Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 1
Capítulo 1 – O começo de tudo


Notas iniciais do capítulo

História postada anos atrás e resgatada das trevas do site Floreios e Borrões. Algumas coisas foram enxutas no começo, mas o enredo principal permanece!



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Capítulo 1 – O começo de tudo

Minha primeira experiência real no mundo bruxo foi na loja de Madame Malkin, no Beco Diagonal. Sendo um nascido trouxa, diretamente da Espanha, tudo me parecia muito diferente e até mesmo aborrecido. Nada de mágica, apenas figuras estranhas, com roupas estranhas e olhares estranhos para os trouxas desajustados.

Não que eu soubesse disso naquele tempo.

Quando entramos pela porta, ela fez um barulhinho irritante de sino. Me surpreendi, não era um lugar cheio de “frufu”. Tinha uma acolhedora sala de espera onde um garoto negro, com roupas ultrapassadas - mas com aparência de caras - levemente entediado, aguardava pacientemente sua vez de ser atendido.

— Bom dia! - Dissemos eu e meu pai em uníssono. — Poderia nos informar onde está a responsável da loja? - Meu pai perguntou educadamente num inglês quase sem sotaque.

— Madame Malkin está meio ocupada... Sabe como é! Todo mundo deixa pra fazer o uniforme na última hora... - Disse o garoto simpaticamente e repentinamente bem humorado – Posso dar uma sugestão pra vocês?

Eu e meu pai nos entreolhamos. Ele afirmou com a cabeça para o garoto, que prosseguiu.

— Acho que o senhor deveria fazer como o meu pai e ir adiantando, comprando as coisas que faltam. Ela vai tirar as medidas dele... - Apontou pra mim. – E o pagamento só é feito no momento da entrega dos uniformes. Então não precisa ficar.

Meu pai olhou pra mim e começou a falar em inglês, acho que para não deixar o garoto constrangido...

— É uma boa ideia... Volto pra te buscar mais tarde, o que acha? - Olhei para cara do indivíduo que me parecia simpático demais pro meu gosto.

— Faça como quiser.— Disse sem emoção.

Meu pai sussurrou um “Se comporte” e saiu em direção a próxima loja da lista. Me sentei ao lado do garoto que logo estendeu a mão para se apresentar.

— Sou Antony Zabini! - Olhei para a mão dele desconfiado. Por que tanta simpatia? Será que é um maníaco mirim?

— Cesc Fábregas.— Não achou que eu fosse dizer Francesc, né? O meu odioso nome de santo era só para os mais íntimos, leia-se minha mãe quando está com raiva. Ele apertou os olhos como se estivesse querendo descobrir algo mais.

— De onde você é Cesc? - Mas esse garoto é de uma ousadia sem tamanho! Quem disse a ele que pode me chamar pelo primeiro nome?

— Sou da Espanha...

— Hum... Nunca fui lá! O que tem de interessante?— Ele parecia realmente interessado e como eu não tinha nada melhor pra fazer...

— Tem um clima agradável, comida boa e muita cultura...

—Trouxa?— Disse de uma maneira esquisita. Ele tava me xingando?

— O que?— Perguntei tentando não me estressar com a criatura.

— Muita cultura trouxa, foi o que você quis dizer, não?— Ah! Entendi... Ou não. Mas acho que trouxa é como eles chamam os não-bruxos... Pelo menos é o que parece... – Meu pai não gosta muito disso, mas eu acho tudo muito interessante!

Se o pai dele não gosta, não cabe a mim avisá-lo agora que a “cultura trouxa” é a única que eu conheço. Resolvi mudar de assunto.

— Primeiro ano em Hogwarts, hein? Como estão as expectativas? - Acho que pronunciei o nome certo dessa vez, meu pai que me disse que era assim que se falava, se Zabini não estranhou, não deve estar errado.

— Eu acho que eu vou pra Sonserina, como o meu pai!— Ele disse todo animado.

— Sonserina? Boa escolha...— Um chute no escuro! O que é Sonserina? Achei que íamos pra Hogwarts!

— Com certeza a mais adequada!— Disse todo pomposo. - Lá é a casa dos astutos que não poupam esforços para conseguir o que querem!

Essa conversa tava começando a me assustar! E se ele perguntasse a que “casa” EU queria fazer parte?

— Não gostaria de ser de nenhuma outra... Casa?- Perguntei com receio e pra minha sorte o garoto é mais tagarela do que Louise quando tá com as amigas! Louise é a minha irmã gêmea, vão ter o desprazer de conhecê-la futuramente...

— Poderia ser da Grifinória, casa dos leões nobres, corajosos e de sangue frio...— Convencido ele, não? – Mas meu pai me mataria!— Sacudiu a cabeça, como se quisesse afastar pensamentos incômodos. – Ou da Corvinal, casa dos inteligentes e aplicados... — Ele colocou a mão no queixo como se estivesse refletindo.

— Não... — Fez sinal de descrença. – A Corvinal não é pra mim! - Tenho a leve sensação que essa vai ser a morada de Louise...

— Só essa duas Casas?- Será que tem outra? Não era pra eu ter perguntado desse jeito!

— Só a que sobra é a Lufa-lufa, que venhamos e convenhamos, ninguém merece!— Achei estranho. Qual o problema da Lufa-lufa, além, é claro, do nome ridículo?

— Achei que todas as casas fossem boas!- Retruquei, fingindo que sabia de alguma coisa.

— É o que dizem os hipócritas, mas todo mundo sabe que lá só tem capacho! - Disse ele com uma cara de desprezo muito digna. Palmas lentas pra ele. Infelizmente pra mim, Zabini é mais parecido comigo do que eu pensava. - O símbolo deles é um texugo!— Fez cara de escárnio.

— Texugo?— O garoto pareceu se distrair do esculacho pra cima da pobre Lufa-lufa.

— Sim, temos o leão, a águia e a serpente também... Grifinória, Corvinal e Sonserina, respectivamente.— Disse ele didaticamente. Acho que discordo dele... Parece um ótimo candidato pra Corvinal!

— São bons animais... Agora o texugo dos sinceros, leais e sei lá mais o que da Lufa-lufa...— Disse isso com a voz em falsete me fazendo dar risada — É de mais pra eu aceitar!

— Concordo! São boas qualidades, mas só quando usadas com um pingo de esperteza!— Concluí mais pra mim do que pra ele.

— Aff! - Disse meio cansado- Acho que isso eles não tem!- Ele olhou pra minha cara e deu risada.—Mas relaxa! Pessoas como nós não vão para Lufa-lufa.— Vou tomar isso como um elogio...

Esperamos por mais uns quinze minutos, ele falando sem parar o quanto ele queria jogar Quadri-Sei-Lá-o-que e eu fingindo que entendia, soltando alguns “hunrun”, “claro” e “legal”.

Madame Malkin, uma senhora que eu só consigo definir como mais velha do que o tempo, chamou pelo Zabini, que foi prontamente. Aproveitei os minutos de silêncio absoluto para tirar um cochilo.

Eu acho sinceramente que das duas uma: ou a loja tem outra saída,ou a jovem Madame Malkin se alimenta da juventude das criancinhas...

Vou explicar o porquê: Zabini disse que a mulher tava ocupada com outros clientes, certo? Certo. No entanto, ela o chamou e eu não vi ninguém saindo e agora ela estava me chamando gentilmente pra entrar na portinha em que as pessoas só entram e não saem.

Aí eu te pergunto: devo entrar? Aposto que vocês devem ter dito: “Entra logo, medroso!”. Se fossem vocês no meu lugar com certeza não iam tá com essa coragem toda!

— Já estou indo, senhora...— Fui andando o mais lentamente possível, avaliando tudo ao meu redor.

Mas para a sorte dos meus pais, azar de vocês e meu tédio, não tinha nada de perigoso lá. Pude ver o quão escura e pesada é minha nova roupa diária, levei algumas agulhadas - de agulhas voadoras, Senhor, me ajude! - enquanto a mulher fazia sei-lá-o-que no pano que seria minha farda e quase morri de derrame ao esperar ela escrever a nota de entrega. Com certeza ela perdia a maior parte do tempo nisso...

O resto do dia foi sem nada de diferente. Meu pai comprou tudo que tinha que comprar com a mesma eficiência com qual administra o dinheiro da família, minha mãe parecia encantada com o mundo mágico - apesar de se benzer a cada dois minutos - e minha irmã estava compenetrada nos livros que ela comprou na tal Floreios e Borrões.

E eu? Estava louco pra voltar pra minha Espanha, pra minha Andalucía, pra minha Sevilla!

Algo me diz que as pessoas ricas daqui não são tão receptivas e simpáticas quanto a minha família - que, vá lá, não é o suprassumo da riqueza, mas também não estamos morrendo de fome!

O que pude observar, e muito, foi a ostentação, tradição e seriedade do mundo bruxo. Tô com medo! Espero que isso não seja um problema pra mim...

***

Quase um mês depois, finalmente chegou o dia “D”. Dia de cair fora de casa e ir para um mundo completamente diferente. Meu humor estava fantástico, quanta alegria! Principalmente porque não irei viajar sozinho, tenho a minha amada irmã pra me fazer companhia...

— Por que estou acordado as quatro da madrugada, mãe?- Apontei para o meu relógio com uma cara de indignação. Diga se de passagem, totalmente desnecessária, afinal de contas eu já estava totalmente desperto...

— Bom dia pra você também, Cesc!- Disse Louise com uma falsa animação e um sorriso mais falso ainda. Retribui o cumprimento com o mesmo carinho.

— Não te desejo um bom dia porque...— Já ia enumerar os milhões de motivos que tenho pra desejar a Louise um péssimo dia, mas fui cortado por uma mãe muito nervosa.

— No caminho vocês brigam!— Os psicólogos adorariam a minha mãe incentivadora de brigas!- Vai se arrumar Cesc, se não vocês dois vão perder o trem!

Olhei pra ela com uma cara de que estava tentando entender o que ela estava dizendo. O trem, o trem, hum... O TREM! Lembrei! Viagem, escola, casas! Minha ansiedade voltou com tudo... Valeu mãe!

Voltei correndo pra me arrumar, por sorte minhas malas já estavam prontas há séculos, se não seria um problemão!

Pegamos um vôo até Londres - se fossemos de trem não daria tempo - e praticamente voamos de novo para a estação de King Cross, tirando a parte do engarrafamento de quase uma hora e meia... Chegando à estação, não havia muito movimento, o que me surpreendeu, afinal já era quase dez e meia da manhã!

— Qual a plataforma, mãe?- Disse tranqüilo, apesar de estarmos meio atrasados...

— Plataforma nove e meia.— Parei e olhei para a cara dela, não achando aquilo tudo uma grande loucura, já tinha aceitado as estranhezas do mundo bruxo, mas não pude deixar de ficar preocupado... Como se chega à plataforma nove e meia?

Minha irmã respondeu minha pergunta mental.

— Acho que... Fica entre a nove e a dez.

Aceitei essa resposta mais que óbvia por hora, tinha até um pouco de lógica, mas sinceramente não sabia que os britânicos gostavam de números quebrados.

Paramos entre a plataforma nove e a dez. Olhei pra cara de Louise e perguntei bem calmamente, leia-se, sarcasticamente.

— E agora?- Ela mordeu o lábio inferior e parecia tentar refletir sem sucesso, até que vimos um rapaz de 16 ou 17 anos passar correndo por nós e atravessar a pilastra que dividia as plataformas, como se essa fosse feita de ar.

— Vocês viram isso, não viram? - Perguntei incrédulo. Todos acenaram afirmativamente com a boca escancarada. Respirei fundo. Bem lá vamos nós... Corri em direção à pilastra, pronto pro choque que não veio.

Vocês devem estar pensando “Nossa! Que corajoso!”, mas eu quase morri do coração! Abri os olhos e dei de cara com um trem vermelho muuuuuuito irado!!! Ok, ok... Tinha aquela cara de peça de museu, mas como eu adoro história, pra mim é uma maravilha!

Fui em direção a ele correndo com a minha bagagem, afinal ela tinha que ir também. O maquinista/carregador me ajudou com a mala, ele foi muito simpático, disse até o nome que é... Enfim, subi no trem! Não. Esse não é o nome dele! Eu não lembro qual é, um dia qualquer eu vou estar com os meus netos e vou dizer “Lembrei! Era não-sei-quem!”, mas por hora é só maquinista/carregador mesmo.

Voltando ao trem, fui andando pelos corredores, a fascinação já tinha acabado. Eu teria sete anos para admirar ele e não sei se tenho mais de sete minutos para achar um lugar descente! Em pé eu não vou! Já estava meio desesperado quando ouvi uma voz familiar...

— Vocês se acham, né?— Era o Zabini! Ele não parecia muito feliz...

— Quem se acha aqui é você, pirralho! Não pode ficar na cabine dos veteranos!— Falou um cara que devia ter uns dezessete anos e meio cérebro.

— Sério? Por quê? Só porque conseguiu por um milagre de Merlin fazer parte do time da Sonserina, acha que todos vão esquecer que você é um cruzamento de ogro com trasgo?- Merda, merda, MERDA! Zabini conseguiu irritar o cara! A briga nem era comigo, mas as minhas pernas começaram a se mexer na direção oposta!

Nem quis ver como a vida, quero dizer briga, de Zabini ia acabar... Mas como eu tenho um imã pra maluco, eu só tive tempo de ouvir algo, que eu não sei porquê, mas tenho certeza de que ainda vou ouvir muito nessa vida:

— CORRE! - Fui arrastado por Zabini, porém, para nossa sorte, nós fomos puxados para uma cabine.

— Abaixem-se, idiotas!— Murmurou uma voz feminina. Obedeci, me sentindo patético, diga-se de passagem... Me pergunto se um dia eu vou rir de uma situação dessas.— Pronto! Podem cair fora agora.

Eu ia implorar pra aquela garota, que eu ainda nem tive a oportunidade de olhar o rosto direito, desgrudar o Zabini de mim - ele tem cara de mega problema e eu já tenho que lidar comigo mesmo - quando vi pela janela minha mãe, vermelha, acho que de raiva.

Eu me despedi dos meus pais não foi? NÃO FOI? Não, não foi. Dei um tchauzinho somado com um sorrizinho amarelo, isso vai ter que bastar.

Minha mãe passou o dedo no pescoço, como se dissesse “Você está morto!”, já mencionei que minha mãe é muito amável? Ainda consegui ver meu pai dar um tchau animado e receber um tapa no braço, dado por ela.

Amável sim, de fato.

Olhei pra dentro da minha cabine - sim, porque ia precisar de muitos sonserinos pra me tirar dessa cabine praticamente vazia - estavam lado a lado, Zabini e a garota - que agora eu pude perceber, era a coisa mais, mais... Estranha que eu já vi - me encarando com uma cara de paisagem. O louco problemático se pronunciou primeiro.

— Cara, sua mãe deve ser BEM carinhosa!- Ele se jogou no banco e deu risada e eu - que sou muito bem humorado - dei um olhar fuzilador na direção dele.

— Saiam os dois! - A garota baixinha de cabelos compridos e loiros presos em uma trança, olhos castanhos e muuuuuuuuuitas sardas falou apontando pra porta. Ela não era estranha totalmente, mas conseguia ter mais band-aids no corpo do que sardas na cara! Novo recorde...

— Desculpe, não entendi. — Realmente não entendi! Por que ela queria se livrar tanto da gente? Zabini completou meu raciocínio.

— Que tipo de heroína é você? Que salva e depois deixa as pobres vítimas jogadas a própria sorte! — Apontou pra mim e pra ele com a mão direita e limpou uma falsa lágrima com a esquerda. Revirei os olhos.

— Ele tem razão! - Disse apontando para Zabini, mesmo com medo da loucura visível dele. – Não vou voltar para aquela selva chamada corredor. — Ela deu risada. Na verdade a garota sardenta gargalhou, se jogou no banco e ficou se contorcendo de rir nele. Olhei pra Zabini com uma cara de espanto, que pude ver refletida na dele quando olhou pra mim também.

— Do que é que você tá rindo? — Zabini perguntou com pouca paciência.

— Ele...- Apontou pra mim, se controlando pra não voltar a rir.- Tem um... Sotaque engraçado!— Voltou a rir, agora acompanhada do idiota que disse que ia pra Sonserina.

— Haha! Muito engraçado mesmo...— Olha quem fala! Ela também tinha um sotaque diferente! Já ia mostrar minha falta de paciência com os ingleses - e sei lá, americanos, australianos? - quando ouvi a porta da cabine abrir com força.

OS SONSERINOS VOLTARAM!

Para minha sorte, meu cérebro é devagar nas horas de pânico extremo, se não eu teria me escondido de forma vergonhosa embaixo do banco e só depois eu perceberia que não era os sonserinos assassinos na porta.

— Achei você!— Minha irmã me olhava com um sorriso de alívio e uma das mãos onde deveria ser o coração dela. Desconfio muito que ele esteja realmente ali...

— Não sabia que estava sendo procurado...— Zabini levantou mais rápido do que um raio e foi se apresentar a Louise.

— Me referia a ele! — Disse ela apontando para mim e tirando a mão dela da mão do futuro sonserino idiota que faria da minha vida um inferno, tomem nota disso. - Mamãe ficou uma fera porque você não se despediu dela...

Ela disse, sentando elegantemente. Zabini foi se sentar também, mas começou a falar antes que Louise concluísse o raciocínio.

— Ah, então foi por isso!— Ele fez cara de entendimento e minha irmã desviou a atenção pra ele, que estava sentado ao lado da loirinha. – Cara! Ela parecia uma fera mesmo! Falando em fera, qual é mesmo o seu nom... — Ele parou ao notar a cara de indignação da minha irmã com o adjetivo, pensou rápido a peste, porque o mesmo movimento que ele ia fazer pra apontar pra ela, ele usou para apontar para a garota ao lado dele.

— Claire Sullivan!— Disse a sardenta, finalmente vencida pelo cansaço. — E vocês são...— Ela disse com um movimento para que nós continuássemos, coisa que eu ia fazer, mas fui interrompido por Zabini.

— Eu sou o Tony— Ah é! Esse o primeiro nome dele! Lembrei! Ou fui lembrado... Tanto faz!- Aquele é o Cesc e ela é a irmã dele. — Apontou pra Louise que se apresentou sozinha.

— Louise Fábregas!— Cumprimentou Claire educadamente e depois olhou pra mim. – Já o conhecia? — Apontou com a cabeça e uma pitada de desprezo, diga-se de passagem, pro pobre Tony.

Não gostava dele não, mas passei a gostar só porque Louise não gostou. Pode dizer o que quiser de mim, mas só o fato da Louise não gostar de alguém é o suficiente pra você poder colocar a pessoa no seu círculo de amizade, porque com certeza é gente boa!

— Nos conhecemos na loja de Madame Malkin— Falei com pouca emoção. – Primeiro amigo de Hogwarts... — Ele me olhou surpreso, no que eu murmurei “Depois eu te explico!”, Tony confirmou com a cabeça.

—Pois é. Só que ele tava com humor melhor do que o de hoje. — Disse o cara de pau! Olha, estou começando a rever meus critérios de amizade.

—Ele sofre de transtorno bipolar...— Louise respondeu. Olhei descrente pra minha irmã. Que dissimulada! –Tem hora que é uma pessoa civilizada, mas na maioria do tempo ele parece um selvagem!

Quanta besteira! Por que essa garota não se enforcou no próprio cordão umbilical? Eu teria ajudado se soubesse o ser humano horrível que se tornaria!

— Isso não é doença de trouxa? - Perguntou Zabini intrigado.

— Não. É doença de maluco mesmo...— Respondeu a loira com um ar de tédio. Tive que interromper aquele concurso de maior idiota da Europa!

— Primeira coisa: o único transtorno que eu tenho na vida está sentado ao meu lado; segundo, trouxa é um termo que designa as pessoas que não são bruxas e terceiro, não sei qual é o termo certo pra chamar as pessoas com problemas mentais, mas tenho quase certeza que não é maluco!— Finalizei meu mini-discurso.

Repararam como eu falei bonito? Dei até uma de politicamente correto no final, porque sim. Louise se perdeu no primeiro item, - já que eu raparei que ela estava vermelha que nem a minha mãe estava antes - Zabini me olhava como se tivesse perdido alguma coisa e a loira só me olhava com a mesma cara de tédio de antes...

— Espera um minutinho aí! Vocês todos são trouxas?— Zabini disse, levantando meio assustado do banco.

— Somos bruxos que nem você Zabini, mas viemos de família trouxa sim, algum problema?- Levantei levemente a sobrancelha direita.

Ele pareceu refletir, colocou a mão no queixo e voltou a sentar. Disse finalmente:

— Por enquanto não! É só o meu pai ficar sabendo, tipo assim... NUNCA, que a vida vai seguir seu curso!— dei risada aliviado, com esse “sangue-puro”, pelo menos, eu não teria problema. 

Só nesse sentido, porque sinto que problema é o nome do meio dele.

A viagem seguiu tranquila, tirando a parte que Sullivan explicou como ela tinha conseguido todos aqueles machucados andando de skate. Não que fosse tão difícil assim entender as manobras que ela tentou fazer. Ruim mesmo foi explicar à Tony o que era e pra que servia um skate...

A moça dos doces passou e eu comprei alguns... Ok! Eu comprei um monte! Mas em minha defesa, digo que naquele trem "luxuosíssimo" não servia almoço!

— Chega de se sujar, digo, comer chocolate, Cesc!- Disse Zabinei cheio de graça... Olha a ousadia do moleque! — Temos que colocar o uniforme, daqui a pouco a gente chega, aí você vai poder comer a vontade na escola... - Disso eu duvidei muito, afinal de contas, nem um almoço no trem eles se dignaram a colocar! Ultrajante...

— Como sabe disso, Tony?- Perguntou Claire, depois de desistir de ir atrás do sapo de chocolate dela. Eles vêm com uma figurinha... O meu veio com um cara de óculos chamado Harry Potter, mas não deu pra reparar nele direito porque a foto sumiu...

— Eu li num livro.— Ele disse, já quase saindo da cabine. Louise se levantou para ir atrás dele.

— Você me empresta esse...— A voz dela foi se misturando as outras no corredor já cheio de gente.

— Pronto pra Hogwarts, Cesc?- Perguntou Claire, com um sorriso indecifrável nos lábios.

— Acho que Hogwarts não está pronta pra mim. - Sou assim de modesto. Saímos atrás de Louise e Tony, rindo do meu comentário - que eu tenho quase certeza que é verdadeiro - entre os milhões de alunos de Hogwarts que não tinham o que fazer e resolveram ficar no corredor. Tony tinha razão, chegamos bem rápido. Quase me perdi de todo mundo naquele mar de gente na hora de sair do trem.

— Por aqui, Cesc!— Ouvi a voz de Claire e me senti sendo arrastado por ela em direção a uma estátua gigante. Epa! A estátua está se mexendo! E é maior do que eu pensava...

Larguei a mão de Claire pra tapar minha boca grande. Já tava até me vendo dizendo: “Minha nossa! Como tu é grande”. O homem giganorme me mataria e eu não seria famoso e bem sucedido em alguma coisa que ainda não sei o que é, mas que com certeza eu vou descobrir!

Seria trágico...

— Minha Nossa! Como tu é grande!- Falou Zabini. Fala a verdade, é de espantar uma coisa dessas! Ele deve ler pensamentos, mas com certeza não tem nenhum dentro da cabeça. Olhei pro lado e fingi que não conhecia a criatura. – Não é Cesc?- Inutilmente, claro! Olhei pro cara prendendo a respiração, mas ele deu um sorriso bondoso.

— É! - Eu disse depois de suspirar bem alto — Quantos metros você tem? Três?- Chutei alto, porque, nossa! O cara era enorme!

— Nunca medi, mas venham, se apressem vão acabar perdendo...— O grandão não terminou de falar, porque uma garotinha ruiva abraçou ele, saída do nada, devo salientar.

—Que saudades, Hagrid! Vovó Molly mandou dizer que ficou chateada porque você não passou o Natal com a gente!— Ela fez biquinho, mas logo desfez dando lugar a um sorriso enorme.

Não pude deixar de ser mal-educado. Só estava pagando na mesma moeda! Não se engane com esse momento família não! Se você reparar bem, ela atropelou a nossa conversa com esse papinho de Natal...

— Desculpa cortar o seu barato, foguinho, mas...—Olhei pro gigante de nome Hagrid e permita-me dizer, mas minha desculpa não foi nem um pouquinho sincera. - O que você estava dizendo antes de ser interrompido?— A ruiva me fuzilou, devo avisar que esse olhar não funciona comigo já que eu praticamente vivo com ele estampado na cara? Ignorei legal...

—Ah, sim! Alunos do primeiro ano, por aqui!- Ele falou para todos, reparei feliz que eu e o idiota do Tony não fomos os únicos a nos surpreender com Hagrid.

Na verdade, só a ruiva, um garoto moreno e outro loiro platinado não se surpreenderam com aquela figura. Quando só ficaram os supostos “alunos do primeiro ano”, o gigante começou a falar coisas como “Bem vindos”, “Estudar em Hogwarts é uma experiência única!”.

Subimos nuns barquinhos daqueles que parecem os de papel que a gente coloca nas corredeiras criadas pela chuva. Coisa mais catita!

Do grande lago que nós navegávamos, deu pra ver que não era nenhum exagero o que o gigante dizia. Hogwarts realmente parecia ser uma escola única.

E que comece nossa história juntos.


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Notas finais do capítulo

É isso, primeiro capítulo postado! Oh, céus, não acredito que voltei para esse mundo depois de todos esses anos, mas a sensação de projeto inacabado é angustiante. E eu tenho bons planos pra história. Aguardem.

Edit: Finalmente tomei vergonha na cara e estou ajeitando algumas coisinhas desses primeiros capítulos, para deixar tudo mais redondinho. Farei aos poucos, porque o tempo é curto.