Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 116
Capítulo 116. Levemente confuso


Notas iniciais do capítulo

Já estava pronto, então, pq não postar?



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Capítulo 116. Levemente confuso 

Minha mãe estava dando mais uma daquelas risadas coquetes dela, tocando no braço de Erick como se ele fosse a melhor coisa inventada desde a batata frita. 

Olhei para a cara de minha irmã gêmea e Louise não me decepcionou, ela estava com os olhos arregalados segurando o riso, porque meus pais até tentaram ficar com raiva de Erick, mas ele girou a chave do seu charme magnético no máximo, girou tanto que um casal comum teria caído nocauteado. 

Os meus velhos só ficaram parecendo dois alienados mesmo. 

— Erick, você é tão divertido! Cesc, devia ter convidado ele para vir mais cedo, ele não é nada daquilo que eu estava pensando... - Minha mãe enxugou as lágrimas de riso, toda animadinha, respondi quase no mesmo tom. 

— Ele é exatamente o que você estava pensando, mas é que a senhora não liga mais de ter uma ex-criatura das trevas à mesa... - Falei em espanhol mesmo, porque Enrique agora estava entendendo tudo graças a uma cópia barata do marduk de Uagadou feito pelo nosso hacker de magia suméria favorito.  

Nem o prazer de fazer meu namorado de idiota o djinn me deixa ter, esse maldito! 

— Bem, Erick, você estava falando sobre remontar a nossa linhagem mágica antes de ser interrompido, como seria isso? Fiquei muito curioso. - Meu pai tentou mudar de assunto discretamente, antes que minha mãe começasse a argumentar calorosamente que ela tinha todo o direito de mudar de opinião.  

Você pode mudar de opinião como quiser, sua cor favorita era preta, agora é verde, mas mudar de opinião sobre o cara que manipulou seu filho a ponto de fazê-lo romper uma das leis básicas da vida e quase mandá-lo para a prisão, eu acho meio que forçação de barra, mas quem sou eu para falar isso em voz alta? 

Assisti Erick explicar calmamente como ele poderia identificar os traços de magia na minha família através de objetos antigos com história interligada a nossa ou talvez amuletos, mechas de cabelo em medalhões, esse tipo de coisa estranha, que eu espero muito que os meus antepassados não tenham guardado, porque é tudo muito esquisito! 

— Acho que a vovó Carlie tem muita coisa, a gente costumava dizer que basta um Fábregas ficar famoso para podermos nos exibir, porque o museu familiar já temos! - Minha mãe disse divertida, depois deu uma piscadinha marota para Erick. – Ok, eu disse isso, mas não contem a vovó. 

Oh. Meu. Merlin. Traição materna devia ser proibida, porque isso dói na alma, sério mesmo! Olhei para Enrique com a minha melhor cara de “dá para acreditar nessa figura?” e ele me respondeu, girando discretamente seu anel de filhote da máfia bruxa. 

Sua mãe é o tipo de pessoa que a gente quer ter como aliada sempre, porque quando ela te odeia é horrível, mas quando ela gosta, ela se torna a criatura mais adorável de todas! Ela me assusta e fascina em partes iguais. 

Levantei uma sobrancelha para essa declaração e nem me dignei a respondê-lo, porque eu não acho que haja no mundo uma resposta que caiba toda a minha indignação com essa frase final. 

Sinto que você vai ficar mais e mais interessante com o tempo, como ela, Cesc. Vai ter bruxos e bruxas tentando chamar sua atenção e cair nas suas graças a toda hora, será o validador da nossa sociedade, aquele que as pessoas vão para saber quem vale a pena e quem não vale... 

Revirei os olhos para o tanto de baboseira que Enrique era capaz de formular nessa mentezinha movida a adrenalina e testosterona dele.  

E vai ser rico. Muito, muito rico. 

Sorri para ele, porque dessa parte eu gostei. Louise olhou para a gente com o cenho franzido, depois deu de ombros e se inclinou por sobre seu prato para falar comigo. 

— Cesc, queria aproveitar que finalmente você está em casa para falar daquele assunto que estávamos conversando já, mas que eu prefiro falar pessoalmente, se é que me entende. - Ela falou tudo baixo e com mistério para os nossos pais não entenderem, mas eu também não entendi foi nada. 

— O quê? - Formei as palavras com os lábios, mas isso chamou mais a atenção de minha mãe do que se eu tivesse sapateado em cima do resto de comida sem bicho morto que havíamos comido. 

Queria tanto um bicho morto frito agora... 

— O que vocês dois estão cochichando aí? - Dona Olalla perguntou servindo um adorável sorbet de frutas vermelhas para o nosso não-convidado de honra, sem açúcar e sem lactose e já que estamos nisso, sem graça também.  

— Não estava cochichando, só disse a Cesc que ele precisa ler os apontamentos em francês que eu estou fazendo para ele, porque Beauxbatons não aceita feitiços de tradução como Uagadou...- Louise falou tudo isso e ainda teve tempo de fazer biquinho antes de dar mais um gole de seu copo de... Sei lá, sangue de unicórnio, porque essa garota não presta! 

— Então está mesmo certo, vocês vão para a França? - Meu pai perguntou levemente animado e minha mãe pareceu encantada, fiz minha melhor cara de “meh, sei lá”. 

— Eles não mandaram nenhuma mensagem, acho que vão prolongar o suspense até o final. - Falei tentando ser o mais realista possível, apesar da animadora carta enviada pela senhora Dussel dizendo que iria interceder por nós pessoalmente na reunião do conselho da escola. – Devíamos ter um plano B... 

— O plano B seria vocês dois cursando aulas regulares em uma escola trouxa... - Meu pai falou tranquilamente e teve Erick arregalando os olhos, Louise tapando a boca horrorizada e Enrique se engasgado. – Seria só por um semestre, pessoal, não é como se eu fosse mandá-los para o inferno! 

— O que eles fariam em uma escola trouxa? Aprenderiam a fazer celulares e... Comidas de todos os países? - Erick perguntou meio enojado e confuso e minha mãe apenas o olhou entre a diversão e o sarcasmo, devia estar pensando “ você não faz ideia do que é uma escola, não é? Vou te perdoar só por isso.” 

— Antes fosse, porque ao menos seria algo útil! Eles ensinam um monte de coisas que a gente nunca vai usar na vida, só para depois a gente conseguir passar num curso qualquer, esse sim que vai nos ensinar algumas coisas para usarmos, mas não muitas também! - Louise falou irritada e meu pai apenas levantou uma sobrancelha para ela. 

Opa, parece que alguém se deu mal... 

— Interessante saber que a mocinha acha que a educação trouxa é, basicamente, inútil. - Meu pai disse em seu melhor tom sério. Queria tanto ser rico agora para ter aqueles guardanapos de pano que escondem a nossa cara de “rindo da desgraça alheia, mas com respeito e classe”. – Creio que até agora eu e sua mãe só perdemos o nosso tempo estudando tanto, não foi? 

Ela se ferrou, não foi? 

Fiz que sim com a cabeça e Enrique deu uma tossidinha para disfarçar o riso, a coisa toda é que isso foi um péssimo movimento, porque meus pais o olharam com expressões não muito amistosas. Ele sorriu educado. 

—  As escolas trouxas não me parece muito diferente das bruxas, aprendemos coisas que esquecemos no minuto seguinte e as especializações e esforço próprio é que nos fazem bons nas nossas áreas. - Ele falou em inglês mesmo, então meu pai entendeu e minha mãe entendeu parte. – Meu pai diz que só aprendemos a fazer, fazendo. 

— Eu gosto muito de seu pai, Enrique, ele sabe das coisas. - Meu pai falou com um sorriso diplomático e depois deixou ele ficar um pouquinho menos simpático quando olhou para Louise. – E quanto a você, mocinha, talvez possamos falar um pouco mais sobre trouxas e seus conhecimentos mais tarde, o que acha? 

— Eu... Tenho certeza que vou adorar cada segundo dessa conversa. - Minha gêmea falou cínica e depois me deu um olhar bravo. Me fiz de desentendido, porque ela entrou nessa roubada sozinha. Infelizmente meu pai me encarou também.  

Ok, pensa rápido, Cesc! PENSA RÁPIDO! 

— Eu já mencionei o meu plano de dar continuidade tanto a minha educação bruxa quanto trouxa depois da escola? Não? Pois é, tem esse programa de seis meses que a gente faz depois da formatura só para aprender a transformar nossas cartas de recomendação e experiências bruxas em trouxas, inclusive já existem algumas universidades espanholas que aceitam estudantes bruxos sem... 

Sabe a técnica “confundir todo mundo com uma metralhadora de informações aleatórias uma emendada na outra para nem dar tempo de alguém perceber que você simplesmente está jogando uma cortina de fumaça na conversação para seu pai não te obrigar a ouvir um sermão que você nem merece”?  

Foi o que eu fiz e para minha felicidade, deu certo. 

*** 

Ok, eu tenho quase certeza que tinha algo no manual de funcionários do HACCMA sobre não enrolar nas suas atividades porque pode ter uma criatura mágica MORRENDO enquanto você está aí sendo inútil e provavelmente tem algo sobre prestar atenção por onde anda, mas, para a minha sorte, não existe fiscal de corredor por aqui. 

Ela vai para o Japão, Cesc, para o JAPÃO e isso eu não posso aceitar, é um absurdo de proporções épicas! 

Dei uma olhada ao redor para ver se alguém estava reparando no jovem e belo realizador de desejos dando passos de tartaruga no corredor enquanto preenchia um formulário infinito com sua incrível e elegante pena negra.  

Nah, ninguém estava prestando atenção, então voltei ao meu papo com Tony. 

Cara, sinto que eu perdi alguma parte da sua mensagem, qual é mesmo o problema de Tracy ir para o lugar mais distante em que eu posso pensar? Fora o fato dela estar na mesma escola de Aidancórnio, mas isso ela já estava antes e eu sempre posso comprar Akira e mandá-lo tocar fogo no cabelo dela, sei lá, estou sem ideias, esse hospital está me fazendo mal. 

Cumprimentei uma auxiliar apressada e ela mal teve tempo de me dar um sorriso simpático, antes de virar a esquina cheia de prontuários bagunçado nas mãos. Alguém vai levar esporro da curandeira Fuentes... 

O problema, queridinho, é que até Tracy teve bolas para se arriscar em outras paragens e eu estou aqui caindo na mesmice, topando ficar convenientemente aninhado nos seus braços ou nos palitos de Scorp, o que sair primeiro no duende ou dragão, quando a gente viu que tem uma maravilhosa escola não contemplada no nosso plano do Ocaso mundi! 

Fiz uma careta para o chilique, mas respondi o que era mais importante primeiro: 

Não finja que tem um galeão para jogar para cima e tirar um duende ou dragão... 

Estou falando sério, Cesc 

Tá, ok, o que eu quis dizer é que não tive tempo de olhar a lista que Louise fez com a nossa escalação, quais escolas ficaram sem representantes mesmo? Salem e 

NINGUÉM SE IMPORTA COM SALEM 

Ia dar risada, mas me controlei, primeiro porque seria estranho uma pessoa rindo de um prontuário médico - estranho, mas não incomum - e segundo, porque acabei de me bater com uma realizadora novata, que estava saindo da sala de equipamentos com uma cadeira de rodas. 

— Nossa, me desculpe, machucou? - O barulho foi alto e minha prancheta caiu, mas a garota fez que não e saiu rápido da minha frente, de cabeça baixa, com seus cabelos escuros cobrindo o rosto completamente. – Eu só... 

Ela era veloz, continuou seu caminho sem nem olhar para trás, empurrando a cadeira o mais depressa que era possível sem parecer que estava correndo. Olhei para onde ela tinha ido com o cenho franzido, porque não tinha nem tido tempo de me apresentar a ela e devo dizer, se ela continuar com essa atitude arisca, vai ter pouco progresso por aqui! 

Peguei minha prancheta e pena do chão, pronto para contar a Tony sobre garotas malucas e desastradas - tá, eu sei que fui eu quem estava distraído, me processem - quando olhei o pergaminho e vi que tinha várias mensagens dele, mas a principal era a que estava se materializando agora: 

EU VOU PARA CASTELOBRUXO 

EU VOU PARA CASTELOBRUXO  

EU VOU PARA CASTELOBRUXO 

CESC, SEU DESGRAÇADO, SE VOCÊ NÃO RESPONDER MINHAS MENSAGENS, EU VOU PARA AZKABAN POR CAUSA DO SEU ASSASSINATO! 

A última mensagem me acordou do meu torpor, porque, o que diabos Tony estava pensando da vida? 

Como assim vai para Castelobruxo? De onde você tirou essa ideia? 

Como eu respondi as mensagens gritadas, elas se apagaram e eu não pude ver o raciocínio, sem sombras de dúvida, RIDÍCULO por trás dessa decisão precipitada, então só me restou praguejar contra esse sistema de comunicação odioso em que estávamos presos, já que Tony não pode comprar um maldito celular! 

Eu já te disse, Castelobruxo não pode ficar sem representação e eu já coloquei o plano para conseguir ir para lá em prática, então não adianta vir tentar me demover da ideia! 

Vi um vulto se aproximar na minha direção determinado e fiquei tenso, mas no fim das contas era só Hugh, o estagiário mais idiota desse hospital. Me pergunto como ele sempre consegue me achar, não importa onde eu esteja! 

— Estou a mais de uma hora te procurando feito louco! - Ele falou irritado e agora eu cheguei a conclusão de que ele só me encontra, porque não tem nada melhor para fazer na vida. – Preciso falar uma coisa séria com você.  

A segunda parte do plano eu dei início ontem, fui com meu pai assistir uma das semifinais da Taça Sulamericana de Quadribol no Felix Felices e o deixei encantado, disse a ele que não se via batedores como aqueles na Europa, que se ao menos eu pudesse aprender um pouco daquele jogo de ombros e linhas de contenção... Estou tentando fazer ele aos poucos pensar que a ideia para eu ir para lá foi toda dele. 

 O que é dessa vez, Hugh? Não vê que eu estou ocupado? - Estava meio confuso tendo que acompanhar o plano de Tony e a carranca de Hugh enquanto andava sem tropeçar nos meus próprios pés pelos corredores da vida. 

Desculpe, perdi a primeira parte do plano, pode repetir? 

 Acontece que eu acabei de descobrir, ok, descobri há uma hora, que substituíram o realizador de desejos daquele garoto lobisomem e tipo, ele só passou a ser mais acessível depois que você começou a trabalhar com ele, por que te trocaram? Eu não preciso de um lobisomem rebelde truncando o meu plantão! - Olhei confuso pare esse lamento egoísta do corvinal - novidade - porque tinha coisa importante aí.  

Ele está falando de Maikai? 

— Ninguém me substituiu com nenhum dos meus pacientes, você deve estar enganado. - Falei sério, porque se tem uma coisa que eu tenho certeza, é que nenhum paciente meu foi dado a outro realizador. Olhei para a minha prancheta de novo, para ver a resposta de Tony. 

A primeira parte foi convencer minha mãe, que gostou da ideia, já que ela é super a favor de experiências novas e sem a aprovação dela eu nem colocaria o resto do plano em prática, o que me faz pensar que se um dia eu for pai, meus filhos vão obedecer primeiro a mim e não as mães, que coisa mais ridícula isso, né? 

Ri da inocência de Tony e me desviei do olhar de Hugh, que queria ver por sobre meu ombro o que eu estava escrevendo na prancheta. Fiz cara feia para ele, porque já estava indo ver Maikai fora do horário normal só para ele parar de me encher o saco, ele queria mais o quê? 

Esqueceu que seu primogênito é meu? Você trocou por um bastão cromado e antes de mais nada, não era você que não ia ter filhos? Rosinha te fez mudar de ideia? 

Sorri cínico para o papel e simpático para Maikai, que me recepcionou com um oi ansioso do seu leito. Antes de me aproximar completamente, deixei Hugh passar na frente só para ver a resposta sem vergonha de Tony. 

Acidentes acontecem, farei a primeira criança por acidente e as outras podem acontecer também, eu sei que eu não vou parar de tentar! 

Dei risada e sentei na cadeira ao lado de Maikai, finalizando minha conversa com Tony com um sincero “você que é um acidente, vou falar para Rose sobre Clara e sua paixonite e ver o que acontece com sua cara de pau”, baixei a prancheta e sorri para meu paciente favorito. 

— E então, Maikai, ouvi dizer que você me trocou por uma versão mais jovem e sexy, isso é verdade? - Falei sem rodeios e ele me encarou meio pálido, depois riu sem graça. 

— Na verdade me designaram essa garota nova, mas eu mandei ela ir buscar umas coisas pelo hospital, não acho que será um problema para o nosso relacionamento. - Ele falou sonso e eu o cutuquei na altura das costelas. 

— É bom mesmo... Mas e então? No que posso te ajudar hoje? - Perguntei acionando o timer de 30’ no meu broche e dispensando Hugh com uma das mãos. Ele foi embora aliviado, para fazer os altos nadas que ele faz por aí. 

— Acho que vou fazer aquilo que você me disse, vou tentar começar estudando minha poção modificada, porque se eu puder fazê-la sozinho, eu posso ir para qualquer lugar, né? - Ele me disse animado e eu sorri para essa nova atitude do lobinho. 

— Exatamente! Então, quer que eu vá pegar a receita com James? Eu sou péssimo com poções, mas tenho certeza que a gente pode ficar repassando a preparação até aprendermos ou morrermos, o que acontecer primeiro. - Ele sorriu e balançou a cabeça meio ansioso, então apontei minha varinha iluminada para seus olhos. – Você tá se sentindo bem, cara? Estou achando você meio agitado... 

— Tô bem, só ansioso com a nova perspectiva, eu sou do tipo que gosta de colocar logo a mão na massa... Depois de tomada a decisão, eu quero ver as coisas logo prontas. - Ele afastou minha varinha do seu rosto e meio que me empurrou para levantar de uma vez. – Vai logo, a gente não tem todo tempo do mundo! 

O olhei com o cenho franzido, mas como tinha visto no prontuário dele mais cedo que ele estava reagindo muito bem a poção mata-cão - viva James e seu outros amigos esquisitos do clube de poções! - preferi deixar como estava, não sem antes deixá-lo com um aviso sério: 

— Para de ser esquisito, você só tem três estrelas e se ficar com duas, eu vou parar de trazer doce contrabandeado para você! - Apontei para ele, que apenas deu risada e se recostou de volta na cama. 

Segui para o elevador assobiando animado, o que era um absurdo se você for parar para pensar que eu estava indo para o setor de Poções do hospital. O elevador finalmente chegou no andar de James e quando a porta se abriu, dei de cara com aquela garota estranha, a que está tentando roubar meus pacientes debaixo do meu nariz, vocês sabem. 

Aproveitei o momento para irritá-la, fazendo aquela coisa de tentar passar pelo lado que ela havia escolhido e depois de alguns segundos nessa idiotice, ela levantou o olhar impaciente para mim. Fiquei estático e ela aproveitou para me parar com uma mão no ombro, passar pelo meu lado esquerdo e me empurrar para fora do elevador. 

Assim que a porta fechou na minha cara, eu me recuperei do choque. 

—  Olhos amarelos? - Perguntei a ninguém e ninguém me respondeu, claro, então eu tirei isso da cabeça, porque era só o que me faltava, eu estava começando a ficar obsessivo com essa coisa de gente com magia descontrolada: primeiro o djinn, depois Maikai... Acho até que o novo gato dos vizinhos tem olhos amarelos que ficam me seguindo! 

Avistei James na recepção terminando de organizar alguns pergaminhos voadores com alguns acenos de varinha, então me impulsionei para sentar no balcão e recebi um olhar reprovador dele. Sorri para isso. 

— Estava até demorando... O que foi agora? - Ele resmungou antes de voltar sua atenção para os pergaminhos. Fiquei ofendido! Bem, aparentemente Hugh enche meu saco e eu encho o saco de James, um belo ciclo sem fim. 

— Preciso que você libere a receita daquela poção mata-cão modificada para pacientes com alergia a magia lupina. - Falei prático, porque isso não é um favor, estou aqui a trabalho! James me olhou com o cenho franzido. 

— Vocês sabem que as poções são protegidas por patente, não é? Nem adianta tentar vender para um boticário qualquer, porque eles não aceitam nada ilegal.  - James falou sem fazer sentido nenhum, como sempre e eu só não apontei o óbvio -  que existe muitos boticários igualmente ilegais por todo o mundo - porque tinha coisas importantes para fazer.  

— Deixa de ser idiota! Foi pedido de um paciente, nós vamos estudá-la para deixar o garoto mais independente quando ele tiver alta! - Dei mais explicações do que esse grifinório ridículo precisa, mas James continuou perdendo meu tempo, me olhando com estranheza.  

— Isso é muito esquisito, porque uma realizadora acabou de pegar uma cópia dessa bendita poção, vocês não conversam entre si não? - Ele perguntou irônico e dessa vez fui eu quem o olhei de cenho franzido, descendo do balcão. – Ela acabou de sair daqui, você até deve ter visto, a cheia de cabelo com um sotaque estranho, eu quase não entendi nada do que ela disse  e como ela não fala inglês, eu... 

Olhei para o elevador, então para James, elevador, James, elevador, James. O grifinório me encarava como se eu fosse louco, mas na verdade agora as coisas finalmente começaram a fazer todo o sentido! 

— Não acredito que ele me fez de idiota! - Rosnei furioso, porque aquele maldito lobisomem havia me despistado, provavelmente para fugir com sua amiguinha, que de tímida não devia ter nada! 

— Quê? Ele quem? Cesc, do que... 

Corri para o elevador e apertei loucamente o botão para ele chegar ao meu andar, mas ficou demorando como uma lesma apoplética, na décima terceira vez, a voz eletrônica soou no ambiente um “Emergência?” e eu bati ainda mais no botão.  

— Sim, é uma maldita emergência, anda logo! - Assim que eu terminei de falar, o elevador chegou com uma nevoazinha saindo das engrenagens, mas deixei a preocupação de lado, porque tinha um lobo fujão para capturar. 

Assim que entrei na caixa metálica, ela me perguntou qual o andar. Mordi os lábios, porque aquele desgraçado não poderia sair pela frente com suas portas cheias de encantamento e seguranças armados com varinha, então ele deve ter ido... 

— Terraço, por favor! - Muita sorte que elevadores não julgam ninguém, porque se fosse uma pessoa iria logo se perguntar que tipo de emergência precisaria de um realizador no terraço do hospital! 

Bem, puta que me pariu, tirando a fuga de um canarinho, provavelmente a única emergência com essas características estava acontecendo nesse exato momento: um lobisomem cigano com um parafuso a menos estava escapando do hospital que só estava tentando mantê-lo vivo! 

As portas se abriram para a área muito iluminada pelo sol espanhol e foi apenas uma questão de milésimos de segundos até eu avistar os dois meliantes segurando uma bota velha entre eles. Nem pensei direito, corri em direção aos dois e tentei tirar o objeto das mãos deles, só então eles notaram minha presença. 

— Não no meu tur... 

Eu nunca completei a frase, porque um puxão me embaralhou os pensamentos e literalmente tirou o chão sob os meus pés. Cai de joelhos com as mãos numa terra escura, o cheiro de madeira, umidade e pinho invadindo o meu nariz antes mesmo que eu pudesse ver onde estava. 

— Mas que caralh... - Assim que levantei a cabeça, dei de cara com dois pares de olhos amarelos me encarando com raiva. A garota, ainda com o mesmo uniforme que o meu, completou a cena com um sorriso sarcástico.  

— Parece que ganhámos um refém de brinde, Mai. - O sotaque cigano soou forte na voz afiada de quem não tinha muita paciência para garotos trouxas atrapalhando seu plano de fuga, porém foi o punho do cara ao lado que realmente me tirou do ar. 

Sim, amiguinhos, eu fui nocauteado.  


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Notas finais do capítulo

E aí? O q é q está acontecendo?

Bjuxxx