Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 100
Capítulo 100. O dia do juízo final


Notas iniciais do capítulo

Não é bom quando eu falo quarta, mas quero dizer segunda? 10k de palavras, pessoal, equivale a 3 capítulos, então eu ganho 3 semanas de folga (já não ganhei?)!

Enjoy



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Capítulo 100. Dia do juízo final.

Ainda estava muito puto com Enrique e sua atitude de “ain, vou proteger você, você querendo isso ou não!”, mas ele não precisava estar me olhando surpreso por ter desviado um balaço que ia em direção a sua cabeça, precisava?

Ainda estávamos na merda do jogo e ele era ainda a merda do apanhador do time, então eu só estava fazendo meu trabalho!

No fim das contas o pessoal de Salem resolveu que podiam sim jogar contra a gente,  mesmo em meio as adversidades que assolaram sua escola. Iniciaram a partida confusos e desmotivados, mas agora chegou a hora da mudança no filme e eles começaram a virar o jogo.

Maldito roteiro hollywoodiano de superação!

Pela primeira vez no jogo, o placar estava favorável a equipe de Salem - 70 a 60 para eles, em quase uma hora - e a torcida composta por toda a cidade e fanáticos vindos de todas as partes do país - estou supondo, para dar dramaticidade - gritavam incentivos para o time da casa.

Ao menos o pessoal de Ilvermorny estava torcendo, em parte, para a gente, mas agora eles meio que estavam mais preocupados em bater boca com seus vizinhos, do que apoiar o time. E nossa marmita trazida de casa era muito pouca para fazer barulho nesse estádio para quase trinta mil pessoas.

O estádio não era bonito ou emblemático, era prático. Embora os bruxos de Salem não gostassem de contar o segredo do nosso mundo nem para as famílias dos alunos nascido-trouxas - Claire nos contou que seus pais tiveram que assinar um contrato de sigilo para ela entrar na escola - eles adotavam várias coisas trouxas, como os esportes, por exemplo.

O campo do estádio era um clássico das olimpíadas, tinha as marcas das pistas de corrida nas bordas do gramado e marcações em branco de outro esporte na área verde, possivelmente futebol americano... Isso é esporte olímpico? Eu acho que não.

Enfim, deixei isso de lado quando Tony me mandou um balaço redondinho e mesmo com a marra da bola de ferro enfeitiçada, ainda assim consegui dar uma rebatida perfeita, acertando o balaço que veio na zona de strike - como aprendemos nos nossos treinos com bastões de baiseball - que é basicamente a parte do meio do corpo, abaixo do cotovelo e acima do joelho.

Foi perfeito.

Claro que o artilheiro americano, Leroy Jackson, não achou nada disso e começou um drama digno de Oscar, pedindo atendimento ao ser acertado nas costelas, paralisando o jogo. Obviamente que isso em um quadribol de raiz não aconteceria, mas nesse campeonato - com rede de proteção anti-queda, me poupe - tudo pode.

Revirei os olhos e deixei Romeo lá atazanando o juiz para encurtar esse intervalo, já que a gente estava com a posse da goles.

A torcida americana ficou me vaiando aos gritos de fair play, só porque o cara não estava na jogada com a goles, mas sério que eles queriam que eu desperdiçasse uma chance dessas? Se ao menos soubessem o quanto balaços são temperamentais e difíceis de fazer o que queremos...

Ignorei esses pobres coitados e me dirigi a Segundo, para saber porque ele estava deixando tantas goles entrar nos aros nesses últimos minutos, foram três goles seguidas e isso não é muito típico dele.

— Por que você está agindo como uma rede de pesca furada? - Sobrevoei o aro em que ele estava apoiado e ele só me devolveu uma careta estranha. – O quê? Qual o problema?

— Não estou me sentindo muito bem... - Ele resmungou sem rodeios, o que me fez ficar automaticamente em alerta. Quando um cara como Fred Weasley II nem tenta disfarçar um desconforto, é porque ele está nas portas do inferno já. – Não faça essa cara, enquanto eles não souberem, estamos bem...

— Você falou mais a palavra “bem” em duas frases com o sentido real do que em todo o tempo que nos conhecemos. - Ele deu um riso fraco e eu disfarcei minha preocupação com a mão sobre os lábios, porque enquanto Jackson estava sendo atendido, as câmeras voadoras dos americanos estavam exibindo no telão lances dos jogadores espalhados pelo campo. – Está morrendo ou é só uma... Sei lá, dor de barriga boba?

Fred parecia pálido e um pouco mais abatido do que ele estaria em apenas uma hora de jogo, mas no mais ele mantinha a sua mesma aparência desleixada de afro-ruivo enferrujado que não liga para os mortais ao seu redor.

Ele limpou o suor da testa e me olhou cansado.

— Apenas diga para seu namorado se apressar, eu me viro aqui. - Não sou fã de momentos de apoio desconfortáveis, então fiz exatamente o que ele pediu, o deixando sozinho com seus aros.

O juiz recomeçou o jogo, devolvendo a goles para Romeo, que passou para Sienna e foi pajear ela e Maggie até as duas chegarem na nossa área de ataque. Fiquei feliz com isso, porque, apesar da maior parte do time ser o que se podia chamar de titular - tinha eu, Fred, Enrique e Tony - a artilharia estava mudada.

Potter havia deixado Frank no banco, porque ele estava muito visado e todos sabíamos que com a variedade de jogadores a disposição de Salem para fazer frente a ele, o melhor era colocar um elemento desconhecido como a bela e rápida corvinal.

Na ficha de Sienna consta mal-humorada também, mas isso a gente não comenta, né?

Maggie também é muito ágil, então arriscamos com Romeo para completar o trio com um pouco de solidez. Ele estava ganhando as disputas de bola mais duras e sendo humilde o bastante para passar a goles e apoiar as jogadas velozes das garotas.

Estava funcionando bem, mas esse filme é americano, então eles estão naquela parte da virada, com uma trilha sonora histórica e blablabá, vocês já sabem, e nós somos os vilões antipáticos, apesar de que com Segundo se fazendo de forte nos aros enquanto morre, o drama está todo no nosso lado.

Deixei Tony lidando com as tentativas grotescas dos batedores americanos de quebrarem o bom momento das nossas garotas e procurei Enrique no campo. Vi que ele estava bloqueando Atahy com sua mania infernal de se meter no trabalho dos outros.

Dá vontade de partir a cara desse ser humano de vez em quando, vou te dizer!

Fiz sinal com a cabeça e ele veio rápido, provavelmente estranhando o fato de eu não ter usado aqueles minutos preciosos de intervalo para organizar o nosso jogo. Bem, estava fazendo isso agora, afinal eu não sabia que ia ter que lidar com um moribundo...

— Segundo está meio doe... Não olhe! Ele não está bem, preciso que se apresse com o pomo. - Enrique me olhou como se eu tivesse perdido o juízo, mas eu sabia que ele podia fazer mais do que estava fazendo agora. – Vasculhe cada centímetro desse campo, você já venceu Spark uma vez, pode fazer de novo!

— Spark é rápido demais, não tem como você tirá-lo do jogo não? - Passei a mão no meu cabelo suado e fiz uma careta, aquele clima ensolarado, mesmo no final da tarde, estava começando a me irritar.

— Ele é rápido para mim também, acho que até para Tony, por isso que não temos tempo a perder, você precisa achar o pomo antes que ele ache, o mais rápido possível, porque se perdermos Segundo, nem os 150 pontos vão ser suficientes para nos salvar.

Enrique me olhou com gravidade, mas com um aceno de cabeça final, mergulhou para caçar aquela maldita bolinha dourada mais sorrateira do que um sonserino quando quer escapar de alguma treta maligna.

Dei uma última olhada para Segundo, que parecia mais impaciente e ofegante do que antes, então voltei a parear com Tony, para impedir um avanço em linha da artilharia de Salem. Já não estava fácil antes, quando só tínhamos que lidar com eles de igual para igual, imagina agora!

Salem tinha uma seleção numerosa, assim como Ilvermorny, mas a diferença era que a deles contava com um apoio financeiro grande, fora os bruxos profissionais que mediam, pesavam e analisavam cada um dos jogadores para tirar o melhor deles em cada jogo.

Eles se gabavam de ter um sistema de nêmese perfeito, que consiste basicamente em ter um jogador neutralizador para cada adversário nas equipes rivais. Significa dizer que estão em campo aqueles cujas as habilidades tem a maior chance de nos deixar medíocres.

O sistema não era lá tão efetivo como eles deram a entender, claro, mas eles estavam conseguindo sim quebrar um pouco da minha sincronia com Tony e também conseguiram anular as jogadas individuais de Maggie com uma antecipação absurda.

Queria poder tirar Spark do jogo para deixar a vida de Enrique um pouco mais fácil, mas a verdade era que para isso eu teria que literalmente queimar um jogador com algum lance sujo - coisa que eu não tenho sobrando - o que ainda iria colocar Fred em evidência na cobrança de penalidade e no fim das contas, os americanos não iriam poupá-lo quando descobrissem sua fraqueza.

Em resumo: estamos fodidos.

Tentei achar Enrique de novo com o olhar, mas ele havia sumido de vista. Desviei um balaço que iria pegar um Romeo desprevenido e o procurei de novo, só o achando porque Spark fez uma flecha roxa - cor de Salem - na direção dele.

— Vamos, vamos, vamos... Pega esse pomo, Enrique! - Murmurei para mim mesmo, mas ambos diminuíram a velocidade, provavelmente perdendo a esfera dourada de vista, olhei para um Segundo quase deitado no aro da esquerda. – Mas que merda!

Já ia solicitar atendimento e assinar praticamente o nosso atestado de derrota - já que dificilmente Fred conseguiria ficar na vassoura, mesmo com a pausa - mas nada disso foi necessário, porque o apito de fim de jogo soou antes que eu pudesse ver o que tinha acontecido.

Pelo barulho consideravelmente menor de comemoração, estava claro quem havia pego o pomo, mas nem tivemos tempo de comemorar nada, porque vocês sabem como são grifinórios, não é? Já gostam de aparecer, então Fred achou que essa era a hora perfeita para desmaiar e despencar da vassoura dramaticamente.

Ah bom, é para isso que serve a rede de proteção...

***

Havia uma sensação de alívio em todo mundo, mas ninguém queria realmente comemorar enquanto não tivéssemos notícias concretas do estado de saúde de Segundo. Scorp falou que ele não havia dito nada sobre estar se sentindo mal, mas que ele realmente parecia um pouco estranho de manhã.

Se for parar para analisar o comportamento de Fred Weasley II, estranho é a palavra que mais se repetirá no relatório, então não dá para culpa o loiro, não é?

Deixei Enrique escorregar para o meu lado, principalmente porque ele havia acabado de sair do banho e parecia uma maldita água de colônia de marca em forma de gente. Ele colocou o braço ao redor do meu ombro displicentemente.

— E então, estamos bem? - Ele perguntou olhando para a frente, o muito dissimulado. Continuei de braços cruzados.

— Só porque você pegou o pomo e estamos vivendo esse clima tenso com um possível enterro virando a esquina? - Sussurrei de volta, sério e ele me encarou avaliativo. –  Sim, estamos bem, você tem sorte de eu ser essa pessoa maravilhosa, que não consegue guardar rancor por muito tempo...

Ele riu e mostrou nos dedos cada letra do nome mais infernal do mundo.

— T-R-A-C-Y. Isso te lembra alguma coisa? - Eu ri junto com ele e me aproximei mais calmo. Encostei a cabeça no peito dele, dava para ouvir os batimentos  tranquilos de seu coração.

— Isso não é justo, ela tentou me matar! - Ouvi a risada dele por sob o colete afetado, com uns padrões intricados bordados. Enrique parece um personagem de alguma história steampunk, vou te dizer.

— Você sempre usa essa desculpa, se eu ganhasse... - Ele parou de falar quando Harry Potter entrou com uma expressão séria na sala de reunião. Todos os jogadores calaram a boca igualmente.

— Cesc, podemos falar a sós? - Engoli em seco, meu Merlin, Fred realmente morreu.

— Pai, o que... - James não conseguiu terminar a pergunta, ele apenas murmurou um “Fred?”, que fez Potter pai dar um tapa na testa.

— Ah não, crianças! Desculpa assustar vocês, Fred está bem, ele teve uma apendicite, está sendo tratado, mas é uma doença trouxa comum, ele vai ficar bem. - Porra, que alívio! Assim que todo mundo voltou a respirar, tive que encarar Potter com meu pior olhar, que cara sem noção! – Vamos, Cesc. Agora.

Ele foi estranhamente enfático e não estava me chamando de “senhor Fábregas”, o que foi bem estranho.

Deixei Enrique com um olhar interrogativo no sofá para seguir um treinador ainda tenso, mesmo com as boas notícias de Fred. Qual é a merda agora? Fomos até o escritório dele por um caminho não de todo conhecido por mim, mas até que fazia sentido, porque Potter não gostava muito da ideia de dividir o dirigível com os repórteres britânicos.

Sentei na poltrona de convidados antes que ele oferecesse o lugar, mas ele continuou de pé.

— Já avisamos aos seus pais e estamos buscando a ajuda dos embaixadores espanhóis bruxos na América, mas eu preciso que você fique... - Houve dois toques na porta e Potter se abaixou na minha frente, colocando as mãos em meus ombros. – Olha, preciso que você fique calmo e me escute: eles vão levar você, mas eles não tem provas, então você só precisa ficar tranquilo que em um minuto vamos levar você de volta pra casa, ok?

— Eles quem? - Falei meio anestesiado, porque parecia que alguém havia trocado de canal e eu havia saído de um “a culpa é das estrelas” para ser abduzido por alienígenas!

— A MACUSA, mas não se preocupe, os americanos são um pouco agressivos, mas eles tem e seguem as leis, você vai ficar bem. - Harry Potter olhou ansioso para a porta quando chamaram seu nome e depois me encarou com um sorriso pouco convincente. – Queria ter conseguido tirar vocês daqui antes que a representante legal de Uagadou chegasse, mas com a doença de Fred...

Ele não completou o raciocínio, porque a porta foi aberta com um alohomora não-verbal.

— Senhor Potter, por favor, já dissemos que não precisa agir como se quiséssemos fazer algum mal a seu aluno, só vamos ter uma conversa com o senhor Fábregas. - A mulher pequena, com olheiras profundas e um sorriso tranquilo - uma aparência inofensiva - olhou para mim ao falar isso. – Você não se opõe, não é mesmo, querido?

Olhei para Potter ainda confuso e não respondi, afinal, ela não parecia realmente preocupada com a resposta.

***

— Então só repassando, senhor Fábregas: esteve em Uagadou no momento em que houve a falha dos comunicadores, estava na escola durante as falhas de magia de Hogwarts e na falha de proteção de ontem em Salem, correto? - A mulher de nome Dempsey me olhava como se não tivesse feito essas perguntas umas dez mil vezes.

— Correto.

— O senhor faz parte de algum grupo fundamentalista de qualquer gênero?

— Não... Sei. O que é fundamentalista mesmo? - Perguntei cínico, mas principalmente porque eu não estava certo do significado e por isso o feitiço detector deu um leve apito. O Ocaso se encaixa nisso?

— Qualquer movimento ou corrente que preze pelo conservadorismo e siga regras estritas não compatíveis com a nossa sociedade. - Ela falou em um tom monocórdio, em sua sala cheia de pergaminhos levemente bagunçados e artefatos esquisitos.

Se fosse para apostar, diria que esse é o lugar para onde mandam os aurores mais inúteis da MACUSA, mas eu nunca diria isso em voz alta, que eu não sou doido!

— Então não, senhora. Não vai encontrar ninguém menos conservador do que eu! - Falei inocentemente e aproveitei que ela havia dado um sorriso para a minha resposta atrevida. – Por que ainda estamos fazendo isso mesmo? Não pode ser apenas porque eu estive nos três lugares quando essas coisas aconteceram...

— Você foi o único nos três lugares no momento em que tiveram falhas de magia, contando com jogadores, equipe técnica do campeonato e torcedores, isso é realmente algo a ser levado em conta, não acha? - Ela sorriu simpática, como se não acreditasse realmente na minha culpa.

Eu estava sendo formalmente acusado de ser cúmplice de um possível estratagema para causar problemas nos sistemas educacionais bruxos ao redor do mundo.

Tive que me segurar para não dizer “olha bem para minha cara, veja se eu pareço com alguém que perderia tempo com isso”, mas o problema é que, teoricamente, eu fui responsável por dois dos três acontecimentos, né?

E isso ferra tudo.

— Dificilmente isso é motivo para manter alguém preso... Sério, me ajude aqui: qual é o agravante do meu caso? - Meu pai é advogado, então eu sabia que até para bruxos, esse interrogatório sem provas era um pouco demais.

— Seu histórico de transgressões, descontrole mágico, circunstância para cometer os crimes e... - Ela sorriu com tristeza, como se ainda tivesse algo pior do que os itens anteriores para dizer. Meu Merlin, eu sou praticamente o retrato de um delinquente juvenil! – Os relatórios de assinaturas mágicas dos laboratórios Dussel.

Não reagi a isso, porque eu bem sabia que eles tinham os balanços mágicos de Hogwarts nos dias de transmissão de jogos e devia ter os de Salem também, só me restando me perguntar porque demônios eles entregaram isso para os americanos e o mais importante: como eles associaram essas assinaturas a mim...

— Vocês tem minha assinatura mágica nesses eventos? - Sondei sem querer parecer alarmado, eu sabia que não tinham, mas precisava entender como eles me ligaram a assinatura do djinn, se é que eles tinham feito isso.

— Nós não temos, se tivéssemos essa conversa seria bem diferente, não é mesmo? - Ela fechou a pasta e desativou o feitiço detector de mentiras, respirei aliviado. – Aqui para nós, menino, há alguma chance desse caso ir para frente? Preciso que seja sincero, para que eu possa ajudá-lo.

Sabia o que ela estava fazendo, tentando angariar minha simpatia para que eu confessasse algo “fora dos registros legais”. Não estou confiando nem na minha própria mente, mais vazada do que peneira, vou confiar em americanos?

Até parece.

— Não poderia ver um caso menos sólido do que esse, então não.  - Disse me recostando na cadeira dura, com um olhar de quem não devia absolutamente nada a ninguém.

Não sei de onde estou tirando tanta calma para não surtar!

— Você parece saber muito desse universo, é quase como se...

— Meu pai é advogado no mundo trouxa e eu assisto muitas séries de TV nas férias.  - A cortei antes que ela dissesse que parecia que eu havia me preparado para aquilo, coisa que eu não havia feito.  – Olha, sinceramente, não acham que eu sou um suspeito muito ridículo não? Como você disse, eu tenho histórico, não sou discreto e tenho bons motivos para estar nos lugares em que estava: curso de férias, minha escola, campeonato... Acha mesmo que um bandido que burlou os feitiços de três das maiores escolas bruxas do mundo seria assim tão estúpido?

— Bem, aí é que está, senhor Fábregas, eu não te acho estúpido, apenas desleixado. - Ela olhou para o seu relógio e depois me encarou bem-humorada. – Nossas duas horas acabaram, está liberado para zarpar com a sua equipe.

— A gente ainda está esperando...

— Seu colega de time está em cirurgia, ele vai depois, não se preocupe. - Ela se levantou para abrir a porta para mim, então eu não tive outra alternativa a não ser segui-la. Quem coloca as palavra cirurgia e “não se preocupe” juntas?

— Então eu estou livre para ir para casa? - Perguntei só para confirmar, já que não dava para prever nada com os americanos.

— Sim. - Sorri aliviado e ela correspondeu meu gesto com um sorriso levemente malicioso. – Por hora.

Mas que droga de filme sem final é esse?

***

Voltamos para casa naquele silêncio esquisito, então fiquei tomando um vento na cara em uma das varandas do dirigível, pensando, sendo uma pessoa reflexiva, sabe? Mas aí Frank e James apareceram e eu perdi toda a minha paz de espírito.

— Ok, sabíamos que esse momento chegaria, só não sabíamos que ia ser tão logo e que ligaríamos. - Frank falou e depois suspirou falsamente. James ficou só observando a conversa com aquele sorrisinho ladino. – Lembra quando a gente se dava mal e brigava?

— Ontem? - Perguntei sem paciência.

— Vocês sonserinos são difíceis, mas eu considero o que temos como uma espécie de amizade. - Sorri para isso, porque Longbotton se colocou ao meu lado na pequena mureta com vista para o oceano. – Então é por isso que vou depor a seu favor no seu julgamento.

— Eu não te pedi isso. - Deixei claro, bem antipaticamente, porque não posso me responsabilizar por expectativas não alcançadas, eu apenas tolero Longbotton, não tem isso de “amizade”.

— Mas eu vou fazer de toda forma, eu estava lá e vi que você não fez nada contra Salem, se é para você ser preso, que pelo menos seja por um crime real. - Ele me deu um tapa forte nas costas e eu o olhei com todo meu ódio.  – E eu sei que você gosta de mim, não precisa nem me dizer nada.

A criatura lazarenta que dorme na cama ao lado da minha saiu de cena e em seu lugar, Potter, seu amigo igualmente irritante, veio me infernizar também.

— Sabe que ele está certo, não sabe? - Olhei para James e ele deu de ombros. – Nós temos um certo nível de amizade, mesmo você negando, então devo dizer que vou depor a seu favor também.

— Você lembra da conversa que tivemos? Porque eu fui bem claro: não quero que você se meta na minha vida. - Falei sério e ele sorriu.

— Não estou me metendo, eu só vou lá dizer que eu estive com você e Scorpius na noite do alagamento das Masmorras e Zabini vai completar o seu álibi daquela noite. - Olhei para frente, revirando os olhos.

— Tem noção que você vai mentir para a justiça? Isso se houver julgamento...

— Vai ter julgamento, você sabe e eu não vou mentir, vou apenas dizer que estava com você e que não tivemos nada a ver com o alagamento das masmorras, o que é verdade. - Ah tá! Potter não entende nada de julgamentos mesmo, ele acha que vão deixar ele falar o que ele quiser? O povo vai direcionar as perguntas! – É um absurdo que eles sequer cogitem você como terrorista, você quase morreu no Lago com as aranhas e perdeu seus pertences no alagamento!

— Isso pouco importa, o djinn colocou suas impressões digitais em todas as cenas do crime e em mim também, logo eu passei a ser cúmplice. - Falei conformado, mas logo me corrigi. – Ou melhor, eu virei uma ferramenta.

James não disse nada, ficou olhando para o mar abaixo de nós, também pensativo, estalou a língua nos dentes e me olhou com um sorriso confiante.

— Falei com Enrique, o irmão dele vai fazer sua defesa, ele entende dessas coisas de assinaturas mágicas, então vai dar tudo certo. - Ele falou bem-humorado e eu o ignorei, porque não estava afim de ficar remoendo esse assunto.

— Vai sim, Potter, pode ir dormir sossegado.

Ele não me deu tapinhas no ombro ou me disse alguma palavra de conforto, mas nem precisava. Sabia que aquele ser humano irritante estava me dando apoio eu querendo ou não. 

Assim que chegamos em Hogwarts, fomos separados da imprensa do dirigível, que foi elegantemente convidada a se retirar da escola. Encontrei rapidamente com meus pais e o diretor Brenam e por fim com o irmão de Enrique, Heitor Dussel, que estava acompanhado de John.

— Por que Enrique não está aqui? - O homem estava mexendo documentos de uma pasta grossa, distraidamente, com sua secretária  andrógena inseparável ao lado. Os quadros dos diretores antigos do escritório de Brenam nos olhavam curiosos, mas foi John que disse alguma coisa.

— Eu organizei a lista de testemunhas de álibi: em Uagadou tem eu, que estive com você todo o tempo, inclusive quando descobrimos a falha dos comunicadores e na noite anterior a isso, já que ficamos acordados conversando madrugada a dentro. - Ele disse sonso.

— John...

— Temos Tony, Scorp e James Potter que confirmam seu álibi e juntos fazem com que você não esteja nenhum segundo sozinho na noite do alagamento das Masmorras, assim como temos os atestados médicos que confirmam que você esteve doente e sem voz naquela mesma noite e que foi vítima da quebra do rinque de patinação no Lago...

— Isso é mesmo nece...

— E por fim, temos Longbotton, seu companheiro de quarto da seleção, alegando que você esteve a noite toda na cama ao lado em Salem. - Ele parou de ler suas anotações, me olhando. – Tem mais alguém que você queira chamar?

— John, isso não está certo, sabemos que... - Olhei para o Dussel gêmeo, mas ele parecia entretido em uma conversa com a tal da Váli, ambos extremamente confortáveis no escritório alheio. – A gente sabe que eu fui responsável pelo acidente número um, usei o djinn durante o dois e o três também, se ainda não foi informado. Fui enganado para que acontecesse a falha de Salem!

Sussurrei nervosamente, mas aquela criatura continuou me encarando tranquilo por trás de seus óculos azuis esquisitos. Ele mexeu em suas próprias anotações e ajeitou as lentes antes de ler.

— Seu álibi com Frank é incontestável, pelo simples fato dele estar falando a verdade e ser inocente. No dia do alagamento das Masmorras, a assinatura mágica claramente aconteceu antes e depois do apagão de Hogwarts e eles podem até alegar causa e efeito aí, mas a associação que eles tem entre a assinatura e você é muito frágil.

— Mas e Uagadou? - Falei, ainda preocupado que Heitor Dussel escutasse algo, quero dizer, quem iria querer me defender sabendo que eu sou culpado de pelo menos uma das acusações e ferramenta de outra? – A gente sabe o que aconteceu lá!

— Você não pode ser pego por Uagadou, seu pedido foi bastante específico naquele dia e se tudo mais der errado, pode ter certeza que a magia de Erick se aproveitou de cada palavra que você usou no seu desejo. - John falou sério. – Você lembra as palavras exatas que usou naquela noite?

Fiz que sim com a cabeça e ele sorriu para isso, porque eu havia pedido para haver uma falha de um mês nos comunicadores de Uagadou e que sob hipótese alguma, os envolvidos naquele pedido fossem comprometidos por aquela ação.

Foi um bom pedido... Me fodeu em vários níveis, mas foi um bom pedido.

— Eu só não entendi uma coisa: se a magia do djinn é tão infalível, porque Salem ainda está de pé e funcionando, quero dizer, eu desejei uma transferência mágica para Hogwarts! - Falei realmente intrigado e fui respondido pelo irmão de Enrique.

— Bem, senhor Fábregas, estamos partindo do pressuposto que você não pediu uma transferência completa e que Salem tinha as Magmeras como primeira linha de defesa. - O homem mais velho falou como se estivesse participando da conversa desde sempre. Eu e John nos entreolhamos. – Já esteve em um vinhedo, senhor Fábregas?

— Acho que sim, por que...

— Vinhos são provavelmente a melhor coisa inventada pelos trouxas e obviamente, com toda a engenhosidade dessa sociedade, era de se esperar que eles não deixassem todas as etapas do plantio ao acaso, não é assim? - Abri a boca, fazendo menção de respondê-lo, mas o que dizer sobre isso? – Bem, então para evitar que as vinhas fossem atingidas por pragas, os trouxas resolveram colocar ao redor, plantas como avisos, roseiras e pés de morango, que cairiam, se sacrificando pelo bem maior em caso de doenças, dando uma chance dos produtores reverterem o problema...

— Fascinante! - John disse, realmente impressionado e eu o olhei sem entender porra nenhuma, é claro e ele tentou me explicar. – Quando Scorpius me passou o relatório do que aconteceu com você, ele achou por bem me descrever o que havia acontecido com as Magmeras, juntamente com um trecho do guia ilustrado de Salem que ele comprou.

— Eu vou doar Scorp para a Corvinal, é oficial. - Resmunguei, porque Scorp já tinha uma maldita coleção de guias das escolas bruxas do mundo todo!

— Para de me interromper, enfim, no guia dizia que as heras de fogo, como são popularmente conhecidas, alimentavam o monumento em homenagem as Bruxas de Salem queimadas no grande julgamento e não o contrário. - Ele sorriu com o que deveria ser a sua conclusão óbvia, mas que não era. – E elas foram a única coisa que a escola não conseguiu reverter em sua falha mágica, então supus que a magia transferida para Hogwarts veio daí.

— E não foi? - Perguntei sem entender onde ele queria chegar, que novidade. Dussel sorriu para a minha burrice.

— Sim, mas não só isso. Como o senhor Dussel bem colocou, as heras eram a primeira defesa de Salem e por isso caíram antes dos outros feitiços, dando tempo para as defesas mágicas deles, propriamente ditas, se fortalecerem!

— Ok, bacana, Salem é muito esperta e usa as descobertas trouxas sem pedir permissão como ninguém, mas, como é que plantas bobas conseguiram parar a magia de uma criatura milenar, cujas lendas dizem que controla a magia das magias? - Perguntei ainda sem entender. Dessa vez os dois mais espertos da turma olharam um pouco menos confiantes para mim.

— Bem, isso eu ainda não entendi, mas é porque eu não tenho todas as informações... - John me olhou daquele jeito levemente acusador muito característico dele. – Você me contou tudo? Tenho certeza que está deixando passar alguma coisa.

Dussel não falou, mas ele parecia compartilhar da mesma impressão de John e a secretária dele parecia... Bem, ela parecia sem expressão como sempre,  nenhuma novidade.

— Ok, vou contar a história do início então, tudo que eu puder contar.

Vou poupar vocês do monólogo mais longo que já fiz na vida, mas no fim da história, os corvinais sorriram um para o outro.

E de novo, eu não entendi merda nenhuma!

***

James estava certo e um julgamento foi marcado - Akira me disse que se ele e Aidan tinham sido julgados culpados, que esperanças eu tinha? - fazendo com que toda a escola ficasse murmurando sobre mim enquanto eu passava pelos corredores sozinho ou até mesmo acompanhado.

A parte mais maravilhosa de todas, é que Enrique não podia ser achado em parte alguma nesses dois dias e quando eu escrevia através da pena, ele só respondia um: “estou ocupado não me metendo na sua vida”.

O que me fez ficar muito preocupado se ele estava falando isso porque eu havia ferido seus sentimentos pedindo para ele se afastar dos meus problemas - improvável, se meter na vida dos outros está no cerne da existência dele - ou se Enrique estava aprontando algo bem grandioso.

Uma merda grandiosa, é claro.

Minha teoria mais forte foi confirmada quando Heitor Dussel deixou escapar em uma de nossas conversas de representante legal e acusado que Enrique estava trabalhando em seu próprio presente de aniversário especial com o super vilão Hector Dussel.

Isso não tem como prestar...

Então agora, já nas masmorras do Departamento de Execução das Leis da Magia, estávamos aguardando o presidente da sessão chegar para entrarmos na sala e encerrarmos logo essa tragédia grega anunciada.

— Isso não é nada bom... - O Dussel presente resmungou para sua secretária e nem disfarçou quando me viu o encarando em busca de explicações para o comentário. – Tem muitos conselheiros aqui, o que significa dizer que não vai ser um ato disciplinar simples.

— Geralmente quando se trata de menores de idade, apenas um é o suficiente, acho que o último caso que teve muito mais do que isso foi no do nosso diretor Potter, quando o Ministério estava politicamente tomado pelas trevas. - Scorp disse satisfeito por saber esse dado histórico e eu o encarei com raiva, ele parou de sorrir. – Hora ruim?

— Hora péssima, como sempre. - Tony falou divertido, olhando para algo lá no outro corredor. Acompanhei seu olhar e vi que o próprio Harry Potter estava lá conversando com James e com uma mulher com a farda cor de ameixa tradicional da Corte.

Epa, espera, aquela é Hermione Weasley? Isso não tem como acabar bem para mim, honestamente! O que a sogra de Tony está fazendo aqui?

— Como você está? Nervoso? - Scorp perguntou solícito e levemente preocupado. Tony me olhou também e eu sorri para os dois.

— Estou naquela já conhecida vibe “Deus, tende misericórdia!”  - Os dois riram e eu os acompanhei. – Eu estou esperando por um milagre!

Ai, ai, eu tô rindo de nervoso, porque eu tô tão fodido e para completar, nada de Enrique aparecer. Traste, filho da mãe, da próxima vez vou deixá-lo morrer afogado, pra ver se ele aprende a lição!

Finalmente o conselheiro que iria presidir a sessão chegou com o secretário Sênior do Ministro - ruivo e sardento, suponho que seja um Wesley -  e o escriba, se juntando a senhora Granger-Weasley, atual Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia.

Fomos para uma sala conformada em um semicírculo composto por uma área para os conselheiros da sessão, outra para as testemunhas que iriam falar no processo e a cadeira central onde eu - o réu-  seria escrutinado.

Nunca rezei tanto como nessa ultima semana de março!

Nas fileiras mais para trás e acima estavam alguns jornalistas - dentre eles Rita Skeeter e no canto mais longe dela, Candance Bishop - meus pais, Harry Potter e para o meu azar, o diretor Brenam, a governadora de Uagadou e a diretora de Salem.

Talvez pelo aspecto internacional da coisa, precisasse desses conselheiros todos, eram cerca de 20, meu único consolo sendo ver a professora McGonagall entre eles. Um senhor robusto deu lugar a ela, em deferência e assim que ela se sentou e ajeitou os óculos para me ver melhor, eu sorri para ela.

Ela sorriu de volta, o que deveria ser um sinal divino que eu não estava tão ferrado assim, quero dizer, se Merlin deixou ela ganhar uma medalha em sua ordem, honraria que a coloca como uma das bruxas mais competentes do conselho, ele quis dizer algo com isso, né?

É sim, Akira está errado, tem esperança para mim sim.

Todos se acomodaram para o início da sessão e o presidente começou com seu discurso monocórdio “Segunda-feira, 29 de março de 2021, declaro aberta, blablabá” e eu ouvi todo aquele palavreado formal para descrever as circunstâncias do processo, bem como ouvi a apresentação dos diretores convidados das escolas de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Salem e Uagadou.

Ouvi tudo impacientemente, digo.

Depois dessas formalidades, o caso foi apresentado pela auror da MACUSA, Dempsey e Heitor Dussel se apresentou como meu representante legal, visto que ele cumpria os requisitos e tinha a permissão legal dos meus pais para tal.

Eu estava horrivelmente inquieto, ouvindo o irmão de Enrique falar de sua maneira meio pedante o quanto era absurdo criar todo esse espetáculo para usar um adolescente de 14 anos como bode expiatório de problemas de diferentes naturezas.

O homem apresentou como provas periciais, relatórios de feitiços e encantamentos das três escolas, demonstrando que a assinatura mágica usada pela auror Dempsey como circunstância objetiva do que ela chamava de “acidentes mágicos” não se sustentava.

— Em Uagadou ela aparece como uma fraca força presente na escola antes mesmo do réu ter pisado em solo ugandês, em Hogwarts ela aparece antes e depois do apagão mágico registrado no dia primeiro de novembro de 2020, devidamente apresentado ao Departamento de Mistérios pelos laboratórios Dussel e em Salem, aparece em um momento onde as ocupações hoteleiras da cidade estavam em mais de 95%, deixando pouco provável um controle de quem estava ou não no local no momento do acidente.

A secretária de Heitor Dussel fez voar até os conselheiros os tais relatórios e assim que o senhor bigodudo presidindo a sessão leu e discutiu rapidamente com seus colegas de farda roxa com um grande W bordado no lado esquerdo do peito, Dussel voltou a falar.

— Cabe ressaltar que as causas prováveis dos acidentes de Hogwarts são estruturais, visto que a escola de magia e bruxaria britânica apresenta os sintomas de perda sequencial de sua força ao longo de mais de um ano, não tendo sido estabelecido pela promotoria nenhuma linha de acusação que conectasse o réu a esses fatos.

Ok, para quem não é um advogado de formação, Heitor Dussel realmente parece saber o que está fazendo, pena que ele era o meu Dussel errado. Brinquei com a corrente onde estava o crucifixo do meu avô e o maldito pingente que o meu estúpido namorado havia me dado de presente.

Onde é que você está, seu imbecil?

Presta atenção no seu julgamento, garotinho, estou fazendo uma coisa importante aqui!

Olhei ao redor, para ver se mais alguém tinha notado a voz de Enrique, irritante e levemente divertida, soar alto no meio do discurso de defesa de seu irmão, mas aparentemente só eu o havia escutado.

Onde é que você está, criatura? Como eu posso te ouvir?

Você está tocando no colar que eu te dei?

Ah sim, eu estava segurando sim o elmo medieval preso a minha corrente de sempre. Sorri discretamente, ainda mais que o senhor Dussel havia acabado de convidar John para depor a respeito do momento em que Uagadou se deu conta da falha dos Marduks.

Agora é sério, me deixa trabalhar, porque Hector não tem muita paciência com distrações... Em que parte do processo estamos?

John acabou de começar a depor... Enrique, que diabos você está aprontando?

Até mais, garotinho, não me chame de novo.

Enrique “desligou” a nossa comunicação através do seu presente muito conveniente -  o mesmo tanto que ele, Enrique, era inconveniente - e eu voltei a prestar atenção no que John estava falando.

— ... Então quando acordamos no dia seguinte, quase ninguém nos entendia e certamente nós não entendíamos mais ninguém, porque os alunos de Uagadou não falavam inglês como nós. - John pausou sua história para consertar os óculos azuis, estranhamente ele não estava nervoso. – Partimos de Uganda um par de horas depois e foi isso.

Heitor Dussel fez questão de revisar com todas as testemunhas de defesa suas versões dos fatos e John era o que mais estava gaguejando anteontem. Só conseguimos encontrar uma versão boa de seu discurso, quando revisamos palavra por palavra do que havíamos dito em cada desejo e a coisa mais estranha aconteceu: eu e John pudemos falar a Heitor Dussel e sua assistente sobre a noite em que libertei o djinn.

Por algum motivo que não estava claro antes - nem agora, pelo menos para mim, porque o senhor Dussel parece ter entendido tudo - sempre que tentávamos falar sobre o acontecido em Uagadou, uma força nos impedia e nós associamos isso ao meu pedido, como se eu tivesse nos forçado a um feitiço de segredo,  só que quando Heitor Dussel usou a penseira do diretor para ver nossas memórias, vimos que meu discurso exato foi:

“Eu desejo sob a proteção eterna de que os envolvidos não morrerão, nem sofrerão nenhum mal de tipo algum ao guardar os segredos dos acontecimentos dessa noite, que todos os marduks de Uagadou deixem de funcionar pelo ciclo dessa lua.”

O que significou dizer que nós não conseguíamos falar antes, porque poderíamos sofrer algo ou até morrer ao falar com Enrique, James e Scorp sobre o assunto, mas com Heitor e Váli estava tudo bem, o que era muito esquisito.

Mas no fim das contas, John havia achado uma meia verdade confortável para contar agora que pôde debater o assunto com uma mente na mesma sintonia que a sua.

Porém infelizmente a auror Dempsey perguntou a John se ele estava comigo a noite inteira e ele disse que em uma boa parte da noite, mas foi forçado a admitir que dormíamos em quartos separados. Ele voltou para seu lugar no banco de testemunhas, irritado com a mulher que parecia no controle de tudo.

Tony, Scorp e James falaram sobre a noite do alagamento das Masmorras, me fornecendo um álibi através de suas provas testemunhais muito mais sólido do que o de John. James concluiu o seu discurso com uma opinião própria que causou um certo burburinho na pequena audiência.

— É uma vergonha que um tribunal respeitável como Winzengamot repita os mesmo erros do passado, quando colocaram o meu pai nesse mesmo lugar tendo tantos outros assuntos mais importantes para tratar e sendo levado por interesses nada...

— Obrigado, senhor Potter, pelo seu depoimento. - Heitor Dussel abriu a porta do cercado da testemunha, forçando James a sair antes que ele ofendesse os membros do conselho com sua boca grande de grifinório. – Convido a testemunhar agora, o senhor Frank Longbotton.

Frank cumprimentou discretamente James, como se eles fossem jogadores de hóquei trocando de lugar no rinque e depois me deu uma piscada irritante, que eu ignorei sumariamente.

Grifinórios já gostam de um holofote!

Frank disse seu nome completo, idade, filiação e depois de jurar falar a verdade, começou a contar o que aconteceu em Salem há alguns dias.

— Eu e Cesc dividimos o mesmo quarto e fomos dormir por volta de meia-noite, já que tínhamos jogo no dia seguinte. Por volta de umas 3h da manhã, ouvi Cesc resmungando como ele faz de vez em quando e já ia jogar um travesseiro para ele calar a boca, quando ele finalmente acordou.

Revirei os olhos, o quanto desses detalhes todos é realmente necessário?

— Nós conversamos um pouco, estava prestes a pedir a James uma poção fraca de sono sem sonho para Cesc, quando nós ouvimos um grito meio... Era de uma mulher, mas ao mesmo tempo não era, um negócio horrível, aí nós dois fomos ver o que estava acontecendo.

Frank me olhou e depois continuou narrando tudo exatamente como tinha acontecido e no fim das contas, mesmo com a auror Dempsey questionando a ele se esteve comigo todo o tempo, o grifinório se saiu bem e me garantiu mais um ponto no placar.

Acho que eu vou conseguir me safar dessa, gente!

O secretário Sênior, Percival Weasley, informou a todos que a sessão teria um breve intervalo de 15 minutos, quando voltaríamos para o meu interrogatório, considerações finais da promotoria e da defesa e veredito do caso.

Me espreguicei mais tranquilo, porque nem de longe parecia tão ruim quanto eu pensava.  Me reuni a Heitor Dussel, que conversava rapidamente com sua secretária, ela falava baixo em seu ouvido, um fluxo de palavra constantes e enfáticas.

— Hey, acho que estamos indo bem, não? - John, Scorp, Tony, James e Frank se aproximaram, assim como meus pais, para ouvir o que o meu representante legal estava achando do andamento das coisas.

— A pior parte vem agora, porque no interrogatório eles vão usar um feitiço detector de mentiras em você. - Eu olhei para ele meio nervoso, esse cara era muito pessimista.

— Eu já passei por isso antes, acho que dou conta. - Falei, me fingindo de calmo e ele me olhou com o cenho franzido.

— Na sua fala você tem que demonstrar que não há circunstâncias subjetivas e tirar a atenção de Dempsey das assinaturas mágicas. - Tive que forçar meu cérebro a lembrar que circunstâncias subjetivas equivaliam a motivo, coisa que é bem fraca na acusação da americana. – Caso contrário vamos ter que usar o plano D.

— D de Deus? - Perguntei esperançoso e o irmão de Enrique fez a mesma cara de impaciência que o irmão caçula faz às vezes para minha idiotice.

— Quase isso.

Céus, que a gente não tenha que envolver o djinn nessa merda...

***

— Estudar em Uagadou foi uma verdadeira honra, assim como os meus quatro anos em Hogwarts tem sido e eu nunca faria nada que eu soubesse que poderia causar algum dano irreversível a qualquer uma dessas escolas.  - Respirei fundo com alívio, porque o feitiço não havia detectado mentira na minha fala, ainda que eu tenha, de fato, prejudicado Uagadou propositalmente.

— E quanto a Salem? Tem algum motivo para ter deixado o Instituto de fora do seu discurso inflamado? - A auror perguntou calmamente, parecendo se divertir com todo o processo.

— Eu nunca estudei em Salem e não tenho nenhum vínculo afetivo com a escola. - Nenhuma mentira aí, então continuei. – Admito que tive um pouco de inveja logo que a vi, já que a escola é tão fabulosa, mas atualmente tenho até um pouco de pena, já que é uma escola boa demais para a maioria dos alunos que vocês tem lá.

Olhei para a diretora da escola americana e ela parecia bastante ofendida, ainda mais quando ficou comprovado magicamente o meu atual desinteresse por sua instituição. Se Dempsey continuasse sua linha de acusação baseada em algum sentimento negativo pelas escolas, ela daria apenas em becos sem saída.

Eu adoro Uagadou e Hogwarts e por Salem eu sinto apenas um grande nada.

— Bem, senhor Fábregas, creio que não haja nenhum motivo para o senhor atacar as escolas, só me restando perguntar... O senhor sabe do que se trata essa estranha e misteriosa assinatura mágica detectada em Uagadou, posteriormente em Hogwarts, apenas depois de sua ida a escola africana e por fim em Salem, quando você aportou em terras americanas?

Oh, merda.

Olhei para Heitor Dussel, que assistia a todo o interrogatório apoiado na mureta de madeira que dividia o setor das testemunhas do vão que levava até o local onde eu estava sentado. Ele fez um sinal discreto com as mãos para eu ir com calma.

— Pode repetir a pergunta? - A mulher me olhou intrigada. – Foi uma pergunta bem longa...

— Perguntei se o senhor sabe de que assinatura mágica estamos falando, senhor Fábregas. - Ela me perguntou bem menos simpática agora, como se estivesse começando a desconfiar da minha inocência no caso.

— Tive a oportunidade de ver os relatórios e a assinatura mágica com o meu representante legal, então sim, sei do que se trata. - Não pergunta mais sobre isso, por favor, moça, não pergunta mais sobre isso!

— Me refiro a antes da acusação, o senhor já estava familiarizado com tal assinatura? - Ela perguntou secamente e o senhor Dussel interferiu.

— Não é esperado que um adolescente de 14 anos tenha conhecimentos específicos de assinaturas mágicas e suas peculiaridades. - Ele falou debochado e a americana nem sequer o olhou, apenas sorriu sem humor.

— Vou reformular a pergunta: o senhor sabe do que se trata essa magia de Uagadou, que apareceu em Hogwarts e em Salem apenas depois de sua visita a escola africana? - Ok, o que eu respondo sem mentir? Engoli em seco, procurando uma resposta.

— Qual a relevância da pergunta para o caso, se já está mais do que claro que os acidentes mágicos de Hogwarts não tem ligação com tal magia, bem como não há provas de sua ligação com a falha de Uagadou? - Heitor falou antes de mim.

— Por falta de relatórios mágicos da sua empresa, senhor Dussel, que só pôde nos fornecer os registros das escolas dos dias do campeonato promovido também por sua empresa. - A mulher finalmente falou para Heitor, que fez menção de se defender. – Não estou aqui querendo colocar uma desconfiança sobre a companhia Dussel, mas o fato é que só não podemos traçar tal ligação, porque não temos os registros dos outros incidentes de Hogwarts e de Uagadou.

— Lembrando que os incidentes de Hogwarts começaram antes de eu sequer cogitar ir a Uagadou. Ou eu sou culpado por ter ido para a África e depois para a Escócia e América com uma magia estranha ou eu sou culpado por iniciar o meu reino de terror em Hogwarts há um ano, as duas coisas juntas é impossível. - Falei cinicamente, recuperando um pouco do meu charme sonserino. – Escolha sabiamente sua linha de acusação, auror Dempsey.

Ela respirou fundo irritada com o meu surto de inteligência e presença de espírito, mas sorriu quando o presidente da sessão pediu para eu responder a pergunta da assinatura mágica. Olhei para o senhor Dussel e ele me deu permissão para falar a verdade.

— Tinha conhecimento prévio da fonte dessa magia aí, mas não vejo a relevância para o caso. - O feitiço acusou a parte mentirosa da minha afirmação e eu reformulei a frase. – Vejo a relevância para o caso, mas...

Droga! Não faço ideia de como sair dessa!

Os conselheiros murmuraram entre si e Heitor não olhou para mim, ao invés disso, ele fez sinal para sua secretária Váli, que lhe entregou um case escuro. Ele abriu o objeto e o apresentou para o conselho e para a auror Dempsey e eu nem precisava ver o que tinha dentro para saber o que era...

Era o maldito plano D.

— Eis a fonte da assinatura mágica, a lâmpada magica de um djinn da classe dos jinni, gênero ghul, pertencente a escola de magia de Uagadou. - Vi a governadora da escola de Sharam se levantar indignada, mas Heitor completou. – Minha secretária Váli tomou a liberdade de trazê-la para esse julgamento e como ela é uma valquíria, espécie mágica classificada como não-bruxa, tanto as leis mágicas britânicas, quanto as ugandesas de posse, não se aplicam a ela.

Meu Merlin, os Dussel são da máfia bruxa e nem disfarçam!

— Um gênio da lâmpada? - Hermione Granger-Weasley perguntou surpresa e Heitor aproximou o case para sua apreciação. Os outros conselheiros murmuraram espantados entre si. – E tal artefato ainda... Funciona?

— Temo que sim, conselheira Weasley. Agora, a pergunta que devemos nos fazer é: como tal artefato perigoso se encaixa no nosso caso? - Heitor entregou o case fechado nas mãos indignadas da senhora governadora de Uagadou. – O jovem Francesc Fábregas de fato teve acesso a tal magia durante sua estadia em Uagadou, mas somente com a ajuda de Váli, a valquíria, não nos esqueçamos de sua condição não-bruxa, o artefato saiu de território africano.

— E como ele usou o gênio sem ter posse da lâmpada então? - O responsável pela sessão perguntou, verdadeiramente interessado.

— Chegarei aí, meritíssimo, como era de se esperar em uma história envolvendo um ghul e um adolescente imaturo, o jovem senhor Fábregas foi ludibriado e fez um acordo com a criatura que sob hipótese alguma deveria estar em uma área não protegida. - Ele disse isso para a senhora de Uagadou, que o olhou de modo afetado. – Senhor Fábregas, pode nos dizer os desejos frutos de tal acordo?

— O primeiro desejo usei para salvar a vida do meu namorado que estava desaparecido nas masmorras da Sonserina no dia em que o Lago Negro a inundou. - Falei com calma, porque essa era a mais pura verdade. – E o segundo, o djinn me enganou e me fez pedir, durante um sonho, para que parte da magia de Salem fosse para Hogwarts.

Deixei eles absorverem o que eu tinha falado, porque a maioria das pessoas parecia muito chocada com o que eu havia dito. McGonagall parecia muito indignada com Brenam, na verdade, já que ele alegou que a escola estava melhor sob sua direção e agora ela ficava sabendo que um de seus alunos havia corrido risco de morte.

Ela estava muito brava!

Já a diretora de Salem pedia para que todos prestassem atenção ao fato que eu havia revelado: que eu realmente era o culpado pelo problema de segurança de Salem. O presidente pediu ordem e ameaçou expulsar aqueles que não ficassem calados. A pena de repetição rápida de Rita Skeeter parecia que iria sair bailando do pergaminho a qualquer momento.

— E o terceiro pedido, senhor Fábregas? - O presidente perguntou, limpando o suor da testa com um lencinho rendado. A senhora Weasley franziu o cenho, como se estivesse prestes a rir do nervosismo do pobre colega.

— Eu não o fiz ainda. - Uma boa parte da audiência ofegou ante a possibilidade de que a minha pessoa, o moleque cheio de transgressões e nenhum juízo, ainda tivesse um desejo de poder ilimitado.

— O senhor Fábregas pode invocar o gênio e provar sua inocência, contanto que esse seja o veredito final. - Heitor Dussel tentou, mas o presidente desfez da possibilidade com um gesto de mão.

— Ele pode invocar a criatura como testemunha e nada mais, tendo em vista que seu representado não é totalmente inocente das acusações.

— O senhor está fazendo um pré-julgamento, o que pelas leis da...

— Senhor Dussel, traga a criatura para depor ou encerre seu caso. Das aplicações das leis da Magia, cuidamos nós. - O homem foi seco e Heitor Dussel revirou os olhos, insolente, murmurando um “traga a criatura” para mim.

Não precisei fazer absolutamente nada, porque o djinn apareceu ao meu lado com um sorriso divertido, analisando a audiência e a sala onde estávamos.

— O famoso tribunal de Wizengamot... Estou impressionado com o quão longe chegamos, mestre. - O filho da mãe hoje estava a minha exata cópia: mesma roupa, cabelos e bem, cara.

— Pessoal, esse é o djinn, mas podem chamá-lo de Erick. - Falei isso sem emoção. Eu me olhei com um sorriso de agradecimento. – Não precisam repassar nada, ele sabe de tudo.

— Muito gentil da sua parte usar meu novo nome humano, mestre!

— Criatura, então você... Você assumi a autoria dos... Err... Incidentes mágicos aqui apresentados? - O presidente da sessão estava nervoso e ninguém podia culpá-lo, diferente da turma da defesa, todo o resto da audiência tinha sido pego de surpresa por essa presença ilustre.

— Fui eu sim, senhor, que desliguei por um mês os comunicadores de Uagadou, trouxe o senhor Enrique Dussel de volta a vida em Hogwarts e fiz o novo corte no gramado de Salem. - Ele falou com bom-humor. Fingi que ele não estava comigo, esse idiota. – Culpado, culpado e culpado, embora assegurar a sobrevida do senhor Dussel não seja exatamente um crime...

— Bem, creio que a luz das novas evidências...

— Só um adendo, meritíssimo, gostaria de acrescentar que eu nem sequer sou um bruxo, assim como Váli, então a culpa ainda recai sobre o meu mestre. - Foi horrível ver a mim mesmo sendo sonso, nunca mais na vida faço isso, juro! – A menos que ele tenha algo mais a dizer...

Ele deixou a sugestão em aberto e eu finalmente entendi o que ele queria que eu fizesse: o último pedido.

Eu me encarei e vi aquele mesmo brilho desafiador de sempre e um sorriso que dizia “você sabe que vai me dar o que eu quero, Cesc”. Bem, aqui estávamos. Heitor Dussel quis planejar um pedido para eu fazer em último caso, mas eu me recusei a debater sobre isso.

Esse último pedido seria inteiramente meu, assim como aquele que deu início a isso tudo. Tomei fôlego para terminar da melhor maneira possível para todos, aquilo que a minha arrogância e inconsequência havia começado.

— Eu desejo que a criatura milenar que me concedeu esse poder, torne-se um bruxo mortal e possa responder por suas ações diante da justiça dos homens desse tempo. - Falei simplesmente, esperando para ver se o djinn cumpriria meu pedido ou não. O que mais me preocupava hoje era a última regra:

“Hão de perecer sob o julgo do que não podem controlar, tudo no tempo do Tempo”

Sabia que o djinn não teve essa oportunidade no passado e nem teria no futuro, mas ainda havia o risco dele me subjugar com seu poder além da imaginação humana e isso poderia ferrar o meu pedido. Ele me olhou por segundos em suspensão, então me deu as costas e estalou os dedos, como sempre faz.

A princípio achei que nada havia acontecido, mas depois, sutilmente, algumas mudanças aconteceram nele: ele ganhou um pouco mais de altura e corpo e os cabelos se tornaram curtos, quase inexistentes.

Não pude ver mais, me restando apenas assistir a expressão da audiência ante essa mudança. Pelo visto meu desejo havia dado certo e o djinn tornou-se um bruxo novamente. A assistente de Heitor entregou ao novo homem a mesma bengala - de onde saiu isso? - que Tony havia usado e tirado de lugar nenhum quando machucou o joelho. Heitor a olhou sem entender.

— Obrigado, Váli, é bom vê-la novamente. - Pela primeira vez desde que a vi em Uagadou, a valquíria sorriu de verdade com o som da voz rouca do djinn.

— De onde vocês... - Não pude completar minha pergunta, porque, com um novo estalar de dedos, eu estava sentado ao lado de John e o homem que o djinn havia se tornado, ocupava agora meu lugar como réu.

Minhas testemunhas me olharam confusas ao meu lado e eu me virei para frente, para ver finalmente a aparência real de “Erick”.

Ele era moreno, com o tom de pele próximo ao de Lia, tinha as sobrancelhas escuras e cheias, uma barba serrada e não parecia ter mais do que 20 anos, fisicamente falando. A única coisa discrepante nele eram os olhos amarelos, como os de um gato, provavelmente uma sequela de sua anterior forma não-humana.

Não pude deixar de lembrar da história de Voldemort e sua feições de serpente, frutos do seu passado cruel.

— Acho que podemos começar o meu julgamento agora, não? - Ele falou malicioso, sentado elegantemente, com as duas mãos apoiadas na bengala que pelo visto sempre fora dele.

Os aurores que estavam de guarda naquele dia começaram a conduzir os civis para fora e enquanto as pessoas saiam apressadamente do seu lugar - ninguém queria ficar na mesma sala com uma criatura com um poder desses e uma má índole - eu apenas assistia o meu antigo gênio da lâmpada observar tudo sentado, com sua aliada parecendo satisfeita ao seu lado.

Potter me segurou pelo braço, para que eu também saísse junto com os outros e deixasse apenas os profissionais do Ministério lidando com Erick, mas antes que eu pudesse me mover, um movimento contrário na porta culminou com um Enrique sendo seguido por um Hector ofegante.

— Antes tarde do que nunca! - Meu namorado falou isso para mim, mas ao chegar perto o suficiente, ele jogou um objeto na direção de Erick.

Acho que o ex-djinn e sua assistente também haviam sido pegos de surpresa, principalmente porque o objeto era uma espécie de coleira de metal, que se ajustou perfeitamente ao pescoço de Erick.

Váli olhou surpresa para o objeto na garganta do seu mestre e eu tive que dar risada, porque ele parecia bem menos satisfeito agora. Erick parou de tentar tirar a coisa do pescoço e olhou diretamente para Enrique ao falar.

— Foi por essas e outras que eu matei você, Enrique.

Fomos arrastados para fora da sala de reunião pelos irmãos Dussel mais velhos e a última coisa que eu vi antes de sair de lá foi o olhar amarelo de uma das criaturas mais desgraçadas que deviam existir.

Seja bem-vindo ao nosso mundo, Erick!


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Notas finais do capítulo

Um capítulo de retrospectivas!

Alguém sentiu uma vibe Dumbledore "não posso proteger minha criança como quero" em Harry nesse capítulo?

E quem lembrava da bengala surgida do nada de Tony (capítulo 70)? Punho de caveira com olhos de esmeralda...

Preciso urgentemente q me digam se não entenderam algo, lembrando q o q aconteceu com Enrique, Heitor, Hector, Váli (o q ela fez com os chefes, não a armação com o djinn) q vocês não viram, aparece no spin-off "She doesn't wear dress" e não interessam muito a Cesc, é aquilo de subplot, estou querendo saber do djinn, das explicações... Porque pretendo esclarecer o que eu sei que precisa ser dito de uma forma mais diluída mais para frente.

Bjuxxx e adeus plot q começou lá em Uagadou (capítulo 57)!