“O silêncio assusta, porque a gente não tem ideia se a pessoa está sentindo a nossa falta ou se está gradualmente aprendendo a nos esquecer.” Autor desconhecido

Ela estava sentada analisando uma foto antiga. Nessa fotografia havia Garcia, Morgan, Rossi, Hotch, JJ, Reid e ela própria, todos estavam sorrindo, até mesmo Hotch e esse pensamento a fez sorrir.

Ele sabia o procedimento, levar somente o necessário, apenas o necessário. Mas de última hora ele adicionou um punhado de fotografias em sua mala. No meio de fotografias de Hayley, Jack e a equipe, havia uma de dois agentes morenos sorridentes e embriagados. Ele se lembra da data em que a fotografia foi tirada, Las Vegas 2008, eles tinham a noite de folga, ela o chamou para o bar e eles beberam, ele nunca soube ao certo o que a levou a chama-lo e nunca pensou no porquê ter aceitado.

Ela se perguntou se quando ela foi embora ele pensou nela, ela se perguntou se isso era normal. Mas de fato deveria ser, afinal agora ela está ocupando o lugar dele, tentando substituir alguém insubstituível e claro ela está dedicando cada minuto do seu tempo livre a caçar o animal que está fazendo ele se esconder.

Analisando a foto ele pensa na ironia da situação. Por muito tempo ele quis que ela fosse embora, mas ela conquistou sua confiança, durante anos ela foi sua subordinada e quando ele começou a olha-la com olhos diferentes eis que o Doyle ressurge na vida dela e pela primeira vez na vida dele, ele arriscou sua carreira por alguém. Então após sete meses ela voltou, mas não era mais a mesma, aliás nenhum dos dois eram. Ela passou por uma experiência de quase morte e ele foi para a guerra, isso muda as pessoas. As vezes ele próprio tinha pesadelos com ataques surpresas ou gritos de soldados feridos, mas durante o dia ele sempre se empenharia em observa-la de perto, ver como ela estava lidando com sua readaptação. Ele viu que ela não estava bem e ele só queria ajuda-la, naquele dia no jato ela precisava de um amigo e assim nasceu o acordo do dia ruim. Com isso ele tentou olha-la novamente como amiga, mas as coisas já estavam se tornando difíceis, então ele conheceu Beth e bem... Ela lembrava alguém.

Voltando o olhar para a pilha de papeis em sua mesa, ela pensa nele. Quando se conheceram ele era um chefe que não a queria por perto e a ultima vez que ele a viu ele refez a proposta para ela voltar, mas ela disse não agora. Ela refletiu mais sobre a relação de ambos, desde o atentado de Foyet contra a vida dele, ela percebeu um sentimento diferente em relação a ele, era um desejo de cuidar e estar por perto, mas ela se convenceu de que eram apenas amigos. Após a transferência de JJ ela se aproximou mais dele, mas então houve toda aquela bagunça com Doyle e ela meio que acabou morta. Sete meses depois ela voltou e ele também, ela percebeu que ele estava diferente, as vezes ela o observava sem que ele notasse. Ela sempre teve um forte palpite sobre o que havia mudado, o olhar em seu rosto ela conhecia bem, era o olhar de quem viu a guerra, seu avô o possuía, seu pai e ela não duvida que ela própria possua. Ele seria boba se não notasse que eles ficaram ainda mais próximos do que antes, no entanto ambos precisavam de um amigo para o momento e foi no que a relação deles permaneceu.

Após ela partir ele ficou dias a espera de uma ligação, mas essa ligação nunca veio. Ele pensou se ele deveria chamar, mas o que ele diria? Ele nunca foi bom em conversa fiada. Se fosse honesto consigo mesmo, ele admitiria que ficava enciumado sempre que ouvia algum membro da equipe dizer que conversou com Emily no dia anterior. E assim se passaram dois anos até que ele finalmente ligou para ela, mas não era uma conversa que ele queria ter nunca, ele estava pedindo ajuda a ela para salvar um agente dele em perigo, um que ele apenas não era capaz de salvar. E assim ela veio e o ajudou, cortou seu coração quando ela disse que teria apenas mais seis horas no país, da mesma forma que cortou quando ele a levava para o hotel e antes dela descer do carro ele propor a ela voltar, mas ela apenas lhe deu um beijo na bochecha e disse não estar pronta. 

Ela sabia que era um tiro no escuro e estava deixando sua obsessão tirar proveito dela, mas ela precisava falar com ele. Ela pediu ajuda, ele tentou se esquivar, mas ela sabia quais os botões apertar. No fim deu tudo certo e o UNSUB estava morto, ela estava satisfeita com si mesma. E mais uma vez a noite dela terminou com ele pedindo para ela voltar para a equipe, dessa vez no lugar de Morgan, dessa vez não houve contato físico, ela apenas lhe deu um sorriso amarelo e disse que no momento sua vida está em Londres. Ela rolou os olhos com sua própria fala, pegando uma taça e enchendo-a de vinho ela pensa no fato de que até há poucos meses Londres havia se tornado uma casa para ela, mas bastou um pedido de Hotch e ela estava considerando ficar permanentemente em Washigton e bastou apenas alguns dias para ela se sentir em casa novamente.

Ele queria ligar, mas não poderia se dar ao luxo de colocar sua posição em perigo.

Ela queria ligar, mas nem ao menos tem o número dele.

Ele quer ligar, mas não pode.

Ela quer ligar, mas não deve.

Mais do que ligarem para o outro, ambos desejam receber a ligação. No entanto eles sabem, que se essa ligação não aconteceu anos atrás, não será agora, muito menos nessas condições em que ele se encontra. O que resta agora é esperar e ter fé que dias melhores virão.  

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