“Nós só damos valor há algo depois que o perdemos.”

Muitas vezes passamos nossas vidas sem dar valor as mínimas coisas que estão ao nosso redor. Pode ser um dedal, um par de meias velhas ou um caderno do primeiro grau, essas coisas só nos fazem falta quando somem.
Um desespero nos bate de imediato quando notamos a falta dessas coisas. Começamos a pedir para santos, cartas, deuses que nos ajudem a achá-las, mas, nenhum desses recursos o ajudariam a ter o que perdeu de volta.
Seus olhos continuavam a fitar a data de sua vida e morte entalhados naquela lápide mórbida. Os dizeres abaixo eram bregas demais, não combinavam nada com a garota divertida que era ela.
Sua mente vagou pelas poucas lembranças que tinha dela. Acabou por lembrar de quando se conheceram no colégio, ele fez uma piada sobre os olhos claros que ela possuía e ganhou um sorriso dela.
Ele sorriu com aquilo e se deixou tentar ver mais uma, esta era do Dia dos Namorados. Ela estava de branco naquele dia, havia acabado de sair da aula de culinária e para sua surpresa lhe fez um doce caseiro, que teve o cuidado de embrulhar e escrever uma dedicatória.

“Continue a sorrir”

Se naquela época tivesse dado mais valor a frase do que ao estomago, possivelmente, não estaria ali.
Ela sempre esteve ao seu lado, sempre este o ajudando, sendo seu anjo da guarda particular. Egoísta, essa era a única palavra que ele poderia usar para se descrever agora.
Ela era sua base, seu porto seguro, sua casa, por isso nunca a deu verdadeiro valor, por isso deixou-a de lado, porque sabia que ela sempre estaria ali quando ele precisasse.

–Foi minha culpa...

~

Naquele dia, a chuva resolveu ser o acalento do céu, despejando suas pequenas gotículas sobre aquela cidade.
A morena havia sido convidada pelo loiro a pegar uma carona em seu guarda-chuva laranja. Caminharam em silêncio por quase metade do caminho de volta a suas casas. Não haviam muitas pessoas na rua, a chuva afastara a maioria delas. Quem se arriscava eram os estudantes e trabalhadores que almejavam o conforto de seus lares o quanto antes.
Eles vieram a parar embaixo da cobertura de uma cafeteria fechada quando a chuva se intensificou, e foi neste momento que a coragem veio a voz fina da morena.

–Naruto-kun..e-eu amo você!

Silêncio, foi essa a resposta dele e tudo para ela pareceu ser esclarecido. A morena forçou um sorriso e assim que se desculpou, saiu correndo. Como um reflexo ele foi atrás dela, largando seu guarda-chuva sozinho no chão.
Ele acompanhou o borrão da menina até que este se livrou dele ao passar num sinal verde, que o impediu ao ficar vermelho. E foi ai que seu maior erro fora cometido.
O vermelho neon daquele sinal não o fez parar, ele apenas atravessou aquela rua sem se importar ou perceber que algo vinha em sua direção e quando tudo se tornou claro ele já estava sã e salvo no chão. Seu anjo da guarda o salvou no último momento, dando a ele mais uma chance de viver.

~

Foram muitas as horas que passou naquele hospital, até que o último badalar da vida daquela menina ressoou.
Como tinha sida tolo, ingênuo por não notar os sinais. Ela o amava tanto, que sacrificou sua vida, pela dele, mas do que adiantaria viver sem ela?

–Naruto-kun..e-eu amo você!

Existia somente uma resposta a ser dada.

–Eu também te amo..Hinata..

E do bolso de seu casaco negro, ele retirou uma adaga.