Skye levou alguns segundos para digerir tudo o que havia acontecido. Estava mais do que óbvio que ela sentia uma forte atração por Edmundo, e ela não podia mais esconder isso. A garota então decidiu que o melhor a fazer era voltar para o Monte.

Ao entrar, ela conseguiu ver Edmundo e Pedro desaparecerem pelo o corredor que levava até a caverna central.

Susana estava em pé reencostada em uma parede, e parecia imersa em pensamentos, e por isso nem percebeu a chegada de Skye. A garota beliscou Susana devagar, fazendo com que esta levasse um pequeno susto.

— No que estava pensando? – perguntou Skye.

— Em nada, ora. – garantiu Susana, um pouco envergonhada.

— Em nada? Que tipo de “nada” é esse que deixou você tão distraída? – insistiu Skye, cutucando a garota.

— Não é realmente nada importante, só esqueça. – resmungou Susana.

— Sinto muito, mas esquecer não faz muito o meu tipo. – declarou Skye – Eu tenho um palpite, por acaso esse seu “nada” se chama Caspian?

— Do que você está falando? – sobressaltou-se Susana.

— Olha, não é só porque eu sou irmã dele que você não pode ser sincera comiga. Até porque eu não sou cega. Eu vejo o jeito que você olha para ele.

— Não sei do que você está falando. – sorriu Susana.

— Tem certeza? Porque essa foi a mesma coisa que ele disse quando eu falei sobre você. – declarou Skye.

— Quer dizer que vocês têm conversado sobre mim? – perguntou Susana interessada.

— Sim, e por que desse interesse repentino?

— Meu deus, como você é chata! – exclamou Susana.

— Eu tento. – disse Skye, abraçando a garota.

Nesse momento, gritos puderam ser ouvidos de dentro da caverna central. Skye e Susana se entreolharam. Era incrível a capacidade de uma saber o que a outra estava pensando com apenas um olhar, pois em seguida as duas correram até a caverna. Skye só tinha essa ligação com outra pessoa: o irmão.

Ao chegarem à caverna se depararam com a seguinte cena: Caspian estava caído no chão com um enorme corte na mão, uma imensa parede de gelo se erguia entre o arco da caverna, nela havia um reflexo fantasmagórico de uma enorme mulher, e Pedro apontava a espada para a parede, mas aos poucos a espada pendia de sua mão. Ele parecia em transe, enquanto olhava fixamente para a enorme mulher de gelo. Até que finalmente uma espada ultrapassou o gelo e toda a parede que se erguia no arco, simplesmente desabou.

O dono da espada era Edmundo. Ele parecia extremamente cansado, mas tomou fôlego e disse:

— Eu sei! Você estava ganhando.

De alguma forma, Skye soube que a mulher de gelo era a Feiticeira Branca. A garota sempre fora extremamente interessada pela história de Edmundo e em como ele foi capaz de trair os irmãos. Quando conheceu o Rei, Skye sentiu uma imensa vontade de falar sobre a história, mas ela sabia que aquele era um assunto proibido.

Tentando espantar os pensamentos, Skye correu até o irmão, que já estava de pé, e disse:

— Você está bem?

Caspian não respondeu. Ele olhava na direção de Susana, que acabara de sair da caverna pisando duro. Só depois de a garota sumir pelo corredor, foi que Caspian olhou para sua irmã. Skye teve certeza de que nunca vira os olhos de Caspian tão cansados. Ela então teve uma ideia que sempre funcionava quando eles eram crianças.

— Caspian! – proferiu Skye – Conte algo bom!

Aquela era uma mania de Skye. Sempre que algo ruim ou constrangedor acontecia, ela pedia para Caspian contar-lhe algo bom, que era quase sempre memórias de quando Skye era um bebê, e às vezes ele até repetia algumas histórias que Skye costumava gostar mais.

Caspian sabia que aquilo era idiotice para um momento como aquele, mas olhou para os olhos suplicantes da irmã e uma história que nunca contara a ela lhe veio à cabeça.

— Você sabe por que se chama Skye? – a garota negou – No dia que você nasceu, mamãe permitiu que eu passasse a noite com vocês duas. Na hora em que eu entrei no quarto, ela estava segurando você. Eu tinha pouco mais que três anos, mas eu me lembro perfeitamente desse dia. Eu sentei na cama, e mamãe perguntou se eu queria ver você. Eu lembro que no começo fiquei com medo de te machucar. Mas eu sabia que mamãe estava ao meu lado, e nada ruim aconteceria. Então eu vi seu rosto. Eu peguei sua mão pequenininha e você segurou o meu dedo e abriu os olhos. E naquele momento, eu tive certeza que podia ver o céu através do azul dos seus olhos.

— Eu tive a mesma sensação quando vi você pela a primeira vez. – sussurrou Edmundo para que apenas ele escultasse. Mas a caverna estava tão silenciosa que todos puderam ouvir o que o garoto havia dito.

Todos olharam para ele. Skye estava levemente boquiaberta. Assim que seus olhos encontraram com o de Edmundo, ela sentiu que poderia olhar para ele eternamente.

— Acho que mamãe teve a mesma sensação – continuou Caspian – pois ela sussurrou um nome.

— Skye. – a garota sussurrou.

— E foi a partir daquele momento que nós passamos a te chamar de Skye.

Skye estava totalmente confusa. Por causa da história. Por causa de sua relação com Edmundo. Já era de se esperar que após tantos acontecimentos a cabeça da garota ficasse uma confusão só.

Ela se apoiou na Mesa de Pedra, e respirou fundo.  Naquele momento, Skye só precisava de um tempo sozinha.

Antes de começar a correr, Skye olhou para Edmundo. Ela tinha certeza de duas coisas: algo estava mudando Skye, e a culpa era toda dele.