Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 107
Capítulo 107. Os detalhes que merecem ser notados


Notas iniciais do capítulo

Okay, okay, demorei exatos 12 dias para postar, já fiz pior e nem sequer deu tempo de aparecer aquele maldito triângulo do lado da fic, então nada de choro!

Preparados para a continuação?



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Capítulo 107. Os detalhes que merecem ser notados

Por Circe, Cliodne e Tilly! A filial do inferno foi transferida para essas terras escocesas e ninguém nos avisou! Enrique me puxou para o lado, para dar passagem para as pessoas saírem do castelo por uma porta que obviamente estava pequena demais para o fluxo desesperado de adolescentes e pessoas pouco preparadas para crises do povoado de Hogsmeade.

Tentei ver o que estava acontecendo direito entre os vultos apressados, mas os archotes estavam com suas luzes falhando igualzinho a noite do Afogamento da Serpente e a multidão acabou nos arrastando para fora do castelo novamente. 

O plano seguinte era tentar encontrar um dos meus milhões de amigos na multidão, mas estranhamente todos os figurantes de Hogwarts resolveram aparecer nessa cena e nenhum parecia disposto a nos contar o que estava acontecendo.

Acionei meu comunicador emprestado, porque sou um cara cheio de recursos e não tenho tempo a perder com quem está começando nesse negócio de fim de mundo mágico. Ao menos para alguma coisa serviu minha experiência com o djinn...

— O que está acontecendo? Alguém sabe o que está acontecendo? - Não sei muito bem como minha voz soou por cima da cacofonia de muita gente tagarelando a beira do pânico, mas aguardei uma resposta mesmo assim.

O que aconteceu com o treinamento de emergência exibido naquela crise do Lago congelado com aranhas? Cadê os monitores dando ordens, os voluntários coordenados? Parecia que hoje todos só queriam tirar o seu da reta!

Pisaram no meu pé e eu fui obrigado a empurrar o idiota que fez isso de leve para ele não cair, até porque não posso colocar na minha já extensa conta com o capeta “assassinato acidental por pisoteamento”, ainda mais que não seria acidental, eu quero que esse garoto vá para o inferno! 

Ao que tudo indica estamos passando por outra falha na magia da escola, os elfos começaram a evacuação dos menores por aparatação e a indicação é para todos se encaminharem para Hogsmeade.— Claro que a primeira a se pronunciar seria Juliet e sua inegável boa veia investigadora.

— Algumas varinhas não estão funcionando e parece que alguns quadros fugiram de suas pinturas, estão evacuando até os setimanistas!— John falou apressado, pausando para respirar entre barulhos estranhos de concreto rompendo e breves estampidos. Onde ele está afinal?– Vê se não vão tentar bancar os heróis, é para sair todo mundo!

O barulho do lado dele ficou mais alto e Tony e Fred tentaram falar ao mesmo tempo para completar a confusão. Rilhei os dentes quase mandando os dois calarem a boca, mas Tony deixou o grifinório tomar a frente e eu agradeci mentalmente, porque provavelmente a mente de Segundo está um passo a frente da nossa.

Se os feitiços estão falhando e nem sequer podemos lançar novos, isso nos leva para a opção de que Hogwarts segue o mesmo caminho de...— Fred parecia em um de seus surtos esquisitos de explicar as coisas como se estivesse debatendo em seu próprio cérebro e todos devêssemos acompanhar seu raciocínio, então Rebeca o interrompeu antes que eu o fizesse.

—Não é hora nem lugar de discutir teorias, Weasley! Temos apenas que nos certificar que todos estejam no Expresso quando ele partir para Londres dentro de alguns minutos.— A monstra falou prática, discutiu algo inteligível com alguém perto e depois voltou a falar com a gente. – O caminho mais rápido para a estação é pelo ancoradouro, porque os Testrálios fugiram para a Floresta Proibida e as carruagens...

— O caminho mais seguro é a pé, só Merlin sabe o que o Lago...

— Teorias são importantes, porque se eu estiver certo, isso aqui tudo vai ruir e vai sair sugando magia de tudo quanto é...

— Aqui não é lugar para falar disso, seu tras...

— JÁ CHEGA, TODO MUNDO! - Gritei porque parecia que ninguém mais estava prestando atenção no que importava. – Todo mundo vai dar seu jeito de chegar a vila, mas antes vai entregar o comunicador para o adulto mais próximo, ok? Isso pode ser útil para eles.

A maioria confirmou a ordem rapidamente e desligou, mas quando eu me virei para Enrique para seguirmos o grupo que estava terminando de acender seus archotes da maneira trouxa mesmo, antes de partir, o vi conversando com um dos homens que reconheci como sendo das empresas Dussel.

— O quê? - Perguntei confuso, porque Enrique parecia estar falando com alguém mais além de mim e do homem, que esperava ansiosamente alguma resposta. Tenho quase certeza que ele é morador de Hogsmeade também, só isso para explicar o porquê dele estar aqui hoje.

— Heitor irá avisar imediatamente o Ministério e irá trazer as ferramentas. - Enrique não me respondeu, mas o homem fez que sim com a cabeça e voltou para o castelo. Antes de o seguir, ele se virou para me explicar o que estava acontecendo. – Os patronos de aviso não funcionam, então estou usando o meu comunicador da família para me comunicar com Londres.

Ele me mostrou o anel, uma espécie de artefato mágico que tinha o estúpido brasão Dussel que eu sabia que até mesmo a irmã mais velha dele usava, mesmo sendo uma daquelas peças meio extravagantes de família de gângster russa.

— Uma boa ideia, então o reforço está a caminho e você não precisa...

— O seu colar não vai funcionar aqui, porque não é um artefato mágico propriamente dito, é só um feitiço atrelado e eles estão falhando, mas assim que der eu falo com você, ok? - Eu fiz menção de argumentar que isso não tinha nada a ver com o que eu disse, mas ele me roubou um beijo rápido e me interrompeu divertido. – Eu sou um adulto agora e você sabe que a gente fica com toda a diversão, então vá para o trem e aguarde notícias!

Mas que filho da... Enrique piscou e saiu correndo antes que eu pudesse lembrar a ele que morrer não era “divertido”, me restando apenas gritar uma ameaça para suas costas se distanciando rápido.

— SE VOCÊ MORRER DE NOVO, EU JURO QUE TE DEIXO MORTO DESSA VEZ! 

Ele não me respondeu, claro, mas está dado o recado.

***

Os alunos se misturavam com os moradores de Hogsmeade que eram muito jovens ou muito patéticos para ajudar com o castelo, fazendo com que o caminho até a vila não fosse tão assustador quanto poderia ser quando andamos sozinhos por ele.

Em meados de abril e com o Sol tendo acabado de se pôr, a noite nem de longe estava fria, mas isso não impediu os meus colegas de agirem como um bando de refugiados fugindo de alguma guerra horrível. 

Revirei os olhos, coloquei as mãos nos bolsos e adiantei meu passo para ficar na frente da procissão e fui recompensado ao avistar primeiro os telhados pontudos das casas do vilarejo bruxo. 

Nesse momento a multidão se separou, os alunos de Hogwarts seguindo para a pequena estação onde o Expresso preto e vermelho já nos aguardava soltando fumaça na noite sem estrelas e a outra parte seguiu para a segurança de suas casas.

A estação - que não passava de um velho abrigo de madeira - estava iluminada e o apito da locomotiva embalava a chegada de vários bruxos aparatando e se dirigindo a Hogwarts em um fluxo oposto ao nosso.

Vi quando cinco bruxos surgiram em um vortéx levemente sombrio e finalmente reconheci alguém depois de me despedir de Enrique, pena que o primeiro rosto conhecido era o mais bandido possível. 

— O que você está fazendo aqui, criatura? - O senhor olhos amarelos piscou confuso, provavelmente com a mudança brusca de ambiente, mas assim que me avistou, sorriu malicioso.

— Ora, ora, ora, se não é o meu sobrinho favorito! - Erick, o djinn - porque ele nunca será Erick Fábregas, que fique bem claro - chamou a atenção de seu grupo, mas continuou exatamente onde estava.

— Enrique disse que ele não seria libertado hoje, que... Dussel, por que diabos ele está aqui? - Perguntei nervoso, ainda mais agora que o djinn havia se localizado e parecia muito interessado no leve caos e desespero dos alunos de Hogwarts. 

Heitor Dussel sussurrou algo para a mulher ao seu la... Oh, meu Merlin é Jweek! JWEEK ESTÁ AQUI, MEU DEUS, SOCORRO! Esqueci de minha raiva por Erick assim que a vi e ela parecia ainda mais durona em seu casaco assimétrico e coturnos de couro de dragão irlandês do que no seu uniforme de Quadribol. 

A melhor batedora da atualidade está na minha frente e eu não tenho uma folha de pergaminho decente para pegar seu autógrafo! Que pesadelo horrível!

— Fábregas, você viu Enrique? Perdi o contato com ele há alguns minutos... - Heitor falou naquele tom pomposo de sempre e eu me controlei para não pedir um autógrafo na minha testa para a bruxa maravilhosa analisando tudo com um olhar sério a alguns passos do Dussel corvinal. – Presta atenção aqui, menino.

Ele estalou os dedos na minha frente e eu fiz uma careta para essa afronta, mas foquei no foco, porque Hogwarts está se acabando e Jweek vai salvar o dia atirando algum balaço nos dentes de alguém e eu nem me importo que isso não faça sentido algum, porque sonhos não precisam fazer sentido!

— Provavelmente ele está em alguma zona mais crítica do castelo, onde os feitiços estão caindo. Aqui, fica com esse comunicador, é esperado que tenha alguém útil do outro lado da linha. - Falei me fingindo de focado e desconectei o pequeno objeto dourado da minha orelha, só então notando a presença de Hector Dussel com uma valise suspeita conversando com um outro senhor mais atrás. – Se não tiver ninguém, ao menos combina com sua gravata.

Heitor revirou os olhos, mas Jweek - essa deusa de incríveis cabelos verdes da cor da Sonserina - riu de leve e piscou para mim. Jweek Rosier, batedora dos Vratsa Vultures, piscou pra mim! Hector cortou minha onda de alegria quando chamou atenção do casal para o relógio atrás de nós. 

É um vilão sem coração mesmo!

Todos olhamos para um reloginho velho que, ao invés das horas, marcava quando o próximo trem chegaria ou partiria da estação, cada ponteiro com um vagão na ponta marcando qual horário era qual. Agora os dois giravam rapidamente, se cruzando sem parar e sem sentido algum.

— A magia de Salem não vai segurar as coisas por muito mais tempo, está começando a chegar aqui. - O mais velho dos Dussel falou e apontou uma geringonça com um marcador esquisito para o Expresso, estalando a língua nos dentes. – O Expresso tem que partir agora ou...

— Ou não vai partir mais. - Erick completou com um sorriso inocente no rosto e eu o fuzilei com o olhar. – Bem, não me olhe assim! Eu propus pegar mais um pouco da magia americana para Hogwarts, mas fui voto vencido! Ao menos nós dois demos algum tempo para essas crianças infelizes, sobrinho.

Revirei os olhos para o humor fora de lugar do djinn e observei que as “crianças infelizes” agora eram uma multidão semelhante àquelas dos feriados prolongados, quando todo mundo queria falar e tinha muito tempo antes do Expresso sair. Todos pareciam mais ansiosos em tagarelar e compartilhar suas experiências no castelo do que achar um vagão para se acomodar para a evacuação. 

Não fui o único a perceber isso, porque Jweek subiu em um velho banco de concreto ao lado do relógio desregulado e assobiou com o indicador e o polegar na boca. O som quase furou meus tímpanos, que pulmões! 

— TODOS PARA O TREM! - Os alunos haviam parado de falar com o assobio agudo cortando suas conversas ao meio, mas pareceram realmente alarmados com o tom de voz da bruxa. – VOCÊS SÃO SURDOS? A ESTAÇÃO NÃO É SEGURA, PARA O TREM AGORA!

Assim que ela gritou a última palavra, pareceu como se um feitiço houvesse caído no povo, porque os alunos de Hogwarts começaram a entrar pelas portas do trem como se o diabo em pessoa estivesse lhes pisando os calcanhares. Fiquei tentado a fazer o mesmo, como a ovelhinha inocente que sou, mas antes perguntei o que precisaria saber para acalmar meus colegas depois. 

— Qual é o plano, pessoal? O que vocês vão fazer lá? - Jweek aceitou a mão de Heitor para descer do banco com um levantar de sobrancelhas irônico que prendeu a minha atenção, mas foi Hector engatilhando algo semelhante a uma arma steampunk que me respondeu.

Que merda ele pretende fazer com isso?

— Bem, criança... Nós vamos encerrar Hogwarts dentro de sua própria maldição. - Quê? O irmão mais velho de Enrique apoiou a escopeta - que apelidarei carinhosamente de “beijo da morte” por ter uma boca larga e negra - nos ombros e nos deu as costas. – Vou tentar achar com Harmond uma carruagem que nos leve rápido para o coração da escola. Heitor, você, Fábregas e Rosier vão pelo Lago Negro, certifiquem-se de que nada saia por lá ou pelas montanhas.

— Espera, eu vou com vocês? - Falei entre o chocado e o empolgado para o homem que agora ajudava seu assistente a distribuir pelo grupo alguns dispositivos igualmente estranhos, mas nem de longe tão irados quanto sua arma. Hector Dussel revirou os olhos com um sorriso para mim e com isso se pareceu um pouco mais com Enrique.

— Me referia a ele. - Apontou com a cabeça para Erick e eu fiz uma careta ofendida, porque esse capiroto NÃO É UM FÁBREGAS! – Você vai entrar naquele trem nesse exato minuto.

— Uma merda, que eu... - Não pude completar a frase, porque num instante eu estava encarando Heitor, Hector, Jweek, Harmond - possivelmente um parente de Tracy, apesar de não ser chinês - e Erick e no outro assistia os cinco através dos vidros embaçados das portas fechadas do Expresso de Hogwarts, pronto para partir.

Vi o meu suposto ancestral baixar novamente a mão e só agora notei que, por debaixo de suas vestes escuras e muito semelhantes as dos Dussel, ele não usava nenhuma coleira no pescoço. Droga! O trem deu o último apito para uma estação completamente vazia, com exceção do grupo estranho cheio de artefatos bizarros que eu deixei para trás. 

— Ok, Cesc, essa vai para a conta das “vezes em que eu deveria prestar atenção nos detalhes e parar de ficar divagando com coisas absurdas”. - Apoiei a testa no vidro e olhei emburrado o trem se afastando da estação, com aquela sensação de que deveria estar fazendo mais pela escola que foi o meu lar por quase quatro anos.

Dei de ombros, porque não havia muito o que fazer agora, então o jeito era achar meu vagão de sempre, onde finalmente veria meus amigos. Enrique tem razão, os adultos sempre ficam com a diversão toda!

E foi com esse sentimento de rancor destinado a todos os adultos condescendentes, que entrei na minha cabine de sempre e fui recebido por um abraço desnecessário da monstra. De Tony eu ganhei um aceno de cabeça e de Scorp um sorriso, já que as mãos estavam ocupadas segurando uma Vega dormindo.

— Seu pai ficou em Hogwarts? - Perguntei ao loiro que agora estava fazendo uma careta engraçada, como se na verdade estivesse segurando uma arma biológica prestes a explodir. 

— Todos que poderiam ajudar ficaram e dizer que eu não sou bom com crianças não colou dessa vez. - Scorp deu um último olhar para a cabeça da irmã com uma cara de desgosto, jogando a manta verde escura por sob o rosto do bebê. – E você? Por que demorou tanto? 

— Estava dando uns amassos com Enrique... O que você acha? - Falei sarcástico, me sentando ao lado de um Tony de cabeça baixa. – Eu estava tentando descobrir mais informações sobre essa loucura toda!

— E conseguiu algo? - Rebeca sentou ao lado do namorado, que fez menção de entregar Vega para ela, mas a monstra fez que não, com um olhar severo. – O que diabos você descobriu? 

— Aparentemente a escola está definhando e sugando a magia ao redor como uma última boia salvadora. - Falei agitado, finalmente me dando conta da enormidade da merda em que estávamos enfiados. – Estava começando a afetar Hogsmeade quando nós partirmos.

Rebeca roía o cantinho das unhas me olhando ansiosa, como se eu magicamente fosse sacar um “entretanto” da cartola, para fazer as coisas soarem menos sinistras, mas eu nem sequer tenho uma cartola, quanto mais boas notícias! Tony respirou fundo e falou pela primeira vez desde que eu cheguei.

— Isso é certo, estão nesse exato momento evacuando as criaturas mágicas da Floresta Proibida para o centro, com a ajuda dos centauros. - Levantei uma sobrancelha questionadora para ele, que apenas sorriu maliciosamente, me mostrando sua orelha esquerda, ainda com o comunicador dourado da equipe de seu pai. – Ótima ideia distribuir essas belezinhas para os adultos, Cesc!

— Sabe que eu não fiz isso para te ajudar a espionar o que está acontecendo por lá, não é? Eu até mesmo me livrei do meu! - Falei, me eximindo da culpa, mas Tony apenas piscou para mim e voltou a segurar o comunicador, provavelmente no modo escuta. – Mas já que você ainda o tem, o que está acontecendo por lá?

— Esse aqui é... É Heitor falando? - Ele olhou em dúvida, mas continuou escutando. – Parece que chegaram “contentores” e que eles vão usar para “isolar o perímetro”.

Tony fez uma careta confusa e Rebeca soltou um gritinho, porque tinha acabado de rasgar totalmente a unha nos dentes. Coitada.

— Os Dussel chegaram em seus cavalos brancos cheios de artefatos e geringonças para lidar com a situação. - Falei me lembrando de compartilhar essa informação, apesar de não achar que era lá tão relevante. – Pelo que Hector falou, eles vão isolar Hogwarts para que ela não se torne um buraco negro sugador de magia e tudo mais.

— Parece que a maior preocupação deles é que isso possa afetar a magia dos voluntários, porque por enquanto está apenas afetando os feitiços e os objetos mágicos, mas eventualmente pode...

Tony se interrompeu porque a porta da nossa cabine se abriu bruscamente, trazendo uma Lily em suas vestes trouxas, arrogância e ruivice. Vega Selene ameaçou acordar, fazendo Scorp fuzilar Pottinha com o olhar.

— Eventualmente pode roubar a magia dos bruxos ao redor, exatamente como... Deixa eu pensar... Em Pompeia!  - Lily falou teatralmente e eu fiz sinal para que ela fechasse a porta atrás de si, o que ela fez com pouca delicadeza. – Eu avisei! Eu avisei a você que era a mesma coisa, mas você me deu ouvidos? Não, claro que não! Porque ninguém nunca me dá ouvidos!

Rebeca revirou os olhos e sorriu para mim como se dissesse “ lide com seu bichinho chato” e foi exatamente o que eu tentei fazer ao levantar e trazer Lily para se sentar ao meu lado.

— Pottinha do meu coração, eu te dei ouvidos!  Dei os dois e se tivesse um terceiro, teria te dado também, mas acontece que isso e nada é a mesma coisa, porque, como eu te disse, não há muito o que possamos fazer! - Tentei ser racional, mas aparentemente Lily prefere surtar sem motivo algum. 

— Para de falar isso! É claro que podemos fazer algo! Podemos tomar esse trem de assalto e voltar para Hogwarts, fazer alguma coisa, qualquer coisa! - Ela gesticulou ansiosamente e eu fiz uma careta quando quase tive o nariz arrancando por uma de suas mãos. 

— Lily, já conversamos sobre isso, não estamos em um filme ou série de TV e se fosse esse o caso, nós não seríamos os protagonistas, quero dizer, olha pra gente: Tony está espionando os adultos e Scorp parece uma mamãe pufosa cuidando de seu filhote! -O loiro parou de aconchegar a irmã nos braços para deixar uma das mãos livres o suficiente para me mandar um gesto obsceno desnecessário. – Viu? Nós seríamos os vilões! 

— Isso não é verdade! Fique você sabendo que para onde quer que eu olhe, eu vejo pessoas assustadas e confusas, se perguntando o que será da nossa escola e quando eu olho para vocês, sabe o que eu vejo? Pessoas calmas, compartilhando informações, estando sempre um passo a frente de todos! - Ela apontou para o nosso grupo como se fôssemos o Santo Graal e não podia estar mais errada sobre isso, mas eu tive que lhe dar um crédito, porque era fácil se levar pela nossa arrogância e zero de noção do perigo. Soava até como confiança e fé inabalável para um leigo.

— Sonserinos não tomam trens e nem se metem em batalhas ousadas, nós nos articulamos e contribuímos para a História de outra forma. - Peguei na mão dela e dei um apertão simpático junto de um sorriso divertido. – Quer saber como?

Lily retribuiu meu sorriso, então eu soltei sua mão e peguei a minha pena negra especial, edição limitada- apenas para os puros de coração, assim como o martelo de Thor - aceitando de bom grado o rolo de pergaminho que Rebeca me ofereceu com um brilho malicioso nos olhos.

— Por onde devo começar? - Bati a pena nos lábios, pronto para dar aos alunos de Hogwarts algo no que pensar e se distrair um pouco.

Caros colegas,

É com imensa tristeza e em um clima de incertezas que começamos essa edição do Ocaso.

A nossa escola parece estar dando os seus últimos sinais de vida, mas antes de dar possivelmente um adeus definitivo a ela, vamos engolir o choro e tentar entender o que está acontecendo, já que chorar nunca levou ninguém a lugar nenhum.

Então pulemos o choro, por hora.

As falhas de magia encetadas a quase dois anos culminaram nesse evento catastrófico, que finalmente nos tirou o teto sob nossas cabeças e o chão sob nossos pés. Sim, sabemos, estamos sendo dramáticos ao extremo, mas o dia pede um pouco de pieguice e não abriremos mão disso, já abrimos mão do choro, lembram?

Mas vamos manter o foco e fazer uma lista do que sabemos até agora:

Primeiro, sabemos que os feitiços que caíram e foram mais marcantes na hora de selar o nosso destino pertenciam aos fundadores e eram tão antigos como a própria escola e a calda das panquecas servidas na mesa da Sonserina. 

Segundo, de acordo com o que tivemos acesso através dos autos do julgamento do capitão Fábregas e seu probleminha com a América, a África e djinns, já sabem, Hogwarts estava sofrendo de “soluços” de falta de magia, que antecediam os “apagões”, esses sim mais lembrados e percebidos.

Nesse mesmo julgamento, soubemos através do gênio da lâmpada - que hoje parece estar do lado do bem, ajudando a conter a bagunça no castelo - que um pouco da magia de Salem foi transferida para Hogwarts, o que nos deu, possivelmente, mais alguns meses na escola antes da falha, que esperamos, seja a final, para o bem ou para o mal.

Agora que já refrescamos nossas memórias, vamos aos assuntos do dia:

Uma boa coisa que o jogo de hoje tenha coincidido com essa falha, porque os moradores de Hogsmeade, juntamente com alguns bruxos que vieram assistir a partida amadora entre a Seleção e o clube de Quadribol da escola, foram essenciais para a evacuação segura dos alunos e para começar os primeiros trabalhos de resolução da crise.

Algumas estratégias tem sido traçadas pelos bruxos no que chamaremos de “fronte de guerra” e nesse exato instante, as criaturas mágicas da Floresta Proibida e do Lago Negro estão sendo protegidas e Hogwarts isolada do mundo através de contentores de magia, trazidos pelas indústrias Dussel.

Essa empresa super poderosa e levemente sinistra tem estado presente no olho do furacão dessa nossa tempestade e por lidar com a aplicação de feitiços em locais altamente enfeitiçados e antigos, possuem as ferramentas certas que podem frear o que entendemos como um grande buraco negro de magia.

Para aqueles que não conhecem o termo, buracos negros são fenômenos que os trouxas conseguiram registrar nos céus, junto às estrelas e é algo como um sumidouro espacial, tão poderoso que consegue sugar até mesmo a luz em sua essência e alta velocidade. 

O porquê dos trouxas ficarem caçando mistérios no espaço e não cuidarem do próprio umbigo é algo que nunca entenderemos, mas voltemos ao assunto.

Algumas civilizações lidaram com esse tipo de crise antes, as mais conhecidas sendo Pompeia e Atlântida, o reino perdido, mas se os sintomas parecem os mesmo, ao menos temos mais conhecimento e tecnologia do que elas jamais tiveram e podemos sonhar com uma salvação!

E nós não temos um vulcão, o que é sempre uma vantagem.

Bem, registros históricos a parte, precisamos nos lembrar que, acima de tudo, Hogwarts é uma escola, não uma civilização antiga e isso muda tudo, ao menos na nossa concepção da coisa toda.

Escolas não são lugares onde nascemos e morremos, nem onde fincamos raízes e sobrevivemos um dia após o outro, vendo os mesmos rostos envelhecerem como um reflexo dos nossos. Escolas são feitas de gerações de mentes jovens que estão ali em busca de conhecimento, ano após ano!

Teoricamente, claro, não somos tão ingênuos de achar que todo mundo vai para a escola para estudar, mas ao fim e ao cabo, agora, nesse exato momento, enquanto os archotes se apagam, o relógio da torre bate descompassado e os nossos quadros se tornam molduras vazias, nesse exato instante...

Nós, todos nós, somos Hogwarts.

Perderemos a nossa peça de teatro prevista para o último dia de aula? Não saberemos que casa ganhará a Taça das Casas sem os pontos do Quadribol pela primeira vez em muitos anos? Não veremos mais os setimanistas se estrunchando em seus treinamentos para a prova de aparatação no Ministério? E as notas finais? E o jantar do fim do ano letivo? E o pôr do Sol debaixo daquelas macieiras tortas? E o passeio de barco até a ilha de Dumbledore? E a corrida de testrálios depois da última prova feita?

Não fazemos ideia se teremos esses pequenos detalhes incrivelmente simples e essenciais da nossa vida de volta, mas de uma coisa temos certeza: por sete anos ou até mesmo por apenas um, viver e aprender com Hogwarts foi uma honra e nada nesse mundo jamais mudará isso, espero que vocês nunca esqueçam dessa verdade.

Com os melhores votos de sorte para todos nós e desejando que essa não seja a última vez,

Ass.: Iconoclastas


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Notas finais do capítulo

Pronto, vou ali marcar a história como terminada, pq se não tem Hogwarts, não tem mais fic com o nome de Hogwarts, não é? Faz sentido pra mim, rsrsrs

Bjuxxx

P.s.: É brincadeira, viu?