Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 101
Capítulo 101. Era uma vez...


Notas iniciais do capítulo

Voltei e dessa vez trago respostas!



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Capítulo 101. Era uma vez...

— O que diabos aconteceu ali? - Tony perguntou dando risada. Todos os presentes haviam sido conduzidos para o átrio principal do prédio na evacuação e eu estou aqui só existindo, porque a alma já foi para o inferno, tenho certeza!

Como é que eu escapei inteiro de um confronto com o djinn? 

— Demorou mais do que o previsto, mas a gente conseguiu fazer o contentor de magia de Erick! - Enrique falou animado para o irmão do meio, enquanto Hector apenas fingia indiferença ante a animação do caçula. 

Eu não vou nem tentar entender o que aconteceu com esses dois...

— Chegou atrasado, mas fez o que lhe foi pedido, pelo visto sua influência já está surtindo algum efeito em Enrique, Hector. - Heitor falou divertido. — Só não pude prever que Váli iria debandar, quero dizer, ela não é nórdica? Como ela e um djinn preso na África se conheceram?

— Você me pergunta como se eu soubesse muito mais do que você!  - Hector falou meio irritado, mas depois deu de ombros. — Quando a conheci em uma de minhas pesquisas no Norte, ela era uma espécie de pária em sua comunidade e havia começado a trabalhar com os bruxos há alguns anos. A valquíria veio mais do que satisfeita trabalhar comigo no Reino Unido...

— E você passou uma pária sem passado como sendo “uma secretária muito discreta e eficiente” para mim?  - Heitor acusou e enquanto os irmãos discutiam, minha mãe me abraçou pelas costas e sussurrou uma oração em meu ouvido.

— Disculpa, mamá. [Desculpa, mãe.] - Falei culpado, porque sabia que não importava o veredito em Winzengamot, eu havia sido um filho terrível para os meus pais.

— ¡No se atreva a hacer nada como eso de nuevo, hijo! [Não se atreva a fazer nada como isso novamente, filho!] - Minha mãe falou entre o dura e emocionada, então me virei para abraça-la. — ¡Está de castigo por el resto de su vida! [Está de castigo pelo resto da vida!]

 

Sorri para isso, porque a perspectiva de um castigo é um futuro maravilhoso, quando comparado ao que eu tinha antes. Estou até ansioso por esse castigo... 

Meus pais sabiam que teriam que me deixar voltar para a escola, então se despediram de mim e foram agradecer aos irmãos Dussel pela ajuda no caso - minha mãe deu um sorrisinho cínico para Enrique, ele ainda não foi se apresentar oficialmente para ela - e depois partiram.

— E agora? Voltamos para Hogwarts? - Frank perguntou em dúvida para qualquer um, mas ninguém ali soube responder a isso.

Com exceção de uma pessoa. 

— Sim, senhor Longbotton, todos nós voltamos à Hogwarts. - A diretora McGonagall falou isso com um tom decidido e eu soube que isso significava, a longo prazo, muito mais do que minha mente confusa estava conseguindo captar agora. Mas...

Voltamos a Hogwarts! 

***

Enrique nos contou na última meia hora como ele quase morreu de novo tendo que trabalhar com Hector a mando de Heitor, para conseguir fazer algo que mantivesse a magia do djinn, agora bruxo, sob controle. 

— Usamos os mesmos princípios mágicos da lâmpada e demorou um pouco para condicionar a coisa toda para a exata assinatura mágica de Erick, mas no fim das contas, o bem prevaleceu! - Enrique parou confuso e fez uma careta. — Merlin, desde quando eu fico do lado do bem?

— Ok, ok, parabéns aos envolvidos, mas alguém pode me explicar por que todo mundo parece saber sobre esse gênio, menos eu? - Tony falou indignado e eu desviei o olhar, culpado.

— Todos não, eu também não sei! - Frank falou isso e Tony mostrou que sabia ser antipático quando queria.

— Não tem nem comparação o meu grau de importância com o seu, Longbotton! - Frank fingiu que não ouviu e Tony voltou a apontar o dedo para mim. — Pode ir desembuchando, senhor Fábregas! 

O salão comunal da seleção estava vazio, porque todo mundo ainda estava nas aulas do final da tarde, então havíamos convidado John para ficar conosco e esclarecer o resto das dúvidas que ainda restavam pós-julgamento.

Me preparei para contar tudo para Tony e a quem mais essa história maluca pudesse interessar, cuidando de atualizar James, Scorp e Enrique das coisas que eu, John e Heitor Dussel havíamos discutido nas nossas sessões antes do julgamento.

Finalmente todo mundo estava com o nível de conhecimento homogeneizado, que alívio! Um milagre divino como eu pedi no início do dia, já que agora eu havia eliminado vários recortes na minha vida.

Era um verdadeiro saco ter que pensar um milhão de vezes em quais informações cada grupo de pessoas diferentes podia ouvir: Tony podia ouvir sobre o Ocaso, John, Scorp e Enrique sobre o Ocaso e o djinn, James sobre o djinn e Frank... Frank não podia saber sobre nada!

— Minha nossa, que história! - Frank falou impressionado. — E como achou tempo de lidar com isso, ser capitão, monitor de seu grupo de Quadribol e ainda ser o cara mais irritante da escola?

— Sou um cara multitarefas! - Respondi com o cenho franzido para o palhaço, mas infelizmente ele ainda não havia acabado.

— Sabe o que você devia fazer? - Eu me recostei sem saco para uma das ideias descabidas do filho do professor de Herbologia, que era um homem tão bom... Por que ele ainda estava sendo punido com essa cria? — Devia escrever para o Ocaso.

Nem precisei olhar para saber que todos os membros do Ocaso presentes haviam ficado tensos. Olhei de novo para o grifinório animado.

— Por que diz isso? - Ele me olhou como se eu estivesse perdendo o óbvio. 

— Todo mundo deveria saber dessa história e de tudo que a gente descobriu sobre as falhas mágicas nas escolas! - Frank olhou para Tony, que o encarava sério. — Você e Rose tem contato com os Iconoclastas, não tem? 

— Temos sim, teoricamente, porque depois que eu usei minha chance com meu pedido de namoro, os caras meio que tem me ignorado... - Tony falou, visivelmente mais calmo e mentiroso.

— Bem, Frank tem razão, esse seria um dos artigos mais úteis deles desde sempre.  - James falou se espreguiçando, já se preparando para sair de cena. — Procurem o Ocaso.

— Quem vai procurar o Ocaso? - Nos viramos para ver quem havia falado e demos de cara com um Fred II preguiçoso saindo de seu quarto dividido com Scorp.

— Segundo, você ainda está vivo! - Falei com uma alegria genuína, mas obviamente era esperar demais um pouco de educação vindo desse ser humano ingrato.

— E você ainda está livre, quem diria? - Babaca! Ele sorriu para a minha cara feia. — Como foram as coisas no julgamento?

— Deixa isso para lá, você vai ver em alguma edição do Ocaso, agora nos conta, como foi ser fatiado pelos curandeiros trouxas? - Tony falou com uma curiosidade mórbida e Fred II apenas sorriu para isso, já que de fato ele saberia logo mais em uma de nossas reuniões secretas pré-artigo o que foi que aconteceu no julgamento.

— Eles me abriram para tirar a parte doente da minha barriga, mas depois eu fui transferido para um hospital bruxo e eles taparam os três buracos com feitiços simples. - Ele levantou a camisa e nos mostrou as cicatrizes patéticas de tão pequenas em seu abdómen. 

— Que sem graça! Achamos que você quase tinha morrido... - Scorp falou decepcionado.

— Não dessa vez, Malfoy. Se eu morresse, pode ter certeza que ainda assim você não teria o quarto só para você!  - Ele disse mal-humorado e os dois começaram a bater boca como os dois lesados que eram.

E eu fiquei muito feliz que as coisas finalmente voltaram aos trilhos e eu estava livre do djinn. Finalmente!

***

— Como assim eu ainda não estou livre do djinn? - Perguntei indignado para o irmão do meio de Enrique, ele me olhou como se não entendesse o porquê do meu ataque. 

Dois dias depois do meu julgamento, cá estava eu novamente em uma situação incrivelmente desconfortável com o meu advogado do diabo.

— Você está livre, mas não foi considerado inocente, então para atenuar a sua punição, fiz um acordo com o Conselho. - Ele me olhou esperando que eu dissesse algo. Eu não disse. — E o acordo é você conversar com o djinn por uma hora.

— E por que o Conselho quer isso? - Perguntei irritado. 

— Porque o djinn quer e ele disse que só vai colaborar se nós concedermos isso a ele. - Heitor Dussel deu de ombros. — A conselheira Weasley está bastante aflita, porque teoricamente ele não era bruxo quando cometeu os crimes e Váli certamente não o é tão pouco, então essa é uma infração grave das Leis a favor das criaturas racionais não-humanas.

— Ele tem que colaborar com o quê? Vocês já têm todas as provas que precisam, é só jogar ele em Azkaban e dar a chave da cela para um troll engolir! - Falei prático, mas o irmão de Enrique é muito irritante, ele continuou me olhando como se eu não tivesse dito nada.

— Ele pediu apenas uma hora de conversa monitorada com você, só para esclarecer as coisas e em troca ele vai cooperar. - Ele repetiu o pedido do djinn e deu vontade de sacudir ele do jeito que eu sacudo Enrique todo dia na minha mente.

— Cooperar com o quê, homem?!?!

— São assuntos sigilosos, você não precisa saber. - Ele falou cínico e eu retribuiu o cinismo dele com um sorriso.

— Então que o Ministério vá para puta que pariu! - Já ia me levantar para sair do escritório de Harry Potter - por que todo mundo continua cedendo seus escritórios para Heitor Dussel, como se ele fosse alguém importante? - mas o homem ainda não tinha acabado.

— Mencionei que sua pena será atenuada? Mencionei sim, mas vamos ser mais específicos. - Voltei para o meu lugar, subitamente interessado. — O Ministério está disposto a permitir que você continue participando da Copa Intercolegial, mas quer que você faça trabalhos voluntários e infelizmente eu não consegui convencer Uagadou e Salem a voltarem atrás em sua decisão. 

— Droga! Não me importo de ficar cinco anos sem pisar nos Estados Unidos, mas eu realmente pretendia voltar nas férias a Uagadou...

— Nenhuma das responsáveis pelas escolas acreditou que você realmente aprendeu a lição e querem que você sirva de exemplo, sinto muito. - Ele falou com um tom displicente, ficou mais claro que ele não sentia muito coisíssima nenhuma, quando ele mudou de assunto. — E então, vai cooperar? O campeonato é uma boa recompensa por uma hora de conversa...

— Você sabe que eu vou, mas fique você sabendo que eu não estou feliz com isso! - Ele sorriu para minha indignação. 

— Sua felicidade não é minha prioridade. - Dussel se levantou e recolocou o sobretudo. —Vamos, não quero pegar um engarrafamento de fim de expediente nas lareiras do Ministério. Detesto lareiras...

Espero que dessa vez seja mesmo o fim da minha história com o djinn. Estou cansado de ter minhas expectativas jogadas ladeira abaixo!

*** 

Lá estava ele, o grande vilão, sentado com as mãos algemadas, levando um copo de água aos lábios como se estivesse provando o néctar dos deuses. Céus, em sua aparência humana de cara árabe, ele era muito ordinário para ser aquela criatura que aprontou tanto há alguns dias...

Me sentei na mesa a sua frente e ele colocou o copo de volta no lugar.

— Das milhares de coisas que eu senti falta na prisão, água foi a maior delas. - Tomou mais um gole e olhou para mim divertido com seus olhos amarelos de gato ou talvez um réptil. Répteis tem olhos amarelos também, não é? — Não tinha sede, mas ainda assim, eu...

— Para de ser filosofar, idiota! Você me chamou aqui por uma hora, vamos usar essa uma hora para fazer algo que preste. - Ele sorriu divertido e com sua “roupa” real, era muito difícil dizer se tinha maldade ou não naquele gesto. — Vamos começar: primeira pergunta, como um djinn africano encontra uma valquíria nórdica para chamar de sua?

— Essa pergunta é sua ou deles? - Ele se recostou elegantemente em suas vestes negras combinando com seu colar cortesia dos laboratórios Dussel. Não o respondi, hoje era o dia dele prestar esclarecimentos. — Bem... Eu não sou africano, eu sou sumério, mais especificamente de uma cidade chamada Ur.

— Ur? - Perguntei incerto, acho que ele está inventando tudo isso. Apesar de que Suméria me é familiar... Mas não como um continente, acho que estou perdendo algo aqui.

— Ur era uma grande cidade! Se quer saber, nesse mesmo ano antes de Cristo, ela era uma das maiores do mundo! - Ele falou ofendido, como se fosse obrigação minha saber de uma cidade grande de 2021 antes de Cristo! Ele cruzou as mãos algemadas e me olhou com uma falsa paciência. — Só para esclarecermos esse ponto, já que você me chamou de africano tendo me encontrado em um corredor árabe, onde você acha que fica a Arábia? 

Ok, pela expressão dele e pelo que ele já disse antes, suponho que não seja na África, no entanto tinha toda um corredor no museu de Uagadou, que é africana, então essa deve ser uma daquelas pegadinhas clássicas de prova...

— Eu acho que é no continente afri... - A expressão dele não foi boa, então eu mudei rápido a resposta. — Asiático? Ásia é meu palpite final.

Sorri confiante e o ex-djinn me encarou com seus olhos amarelos esquisitos de professor carrasco. Ainda bem que ele estava algemado e com a coleira que Enrique colocou nele, porque provavelmente eu estaria morto agora.

— Sua falta de cultura é ofensiva. A Suméria é o berço da humanidade, uma das civilizações mais avançadas de sua época e... Você nem sequer sabe do que eu estou falando. - Esse final ele disse ao notar que eu estava bem nem aí para isso tudo. — Conheci Váli através de um antigo mestre meu, ele era o que hoje vocês chamam de “alemão”.

Ele mudou a conversa para uma de meu interesse e o tom para um entediado. 

— Não se faça de sonso, você sabe muito bem os nomes dos países de agora, tá todo instruído aí! - Apontei nem um pouco crédulo, esse cara é muito dissimulado mesmo. — Mas sim, conheceu Váli com um mestre antigo e depois o quê? Se separaram e ela ficou esperando o Romeu dela por séculos no balcão de sua casa em Verona? 

— Por milênios, infelizmente e no frio enregelante para completar. - Ele sorriu melancolicamente. — Váli deveria ter me encontrado quando eu ainda era humano, mas eu fui traído, preso e o resto você já sabe, então ela me esperou junto a seu clã, vendo valquírias nascerem e partirem, uma atrás da outra, até que esse meu mestre a encontrou. Ou melhor, ela foi de encontro a ele no que viria a ser a Alemanha.

— E isso por quê? - Perguntei curioso. Ele me olhou com um sorriso falso.

— Vá estudar sobre as valquírias para saber, criança, o que te importa aqui é que ela achou que o meu mestre fosse eu, o serviu bem, mas quando ele fez seu último desejo e eu o deixei, ela percebeu que ele não era seu mestre e deu adeus. - Ele sorriu inocente. Inocente demais...

— Ela o matou, não foi? - Perguntei sem emoção. 

— Eu não sei, ainda não pude falar com ela, você vê? Os aurores e inomináveis são muito cruéis... - Ele falou se fazendo de triste. Revirei os olhos.

— Certo, está ok para mim, vamos a próxima pergunta: você é parente dos Dussel? - Ele riu da minha cara, o desgraçado. Olha, eu não vim aqui para isso não!

— A auror Explecta que te pediu para perguntar isso? - Ele falou ainda com aquele tom de quem tinha ouvido uma piada muito engraçada e eu não o respondi, novamente. Minha paciência está bem pouquinha hoje... Vou enfiar a mão na cara dele! — Não sei de onde ela tirou isso!

— Então você não é parente de ninguém... Ok, próxi...

— Parente é um termo não de todo certo, prefiro ancestral. - Ele sorriu com todos os dentes. — Sou seu ancestral.

Ele falou simplesmente. Eu o encarei, sorri, assenti, me levantei e fiz menção de sair. Ele me chamou pelo nome com uma nota divertida na voz.

— Você é um palhaço! - Eu apontei, irritado. — Acha que eu parei com minha vida para vir até aqui para te entreter? Ou fala sério ou eu vou embora!

— Nossa, não sabia que você seria tão sensível quanto a isso! Senta aí, Cesc. - Olha a audácia dessa praga! Sentei só porque estou curioso e não vou deixar de ter uns esclarecimentos apenas porque o djinn é um piadista horrível. — Vamos deixar os parentescos de lado por um momento, mas vou logo avisando que quando eu contar tudo, vamos voltar a isso.

— Você é um grande mentiroso, então é melhor estabelecermos alguns pontos: que parte dessa baboseira toda que você falou até agora é verdade? - Perguntei cético e ele deu de ombros.

— A parte que você escolher acreditar. - Revirei os olhos e ele me olhou condescendente. — Uma coisa que aprendi com a humanidade nesses milênios de existência foi que, mais forte do que a verdade, só mesmo a crença.

O encarei por cinco segundos, depois acenei com a cabeça.

— Ok, djinn, conte sua adorável história, se você parar com sua filosofia barata de biscoitinho da sorte chinês, eu não vou fazer perguntas, não vou te interromper... Me conte tudo. - Falei me recostando na cadeira como ele, dando todo o holofote que ele queria.

“Erick” sorriu, bebeu um pouco da sua água e começou.

— Bem, meu caro antigo mestre...

“ Minha história começou em tempos longínquos, em um reino próspero, abundante em comida e conhecimento, com trouxas e bruxos vivendo em harmonia, antes de toda essa idiotice de segredo do mundo mágico que vocês têm agora. 

Nessa época, eu era aprendiz de um mago que estudava os astros e essas coisas bobas de mundos além dos nossos, deuses além da nossa compreensão... O assunto estava em voga e eu gostava do trabalho, tinha um futuro garantido naquilo, até que comecei a me aprofundar em certas artes que não cabem falar aqui nesse conto, mas que culminaram em certos eventos os quais não pude evitar, mesmo percebendo meu equívoco rapidamente.

Minha família ficou assustada com minhas escolhas errôneas e a minha irmã caçula se associou ao mago que outrora era meu tutor e juntamente com alguns anciões do nosso povo, eles me prenderam na lâmpada que você já conhece.

Tudo muito injusto, ainda ouço a voz da minha mãe chamando meu nome em desespero...

Mas enfim, tive a minha existência resumida aos limites daquela asquerosa lâmpada, ano após ano servindo a homens e mulheres tolos, trouxas e bruxos, em seus desejos mesquinhos e estúpidos! Ficaria enojado em saber o quanto a nossa raça é podre...

No fim das contas tudo se resumia a isso: a cada três desejos, a lâmpada com a minha magia junto era enviada para algum canto do globo. Nomeie um lugar, provavelmente já estive lá fazendo alguns servicinhos sujos. Em algum ponto da minha história, conheci Váli. Nunca nos falamos pessoalmente, mas eu sabia que era a mim a quem ela havia nascido para servir, então veio o terceiro pedido do frísio beberrão e adeus Váli também. 

Em um dado momento, porque são raros os humanos desse tipo, mas existem, um bruxo inteligente encontrou a minha lâmpada e resolveu não pedir nada, me entregou nas mãos do então governador de Uagadou e eu fiquei lá, mofando naquela escola esquecida pelos deuses.

De todas as partes do meu castigo, ficar preso nas paredes de Uagadou foi provavelmente a pior: não havia mais mestres, nem pedidos, nem magia, nem vislumbres do mundo lá fora, a existência se resumia a lâmpada, a escuridão e minhas memórias de uma vida que não me pertencia mais.

Porém não se desespere, essa história tem um final feliz! 

Em uma noite abençoada ou dia, talvez, não era algo que eu podia diferenciar, eu senti uma magia familiar, algo que eu já havia sentido antes, mas minha mente embotada não conseguia entender bem o que era, nem onde estava... Era você, Cesc, a propósito. Porém...”

— Você soube quando eu cheguei a Uagadou? - Perguntei entretido, porque isso explicava muita coisa.

— Eu soube quando você e sua irmã nasceram. – O olhei desconfiado, mas não disse nada, então ele continuou.

“ Reconheci depois de um tempo a magia, era um tanto buliçosa, meio desequilibrada, mas lembrava tanto a de Nin-ti, minha irmã traidora, que eu não tive dúvidas, havia herdeiros dela caminhando pela Terra, o que era interessante, já que nunca antes eu havia sentido algo assim em todo esse tempo de prisão.

Só depois que eu te conheci pessoalmente, entendi o porquê: provavelmente ao me aprisionar, Nin-ti usou uma boa parte de sua magia e deve ter suprimido o que restou com vergonha e ódio de si mesma, tenho certeza que ela foi influenciada por um dos idiotas rasos que a cortejavam...

A desgraçada condenou todos de nosso sangue a uma vida sem magia, fez seus descendentes serem totalmente dun sihr por séculos e séculos, apenas porque era fraca demais para carregar a nossa herança mágica. 

Mas você e sua irmã... Vocês eram crianças poderosas, eram como nós fomos nos bons tempos e eu soube naquele momento que aquela era a minha grande chance!

Comecei a tentar mais, investigar minhas possibilidades com mais afinco, agora tinha um propósito, e a mesma brecha que me permitiu senti-los, me permitiu sentir algo que estive ignorando todo o tempo, perdido em minha autocomiseração.

Era tão familiar e tinha acesso a tantas coisas naquelas paredes rochosas, que a maioria das pessoas nem gastam um segundo olhar para entender essa magia que permeia Uagadou até o seu cerne: Marduk.

Quando desejou desligar todos os marduks de Uagadou, fiquei até chateado de fazê-lo, aquele encantamento me foi tão útil, me permitiu ir e vir pela escola, acessar as mentes de seus alunos, professores e visitantes, a tal ponto que eu já sabia que os espanhóis - sim, descobri rápido de onde vocês eram, depois da primeira ‘escapada’ - estudavam em Beauxbatons e sabia que essa era uma escola que tinha um programa interessante de intercâmbio de alunos para Uganda. 

Então estava tudo certo, era só esperar meus gêmeos virem até mim em um desses intercâmbios - garantiria que viessem - e então conduzi-los até o corredor da magia árabe pré-islã, através do Marduk, que se você tivesse um pingo de cultura saberia que é o deus patrono da Babilônia, filho de Enki, um deus sumério.

A tecnologia da ‘torre de Babel’ da qual Uagadou tanto se gabou por décadas, vem do meu povo, então não foi tão difícil fazer o que vocês crianças dos dias de hoje chamam de ‘hackear’, ainda mais que eu tinha muito tempo livre e conhecimento desse tipo específico de encantamento ‘divino’. A vida ganhou contornos através de uma janela embaçada, mas ainda que turva, o Marduk era um sopro de energia em um mar de aflição. 

Mas voltando para você e sua irmã, antes que Beauxbatons pudesse reclamar vocês para ela, descobri que a maldita Hogwarts já havia feito isso quando vocês nasceram, colocando os dois em um ano que nem sequer era o de vocês! Como odiei aquela estúpida escola escocesa...”

— Então foi você que começou essas falhas de energia em Hogwarts! - Apontei acusadoramente para o filho da mãe rancoroso.

— Claro que não, deixa de ser ridículo, onde eu estava? Ah sim...

“ Foram tempos difíceis aqueles, porque há limites do que um homem pode suportar de desilusões. Mas eu não tinha muita escolha, a não ser continuar planejando, já que continuava sentindo vocês - mais você do que sua irmã, porque sua magia é extremamente inconstante - então logo comecei a tentar outra estratégia. 

O que antes era uma longa eternidade, passou a não ser tempo suficiente, porque cada saída dessas para ver vocês, me exigia um esforço imenso, um gasto de magia que eu não dispunha, ao mesmo tempo que era necessário para adicionar detalhes ao meu plano de liberdade. 

Meu esforço deu frutos, entretanto, quando você encontrou o seu complementar. Sabia que aquela história de Ocaso iria nos levar a algo interessante, mas a princípio, todos os membros eram inúteis, até Louise agregar um alguém novo.

Westhampton era tão inacessível quanto vocês, porém o avô dele, grande colecionador de objetos antigos, não era. Ele já havia visitado Uagadou algumas vezes, tinha a mente inquieta e mais importante ainda, tinha um artefato sumério, que como você já sabe a essas alturas, tem uma assinatura familiar altamente hackeavel para mim.

E isso me permitiu manipular o velho a induzir o neto, quando ele estava lá fazendo os testes com as penas do Ocaso em Wrexham, na casa do vovô querido.

Enfim, meu querido John chegou a Hogwarts do feriado de inverno com a ideia fixa de ir para Uagadou estudar magia elementar e à medida que vocês iam estreitando os laços, mais e mais você se tornava um parceiro de viagem aceitável.

Admito que essa parte do plano eu tive que esperar e torcer, mas deu tudo certo.

Quando finalmente os dois chegaram em Uganda, calmamente fui induzindo Westhampton - não você, que é muito escorregadio, pude ver no Nilo Branco - até o corredor e no fim das contas suas curiosidade e leve tendência a fazer o que é moralmente duvidoso, Cesc, nos levou ao melhor resultado possível. 

Já a inteligência do galês foi útil quando não tentaram tirar a lâmpada do corredor árabe, porque isso teria ativado os alarmes da escola como tantas outras vezes antes e quando vocês finalmente decidiram me acionar - estava quase perdendo as esperanças novamente, fizeram isso na última noite! - eu o escolhi como meu mestre e você não me decepcionou.

Você e John formam uma dupla e tanto!”

— Por isso me escolheu? Por que esse tempo todo você sabia que eu te libertaria? - Perguntei impressionado e irritado com a arrogância desse ser. Ele deu de ombros, com humildade.

— Nem sempre isso foi uma certeza, eu tive que fazer por onde para conseguir minha liberdade, porque, como eu previra, você era escorregadio e não queria fazer os pedidos do nosso novo acordo...

“ Eu tenho que me parabenizar pela brilhante ideia de trazê-lo a Uagadou, desculpe se soar pouco modesto agora, porque finalmente em milênios, eu estava preso a sua mente e não àquela terrível prisão de metal oxidado!

Sua mente era... Um parque de diversões, embora no princípio eu não tivesse muita força para me divertir e você tivesse muitos bloqueios emocionais - precisa trabalhar isso, Claire tem razão- logo, mudar de âncora se mostrou um exercício bastante complexo de magia. 

Mas eu não tinha tempo a perder, não deixaria meu futuro escapar por entre meus dedos novamente, como fiz com Váli, então fui explorar a estúpida ladra de herdeiros, Hogwarts, e foi quando vi suas falhas mágicas. 

Notei coisas que ninguém mais notava, como por exemplo, que o teto mágico às vezes congelava um céu estrelado quando estávamos em uma noite nublada ou um quadro que ficava temporariamente parado, questão de segundos, mas eu notei.

Apelidei esses pequenos episódios de soluços e em um desses, consegui fazer Tony tropeçar nas Escadarias moribundas. Não me olhe assim! Esperava algo drástico, como um pescoço quebrado, mas aquele seu amigo é tão duro na queda, que só machucou uma perna, o desgraçado!

Mas ao menos foi bom, porque recebi um sinal de Váli, ela fez chegar às mãos de Tony uma antiga bengala que havia pertencido a seu mestre frísio, aquele que ela pode ou não ter matado ao descobrir que não era eu. Não sei, vale a pena investigar...

Pois bem, ainda assim você não fez o primeiro pedido, então tive que ser mais enfático: quando o Lago Negro começou a invadir as Masmorras de Salazar Sonserina, um dos soluços me ajudou a deixar cair uma viga do teto do seu quarto, acertando Enrique na cabeça. 

Nem mesmo o poder especial dele o salvou disso, ele não foi rápido o suficiente para ativá-lo, obviamente.

Se te consola, ele não morreu afogado e eu não esperava que você fosse indiferente a isso, então soube que dessa vez você faria o primeiro desejo, trazendo ele de volta. E aí estava a chave, você fez o primeiro pedido, me deixando mais forte e ficando vulnerável a minha invasão total... Olha, falando em voz alta, estou percebendo que devo colocar no meu cartão de visitas ‘Erick Fábregas - hacker de magia’.

— Você não é um Fábregas! - Rosnei para ele e ele sorriu perverso.

— Imagina só o próximo Natal: vó Carlie dizendo que até que gostou desse novo sobrinho-neto, mesmo que seja muito “moreninho” para seu gosto e todos nós riríamos constrangidos, porque sabemos que ela é racista, mas tem um bom coração...

— Ok, djinn, acho que já acabamos por aqui! - Me levantei bruscamente, já que não sou obrigado a ficar ouvindo isso de família feliz. Como se já não bastasse saber que fui manipulado, que tinha um ancestral horrível, ainda soube que o djinn tentou matar duas pessoas inocentes só para conseguir sua liberdade!

Ou quase inocentes, enfim... Mas é muita coisa para ficar ouvindo calado, com cara de paisagem, sem nem poder tentar mata-lo uma vez só que fosse!

— Mas já? Eu ainda nem cheguei na parte final, a de Salem e como eu o manipulei para ativar os alarmes da escola, ou na parte em que eu me divertir horrores falando aquelas baboseiras de “usar o passado em branco de Enrique” e “você vai ser um ótimo djinn!”... - Ele se apoiou por sobre a mesa, por cima de seus pulsos algemados. — Você não vai me negar meu momento de regozijo tão esperado, vai?

— Na verdade vou, será um prazer. - Dei as costas a ele, mais do que disposto a nunca mais olhar naquela cara de filho da puta dele! — Adeus, Erick, curta a temporada em Azkaban.

— Adeus, Xesco, até o próximo Natal.

 


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo voltamos para as atividades e tamanho normal, muita paz, calma e aproximadamente 3k de palavras somente.

Explecta, vc virou auror e desculpe pelo djinn ter rido de sua pergunta, mas ela foi ótima para me dar o gancho de introduzir a ligação dele com Cesc, então, obrigada!

Bjuxxx