— Você não vai tentar atacar Miraz, não é? – perguntou Edmundo.

Os quatro atravessavam o enorme descampado que separava o Monte de Aslam do acampamento do exército de Miraz. O gigante e o centauro iam mais à frente, enquanto Skye e Edmundo seguiam atrás.

— Talvez não. Depende de como meu humor estará até chegarmos lá. – respondeu Skye séria.

— Você está brincando. – disse Edmundo soltando uma risada nasalada.

— Obvio, olhe para mim! Sou inofensiva.

Pelo tom de voz que ela tomara, Edmundo soube que Skye não estava brincando. E uma garota que sabe como usar uma espada não podia ser considerada nem um pouco inofensiva.

— Apenas tente não nos causar problemas. – pediu ele.

— Não se preocupe! Eu não faria nada que colocasse você em perigo. – disse Skye, só depois se dando conta do que havia dito – Eu... hum... quis dizer... que...

— Não precisa se explicar. Seu segredo está seguro comigo. – sussurrou Edmundo rindo.

Assim que chegaram onde o exército de Miraz havia se instalado, se depararam com General Glozelle com muitos soldados esperando-os.

— O que vieram fazer aqui?

— Nós temos um pronunciamento do Grande Rei Pedro para Miraz. – disse Edmundo.

— Rei Miraz. – corrigiu Glozelle.

Skye encarava o general ameaçadoramente. Glozelle os levou até a tenda central do acampamento, onde sentados ao redor de uma grande mesa, estavam Miraz e todos os outros lordes telmarinos. Edmundo pediu para que o Ciclone e Verruma ficassem fora da tenda enquanto ele fazia o que precisava.

Edmundo entrou na tenda, sendo seguido por Skye que ficou alguns passos atrás do garoto.

— Bem, – disse Miraz assim que viu a sobrinha adentrando a tenda – vejo que você já virou a selvagem que eu e sua tia sempre pensávamos que uma hora ou outra você ira virar.

— Que bom que percebeu! Eu me sinto mais feliz do que todos os dias que passei no luxo do seu castelo. – respondeu Skye sorrindo.

Percebendo que aquilo viraria algo maior se não intervisse, Edmundo desenrolou o pergaminho e leu:

— Eu, Pedro, por graça de Aslam, por eleição e por conquista, Grande Rei de Nárnia, Senhor de Cair Paravel, Imperador das Ilhas Solitárias, para evitar o abominável derramamento de sangue, por meio desta, desafio o usurpador Miraz a uma única luta no campo de batalha. A luta será até a morte. A recompensa será total rendição.

— Diga-me Príncipe Edmundo... – começou Miraz.

— Rei. – interrompeu Edmundo.

Skye abafou o riso. Pela vasta convivência que teve com Miraz, ela sabia que ele não gostava nem um pouco de ser corrigido.

— O que disse?

— É Rei Edmundo, na verdade. – explicou o garoto – Só Rei. Pedro é o Grande Rei. Eu sei que é confuso.

— Por que – continuou Miraz. – arriscar tal empreitada se nossos exércitos vão exterminar vocês até o cair da noite?

— Você já não subestimou demais os nossos números? – perguntou Edmundo – Digo, uma semana atrás, os narnianos estavam extintos.

— E vão ser extintos de novo. – respondeu Miraz.

— Então deve ter pouco a temer.

Miraz gargalhou, como se Edmundo tivesse contado uma piada realmente engraçada.

— Não é uma questão de bravura. – disse ainda rindo.

— E por bravura se recusa a lutar com um espadachim que tem a metade da sua idade?

Skye quase beijou Edmundo. Mas se contentou em apenas deixar um pequeno sorriso escapar. Um sorriso de deboche que não passou despercebido por Miraz.

— Eu não disse que me recusava. – objetou Miraz.

— O senhor terá o nosso apoio majestade! – exclamou um dos lordes – Seja qual for a decisão.

— Senhor! – chamou Lorde Sopespian – Sozinha a nossa vantagem militar fornece a desculpa perfeita para evitar um...

— Eu não vou evitar nada! – interrompeu Miraz puxando a espada.

— Eu só quis assinalar que meu Rei está dentro do direito de recusar. – continuou o Lorde.

— Sua majestade nunca se recusaria. – disse General Glozelle – Ele aprecia a chance de mostrar às pessoas a coragem do novo Rei.

— Você. – Miraz apontou a espada para Edmundo – Torça para que a espada de seu irmão seja mais afiada que a pena.

Edmundo entendeu que aquela era a hora de voltarem para o Monte.

— Vamos Skye!

Ele já estava quase saindo da tenda quando percebeu que a garota não moveu um músculo, e continuava encarando Miraz, mas agora ela segurava o cabo de sua espada embainhada.

— Você logo vai receber o que merece por ter destruído não só a minha família, mas toda a Nárnia. – ela disse baixo.

— É o que nós veremos. – respondeu Miraz no mesmo tom.

Edmundo foi até Skye e puxou-lhe pela a mão. Ao saírem da tenda, os dois foram seguidos pelo centauro e o gigante. Eles estavam quase na metade do caminho quando Skye quebrou o silêncio.

— Edmundo.

— Não se preocupe. Eu não direi a ninguém que você quase estragou tudo duas vezes. – respondeu Edmundo sem encarar Skye.

— Não é isso. É que você ainda esta segurando a minha mão.

Era verdade. Edmundo soltara rapidamente a mão da garota, e torceu para que ela não tivesse percebido que ele havia corado.

— Não se preocupe. – ela riu – Seu segredo está seguro comigo.

Ao perceber que ela repetira sua frase, Edmundo sorriu, mas não disse nada.

— Mas se serve de consolo – continuo Skye segurando novamente a mão dele – você pode segurá-la sempre que quiser.

Aquele simples gesto deixara Edmundo um pouco pasmo. Mas ele não queria estragar o momento então continuou sorrindo.

— Eu vou me lembrar disso. – respondeu Edmundo, fitando Skye enquanto apertava mais forte a mão da garota.