Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 133
Capítulo 133. Dois mestres em ação


Notas iniciais do capítulo

Sim, tem mestre no título, porque agora eu tenho o título de mestre. Hahaha

#real
#oficial
#pessoamaduraaqui
#alguemmepare



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Capítulo 133. Dois mestres em ação

Fred havia finalmente dado um jeito de conseguir o tal Marduk virgem e, embora eu tivesse insistido para ele começar a ver o que podia ser feito no encantamento no sábado mesmo, ele continuou com sua brincadeira sem graça de imitar os franceses falando inglês, dizendo que tinha que fazer outras coisas antes de resolver isso.

O que pode ser mais importante nessa existência inútil dele do que salvar a minha mente de uma invasão das trevas?

Bem, de qualquer forma, agora ele finalmente havia resolvido dar o ar de sua graça, aproveitando que nos domingos ele era mais desocupado do que no restante dos dias, então não tinha desculpas plausíveis para me evitar. Assim que ele sentou na mesa de estudos do nosso dormitório, comecei a bombardeá-lo de hipóteses.

Quase certezas.

— Sabe o que estive pensando? Que talvez a profecia não esteja falando de uma pessoa fazendo maldades e sim de uma coisa, nesse caso, um encantamento! - Apontei para o Marduk na minha orelha e não teria ficado irritado se ele tivesse tratado minha sugestão com deboche - deboche é a segunda língua de Fred - mas ele me olhou em dúvida.

— Acredita que o sujeito número um da profecia pode ser um objeto? - Ele perguntou cauteloso e eu dispensei a sugestão dele com uma mão.

— Objeto não, encantamento! Eu estive analisando palavra por palavra desse poeminha ridículo, como diz Erick, e estou cada vez mais convencido de que pode não se tratar de uma pessoa e sim de uma coisa! Uma coisa tipo o Marduk...

— Mas a profecia fala de algo ou alguém que destrói tudo que toca, tocar é uma ação, por isso a gente interpretou como sendo feita por alguém. - Fred apontou racionalmente e depois tirou do bolso, o pequeno quadrado de pergaminho onde o desenho que selava a magia do Marduk repousava aparentemente inofensivo. — O Marduk não destrói nada, ele tem sido útil por muitos e muitos séculos lá na África.

— Mas o Marduk agora foi corrompido! - Fred me olhou cético, mas eu continuei mesmo assim. — E nem me refiro a essa baixaria que você fez aqui, mas o fato é que meu não querido autodeclarado tio Erick corrompeu o Marduk durante anos e mesmo que Uagadou tenha reforçado a segurança agora, não dá para saber com certeza o quanto do feitiço está comprometido.

— Mas, Cesc...

— E a profecia é de Uagadou, a gente não pode descartar a ideia de que seja referente a algo na própria escola. - Dei meu xeque-mate e Fred parou para refletir um pouco, antes de responder a minha muito bem feita explanação lógica.

Eu sou um orgulho para a minha espécie e tenho dito.

— Gosto da sua linha de raciocínio, embora não ache que a profecia se trate do Marduk, porque ela tem outras partes que precisam ser analisadas em conjunto. O Marduk não tem uma consciência própria que desejaria tocar em uma alma alheia, precisaria ter alguém por trás do encantamento, para início de conversa.

— Erick. - Respondi simplista e Fred revirou os olhos.

— Não me leve a mal, Cesc, mas eu tenho uma forte impressão de que seu tio é inocente nessa história. - Ele falou com uma leve careta no rosto, então eu resolvi que não irei mais insistir nesse assunto.

Por hora.

— Ok, eu vou continuar com minhas pesquisas a respeito dos Marduk para ver se tem encantamentos que sejam equivalentes e também manterei um olho em Erick, só por precaução. - Falei com razoabilidade e Fred aceitou de boa. — Entretanto, ainda que o Marduk não tenha nada a ver com a profecia, é para falar dele que estamos aqui.

— Exatamente. Certo, vamos dar uma olhada nessa belezinha aqui, mas antes... - Fred se interrompeu para lançar um leve feitiço glamour ao nosso redor, apenas um desviador de atenção inofensivo. — Pronto, vamos aos trabalho! Alguma vez você já viu uma decodificação de encantamentos, Cesc?

O grifinório me perguntou com um toque de arrogância e eu apenas dei de ombros, porque já tinha ouvido algo a respeito nas aulas de Feitiços e de Transfiguração, mas principalmente nas de Runas Antigas.

Quando a professora dava as caras, claro.

— Não sei muito bem o que significa, é alguma forma de traduzir as matrizes mágicas em um código, tipo aqueles de computador, né? - Falei em dúvida e dessa vez Fred sorriu animado.

— É exatamente isso! A magia tem diversas formas de ser interpretada, mas, quando se trata de artefatos mágicos e encantamentos selados em símbolos, como é o caso hoje, a gente consegue traduzir essa magia em códigos visíveis. - Ele começou a aplicar alguns feitiços que eu não conhecia na pequena figura que formava um sol vermelho no pergaminho simples.

Os dois primeiros feitiços de Fred pareciam latim puro e simples, então o encantamento sumério brilhou mais escuro, me deixando intrigado. O grifinório logo aplicou mais um feitiço com um gesto intrincado de varinha, como se estivesse finalizando uma poção complexa e então finalmente pudemos ver os tais “códigos”.

Os pequenos símbolos flutuavam acima da mesa onde o Marduk repousava e Fred os selecionava, inspecionava e afastava, de acordo com algum critério louco que não fazia o menor sentido para mim, embora algumas runas fossem bastante óbvias até mesmo para alguém que não entende nada disso.

— O que você está fazendo? - Perguntei baixinho, porque não queria atrapalhar seu surto de inteligência fredistica.

— Estou verificando os tipo de feitiços que eles usaram para fazer o Marduk em toda a sua glória complexa. - Ele estalou a língua nos dentes, franzido um cenho para algo que só ele mesmo poderia interpretar. — É obviamente um encantamento muito antigo, infelizmente nem todas as configurações são passíveis de tradução para runas... Tem algumas magias que os caras de antigamente usavam que já não aparecem no nosso sistema moderno.

— Mas há o sistema de Runas antigas, não? Aqueles que vemos nas aulas? Minha ex-namorada Claire era muito boa nisso... - Falei, ainda observando Fred selecionando um símbolo em específico, desmembrando ele em vários, mas depois descartando junto com os outros, fazendo o processo do início, de novo e de novo e de novo. — O que você está procurando exatamente?

— Ainda não tenho certeza, estou apenas verificando se há uma... Espera, deixa eu checar isso. - Ele parou de repente, colocando a varinha na mesa, mas às runas continuaram flutuando em seu brilho fraco, discreto, principalmente se visto através de um feitiço para desviar a atenção como o nosso.

Segundo agora estava vasculhando em sua inseparável “caixa de ferramentas”, que ele levava para todo lugar, dentro de seus bolsos enfeitiçados ou de uma mochila ou até mesmo dentro da cueca, sei lá, o cara é doido!

Espiei discretamente o conteúdo da bolsa e até vislumbrei a caixinha maldita dele - ainda bem que ele finalmente largou ela de lado - mas ele a afastou para o canto, indo atrás do conjunto de pergaminhos que havia mais no fundo daquele negócio cheio de tralhas.

Fred parecia saber exatamente o que cada pergaminho tinha de conteúdo, sem nem desenrola-los, porque ele não hesitou em pegar o certo e ativa-lo com alguma senha mágica que ele havia inventado.

O pergaminho revelou uma lista de runas e seus significados ao lado e eu tentei ler algo por sobre o ombro dele. O garoto usou a varinha para navegar pelos escritos que pareciam não ter fim, como um rolamento de uma página da internet.

Fred Weasley II constrói computadores com magia!

Ou ao menos consegue fazer interpretações próprias de várias ferramentas de um computador através de sua excelente habilidade com a varinha, eu meio que já tinha testemunhado isso com aquele mapa do maroto em 3D, mas sempre me impressiono novamente!

É doido, mas a gente tem que admitir que é um jovem gênio doido.

Ele finalmente parou em um trecho em específico da leitura e ficou ali por algum tempo, voltei para o meu lugar de antes, conformado de que não iria conseguir acompanhar o raciocínio dele nem em 100 anos!

— Algo interessante? - Perguntei nervoso, porque era meio estranho não fazer nada em quanto os outros surtam sem minha ajuda. Ele me ignorou enquanto olhava para o pergaminho e voltava a mexer nos símbolos a nossa frente.

Depois de um tempo desligou tudo e fechou as suas anotações, com um sorriso otimista no rosto. O olhei com uma sobrancelha levantada.

— E então? - Questionei, impaciente. Ele devia estar apenas querendo provocar a minha curiosidade, cuja fama nunca foi de ser pouca ou controlada.

— O encantamento nunca teve a possibilidade de se fundir a uma pessoa, ele pode te fornecer respostas e até mesmo induzir imagens e dominar reflexos superficiais, mas não domina sua vontade realmente ou seu livre arbítrio, pode ficar tranquilo. - Fred terminou guardando suas anotações na sua bolsa “caixa de Pandora", logo voltando para guardar o Marduk roubado dele lá também.

— Como assim ele pode induzir coisas e dominar meus reflexos? Eu supostamente devo ficar mais calmo com isso? - Falei exasperado para o tamanho da idiotice de Fred.

— Ele parece dominar seus reflexos superficiais, mas na verdade só responde o que você, no fundo, no fundo, quer responder ou te leva para um lugar que você já queria ir, relaxa! Pelo que eu consegui entender aqui, o Marduk tem uma espécie de cláusula que o impede de assumir a consciência do hospedeiro, é uma daquelas regras invioláveis que...

— Até ser violada por um hacker! - Apontei para o próprio Fred, que obviamente não respeitava cláusula ou regra alguma.

— Não, não! Esse tipo de amarração é coisa séria, o encantamento não tem como “criar consciência própria, fazer mal ao hospedeiro ou ser transformado por outrem em seu cerne ético.” - Ele falou pomposo e eu quase dei um soco na cara lerda dele.

— Você obviamente nunca assistiu a um filme de inteligência artificial! As três regras básicas da robótica geralmente são chutadas para o alto ou reinterpretadas antes da primeira metade do filme acabar! - Joguei as mãos para cima, com frustração pela inocência de Fred, mas ele só me olhou com estranhamento.

— Não estamos falando de robôs, Cesc. - Ele falou com cautela e eu pedi a Merlin por paciência para não enfiar minha varinha no olho dele.

— Mas os conceitos se aplicam! Você está me falando de um encantamento que aprende, age e “fala” o que acha pertinente, mas que ele nunca iria aprender ou ser corrompido ao ponto de dominar o seu... Qual foi a palavra que você usou mesmo? Hospedeiro? Hospe... Você ouviu o que você disse? Hospedeiro! Hospedeiro pra mim é uma vítima de um parasita!

— Ok, obviamente você não está sendo racional, mas isso não é uma surpresa, eu...

— Você pare de ser irritante e subestimar a inteligência alheia, porque eu tô a isso aqui de quebrar a sua cara! - Mostrei a ele o quanto estava perto de partir pra cima daquela marra de quem detinha todos os conhecimentos da humanidade dentro de seu anormalmente grande cérebro de Weasley enferrujado.

— Tá, ok, desculpe, deixa eu reformular o que eu ia dizer: essa última runa em específico que apareceu na decodificação do Marduk sugere que há uma proteção básica para o indivíduo que faz uso do encantamento! - Ele falou com as mãos para cima, como se estivesse pedindo paciência.

— Mas você foi capaz de quebrar uma alteração que eles fizeram com um feitiço simples inventado por você! Tipo, Fred, você tem 17 anos, por mais que seja genial com essas coisas de matriz, se você pode, o que dirás alguém com muito mais tempo, empenho e má intenção!

— Ok, concordo com seu ponto e acrescento que eu não tenho como ter certeza do tipo de encantamento protetor que foi posto no cerne do Marduk, mas o pouco que eu entendi dessa parte dos códigos, os caras que fizeram esse encantamento não foram levianos com esse aspecto, o que é algo bom. - Ele pontuou, depois voltou sua atenção para a sua bolsa cheia de parafernálias.

— Não há muito que eu possa concluir do Marduk, como você mesmo disse, eu precisaria de mais tempo e conhecimento, coisa que eu não tenho no momento, então o que eu vou fazer? Vou estudar um modo de reforçar qualquer que seja a segurança dele e vou aplica-lo em mim, porque atualmente milhares de bruxos possuem esse encantamento e se é seguro para eles, é seguro para a gente também.

— Até deixar de ser... - Falei como quem não quer nada, porque se eu fosse um vilão e houvesse a menor possibilidade de eu explorar o Marduk para dominar a mente de todo mundo que já passou por Uagadou e tem esse encantamento adormecido dentro de si, eu usaria.

Ainda bem que eu sou uma pessoa boa.

— Sim, Cesc, eu acredito que todo o impossível só é impossível até deixar de ser, mas não dá para aplicar essa lógica toda vez, porque se não a gente iria surtar! - Ele fez um gesto dramático e depois me olhou com um sorriso malicioso. — E eu realmente gosto do Marduk, não estrague isso pra mim.

— Foi você que estragou ele pra mim! Você ainda não disse exatamente onde sua merda agiu aí nesse monte de código binário! - Apontei vagamente para o lugar que os símbolos da matriz do Marduk estavam brilhando há alguns minutos.

Runas, os códigos que a gente usa são as runas e o meu feitiço não é simples só porque eu consegui sintetizar seu princípio em uma palavra! Eu só não vou abrir patente ainda, porque eu atualmente estou utilizando ele em outros projetos, inclusive do Ocaso, mas assim que eu estiver fora da escola, vou escrever meu manifesto apontando as utilizações do meu feitiço e vou enviar para o setor de patentes mágicas do Ministério! Vai ser bom para o meu currículo.

— Vão associar seu feitiço ao Ocaso do mesmo jeito que associariam agora. - Falei desdenhoso, porque eu também quero ter meu próprio feitiço patenteado! Espera, manifesto não é só para treta política?

— Teriam que desmascarar todo o nosso esquema até o cerne de cada feitiço que utilizamos para poderem traçar uma associação com as minhas patentes. - Ele disse arrogante e eu tô aqui “patentes”, no plural? Aff, que ser humano odiável. — Se eu registrasse agora, enquanto ainda as utilizo ilegalmente, os sistemas de confirmação poderiam detectar a coisa toda e aí sim estaríamos ferrados.

— Ah não, não vem me falar de assinaturas mágicas ou o que quer que seja que o povo do Ministério usa para nós rastrear que nem bandidos! - Tapei os ouvidos dramaticamente e apoiei o queixo na mesa de madeira, porque tenho um verdadeiro trauma com essas coisas.

Eu quase fui preso por causa de feitiços e assinatura rastreados, se não se lembram!

— Não são assinaturas mágicas que eles checam, eles só colocam o feitiço em estado probatório para ter certeza que ele não existe em algum outro lugar. Dependendo da gravidade e complexidade do feitiço novo, eles ficam nessa palhaçada por até 10 anos!

10 anos?

— Palhaçada mesmo, que burocracia fodida é essa? - Resmunguei com dificuldade, porque o queixo pressionado na mesa não me deixava articular as palavras muito bem.

— Em estado probatório você já consegue ganhar o dinheiro pelo uso em produtos e serviços particulares e não me olhe assim, eu não criei feitiço para uso de gente comum, o meu trabalho consegue resgatar a memória de encantamentos até a sua primeira versão completa, isso seria perfeito para curser breakers, inomináveis e até em hospitais! Eu quero monetizar meus talentos.

— Que discurso adorável, você vai cobrar por feitiços... - Falei debochado, porque esse era o cúmulo do capitalismo: pôr um preço no conhecimento.

— No futuro eu até posso disponibilizar os manuscritos dos feitiços para escolas ou algo assim, mas só feiticeiros com muito prestígio e obras terminadas podem se dar ao luxo de não cobrar por seus trabalhos, já que ganham com publicações e feitiços encomendados. - Ele me olhou com um pouco de diversão, dando de ombros. — O que seria do meu pai ou até mesmo do pai de seu namorado se saíssem por aí contando os encantamentos que compram e usam em seus produtos?

— Seriam pessoas menos arrogantes, provavelmente... - Resmunguei pra mim mesmo, depois me espreguicei, porque Fred não tinha nada mais para acrescentar na minha vida e eu sempre posso usar um domingo tedioso para dormir, não é? — Ok, obrigado pela quase ajuda, já vou indo então...

— Espera, tem um negócio que eu queria te perguntar antes de você sair! - Ele falou soando ansioso, então eu voltei, cheio de interesse. — Pode desmontar a cara de curiosidade, é coisa boba.

— Sei... - Sorri com ainda mais interesse e ele me olhou com cinismo.

— Tá, acredite se quiser! Na verdade eu queria só saber um pouco mais sobre Bertrand. - Ele disse displicente e eu franzi o cenho, não há nada de “bobo” em querer saber mais sobre Juliet Bertrand, o que diabos Fred tá querendo descobrir? — Você por acaso sabe qual é a família que ela e Aizemberg compartilham?

— Eu por acaso sei, mas por que você está interessado nisso? - Falei malicioso, porque já sabem, adoro aquela leve intriga.

Bem longe de mim, claro.

— Você não vai querer se envolver... Apenas diga logo! - Ele me pressionou irritado e eu me fiz de desentendido. — Tá, ok, eu falo!

O olhei por sobre o ombro, fingindo pouco interesse, sentado de costas para ele, esperando ele falar, mas Segundo parecia estar escolhendo muito bem suas próximas palavras.

— Se for para mentir, eu...

— Estou desconfiando que a caixa de música não pertencia a Uagadou realmente, ela pode ter... Sabe? Pertencido a esse outro ramo da família dos dois, mas eu não estou por dentro da genealogia das serpentes, por isso estou aqui te perguntando!

— A caixinha de musica maldita pertence a Bertrand e Aizemberg? Ew, isso explica porque é tão absurda! Estou surpreso que você ainda não tenha devolvido essa porcaria aos donos... Por que você ainda está com isso? - Falei com desprezo e Fred cruzou os braços, irritado.

— A caixa pode ter pertencido a família dos dois, mas isso no passado, Cesc! Não vamos esquecer as circunstâncias em que eu a achei. - Ele falou com dignidade e eu sorri travesso.

— Que você a roubou. - Relembrei preciso. Fred revirou os olhos.

— Que eu a resgatei do esquecimento em um poço! - Ele replicou mal-humorado, depois apontou para mim daquele jeito irritante dele. — Mas você ainda não respondeu minha pergunta: qual é a família que Aizemberg e Bertrand tem em comum?

— Não é óbvio? Dois meliantes, de que família eles poderiam ter vindo? - Falei divertido, mas depois me corrigi antes que Fred me repreendesse, como o bom grifinório falso moralista que ele é. — Ok, brincadeiras a parte, na época que o parente deles fugiu da cadeia, todo mundo ficou se borrando de medo, minha mãe até achou que o cara ia fazer um atentado no jogo de aposentadoria de sua tia lá em Ikley Moor!

— Espera, você está me dizendo que a caixinha pode ser...

— De um Lestrange? É isso mesmo que eu estou dizendo! - Falei vitorioso e Fred continuou me olhando com aquela cara chocada dele, toda enferrujada. — Devia ter se livrado da caixa quando teve a chance, tomara que eles te cacem no inferno!

Falei essa última parte para um Fred já se levantando e fazendo um gesto obsceno para o meu comentário espirituoso. Mas sério, quem não sabia que aquela caixa de música só podia estar associada com bruxos das Trevas?

Não que todos os Lestrange sejam maus, eu não me atreveria a ir tão longe e dizer isso, mas o núcleo da família que herdou o sobrenome do clã é todo encapetado, o único que ainda está vivo, agora é fugitivo, então eu ainda acho que a melhor saída para Fred é se livrar dessa caixinha imediatamente.

Vai que a loucura Lestrange em Juliet e em Samuel fala mais alto e eles resolvem que vale a pena mais uma geração em Azkaban para ter seu artefato familiar de volta? Nunca se sabe...

***

Tomei meu café da manhã correndo na segunda, apenas para dar tempo de terminar uns apontamentos de Poções que eu havia esquecido de fazer no meu domingo livre.

Bem, eu não estava indo mais tão mal assim na matéria, como eu ia quando estava em Hogwarts, com Bradbury principalmente, mas eu também não sou o que pode ser considerado um “bom aluno”.

Estava quase terminando o último tópico do último capítulo estudado, quando Louise sentou e jogou um envelope em cima do meu pergaminho com a tinta ainda molhada. Protestei pela falta de modos dela.

— Hey, a tinta ainda está fresca, você poderia ter causado uma bagunça aqui! - Falei procurando ver se ela não tinha borrado alguma coisa, mas a obtusa da minha irmã parecia alheia a minha reclamação.

— Dá uma olhada na carta que recebemos! Na verdade, todos os alunos de Hogwarts receberam, vai por mim, parece importante. - Parei de assoprar meu pergaminho para olhar para a cara sonsa de Louise.

— É uma carta oficial? - Ela confirmou com a cabeça, então eu rasguei o envelope de qualquer jeito e li a mensagem curta com curiosidade. — Hum... Eles vão adiar a nossa volta? Por quanto tempo?

— Eu não sei, mas isso importa? O que realmente me chamou atenção foram esses pequenos “contratempos” na obra que eles disseram. Do que deve se tratar? - Ela me perguntou ainda olhando para seu próprio envelope, com um leve rasgo na lateral.

— Deve ter acabado a tinta vermelho-bordel que eles usaram para pintar a sala comunal da Grifinória. - Dei de ombros divertido e Louise me olhou com seriedade. — O quê?

— Se fosse algo bobo, você acha mesmo que eles teriam feito um comunicado oficial? Nesses anos todos vendo como o Conselho de Hogwarts age? Eles devem ter nos contado apenas porque se tornou uma situação insustentável! - Ela falou com dramaticidade e eu suspirei pesado para o que eu tenho que aguentar em uma segunda-feira de manhã.

— Eles só disseram que a data mudou, Louise e não que estamos desabrigados por causa de um apocalipse de proporções...

— Eles não falaram uma nova data, significa dizer que não há previsão para a resolução do problema! - Ela apontou exasperada e eu concedi um ponto a ela.

— Sim e a gente não tem nada com isso, você lembra do que Erick disse, não é? Hogwarts vai ficar bem, vai tudo ficar maravilhoso de novo, só é necessário um ajuste aqui, outro ali, nada demais! - Falei confiante, mas Louise parecia não compartilhar da minha tranquilidade. — Você quer que eu ligue pra ele e pergunte de novo, quer, pufosinho assustado?

— Você se importaria? - Ela falou ansiosa, mordendo o lábio inferior, então eu saquei Caveira do bolso e fiz a ligação para Enrique, Erick iria vir por tabela.

Cumprimentei meu namorado metido a trabalhador como de praxe - dizendo para ele parar de enrolar na copa de Ikley Moor e ir logo tirar as cópias que Hector havia pedido - então tive que esperar até ele chegar no escritório de Erick e Váli, onde o fim do mundo estava sendo planejado minuciosamente.

— Olá, Erick, não pretendo tomar muito do seu tempo, só queria que você repetisse aquele lance que você falou para mim, Enrique, James e Hugh lá em Portugal. Você disse que Hogwarts ia ficar bem, não foi?

— Isso, Hogwarts vai ficar mais do que bem, vai ficar novinha em folha, recauchutada, como dizem os cirurgiões trouxas. - Ele falou divertido, enquanto continuava a preencher um pergaminho com só metade da atenção em nós. — Mais alguma coisa?

— Sabe me dizer qual foi o contratempo que fez a reinauguração da escola ser adiada? - Perguntei sem grande alarde, aproveitando do bom humor da criatura das Trevas.

— A reinauguração foi adiada? - Enrique voltou a câmera para si mesmo e eu o dispensei com um gesto de mão.

— Foi, mas fica quietinho, por favor! Sim, Erick, voltando... Você sabe o motivo? - Questionei novamente, mesmo sabendo que ele tinha ouvido muito bem da primeira vez.

— Sei sim, foi... - Ele riu consigo mesmo e eu dei aqueles segundinhos necessários até ele voltar a falar sério, olhando para a câmera. — A magia tem um senso de humor refinadíssimo, ela... Enfim, foi um contratempo esperado, mas... Vai dar tudo certo, prometo.

— Esperado por quem? - Perguntei desconfiado e ele deu de ombros.

— Por mim. - Respondeu simplista e eu e Louise nos entreolhamos. — Não façam essas caras, não havia nada que vocês pudessem ou possam fazer e eu também não posso me intrometer em assuntos que não me competem, isso iria estragar a poesia da coisa.

— Poesia? Do que diabos você está falando, Erick? Você sabia que Hogwarts ia ter problemas na reconstrução e não avisou a ninguém? - Ouvi a voz indignada de Enrique, mas Erick ainda ostentava sua cara cínica na frente da câmera do celular.

— Eu disse a vocês que a vadia da Mãe Natureza precisava de um tempo para recuperar o brio, mas vocês me deram ouvidos? Quando digo vocês, estou me referindo aos bruxos e bruxas a frente de Hogwarts, não vocês, crianças adoráveis, enfim... Ninguém me deu ouvidos. - Ele deu de ombros, com aquele toque de charme antigo dele.

— Hogwarts não estava pronta para a reconstrução, é isso? - Louise perguntou cautelosamente, porque ainda tinha um pouco de medo de Erick. Ele sorriu com gentileza para ela.

— Basicamente, minha criança, mas não se preocupe, a Natureza dá e a Natureza toma, as terras escocesas, logo, logo estarão no mais perfeito equilíbrio. - Ele sorriu, mexendo distraidamente em um conjunto de agulhas gigantes, que devia ser algo muito diferente disso.

Deviam ser algo das Trevas, já sabem.

— E então Hogwarts ficará bem... - Falei, só checando mesmo, porque a gente sabe como Erick faz questão de esconder o jogo.

— É só com isso que se importam? Pois bem, Hogwarts estará curada em breve, como o desejado e não, não posso falar mais nada sobre isso, porque agora entramos em uma parte muito importante do jogo. - Ele falou olhando diretamente para Enrique, por trás da câmera.

Voltou seu olhar para mim e para Louise como se estivesse empolgado com o que estava por vir.

— Achei que não pudesse mais ver o futuro, Erick ou você estava blefando naquele dia? - Perguntei inexpressivo, depois completei, desafiador. — Ou está blefando agora?

— Não blefo com você, sobrinho, não mais. - Ele falou com um sorrisinho travesso, depois fez um sinal para alguém fora do nosso campo de visão, provavelmente Váli. — De qualquer sorte, não estava mentindo quando disse que não tenho mais a mesma facilidade para olhar o futuro e suas possibilidades, mas acontece que às vezes, só às vezes, vejam bem...

Ele pausou a fala, depois levantou o dedo em riste na frente da câmera, um mestre dos palcos, senhoras e senhores.

— O quê, insuportável? O que ia dizer? - Falei sem paciência, tentando cortar o suspense que ele estava arrastando por mais tempo do que devia.

Como sempre.

— Às vezes o futuro grita. - Ele falou a última palavra em um sussurro, depois riu sozinho, como quem sabe uma piada que no fim só vai fazer sentido para ele. — Sim, Cesc, só vai fazer sentido para mim mesmo, infelizmente.

— Para de ler a minha mente, demônio! - Desliguei a chamada, mas depois mandei uma mensagem de despedida mais apropriada para Enrique, mandando ele ir trabalhar e parar de falar com Erick para sempre!

Ele me mandou um bonequinho dando de ombros e um gif da Capitã Marvel debochada. Palhaço! Olhei para Louise, com um sorrisinho inocente, afinal, tinha ligado para Erick só para acalma-la, né?

— E aí, mais tranquila? - Perguntei falsamente animado e ela só me olhou com uma cara de enterro.

— Não.

Ah bom, ao menos eu tentei!


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Notas finais do capítulo

Ok, ok, crianças lindas, deverzinho de casa para quem quiser relembrar o momento em que o nosso adorável Erick explicou a situação de Hogwarts, recomendo particularmente a metade final do Capítulo 115. Onde a verdade se encerra.

Bjuxxx



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