Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 106
Capítulo 106. Cinco dias


Notas iniciais do capítulo

Ontem, às 10 horas da noite, eu tinha exatamente 0 linhas escritas e um bloqueio criativo e hoje, menos de 24 horas depois, trago um capítulo novo, viva!



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Capítulo 106. Cinco dias

— Fábregas e Rasvan, Rasvan e Fábregas, quero que lembrem-se que estou entregando isso a vocês na maior confiança! - As duas corvinais estenderam novamente as mãos para pegar os comunicadores que eu estava oferecendo. Puxei os objetos de volta, querendo ter certeza que as duas garotas haviam me ouvido. — Confiança que qualquer outro teria preferido colocar....

— Ai, Cesc, pelo amor do menino Jesus, dá logo isso aqui! - Louise arrancou os trocinhos dourados das minhas mãos e passou um deles para sua amiga romena com cara de meliante. — Você sabe que não podia ter pedido ajuda para uma dupla melhor preparada.

— Sim, inclusive pode me chamar de Ione, Cesc, acho que já podemos deixar de lado as formalidades... - A outra garota, a de cabelos cacheados, me piscou cheia de intimidade e eu continuei a encarando sério.

— Eu prefiro te chamar de “Rasvan”, Rasvan e no caso, só para lembrar as duas, os comunicadores não são brinquedo, no final do jogo eu vou querer de volta intactos. - Apontei para as duas, que me olhavam com sorrisos idênticos de alegria mal contida. — Agora se espalhem e ajudem aos convidados a acharem seus lugares nas arquibancadas, vão, vão!

Os cabelos castanhos de Rasvan ainda davam para ser vistos se misturando com a multidão que vinha da ponte coberta, mas Louise desapareceu assim que os moradores de Hogsmeade, ex-alunos e alunos da escola começaram a se encaminhar para o estádio.

Respirei animado para aquele clima de evento familiar, consertando o ridículo broche roxo berrante que Segundo deu a toda equipe de apoio com um “como posso te ajudar?” saltando divertido da peça. Falando no capeta, o ouvi falar no comunicador.

— Cesc, veja bem, eu tenho uma boa e uma má notícia para te dar, qual você quer ouvir primeiro?— Pela voz de Frank ao fundo, Fred já devia estar concentrado no vestiário com a Seleção, mas a eminência do jogo não o impediu de ser um escroto, com seu tom debochado de sempre.

— Eu quero a boa notícia, porque se Deus quiser a má já vai ter se resolvido antes que você possa me contar! - Falei, sorrindo simpático ao chegar perto do camarote das autoridades, onde sentariam os professores e bruxos do Ministério e um ou outro convidado de honra.

— Rá! Você não tem tanta sorte. Mas a boa notícia é que eu consultei cada livro em que pude pôr as mãos nesses, bem, cinco dias e devo dizer que não há nada que faça referência a esse prazo, quero dizer, sabia que até na bíblia tem um negócio de sete dias, mas não de cinco?—Fred falou com aquele tom curioso dele.

— Eu sabia sim, claro, porque fiz eucaristia e sei até que Deus criou as aves e as criaturas marinhas no quinto dia e se isso tiver alguma coisa a ver com qualquer coisa que está acontecendo hoje, que os anjos falem agora ou calem-se para sempre! - Blasfemei, fazendo um gesto amplo, mas como nenhum raio me atingiu, me esgueirei para falar com Draco Malfoy e sua adorável filha caçula. — E a má notícia?

Um ou outro bruxo velho me olhou sem saber que só estavam aqui aconchegando suas bundas murchas nas arquibancadas de Hogwarts graças a mim. Bando de ingratos! Finalmente cheguei onde os Malfoy haviam se colocado, mesmo que hoje só houvesse dois deles aqui.

— A má notícia é que tio Harry descobriu sobre a festa pós-jogo, então nem pense em falar com ele agora, ele deve estar uma fera!—Terminei de escutar o que o Weasley enferrujado tinha a dizer, segurando divertido a mãozinha gordinha de Vega Malfoy e vendo Harry Potter a cinco lugares de distância me encarando com cara de poucos amigos.

— Ah, Segundo, se você estivesse na minha frente agora, eu ia matar você de uma maneira que horrorizaria o detento mais vil de Azkaban! - Falei fazendo vozinha de bebê para a irmã de quase um ano de idade de Scorp e tio Draco levantou uma daquelas sobrancelhas pálidas para mim. Disfarcei minha fala sem noção com um sorriso amigável.  — Tio Draco, Vega Selene é a garotinha mais adorável que eu já tive o prazer de ver!

E era mesmo, parecia uma boneca encantada, com aqueles cachinhos ralos e macios de bebê e bochechas rosadas com um sorriso meio aguado de dentes minúsculos. Ela tem os olhos iguais aos de Scorp, que gracinha, provavelmente não vai valer um nuque furado daqui a treze anos, que nem o irmão.

— Ela está bastante animada com seu primeiro jogo de Quadribol... A propósito, Scorpius irá jogar hoje, não é? -Ele perguntou com seu tom aristocrático, encarando a minha roupa de civil, provavelmente tendo visto Tony sem o uniforme também. Sorri para ele, ignorando o chamado do treinador Potter para eu ir até onde ele estava.

— Ele vai jogar sim, mas não se preocupe, trabalhei em umas estratégias para a sua presença não intimidar tanto o jovem Hyperion quando a goles estiver rolando. -O senhor Malfoy me encarou com uma sobrancelha imperiosa arqueada, estranhamente imitada por sua versão mirim e menina. Vega, seja uma menina doce, florzinha!  — Sim, é disso que estou falando, parem com isso os dois!

Fiz menção de sair pelo outro lado, mas Harry Potter não venceu o maior bruxo das Trevas dos últimos tempos sendo preguiçoso e acomodado, não é? Na verdade, eu acho que ele venceu Voldemort sendo tão infinitamente irritante, que o mago lançou um Avada em si mesmo, mas isso teria ficado esquisito nos livros de história da magia.

Bem... Rita Skeeter deveria ter testemunhado a grande batalha, porque só ela para nos brindar com a verdade dos fatos!

— Senhor Fábregas, tem um momentinho? - Potter me segurou pela capa e deu um jeito de me colocar ao seu lado na tribuna de uma maneira que nem o mais habilidoso dos bruxos poderia explicar. Fiz minha expressão mais infeliz para o garoto que devia ter morrido quando teve a chance.

— Sim, treinador, fale, mas se lembre que eu sou uma pessoa ocupada, tenho um discurso de abertura para fazer e tudo mais. - Dei uns tapinhas simpáticos no bolso das vestes onde estava o meu maravilhoso discurso e Potter me olhou com uma careta.

— Ah sim, tem isso! Quero ver esse seu discurso também, mas antes...

— E estragar a surpresa? - Me coloquei alarmado e ele me olhou cético.

— Se houvesse um jeito de impedir suas surpresas através das leis mágicas, senhor Fábregas, pode ter certeza que eu teria muito menos cabelos brancos do que eu tenho hoje. - Olhei para os tais fios de cabelo branco do treinador e torci o nariz para isso, porque não posso levar todo o crédito por ele já ser quase um velho caquético! — Mas vamos ao que interessa: que história é essa de festa pós-jogo?

— Olha, senhor, são raros os momentos em que posso dizer isso, mas esse é um deles: eu não estou por trás dessa balbúrdia aí, eu sou inocente! - Levantei as mãos em sinal de, bem, inocência e podia jurar que ouvi o senhor Malfoy dar um risinho, mas quando olhei para ele, o loiro apenas brincava serenamente com a filha caçula. — Mas posso apontar os verdadeiros culpados.

Sorri malignamente e o treinador me olhou desconfiado, porém antes de arrasar com a vida de Fred II e qualquer outro que tenha pervertido o meu sonho dourado de salvar os animais fantás... Não, pera! De salvar as criaturas mágicas hospitalizadas, madame Hooch fez sinal para mim.

— Infelizmente vou ter que deixar essa denúncia para mais tarde, treinador, o dever me chama! -Falei animado e no fim das contas acabei saltando por cima do ombro do diretor da Corvinal na fileira abaixo da que estávamos para ir aonde devia. Me despedi de Harry Potter sem encará-lo.  — Até mais tarde, senhor!

Fui até a balaustrada onde terminava o camarote das autoridades e aceitei a minha amada vassoura Twigg das mãos de um compenetrado assistente de palco, Tony, no caso e seu inseparável alcaçuz infinito, mais um dos seus doces americanos dos quais só ouvimos falar.

Infinita também é minha paciência com esse filho da mãe egoísta e futuramente diabético!

— Obrigado, queridinho! -Tony acenou discretamente e eu me posicionei na vassoura, para saudar o estádio lotado de um lugar privilegiado. Aumentei magicamente minha voz quando cheguei em um ponto alto o suficiente. — Boa tarde, Hogwarts!

A torcida composta em sua maioria por meus insuportáveis colegas retribuiu o comprimento enlouquecidamente e se preparou para o início desse evento épico. Nós adoramos festa fora de hora, fazer o quê? Os bandeirões e flâmulas das Casas - que deviam estar em algum sótão empoeirado até ontem - balançavam orgulhosos por todo o estádio e eu sorri contente para isso. Voltei a falar.

“ É com um imenso prazer que recebo hoje toda a comunidade de Hogwarts, comunidade essa que começa com o corpo docente, se espalha entre as nossas fileiras de alunos e faz a curva até chegar a todos àqueles que, de alguma forma, fizeram parte dessa tão amada escola.

Hoje estamos celebrando a formatura dos alunos que, mesmo sem um campeonato interno, decidiram que não podiam ficar sem jogar pessoalmente o Quadribol e por isso mesmo aceitaram o desafio de serem treinados por mim, jogando contra a nossa surpreendentemente boa seleção de Hogwarts! Sério, estou surpreso com o quão longe nós fomos no mundial!”

Pude ouvir as risadas daqueles que estavam mais próximos de mim e até me atrevi a dar uma piscada para o treinador Potter, que maneava a cabeça com um sorrisinho conformado. Voltei a olhar para frente, porque sabia que só tinha mais um par de minutos antes que John nos entregasse o espetáculo de abertura do jogo.

“ Bem, apesar de inegavelmente as estrelas de hoje serem os nossos jogadores, não poderíamos deixar de usar esse espaço para dar oficialmente às boas-vindas de volta a nossa querida diretora Minerva McGonagall, cuja presença nos fez uma falta absurda nesses meses de ausência.

Me atrevo a falar em nome de todos os alunos de Hogwarts que essa escola não é a mesma sem a sua vigilância constante, paciência para nos guiar nas dificuldades e, acima de tudo, a escola não é a mesma coisa sem a sua leve preferência pela Grifinória, mas fazer o quê? Até disso sentimos falta!”

Dessa vez olhei para a diretora ladeada por alguns dos professores. Ela me olhava com sua atitude de sempre: condescendente, séria e com um leve divertimento brilhando naqueles olhos de gata idosa dela.

— Esse jogo é em sua honra, senhora e não importa quem vença, a vitória será sua! - Falei com um sorriso sincero, que a velha dama de ferro retribuiu discretamente, com um aceno de cabeça. Tony fez um ok com as mãos e falou algo com alguém em seu comunicador. — E agora, fiquem com os nossos narradores oficiais!

Voltei para o meu lugar e deixei que Shawna e Jerry Dowson assumissem a voz narrativa dos eventos que estavam por vir, enquanto Tony tomava a vassoura da minha mão e dava uns tapinhas nas minhas costas.

— Bom trabalho, Cesc. John está com os feitiços a postos. -Assim que Tony acabou de falar isso, a torcida parou de bater palmas pelo discurso para assistir extasiada aos fogos de artifícios deslumbrantes, que trouxeram aos céus os patronos das nossas Casas.

Entre os leões, texugos, águias e serpentes que iluminavam os rostos da multidão com as quatros cores principais das Casas brilhando metálicas, um grande e majestoso felino rajado se espreguiçou no céu, homenageando mais uma vez a nossa diretora.

Sim, hoje é o dia de puxar o saco de dona McDonald’s até não podermos mais, em nome de todas as merdas passadas e as que ainda estão por vir, claro. Um sonserino precavido, é um sonserino vivo, já diria o velho Barão Sangrento, ironicamente bem morto.

— O lago está pronto.— Ouvi a voz séria de John no comunicador e Tony cruzou os dedos em frente ao rosto, num desejo mudo para que aquela maluquice que o corvinal havia planejado, funcionasse sem grandes problemas.

Assim que o último dos animais mágicos saiu do céu azul quase sem nuvens de uma perfeição atípica para a primavera escocesa, uma grande parede de água surgiu no horizonte, vinda da esquerda. Algumas varinhas corvinais se destacaram na multidão e a água escura e sinuosa do Lago Negro começou a percorrer toda a dimensão do estádio, em uma quase volta olímpica.

Era o paredão de água mais impressionante que eu já tinha visto na vida, uma versão adulta daquele feitiço de limpeza aquático que John usara quando arrumamos a câmara secreta para ser a sede do Ocaso há tanto tempo.

Sorri encantado com a lembrança morna e nada desconfortável de uma das muitas coisas que eu havia perdido por causa daquele feitiço feito por Bradbury e sua vigarice absurda. Isso parecia que tinha sido há séculos!

A sensação boa que eu tive no início desse dia só estava melhorando, como se de alguma forma as coisas finalmente estivessem se encaixando no lugar certo, nos fazendo lembrar o que é realmente importante em Hogwarts!

Quando a água finalmente chegou aonde nós estávamos, pude ver a obra completa de John e seus colegas da Corvinal: dentro do paredão de águas escuras estava acontecendo um verdadeiro desfile das criaturas aquáticas que habitavam o Lago Negro!

Sereianos pomposos, Grindylows demoníacos e peixes de todas as formas e tamanhos saudavam a nós, humanos, com uma dose de arrogância que era até cômica, já que para todos os efeitos em suas cabeças escamosas e molhadas, a nossa raça era um vizinho incômodo que eles tinham que aguentar na superfície do lago.

—  Eu tô rindo de nervoso, porque só consigo pensar que eles estiveram se refestelando nas nossas camas há alguns meses atrás! -Tony falou entredentes, sorrindo e acenando para as criaturas. O olhei sem entender. — Eles invadiram as Masmorras, lembra?

— Tenho quase certeza que aquele episódio foi tão divertido para eles, quanto foi para nós, Tony. -Disse rindo, porque só Tony mesmo para achar que o Afogamento da Serpente foi legal para alguém.

— Vai dizer que se você fosse um grindylow feio e melequento você não ia fazer questão de se esfregar nos lençóis das crianças que tanto te azucrinaram através da janela do salão comunal? -Ele pôs as mãos na cintura, me olhando cético, enquanto a água retornava ao Lago pelo mesmo caminho que veio.

— Eu tenho quase certeza que teria mais o que fazer da minha vida de grindylow, Tony! Nem todos nós nascemos horrivelmente vingativos como você. -Shawna parabenizou encantada de verdade o trabalho dos corvinais e Tony olhou sério para o meu sorriso amarelo. — Ok, eu me esfregaria um pouquinho, mas pode tirar esse sorriso vitorioso da cara, nós temos trabalho a fazer!

— Que trabalho? Agora é só o jogo rolar e acabou! -Tony lavou as mãos figurativamente e eu franzi o cenho para ele. — É nesse momento que a gente se junta a Stoddard nas fileiras de baixo, para ver a quantas anda as apostas de quem vai ganhar o jogo...

Olhei desconfiado para Tony, que sorriu de orelha a orelha com essa merda de sorriso de quem planejou algo horrível sem me contar nada.

— Quando você diz fileiras de baixo, quer dizer moralmente falando, não é? -Perguntei sarcástico e meu melhor amigo apenas sorriu o seu melhor sorriso tubaranino.

— Não, ele literalmente está nas fileiras de baixo, tomando as apostas, cujo uma parte generosa será revertida para os nossos bolsos. -Eu ri do cinismo de Tony e o acompanhei pelo caminho da perversão. — Que bom que você não me fez insistir muito, eu já estava ficando cansado dessa sua ladainha de se tornar uma pessoa melhor.

E lá fui eu curtir o jogo da escolinha contra a seleção no lugar dos indivíduos de pior índole da escola. Mamãe ficará orgulhosa ao saber o que eu fiz dessa vez! Me refiro ao jogo e não a essa parte da aposta, claro, disso ela não precisa saber.

***

Era oficial, a Confederação Mundial de Quadribol tinha que instaurar as substituições nos jogos profissionais, porque isso aqui está muito bom! Começando pelas brigas maravilhosas de Frank e Enrique com aqueles jogadores que não queriam sair de jeito nenhum de campo, culminando com a mudança drástica de jogo a cada substituição.

As apostas flutuavam incessantemente, tanto que Stoddard e seus comparsas pareciam ter adquirido braços a mais para dar conta de pegar todo o dinheiro, enquanto as penas de repetição rápida anotavam os palpites gritados, vindo de todos os cantos.

Voltei meu olhar para o jogo, bem a tempo de ver que Lia tinha acabado de entrar pela seleção, fazendo Enrique colocar Cameron de volta para persegui-la e Simon se mover agilmente para bloquear o avanço de Romeo para o gol de Marco.

Frank agora gritava diretamente para Enrique, que fazia questão de truncar o jogo sem vergonha alguma na cara, mesmo que cada um dos seus jogadores não tivesse jogando nem 30 segundos de partida a cada entrada, no fim das contas.

Enrique praticamente estava jogando xadrez bruxo com as jogadas mais sujas que podia pensar estrategicamente e eu tive que rir da indignação de Longbotton com isso.

Shawna e Dowson estavam se vendo loucos com tantos nomes para decorar e vez ou outra Madame Hooch paralisava a partida, porque um dos treinadores havia deixado mais de sete jogadores em campo, o que podia ter sido um acidente nas cinco primeiras vezes, mas depois virou uma filha da putisse Longbottística e Dussesca, claro.

— Cesc, o professor Potter está querendo saber onde você está.—Rasvan falou no comunicador e eu levei alguns segundos para limpar meus onióculos atingidos por chips de abóboras com queijo atirados por um grupo de garotos da vila que estavam brigando com os grifinórios na minha frente.

Primeiramente, quem deixou esse povo vir comercializar essas comidas esquisitas dentro do estádio e segundo, por que os grifinórios estavam arrumando confusão com esses meliantes que possivelmente fazem parte de alguma gangue saqueadora de galinhas de Hogsmeade?

Ah bom, mas é como Tony disse há um minuto: a gente já teve o trabalho de organizar tudo, agora o que acontece daqui para frente está nas mãos de Merlin!

— Diga a ele que isso não é da conta dele! -Falei dando risada, vibrando com a defesa maravilhosa de Marco no aro esquerdo da escolinha. Rasvan chiou nervosa no comunicador.

— Não posso dizer isso a ele, ele está literalmente na minha... Ah, só um minutinho!—Ela mudou o tom irritado, para um mais servil e isso me chamou a atenção.

— Senhor Fábregas, me encontre na saída dos vestiários em cinco minutos.—Era a voz de Potter que saia agora pelo comunicador e eu fiz uma careta irritada para aquela criatura insuportável, que mesmo a distância, tinha o poder de acabar com minha alegria. Tony me olhou curioso.

— Ou... -Desafiei sem um pingo de vergonha na cara e o comunicador ficou mudo por alguns segundos preciosos.

— Você não tem mais nenhuma gordurinha para queimar com um “ou”, senhor Fábregas! Ou você vem ou você vem.—Ele desligou o trocinho dourado e eu estalei a língua nos dentes.

— Maldito Harry Potter. -Tony, que estava interessado na conversa até 30 segundos atrás, fez que não me ouviu, virando para a frente muito rápido para não ser suspeito. — Vamos, Tony, temos trabalho a fazer.

Ele resmungou, choramingou e até me implorou e pediu para que eu usasse a razão e deixasse Potter ir se foder sozinho - coisa que me soou como o céu - mas no final dos cinco minutos, lá estávamos nós nos encontrando com o honorável Harry James Potter em ser humanice!

— Chamou, senhor? -Perguntei inocentemente, ainda sob o som do que parecia ter sido uma jogada incrível da Seleção, que eu perdi, óbvio. Sorri sem humor para Potter.

— Ok, senão vejamos: quando eu soube do boato de uma festa dos alunos depois do jogo, eu até estava disposto a fingir que não ouvi, mas isso chegou aos ouvidos do vice-diretor Brenam, então eu preciso saber: quem está a frente dessa festa?

— Não somos nós, senhor, palavra de escoteiro! -Eu teria sido um escoteiro formidável, então a minha suposta palavra conta, certo? Potter me olhou sem acreditar. — Juro que dessa vez não tem um dedo meu nisso e nem de Tony, a propósito.

O aludido fez que sim com a cabeça, como se fosse um desses bonecos de cabeça balançantes, então ambos finalizamos o nosso discurso inocente com dois sorrisos adoráveis. Harry Potter apenas franziu o cenho.

— Pois então avisem a quem está a frente disso, que essa agora é uma festa aberta a quem quiser participar! - Potter falou cinicamente, abrangendo com os braços toda a arquibancada que se erguia acima de nossas cabeças.  — E é bom essa ser uma festa familiar, estamos entendidos?

— Vamos fazer a mensagem chegar aos ouvidos certos, garanto! -Fiz o mesmo sinal de ok que Tony tinha feito para mim há algumas horas e assim que Potter saiu de nossas vistas, acionei meu comunicador dourado no modo para todos.  —  Fred, você está fodido e não pense nem por um segundo que eu tenho pena de você!

Eu e Tony estávamos voltando correndo para as arquibancadas, bem a tempo de ver a torcida reagir a um balaço que Segundo havia levado na cara, provavelmente por culpa da distração que eu havia causado em seu ouvido.

Eu ri disso.

Assim que Longbotton o substituiu por Scorp, o Weasley enferrujado rosnou de volta para mim em seu comunicador.

— Que porra você quer dizer com isso, Fábregas?—Ui, agora voltei a ser Fábregas? Expulsei dois lufanos do primeiro ano com um gesto de mão e sentei com Tony em seus lugares, antes de respondê-lo.

— Que seu tio Harry quer que você transforme o seu brega em uma festa familiar, senão... -Parei de falar para assistir a disputa entre Lily e James pelo pomo de ouro, minha nossa, eu nem tinha me dado conta do quão perturbador isso seria!

— Senão o quê, porra? —Segundo falou indignado, me arrancando da visão dos dois Potter batalhando palmo a palmo para ficar mais perto do pomo.

— Senão eu vou dar com a língua nos dentes e contar suas maracutaias todas, você não me provoque, porque na minha situação ferrada só uma delação premiada para me salvar! -Falei em um fôlego só e depois suspirei pesado ao ver que James havia agarrado o maldito pomo de ouro. Desgraçado! — Dê um jeito nisso, Segundo!

— Relaxa, Cesc, eu tenho tudo sobre controle, não se esqueça quem foi que te deu o toque que tio Harry estava sabendo da festa.—Procurei com o meus onióculos ainda sujos de abóbora o sorrisinho enferrujado desse Weasley sem vergonha e encontrei uma piscada marota do garoto no lugar. — Nada acontece nessa escola sem a minha aprovação.

Revirei os olhos para a arrogância grifinória daquela mente tortuosa que se fazia de santo na frente dos professores. Traste... Fred II que continue achando que vou mesmo protegê-lo, caso essa festa fique fora de controle.

— Cesc, Louise está falando que Lily está saindo de campo, você vai falar com ela ou eu vou? -Tony perguntou pressionando o comunicador, me olhando sério, como se houvesse realmente uma opção para mim nessa situação.

— Claro que eu vou.

***

— Juro que não estou brincando, faltou isso aqui para você colocar seu irmão no lugar dele, quase pude ver aquela expressão lesada dele quando perde o pomo bem debaixo do nariz! -Me aproximei desconfiado da fonte daquela voz familiar nos vestiários designados para a escolinha e lá estava Enrique... Consolando Pottinha?

— Você tinha razão, ele usou a vantagem da força para me manter na margem de manobra sem sacrificar o arranque da vassoura e eu sabia exatamente o que ele estava fazendo, mas não pude fazer nada para impedir! -Lily parecia frustrada, mas não estava chorando, como achei que estaria.

Obrigado, Morgana, pela pequena bênção!

— Bem-vinda ao clube, essa é a história de todo o jogador de Quadribol que se preze, porque pior do que isso, é nem saber que merda o atingiu depois de uma derrota! -Todos os meus aluninhos se viraram para mim e eu sorri afetuosamente para eles. — Mas que belo jogo vocês fizeram, independente do resultado, hein?

— Você nos assistiu? Não pude vê-lo em nenhum lugar do estádio e olha que eu procurei muito. -Brianna havia falado daquele seu jeitinho atrevido de sempre e eu sorri para ela.

— Claro que eu assisti! Assisti da tribuna, das fileiras de baixo e até daquela zona horrível infestada de texugos na asa leste do estádio.  - Os texugos presentes riram, sabendo a essas alturas que eu não falava a sério. — Esses dias tive que me manter distante de vocês, porque eu conheço bem as duas equipes e não queria estragar o jogo jogando xadrez contra mim mesmo!

Simon consertou os óculos, enquanto terminava de lixar seu bastão companheiro de jogo, do jeito que eu disse a ele para fazer. Você nunca deve deixar para cuidar de seus equipamentos depois, eles vêm em primeiro lugar sempre! O corvinal bebê me respondeu acusador.

— Mas o senhor Dussel também é da Seleção e no entanto esteve aqui todo o tempo! -Revirei os olhos, porque Simon com certeza é um babaquinha de primeira.

— Acontece que o senhor Dussel teria tentado vencer a própria mãe se surgisse a oportunidade, ele só joga na seleção de Hogwarts porque não teve como escolher outra! -Falei divertido e Enrique me olhou com um olhar debochado.

— Na verdade, eu gosto de jogar na Seleção.  - Ele disse simplesmente e eu o olhei cético. — Mas confesso que teria gostado ainda mais de vencer meus “companheiros” de equipe.

Marco riu e Cameron revirou os olhos com a sinceridade do meu namorado. Aproveitei o clima mais leve no vestiário para deixar claro uma coisa.

—Olhem aqui, não importa se estive envolvido com toda essa loucura da organização do jogo, sem prestar muita atenção a vocês, porque eu sabia o que aconteceria hoje. -Olhei para cada um dos meus jogadores da escolinha, cujo meu trabalho de moldá-los para suas respectivas Casas havia se encerrado. — Sabia que iriam entrar em campo para fazer um trabalho de qualidade, como os jogadores verdadeiros que agora são e vocês não deixaram nada a desejar!

Lily sorriu feliz e eu pisquei para ela.

— Não estou falando da boca para fora, vocês todos foram incríveis e me deixaram muito bem na frente dos espectadores, vou ficar cheio de clientes próxima temporada! Podem apostar que eu falaria se vocês tivessem sido uma bosta. -Todos riram e eu finalizei o meu discurso motivacional às avessas. — Agora tratem de voltar a cheirar como humanos, porque temos uma festa de formatura para participar!

Todos os meus quinze alunos vibraram animados, porque desse dia em diante, eles se colocariam a disposição de seus respectivos times e a próxima vez que jogarem juntos, será defendendo suas próprias cores.

Estou ansioso para ver isso.

Sai do vestiário, acompanhado de um Enrique satisfeito, embora eu ache que ele realmente teria gostado de vencer a Seleção quando teve a chance. Bem, quem sabe numa próxima vez? Ainda tenho mais três anos inteiros para dar continuidade a esse projeto e essa criatura bem poderia ser um dos meus convidados ocasionais...

— No que está pensando, garotinho? -Enrique me perguntou, enquanto nos aproximávamos dos últimos torcedores que ainda não haviam entrado nas portas iluminadas e convidativas do castelo, nessa noite levemente resfriada pelo ar primaveril da Escócia, estavámos quase na ponte, com a vista do Salgueiro Lutador atrás de nós.

— Que esse foi um jogo e tanto e que, de certa forma, meio que serviu para colocar as coisas no lugar, não foi? -Ele me olhou ao invés de encarar o caminho como estava fazendo antes e eu segurei o seu olhar.

— Acha que se redimiu diante dos olhos de Hogwarts, Cesc? -Ele me perguntou com um tom divertido e eu revirei os olhos. — Porque você não tem do que se desculpar, se não se deu conta.

— Eu sei disso, só estou feliz que hoje foi um dia em que eu finalmente pude... Sei lá, apenas estar aqui, sem trapaças de Haardy e Bradbury, sem um djinn me atazanando... É bom apenas curtir a boa e velha Hogwarts para variar!

Enrique sorriu para mim e passou o braço pelos meus ombros, me trazendo mais para perto. Ainda pude ouvir o Salgueiro se sacodir atrás de nós, provavelmente feliz porque conseguiu acertar alguma pobre ave com um de seus galhos.

Sim, estava tudo como deveria ser.

— Pelo visto você tinha razão. - O olhei sem entender e ele me sorriu. — O lance dos cinco dias que a caixinha de música te disse...

— Pois é! Pela primeira vez na vida eu estou certo sobre uma profecia e já que o último raio de sol se foi... - Me virei de costas para o castelo e gritei para onde quer que o senhor Destino se esconda depois do pôr-do-sol. — QUE SE FODA OS CINCO DIAS, QUEM ESCREVE MINHA HISTÓRIA SOU EU!

Minha voz fez eco na paisagem bucólica de uma Hogwarts em paz e eu sorri para um Enrique dando risada, já que, finalmente... Paramos de sorrir e nos viramos para trás, porque, das portas abertas do castelo, algumas vozes soaram alarmadas e então, antes de sequer começarmos a formular qualquer pergunta, as vozes se transformaram em gritos.

— Você não podia ter esperado dar meia-noite não? - Enrique me olhou com uma careta e nós dois fomos correndo em direção as luzes piscantes de uma Hogwarts que não parecia estar nada bem.

Aparentemente, além de não escrever meu próprio destino, quem o escreve gosta de me ver queimando a língua!


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo lembra muito aquele em que as aranhas invadem o Lago congelado e também lembra o alagamento das Masmorras... Eu adoro ter alguns capítulos terminando em suspense, eu sou tão clichê! kkkkkkkkkk

Bjuxxx