Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 13
Capítulo 13. Engrossando o caldo.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro bug no word, agora bug no Nyah... Eita capítulo amarrado de corda!



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Capítulo 13. Como engrossar o caldo.

Eu estava bem surpreso com as coisas boas da vida. Tenho me comunicado com Louise a duas noites, sem nenhuma briga, com certeza o nosso recorde. Ela está bastante animada com o Ocaso, e como uma boa Corvinal está vendo chifre em cavalo (unicórnio?) e imaginando a coisa toda muito mais complexa e profunda do que nós, mas ao menos está cumprindo com sua parte.

Ontem ela me informou que viu Haardy conversando com um dos monitores da Corvinal, nada de estranho, ambos são do mesmo ano e casa, mas ela também o viu saindo menos de 10 minutos antes do toque de recolher e até a hora em que ela foi para o quarto, umas onze e pouca, ele ainda não tinha voltado. Estranho...

Mas como alegria de pobre dura pouco, Louise resolveu quebrar a magia do nosso bom relacionamento. Ela convocou uma reunião extraordinária, não sei quem deu a ela o poder, mas já que estamos sem ideias para o Ocaso, fomos esperando o melhor.

Burros, todos nós.

Marcamos a reunião em uma das estufas sujas do professor Longbotton, na ala norte do castelo. As plantas não estavam num estado interessante ainda, nunca estariam, na minha opinião e por isso o lugar não era muito visitado. O cheiro de terra e adubo nunca é um bom presságio, vou te dizer...

—Ok, Louise, por que nos chamou aqui? – Eu, Tony, Scorp e Rebeca estávamos cheios de alegria matinal, típico da nossa casa...

Minha irmã querida, usando hoje um daqueles acessórios das melindrosas da década de 20 no cabelo curto, sorriu nada intimidada pra gente. É uma Fábregas com pedigree, tenho que admitir.

—Bom dia à todos! Marquei essa reunião apenas pra tirar uma dúvida... – Rebeca já ia interromper, mas dei a ela uma olhada do tipo "Nem pense nisso" e ela engoliu com esforço o veneno que estava pronta para soltar. - Vocês falaram nos seus textos sobre representatividade e igualdade e fiquei pensando... Esse não me parece o grupo mais igualitário de todos... Em nenhuma categoria imaginável.

—Bem, ninguém além de você sabe disso, então está tudo bem...– Destaquei o óbvio, que às vezes não parece tão óbvio para quem não é da Sonserina.

Ela apenas me deu O olhar e continuou com o seu raciocínio. - Pensei então em propor um exercício ao grupo, tendo em vista que pela primeira vez na vida vocês fizeram algo que preste...

—Pode parando por aí! Quem disse que você pode propor alguma coisa? Quem disse que você tem voz aqui? – Rebeca até que aguentou muito antes de estourar...

—Tenho que concordar com Wainz nessa. Sem ofensas, Cesc, mas não vou ficar aceitando ordens da sua irmã só porque ela é uma chantagista... Acho que deveríamos aplicar um obliviate nela e seguir com nossas vidas.–Scorp é de uma sutileza sem tamanho. Tony, que até então estava estranhamente calado, resolveu se pronunciar.

—Bem, Lou tem razão!– Minha irmã estreitou os olhos pra ele por conta do apelido íntimo, mas não disse nada, deixando ele terminar sua defesa. – Não há muita igualdade aqui... Por enquanto ok, mas o que se pensa, eventualmente se diz, logo, logo a gente vai deixar algo muito sonserino escapar e estaremos todos ferrados.

Tony, a voz da razão. Estou sentindo leves tremores na terra, seria esse o início do fim?

—Que tal me deixar continuar explicando, antes de começarem a sopesar as opções para a minha morte? - Todos pareceram concordar com essa proposta, ninguém realmente estava afim de chegar aos finalmente aqui...

—Prossiga.– Falei, representando o lado racional, juntamente com Tony. Sim, podemos ser racionais quando queremos.

—Gostaria de propor que cada um de nós fizéssemos amizade com alguém da casa que menos respeitamos, para trazer mais membros para o Ocaso.

—O QUÊ?

—Assim não tem como te defender, Lou...

—Lança um obliviate nela, Cesc, agora é o momento!

Como podem ver, meus "abiguinhos" são muito abertos a novas experiências e coisa e tal. Eu, no espírito da mudança de vida apresentado por mim pela excelentíssima maluca Lia Thiollent, vou dar um passo ao desconhecido.

—Ok, Louise. Aceito o desafio. Irei fazer um amigo na Grifinória.– Artie você conseguiu a sua promoção no universo. Agora é um quase ser humano, parabéns.

—Não, não na Grifinória. O seu mais novo amigo tem que ser da Lufa-Lufa, irmãozinho!

Olhei pra ela incrédulo, depois levemente enojado e por fim resignado. Por isso que a gente nunca concorda com nada, Louise é impossível. É isso que eu ganho por tentar melhorar?

—Tony está certo. Não tem como te defender.

Daquela nada produtiva reunião na estufa 3 imunda, saímos com a seguinte tarefa: eu e Tony faremos amizades na Lufa-lufa. Rebeca e Scorp na Grifinoria e Louise na Sonserina.

O bom disso tudo é que ao menos não teremos mais Corvinais nesse projeto, eles não servem pra nada, todos uns inúteis. Ou ao menos eu pensava que a idiota da minha irmã aquietaria o facho. Como eu sou inocente!

***

Na saída da primeira aula do dia, a minha chance de começar a explorar as terras inimigas da Lufa-lufa se apresentou. Como o desastre parece estar no DNA de todo lufano, logo um tropeçou e deixou cair os materiais e pergaminhos que se espalharam pelo corredor todo.

Normalmente eu apenas riria e continuaria meu caminho, mas hoje eu estava precisando justamente de uma zebra doente afastada do grupo, pra começar os trabalhos. Espera, o que estou falando? Não sou um maldito leão!

Me aproximei sorrateiramente, pronto para dar o bote, agora com as metáforas certas, e comecei a ajudar a pobre criança a catar suas quinquilharias. Ele ia me agradecer automaticamente, mas viu a minha linda gravata verde e prata e meio que engasgou no agradecimento.

—Obriga... Err... Obrigado.– Ele optou por corresponder a minha simpatia e olhou nos olhos, o que é sempre um ponto muito positivo.

Sim, estou avaliando ele. Vamos lembrar que além de ganhar a minha amizade superficial, porque obviamente não vai ser igual a que eu tenho com Tony e Scorp, ele pode ganhar a chance de participar do Ocaso.

E se ele for fraco de personalidade, aquelas criaturas que eu amo vão devorá-lo no café da manhã.

—Esse tipo de coisa é irritante não é? Quando as coisas caem desse jeito...– Falei, extrapolando meu limite de gentileza do dia. Ele me olhou surpreso e depois deu risada.

—Essas coisas acontecem com vocês, sonserinos?– Ele me olhou meio divertido e em dúvida. Não o culpo, nós não somos desastrados, lufanos são desastrados.

— Acontece, mas normalmente a gente coloca a culpa em alguma pobre criatura que esteja passando por perto.

Ele riu, agora visivelmente relaxado. Terminamos de pegar as coisas do chão, me agradeceu de novo e foi embora. Não sem antes olhar pra trás, como se não pudesse acreditar na estranheza da cena toda.

Ok, isso não foi tão ruim. Este garoto meio oriental pode ser o que eu estou procurando, só preciso descobrir o nome dele...

—Acho que o apocalipse está para acontecer...– Me virei pra dar de cara com a fiel escudeira da minha irmã e até pouco tempo uma amiga próxima minha.

—Eu que o diga, Claire! Você falando comigo? A que devo a honra?– Ela continuou sorrindo, mesmo que agora um pouco menos brilhante do que antes.

— Eu mereci isso, não? A rainha da estranheza...

— Já estava estranha desde o meu aniversário, mas agora depois da história de Dolman... Parou de falar comigo de vez.

—Deus, você está misturando tudo... Leva tudo para o lado pessoal, né? – ela passou a mão pelo cabelo ondulado, exasperada. - Ok. Vem comigo, precisamos conversar!

Ela me puxou pela mão pelos corredores, desviando dos quintanistas que estavam seguindo para sua aula de Tratos das Criaturas Mágicas. Quando chegamos do lado de fora do castelo, Claire me levou até a borda do lago e sentou, sem se preocupar se iria ou não sujar as vestes. Eu a acompanhei.

—Então, me explique.– Cruzei os braços e a encarei, já sabendo que iria perder minha aula de Feitiços. Não que realmente fosse uma perda, compareço mas porque "tenho que".

—Eu sei que ando meio estranha...– Ela suspirou e desviou olhar pro lado. - Qual a chance de você deixar isso quieto?

Tendo em vista que você me arrastou até aqui como se eu fosse um garoto de cinco anos mal criado? Até que a chance é boa! Sim, porque não gosto de falar de sentimentos, não gosto desse climão, então as chances de deixar isso pra lá são bem altas MESMO, minha cara.

—Apenas diga, ok? Se arrependeu de ter salvado os malditos sonserinos naquele primeiro dia no trem...– Falei tentando tirar um pouco da verdade do fato com humor, mas tenho pensado nisso por um tempo.

O estigma de ser da Sonserina é pesado. Não somos os seres mais fáceis de lidar, mas não ajuda em nada as pessoas já virem com sete pedras na mão. Depois da última guerra, as coisas ficaram meio tensas pra nossa Casa... Triste, mas é real. O fato de que Claire chegou a nos conhecer e se decepcionou com o que viu, é ainda mais triste.

Ela riu, uma risada sem humor, dessa vez bastante exasperada.

—Tá vendo o que você faz? Só piora as coisas! Me deixa mais culpada! Não. Tem. Nada. A. Ver.– Claire falou me sacudindo pelo ombro.

—Vamos deixar pra lá? Vamos deixar pra lá então. – Falei tentando colocar um ponto final nesse clima esquisito. Ela me olhou risonha, provavelmente questionado meu método de enfrentamento de problemas.

—Vamos deixar os meus problemas pra lá, mas não os seus! – Ela disse bem decidida, para uma baixinha sardenta. -Por que se tem em tão baixa conta, Cesc?

É serio? É serio isso, produção? Eu provavelmente sou o cara que menos tem problemas com auto-estima em toda Hogwarts, isso só pra começar...

—Baixa conta? Já ouvi muita coisa, mas nunca nada nem perto disso...

—Pra mim você está sempre ou muito arrogante ou muito... Você se subestima!!!

—Fala sério...

—Tô falando super sério! Você e Louise... Nossa! Tem noção do quanto vocês são parecidos?

—Cada minuto que passa você parece mais louca...– Disse sorrindo um pouco e lhe concedendo a razão nas entrelinhas. Eu e Louise somos parecidos mesmo.

—Vocês são como icebergs. Tem um certo nível de atividade acontecendo aqui.– Ela fez círculos em frente ao rosto. - Mas o que tá acontecendo aqui... UOU! É um universo, cara!

Ela fez isso sinalizando para a cabeça, para o cérebro e tenho que concordar com ela. Tanto eu quanto Louise estamos sempre pensando, maquinando, antecipando... Talvez esteja na genética.

—O que isso tem a ver com a minha baixa auto-estima? – Provoquei, vendo que a velha Claire estava de volta.

—Bem... Já parou pra pensar porque parou na Sonserina? O primeiro nascido-trouxa da Sonserina, na verdade! – Ela me olhou como se tivesse me mostrando os segredos do universo, coisa que ela não está fazendo. Claire me olhou impaciente. - O que acha que Salazar Sonserina ia achar de você?

—Ele me mataria antes de achar alguma coisa...

—AÍ ESTÁ! Seu complexo de vira-lata! "Sou o super batedor!", "Sou o super manipulador!", "O super mentiroso", mas quando se trata de sua magia... "Hum... Não tão bom..."

—Do que está falando? Eu sou fantástico em Feitiços!

—Concordo e digo mais, Salazar Sonserina ficaria impressionado com o quão bom você é, nascido-trouxa ou não.

— Ele não era o cara mais tolerante...

—Não, mas ele tava errado. Bruxos como você, como Hermione Granger Weasley... Vocês são a prova de quão errado ele estava sobre nós, sobre nossa magia. Nascidos-trouxas e puro-sangues... A magia é a mesma e você provaria isso a ele!

Ser comparado com Hermione G. Weasley é muita coisa... Ignoremos que ela é mãe da garota mais chata da Grã-bretanha. Claro que Claire está viajando um pouco sobre essa parte da magia, não se sabe o que faz uma pessoa ser mágica ou não.

Pode ser que essa coisa de purismo seja tão idiota quanto o sangue nobre no mundo trouxa, mas talvez seja real... Que eles tenham uma vantagem de uma magia mais refinada no fim das contas.

O elogio caiu bem, entretanto.

—E minha baixa auto-estima...

—Ok, auto-estima! Foco! Vou te fazer uma pergunta chave agora: por que tenta tanto ser um perfeito sonserino, sendo que você não é?

Não sou? Acho que sou um sonserino bem típico, tirando a parte do sangue, obviamente...

—Não sou?

—Em parte, mas é tão mais do que isso! Quase dá pra ver as engrenagens funcionando, você e Louise pensando "como devo agir?", "como esperam que eu me comporte?". Todo dia, a cada minuto! Precisam tanto se encaixar...

—Não fazemos isso... Não nos importamos tanto.

—Não se engane, gente que é tão segura, que se esforça tanto em parecer "durona", geralmente só está tentando encobrir vulnerabilidades... Pronto! Chegamos a sua auto-estima.

Ela fez aquele gesto de "peguei você!", como pode ser tão infantil e tão madura ao mesmo tempo?

—Então eu e sua melhor amiga somos duas crianças com baixa auto-estima, que se passam por pessoas duronas e que pensam de mais, é isso?

—Basicamente. Você quer ser especial, mas aí caiu numa casa horrível que te diz todo dia que você não pode ser... Está em conflito!

Olhei pra ela estreitando os olhos e ela abriu os delas pra tentar aparentar mais inocência ainda, como se todas aquelas sardas já não fizessem o serviço. Como ela ousa chamar a Sonserina de horrível assim, na cara dura? Fora que eu não sofro preconceito na minha casa, ninguém me trata diferente. Ninguém ousaria me tratar diferente.

—Ok, doutora. Aceito o diagnóstico, trabalharei nisso. -Ela me olhou com suspeita. - Digamos que hoje seja o dia do Cesc aceitar o novo na vida dele! Mas agora... Vamos falar de você!

—Ah, não! - Ela se levantou tão rápido, que se fosse eu tinha tonteado um pouco. - A nossa sessão acabou. Foi muito bom conversa com você e tal...

—Não esperava isso de você... Uma verdadeira franguinha!– Ia começar a fazer a clássica provocação, mas ela me cortou a tempo.

—Nem comece! Eu sei. Eu tenho que te contar... Enfim, vou organizar as minhas ideias e quando eu estiver pronta, falamos sobre isso, ok? Ok.

Ela foi se afastando, andando de costas. Levantei preguiçosamente, espanando a poeira do uniforme.

—Ok, Claire. Mas fique sabendo que vou ficar esperando algo bombástico disso aí, sabe como é minha imaginação, né?

—Nem pense nisso. Esqueça! Eu sei que você tem muitas coisas pra pensar tipo... Tipo o Quadribol!– Sorri predatório pra ela enquanto me aproximava cada vez mais. Para cada passo meu, um dela pra trás. - Tipo... Tipo essa coisa misteriosa que você e Louise estão tramando!

Ela jogou muito bem a carta dela, eu estanquei na hora. Opa, território perigoso. Ela sorriu satisfeita, percebendo minha hesitação.

—Não sei do que está falando.

—Estou vendo Cesc... Estou vendo as engrenagens girando! Você e Louise não me enganam, estão tramando alguma...-"E eu vou descobrir o que é" era o que eu estava esperando que ela dissesse, mas ela apenas sorriu e disse tranquilamente. -Guarde seus segredos, que eu guardo os meus.

Ok, Claire. Por hora vamos deixar assim. Mas ninguém aguça minha curiosidade e consegue sair cantarolando misteriosamente por muito tempo. Nem mesmo a senhorita leitora de personalidades.

Já era quase fim do dia e também quase fim do meu segundo pacote de Chocoballs. Esse é o meu novo Feijõezinhos de todos os sabores, com gosto de chocolate recheado com mousse de morango ou creme cozido, que não mata um pedaço da sua alma a cada vez que você põe um na boca. Vitória!

Estava sentado na mureta do pátio central, passando as jogadas de ataque do time que eu e Habermas havíamos planejado para o jogo contra a Grifinória, no final de Novembro, para o pergaminho. Depois eu melhoro esses bonequinhos de palitinho tortos aqui, melhor do que círculos e x.

Romeo estava encostado em uma das pilastras tentando me convencer de que podia reproduzir uma das jogadas de ataque que os Vespas de Wimbourne fizeram no último verão. Mas ele não pode.

—Se você insistir nisso eu vou, pessoalmente, meter um balaço na sua cabeça! – Ele sorriu mostrando a falha entre os dentes que lhe é tão característica.

—Já disse que consigo, vou mostrar no próximo treino. – Eu não vou ficar discutindo com Habermas. Próximo treino eu vou partir o crânio dele com um balaço, está decidido. – E quanto a meu primo Marco?

—O que tem seu primo Marco? – Perguntei enquanto soltava o ar pesadamente, já esperando por mais uma rodada de encheção de saco.

—Ele é um excelente goleiro, devia dar uma chance a ele. – Viu?

—Se você não se lembra, nós já temos um goleiro, o nome dele é Daniel Streck. – Falei só por falar, porque sei muito bem qual vai ser o discurso de Romeo, ele não muda o disco desde a partida contra a Lufa-lufa.

—Streck é um bosta e você sabe disso! – Parei de rabiscar no pergaminho pra olhar pra cara dele. Habermas não estava mais encostado e sim me olhando revoltado com os braços cruzados. – Não deixaria Streck proteger nem a horta de murta da minha bisavó!

Quando se é líder, pelo bem da justiça, devemos fazer o que é certo, não o que queremos. Porque o que eu quero nesse exato momento é concordar com Habermas e dá um pé na bunda de Daniel, mas isso não seria justo, ele foi escolhido no teste. Escolhido por mim, pra início de conversa.

—Seu primo será muito bem vindo pra tentar a sorte no próximo outono, Romeo. – Ele ia retrucar, mas eu fui mais rápido. – Aqui! Leve esse recado pro professor Bradbury, pra ver se aquele homem faz alguma coisa que preste pra gente.

Romeo abriu o pergaminho, sem vergonha nenhuma na cara e leu a mensagem que não era pra ele.

— Haardy e Spark não vão deixar a gente usar o campo de tarde nas próximas semanas, eles tem prioridade até o jogo deles.

—Não me importo com nada disso, se tiver horário sem reserva na próxima semana, a gente pega. – Ele me olhou com aquela cara cética característica. – Apenas faça o que eu pedi.

—E se não tiver esse horário? – Ele fechou o pergaminho e guardou no bolso interno das vestes.

—Aí eu vou colocar o treino de madrugada, que tal? – Ele me olhou aborrecido. – Temos um goleiro bosta pra treinar e uma jogada suicida pra testar, não?

Ele me sorriu feliz, andando apressado para o norte, escolhendo a rota pela entrada do viaduto, aquele grande salão de recepção inútil, mas que ao menos desemboca nos corredores das Masmorras. Deixe ele pensando que aceitei a ideia maluca dele.

Peguei mais um chocolate e coloquei na boca, mas o negócio estava meio derretido, não sei como com aquele clima. Deixou meus dedos sujos, o que acabou sujando as bordas do pergaminho que eu estava escrevendo.

—Droga. – Vou ter que aplicar um feitiço de limpeza nisso, ou melhor, passar a limpo, já que essas observações de Habermas estão quase ilegíveis.

Coloquei o pergaminho a favor da luz, pra tentar enxergar melhor, já que estava ficando quase sem luz natural agora. O que me ajudou a avistar o grifinório apressado, de cabelos bagunçados, na contramão do restante dos alunos que estavam correndo para o castelo, pra se abrigar do frio.

Ele chegou corado e meio ofegante, mesmo não tendo nenhum motivo pra isso. Empurrou meus pergaminhos e pegou impulso pra sentar ao meu lado na mureta.

—Ok Potter, fale.– Ele tirou um pergaminho do bolso e me entregou. – O que é isso?

—Sabia que é muito difícil conseguir te encontrar sozinho? Tive que rodar o castelo inteiro atrás de você! Pensei que ia ter que estuporar um de seus amigos pra conseguir te entregar isso.

Ignorei os resmungos do idiota e passei os olhos rápidos pelas anotações escritas com pressa. Havia mancha de tinta em alguns lugares, piores do que os meus pergaminhos.

—Cópia do relatório mensal dos monitores? – Levantei uma das sobrancelhas. – O que na Terra te faz pensar que eu gostaria de ver isso?

—Preste atenção no que está lendo, Fábregas! Qual foi o maior motivo das detenções aplicadas?

Olhei de novo o pergaminho e sorri malicioso quando eu vi o que era.

—Não é nenhuma novidade que os estudantes de Hogwarts são todos uns pervertidos...

—Fiz um comparativo com alguns relatórios de 20 anos atrás e adivinha? Não mudou muita coisa.

Como esse menino me cansa.

—É óbvio que não, Potter! Não importa o quanto o tempo passe, adolescentes continuarão sempre sendo bombas-relógio de hormônios...

Ele me interrompeu empolgado, apenas aumentando a minha já natural irritação com os do tipo dele.

—Você está apenas meio certo, meu caro. Adolescentes são adolescente sempre, sim, mas importa e muito a passagem do tempo. – Ele olhou pra mim animado, parando de gesticular um pouco, um bônus pelo qual eu agradeci silenciosamente. – Não te parece estranho que nunca tenha sido feito nada para mudar isso?

—Me parece extremamente coerente, Potter. Não consigo imaginar Hogwarts de repente se tornando uma escola progressista, não proibindo sexo e tudo mais...

—Aí é que está! Algo natural não devia ser proibido, não em pleno século XXI!

Novamente eu tenho que concordar internamente, mas externamente me posicionar a favor da lógica do sistema. É claro que é um saco os casais terem que se encontrar em armários de vassouras, salas vazias e corredores desertos... Não que eu saiba nada sobre isso, claro que não.

—Eu entendo seu ponto, Potter, mas esse assunto implicaria em vários desdobramentos... – Ele me olhou sem compreender. Vou ter que desenhar?– Os alunos tem maturidade pra lidar com sexo? Sabem a respeito de sexo seguro? O que os pais pensariam disso? O que o Ministério acharia disso? Muita polêmica envolvida...

— Achei que o Ocaso se trata-se disso... Como era que estava escrito mesmo? Informar, provocar, discutir, questionar. – Aí está o ponto dessa conversa toda. Tentei não parecer surpreso pelo fato de Artie ter ligado a minha pessoa à resistência jornalística do Ocaso, afinal, assim como Louise, o garoto estava envolvido no processo desde o início. - Talvez não saibamos onde isso vai dar, mas porque não causar a primeira onda?

—Você tem uma mentezinha perigosa, Potter. Quem diria?

Um filho de herói querendo se associar a contraventores. Longe de mim esfriar esse ímpeto rebelde, Deus sabe como alguém como Potter pode ser útil nesse projeto!

—Tomarei como um elogio. E então? Vai...

—Farei com que chegue na mão dos Iconoclastas, mas não posso garantir mais do que isso. – Ele me olhou irritado com a minha cara de pau de falar como se não tivesse nada a ver com o grupo. Mas logo mudou a irritação para resignação.

—É só o que eu estou pedindo, Fábregas. Pra ser ouvido. – Abracei Potter pelo ombro e nos desci da murada do pátio.

—Ok, Potter, que bom que resolvemos isso. Agora... – Falei sorrindo meu melhor sorriso de Cheshire, o gato de Alice no País das Maravilhas. – Você já ouviu falar na Iniciativa Vingadores?

No fim daquela noite o Ocaso apareceu pela segunda vez...

Ocaso

Quase todos somos filhos do século XXI, não é mesmo? Então por que ainda estamos pegando detenção por algo que os nossos papais e mamães também faziam a décadas atrás, hum?

 Sim, crianças, hoje iremos falar de sexo.


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Notas finais do capítulo

Cadê Pottinha? Tô com saudade dela!