Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 130
Capítulo 130. Campo de batalha definido


Notas iniciais do capítulo

Combinei com as meninas do grupo do Whatsapp que postaria primeiro esse capítulo aqui e um outro amanhã, complementando. Espero que se divirtam!



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Capítulo 130. Campo de batalha definido

Era uma boa coisa que as duplas de aula em Beauxbatons não eram tão rígidas quanto as de Hogwarts. Claro que lá na escola a gente podia trocar de parceiro também, mas aqui ninguém te olha torto se você abandona a sua irmã, primeiro pelo capitão da equipe de esgrima e depois por um dos gêmeos italianos do Quadribol.

Que fique registrado que só conseguimos separar os gêmeos quase siameses porque Louise deu em cima descaradamente do de cabelo preto, para você ver o quanto estamos comprometidos com a causa de salvar essa escola do caos total!

E não, não estou sendo dramático ao comparar essa bagunça no meu esporte favorito com o caos total, voltemos para o assunto.

A cópia loira, de cabelo comprido, olhou para a carteira do lado com um sorriso enigmático para o seu gêmeo - essa coisa de ligação empática realmente existe? Acho que a minha com Louise veio com defeito - e depois voltou a transcrever, bem-humorado, as partes do feitiço que estávamos aprendendo hoje.

— Você escreveu errado, é um “i” no lugar do segundo “e” que você colocou. - Apontei solícito o erro no papel, mas o garoto só me olhou com uma cara de paisagem.

— É a versão italiana. - Ele disse cínico, voltando a escrever e eu fiquei olhando para aquela cara confiante dele, tentando me lembrar se algo assim era possível.

Os italianos têm a maior taxa de feitiços mal-executados por problemas de postura ou pronúncia.

Bem, não era a informação que eu estava procurando, mas vai ter que dar para o gasto.

— Tenho certeza que não há uma versão italiana, a menos que seja a versão errada da coisa. - Falei divertido, mas Sartori apenas olhou para frente, com aquele sorriso falso de quem diz “o que eu fiz para merecer isso?”.

Você tentou dar apoio para seu irmão conseguir um encontro com uma garota bonita, foi isso que você fez para merecer isso, otário!

— Sério?

— Sério, esse feitiço é em latim, uma alteração de pronúncia e postura podem causar um efeito colateral difícil de prever. - Falei com convicção e ele parou para me observar de soslaio. — Você só pode fazer do jeito italiano, os feitiços que são italianos mesmo, o resto das alterações vai ser só consideradas erros de um bruxo inapto.

— Só para deixar claro, essa coisa de que fazemos feitiço errado é só boato, nós italianos somos bruxos excelentes! - Ele falou de um jeito enfático, que também era muito associado ao pessoal da Itália.

Italianos do Sul costumam ter gestos corporais de ênfase característicos, quase como uma segunda língua oficial.

— Você é do Sul da Itália? - Perguntei curioso com essa informação vinda do nada que eu lembrei e ele sorriu, respondendo ainda escrevendo.

— Sim, sou da Sicília: eu, Matteo e Antonella. - Pietro falou orgulhoso e eu não seria aquele que apontaria que era óbvio que ele e o irmão deviam ser do mesmo lugar. — Por que a pergunta?

— Seu sotaque lembra o de um amigo que adora quadribol... - Menti pelo bem da conversação, mas mudei o assunto para aquele que era o verdadeiro motivo da troca toda. — Falando nisso, o quadribol é forte na sua região também?

— Mais forte do que aqui, com certeza! Sabe, meu irmão e Antonella até hoje se arrependem por ter vindo estudar na França, porque os dois tem pretensão de seguir carreira, mas o quadribol daqui é péssimo, Beauxbatons consegue ser ainda pior do que o restante do país, que já não é muito bom por natureza! - Ele tagarelou dando de ombros, então me vi obrigado a fazer uma pergunta mais típica de uma conversa amigável e menos do arsenal de interrogatório da MACUSA.

— E quanto a você, não quer ser profissional também? Não gosta tanto assim de quadribol?

— Até gosto, mas eu sou mais dos esportes de inverno mesmo. Na Sicília eu não teria a menor chance de encontrar algo como os Pirineus pra treinar e como eu pretendo me inserir no circuito trouxa depois que eu me formar, está tudo certo para mim. - Ele me olhou com aquela tranquilidade típica de quem já tem toda a vida resolvida e eu não podia estar mais feliz por esse garoto gostar de ouvir a própria voz.

Aparentemente eu escolhi o gêmeo tagarela certo para meu esquema de recolher informações para a missão: ponto para mim!

— E Antonella e Matteo? O que eles pretendem fazer depois de se formarem? Os anos aqui em Beauxbatons não podem ter feito bem para o currículo deles... Como vão conseguir patrocinadores, por exemplo? -Falei, fingido estar somente com metade da atenção na conversa.

Desenhei com cuidado o esquema da postura do feitiço Denigro— o elementar de ferrugem, que só atinge objetos não-mágicos - com a pena quase seca para o traço ficar bem fino, porque esse era um daqueles encantamentos que exigiam o perfeito balançar de varinha e eu não queria todo o meu diagrama manchado de tinta.

— Eles vão se virar, são realmente bons, embora seja difícil ter parâmetro já que Beauxbatons só participa de campeonatos amadores e tem apenas um time. - Ele apontou quase acusador e eu só vim entender quando ele terminou o raciocínio. — Devia ficar grato que foi para Hogwarts e não veio para cá, porque lá vocês pelo menos têm um campeonato interno forte e competitivo!

— Eu sou grato! Por isso mesmo que estou tentando incentivar o quadribol daqui! E quer saber de uma coisa? Talvez a rebelião de vocês tivesse dado certo, se vocês tivessem o mesmo apoio popular que o pessoal da esgrima tem e que nós temos lá no Reino Unido. - Falei ainda focado nos meus próprios apontamentos, mas sabendo muito bem que ele tinha ficado interessado no assunto. Pietro se mexeu inquieto.

— O que quer dizer com isso?

— Bem, em Hogwarts só temos o quadribol e as aulas de voos nos primeiros anos como atividades físicas, então as pessoas ou querem muito fazer parte da equipe ou adoram assistir as partidas... O resto de nós se interessa por outras coisas, mas não são muitos, se quer saber.

— E isso é bom?

— É limitado como Beauxbatons, mas a verdade é que ao primeiro sinal de problemas com o nosso jogo, a escola toda se une para reivindicar e isso sim é bom. - Falei como quem não quer nada, dessa vez olhando para a expressão do garoto italiano, que havia parado de escrever suas anotações da aula. — Ninguém mexe com o Quadribol em Hogwarts.

— Isso foi o que eu ouvi dizer... Mas como eu disse, vocês tem sorte, tem tradição no esporte, já aqui as pessoas vão assistir e torcer pela esgrima e enrolar nas aulas de educação física, e só porque é obrigatória! - Ele falou com sentimento, me olhando chateado. — Nós do quadribol não temos nem jogos direito para ter torcida, ninguém se interessa pelo esporte escolar, só os jogadores mesmo.

— Ter alguns poucos alunos que se importam com o esporte escolar já é mais do que o suficiente. - Falei conclusivo e ele me olhou desconfiado e com motivo, isso que eu acabei de dizer não queria dizer nada com nada. Completei o raciocínio de um jeito provocador. — Embora seja internacionalmente conhecido o quanto os italianos gostam de reclamar da vida, há outras coisas que podem ser feitas para demonstrar a sua insatisfação com o rumo que as coisas estão tomando, meu caro Sartori.

— Mais um preconceito gratuito com italianos?

— Pelo contrário, reclamar é bom, mas só quando vem com mudanças! Veja só: - Tirei da minha pasta um par de pergaminhos, onde eu tinha tomado a liberdade de listar possíveis soluções para os problemas dos jogadores. — Falta a vocês: patrocínio, estrutura de treino e apoio da torcida, porém, por sorte, não tem nada nessa lista que seja impossível de conseguir.

— Ah, nossa, que bom que temos as soluções assim tão simples, pena que somos burros demais para ver, não é? - Ele respondeu sarcástico e eu sorri inocente.

— Sim, mas agora eu estou aqui, então vamos ver o que pode ser feito. - Falei divertido, apontando para o pergaminho com o meu “esquema de jogo” vencedor. — Patrocínio vamos deixar por último, porque vocês até tem um, mas “os caras” não dão a mínima para vocês.

— Que caras? - Ele perguntou com uma careta.

— Os FerrZ, os donos da grana toda, mas como eu disse, vamos voltar ao principal: estrutura física. - Falei animado, porque precisava primeiro contaminar um dos braços direitos - no caso, ela tem dois - da capitã Antonella Lo Presti, antes de partir para cima dela.

Todo mundo na escola sabe o quanto essa garota é teimosa, ela coloca uma coisa na cabeça e vai até o final com isso, então o melhor é ataca-la com as minhas maravilhosas ideias - com uma mínima participação de Fred e Louise - indiretamente, porque se Antonella ouvir tudo pela boca de Pietro Sartori, talvez a gente tenha alguma chance de mudança.

Estou tão orgulhoso da minha genialidade e sutileza, em outros tempos eu já teria feito alguma coisa absurda e meio criminosa e nós todos sabemos onde isso iria parar, não é?

Detenção, claro.

— Você sabe que temos o nosso estádio padrão ouro para exibir e é exatamente o que a direção apresenta se alguém questiona a falta de investimento no esporte. - Pietro falou irritado e não é para menos, aquilo ali não foi feito para os alunos e sim para o público externo.

— Um estádio sem time não serve de nada e todos nós sabemos que ele foi construído para trazer capital para a escola com os aluguéis. - Completei o raciocínio dele, mas ele me olhou desgostoso com a vida.

— Difícil é provar isso, porque eles sempre alegam que o estádio foi feito para nós, o problema é que nosso time não se classifica para as ligas europeias juvenis, nem tem um número grande de alunos, como Hogwarts, para fazer um campeonato interno!

— Tudo isso é mais do que verdade, o que significa que temos que fazer de vocês um time competitivo, bom o suficiente para participar de um campeonato escolar regular e utilizar com bastante frequência esse estádio. - Falei excitado com a ideia e Pietro me olhou como se eu estivesse louco.

— Que campeonato regular?

— Nesse exato minuto em que conversamos, tem uma bela escola escocesa sendo reconstruída, prontinha para inovar! Partiu dos próprios alunos dela essa ideia louca de aproveitar o nosso tempo fora para captar melhorias para Hogwarts, então, nada mais justo do que revolucionar de verdade, não é?

— Acho que sim... Não tenho certeza se estou acompanhando o seu raciocínio. - Ele falou com suspeita, mas fala sério, tudo isso aqui é muito empolgante, era para ele estar vibrando de alegria!

— Estou falando, meu caro, de colocarmos a equipe de Beauxbatons para competir dentro do campeonato de Hogwarts! - Revelei a ideia final bem empolgado, mas Pietro só me olhou com uma cara de nada.

Esperava mais animação.

— Eu não acho que isso seja...

— É porque você não está pensando direito, pensa de novo: existem vários campeonatos em que times de fora competem com os internos de igual para igual, não há nada de novo nisso, é uma questão mercadológica somente. Para completar o cenário favorável, sempre houve essa integração entre Hogwarts e Beauxbatons, meio adormecida depois do último Torneio Tribuxo na época da guerra, verdade, mas...

— Eu estou ciente disso tudo, mas como a gente faria para treinar e para conseguir que a sua escola queira que o nosso time vá lá e bagunce toda a logística do torneio? - Ele perguntou só por perguntar, porque obviamente eu já tenho uma ótima resposta para isso tudo.

— Com o terceiro item da nossa lista, queridinho: apoio popular! - Apontei de novo para o meu esquema e ele continuou com aquela cara de quem estava duvidando da minha sanidade, cruzou os braços e tudo, olha a audácia! — Eu vou te contar um desses segredinhos internos que só quem é da treta conhece: nós temos um Ocaso.

Ai, as referências antigas dos filmes de herói que eu trago e ninguém capta, não sei nem porque me dou ao trabalho!

— O que diabos é um Ocaso?

— Ocaso é uma publicação rebelde que tem em Hogwarts, ela informa as massas com notícias extraoficiais, tudo no maior sigilo! - Fiz o sinal oficial de segredo, com o dedo indicador na frente dos lábios. Pietro me olhou cético. — Não acredite em mim, descrente, pergunte a qualquer outro aluno de Hogwarts, se quiser!

— Tá, ok, então vocês têm esse jornal rebelde, certo, entendi. Mas quem garante que as pessoas vão aceitar a gente no campeonato de vocês só por causa de uma publicação rebelde? - Ok, esse é um bom ponto.

— Ninguém garante, mas eu tomei a liberdade de enviar a história de vocês para eles e dei a sugestão de termos um quinto time, uma quinta torcida, mais uma incógnita para deixar o nosso campeonato ainda mais selvagem e, vamos ser sinceros, contra a selvageria ninguém em sã coincidência argumenta!

— Eu sei que seu francês é muito bom, mas tem certeza que selvageria é a palavra que você estava querendo dizer? - Ele me olhou em dúvida e eu sorri para sua adorável inocência.

— Ok, esqueça a selvageria, acompanhe a lógica: nós colocamos vocês no campeonato, serão só alguns poucos jogos, menos de um por mês, Hogwarts reformada pode receber vocês e vocês obviamente podem nos receber, vai aumentar a interação e os intercâmbios, talvez até incentive a troca de alunos! Merlin sabe que a gente pode pegar umas coisinhas melhores do que os...

— Estou tentando entender o que você está dizendo, mas está difícil. Você acha que consegue apoio para a gente se passarmos a jogar no seu campeonato, é isso? - Ele perguntou em dúvida e então cético. — Parece um pouco utópico...

— Eu não disse que seria simples! Basicamente a gente tem que conseguir o apoio do Ocaso, depois dos alunos de Hogwarts para vocês jogarem no nosso campeonato e então a torcida de vocês vai começar a querer ver vocês jogando no seu estádio de ouro, as pessoas vão querer entrar no time, vão querer torcer por vocês fora da escola e vão falar disso com os pais e amigos de fora de Beauxbatons...

Fiz sinal para que ele acompanhasse as consequências de toda essa cadeia de eventos, mas ele parecia ainda estar em dúvida, então eu completei o raciocínio.

— Daí o patrocinador vê vocês e vê o quanto vocês são lucrativos e te dão a estrutura de treino que vocês tanto querem! - Terminei simplista e Pietro pareceu ver uma luz no fim do túnel.

— Seríamos tão atraentes quanto os esgrimistas! - Ele falou animado e eu apontei para ele igualmente otimista, porque esse plano é perfeito. Infelizmente Pietro murchou em seu lugar alguns segundos depois. — Mas precisamos ser realistas antes de tudo, desculpe cortar o seu barato, mas com o time suspenso e o fiasco do último campeonato, a equipe tá meio desmotivada e o que é pior: incompleta.

— Vocês não têm nem sete pessoas interessadas em jogar na escola toda? - Perguntei chocado, porque, merda, a situação é mais difícil do que eu pensava!

— Nós temos o número, mas nos falta um goleiro e um batedor! No fim das contas temos artilheiros e apanhadores em excesso... - Ele resmungou desanimado, mas isso não era um problema real, eu sou Cesc fodástico Fábregas, o capitão invicto de Hogwarts, que transforma qualquer grupo de lesmas em campeões!

Isso é como comer uma torta de abóbora no café da manhã para mim!

— Não se preocupe com isso, cara, vocês agora têm um capitão que faz milagres, não é a minha primeira vez resgatando um time da lama. - Segurei o ombro dele, passando confiança. Ele me olhou com uma expressão esquisita. — Nem a segunda, para ser sincero, essa seria a terceira.

— Não acha que está sendo um pouquinho arrogante não? - Pietro finalmente virou para frente, porque a professora de Feitiços iria expor alguns casos de bruxo que deram o azar de não executar o Denigro certo.

Pietro realmente deveria prestar atenção nisso.

— Ninguém nunca me acusou de ser arrogante, se quer saber. - Guardei os meus esquemas vencedores de volta na pasta e cruzei as mãos em cima da carteira, pronto para prestar atenção na aula. Pietro ainda me olhava esperando mais alguma coisa, então eu completei minha resposta. — Não hoje, pelo menos.

Agora sim ele acreditou.

***

Louise me dispensou para continuar sua conversa com Matteo Sartori depois da aula e eu deixei o pobre gêmeo que fez dupla comigo sair livremente para esfriar a cabeça de todas as ideias e possibilidades que eu semeie no seu cérebro italiano.

Agora estava caminhando feliz pelo corredor, depois da minha boa ação do mês, até uma certa garota baixinha do sexto ano emparelhar ao meu lado e começar a dar passadas mais largas, para tentar me acompanhar. Sorri para o suspiro azul que era o chapeuzinho azul no topo da cabeça de Juliet Bertrand.

— Bem, bem, bem, olha o que as borboletas trouxeram para mim! - Diminui o passo para que ela ficasse mais confortável em sua miudeza, mas a garota me olhou de nariz empinado. Muito arrogante ela, como sempre. — Já encontrou alguém para lavar suas roupas? Talvez tenha usado uma certa maldição imperdoável para achar um voluntário bem solícito, quem sabe?

— Awn, como você sabe que a Imperius é a minha maldição imperdoável favorita? - Ela falou emocionada e eu revirei os olhos, porque Bertrand sabia muito bem que eu não podia me importar menos com o tipo de maldição que a levaria direto para Azkaban depois da formatura. — Não me leve a mal, eu gosto da maldição da morte, mas ela é muito simplória e definitiva, já a da dor é um pouco superestimada e...

— Ok, Juliet, o que você quer? - Ela fez um biquinho para o meu tom cansado e pouco lisonjeiro, então resolvi ser mais claro. — Melhor: que favor eu posso fazer para você ficar me devendo outro?

— Sua irmã querida me deve um favorzinho, sabia?

— Isso é problema dela, eu não vou me envolver nisso, não pago dívidas alheias. - Lavei minhas mãos figurativamente e Juliet apenas me olhou com aquela cara sonsa dela. — Você vai me dizer o que quer ou eu vou ter que...

— Capitão, finalmente eu te encontrei! - A voz de Heidi soou animada no corredor e antes de me virar para vê-la, vi o sorrisinho enigmático de Juliet, o que me fez ter certeza que essa criatura das Trevas estava aguardando exatamente isso esse tempo todo.

Que inferno!

— O que é que você quer agora, Didi? - Usei o apelido que Enrique tinha para ela de propósito, o que me rendeu aquele olhar meio contrariado típico das sonserinas, mas no fim das contas sua necessidade de ajuda venceu a batalha contra a indignação.

— Sabia que eu já estou há quase dois anos inteirinhos sem quadribol, Cesc? - Ela falou chateada, com direito a mão na cintura e tudo. Dominique observava tudo a alguns passos atrás da colega de classe.

— Sim, mas o que eu tenho a ver com isso? A culpa não é minha! Eu não organizei o campeonato mundial e nem quebrei Hogwarts, pelo contrário, eu fiz aquele jogo ridículo na neve que você me pediu! - Apontei na defensiva e a minha artilheira ridícula abriu um sorriso enorme, pegando minhas mãos nas suas.

— Eu sei! E é por isso que eu quero que você faça sua magia. Eu quero me divertir daquele jeito de novo, capitão! - Ela fez aquela carinha meiga dela, com cachinhos emoldurando seus olhões de boneca, então eu soltei uma das mãos para dar uns toquinhos no nariz dela com a ponta do dedo.

— Não vai rolar não, Didi, porque o quadribol está proibido na escola. - Falei falsamente triste, mas meu bottom de “[08] dias sem acidentes de malignidade” brilhava animado com essa notícia. Heidi fez um biquinho decepcionado.

— Viu, Heidi, eu te avisei! Não dá para jogar quadribol com a proibição para o time, sinto muito. - Dominique falou chateada, mas Juliet deu um passo para frente, entrando definitivamente na conversa.

— Acho que não precisa ser Quadribol para trazer diversão para as crianças dessa nação. Que tal um outro jogo? - A sonserina filha da mãe perguntou com um gesto amplo, típico de quem adora um palco.

Que merda ela está tramando dessa vez?

— Tipo Trancabola? - Nique falou confusa e eu fiz uma careta com a simples menção do jogo ridículo que eu nem sequer sei as regras.

— Ou Strip Xadrez? - Heidi sugeriu sacudindo os ombros sensualmente. — O divertido é que tem mais peças no tabuleiro do que peças de roupa, então alguém sempre acaba como veio ao mundo!

— Tomando uma poção de rejuvenescimento no final? Porque eu vim ao mundo como um bebê, não como um idiota que cai nos seus engodos e fica pelado na frente de todo mundo, Heidi, me poupe. - Falei sem paciência, com muito medo de onde essa conversa iria parar. Juliet voltou a falar como se nenhum de nós tivesse se pronunciado.

— Vocês podiam brincar daquele jogo trouxa de acampamento que vimos na aula de ontem, qual era o nome mesmo, Weasley? Caça ou captura a... - Juliet fez uma expressão de quem estava tentando se lembrar e Dominique completou a palavra animada.

— Captura a bandeira! - Ela falou em um quase grito e eu fiz uma careta só de imaginar um monte de adolescentes brincando pela escola que nem uns pirralhos retardados de acampamento.

— Claro que nós usaríamos magia para deixar as coisas mais divertidas e... Perigosas. - Juliet falou olhando especificamente para mim e eu apenas respirei fundo.

— Agora há um “nós” aqui, Juliet? Que interessante, mas... Eu não quero “brincar” dessa besteira, tenho coisas a fazer, estou tentando ajudar as pessoas e... Ai! - Heidi me deu um beliscão no braço e eu a encarei bravo, que coisa, isso doeu, merda!

— Ajudar as pessoas antes de uma boa diversão com potencial para perigo? Você beija a sua mãe com essa boca lufa-lufa, capitão? Sem ofensa, Nique! - Heidi se virou para a lufana presente, que fez um gesto de dispensa, com um olhar confuso.

— Não tenho certeza de que entendi o insulto.

— Por que eu tenho que participar dessa porcaria de jogo, hein? - Perguntei indignado, porque três garotas bonitas podem forçar qualquer um a jogar o “pule no buraco sombrio e sem fundo do poço dos sem dignidade” a qualquer hora do dia, por que tinha que ser justo eu?

— Porque você quando pega gosto pela coisa faz a loucura ficar muito mais divertida! - Heidi concluiu cheia de alegria e eu franzi o cenho para essa declaração sem sentido. — Então estamos combinados? Vou lá reunir o pessoal do dormitório, vejo vocês em alguns minutos, vem, Nique, vamos chamar o pessoal da...

As duas garotas do sexto ano saíram aos pulinhos e eu me virei para Juliet, que olhava para as duas, muito divertida.

— Qual o seu interesse nessa maluquice toda, Rainha das Sombras? - Falei ainda vendo os dois peões adoráveis - em um jogo muito mais sinistro que Juliet Bertrand devia estar jogando sozinha - se afastarem para o dormitório.

— A pergunta certa é: qual o seu interesse nessa maluquice? Que eu saiba isso te ajuda nos seus objetivos. - Ela falou misteriosa, dando de ombros.

— Qual deles? - Perguntei sem entender nada e Juliet fingiu calcular algo na cabeça, dei o tempo para ela se divertir em seu teatrinho particular.

— Em pelo menos três deles. - A maldita disse com um sorriso diabólico e eu continuei sem entender o que eu ganho com isso e pior, sem entender o que ela ganha. — Agora vamos recrutar nossos soldados, antes que as meninas peguem os melhores.

— Cria de Satanás... Quem disse que eu quero você no meu time?

— Você não gosta de perder, isso já me diz tudo.

Verdade, não gosto de perder mesmo, ainda que seja em um estúpido jogo de captura a bandeira.

Ou algo pior.

***

Vocês sabem que eu sou um irmão super legal, né? Então quando eu sugeri a Louise que convidasse o namoradinho novo dela para o nosso jogo super retardado, eu só estava querendo um reforço para minha equipe e não ficar zoando com a cara dela, me vingando por tudo que ela fez no meu início de namoro com Enrique. E com Claire. E...

Tenho certeza que se eu tivesse outros namoros, Louise teria me infernizado em todos eles, fato.

— Melhor a gente manter isso entre a gente, porque, vai que dá problema? Vamos ficar só com as dez pessoas que já temos. - Minha irmã falou de braços cruzados e prática e eu fiz um biquinho chateado. Poxa, queria jogar com o cunhadinho novo para ver do que ele é feito. — Todo mundo concorda com a distribuição das equipes?

— Sim, a minha é obviamente mais forte, obrigado pela gentileza. - Falei realmente agradecido, porque meu time era composto por eu, Fred e Roxanne Weasley, Anne-Marie Roussos e Juliet. Já o de Louise era ela, Heidi, Nique, Anne Beaumont e Samuel Aizemberg, esse último sendo o peso de papel mais feio já produzido nesse planeta.

Vamos esperar que tenham jogado a forma fora na fábrica Aizemberg.

— Eles têm você, então eu acho que a vantagem é toda nossa. - Aizemberg falou convencido e eu o olhei com meu melhor olhar, mistura de pena e diversão.

— A ironia de suas palavras é maravilhosa, mas eu vou deixar minha vitória falar por si só. - Respondi educado, porque eu não quero contar vantagem antes do tempo, principalmente com Aizemberg, que é uma cobra venenosa, não no bom sentido. — Beaumont, cadê seu irmão com as regras?

A monitora loira piscou confusa, parecia que estava em uma guerra de olhares com alguém antes de olhar para mim, ainda meio distraída. Vamos deixar uma coisa bem clara aqui: Roussos e Beaumont só foram convidadas para o jogo com o objetivo de não nos atrapalhar, nem denunciar, já que são monitoras engomadinhas.

Política da boa vizinhança, já sabem.

— Emile está vindo, ele disse que precisava passar na biblioteca antes. - Ela respondeu educada e perfeitinha, mas franziu o cenho ao encarar Segundo ao meu lado.

— Como a gente vai saber que o seu irmão não vai pesar a balança para o seu time? - O grifinório perguntou cínico e a garota só empinou ainda mais o nariz, em desafio.

— Porque eu tenho ética, Weasley, Segundo de seu nome, e estava na biblioteca justamente relendo as regras do jogo trouxa. Aproveitei para trazer as “bandeiras”. - Emile Beaumont entregou uma cópia de “Joguetes, brinquedos e travessuras trouxas da Europa no século XX” para mim e outra para Louise. Era um troço bem pesado, se for levar em consideração o tema.

— O que a gente precisa fazer com isso? - Folheei o livro com certa dificuldade, até a monitora Roussos estender os braços como apoio para mim. Olha aqui, garota, ainda não esqueci que você me colocou para recolher o lixo de todo o dormitório!

Ela sorriu inocente, alheia a minha raiva e sentimento de vingança borbulhando no meu coração sonserino.

— Precisam esconder o livro no seu território e encontrar o da equipe adversária. - Emile veio até mim e Louise espiou o movimento dele no meu livro até uma página quase no final da edição. — Eu coloquei uma fava de baunilha marcando uma das páginas para garantir que esses exemplares são legítimos, únicos e não vão sofrer nenhum dano.

— O que me impede de fazer uma cópia disso e fingir que achei a bandeira dos meus inimigos? - Louise perguntou mais curiosa do que maliciosa, cheirando a fava de leve, antes de colocá-la no mesmo lugar de antes na sua própria cópia.

— Se fosse só o livro, nada, mas comida não pode ser copiada ou conjugada do nada, é uma das regras básicas da magia. - Beaumont disse levemente empoado, mas depois completou tudo com um sorriso satisfeito. — Por isso escolhi a baunilha.

— Jurava que esse negócio era caro... Você assaltou o estoque do restaurante, por acaso? - Fred acusou com bom humor, mas o garoto francês pareceu bem ofendido.

— Claro que não! Esses são do meu estoque pessoal! Costumo guardar na gaveta de meias ou dentro da pasta escolar, porque adoro o cheiro de baunilha nas minhas coisas. - Emile falou mais tranquilo no final, a imagem de um cara com gostos... Peculiares.

— Isso é bizarramente fofo e, embora seja muito interessante, precisamos nos adiantar, se não vamos acabar caçando tesouros noite a dentro! - A irmã caçula de Fred falou animada, como a boa grifinória que era. Tenho certeza que ela iria gostar de jogar no escuro, todo leão é meio descompensado das ideias.

— Certo, deixa eu só concluir as instruções: vocês deverão esconder as bandeiras em seus territórios, que podem ser protegidos ou não e terão que capturar a bandeira do adversário antes que ele o faça. - Emile falou em um inglês perfeito, com um sotaque francês acentuado.

— Todos os feitiços são válidos, contanto que não manipulem as bandeiras irreversivelmente, machuquem os colegas ou infrinjam alguma regra da escola. Vocês terão 10 minutos para esconder a bandeira e traçar estratégias depois que escolherem os territórios. Alguma dúvida? Não? Então vamos sortear... - O interrompi, antes que ele jogasse uma moeda para sabermos quem escolheria primeiro o território.

— Não precisa sortear, a equipe das damas escolhe primeiro. - Falei isso olhando para Samuel, que revirou os olhos, mas minha irmã colocou as mãos na cintura de um jeito desafiador.

— Ok, então... Ficamos com o labirinto de sebes. - Ela falou com um sorriso vitorioso e eu até fiz minha melhor cara de poker, mas Roxanne e Roussos reclamaram atrás de mim.

— E nós ficamos com o jardim de inverno das ninfas. Pode rodar o tempo, Beaumont. - Fred falou com confiança, o que me deu mais esperanças. Louise não parecia mais tão arrogante agora.

— Meninas, os chapéus, por favor! - Emile estendeu a mão para nossa equipe, então Juliet, Roxanne e Roussos entregaram seus suspiros azulados, formando uma pilha engraçada nas mãos do monitor de Etiquetas. — Equipe de chapéu pronta?

Louise passou o livro pesado para Samuel, antes de confirmar com a cabeça para o juiz. Anne Beaumont deu uma última olhada em todos nós antes de se colocar em posição de corrida e acenar para o irmão também.

— Equipe sem chapéu pronta? - Ele apontou para a gente e eu apenas pus o livro bem encaixando debaixo do braço e fiz que sim com a cabeça. Emile se atrapalhou um pouco com seu relógio de bolso e todos os chapéus da minha equipe, mas depois conseguiu colocar ordem nas coisas. — Relógio acertado e... Valendo!

As duas equipes correram para lados opostos, a minha infelizmente tinha ficado com o território que era mais longe da sala comunal do Dépayser, então estávamos em desvantagem. Ainda ouvi Emile pedindo para os espectadores esperarem os dez minutos acabarem antes de irem atrás da gente para ver a partida se desenrolar nos diferentes territórios.

— Eu sei um atalho, venham comigo! - Deixamos Roussos tomar a dianteira, o que não foi difícil, já que ninguém podia correr dentro do palácio realmente. — Ok, deixa eu esclarecer uma coisa: nosso pior obstáculo é Anne, porque ela é muito perceptiva, tenho certeza que ela vai estar na equipe de ataque, lendo as nossas expressões corporais para adivinhar onde está a nossa bandeira.

Roussos manteve uma passada intensa até chegarmos a uma das muitas portas fechadas que tinham nos corredores de Beauxbatons. Ela apresentou o crachá de monitora e nos deu passagem para entrar em um corredor mais estreito, sem quadros ou adornos, era obviamente uma passagem para funcionários.

— Quão perceptiva ela é? - Juliet perguntou já sopesando as possibilidades, mas se surpreendeu bastante ao receber a resposta de Fred.

— Bastante e é por isso que só uma pessoa irá saber onde está o livro. - Ele falou decidido, mas o espaço não era grande o suficiente para eu conseguir olhar para ele e ver sua expressão. — Eu serei essa pessoa, porque vou transfigurar o livro em algo comum do Jardim e depois vou para a nossa frente de batalha, bem longe de Anne.

— Apagarei sua memória por segurança, você pode escrever onde o livro está e guardar a informação no bolso do casaco, porque, caso for pego, ninguém vai pensar em revista-lo. - Juliet falou com segurança alguns segundos depois e eu sorri para o assobio impressionado de Roxanne as minhas costas.

— Vocês sonserinos não brincam em serviço, hein? Depois você pode me ensinar a obliviar, Bertrand? A gente não acha esse tipo de feitiço nos livros indicados para as aulas... - A grifinória pediu animada, antes de virarmos em mais uma bifurcação no labirinto interno da escola.

— Claro, você fica me devendo uma, viu? - Juliet disse brincalhona, mas depois deu toquinhos no meu ombro, me inclinei para ouvi-la melhor. — Qual o plano de jogo, capitão?

— Você e Roxanne defendem o jardim, usando a vegetação como camuflagem e congelando os adversários que ousarem invadir nosso território. - Falei para as duas garotas que estavam atrás de mim.

— Finalmente vou usar meus feitiços do clube de teatro para alguma coisa! - Juliet falou empolgada, cortando o resmungo que Roxanne parecia estar pronta para soltar.

— Que tipo de feitiços? - A sextanista da grifinória perguntou menos chateada com a perspectiva de ter sido deixada na equipe de defesa. — Posso ir buscar algumas coisas da loja da família lá no quarto...

— Ah, faça isso, porque vou usar os feitiços mais brilhantes de todos: de ilusão, cortina de fumaça, pirotecnia... Faremos um verdadeiro espetáculo naquele jardim! - Pela descrição de Juliet, até eu queria ficar para ver isso, mas tínhamos um trabalho a fazer.

— Roussos, Fred e eu vamos para o campo inimigo. Estamos falando de um labirinto, suponho que você como monitora conheça o caminho e as passagens secretas, certo? - Falei para a garota francesa a minha frente, mas ela me respondeu com uma careta por sobre o ombro.

— Não muito, mas vou dar o meu melhor para ajudar a passar os obstáculos! Tenho para mim que eles devem estar colocando uma série de pegadinhas nos arbustos nesse exato minuto... É o que eu faria.

— Ok, daqui eu já sei chegar no jardim. - Fred nos parou assim que saímos para um dos corredores principais, bem próximo do nosso destino. — Roxie vá buscar as gemialidades e Juliet venha comigo, vocês dois vão para o labirinto que eu encontro vocês lá, ok?

Entreguei o livro a Fred e fui empurrado de volta para a passagem usada pelos funcionários de Beauxbatons. Nos encontramos com um dos estagiários do restaurante pelo caminho e com um dos jardineiros ouvindo uma música em seu gramofone portátil.

— Louise, minha gêmea, com certeza vai ficar no labirinto para proteger a bandeira, ela é uma garotinha ardilosa... - Falei para a monitora ao meu lado, que acenou o entendimento com a cabeça.

— E quanto aos outros? Quem você acha que vamos encontrar? - Ela perguntou prática, o que era surpreendente, porque esse não é bem o tipo de imagem que a gente associa a uma garota de Beauxbatons.

— Samuel é bastante escorregadio, acho que ele vai ficar na defesa também, tenho a impressão de que ele vai usar muito feitiço de desilusão e azarações maldosas. - Falei com um certo nível de certeza, porque conheço a fuinha desde os 11 anos de idade.

— E as outras duas? - Roussos me perguntou acelerando o passo de novo assim que deixamos os dois zeladores passarem com suas cargas pesadas flutuando atrás de si. Onde estava esse povo todo quando estávamos vindo?

— Heidi vai estar no ataque, ela é artilheira e gosta sempre de fazer parte do sistema ofensivo, já Dominique eu não faço ideia, acho que ela vai estar onde for mais necessária. - Falei em dúvida, porque lufanos eram sempre incógnitas.

— Como assim?

— Se a estratégia deles for defensiva, significa dizer que eles não fizeram muita coisa para esconder o livro, estão se valendo só do número, mas, se for ofensiva, o nosso trabalho vai ser mais complicado do que o de Juliet e Roxanne, porque quer dizer que eles bolaram algo genial no labirinto e estão confiantes. - Falei reforçando o feitiço glamour na luvarinha com a minha outra varinha oca.

— Como eles poderiam pensar em algo genial em 10 minutos? - Roussos perguntou em dúvida, apertando os lábios com a ponta dos dedos, levemente nervosa.

— Nunca subestime o poder da competitividade de Hogwarts, minha cara.


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Notas finais do capítulo

E aí, meus chuchus? Para que time estão torcendo?

Amanhã a gente vê o desenrolar desse jogo.

Bjuxxx



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