Skye e Caspian andaram em silêncio por algum tempo sem nenhuma direção.  A cada segundo que se passava, mais os dois se sentiam perdidos.

Uma das qualidades de Skye era que ela tinha os ouvidos mais sensíveis que Caspian já tomou conhecimento. E de repente a garota simplesmente parou de andar e puxou a cota de malha do irmão.

— Eles estão nos seguindo. – sussurrou Skye, apenas para Caspian escutasse.

Neste momento, um barulho de galho se partindo pôde ser escutado atrás deles. Caspian virou-se e disse:

— Estou ouvindo vocês.

— Eu só acho que deveríamos aguardar os reis e as rainhas. – Caça-trufas explicou, saindo de trás de uma árvore, sendo seguido por Nikabrik.

— Se eles realmente vierem, eu acho que encontrarão algum modo de chegar até nós. – resmungou Skye.

— Tudo bem, vão logo! Vejam se os outros vão ser tão compreensivos.

Os dois continuaram andando, sem dar ouvidos aos protestos do texugo. Eles só pararam quando Nikabrik proferiu:

— Talvez eu vá com vocês. Quero ver como explicarão tudo aos minotauros.

— Minotauros? – perguntou Caspian, claramente assustado – Eles existem?

— E são muito mal humorados. – acrescentou Caça-trufas.

— Além de serem grandes.

— Enormes.

— Vocês só estão falando isso para tentar nos assustar. – rebateu Skye.

— Você quer apostar? – desafiou Nikabrik.

— E os centauros? – perguntou Caspian, voltando a andar – Eles ainda existem?

— Os centauros podem lutar do seu lado. – Caça-trufas ultrapassou Skye e Caspian, e agora andava a frente dos dois – Mas não sei se os outros lutarão.

— Eles não devem ser tão ruins assim. – falou Skye.

— Acredite, você só diz isso porque não os conhece. – disse Caça-trufas.

— Quando eles conhecerem as causa de Caspian, com certeza se juntarão a ele.

— Mas e o Aslam?

Caça-trufas e Nikabrik, que andavam á frente dos dois, pararam bruscamente após ouvirem o a frase de Caspian. Mais uma vez, os narnianos trocaram um olhar.

— Como vocês sabem tanto sobre nós? – perguntou Nikabrik – Primeiro, a garota sabia sobre a trompa, e agora isso?

— Histórias – respondeu Caspian.

— Eu não sei se vocês perceberam, mas existem muitas lendas e historia sobre Nárnia. – acrescentou Skye.

— Espera um pouco, o pai de vocês lhe contou histórias sobre Nárnia? – perguntou Caça-trufas.

— Não, o meu tutor. Ele... Olha, me desculpa. Não é o tipo de pergunta que vocês deveriam fazer. – respondeu Caspian se afastando dos dois.

— O que foi? – perguntou Nikabrik.

— E você ainda pergunta? – disse Skye

— Não estou falando com você.

Skye e Caspian pararam e andar e olharam para Caça-trufas. Suas narinas estavam dilatadas, como se farejasse algo.

— Humanos.

— Eles?

— Não... Eles. – ao longe, muitos soldados telmarinos se aproximaram de onde os quatro estavam.

— Eles não desistem mesmo! – sussurrou Skye inconformada.

Todos os soldados estavam armados com bestas e quando viram os quatro começaram a correr em sua direção.

— Corram!

Para Caspian, era fácil correr, mas não podia se dizer o mesmo sobre Skye.  A garota era uma ótima corredora, menos quando estava de vestido. As vestes azuis da garota dificultavam até na simples ação de respirar, imagine correr. Após longas passadas, ela acabou tropeçando no maldito vestido.

— Vamos, Skye! – Caspian levantou a irmã, e ajudou-lhe a correr.

Várias setas passavam ao lado da cabeça de Skye. Algumas atingiam as árvores ao seu redor.

De repente, Skye escutou um grito de dor, e Caspian a soltou. Caça-trufas tinha sido atingido, e claramente não podia mais correr.

— Ah não! – exclamou Nikabrik.

— Espere. Eu vou. – disse Caspian, indo até o texugo.

— Vamos garota. – Nikabrik tentou puxar Skye.

— Eu não vou sem o Caspian.

— Toma! Vai! É mais importante do que eu. – Caça-trufas estendia a trompa na direção de Caspian.

Caspian puxou a trompa, mas ele não desistiria de Caça-trufas. Os soldados se aproximavam cada vez mais de Caspian, e apontavam as bestas diretamente para o garoto. Mas um dos soldados gritou e simplesmente caiu no chão. A mesma coisa aconteceu com outros dois.

Caspian aproveitou a oportunidade para colocar Caça-trufas nos ombros e correr. Os soldados que sobraram continuaram tentando atirar em Caspian. Porém mais deles caíram.

— Toma conta dele. – Caspian entregou Caça-trufas para Nikabrik, que ajudou o texugo á andar, e depois ele puxou sua espada e parou de correr.  – Skye, está na hora de você mostrar sua habilidade com a espada.

A garota, que estava sempre seguindo o irmão, desembainhou a espada, animada. Era evidente que algo atacou os soldados. E isso ficou mais evidente no momento em que o último soldado caiu e algo avançou em Caspian, fazendo-o cair.

Era uma coisa pequena e peluda que pousou em cima do peito de Caspian. Skye sentiu uma imensa vontade de rir após perceber que era um rato muito maior que os ratos convencionais, que usava uma pluma vermelha atrás da orelha.

— Escolha suas últimas palavras com cuidado, telmarino. – o rato apontou sua pequena espada para o rosto de Caspian.

— Você... é um rato!

— Eu esperava ouvir palavras mais originais. – suspirou o rato. – Pega a sua espada.

— É... Não, obrigado. – respondeu Caspian. Skye estava se divertindo muito com a cena.

— Pega logo! – ordenou rato. – Eu não luto com um homem desarmado.

— É por isso que talvez eu viva mais se escolher não cruzar lâminas com você, nobre rato.

— Foi você que atacou os soldados? Um rato? – perguntou Skye segurando o riso.

— Não precisa lembrar-me de minha nobre espécie, bela donzela. E respondendo sua pergunta, sim fui eu! – respondeu pomposo, mas ainda apontando a espada para Caspian – Porém, se a senhorita me der licença, eu preciso resolver alguns assuntos com este soldado.

—Claro, continue – assentiu Skye rindo baixinho.

— Continuando, eu disse que não lutaria, não disse que o deixaria vivo.

— Ripchip! – gritou Caça-trufas, sendo ajudado por Nikabrik – Não o mate!

— Caça-trufas! Espero que tenha um bom motivo para me interromper de forma tão inconveniente.

— Ele não tem, vá em frente. – disse Nikabrik. Skye se segurou para não chutar o anão, que agora se encontrava ao seu lado.

— Foi ele que soprou a trompa! – explicou Caça-trufas.

— O-o que? – perguntou Ripchip, estarrecido.

— Então deixe que ele se explique. – disse uma voz grossa.

Ao virar na direção da voz, Skye se deparou com a coisa mais magnífica que havia visto até agora: centauros.

— Foi por isso que nós nos reunimos. – falou o maior dos centauros.

Ripchip saiu de cima de Caspian, assim que viu os centauros. Skye estava estática. A garota sempre se encantara pelas histórias que o professor lhes contava sobre centauros, mas ela nunca achou que veria um. Caspian estava tão espantado quanto sua irmã.

— O que você quer dizer com isso? – perguntou Skye, tomando coragem para falar, algo que Caspian não estava conseguindo.

— Todos os narnianos se reuniram, assim que a trompa foi tocada. E hoje à noite, o destino de vocês será decidido. – respondeu o centauro.

— Como assim “vocês”?  Eu não soprei trompa nenhuma!

— Você está aqui, e as estrelas nunca erram. A profecia já está traçada. – outro centauro respondeu.

— O que? Espere, que profecia? – objetou Skye, mas ninguém deu muita atenção para o que ela dizia.

O que aquilo queria dizer? Skye se sentia mais confusa do que nunca, e ela queria dizer algo, mas ao olhar para os centauros, ela sentiu um calafrio e soube que aquela não era a melhor hora para suas objeções. Após alguns segundos de extremo silêncio, Caça-trufas falou:

— Temos que ir até os outros, não podemos mais ficar aqui.

— Nós mostraremos o caminho. – disse o grande centauro.

Então, eles começaram a andar – não antes de Skye usar sua espada para rasgar seu vestido até os joelhos, pois de acordo com ela, só assim conseguiria andar. Foi um caminho pequeno até que eles chegassem a uma clareira.

Havia muitos narnianos, e para Skye, aquilo era um sonho que virava realidade. A garota sempre sonhara em ver pelo menos um narniano, e agora ela já conhecera vira vários.

Quando os narnianos viram Skye e Caspian, um silêncio tomou conta do lugar. O centauro maior percebendo o efeito que os dois humanos haviam trazido e resolveu tomar uma atitude.

— Hoje à noite, haverá uma reunião. Por meio desta, nós decidiremos o que faremos com o Filho de Adão e a Filha de Eva. Até lá, ninguém incomodará nenhum deles.

Isso foi o bastante para todos deixarem Caspian e Skye em paz pelo o resto do dia, apesar de que às vezes os dois recebiam olhares tortos.

Ao final da tarde, os dois sentaram na sombra de uma árvore e começaram uma preparação silenciosa para as próximas horas, pelos menos até Skye proferir:

— Apesar de eu estar adorando tudo o que está acontecendo, eu acho um abuso eles fazerem uma reunião para decidir o nosso futuro. É como se a nossa opinião não valesse de nada.

— E não vale. Mas mesmo assim, eu espero que você não tente fazer nenhuma peripécia contra eles. – advertiu Caspian.

— Eu? Você realmente acha que eu faria isso? – perguntou Skye, com uma voz afetada.

— Sim, você faria. Quando se trata de fazer algo impulsivamente, eu não confio em você!

Aquele foi o fim da conversa, e os dois passaram todo tempo e silêncio, observando os narnianos, pelo menos até o meio da noite, quando Caça-trufas – com um curativo onde a flecha lhe feriu – vir chama-los para o início da reunião.

Apesar de não demonstrar nada, Skye estava um pouco nervosa. Até porque não é todo o dia que narnianos se reúnem para falar sobre ela.

Caça-trufas levou os dois até um lugar mais afastado da clareira, onde todos os narnianos que eles haviam visto estavam em um círculo. Ao chegarem, a grande maioria de seres que ali se encontravam começaram a gritar palavras de ódio e vaiar, enquanto Caça-trufas posicionava os dois no meio do círculo. Em um impulso, Skye segurou a mão do irmão.

Aquela sem dúvida seria uma longa noite.