Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 109
Capítulo 109. Caindo na real


Notas iniciais do capítulo

Postando esse hoje, pq tenho planos de postar o próximo no domingo!

Cês tem noção q passamos dos 700 comentários? Eu estou muito feliz e serelepe e por isso vamos ter essas atualizações tão próximas, se eu lembrar de postar, já sabem!



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Capítulo 109. Caindo na real

São poucas vezes na vida que a gente pode acordar com a sensação de dever cumprido e sem precisar se preocupar com horários, ainda que haja uma queda brusca na qualidade das refeições para aqueles que acordam tarde nessa casa.

Levantei, me espreguicei, tomei um banho demorado e longo na banheira dos meus pais, jogando um maravilhoso jogo de guerra medieval no celular enquanto tentava cortar a unha do dedão do pê com uma pinça rosa que achei na pia aqui.

Ah bom, aparentemente esse trequinho não serve pra isso.

Minha dica para os meus possíveis coleguinhas depressivos: não pense em Hogwarts ou na sua vida destruída, lá, lá, lá, olha, minha mãe sempre teve essa espuma perfumada para pôr na banheira? Acho que sim, vamos ter um pouquinho de cheiro de flores? Vamoooooos!

Depois de devidamente asseado, fui feliz assaltar a geladeira para preparar um lanchinho de carne crua para Uizlei, que havia voltado da sua excursão de ir bicar Fernando -meu arqui-inimigo trouxa que havia furado os pneus da minha bicicleta ontem a noite - até ele chamar o controle de zoonoses da cidade e ela ser declarada oficialmente uma foragida.

Tal pai, tal filha.

Com a criatura devidamente alimentada, a despachei para a casa de Tony até que a poeira baixasse e a barra tivesse limpa e todas essas expressões que os bandidos usam para dizer que já podem voltar. Vá com Deus, Uizlei!

Ok, não posso ficar parado olhando para o tempo e para o vento não, senão eu vou começar a pensar que eu deveria estar fazendo alguma coisa para... Não, nem vá por esse caminho, Cesc! Hã-hã, de jeito nenhum! Outra dica boa: fazer alguma coisa para ajudar Hogwarts, no seu caso, é fazer merda, entenda de uma vez!

Minhas dicas fazem de mim um ser humano quase decente, amém. 

Sim, eu havia dito a Tony que ia parar de tentar ser uma pessoa melhor, mas me sentindo tão impulsionado a fazer alguma coisa estúpida demais até mesmo para meu padrão -  invadir o Departamento de Mistérios depois de roubar um pouco do sangue metamorfomágico de Lupin e me transformar em Harry Potter nem passou pela minha cabeça, quem disse isso? - eu tenho que começar a cogitar a ideia.

Voltei para a cozinha para preparar um incrível x-tudo, mas Louise me recepcionou com um monte de cartas praticamente atiradas na minha cara. Agarrei quantas pude, antes de a fuzilar com o olhar.

Não tente minha recém-descoberta força de vontade, Louise!

 –  Correio matinal, irmão! - Ela riu e eu fingi que não estava desejando sua morte, até porque eu realmente sinto que vou precisar dos órgãos dela, mais dia ou menos dia.

Antes de lidar com toda essa gente que precisava falar comigo, comi, levei Perseu para passear um pouquinho - Oh, não! Cachorro mau! Fez sujeira na porta do vizinho! Hahahaha - e finalmente me rendi ao meu destino inevitável. 

Separei o Profeta Diário com um dedo, enojado - não quero ver essas notícias sensacionalistas sobre Hogwarts - depois li rapidamente alguns anúncios bobos e... Olha, um das empresas Dussel! 

Dei risada, porque o anúncio minimalista de três linhas com os dizeres “ Acompanhe no conforto de seu lar a última semifinal do Campeonato Intercolegial: Durmstrang x Uagadou, dia 29 de abril de 2021, na sua esfera transmissora DSL. Garanta já a sua! * Desconto para alunos de Hogwarts” era completamente inapropriado ou justamente o contrário. 

Agora que mais de mil adolescentes estavam em casa sem ter o que fazer e acostumados a acompanhar todos os jogos do campeonato, o filão que eles tinham era muito promissor. Alguém tem que lucrar com a dor alheia, não é mesmo?

Eu sei que eu não estou lucrando...

Ignorei o guia de programação do canal de TV bruxo 1089, passei por uma carta da comissão do campeonato afirmando que Hogwarts ainda era finalista - pfff, ninguém nunca ousaria cogitar o contrário - e que os locais de treinos seriam ajustados logo mais. Melhor mesmo, onde já se viu a gente com mais desvantagem ainda, além de todas as desgraças que já tivemos que passar?

Dobrei a carta sem cuidado e peguei o envelope mais grosso com o selo ministerial, que estava me deixando intrigado. Era nada mais, nada menos do que um formulário para ser preenchido e assinado pelos responsáveis do aluno “eu mesmo, porque eu não vou repetir o meu nome ridículo” com os dados referentes a minha série e disciplinas cursadas, com um anexo dos NOM's para os alunos acima do quinto ano.

Levantei uma sobrancelha para isso, porque, olha o Ministério Bruxo se mostrando organizadinho pela primeira vez desde sempre! Prendi meu formulário ao lado do de Louise na geladeira para preencher depois com os nossos pais. Tinha algo mais lá, mas eu estava mais interessado na carta verde que se mexia inquieta sobre a bancada da cozinha.

Fora que se for algo importante, Louise vai falar, porque ela se acha uma mensageira divina ou algo do tipo.

A carta verde não tinha remetente, mas a letra feinha dizia “para Cesc, leia em privado, por favor”, então eu sorri para a educação e fui para meu quarto, antes de abrir a cartinha misteriosa. Assim que rasguei o envelope, ele voou para o meio do quarto e assumiu uma expressão mais ou menos conhecida nas suas dobraduras de origami formando um rosto humano.

Pelo amor do meu ursinho Cachimbo, Cesc, diga que percebeu que eles sabiam de tudo! ELES SABIAM DE TUDO, AQUELES MALDITOS! Olha, me deu um ódio, mas um ódio tão grande que chega eu sinto queimar aqui dentro! 

Fechei a porta correndo, porque a voz de Lily fazendo escândalo com um berrador não podia chegar a ouvidos errados, porque era inconveniente e absurda, somente, de resto acredito que ela não dirá nada constrangedor. Mais constrangedor do que “ursinho Cachimbo”, no caso.

Mas eu posso estar errado e estou torcendo pra isso, já que consertar merda pelo menos é alguma coisa pra fazer...

O Ministério sabia que Hogwarts cairia e nos deixou lá para morrer ou algo pior, porque tinha esses formulários ridículos e as “sugestões de escolas ideais para o seu filho” na ponta da pena, então se é para isso que a gente paga o salário dos Inomináveis, eu quero meu dinheiro de volta! Eu nã-nã-nã...

Fiquei olhando para o feitiço travado de Lily balbuciando qualquer coisa em uma careta, o que até foi bom, porque me deu tempo para pensar: Lily tem razão, o Ministério já havia feito um plano B para uma possível falha mais grave em Hogwarts - agora estava óbvio que a organização deles não era um simples sinal do fim do mundo bíblico -, mas suponho que eles não sabiam que a escola toda se tornaria um perigoso sumidouro de magia!

Mas se eles sabiam, porque demônios eles não...

Ai, que bosta de trasgo, o feitiço travou aqui! Mas já consertei, em todo o caso, quais foram as escolas que você recebeu de opção? Precisamos alinhar as escolhas para o próximo semestre, antes que as melhores vagas sejam pegas, porque eu não acredito que o Ministério tenha fechado vagas suficiente nas escolas top de linha!

Aparentemente os velhos  narigudos fecharam parceria com as dez maiores escolas bruxas da Europa e algumas da América, mas ainda somos mais de mil alunos, não vai ter vaga para todos nas mais famosas, né? Então a gente tem que se apressar!

As opções que recebemos aqui em casa foram Durmstrang, Salem e Ilvermorny, papai está inclinado a mandar a gente para uma escola americana, onde a fama e os repórteres não nos aporrinhariam tanto, mas posso fazer um escândalo caso você escolha a Bulgária ou outra qualquer. 

Me mande uma resposta rápida, papai está ansioso com esse assunto e quer resolver o nosso futuro logo, mesmo que não haja chance de alguém não querer um Potter, aparentemente ele está muito frustrado com a situação de Hogwarts e por isso  está com um humor infernal.

Enfim, beijos e abraços, você já sabe, da Lily Luna, sua aprendiz!

O berrador esquisito de Lily pegou fogo no final com um feitiço que infelizmente era uma bosta, muito diferente do que eu coloquei no Ocaso. Pottinha economiza aqui, para gastar com luvas que trocam de cor e cacarecos que não servem para porcaria nenhuma, é uma aprendiz ridícula mesmo!

Mas toda essa conversa sem pé nem cabeça e muita, mas muita arrogância Potteresca me fez voltar na cozinha para procurar o restante da carta do Ministério que eu recebi, porque eu não havia chegado na parte das sugestões de escolas para o próximo semestre. Encontrei Louise saindo com um copo d’água. 

 –  Você viu essa coisa de escolas sugeridas pelo Ministério? Que despautério, como se Hogwarts fosse um trapo velho que pudesse ser substituída... - Perguntei indo direto ao assunto e a idiota da minha irmã continuou bebendo a sua água até o final antes de me responder.  –  Lily recebeu três opções, a propósito. Quantas escolas sugeridas temos? Se for só uma, eu vou...

 –  Escolas sugeridas? No plural? Na minha carta dizia que deveríamos procurar o Ministério da Magia Espanhol para mais informações sobre o meu futuro escolar. - A olhei sem entender e fui confirmar que sim, era exatamente isso que constava na minha carta também.  –  Por que não recebemos sugestões? 

Ai que merda, hein? Só porque a gente não é um Potter? Isso é descriminação! Principalmente porque somos melhores do que “Potters”, nós temos um djinn na família e viemos de uma linhagem mais antiga que o tempo!

 Se Erick e sua historinha não nos servir para conseguir um semestre em uma escola decente, ele que nem me dirija a palavra! 

 –  Não sei porque estão sendo escrotos com você, mas das opções de Lily, eu não posso duas, porque estou proibido de pisar em solo americano e a terceira não é lá muito fã de nascidos-trouxas, então... - Fiz uma careta, pensando nas minhas possibilidades:

Uagadou estava fora de cogitação, porque eu sou persona non grata lá também, Maçarico... Massaran... Ah, os japoneses também não colaboram com esses nomes estapafúrdios, já esqueci como chama a escola deles, mas de qualquer forma, se eu não sei nem como se chama, como vou estudar lá? 

Me resta somente Castelobruxo, que é a mais maravilhosa das opções, um lugar onde eu não teria vontade de vomitar a cada hora do dia, embora eu ainda não saiba muito bem como vou convencer todo mundo a vir estudar comigo... Tony eu ganho com suco, mas os outros...

 –  Meu Deus, eles estão consertando o erro de anos atrás! -Louise falou dramática e eu pisquei sem entender.  –  Você tinha razão, não era para estarmos em Hogwarts e como é o governo britânico que paga as taxas de cada aluno, eles agora tem a oportunidade perfeita para nos jogar de volta na Espanha!

Fiz uma careta para isso, porque Louise estava sendo dramática, não era para tanto! O que são dois míseros aluninhos nos cofres de um lugar tão rico como a Grã-Bretanha? Fora que foi Hogwarts que nos escolheu, então não era pra tanto! 

Ou era?

 –  Então o quê? A gente vai ser jogado em uma escola qualquer enquanto Hogwarts não fica pronta? Nós temos direito a uma educação no mínimo do mesmo nível! - Falei indignado, porque não estou aqui trabalhando meu currículo por quatro anos em Hogwarts, só para terminar os estudos em um lugar qualquer esquecido pela maldita trindade bruxa! No caso, Merlin, Morgana e Mordred, a única instituição bruxa que ainda funciona, mesmo em tempos de crise.  –  Qual a melhor escola de magia da Espanha?

Louise piscou ainda perdida em suas próprias divagações desesperadas e fez uma careta para mim. Foco aqui, criança, nós temos uma crise diplomática para resolver e rápido!

 –  Eu acho que essa seria a Beauxbatons, que atende a todos os países do Mediterrâneo... Acha que temos chances lá? - Ela me perguntou em dúvida, com uma pontada de esperança na voz.

 –  Eca, Louise! Não somos caridade para ter uma “chance”! Nós temos o peso do currículo de Hogwarts a nosso favor e de mais a mais, eu não quero ir pra França! Já viu como eles jogam Quadribol? - Ela revirou os olhos com essa minha última pergunta.

 –  E isso importa? Cesc, nós estamos na rua da amargura! - Ela falou dramática e depois se pois a chorar. Antes que eu dissesse a ela o quanto estava sendo ridícula, a campainha tocou e ela saiu correndo para o quarto.

Agora quem estava revirando os olhos era eu, mas com meu pai no trabalho e minha mãe ajudando uma amiga com alguma emergência de ultima hora em sua galeria no centro, tinha sobrado para mim atender a porta.

E olha só o que o vento nos trouxe...

Pelo olho-mágico pude ver que Enrique estava apoiado no marco da porta com seus óculos escuros e pose de quem estava fazendo uma sessão de fotos nas exóticas ruas suburbanas de Sevilha. Assim que eu abri a porta, ele sorriu, como se fosse super esperado.

 –  Seu aniversário é só amanhã. - Dei passagem pra ele e depois fechei a porta, antes que algum vizinho bisbilhoteiro viesse cuidar da minha vida. Era bom voltar a falar inglês, por um segundo pensei que já tinha esquecido como falar.

 –  Sim, eu estou bem e em uma peça só, também senti saudades, como vai a família? A minha vai mais ou menos, minha irmã grávida foi internada as pressas quando soube de Hogwarts e... - Olhei horrorizado para ele, porque no início achei que ele estava apenas me repreendendo de brincadeira, mas agora ele soou sério. Enrique percebeu minha preocupação, então tirou importância da notícia com um gesto de mão.  –  Não faça essa cara! Ela já está bem, assim como o bebê. Foi só um susto...

 –  Eu sinto muito por... Você sabe, pelo conjunto da obra, eu tenho certeza que eu tenho uma infinidade de coisas das quais sentir muito, mas... - Ele sorriu de lado e eu sorri em retorno, tentando guardar meu mal-humor de volta na caixinha dele.  –  Estou feliz que esteja vivo para seu aniversário, teria sido uma festa espantosa sem você. Mas eu iria aproveitar, você sabe.

 –  Não vai ser uma festa de verdade, só um jantar para a família e amigos, e caso eu morresse, minha mãe poderia transformar facilmente em um velório de corpo presente, ela é ótima com essas coisas de etiqueta. - Ele riu e eu o deixei escolher o sofá em que sentaríamos.  –  Mas e aí, como estão as coisas por aqui?

 –  Está tudo bem, acho.  O fim de Hogwarts não... Não parece real quando se está na Espanha, quero dizer... Dá para imaginar algo ruim no mundo olhando para esse sol? - Ri nervoso, de um jeito que surpreendeu até a mim e fez Enrique me olhar estranho.  –  Estou me sentindo um pouco sufocado hoje, com a perspectiva de escola nova... Mas isso pouco importa agora, porque Louise fez planos para nós dois amanhã! Você recebeu o recado dela?

Voltei para o meu humor de sempre e Enrique parecia prestes a falar algo sério, mas depois mudou de ideia e sorriu com a mudança de assunto.

 –  Eu não vou mentir e dizer que entendi tudo o que ela disse, mas ao menos parece divertido essa coisa de montanha-russa. - Sorri, porque tenho certeza que Enrique vai adorar as montanhas-russas de verdade. Quem não adora?  –  Mas sobre Hogwarts, quer saber o que eu sei até agora?

Deixei o sorriso morrer, porque eu deveria saber que Enrique não iria deixar o assunto dramático e infeliz tão facilmente, não ele sendo esse dragão escandinavo que faz rios mudarem o leito só porque resolveu “tirar uma soneca” na área.

 –  Sim, nós queremos saber, já estava na hora, inclusive. - Não fui eu que respondi isso, porque Louise havia chegado na sala e sentado no sofá a nossa frente, sem ser convidada, com sua cara inchada e vermelha de choro e talvez só por isso nem eu, muito menos Enrique, tivemos força para mandá-la ir pastar.  –  Vamos, desembucha!

 –  Ok, cunhada irritante. Err... Eu devo dizer que não está tão mal quanto os jornais fazem soar, não houve perdas estruturais e a Floresta Proibida foi devidamente isolada a tempo, então nenhuma criatura mágica sofreu. - Inspirei e expirei com calma, porque ele estava começando pela parte boa para nos acalmar, o que só me deixava mais ansioso.

 –  Ok, isso é importante. Principalmente se houver qualquer possibilidade dessa estrutura voltar a ser uma escola um dia. - Louise fez uma tentativa de mostrar razoabilidade, mas todos nós sabíamos que não era como ela se sentia por dentro.  –  Há... Há essa possibilidade, não é?

 –  Uma escola de magia sem magia não é nada. - Enrique pareceu ter dado um soco na gente, mas ainda estava olhando para o chão com uma careta, como se isso não fosse tudo o que ele tinha a dizer.  –  Não há nada que possa ser feito, nós usamos artefatos mágicos poderosos para conter o avanço da falha, que ao que parece é elementar, mas... É tudo o que podemos fazer.

Louise fungou e depois se desculpou baixinho pela interrupção e fez um gesto para ele continuar. Enrique pareceu um pouco constrangido e só maneou a cabeça como se quisesse voltar ao fio do raciocínio. 

 –  Eles não me passaram os detalhes, mas ao que parece existe uma profecia com os Inomináveis, o que é perfeitamente comum, calma! Profecias sempre tivemos aos montes no mundo bruxo e isso só significa que isso já havia sido escrito antes. - Enrique completou, antes que eu o interrompesse com minha pergunta, mas eu precisava saber mais sobre isso.

 –  É algo que envolve pessoas? Tipo, “Harry Potter e o amuleto megalítico” ou algo que... -Minhas palavras estavam se atropelando e Enrique apenas me parou com a mão, não me dando a chance de verbalizar tudo o que eu pensava, já que se o que Lily disse for certo e os Inomináveis já esperavam, significa dizer que...

 –  Cesc, não pira! Eu já disse que não é uma dessas profecias famosas que anunciam o fim de uma era ou algo do tipo, ao que parece um advinha romeno já havia previsto a queda de uma grande entidade do mundo bruxo, mas tem a ver apenas com essa besteira de restauração de equilíbrio, algo absolutamente fora da nossa alçada! - Ele falou segurando meus ombros, como se pudesse me impedir, só com sua força de vontade, de fazer algo estúpido e precipitado.

Nunca funciona, que fique registrado.

 –  Como sabe que não há nada a ser feito? Os Inomináveis te disseram isso? Porque eles agem como se fossem senhores da nossa vida, mas... 

 –  Sim, eles contaram, mas acima de tudo, Erick confirmou. - Ok, ele ganhou minha atenção agora, parei de tentar fazer valer o meu ponto e olhei para Louise, que parecia suspeitamente imóvel, sem respirar.

 –  O que isso que dizer? -Perguntei ansioso, percebendo que eu também havia parado de respirar quando ele citou Erick.

 –  Você já meio que sabia disso, Cesc! Erick quando era seu djinn não pôde nem sequer responder a uma pergunta de Westhampton relacionada a isso, se bem me lembro, só que a diferença é que agora ele pode falar. - Enrique me disse isso impaciente, como se estivesse falando a coisa mais óbvia do mundo e eu o olhei sem piscar.

 –  E o que ele disse? 

 –  Ele falou um monte de coisa, ainda está tendo dificuldade para se organizar com a noção de tempo, então é basicamente uma biblioteca onde um vendaval passou, quero dizer, o conhecimento está lá, só precisamos colocar um pouco de ordem nas coisas que tudo ficará bem. - Ele concluiu satisfeito com sua metáfora bem empregada. 

Ok, eu admito, foi uma bela metáfora. 

 –  Então ele confirmou que Hogwarts vai ficar bem sem ninguém precisar fazer nada? - Louise falou como se estivesse confirmando com um louco sua teoria de que a Terra tinha o formato de um tiranossauro.

 –  Desde que Erick começou a falar sobre o que sabe, ele nunca pareceu tão certo e confiante. -Enrique disse isso com um dar de ombros e eu olhei para Louise, que devolveu meu olhar de incerteza.  –  Ele garantiu que a única cura para Hogwarts era o Tempo e que nós mortais tínhamos que nos conformar com a nossa inutilidade, embora ele seja mortal agora e isso tenha soado extremamente ridículo e sem nexo.

 –  Ok, então tudo o que eu preciso fazer é falar com Erick e ter certeza que ele não está blefando ou planejando alguma... 

 –  Ele não está blefando, Cesc, ele está tentando ajudar agora! Erick não tem nenhum motivo pra tentar prejudicar Hogwarts e além disso, os Inomináveis confiam no diagnóstico dele e eles tem outras provas e documentos. - Enrique falou em tom de encerramento de assunto, mas eu ainda não tinha acabado de falar. Abri a boca, mas Enrique me interrompeu, me deixando com cara de idiota. –  Eles estudaram e são pagos para saber e fazer essas coisas, precisamos dar um voto de confiança a eles, Cesc!

 –  Não quero dar voto nenhum a ninguém! Erick não tem nenhum motivo que a gente saiba e já que ele fica espalhando por aí que é meu parente, o mínimo que eu posso fazer é ir lá falar com ele e arrancar algumas verdades... Ou os olhos, quem sabe? Eu não estou exatamente em posição de querer exigir muito! - Falei meu plano com uma risada meio sádica no final e só ganhei dois olhares céticos pra mim.

O quê? Até parece que eu não sei com quem eu estou lidando! De todos os presentes aqui nessa sala, somente eu estive com a mente interligada a de Erick e sei do que ele é capaz com seus joguinhos de manipulação e dissimulação! 

 –  Você está soando como um lunático e não deve agir nesse estado de espírito e se isso não for o suficiente, lembre-se: é meu aniversário. - Enrique usou os dois polegares para apontar para si mesmo e eu revirei os olhos. Louise sorriu levemente divertida.  –  O único problema em que você tem que se concentrar agora sou eu!

 –  O seu aniversário é amanhã e eu acho que você não percebeu, mas acabou de se chamar de problema. - Falei divertido e ele apenas me deu um sorriso ladino. Louise se levantou do seu lugar fazendo um gesto de “eu lavo minhas mãos para essa loucura”.

 –  Eu sei que eu sou um problema e não garanto que você tenha uma solução pra mim, mas estou disposto a deixar você tentar me solucionar. - Argh, que ridículo, meu Deus! Até a minha gêmea dramática teve que rir do nível de breguice a lá romance de banca desse traste metido a sedutor aí. 

 –  Ok, Dussel, vou deixar vocês sozinhos enquanto os meus pais não chegam, mas não se esqueçam: não maculem esse lar abençoado! - Ela falou com as mãos juntas ao peito, com sua melhor expressão de santa e eu apenas atirei uma almofada na cara dela.  –  Sério, crianças, se comportem!

Assim que Louise subiu as escadas com um humor menos sombrio, Enrique apagou a distância que tinha entre a gente no sofá com um sorrisinho malicioso. Eu o olhei desconfiado. 

 –  Então papai e mamãe não estão em casa? - Meu Deus, eu namoro com a pessoa mais ridícula da face da Terra!

 –  Não finja que não sabia antes mesmo de bater na porta, porque seu radar anti-responsabilidade é infalível... Mas não importa, já que você vai ficar para o jantar! - Falei rindo, enquanto ele começava seu ataque muito bem planejado.  –  E vai se mostrar um bom partido para meus pais, principalmente para minha mãe. 

 –  Veremos...

***

Deu até pena de Enrique, no fim das contas, porque eu deixei ele ter um pouco de alegria e fingi que estava muito no clima de “é quase meu aniversário, então eu posso quase tudo” dele, mas antes que ele se desse conta, eu o estava apresentando a um rosnante Perseu e mostrando o quadro de atividades divertido de minha mãe. 

Eu ainda estava tagarelando minhas hipóteses sobre os pequenos adesivos de um artista pintando na última semana de maio, tanto para mim quanto para Louise - pode ser aulas de nu artístico ou a gente pintando um retrato dela, não sei -quando a própria rainha do lar chegou, cheia de sacolas e um bater de portas horripilante.

 –  Cheguei e trouxe novida...-Eu acenei para minha mãe, ainda do corredor, mas ela estava mais interessada na figura atrás de mim. Ela largou as sacolas no chão e parecia incerta de qual abordagem usar.  –  Esse deve ser Enrique.

Acho que ela ficou entre a abordagem “estou te avaliando mesmo” e a sempre infalível com os Fábregas “mas sou muito charmosinha para ser perigosa, relaxe”, obviamente continuou intimidante, ainda mais que nem se esforçou para falar em inglês. 

 –  É ele sim, mãe e você vai se comportar ou ele vai acabar lembrando de um compromisso inadiável e você vai perder a oportunidade de me constranger, como nós dois sabemos que você quer. - Falei em espanhol, ganhando um levantar de sobrancelhas falsamente inocente da minha mãe. Sorri simpático para Enrique, que me olhava sem entender nada.   –  Eu disse a ela que você vai ficar para o jantar.

 –  Você disse só isso? Tem certeza? - Ele sussurrou para mim desconfiado, mas depois abriu o mais simpático dos sorrisos que eu já havia visto em seu arsenal. Levantou as mãos para cumprimentar minha mãe.  –  É um prazer conhecê-la, senhora Fábregas, teria vindo antes, mas teria sido estranho sem Cesc...

 –  Diga a ele que o prazer é todo meu e que ele é tão bonito que eu quase estou ignorando que ele está fazendo 19 anos. - Ela aceitou o cumprimento e falou tudo isso com a voz mais doce de todas. Minha mãe até que entende um pouco do inglês, mas ela não gosta de tentar falar, diz que parece uma criança balbuciando, então só me resta traduzir tudo.

 –  Ela disse que o prazer é todo dela. - Enrique me olhou com suspeita e eu emendei com um sorriso animado.  –   E te abençoou em nome do pai, do filho e do Espírito Santo, Amém! É uma coisa trouxa...

Que coisa maravilhosa, eu não tinha me dado conta antes, mas graças a um milagre divino, eu serei o mediador desse encontro e posso conduzir tudo a um caminho tranquilo, pacífico e angélico, ai, ai, parece que minha sorte virou!

 –  Não estava esperando ele, então vou ter que pedir alguma coisa para o jantar, ele come comida tailandesa? - Minha mãe voltou por suas sacolas e fez sinal para que a acompanhássemos até a cozinha, largando a bolsa no sofá, as chaves do carro no aparador e dando uma ultima olhada no celular antes de nos encarar.  –  Tailandesa está bom, querido?

 –  Ela quer saber se você come comida tailandesa. - Enrique me olhou lindamente confuso e eu poderia explicá-lo que nós trouxas temos uma imitação de todas as comidas do mundo a uma ligação de distância, mas foi mais divertido vê-lo acenando que sim com a cabeça ainda meio assustado.  –  Ele come, mãe, ótima pedida.

Ela piscou para ele com um sorrisinho cúmplice e depois foi toda animada pegar alguma coisa no congelador. Eu sentei em um dos bancos do balcão e estava quase chamando Louise para assistir o fodão Enrique Dussel todo intimidado na minha cozinha trouxa, mas fiquei com muita peninha dele.

 –  Hey, ela está só brincando com você, não deixe ela entrar na sua cabeça! - Sussurrei, tentando conter meu tom de diversão, ganhando apenas um olhar irritado de volta.

 –  Ela me acha muito velho pra você, não é? Ela embolou algo tipo “anions” e eu sei que isso significa anos! - Eu ri baixinho e minha mãe escolheu essa hora para virar para nós com um saco de frutas congeladas, uma garrafa de leite e um olhar maníaco. 

 –  Aceitam um smothie? Vi a receita no Pinterest e essa é uma hora tão boa quanto qualquer outra para testar. - Ela sacodiu o saquinho congelado com uma marcação esquisita e Enrique me olhou sombrio. 

 –  Seja sincero, se ela estivesse planejando minha morte, você me contaria, não é? - Eu ri, mas ri muito, porque o pior de tudo era que ele parecia estar falando muito sério. Minha mãe ignorou meu ataque de loucura com um dar de ombros e foi direto para o liquidificador e eu juro, fui eu quem quase morri com Enrique pulando do banco quando o troço ligou!

Oh céus, por que eu adiei tanto esse encontro? Melhor fim de tarde que eu tive em anos!

 


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Notas finais do capítulo

Trechinho para deixar vocês ainda na saga de Enrique pelo mundo trouxa:

"– Está pronto? - Perguntei animado, me segurando firme naquelas espumas que revestiam a estrutura do brinquedo na altura do peito.

— Eu não estou bem certo de ter entendido o que acontece agora... - Ah, isso vai ser muito divertido! Ele se assustou um pouco quando começamos a nos mover. – Cesc, o que acontece agora?

— Agora a gente sobe e reza... Sério, reza! - Apontei para ele, que fez uma careta para o sol espanhol que nos banhou assim que saímos da plataforma. A subida finalmente havia começado e Enrique olhava para trás e para os lados, para as centenas de pessoas no parque, ficando cada vez menores com uma expressão alarmada.

— Eu tinha uma ideia diferente, achei que seria uma montanha realmente, isso aqui não parece tão assustador. - Ele falou com arrogância, mas estava segurando firme no apoio, que ele não é besta.

— Espera só... - Falei com um sorriso sádico, porque o brinquedo estava quase no topo."

Bjuxxx