Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 129
Capítulo 129. Sobre “grandes” descobertas e pactos


Notas iniciais do capítulo

Meus anjinhos, desculpem a demora para postar e principalmente para responder os comentários de vocês, eu leio todos, mas estou em uma época complicada, com muito trabalho, mas vocês vieram aqui pelo capítulo, então vou parar de desculpinha...

Aproveitem o capítulo, que tá grandinho!



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Capítulo 129. Sobre “grandes” descobertas e pactos

Enrique estava morrendo de dar risada porque tinha acabado de deixar o celular cair no chão - provavelmente pela milésima vez - então eu esperei ele focalizar novamente nele e no rosto mascarado de Erick.

— Certo, ignorando esse momento lerdeza atômica, posso saber porque você está usando uma máscara, Erick? - Perguntei calmamente, porque se ele estava sabendo de algum envenenamento pelo ar ou vírus letal, não seria legal irrita-lo, porque ele tem que se sentir feliz para contar a verdade, não é?

O meu suposto ancestral estava hoje com a tal máscara, tipo as de hospital, só que a de Erick era negra e combinava com seu anel de dois dedos, muito do esquisito. Ele me olhou com seus olhos claros, quase sobrenaturais, transbordando desdém.

— Estou evitando a sujeira trouxa, essas criaturas conseguiram deixar o ar em um estado lastimável, cheio de poluentes e fumaça. - Ele se aproximou da tela do celular tirando a máscara. Levantei uma sobrancelha para isso. — A sua espécie é um câncer para o planeta.

— E com certeza as fábricas bruxas não poluem nada, mesmo todo mundo lá vivendo na era das máquinas a vapor! - Falei irônico, mas Erick só fez colocar a máscara de volta e se fingir de desentendido. Voltei a falar diretamente com Enrique. — Mas ok, vamos ao que interessa: por que me ligaram? Que grande notícia é essa que vocês têm para mim?

Os dois se entreolharam, Enrique fez aquela cara de criancinha ansiosa para contar a novidade e eu já senti o medo da merda gelando minha espinha.

— Tá, se prepara! Tá preparado? - Ele falou feliz da vida e eu apenas fiz uma careta que poderia ser interpretada como um sorriso. — Eu e Erick vamos morar juntos!

Meu Deus.

— Isso não é o máximo? Eu sei que você deve estar pensando que já não era sem tempo, afinal somos dois caras adultos e tudo mais, porém o real estopim para a gente fazer as nossas malas, foi porque meus pais brigaram feio essa semana. - Enrique falou sério, então fiquei aguardando o resto, mesmo não fazendo nenhuma conexão entre isso e essa mudança catastrófica. — E essa nem é a pior parte...

— Qual a pior parte? - Perguntei assustado, porque até onde eu sabia, Ciaran e Eileen Dussel eram um casal muito feliz, o que foi que aconteceu?

— A reconciliação. - Erick falou enojado por trás da máscara e Enrique concordou com a cabeça. — Você sabe que eu tenho o estômago fraco, então tivemos que sair daquela casa imediatamente antes que víssemos algo que não pode ser desvisto!

Respirei fundo, porque isso é tão, mas tão ridículo e o pior é que não tem entidade na Terra que possa demover um sonserino estúpido e mimado e um ex-djinn hipocondríaco de uma má ideia, então esfreguei as mãos no rosto para acordar desse pesadelo e escolhi fazer perguntas práticas.

— Ok, certo, vão se mudar, mas... Quem vai tomar conta de vocês? - Falei em um tom neutro e eles se entreolharam sem entender. — Quem vai cuidar das roupas, das tarefas domésticas? Quem vai cuidar da sua dieta especial absurda, Erick? Hum?

— Váli vai cuidar dessas coisas! - Ele respondeu como se o absurdo fosse eu.

— Nós já pensamos em tudo, vamos contratar um elfo doméstico naquela agência bacana que é certificada pelo Ministério e ele vai fazer todo o trabalho pesado.  - Enrique falou olhando para Erick, que confirmou a informação com a cabeça. — Enquanto ele não chega, vamos pedindo comida via flú, e não, não faça essa cara, estamos cientes dos riscos, minha mãe já me disse que a vida fácil acabou: se a gente esquecer de pedir, vamos ficar com fome, porque os melhores restaurantes têm número de pedidos limitado por noite!

Dei a Enrique meu melhor olhar sarcástico, porque... A vida fácil acabou?

— Ok, certo, deixa quieto, eu sinto que com vocês dois na conversa a gente vai mudando o canal da TV até achar um assunto que não seja ridículo. - Falei coçando a sobrancelha, tentando encontrar outro tema, mas nem precisei ir muito longe, porque temos uma coisa pendente. — Hey, aproveitando que você está aí, Erick, o que você sabe sobre profecias?

Perguntei animado, porque se tem alguém que sabe sobre essas coisas, esse alguém é essa alma perdida que insiste em me chamar de sobrinho. Ele me olhou desinteressado por trás da máscara, mas respondeu mesmo assim.

— Enrique me falou dessa profecia nova de vocês, eu não estou surpreso que algo assim tenha caído no colo da sua turma, vocês são um bando de perturbadores da ordem pública. - Ele falou se fingindo de cansado, mas depois notei seu sorriso por trás da máscara, pelas ruguinhas de leve ao redor dos olhos. — Mas é um poeminha interessante esse que vocês ganharam, não?

Roí as unhas, ansioso com o tom de voz malicioso dele.

— Você sabe de algo, não é? Do que se trata? É realmente perigoso? - Perguntei alarmado, porque era bem a cara de Erick ficar guardando o jogo só para ver a gente se fodendo no futuro. Igual ao que ele fez no lance de Maikai e dos lobisomens!

Na verdade, esse seria um ótimo nome para uma banda...

— Eu não sou um deus, Cesc, eu não posso ver tudo que vai acontecer no futuro, as possibilidades são infinitas! - Ele disse soando arrogante mesmo em seu momento de humildade. — Essa profecia é do tipo irritante, futuro em aberto, eu não sei muito dessas coisas, gosto de trabalhar com certezas.

— O que isso quer dizer? - Perguntei desconfiado e Enrique deu de ombros, mesmo a pergunta não sendo para ele.

— Olha... Caí um par de vezes na mão de profetas quando era gênio e tenho experiência vendo o futuro, mas na maior parte das vezes ele estava atrelado aos pedidos, eram dados prontos, como... Não sei, verificação automática se Cesc Fábregas vai ter acesso a um hambúrguer vegetariano na Austrália, coisas assim.

— Então você não consegue realmente prever o futuro? - Enrique perguntou curioso.

— Podia e posso antecipar algumas coisas aqui e ali, pude exercitar mais o poder principalmente quando estive na mente de Cesc, fora da lâmpada, porém no restante do meu tempo como djinn, o futuro que via era atrelado ao dos meus amos. Aprendi o mecanismo, mas estaria mentindo se dissesse que tem sido fácil acessar o Destino de toda a bruxandade agora, sem a ajuda da maldição.

Ele consertou a máscara no rosto e eu fiz uma careta desdenhosa para a declaração.

— Então basicamente você está dizendo que é um inútil agora? Que sem o poder da lâmpada, você não pode fazer nada? - Falei debochado e ele pôs os olhos em fendas.

— Ainda posso brincar com o seu futuro, por exemplo, que, até onde as vistas alcançam, é tedioso e medíocre.  - Ele respondeu no mesmo tom e eu me senti muito ofendido, que merda é essa, futuro? Tá zoando com a minha cara? — Mas admito que não consigo prever muita coisa quando se trata de profecias abertas, que são apenas avisos e não a coisa concreta em si...

— Por que não? Achei que profecias fossem vislumbres do que está por vir também, por que você não pode vê-las, se pode ver o resto? - Enrique questionou curioso e eu aguardei a resposta, pacientemente.

Dessa vez a pergunta foi boa.

— Certo, pois bem... Confesso que na verdade estou enferrujado nessa prática de analisar profecias abertas, mas, para a sorte de vocês... - Ele gesticulou afetadamente, depois olhou para a câmera do celular com um olhar pragmático. — Essa era meio que uma das minhas obrigações quando eu era humano.

Opa!

Enrique arregalou os olhos e eu também fiquei surpreso, porque não esperava ver Erick falando sobre sua vida humana, antes de se tornar djinn, digo, porque achei que esse era um segredo que ele levaria para o túmulo!

Isso significa que, ou ele está morrendo ou que essa é uma oportunidade única só porque ele está de bom humor hoje, então não vamos desperdiçar a chance em qualquer que seja o caso, mas se for a morte... Que pena, fazer o quê?

— E... O que você fazia nesse seu trabalho? - Fingi pouco interesse nas coisas que o levaram a prisão eterna, para focar na parte que ele estava disposto a contar. Erick olhou para longe, mexendo no seu anel que tomava o dedo médio e o indicador quase que por completo.

— Eu era um guardião, minha mãe acreditava que um dia eu poderia chegar a ser um Ensi, que era o sacerdote mais importante de uma cidade e a minha cidade... Ela era a mais importante de todas. - Ele abaixou a máscara até o queixo, dando um sorrisinho saudoso, dessa vez visível. — Eu era importante. Ou ao menos seria um dia...

— E o que foi que você...

— O que fazia com as profecias abertas? - Cortei a fala de Enrique, antes dele perguntar algo que não devia. Erick franziu o cenho, tentando lembrar de uma vida há muito vivida.

— Eu atestava a veracidade: registrava e então checava termo por termo, palavra por palavra, fazia listas de possibilidades isoladas, então cruzava com informações reais, vindas das bocas do povo. - Erick sorriu como se pudesse ver novamente sua vida passada, mesmo ele tendo dito uma vez que mal se lembrava do seu próprio gênero! Que surpresa, ele estava mentindo. — Ur era uma cidade Porto, recebia pessoas de todos os lugares, profetas e charlatões de todos os lugares, sempre havia uma catástrofe anunciada, então nunca faltava trabalho.

Ele riu sozinho e Enrique o olhou curioso.

— Então era isso que você fazia? Era tipo um... Arquivologista? - Perguntou em dúvida e eu me ajeitei melhor no meu banco no final do labirinto de sebes próximo ao estádio da escola, porque aquela era uma pergunta sem grandes riscos.

— Já disse o que era, eu era um guardião! Lidar com profecias era um dos nossos muitos trabalhos, mas a razão de ser do nosso grupo era proteger o Ensi dos males das Trevas. - Ele falou brincando com a mascara de proteção dos chineses contra a poluição ainda presa nas orelhas. — Ele se comunicava com os deuses e nós garantíamos que nada o atingisse quando estava vulnerável e que a vontade divina fosse cumprida.

— Você acreditava em deuses naquela época? - Perguntei educado, mas Erick olhou através da câmera, daquele jeito que ele faz às vezes e parece que está te olhando através da alma.

— Não é porque os Dingir cortaram contato com esse mundo, que eles nunca tenham existido. - Ele falou sério e eu senti uma vontade de pegar meu crucifixo, herança de meu avô, para afastar o capeta da conversa, mas lembrei que o havia perdido na floresta dos lobisomens, saco. — Antigamente a distância entre nós e o Sagrado era menor e tudo que hoje é considerado obscuro, antes era revelado...

O celular de Enrique devia estar em algum suporte estilizado, porque a câmera não tremia, nem mexia e focalizava o rosto de ambos com um perfeito enquadramento. Parei para refletir um pouco, porque a descrição do que Erick fazia, bate um pouco com o que os Inomináveis fazem hoje.

Até onde sabemos deles, claro.

Os Inomináveis, assim como os guardiões da época de Erick, investigam e nos protegem - não apenas as figuras poderosas - de ameaças misteriosas e obscuras, que os aurores não conseguem lidar ou seja: Profissão. Sinistra.

— Você por acaso ia nas ruas fazer cumprir as profecias ou lutava contra essas tais forças das trevas? - Perguntei cauteloso e Erick fez um aceno de cabeça.

— Algumas coisas precisavam ser evitadas e outros futuros precisavam ser protegidos, tudo de acordo com a vontade dos deuses. - Ele falou sério e eu continuei atento. — Na maior parte das vezes as Trevas para nós eram tão intangíveis quanto para vocês, mas Ela... Ela podia brotar no mais inesperado dos campos quando queria.

— Como no coração de um dos guardiões? - Enrique sugeriu sem olhar para Erick e eu fiz uma careta, porque aquela insinuação era pesada. Devíamos ter feito uma reunião antes, para que eu o impedisse de dar essas bolas foras!

— Sim... - Erick olhou para frente meio hipnotizado e eu e Enrique meio que paramos de respirar. Ele voltou a nos encarar com um sorriso enigmático. — A Treva é a mais sedutora das amantes, sussurra verdades inconvenientes e nubla o seu julgamento. Faz você cair e ainda assim... Dirá a qualquer um que nunca foi tão feliz!

— Err... Acha que... Acha que estamos lidando com algo das trevas agora? - Perguntei com cuidado e Erick apenas ampliou o sorriso saudoso. Que bizarro, tomara que ele não esteja com saudades da sua amante.

— A parte que mais me chama atenção é a que diz que quem quer que precisa ser impedido, tem igual poder a quem o tentará impedir. Isso trás certa poesia as coisas, porque o Mal pode usar algo bom ou o Bem pode estar usando algo do mal... - Erick se aproximou da câmera feliz da vida. — Ou simplesmente a magia de ambos seja neutra. Hipótese interessante, não?

Sim e bastante antiga, Erick não era o primeiro a acreditar que a magia é neutra na sua forma mais pura, mas eu, particularmente, ainda penso que há aquelas que são realmente malignas e que se eu estivesse no lugar dele, por exemplo, não me deixaria corromper usando essa desculpa de que o mundo é um grande borrão cinza feito de boas e más intenções.

— Independente do que seja, você... Está disposto a nos ajudar? - Perguntei com seriedade e ele apenas voltou a se recostar na cadeira em que estava.

— Claro, sobrinho querido, pegue pergaminho e pena para anotar o que deve fazer. - Ele deu a ordem com um sorriso malicioso, mas eu segui, porque... O que mais poderia fazer?

Independente do que ele diga, uma coisa é certa: eu só vou fazer o que eu achar que deve ser feito e ele só me dirá o que ele acha que eu tenho que saber.

Boa sorte para mim então.

***

Depois dessa reunião improvisada com os senhores “riquinhos sem babá”, estava com a cabeça cheia de ideias para ajudar nessa coisa da profecia sem me envolver diretamente, o que o meu anjinho da guarda agradece, claro.

Sai pelos corredores do palácio procurando por Louise para passar as novas informações e a avistei no final do corredor que dava para o restaurante, quase ao mesmo tempo em que ela me avistou. Ela pareceu animada ao me ver, como se estivesse me procurando também.

— Ei, acabei de ter uma conversa esclarecedora! - Tomei a frente do papo, por que todos sabemos o quanto Louise gosta de falar, né?

— Eu também, só que a minha foi ontem a noite, mas isso não vem ao caso, fale primeiro, porque tenho certeza que o meu assunto é mais importante merece ser ouvido com atenção. - Ela respondeu ainda empolgada, colocando a mão dentro dos bolsos do seu terninho azul claro. A olhei de soslaio.

— Só porque você quer! Falei com o nosso tio das trevas e ele me ensinou a decifrar a profecia do trocador de coisas, supera isso, fedelha! - Falei dando um toquinho no ombro de Louise para passar a bola para ela na disputa, mas ela não gostou muito.

— Ok, você conseguiu minha atenção, mas ainda acho que a minha questão é melhor que a sua. - Ela falou cínica e eu a olhei com deboche. — Mas vamos lá, desembucha, o que Erick falou?

— Ele disse que está enferrujado no assunto, mas que na época de humano dele, ele trabalhava com uma espécie de cruzamento de tabela própria para profecias. - Abri a porta da nossa sala de estudos, deixando Louise passar na frente e assim que sentamos, eu peguei um pergaminho e comecei a desenhar o modelo. — Ele mandou a gente destrinchar a profecia em três partes: vilão, mocinho e ações, o que se enquadra perfeitamente na nossa visão maniqueísta das coisas, segundo ele.

Anotei os títulos de cada categoria, dividindo o pergaminho mais ou menos em três partes, Louise olhou atenta.

— Aqui colocamos todas as características do tal vilão, aqui a do mocinho e nessa a gente põe as ações listadas. Então em cada uma das categorias a gente testa possibilidades de sinônimos e cruzamos as características, assim, olha!

Peguei o termo do trocador de vidas e coloquei no topo da coluna na parte do vilão. Embaixo, numerei para colocar as possibilidades de significado e Louise se debruçou para ver melhor, ainda atenta.

Coloquei na outra coluna, poderes: destruir tudo que toca? tocar almas? Trocar vidas*?

Marquei um asterisco em vidas e puxei uma nota de rodapé no final do pergaminho “vida e almas são sinônimos?”. Voltei para cima, na parte do mocinho e comecei a rabiscar tudo que sabíamos pelas três linhas da profecia.

Poder igual ao do vilão: destruição? Tocar almas? Trocar vidas?

Alma desejada pelo vilão.

Por fim, passei para as ações na última seção:

Alguém destruindo tudo que toca;

Duas ações iguais com diferentes resultados**;

Coloquei dois asteriscos na palavra resultados e acrescentei na legenda do final do pergaminho “qual dos poderes o mocinho e o vilão tem em comum? Será que é possível diferenciar as ações de um e de outro mesmo sendo de origem igual?”

Vilão tenta “tocar a alma” do mocinho?

Mocinho subjuga vilão?

Sublinhei as duas últimas ações, porque aquelas não eram pistas, eram possivelmente o início e fim do cumprimento da profecia. Olhei para tudo que tinha escrito e depois para uma Louise de cenho franzido.

— E aí a gente começa a trabalhar de verdade. - Suspirei concentrado na missão a minha frente e Louise me olhou um pouco assustada. — Isso é o que a profecia nos deu até o momento, agora vem a parte que nós interpretamos os dados, como Erick disse.

— Isso parece complicado, mas ao mesmo tempo... - Louise puxou o pergaminho para si com um sorriso divertido. — Não imagino um trabalho melhor para um Fábregas! Talvez Erick seja realmente nosso ancestral depois de tudo.

Revirei os olhos e apontei para o raciocínio no papel.

— E então, o que acha? Para o vilão temos que pesquisar e elencar tudo que possa ser um “trocador de vidas”, tudo que “destrói o que toca” e “toca” almas, depois eliminar aqueles que não preenchem os três requisitos. - Falei sério e minha gêmea teoricamente mais esperta deu de ombros esperançosa.

— O quão difícil pode ser achar algo com as três características? - Ela disse com um sorrisinho otimista.

— Vejamos... Que tal um auror em uma missão secreta? - Falei sem sentimentos, Louise fez uma careta, então numerei as características na mão. — Ele troca de vida para assumir os disfarces, ele destrói o esquema dos vilões de dentro para fora e ele toca almas, metaforicamente falando, ao tirar as pessoas do crime ou ao salvar as vítimas ou ao salvar as pessoas que só estavam ali sem ser bandido de verdade!

— Aí você está forçando a barra... - Ela falou maneando a cabeça e eu respirei fundo para não afoga-la em uma poça de lama no jardim.

— Erick disse que nesse primeiro momento a gente não pode descartar nenhuma das possibilidades, porque quando formos cruzar com as outras coisas e procurar isso no mundo real, vai rolar uma seleção e afunilamento de hipóteses! Você não quer acabar sem nada antes do final, né?

— Ah meu Merlin, mas como a gente vai saber que as nossas hipóteses estão certas? - Louise tirou seu chapeuzinho de suspiro para passar a mão pelo cabelo, agora na altura dos ombros, exasperada.

— Erick disse que não tem como saber até que aconteça, mas quando a gente condiciona a mente a analisar os fatos, a gente consegue identificar os sinais quando chegar a hora da profecia. - Falei exatamente o que ele disse, tomando o pergaminho de volta. — Ele mandou criarmos um modelo e enviarmos para todos os Iconoclastas, para cada um montar o seu, dessa forma vamos ter possibilidades repetidas, que podem ser as nossas favoritas e um sem fim de outras que só pessoas com vivências específicas poderiam pensar.

— Gosto do jeito que nosso tio pensa. - Louise falou sucinta, pondo o chapéu de volta. — Vou mandar esse modelo para os outros mais tarde, mas você vai querer trabalhar comigo ou sozinho?

— Não tem lógica a gente fazer sozinho, porque temos muitas coisas em comum, inclusive a forma de pensar os problemas e... - Louise me olhou cética e eu revirei os olhos. — Com uma diferença aqui e ali, nada que justifique um trabalho separado! Mas, por exemplo, seria interessante Fred fazer a própria lista, porque ele deve ter outro tipo de ideia, entende? Talvez a gente possa juntar os nossos resultados com os dele antes de passar para o restante do grupo depois.

— Bem, acho que faz sentido... - Louise falou com pouca convicção, mas sem argumentos suficientes para retrucar.

A sala de estudos do Dépayser havia enchido um pouco mais agora, com dois grupinhos de estudantes se arrumando nas outras mesas, um muito próximo da gente para continuar essa conversa, mesmo usando um feitiço para isolar o barulho ao nosso redor, então resolvi mudar de assunto.

— Ok, voltamos a isso mais tarde, agora me fala o que você descobriu que era tão importante assim, que você ficou toda convencida. - Guardei o pergaminho no bolso, estava pronto para ver Louise admitir que o que quer que ela tenha descoberto, nem de perto era tão legal quanto o meu assunto, mas eu estava enganado.

De novo.

Minha gêmea do mal abriu um sorriso empolgado e me deu tapinhas no braço, como se não conseguisse conter a animação.

— Descobri coisas sobre o nosso outro problema, o problema “diurno”. - Ela fez as aspas com as mãos, divertida e eu a olhei sem paciência, sem entender merda nenhuma.  — Me refiro ao problema do Quadribol versus Esgrima.

Ah.

— Por que não disse antes, obtusa? - Falei irritado, porque era bem a cara de Louise ficar com códigos bestas que ninguém entende! Ela dispensou minha irritação com um gesto de mão.

— Porque achei que fosse óbvio que quando me referia ao problema diurno, estava falando sobre a confusão que as nossas personas civis podem discutir em... Tá, tá, vou direto ao ponto: descobri um jeito de facilitar a nossa reunião com os atletas.

Olhei com suspeita para minha irmã, porque ela estava fazendo aquela cara de quem ia nos colocar numa merda ridícula e absurda e depois eu é que iria levar toda a culpa!

— Como assim facilitar a reunião? Se tem algo que eu aprendi na vida, é que nada que é fácil é bom. - Falei realmente cético e ela me deu seu melhor sorriso inocente.

— Isso porque você está calejado, pobrezinho, mas dessa vez facilitar as coisas vai ser algo bom, confie em mim. - Ela disse isso simpática, enquanto tirava um pergaminho da sua bolsa na cadeira ao lado. — Mas para começar... Quando falamos em França, no que você pensa?

— Em comida.

— Ok, certo... Mas além disso, no que mais você pensa? - Ela perguntou de novo, com paciência e dessa vez eu pensei com cuidado na resposta.

— Em bebida! - Falei empolgado e ela me olhou irritada. — Em vinho, especificamente.

Louise olhou ao redor da sala, respirando fundo e antes que eu pudesse falar “Perfume”, porque queijo é comida também e isso eu já disse, ela me silenciou com um levantar de mão afetado, muito parecido com os modos de Erick, se for parar para pensar.

Bizarro.

Amor, Cesc, a França é conhecida pelo romantismo! Deus, estou lidando com uma porta? - Ela perguntou para si mesma, mas eu ouvi e me ofendi mesmo assim.

— Eu nunca responderia amor, que palhaçada! - Falei irritado e ela me olhou igualmente brava.

— Então só ouça, porque o caso é sério! Ok, tá, o amor... Os franceses são conhecidos mundialmente por ter uma outra visão de mundo quando se trata de sentimentos, nós espanhóis até temos a paixão no sangue, mas os franceses inventaram o beijo de língua, tem a cidade mais romântica do mundo e falam o que é considerada a língua do amor!

— Só uma dessas coisas me interessa...

— De toda forma, esse sentimento todo está na base das ações deles, mesmo que aparentemente elas sejam racionais, o amor sempre está no cerne dos problemas, então presta atenção! - Louise falou, ainda irritada.

— Acho que estou prestando mais atenção do que o assunto merece! - Falei com desdém e ela me olhou feio.

— Calado! Lá vai o quadro da situação: na esgrima, Leiris e Beaumont estão em guerra e todos sabem que eles são ex-namorados que se desentenderam feio e para completar, as melhores amigas dos dois, Gomes e Roussos, odeiam o parceiro dos amigos e odeiam uma a outra também, o que é meio que Romeu e Julieta: a “família” do casal se odeia, a diferença é que o nosso casal principal não quer ficar junto, o que nos leva a situação dois...

— Meu Merlin... - Louise tá metralhando essas palavras na minha cara, como se eu já não tivesse me perdido no início dessa baboseira toda!

— No Quadribol temos um quadro diferente: Lo Presti e os gêmeos Sartori dominam o time perfeitamente e tem o apoio de Abigail Theuerkauf e Joanna D’Lefevre, que não são jogadoras, mas são relevantes porque, primeiro, Abigail também detesta Leiris, atual capitão da equipe de esgrima, e ela é amiga e conselheira da capitã e ainda faz parte da equipe de debates, o que significa que fica enchendo a cabeça de Lo Presti contra Leiris, como se precisasse...

— Louise, eu...

— E segundo, o mais interessante é que, além disso, ela é melhor amiga de D’Lefevre, que tem uma quedinha por Lo Presti e você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com qualquer coisa. - Eu estou me perguntando mais do que isso, mas minha irmã só parou para tomar fôlego e continuar sua explicação maluca. — Prepare-se para ter sua mente explodida agora: D’Lefevre e Gomes são primas por parte de mãe!

Louise fez o gesto de mente explodindo e eu a olhei como a garota ridícula que ela é.

— Quê? - Perguntei sem entonação alguma, porque não estava realmente interessado na explicação. Ela finalmente pegou o pergaminho novo e começou a fazer um diagrama.

Ou um diabograma, não sei.

Louise escreveu todos os nomes de sua historinha de “amor”, sob o meu olhar pouco impressionado, depois fez linhas conectando os pontos: setas para os casais, tracejado para o ódio e zigzag para a amizade, colocou até um símbolo para representar se o sentimento era de mão dupla.

Fiquei impressionado.

Ela levantou o olhar para mim e apontou para o lugar onde estava o nome de Joanna D’Lefevre, conectada a Lo Presti por amor, a Theuerkauf por amizade e a Gomes também por amizade, embora essa última fosse mais por parentesco e é claro que eu disse isso a ela.

— Mas além de família, elas são amigas e, com exceção da situação de Leiris e Beaumont, Joanna é nosso trunfo para desfazer todos os nós dessa equação! - Louise falou feliz e eu ignorei a mistura de metáforas de matemática e de... Costura ou talvez náutica, não sei, nós se aplicam a várias coisas.

—Como?

— Se convencermos ela que a união das duas equipes é algo bom, o que não deve ser tão difícil, já que ela tem uma prima na esgrima e é apaixonada por uma jogadora de Quadribol, e se dermos uma força no romance dela com Lo Presti, talvez a italiana, sob influência dela, fique balançada a aceitar conversar com Leiris! Se isso não for o suficiente, Joanna convence Abigail, sua melhor amiga, que convence Lo Presti, já que a alemã é e sempre foi a principal conselheira da capitã.

— Hum... Ok, entendi. - De verdade, tinha entendido, porque Louise apontou para os nomes no diabograma e ainda fez símbolos legais, como uma coroa nos nomes de Lo Presti e de Leiris e cetros nos de Abigail e Gomes, as “conselheiras reais”. — Mas como resolvemos os problemas românticos de Lo Presti e D’Lefevre e os de Beaumont e Leiris e o mais importante: quem inferno é Joanna D’Lefevre? Ela tem realmente poder para manipular todo mundo?

Louise revirou os olhos e respirou fundo.

— O poder dela é o mínimo, a gente cuida disso depois! O que importa é que ela é a garota azul do nosso dormitório. - Fiz que não com a cabeça, essa informação não me diz nada. Louise me olhou com um ódio mortal.

— É aquela menina que come panquecas de blueberry e queijos azuis no café da manhã, que até a carne do almoço é azulada e que... - Louise apontou para o nome da garota com o dedo, agressivamente. — Tem. Um. Cabelo. Azul!

Ela rosnou a informação final e eu sorri com sinceridade, porque agora sim eu lembrava da garota! Era aquela tímida que sempre senta ao lado de Abigail Nome Impronunciável nas aulas de Debate!

— Ok, já sei quem é, mas eu tenho outra pergunta, além daquela dos casos amorosos que você ainda não respondeu. - Falei repreendedor, mas ela deu de ombros, desinteressada nos detalhes complicados de seu plano. — Quem te deu todas essas informações?

— Ah, essa é uma boa pergunta! Então, eu estava conversando com Heidi e Nique no dormitório sobre isso porque esse é nosso caso diurno, certo? E as duas ficaram muito animadas em fazer o amor vencer uma guerra e tudo mais, daí Heidi me falou “sabe, você precisa falar com uma Sombra sobre isso...” e eu perguntei “Como assim? O que é uma Sombra?” e o...

— Como assim você não sabe o que é uma Sombra?

— Deixa eu terminar! E o mais estranho aconteceu: Juliet, que por acaso dorme na cama ao lado da minha, se virou e me disse “que bom que perguntou, querida Fábregas, permita-me ajudá-la” e foi assim que eu descobri todas essas informações sobre o pessoal aqui de Beauxbatons!

Louise concluiu animada e eu a olhei alarmado.

— Juliet Bertrand te deu informações por livre espontânea vontade? - Chequei com cuidado e ela fez que sim com a cabeça. — E o que ela pediu em troca?

— Nada, ela só disse que agora éramos amigas e quando ela precisar de minha ajuda, ela vai pedir, ué! - Louise deu de ombros e eu arregalei os olhos, com terror real e oficial. — Achei razoável.

Levantei da mesa, fiz o sinal da cruz sobre a cabeça da minha pobre irmã e dei um beijo de despedida em sua testa, porque ela era uma garota morta agora.

— Boa sorte.

Sai de perto da defunta o mais rápido que as regras de Beauxbatons permitem, mas ainda pude ouvir o grito desesperado dela atrás de mim, acompanhado dos “shiiiii” de silêncio pedido pelos franceses mal-humorados da sala de estudos do Dépayser.

— EI, O QUE VOCÊ QUER DIZER COM ISSO?

Se ela não sabe, eu é que não vou explicar as feituras do mundo para uma pobrezinha que acabou de fazer um pacto com o capeta, não é?

Que bem isso faria a ela agora? Já tá ferrada mesmo...


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Notas finais do capítulo

Ai, Juliet, melhore!

Segue a ficha de Joanna, feita pela amiga de Jweek, Tati: https://www.notebook.ai/plan/characters/313941