficialmente tudo e reconheci o início daquele conto sem vergonha das fadinhas que ele havia começado a contar para Mirela nas férias. Essa era a história do Ocaso!

— Você escreveu a história do Ocaso, criatura? - Perguntei alarmado e ele me deu um sorrisinho inocente.

— Não... Eu escrevi a história de como um certo capitão conseguiu mostrar a todo o reino das fadas que... Mesmo não sendo o caminho mais fácil, nem mesmo o menos doloroso, a verdade sempre é o caminho certo. - Ele falou sério e eu o encarei em dúvida.

— Não está fazendo o capitão F parecer melhor do que ele é não?

— Ele tem essa mania chata de achar que se mete em problemas porque é bagunceiro, quando, na verdade, ele faz todos os lugares por onde passa ficarem ainda melhores. - Ele falou chegando bem perto de mim, me fazendo fechar um pouco o livro para encara-lo de frente, olhos nos olhos.

— Definitivamente você está sendo gentil com esse Capitão F... - Sussurrei Merlin sabe o porquê, já que só havia nós dois no quarto.

— Leia a história, depois a gente conversa. - Ele falou sorrindo, me dando um beijo rápido e levantando em seguida. — Mas depois, porque Mirela exigiu que eu o fizesse ler tudo com calma, ela e Sabby colocaram muito trabalho duro nesse presente!

Ele havia quebrado o momento, mas não podia culpa-lo, aquilo estava ficando sentimental demais para o nosso gosto.

— Quer dizer que você explorou uma criança e uma criatura mágica para fazer todo o trabalho pesado por você? - Fechei a caixa com cuidado, entregando para ele guardar em um lugar seguro até a festa acabar. — Azkaban é um paraíso para pessoas como você, Dussel!

Ele me olhou falsamente ofendido, mas depois deu de ombros, com um sorriso debochado.

— Você sabe que posso transformar as grades de Azkaban em pena de coruja em um piscar de olhos, não sabe? - Ele falou me dando as costas e eu só maneei a cabeça, pensando em que merda eu me meti com esse cara absurdo.

— Agora você está sendo apenas metido...

E com toda razão.


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Notas finais do capítulo

No meio desse mar de loucura e baixaria, viram coisas relevantes para o futuro? Deixa eu ver quem está prestando atenção de verdade!

Bjuxxx



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