Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 134
Capítulo 134. Reflexões maduras


Notas iniciais do capítulo

Capítulo demorado e dedicado a Jweek e a O lado bom do yaoi - OLBY - por continuarem firmes e fortes nos comentários!

Eu sei que cada um tem suas próprias demandas e nem sempre podem vir aqui, mas eu tenho que agradecer muito a quem continua me dando esse apoio, que eu adoro, não vou mentir!

Sem mais encheção de saco, vamos ao capítulo!



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Capítulo 134. Reflexões maduras

Estava já no final do dia do meu aniversário - 15 anos, finalmente! Parece que o tempo não passa na minha vida! - e mesmo sendo uma data tão especial no calendário, ainda assim tive que ir para as aulas, comer a mesma comida de todo mundo e dividir meu bolo com Louise.

Eu vivo uma existência de provações, eu sei.

Agora estava fechando meu dia conversando com Enrique, que havia me prometido para o dia 02 de outubro - o primeiro final de semana fora da escola que teremos direito - cinco presentes de aniversário, principalmente por ele não ter me entregado nenhum hoje:

Um presente simbólico, seja lá o que isso signifique na cabeça dele, um presente caro, uma festa de aniversário - meio que para apagar da minha memória o fato que ele fez uma festinha de inauguração do apartamento que saiu até nos tabloides - sexo, o que segundo ele vai contar como presente porque ele vai fazer altas coisas incríveis e por fim, um presente para Louise.

— Eu não quero um presente para Louise, acho legal que você queira dar um presente para ela, mas se você me prometeu cinco presentes, eu quero que o quinto seja algo para mim! - Falei indignado, porque foi ele que veio com a história de cinco presentes, agora eu quero cinco presentes!

— Mas, Cesc, isso é muito injusto, eu não quero dar presente a ela, eu só comprei porque ia ficar chato eu não dar nada a minha cunhada, mas eu comprei por você! - Ele tentou justificar se aproximando da tela do celular e eu fiz um muxoxo conformado.

Tá, que seja, não é como se eu fosse uma pessoa mimada e egoísta, ele pode dar o presente da obtusa sem problemas.

— Ok, vou contar o presente de Louise como sendo meu, mas vamos deixar bem claro: a festa é só minha mesmo! - Apontei pra ele e ele fez que sim animado.

— É só sua, tipo, já avisei a todo mundo e a organizadora da festa está fazendo tudo do jeito que você gosta, mas ela... - Ele deu risada, agora andando pela casa, mas meio que escondendo a vista para eu não ver o apartamento dele antes do tempo. — Ela implicou com um item de decoração muito legal do meu banheiro.

— Que item? E por que você tá rindo feito uma hiena? - Perguntei, meio contagiado pelo bom humor e ele finalmente chegou onde queria, virando a câmera para eu ver do que se tratava a decoração. — Puta que pariu, Enrique, que inferno é esse?

— A história por trás disso é muito engraçada, eu e Romeo decidimos que vamos deixar aqui no banheiro, porque toda vez que a gente estiver triste, a gente vai olhar para essa coisa e vai rir feito uns doidos! - Ele falou rindo agora e eu tive que dar risada entre o divertido e o chocado.

— Eu vou querer saber a história desse troço? - Perguntei com uma cautela bem-humorada.

— Querendo ou não, a gente vai te contar, mas tem que ser eu ou Romeo, porque Erick vai dar uma versão toda resumida e sem graça, ele é tão chato! Você acredita que ele se recusa a usar esse banheiro? - Ele me perguntou indignado, mas dessa vez eu tenho que dar razão a Erick.

— Imagino que ele tenha seu próprio banheiro, então deixa ele na dele. - Falei com razoabilidade, torcendo para Enrique não achar que eu estava ficando contra ele.

— Ah, eu deixo, mas ele ficou fazendo coro com a organizadora “isso é de muito mal gosto”, blábláblá... Claro que é de mal gosto, a graça toda é essa! - Ele falou revoltado e eu não acrescentei nada, até porque... O que eu posso falar?

— Essa organizadora... É a sua mãe? - Perguntei, em dúvida, porque, até onde eu sei, quem organiza as festas dos Dussel é Eileen ou Helena, se for algo mais de negócios. Ele me olhou irritado, ajeitando os óculos.

— Claro que não é minha mãe, se fosse a mulher que me pôs no mundo, eu diria “quem tá organizando sua festa é minha mãe”, o que seria ridículo, já que agora eu sou um cara que mora sozinho, eu dou minhas próprias festas! - Ele falou mais afetado do que a situação pedia, então eu só pisquei confuso para aquela veemência toda.

— Então tá... Que seja, Enrique, mas aproveitando que você está falando dessas coisas de adulto agora, você pensou naquilo que a gente conversou na semana passada? - Perguntei interessado e ele se fez de desentendido. — Sobre a escola que você vai, lembra?

— Ah sim! Err... Eu meio que pensei numas coisas, mas eu ainda não amadureci a ideia. - Ele falou inseguro e eu franzi o cenho, já que Enrique acabou com o prazo de um ano que o pai dele deu para ele ajustar as notas do NIEMs, conhecer melhor a empresa e então finalmente escolher o que quer ser na vida.

— Ok, vamos falar das ideias que você teve, a gente pode trabalhar o que quer que seja juntos, até ficar algo mais concreto. - Falei incentivador, mas ele me olhou com uma careta, se jogando de volta na cama.

— Hum, não sei... Parece muito idiota quando eu falo em voz alta... - Ele começou tímido e eu sorri para o quão adorável ele parecia nesse momento. — Mas eu fiz o que Heitor disse e pesquisei coisas importantes, tipo mercados e rentabilidade!

— Heitor é um saco, você é rico, pode se dedicar a algo que realmente goste até ser bom nisso, não precisa ganhar dinheiro imediatamente que nem nós, meros mortais. - Falei com toda a certeza do mundo, porque esse era um dos privilégios de ser um herdeiro.

— Mas quanto mais cheio de oportunidades a gente é, mais pressão a gente tem para fazer as coisas certas e... Eu pego Heitor como exemplo, ele tem que fazer coisas burocráticas da empresa, ver contratos e ir em reuniões chatas, mas a maior parte do tempo ele está falando com os técnicos, pensando nos feitiços que vão aplicar no estádio ou em uma arena ou discutindo coisas em congressos que eu nem faço ideia do que se trata!

— Acho que pouquíssimas pessoas no mundo sabem do que diabos seu irmão está falando na maior parte do tempo. - Acrescentei isso para dar uma relaxada nele. Enrique sempre ficava tenso quando tinha que falar do seu futuro. — Mas eu entendi seu ponto: Heitor gosta do que faz.

— Isso! E Helena, ela também é muito boa na área dela, quero dizer, meu pai fica apenas sentado com sua melhor cara de poderoso nas reuniões, mas é Helena que diz que a empresa não vai abrir mais ações para o mercado, porque assim a gente segura os preços lá em cima, garante lucro e controle e... Ela fala coisas do tipo “quando sentirmos a necessidade de dividir os riscos e ampliar os investimentos, aí nos voltamos a conversar” e... Os caras resmungam, fazem birra, mas acatam tudo!

— Sua irmã é uma Rockstar! - Falei com um sorriso no rosto, porque a mulher tinha acabado de dar a luz há um par de meses e ainda assim, vez ou outra, aparecia na empresa para colocar todo mundo de volta na linha. — Ela também conseguiu achar algo em que é muito boa, apesar de eu achar que ela é meio workaholic, que nem Hector...

— Todos os meus irmãos são viciados em trabalhar, acho que é a sina da família, meu pai também costumava ser assim até uns anos atrás. - Enrique disse meio a contra gosto, mas depois olhou para a tela com ironia. — Só eu que pareço não ter saído dentro dos moldes.

— E agradeça por isso! - Falei com seriedade, porque era um traço que eu gostava nele. — Eu entendo que seja muito útil para ganhar dinheiro ser tão obcecado por trabalho, mas acho que não há nada de errado em ser alguém que veja que a vida não é só isso.

— Alguém tem que gastar o dinheiro que eles ganham, né? - Enrique falou, divertido.

— Exatamen... Não, espera! Também não é assim, vai! - Ele estava rindo, porque tinha certeza que eu iria discordar disso. — Eu acho legal ter tempo e disposição para gastar dinheiro, mas você também tem que ajudar, se não aí que eles vão ter motivos para querer sua cabeça em uma bandeja de prata!

— Bem, sim, mas... Eu quero trabalhar com algo para crianças. - Ele me disse em um fôlego só, conferindo minha reação para essa fala inesperada. — Não é algo que minha família faça e eu não sei ao certo se o que eu quero faz sentido.

— Ok... Me diga mais ou menos o que você pensou e eu te digo se faz sentido ou não, prometo. - Falei sincero, porque se o que ele estava pensando fosse algo muito doido, eu diria na hora.

Espero não ser aquele que vai destruir os sonhos dele.

— Certo. Err... Você lembra que eu gosto muito de ler e até escrevo um pouco? - Ele me perguntou inseguro e eu fiz que sim com a cabeça. — Então, eu estive olhando o tipo de coisa que vendem para as crianças e como elas são, você sabe, versões menores das coisas de adultos, tipo os Contos de Beadle, o bardo, que só são para crianças porque são curtos e ensinam moral, basicamente.

— Sim, se esses contos fossem vendidos para as crianças trouxas nos dias de hoje... O que teria de moleque molhando a cama e associação de pais boicotando o livro, não está escrito! - Falei divertido e ele relativizou com a cabeça.

— Os trouxas são meio frescos para quase tudo...

— Os trouxas estão tentando criar uma geração menos traumatizada... Ainda não deu certo, mas eles ao menos estão tentando! - Falei me fazendo de advogado do diabo, porque eu sou sim da geração que é considerada muito mimada e frescurenta. — Mas voltemos ao assunto: como você se encaixa nisso?

— Então... Eu queria fazer algo para as crianças que ensinassem coisas, mas ao mesmo tempo fosse pensadas realmente para elas, sabe? - Ele falou um pouco mais empolgado, então me vi obrigado a incentivar para que ele continuasse falando.

— Tipo o quê? Me dá um exemplo! - Falei, viajando na empolgação dele.

— Tipo aquelas vassouras ridículas que voam um metro de altura feitas para crianças! Todas as pessoas que já tiveram uma dessas só tem lembrança de passar muita raiva! Lela ganhou uma do avô paterno e ela odiava com todas as forças, mas daí eu peguei uma das esferas de jogos do campeonato intercolegial e ela ficou super feliz de poder caçar pomo comigo dentro do jogo, com Sabby apontando para todos os lados onde estava seu priminho aprisionado na esfera do mal!

— Mas Mirela odeia Quadribol! - Eu falei surpreso e ele me olhou ainda mais animado.

— Eu sei! Mas naquela tarde ela assistiu o jogo contra Castelobruxo todinho comigo, sem fazer birra e perfeitamente segura em sua vassoura ridícula em miniatura! - Ele falou cheio de entusiasmo e eu sorri para isso. — A nossa empresa não tem produtos infantis voltados para esportes, basicamente os produtos que vendemos para os adultos, a gente faz uma versão com menos recursos, mais colorida e menor e diz que é para as crianças! Mas a gente nunca fez nada que fosse para elas especificamente.

— Você já falou com Hector sobre isso? - Perguntei realmente curioso, porque era Hector Dussel que cuidava dos projetos principais e Enrique estava justamente trabalhando no laboratório junto com ele, até Helena voltar de licença.

— Comentei por alto e ele disse que eu poderia “brincar” com os esboços de projetos que ficaram de fora das coleções oficiais... Tem um ou outro que pode até virar algo legal, mas o que me sobra de ideias, falta de conhecimento. - Ele resmungou meio desanimado e eu olhei surpreso para ele.

— Mas isso é ótimo, você já tá começando a ver o que precisa aprender para levar sua ideia a frente! - Tentei mostrar a ele o que já estava bem na cara dele. — No que você sente dificuldade? Feitiços? Detalhamento de projetos?

— Não exatamente... Eu sinto que estou até indo bem ajudando Hector, quando ele deixa e eu já meio que aprendi os modelos de projetos e as especificações dos esboços da empresa, mas eu não sei se...

— No mundo trouxa temos milhares de cursos para projetista! - Falei interrompendo ele, animado com a perspectiva de Enrique ter algo para estudar, porque eu sei o quanto ele fica incomodado por ainda não ter se decido quanto a isso. — Desculpe, continue!

— Ok, eu... Eu não sei se o que eu sei sobre crianças é o suficiente para fazer coisa que elas gostem. - Ele disse meio inexpressivo e isso significa dizer que aquilo era um problemão para ele.

— Você pode estudar sobre crianças também. - Disse com cuidado, mas ele parecia incerto.

— Meu pai já me vê como imaturo, se eu disser que quero estudar crianças, aí sim que ele vai ter certeza que eu não quero crescer! - Ele falou exasperado e eu maneei a cabeça para o raciocínio.

— Seu pai não vai achar isso, se você contar tudo o que você me falou! Ele deixou Hector assumir a parte criativa da empresa, Helena assumir as coisas lá de mercado e finanças e Heitor ficar colocando um monte de conceito absurdo no meio dos trabalhos, por que ele implicaria justo com a sua contribuição? - Perguntei enfático, tentando fazer valer o meu ponto.

— Porque crianças nunca foram nosso foco e, eu sei lá, fazer coisas esportivas para crianças? Tipo, eu quero que elas se sintam dentro do jogo ou em um mundo completamente novo, quero que elas sintam que podem usar os bastões para rebater balaços ou para se defender de pedregulhos lançados por trolls, eu sei lá!

— Isso parece incrível, você poderia contar histórias com brinquedos novos, tipo o que eu te mostrei no videogame! - Acrescentei, realmente fascinado com o mundo de possibilidades que se abriam na área.

Os bruxos realmente ainda tem muito o que aprender com os trouxas!

— Exatamente! Quero que os nossos produtos apresentem as crianças aos esportes, mas que as ensinem também a ter equilíbrio, coordenação motora e até coisas como foco e disciplina, coisas que são úteis para outras áreas, só que eu também quero que elas gostem de brincar com o brinquedo.

— Qual é o mistério aí? Você precisa continuar vendo com Hector tecnologias que possam ser adaptadas para os seus produtos, falando com Heitor e Helena para ver os números e a concorrência e... Quer saber? Fred não vai estagiar nas empresas Dussel? Você devia pedir um estágio na empresa do pai dele! - Finalizei, me sentindo genial.

— Quê? De onde você tirou isso? O que Fred tem a ver com qualquer coisa?

— Ora, Enrique! George Weasley é o rei dos produtos para crianças, mas, até onde eu sei, ele não trabalha com brinquedos educativos ou com esportes, você e Fred podiam fazer uma troca: ele vai aprender aquelas coisas loucas que ele gosta com seus irmãos e você vai aprender sobre crianças e brinquedos com o pai dele!

— Isso parece...

— Parece incrível, eu sei, inclusive hoje é meu aniversário, então todas as minhas ideias são incríveis! - Falei empolgado e ele sorriu meio sem jeito.

— Eu ia dizer arriscado, porque vai que Weasley não quer ou até aceita, mas depois me coloca em um monte de situação ridícula? - Ele me perguntou em dúvida e eu dei de ombros.

— Se isso te ajudar a chegar onde você quer, está valendo! Olha só o que podemos fazer: você escreve o seu projeto todo bonitinho e apresenta a Heitor, pede para ele te dizer onde pode melhorar. Depois você apresenta para Hector, faz a mesma coisa e por fim Helena, aí se o projeto sobreviver aos três e ainda parecer uma boa ideia, você apresenta a seu pai, ok?

— Provavelmente não vai passar do primeiro dragão... - Ele resmungou mal-humorado ante a perspectiva e eu tirei peso da afirmação com um gesto de mão.

— Bobagem! Eles vão deixar a ideia ainda melhor! E quanto a faculdade... Acho que você deveria pensar em algo trouxa, o que acha? - Perguntei fingindo que não era grande coisa, mas eu sei que esse sim seria um passo enorme na vida de Enrique. — As áreas de estudos de magia podem não contemplar as coisas que você precisa saber...

— É... Talvez eu devesse pesquisar algo trouxa. - Ele me disse incerto e eu fiz que sim com a cabeça.

— A gente pode pesquisar algumas coisas juntos e, se for o caso, a gente repassa o mínimo que você precisa saber para entrar em uma faculdade trouxa. - Falei confiante e Enrique suspirou pesado. — Pode ser feito, criatura, juro.

— Eu sei, só parece...

— Complicado, difícil e importante? - Perguntei divertido e ele fez que sim com a cabeça. — Bem vindo a vida de adulto!

— Você acabou de completar 15 anos, Cesc! - Ele falou com sarcasmo e eu revirei os olhos.

— Boa noite, Enrique.

***

Tem algo de muito diferente no ar, talvez seja o fato de que agora eu estou mais velho - mais sábio - ou talvez seja somente porque as ninfas finalmente fizeram a poda semanal dos arbustos e a escola está toda com um cheirinho de grama recém cortada, mas seja como for, resolvi que tenho que estabelecer minhas metas:

Primeiro: continuar mandando bem nas matérias, sem dar na vista que estou sendo “auxiliado” pelo Marduk e não, não é trapaça se eu tenho que estudar vários outros assuntos que esse encantamento parece não ter captado nas conversas por aí!

E os professores mesmo sempre dizem nos testes que a única consulta que podemos fazer é aos nossos cérebros, logo, nada de trapaça! Voltemos as metas:

Segundo: tenho que continuar apertando a mente absurdamente complexa de Fred para me confirmar se o Marduk é apenas um encantamento que vai me tornar tão poderoso quanto eu quero ser ou se na verdade vai ser responsável pela minha, grandiosa, mas ainda assim, morte prematura.

Terceiro: preciso aprofundar o meu projeto de dominação mundial por meio da minha habilidade maravilhosa de cativar os seres humanos com minha simpatia. E sim, tenho interagido bastante com o povo da Beauxbatons, porque, aparentemente como capitão da seleção campeão do Intercolegial de Quadribol, eu era uma celebridade pouco acessível, mas depois do jogo absurdo que fizemos há algumas semanas, as pessoas querem se enturmar comigo.

O que posso fazer, se sou tão incrível? Googlar mais tarde: como lidar com a fama.

Quarto: ajudar a resolver a profecia.

Quinto: colocar o plano que eu prometi a um dos gêmeos Sartori - que eu não me lembro mais qual - de colocar o time de Beauxbatons no campeonato de Hogwarts pra eles ganharem patrocínio,  que inclui colocar aquele plano escroto de Louise em prática e para isso, preciso me sacrificar novamente pelo bem maior.

Eu sou um guerreiro pouco valorizado...

— E então, já decidiu se vai ou não fazer dupla com Leiris para eu poder falar com Gomes e fazer amizade com ela? - Louise me olhou impaciente, depois de limpar os lábios no guardanapo de tecido.

Terminei de raciocinar enquanto comia o final do meu café da manhã e avaliava o pedido de Louise, ante o olhar impaciente dela, de Dominique e o desprezo sempre bastante animador de Juliet.

— É uma decisão muito complexa, não posso te dar essa resposta assim, sem pensar bem. - Ajeitei minha gravata, assistindo meu prato desaparecer direto para a pilha de louças sujas da escola. Louise me olhou com raiva.

— Você está pensando há meia hora! - Ela deu um sussurro gritado e eu só levantei uma sobrancelha para a insinuação de que eu não estava pensando na situação de verdade.

Algumas pessoas não envelhecem tão bem, esse é o caso de Louise.

— Tudo bem, já decidi: vou fazer esse sacrifício de me sentar com Leiris, vou aproveitar e pedir a opinião dele sobre o meu plano para o time de Beauxbatons, não é como se pudéssemos ficar 50 minutos de aula sem falar sobre nada...

— É uma aula, não um baile de gala, você não devia ficar tagarelando amenidades ou fazendo social. - Juliet falou sem tirar os olhos de seu Profeta Diário, deu um sorrisinho quando sentiu meu olhar fuzilador em si. — Mas o que mais me deixa curiosa é como Louise irá fazer para se aproximar de Gomes e porque ninguém está se aproximando de D'Lefreve.

Ok, ela tem um ponto.

— Nem me fale, Gomes parece ser aquele tipo de garota irritante que acha que sabe de tudo e quer que as coisas funcionem só do seu jeito, sabe? - Louise desabafou chateada e eu fiz menção de dizer que ela tinha acabado de se descrever, mas Dominique fez que não com a cabeça, sutilmente.

Juliet riu de leve, a desgraçada.

O sinal para nos encaminharmos para a classe soou e eu bati as duas mãos na mesa de ferro do bistrot, levantando com decisão.

— Então tá, eu vou lá encarar o filhote de vampiro e você dá um jeito na fada mordente portuguesa, até o almoço eu já devo ter pensado em como lidar com a senhorita Drax "Eu amo a cor azul" D'Lefreve. - Falei o plano para quem estivesse interessado, nesse caso somente Louise e Dominique e para Juliet fiz uma mensagem personalizada. — Soube que as máquinas de lavar mandaram lembranças para você, Bertrand, estão com saudades dos bons tempos que passaram juntas!

— Rá, rá, Cesc Fábregas: o novo comediante do mundo bruxo. - Ela me olhou com sarcasmo, depois me mediu de cima a baixo. — Eu já dei um jeito nos meus problemas de limpeza, mas os seus problemas, fiquei sabendo, estão apenas começando.

Ela saiu dando um sorrisinho malicioso e enigmático por cima do ombro, se divertindo muito com suas indiretas sem sentido.

— Pfff... Já estou vacinado para essas mensagens criptografadas, Bertrand, meu tio é um cara das Trevas de verdade, não uma imitação barata como você! - Falei arrogante, mesmo sabendo que ela já não estava mais me dando atenção. — Abusada!

— Então é oficial? Erick é nosso tio mesmo? - Louise perguntou, dando um tchau meio distraído para Domique, que já se reunia com a prima e as amigas do sexto ano.

— Temos 15 anos agora, Louise, a gente tem que começar a ser pessoas maduras e aceitar que vão ter coisas na nossa vida que a gente não vai poder fazer nada para mudar, mas... Ei, Leiris! Me espera, cara, vamos ser duplas hoje! - Deixei Louise para trás, me aproximando da dupla mal-encarada França-Portugal.

— Olha aqui, Fábregas, hoje você vai se sentar lá com sua irmã, bem longe da gente! - Gomes falou metida e mal-humorada, enquanto eu me aproximava e eu apenas tirei uma trufa de chocolate meio amargo do bolso e entreguei para ela. — O que é isso?

— Um docinho, para adoçar a sua vida, agora vai com Louise, vai. - Entreguei a bolsa dela, que já estava em cima da carteira, de volta e a empurrei de leve em direção a minha irmã. — Nossa, às vezes a gente tem que ser mais enfático do que gostaríamos para conseguir o que queremos, não é?

— Tenho certeza que há uma verdade nisso, porque eu não fiz nada e não consegui o que queria. - Leiris falou inexpressivo, já abrindo o livro no capítulo de cavalos alados da nossa aula teórica de Trato das criaturas mágicas.

— Exato! Agora que já estabelecemos isso, vamos começar a tratar de negócios. - Falei determinado, tirando meus pergaminhos cheios de anotações preciosas e não o livro bobo da classe de hoje.

— Por que eu tenho a impressão de que você não vai me deixar assistir a aula em paz? - Leiris falou olhando para frente, com o máximo de expressão que ele consegue fazer.

— Não aja como se eu não estivesse fazendo tudo isso por você também! Mas bem, vamos falar do time de Quadribol de... Não, não faça essa cara! - Apontei para o cenho franzido e ar de criatura assassina que é uma das cinco expressões que Sebastian Leiris tem em seu arsenal. — Para te ajudar, temos que começar ajudando os amiguinhos!

— Eu já ajudei mais do que eles merecem e você mesmo disse, Lo Presti não quer conversar, pela primeira vez na vida eu vou ter que concordar com ela. - Ele falou folheando o livro com desinteresse, então eu só revirei os olhos.

— Você e Lo Presti se merecem, mas não romanticamente, claro, porque eu tenho outros planos para ela, enfim... Mas isso não é da sua conta! - Falei a frase final com sentimento, porque vi um brilhinho de curiosidade no fundo daqueles olhos escuros. — De você quero apenas que leia essas anotações aqui e me diga o que acha... Por hora.

Passei os mesmo pergaminhos que apresentei a Sartori, para ele falar com Lo Presti e a única coisa que eu consegui naquela conversa com os italianos foi mais um enorme discurso de como o sistema é vendido e que é um grande absurdo os alunos de Beauxbatons terem que usar de artifícios para atrair algo que já deveria ser deles por direito.

Maria Antonella Lo Presti é a criatura mais teimosa que eu já conheci na vida.

A professora de Tratos entrou na classe com aquele cheiro característico de estábulo impregnado em suas vestes e acenou com a sua mão mecânica para que voltássemos a sentar, enquanto colocava uma pequena jaula coberta por um pano negro sobre sua mesa.

Essas coisas de etiqueta, de sentar e levantar quando uma autoridade ou simplesmente uma mulher entra em uma sala, já estavam bem assimiladas pelos alunos de Hogwarts agora, então nos sentamos sincronizados, como os alunos originais de Beauxbatons.

Quase não dava mais para distinguir quem era daqui e quem estaria de volta a Escócia em três meses. Uma lástima, realmente.

— Bem, bem, crianças, hoje vamos analisar uma criaturinha fascinante! - Ela falou animada e era engraçado imaginar madame Issu nos tempos de escola, porque embora fosse de Luxemburgo e por isso mesmo tenha estudado em Beauxbatons, ela não parecia ser o tipo de garota formada pelos franceses. — Temos aqui um exemplar de Farosutil, que estava visitando o HECCMA de Barcelona, ali do lado! É ou não é uma coincidência fortuita?

— Achei que fossemos estudar cavalos alados agora! - Paxlité, uma garota loira, um pouco gordinha para os padrões franceses, falou mais alto do que pretendia lá na frente, depois se encolheu constrangida.

A turma deu aqueles risinhos bobos para a indiscrição da menina, que parecia vermelha como um tomate de tão envergonhada. Revirei os olhos para a idiotice de meus colegas - era uma afirmação perfeitamente lógica a dela, já que havíamos parado no segundo tipo de cavalos alados na aula passada - mas preferi ver Leiris fazendo um sinal de quem concordava com o que estava terminando de ler.

Ele enrolou meus pergaminhos bem apertados e me devolveu antes de tecer seu parecer em voz baixa, para não atrapalhar a  aula.

— O plano é bom, acho que um pouco de visibilidade e objetivo fariam bem para aqueles jogadores. - Percebi que ele evitou a palavra “atletas” de propósito, porque Sebastian é um idiota. — O que Lo Presti achou disso?

— Que não é o caminho certo, já que está claro que se o patrocínio é para toda a escola, os jogadores não devem fazer algo tão extravagante para conseguir o que é seu de direito. - Falei mal-humorado e Leiris deu um sorrisinho sarcástico, como se já imaginasse isso. — Ela ficou animada com a perspectiva de terem um campeonato para participar, mas acha que antes a equipe precisa de apoio para se fortalecer e se tornar competitiva.

— Lo Presti é a rebelde mais acomodada que se tem notícias, é por isso que os planos dela nunca dão certo: ela acha que o melhor caminho é parar como uma pedra no meio do caminho dos outros, até incomodar o suficiente para ser notada. - Ele falou tomando nota do que a professora escrevia no quadro negro, então me olhou com ironia. — Só que quem tem força, prefere chutar uma pedra do que ouvi-la. 

— Ou contornam... Enfim, ela não está totalmente errada no raciocínio, no entanto. - Apontei com cuidado e Leiris franziu o cenho, sem olhar para mim. Comecei a tomar nota da aula, porque madame Issu adora apagar o quadro antes da hora. — Se a equipe de Beauxbatons entrar em campo contra qualquer uma de nossas Casas, sem treinar direito e sem ter o devido apoio, eles podem colher o resultado oposto do que querem: vergonha e falta de crédito.

— Hogwarts nem sequer é uma realidade ainda, soube que a data da entrega das obras foi adiada e mesmo assim o campeonato de vocês não começaria ainda nesse ano letivo. Lo Presti tem mais tempo do que precisa para por uma equipe em forma. - Ele falou sem paciência, escrevendo rápido como uma máquina.

— Não acho que o problema dela seja tempo e sim estrutura para...

— “Estrutura de treino para conseguir alcançar o padrão de vocês”, eu já sei esse discurso dela nos mínimos detalhes, Fábregas! A garota é uma maldita pedra irritante no meu sapato... - Ele rosnou baixinho, tenho certeza que se a capitã de Quadribol italiana estivesse aqui, ele lançaria uma maldição imperdoável nela.

— Se já sabe, por que se finge de morto então? - Perguntei sarcástico, fazendo ele parar de escrever furiosamente em seu pergaminho para me encarar.

— Lo Presti quer que a gente divida nossa estrutura de treino com eles, nossos equipamentos, poções e qualquer coisa que venha no pacote, como se pudéssemos fazer isso em um estalar de dedos. - Ele fez o gesto e eu o olhei com condescendência.

— Thanos dizimou metade do universo com um estalar de dedos, porque ele não tinha essa má vontade que você tem. - Falei sabiamente, sabendo que Leiris não entenderia a minha referência trouxa.

— Quem é Thanos? Tem a ver com o Deus grego da morte? - Ele perguntou curioso e eu desfiz do assunto com um gesto de mão.

— Provavelmente, não sei, mas em todo o caso: por que é que você não pode ceder uma parte, nem me atrevo a dizer metade, só uma pequena parte de suas coisas para os jogadores de Quadribol poderem começar a se profissionalizar? - Perguntei calmamente, porque Sebastian Leiris é francês e por consequência, melindroso.

— Porque isso provavelmente faria o rendimento dos meus esgrimistas cair consideravelmente! Toda semana eu preciso preencher o relatório do desempenho deles, preciso fazer o registro do progresso e você sabe qual é o tamanho da minha lista de espera para entrar na equipe? Ou simplesmente para fazer parte dos atletas titulares? O rendimento caiu 17% só com a distração da chegada de vocês no início da temporada, imagina o que nos custaria dividir espaço com os selvagens do Quadribol!

— É agora que você deveria dizer “sem ofensa”, já que eu sou um jogador de Quadribol. Não? Tudo bem, então deixa eu te perguntar uma coisa: se a equipe de vocês é tão boa, porque uns numerozinhos insignificantes controlam a vida de vocês? O período de adaptação significaria...

— Uma temporada inteira! O sonho de vários esgrimistas que estão em seu último ano e precisam mostrar serviço agora para serem aceitos nas faculdade ou times que querem! - Ele me interrompeu irritado, depois baixou o tom de voz, porque a professora olhou para o nosso lado um pouco chateada pelo barulho na aula. — Todo mês eu tenho que enviar os relatórios e todo mês os FerrZ mandam a resposta de quem continua e quem está fora da equipe, não quero ser o responsável por arruinar os sonhos de meus esgrimistas, que são muito mais importantes que Lo Presti e sua turma de chorões!

Ok, agora o que Tony falou sobre a cobrança deles, dos técnicos da FerrZ, ser pesada faz todo sentido e faz também todo sentido o porquê do Conselho de Hogwarts ser tão relutante em colocar esse sistema na nossa escola, quero dizer, é um sistema meio... Brutal.

— Está me dizendo que não podem aceitar os jogadores na arena porque isso poderia arruinar as chances de vocês, não no campeonato e sim com o patrocinador? - Perguntei cautelosamente, porque o que eu temia estava correto. — Lo Presti sabe disso?

Há problemas com o jeito que Beauxbatons lida com as coisas, mas também temos problemas com o sistema de cobrança do Conglomerado FerrZ.

— Lo Presti não se importa com isso, ela não se importa com o que ela chama de “desculpas esfarrapadas” e o mais importante: ela quer ter o que nós temos, mas não está disposta a fazer o que nós fazemos. - Ele sinalizou para minha mochila com a pena, antes de voltar a escrever e dar o assunto por encerrado. — Você mesmo viu como ela reagiu ao seu plano de ajudá-la, no fim das contas, a verdade é que ela não quer ajuda, ela só quer ter alguém para por a culpa de seus próprios fracassos.

Oucth, essa foi pesada!

Tenho certeza que um duelo entre Leiris e Lo Presti seria terrível, porque os dois tem uma opinião forte e excelentes argumentos. Ainda bem que meu plano de fazer uma reunião com os dois ainda não foi posto em prática, teria sido um desastre juntar esses dois...

A menos que...

— E se eu te disser que talvez tenha um jeito de fazer Lo Presti parar de ser tão teimosa e te escutar? - Falei com cautela, esperando Sebastian demonstrar interesse novamente.

— Isso pouco me importa, por mim ela pode continuar mandando cartinhas para o Conselho e me olhando torto pelos corredores. - Ele falou levemente debochado, o máximo que um ser morto por dentro poderia fazer, claro.

— Ah, para! Até parece que você gosta de ser o vilão da história... - Cutuquei ele na altura das costelas, com bom-humor, e ele só me deu um olhar de morte. — Você sabe muito bem que, se fizermos as coisas da maneira certa, você pode deixar uma marca nessa escola muito mais legal e importante do que mais um título de esgrima!

— Títulos de esgrima são mais importantes do que qualquer coisa para Beauxbatons! Mas agora vamos falar de algo curioso: o que você ganha com tudo isso? - Ele perguntou cético e eu sorri inocente, dessa vez.

— Infelizmente não é questão de ganhar ou perder, eu apenas não consigo ficar quieto na minha, deixando a vida e as oportunidades passarem por mim, sem fazer nada para melhorar as coisas! - Falei tentando soar menos louco do que eu sou, mas Leiris apontou para meu bottom com ironia.

— Aí diz 46 dias sem malignidade, alguém com um broche que controla o nível de dias sem fazer nada errado, deveria praticar deixar a vida seguir seu curso, sem se intrometer nos assuntos alheios. - Ele alfinetou desnecessariamente, mas sorriu um pouco menos cruel depois. — Mas confesso que admiro os inconformistas.

— Todo mundo admira, mas poucos percebem que não custa muito se tornar um. Às vezes a gente só precisa dar um passo para trás, para ver o quadro por inteiro. - Falei com sabedoria, depois completei, para caso ele não tivesse entendido. — E com isso eu quero dizer que você literalmente vai ter que arriscar sua média perfeita na esgrima, para talvez conseguir algo ainda melhor para toda a escola!

— Eu tinha entendido, você estragou o efeito com essa explicação. - Sebastian revirou os olhos com uma expressão mais bem-humorada, então esperou a professora sortear a primeira dupla que iria lá na frente fazer esboços e anotações sobre a cobra de três cabeças que ela havia trazido para a classe. — Mas então, qual é o seu plano com Lo Presti?

— É bastante simples, na verdade, envolve a gente conquistar a confiança de uma pessoa, convencer que o que nós queremos para o esporte de Beauxbatons, como um todo, é real, possível e bom e por fim, ajudar essa pessoa a fisgar o coração de Lo Presti. - Encerrei com um sorriso animado.

— Quê?

— Vamos convencer a garota que é apaixonada por Lo Presti a convencê-la de que a nossa visão de mundo é boa e então vamos ajuda-la a fazer Lo Presti se apaixonar por ela e sim, elas são lésbicas, não faça alarde por isso, eu tenho um namorado, só para você saber! - Coloquei as cartas na mesa, antes que Leiris começasse a focar nas coisas erradas.

— Eu não me importo nem um pouco com essas coisas de sexualidade, estou mais interessado em saber como pretende fazer Lo Presti se apaixonar por uma garota! - Ele faloi exasperado e eu o respondi sem paciência.

— Ela é lésbica, achei que tivesse deixado as coisas bem claras! - Cocei minha cabeça com irritação - e sem modos, já sei, já sei! Tantas aulas de etiquetas já estão tendo efeitos negativos em mim, antes eu nem teria notado! - pela burrice desse garoto!

— Isso é irrelevante, Fábregas! O que eu quero dizer é que você não pode basear todo seu plano na ínfima possibilidade de Lo Presti se apaixonar justamente pela pessoa que você quer! - Ele falou entredentes, como se quisesse me esquartejar por não acompanhar seu raciocínio.

Resolvi confirmar que estávamos no mesmo ponto do plano.

— Então estamos de acordo que podemos convencer alguém que a ideia de jogar com Hogwarts é boa? Alguém que não seja Antonella Lo Presti, digo, aquela ali só nascendo com orelhas extras para ouvir alguém. - Ri da minha própria piadinha sem graça e Sebastian me olhou com ceticismo.

— Estou de acordo com essa parte do plano, porque tenho a impressão de que você costuma ter tantas malignidades na sua conta, justamente porque é muito bom de convencimento, convenceu até a mim, veja só! - Ele havia apontado novamente para meu broche, mas agora pegava seu pergaminho, pena e tinteiro, porque era a vez da nossa dupla ir olhar de perto a criatura da aula de hoje. — Mas e quanto a Lo Presti se apaixonando? Qual é o plano exato?

— O plano é pegar a candidata certa e fazer dela alguém por quem a nossa querida capitã turrona se apaixonaria perdidamente. - Acompanhei Leiris até a mesa da professora lá na parte de baixo da sala em forma de teatro. — E não me olhe assim, a menina em questão já é apaixonada por Lo Presti, então no fim das contas estamos fazendo algo que também é em nome do amor.

— Flamel nos ajude, acho que vou vomitar com esse discurso meloso... Mas, de quem estamos falando exatamente? - Leiris falou com uma careta, como se realmente estivesse enjoado com todo esse papo de amor.

Não posso culpa-lo, isso é coisa de Louise e Dominique!

— É uma garota bem legal e acho que nem vai nos dar muito trabalho, porque ela é bonita e tem um certo charme único, só precisamos... Dar a ela um pouco mais de confiança. - Enrolei até que chegássemos na mesa, bem diante da cobra laranja de três cabeças, bastante irritada com toda aquela agitação ao seu redor.

Quem, Fábregas? - Sebastian rosnou baixinho para mim, enquanto começava a tomar nota das características distintas de cada cabeça.

Comecei a fazer um esboço das presas que a cabeça da direita tinha diferente em relação às outras, mas eu não sou exatamente conhecido pelas habilidades artísticas. O formato dos "dentes de veneno" era mais côncavo, então anotei isso e ao lado escrevi que ela, a cabeça, parecia estar se recuperando de ferimentos feios, bem ali, onde os pescocinhos se uniam ao torço.

— Notem, meninos, como as cabeças do meio e da esquerda tentaram arrancar a cabeça da direita, responsável por criticar e avaliar os esforços das outras duas, por isso muitas vezes ela é arrancada sem dó, prejudicando o discernimento de suas irmãs impacientes. - Anotei tudo que a madame Issu falou naquele tom entusiasmado dela e o francês ao meu lado resolveu fazer uma pergunta.

— Esse sibilado irritante dela são críticas? - Ele perguntou interessado e a professora confirmou com um gesto enfático. — Não é a toa que tentam arranca-la...

— Interessante você dizer isso, porque é basicamente como se estivesse afirmando que críticas constantes podem ser prejudiciais ao grupo e por isso mesmo as outras cabeças vão lá e destroem quem só sabe apontar defeitos! - Resumi tudo com um balançar de penas perto do nariz de Sebastian, que entendeu minha indireta.

— Pelo contrário, senhor Fábregas, a cabeça da direita informa a sua irmã do meio, dona das visões e sonhos e a da esquerda, planejadora, quando elas devem reorganizar suas decisões e metas. - A professora cortou meu barato daquele jeito simpático dela, mas depois olhou carinhosamente para a criatura mágica. — Mas o sibilar, embora importante, não deixa de ser irritante, não é?

— Sim, senhora, talvez a cabeça da direita pudesse ser mais positiva em relação ao plano da cabeça da esquerda, que só está querendo o bem de todos os envolvidos! - Defendi a pobre criaturinha que só estava tentando ajudar e ficava sendo soterrada de críticas sem sentido!

— Talvez a cabeça da esquerda devesse ser honesta com as outras, contando logo o plano, porque se for alguma besteira muito grande, a cabeça da direita precisa intervir! - Sebastian falou azedo e eu revirei os olhos.

— O plano é bom e a parte bizarra veio da cabeça do meio, que vive no mundo da lua e gosta de falar de coisas de amor e essas babaquices todas! Se fosse pela cabeça da esquerda, o plano era muito mais objetivo, mas ele não é um irmão egoísta, então tem que ouvir o que os outros tem a dizer! - Me defendi exasperado, porque essa ideia de usar o “amor" no plano foi tudo ideia de Louise, não minha!

— Bem, meninos, essa foi uma discussão, err... Interessante, mas não deixem de me trazer os apontamentos sobre o Farosutil, quero pelo menos 45 centímetros, que podem sim conter ilustrações, mas nada exagerado... - Ela apontou divertidamente para Sebastian. — Adoro os esquemas de sua avó, mas quero ver conteúdo também, senhor Leiris!

Madame Issu nos dispensou com uma piscada de olho e chamou a dupla seguinte. Eu aproveitei tudo que tinha ouvido para apontar e acusar o garoto metido a perfeitinho ao meu lado, antes de retornar as nossas carteiras.

— Então quer dizer que você usa sua pobre avó veela para fazer as ilustrações de seus deveres? Que bonito... - Falei com desprezo e ele me olhou sem paciência.

— Minha avó adora desenhar e os professores gostam de ilustrações nos apontamentos, você devia... - Ele olhou para os meus rabiscos e depois fez uma careta de entojo. — Melhor você deixar seus deveres sem figuras mesmo.

— Isso é só um rascunho e... Não fuja do assunto! - Não, pera! Sou eu que estou fugindo do assunto! Sebastian pareceu perceber meu erro no mesmo momento que eu.

Mas que estúpido eu sou, meu Deus!

— Sim, voltemos ao assunto de antes: qual o nome da garota que temos que transformar na musa dos sonhos de Lo Presti? - Ele perguntou debochado e eu resolvi falar logo, como se estivesse arrancando um curativo.

— Joanna D'Lefreve.

— Joanna D'Lefreve, como em Joanna D'Lefreve que a melhor amiga me odeia e usa dois dos seus três minutos de argumentação no debate para gaguejar? - Ele se ajeitou melhor na cadeira, apertando o nó da gravata, com uma diversão cruel no fundo daqueles olhos escuros demais para cabelos e pele tão claros. — Como exatamente você pretende executar essa façanha de fazer ela se declarar para o troll das montanhas, vulgo devoradora de criancinhas, Lo Presti?

— Ah bom, Leiris, um problema de cada vez! Hoje eu já consegui te convencer a deixar de ser egoísta e trabalhar em prol da equipe...

— Não estou trabalhando em prol deles, estou fazendo isso porque essa briguinha interna faz muito mal para a escola! - Ele me cortou e depois acrescentou tardiamente algo que justificasse essa interrupção estúpida. — É diferente.

— Tá, que seja! De toda forma, amanhã nós nos reunimos para estabelecer o “como" vamos executar o plano, o mais importante hoje é focar que nós, de fato, temos um plano agora. - Falei, tentando ser otimista, mas o garoto pálido apenas me olhou de soslaio.

— Fábregas, só para saber: você percebe que me colocar na equipe, eu sendo um dos caras que mais fez da vida dessa menina e de Abigail Theuerkauf um inferno, pode ter sido o pior movimento para atingir suas metas? - Ele perguntou falsamente curioso e eu respirei fundo, para dar uma resposta mais elegante do que ele merece.

— É por isso que o Farosutil sempre acaba perdendo a cabeça direita. - Apontei com um sorriso sarcástico. — Sei exatamente como aquelas pobres cobrinhas se sentem.

Sebastian riu da minha observação, então voltou a tomar notas sobre o que vimos lá na frente da classe, junto a professora e eu fiquei pensando: será que essa merda de plano de Louise vai dar certo?

Maldita cabeça do meio sonhadora!


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Notas finais do capítulo

Estou tentando aos poucos responder os comentários, mas ainda tem muita coisa atrasada, tenham paciência, que um dia eu consigo ajustar tudo.

Bjuxxx



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