Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 113
Capítulo 113. Grey's Anatomy de baixo orçamento


Notas iniciais do capítulo

Capítulo do final de semana saindo bem cedinho, para todo mundo ler com calma!
Esse aqui eu dedico a Ana Black que quase adivinhou o nome no comentário do 112 (ela nem tentou, mas me impressionou e é isso q conta) e a Issu, que comentou em um monte de capítulos e bônus pedindo por Jamesc, mas se vem do coração (ou do fígado, sei lá), para gente é tudo luz!

Sim, meus critérios de dedicatória são meio pancada.



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Capítulo 113. Grey's Anotomy de baixo orçamento

Já estava nessa brincadeira divertida de acordar cedo, pegar minha chave de portal, visitar meus pacientes a quase uma semana - cinco dias para ser exato - então me aventurei no setor financeiro anteontem e ontem colhi os frutos das minhas solicitações:

Depois do expediente fui na Calle de Magia de Barcelona com Enrique e o meu cheque do HACCMA para gastos com desejos, comprei uma sacola de pirulitos de sangue para os vampirinhos do setor infantil - e outras criaturas, porque pirulito é universal - e depois fui numa loja de brinquedos para realizar o desejo da minha terceira paciente de hoje.

Estava caminhando com a sacolinha magicamente encolhida, indo a caminho do setor das criaturas pequeninas, quando senti um monte de coisinhas caindo em mim. Isso são pedaços de pergaminho? Mas o que...

— Não estou surpreso, mas estou decepcionado, agora deu para beber no trabalho também? - Falei para o meu mais novo colega de almoço, que adorava um alcoolzinho no café da manhã. Peguei dois pirulitos de sangue contrabandeados do bolso do meu uniforme e entreguei um a Hugh. 

— Estou jogando um punhado de confetes em você, para te parabenizar pelo bom trabalho. - O irmão de John aceitou meu presente e abriu logo o dele, andando de costas pelos corredores, para continuar me aporrinhando. – A curandeira Fuentes era só elogios hoje, disse que absolutamente todos os seus pacientes mostraram evolução! 

— Ela disse esse monte de palavras para você? O que você fez? Embebedou ela? - Hugh deu de ombros e eu sorri para ele, no fim das contas ele não era uma má pessoa, quero dizer, ele só  gosta muito de festas e quer ganhar uma estrelinha dourada na testa, que mal tem nisso?

— Ela grunhiu e me mostrou os relatórios e o resto eu deduzi. - Ele virou de frente quando um dos curandeiros-chefe passou por nós e o olhou com estranheza. – De qualquer sorte, meus parabéns!

— Não acredito que você se desviou lá do setor dos inteligentes pra vir aqui só para isso... - Ele sorriu amarelo e eu revirei os olhos. – O que você quer? Eu queria poder lançar uma azaração nas fuças do otário que disse que hospital é tudo sobre caridade, porque aqui, na verdade, nada é de graça...

— Meu salário de estagiário é tão baixo, que é quase de graça sim... Mas enfim, eu não quero tomar seu tempo, estou aqui apenas porque meu supervisor me deu um dia de folga para circular por outras áreas e “aprender com os outros profissionais”... - Ele recitou as exatas palavras e eu o olhei cético, sabia bem o que tinha acontecido, outra coisa sobre hospitais: são antros de fofoca.

— Ele te tirou do caso das veelas, não foi? 

— Merda! Isso foi tatuado na minha testa, por acaso? Eu só perguntei o que a garota ia fazer depois que tivesse alta! - Ele se defendeu sem necessidade, porque não tinha sido eu que o tinha mandado passear, literalmente. – Agora é suposto que eu me apresente no setor de espectrais, mas acontece que eu tenho medo daquele lugar!

— E você quer o quê, que eu segure na sua mãozinha para você conseguir fazer o seu trabalho? - Ele me olhou bravo e eu acabei mordendo o meu pirulito, porque já havia chegado ao meu destino.–  Você tem vinte segundos para dizer o que quer, depois quero que você vaze daqui.

— Aí é que está, eu quero ver você trabalhando, quero ver o seu mojo. - Ele disse se sacodindo e eu o olhei com uma careta enojada. Merlin, troco um Hugh por 10 John's! 

— O que eu fiz para merecer isso? - Perguntei para ninguém em particular, mas o Zé Ninguém ao meu lado respondeu.

— Até onde eu sei você roubou um gênio de uma escola africana e quase destruiu outra escola. - Ele disse sonso e me deu uma vontade enorme de contar a ele que foi o irmão caçula dele que me apresentou ao maldito djinn, mas isso não ajudaria na minha causa.–  Vamos, deixa eu ver o que você faz! Meu chefe disse que eu não sei lidar com os pacientes, tenho que aprender com quem está fazendo certo. Me conta o seu segredo!

— Eu sou uma pessoa magnética. - Disse sem humor, ele me olhou cético. – Ok, cabeçudo antipático, veja e aprenda!

Abri a porta vaivém do setor das criaturas pequeninas, cumprimentei o realizador do leito ao lado, antes de ir para a pequena cúpula que guardava a minha paciente bem impaciente.

— E aí, fadinha? Olha o que eu trouxe para você! - Sabby olhou desconfiada para o pacote pequeno que eu trouxe para ela, mas assim que ampliei, ela saiu de trás do bonsai que tinham colocado para animar o leito dela.

Na ficha da criaturinha constava que ela era uma fada que havia sido confundida com uma fada mordente na Itália ao vestir o casaquinho de pele de uma boneca trouxa. A conta era bem simples: coisinha humanoide cheia de pelos, igual a praga a ser combatida!

Uma bruxa idosa a trouxe para o HACCMA depois de perceber que ela era uma simples fada - não uma com uma mordida super venenosa e traiçoeira - que estava machucada, e agora Sabby estava se recuperando de uma asa quebrada e um machucado feio na cabeça.

E estava muito mal-humorada em seus aposentos sem graça.

— Trouxe uma mesa, cadeiras e um sofá! - Ela bateu palminhas contente e eu terminei de tirar os móveis de boneca que o setor financeiro havia me deixado comprar para animá-la. Não foi caro e de qualquer forma, o dinheiro do hospital vinha de institutos de magizoologia ao redor do mundo e de patronos e patrocinadores generosos, tipo a família do meu sogro.

 Não estou aqui por acaso, Heitor Dussel sabe o que faz, sempre.

— Ela pediu uma casinha para você? - Hugh olhava fascinado para a pequena fada correndo para arrumar seus móveis da melhor maneira possível, talvez seguindo algum tipo de feng shui das fadas. Sorri para a ignorância dele.

— Ela não fala, mas faz birra e eu li Scamander, sei que fadas são vaidosas e gostam de enfeitar casas bruxas, brilhando em seus jardins, então trouxe uma casinha bem colorida para ela. - Ele me olhou sem entender e eu me abaixei para me despedir de Sabby com um aperto de dedo-mãozinha, ela receberia alta logo mais e eu já havia encaminhado o pedido de Mirela para que a fadinha fosse viver em sua casa em Oxfordshire.

Era perfeito, Sabby teria um lar seguro e Mirela teria uma quase borboleta para chamar de sua, não sei porque os Dussel não pensaram nisso antes, fadas nem precisam ser cuidadas, você só tem que elogiar o bom trabalho delas e voilá, elas ficam enfeitando seu jardim para sempre!

— Minha mãe adora a coluna da senhora Scamander, mas eu nunca me interessei para ver...

— Não estou falando de Luna Scamander e sim de Newt, o cara que escreveu sobre as criaturas mágicas! - Falei para o corvinal mais tapado que se tem notícias, foi só sair da zona dos inteligentes que o Q.I dele foi parar no subsolo.

— Ah, eu não li muito isso não, não peguei Tratos das criaturas mágicas na escola... - Ele falou dando de ombros e eu apenas fiz um gesto amplo abarcando todo aquele setor em que estávamos. 

— Que ironia, não é mesmo, Hugh? - Ele sorriu, porque olha só onde a ambição dele o trouxe. – Você podia ter parado para pensar onde estava se metendo.

— Parecia uma boa ideia, tanto que eu até convenci... Ei, esqueci de te falar, sabe quem chegou para estagiar aqui também, só que no setor de poções? - Parei de andar meio assustado, porque se Edward Lupin estiver aqui, eu juro que vou colher uma amostra de sangue dele para fins puramente científicos. – James Potter!

— James o quê? 

— Potter! Você sabe... Vocês jogam na mesma seleção e ele até... Hey, para onde você vai? - Virei para ele, antes de dobrar o corredor e deixá-lo de braços abertos, sozinho.

— Me lembrei que tenho um pedido para realizar que envolve poções e... A gente se vê no almoço, Hugh, tenta não assediar nenhuma criatura até lá!  - Ele fez um gesto obsceno e eu dei risada, mas depois fiquei sério, porque sou um homem em missão.

Ok, lousa cerebral, apaga os detalhes do plano com o sangue de Lupin para fazer uma poção transfigurativa para poder me passar por Harry Potter e interrogar Erick, porque agora eu tenho uma coisa muito melhor!

Nos meus longínquos anos como meliante, eu fui testemunha do caso de amor bizarro entre James e Erick e seria uma filha da putice sem tamanho da minha parte se eu não fizesse tudo o que está ao meu alcance para esses dois ficarem juntos!

E de quebra James pode arrancar de Erick toda a verdade sobre Hogwarts! 

Peguei o elevador animadão, porque com toda essa história de realizar pedidos e planejar o Ocaso mundi, acabei esquecendo de olhar para os lados, quero dizer, eu literalmente estive na mesma sala que James no dia da vitória de Uagadou e não lembrei dele para me ajudar com o maldito djinn!

Eu estou perdendo minha inteligência, não é possível!

Quando o elevador parou no andar certo, conferi meu contador e vi que ainda tinha vinte e dois minutos com Sabby. Eu sei que isso é trapaça e que eu já resolvi o desejo dela em um tempo recorde e agora só estou adiando minha ida ao meu próximo paciente, mas não é como se eu tivesse uma meta de atendimentos para bater ou que Sabby fosse dar com a língua nos dentes!

Diferente das outras áreas, o laboratório de poções tinha uma primeira parede toda de vidro, a parte que era um boticário, onde os curandeiros e seus assistentes vinham pegar seus pedidos e encomendar suas gororobas para enfiar goela abaixo dos animaizinhos indefesos!

O expediente por aqui estava fraco, porque as trocas de turno oficiais eram sempre às 6, 12, 18 e 24 horas, então agora às 10:20h, todo mundo já tinha feito ou pego seus pedidos, restando apenas algumas poções sendo viradas com feitiços automáticos em seus armários para não assentar pó no fundo, alguns pergaminhos voando e algo sendo escrito em uma máquina de escrever levemente empoeirada num canto.

Reconheci o cabelo quase-ruivo de James em uma prateleira do fundo e ele parecia verdadeiramente entretido na sua tarefa de conferir rótulos e anotar algo na prancheta. Era a primeira vez que eu via essa cor de uniforme no hospital, o que significava dizer que os pocionistas não saiam muito do seu setor.

Preto para os realizadores, cinza chumbo para os estagiários, cinza claro para os aprendizes e auxiliares de cura, branco para os curandeiros e pelo visto, verde escuro para os pocionistas. O setor administrativo usava um roxo esquisito e pareciam todos apáticos, então eu colocava as mãos para o céu todos os dias por meu uniforme preto.

— Hey James! James... Ei, olha aqui! - Ele não me ouviu, o vidro devia ser a prova de som. Não tinha ninguém no balcão de despacho e o tec tec da máquina ainda soava alto lá no canto da sala. Fui até a porta com uma grande placa “somente pessoal autorizado” e tentei novamente. – Potter! Ei, tá com o ouvido aonde?

Eu sou um poço de paciência, mas chega uma hora que a gente tem que tomar medidas drásticas! 

— Mas que... Cesc? Foi você que me jogou... Isso aqui é um tênis? - Ele pegou meu tênis pelo cadarço como se fosse um bicho morto, então eu entrei na sala, já que agora eu tinha um motivo para tal. – Ei, ei! Você não pode entrar aqui, só pessoal autorizado, se alguém te pegar aqui...

— Tudo bem, porque eu vim buscar o meu tênis perdido. - Fiz valer o meu ponto, pegando ele da mão de um Potter com cara de lesado. – Uma baita coincidência te encontrar, porque eu preciso...

— Ah não, nem vem! Não acredito que você saiu de onde quer que você esteja cumprindo a sua pena, só para me colocar em alguma confusão. - Ele começou a me empurrar para a porta pelo ombro, assim que terminei de amarrar o cadarço, mas eu fiz um jogo de corpo, me desviando e cruzando os braços. 

— Não seja dissimulado, Potter, foi você que veio lá da Inglaterra atrás de mim, agora tá aí se fazendo de vítima! - Ele me olhou com uma expressão ultrajada, então eu fiz biquinho. – Achei que fossemos amigos!

— Você não pode ser tão arrogante para achar que eu vim até a Espanha, um país inteiro e não o quintal da sua casa, só para te ver! - Ele colocou as mãos na cintura e eu desfiz minha cara amigável.

— Não, você só veio até o lugar que eu... Não, esquece! Deixa para lá, porque essa discussão ridícula já me tomou muito tempo. - O impedi de falar e abri um sorriso que era o suprassumo da simpatia. – Eu vim aqui porque preciso de um favorzinho seu.

Agora era ele quem estava com os braços cruzados, com aquela poker face que só James Potter poderia fazer, mas eu não fiquei nem um pouco intimidado.

— Não posso te dar poções ou ingredientes do estoque. - Dispensei a oferta com a mão, porque não precisava disso, então ele levantou o dedo em riste bem no meu nariz. – E também não vou fazer nada que seja ilegal.

— Por quem me tomas? 

— E não é só ilegal na minha tarefa não, Cesc, eu não vou colaborar para algo ilegal da sua parte também, porque alguém tem que tentar te impedir de ir para Azkaban! - Ele falou exagerado e eu sorri divertido.

— Olhoaren. - Ele me olhou sem entender, então expliquei. – A prisão bruxa da Espanha é Olhoaren, é para lá que eles me mandariam.

— Que seja, Cesc, qual é o favor que você quer? - Ele falou coçando a sobrancelha de olhos fechados, como se eu desse dor de cabeça nele. Ofensivo. 

Olhei meu contador e vi que só tinha mais 12 minutos, praguejei baixinho e troquei as fichas dos pacientes, não ia dar para ir para o setor das criaturas inteligentes, então vou ter que passar antes nos não-mágicos, saco.

— Preciso que converse com Erick sobre Hogwarts. - Fui direto ao ponto e James só me olhou com a cara inexpressiva dele de sempre. – Eu tinha toda uma história romântica para falar, mas você se fez de difícil e eu acabei ficando sem tempo, então é isso, basicamente eu preciso que você pergunte a Erick qual é a exata situação de Hogwarts. 

Ele ponderou o pedido, dava quase para ver as engrenagens enferrujadas e pouco usadas do cérebro dele funcionando. Respirei fundo, porque cada minuto de palhaçada dele, é um minuto a mais que eu vou ter que correr destrambelhado pelo hospital.

— Parece inofensivo, mas eu tenho duas perguntas... - Ele pausou novamente e me deu uma leve vontade de ser enjaulado em Olhoaren pela morte dele... – Por que eu e não você e o que você ganha com isso?

— Hum... Boas perguntas, na verdade... Bem, o que acontece é que os Iconoclastas me pediram para falar com ele, porque eles acham que eu ainda tenho contato com a criatura e eu acho que Erick se abriria mais com você, porque vocês meio que tiveram uma coisa... - Falei na defensiva, porque James é meio que uma porta para falar desse tipo de coisa. – É um dever cívico. 

— Por que os iconoclastas achariam que você tem contato com Erick? - Viu? Ele ignorou todo o resto. Infelizmente ele focou no furo da minha história recém-inventada, então precisei improvisar. Mais ainda, no caso.

— Eu acho que é porque eles, tipo, tem uma poção que colocam nos detergentes dos elfos e aí quando eles lavam a roupa, a poção-escuta gruda nos nossos uniformes, daí quando a gente veste e fala algo, tudo que eles tem que fazer é esperar as roupas serem lavadas, pegar a água da lavagem e fazer uma espécie de destilação caseira para separar as nossas fofocas da sujeira.

Ele piscou confuso e eu respirei fundo para retomar o fôlego perdido.

— Você está tentando me enrolar? - Perguntou desconfiado e eu apontei para mim mesmo, ofendido. Ele revirou os olhos.  – Obviamente você não entende nada de poções, porque isso aí que você falou não existe.

— Eu até tenho outras teorias, mas agora estou sem tempo, você me dá sua resposta no almoço? - Ele fez menção de falar, mas eu queria que a ideia decantasse na mente dele, para ele lembrar de tudo que ele viveu com Erick antes de me responder. – Eu e Hugh sentamos perto do bandejão, às 11:30h.

— Cesc, eu...

— Te vejo lá! - Sai correndo antes que ele me falasse o não que queria dizer e também porque estava fodidamente atrasado para o meu próximo paciente, um canário belga enfeitiçado para predizer a morte das pessoas, coitado, foi maltratado quando um trouxa não gostou do que ouviu.

As pessoas podem ser tão ridículas quando não ouvem o que querem...

***

Estava no terraço do hospital explicando para Hugh - sim, ele me achou no fim das contas - o que era o pai Google e ele estava realmente fascinado com o tanto de livros que os trouxas conseguiram colocar em uma caixinha tão pequena como um celular.

— E quando você aperta em imagens, só vem fotos, com pouco texto. – Ele olhou impressionado para as fotos de canários em todos os cenários possíveis e eu fiquei verdadeiramente contente em descobrir que aqui tem sinal de internet.. – Vê? Às vezes a gente só quer ver as coisas, para saber como é. 

No caso, o canarinho sob minha tutela estava com um fio quase-infinito, uma ponta amarrada em sua patinha e outra no meu braço. Ele estava voando feliz e pegando um pouco de sol, uma pena que logo teria que voltar para sua gaiola, até que conseguissem remover o encanto de predição fúnebre. 

Para mim, ele disse que eu iria morrer atropelado por um carrinho de pipoca e depois atacado por pombos famintos e Hugh ia se engasgar com um vidro de loção de barbear vencida! O bichinho foi tão enfático que eu acho que o Corvinal nunca mais vai fazer a barba, vai dá para trançar e tudo. 

Ao menos ele só precisa conferir se as loções estão dentro da validade antes de usar - não vai adiantar nada se for um assassinato e não um acidente - mas e eu que vou ter que ficar atento em todas as praças e parques que eu for daqui para frente?

— Já deu a meia hora dele? - Hugh perguntou ansioso, franzindo os olhos para o sol quente espanhol e eu chequei no meu broche, faltava 7 minutos.

— Nah, mas eu vou preencher a ficha logo, vou colocar que ele precisa de mais tempo no sol e de uma banheira com água fria para se banhar todas as manhãs, você viu o que aquele criador no Google disse. - Apontei para Hugh, antes de anotar as minhas sugestões, ele fez um muxoxo.

— A gente não pode entrar mais cedo? Ninguém vai saber se foi meia hora ou vinte minutos... Quem se importa? - Ele falou colocando uma mão sobre os olhos, para tentar enxergar onde o pássaro estava voando.

— Obviamente ele se importa. - Apontei para o céu e Hugh revirou os olhos. – Para você é só uma meia hora chata, para ele é possivelmente a melhor parte do dia.

— Não sabia que sonserinos eram tão melosos... - Ele provocou e eu sorri falsamente.

— Somos pessoas bondosas, ao contrário de certos seres humanos... O patrono da sua Casa é uma águia, não rola empatia não? - Ele riu, mas olhou ainda mais feliz quando o contador deu o par de bip dos cinco minutos. – Deixa eu ver quem é o próximo da lista... Olha só, é Druz!

— O duende? - Ele fez uma careta quando eu respondi afirmativamente com a cabeça.

— Ele é legal, na verdade é mais legal do que você, porque com certeza ele não se importaria de ficar mais cinco minutos com um pobre passarinho. - Comecei a puxar de leve o fio que amarrava o canário, para não prejudicar o voo dele.

— Ele está cego, os olhos dele não queimariam no sol. - Eu ri, mesmo sabendo que Hugh estava sendo um sacana, ele se apoiou nos cotovelos e me olhou de soslaio. – Mas chatice de duende a parte, estou feliz que estamos voltando para os seres inteligentes.

— Eu espero que esse dia com a plebe tenha te servido de alguma coisa, porque você até pode virar um curandeiro de bruxos e nunca mais olhar um bicho na vida, mas precisa se lembrar que as coisas não são sobre você o tempo todo. - Ele fingiu que não estava prestando atenção, olhando para o crachá em seu uniforme cinzento. – Esse não é o show do Westhampton. 

— Mas eu posso ser o astro... - Ele falou sorrindo, enquanto eu empoleirava meu paciente no ombro esquerdo, me preparando para voltar para dentro. Por acaso meu namorado tinha aberto uma escola de egocentrismo e esqueceu de me avisar? Porque Hugh seria um aluno estrela, pode apostar.

— O astro é o paciente, deixa de ser convencido! - Ele riu e nós começamos uma discussão inútil sobre “o hospital sem paciente não existe” versus “o hospital sem curandeiro também não existe”, então quando chegamos no leito de Druz, eu estava bem disposto a furar os dois olhos de Hugh Westhampton, ele não estava usando para nada que prestasse mesmo!

— Bom dia, Druz, vi no seu prontuário que você já está podendo ver vultos, é verdade? - O duende já estava sem as bandagens, com a região ao redor dos olhos em um vermelho inflamado e a íris meio embaçada. Resolvi passar a varinha acesa para checar os reflexos.

— Ei, garoto, tudo que eu não preciso é que você tente me cegar novamente com essa luz! - Ele reclamou, afastando minha varinha do rosto. – Quem é esse aí com você, mais um curandeiro descerebrado?

— Ele bem que queria, mas não, Hugh é um estagiário ainda, vai entrar para a escola de curandeiros no próximo outono. - Druz fez um som de desinteresse para a informação e depois estendeu os braços para pegar vários pergaminhos em sua mesa de cabeceira. Fiquei observando, sem oferecer ajuda, porque isso só o deixaria mais irritado.

— Aqui, enfeitice esses pergaminhos com aquele feitiço de acessibilidade que o curandeiro-chefe falou. Você pegou o livro na biblioteca para aprender? - Olhei para Hugh com minha melhor cara de tédio, porque Druz poderia ser um pentelho quando se propunha a ser.

— Peguei o livro, mas eu não li não, porque isso faz parte dos seus 30 minutos, vou ler agora. - Acionei o contador e me sentei na cadeira ao lado do leito 3, Hugh puxou uma do leito 2, que estava desocupada, sentou e ficou me assistindo folhear o livro.

— Isso é um absurdo, depois reclama que não é promovido! Precisa se dedicar ao trabalho mesmo quando não está nele, criança tola! - Druz resmungou mais um de seus conselhos de duende, então eu abaixei o livro e sorri para ele.

— Eu não quero ser promovido, estou aqui cumprindo minha pena. - Ele fez mais um daqueles engasgos de desprezo que devem ser muito comuns entre os duendes, então eu continuei. – Saberia se ouvisse o que eu digo.

Depois disso pedi para Druz ficar quieto para que eu me concentrasse em aprender o tal feitiço que faz as palavras escritas virarem frases faladas e talvez eu tenha mentido e dito que se ele me desconcentrasse eu poderia acabar transfigurando ele em um livro por acidente - o miserável do Hugh riu nessa parte - mas ele acreditou.

Como Druz acabou cochilando de leve, eu aprendi o feitiço, mas deixei para aplicá-lo nos relatórios do Gringotes quando só faltava 10 minutinhos para acabar o tempo, porque eu bem que merecia um descanso para relaxar a minha pele no pós sol.

Claro que Druz reclamou quando deu o bip duplo dos cinco minutos, mas no fim das contas eu consegui enfeitiçar tudo no prazo, com um bônus de que não tinha sobrado nem um minuto dessa vez para ele querer cobrar no próximo atendimento. 

Duendes são seres muito obcecados com seus direitos. 

— Convidei James para almoçar com a gente, mas ele me deve uma resposta, então nada de ficar tagarelando suas maluquices com ele, ok? - Hugh me olhou de soslaio, mas eu apontei para ele como quem diz “você foi avisado”.

— James é meu amigo de infância, se eu quiser falar com ele no almoço, eu vou falar! - Ele respondeu todo afetado e eu fingi que não ouvi. – Mas é uma resposta sobre o quê mesmo?

Continuei me servindo no bandejão para os funcionários, até que a comida não era ruim, apesar da fama dos hospitais, mas a companhia era irritante e o ambiente meio barulhento, então basicamente tudo poderia ser melhor.

— Olha, temos paella hoje, legal, ainda que eu não esteja vendo nem sombra dos lagostins... - Me servi só disso, catando todos os frutos do mar que podia, me processem.

— Não foi isso que eu perguntei. - Nos encaminhamos para a mesa depois de eu equilibrar dois refrigerantes trouxas na minha bandeja - Hugh se recusa a pegar um, porque ouviu um boato que isso faz cair os dentes, mas sempre aceita um pouco do meu, por isso pego dois -  e assim que sentámos, acenei para James que estava chegando no refeitório. 

— Mas foi isso que eu respondi e lembre-se do que eu disse: boca fechada. - Tomei um gole do refrigerante gelado e ele desceu queimando meu pobre estômago vazio. Fiz uma careta. 

— Sempre soube que você era maluco, por isso mantive distância esse anos todos. - Ele estendeu o copo em que havia bebido água para eu colocar refrigerante e depois de um gole e uma careta, continuou. – Mas John melhorou depois que ficaram amigos, então eu tive que voltar atrás no meu julgamento, só por isso ainda almoço com você, sabia?

— Tá, tá, muito lindo o que você disse, agora bico fechado! Hey, James, senta aqui! Hugh, chega para lá. - Sorri meu sorriso mais caloroso e simpático e James só me olhou desconfiado, antes de tomar seu assento. – E então? Pensou no que eu te perguntei?

— Achei que você esperaria ao menos eu dar a primeira garfada na comida, antes de tocar no assunto. - Dispensei a ideia com um gesto de mão e coloquei mais uma porção de comida na boca, aquilo estava muito bom! – Pensei sim, se quer saber.

— E então... - Falei com a boca meio cheia, gesticulando com o garfo. Dei um gole no refrigerante para ajudar a engolir. 

— Então que eu aceito, mas com duas condições. - James fez aquela pausa de palhaço dele de novo, igualzinho como Albus faz quando quer me irritar e eu esperei pacientemente ele organizar o raciocínio. – Será em um lugar público e você irá com a gente.

— Feito. - Falei rápido demais, então tive que acrescentar um adendo correndo. – Mas Enrique vai também. 

— Pra quê? - James perguntou sem entender e eu dei de ombros.

— Pra pagar a conta, sei lá.

Disso, meu amigo, eu não abro mão. 


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Notas finais do capítulo

A estrela do capítulo foi o irmão idiota de John! Como essa criatura pode ser da Corvinal, gente? E teve bastante James, tá vendo q a autora ama vocês?

Bjuxxx



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