Lua Crescente - Blackswan escrita por Mandy


Capítulo 2
Inesperado




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Não sei quanto tempo demorou até que eu decidi levantar do sofá e ir para casa. Eu deveria estar lá quando Charlie chegasse do hospital, ele estaria péssimo e eu não tinha estado muito presente nos últimos dias. Jacob estava dormindo tão tranquilo que relutei em acordá-lo, mas, assim que cheguei a porta, ele já estava desperto e seus olhos varriam o cômodo me procurando.

– Hey, Jake, você estava dormindo tão bem que eu não quis te acordar. Eu vou pra casa... Charlie deve chegar logo. – falei encostada na lateral da porta entreaberta.

– Nada disso, Bells, eu levo você. Espere aqui enquanto eu busco a sua picape. – ele disse bocejando enquanto levantava do sofá e se espreguiçava. Não pude deixar de perceber seu corpo e como ele havia mudado em tão pouco tempo. Gene de lobisomem. Desviei o olhar rapidamente, com medo que ele percebesse e terminei de abrir a porta sem encará-lo.

– Tudo bem. – falei enquanto ele passava. Não demorou muito tempo, ouvi o ronco do motor da minha velha picape e Jake parou-a em frente a varanda, abrindo a porta para mim. Encostei a porta e fui em sua direção, aceitando de bom grado o convite silencioso em seu sorriso.

Assim que entrei na picape, a mudança de temperatura cobrou seu peso e eu me senti estremecer ruidosamente e me agarrei mais ao moletom cinza que Jake me entregara em sua casa para vestir.

– Está 39 graus aqui. – ele disse sorrindo e tirou uma das mãos do volante, me trazendo para perto dele pelos ombros. Me aconcheguei a ele, não deixando de perceber como seu calor era melhor e mais eficiente do que o moletom. Meu sol particular.

Eu estava tentando não pensar no que acontecera mais cedo, mas meus pensamentos me traíram e foram direto para a praia de La Push, quando eu beijei Jacob Black. Lembrei-me de ter desejado que Jacob fosse meu irmão. Agora percebia o que eu de fato queria era reivindicá-lo para mim. Não tivera nada de fraternal naquele beijo e surpreendi-me pensando no quanto eu gostara e até em como eu queria repetí-lo, antes de me censurar mentalmente. Jacob era um porto seguro – quente, reconfortante e familiar. Mas eu tinha de dizer tudo a ele, sabia disso. Era a única maneira de ser justa.

Precisava explicar direito, para que ele soubesse que eu não estava me recompondo, que ele era bom demais para mim. Ele já sabia que eu estava arrasada, essa parte não o surpreenderia, mas ele precisava saber a extensão disso. Tinha de admitir até mesmo que estava louca – explicar sobre as vozes que ouvia. Ele precisava saber de tudo antes de tomar uma decisão.

Mas, mesmo quando reconheci essa necessidade, sabia que ele me aceitaria, apesar de tudo. Ele sequer pensaria duas vezes.

Teria de me comprometer com isso – comprometer o máximo de mim que ainda restava, cada um de meus fragmentos. Era a única maneira de ser justa com Jacob. Será que eu faria isso? Conseguiria? Seria tão errado tentar fazer Jacob feliz? Mesmo que o amor que eu sentia por ele não passasse de um eco fraco do que eu era capaz de amar, mesmo que meu coração estivesse muito longe, lamentando por Edward, seria assim tão errado?

Percebi que o encarava depois que constatei um sorriso imenso em seu rosto. Pisquei duas vezes para afastar meus pensamentos e vi que ele esperava uma resposta para alguma coisa.

– Desculpe. O quê? – perguntei de forma boba.

– Perguntei no que você estava pensando – ele repetiu, o sorriso ainda em seus lábios.

– Em você. – respondi sinceramente e sem pensar. Droga, eu tinha que parar com essa mania recém adquirida de fazer as coisas sem pensar antes.

– Bells, o que aconteceu hoje depois que eu te salvei... – ele começou, o sorriso vacilando quase que imperceptivelmente – Eu preciso... Olha, será possível que você sinta só um pouquinho do que eu sinto por você? – ele perguntou, a voz não passando de um fio.

Minha respiração se acelerou um pouco, arranhando minha garganta que ainda doía por causa do quase afogamento.

Edward, embora indiferente, não gostaria que, dadas as circunstâncias, eu fosse o mais feliz possível? Ele não me negaria isso: dar ao meu amigo Jacob só um bocadinho do amor que ele não queria. Afinal, não era o mesmo amor.

Mas eu conseguiria fazer isso? Conseguiria trair meu coração ausente para salvar minha vida patética?

Borboletas assaltaram meu estômago quando pensei em diminuir a distância entre nós pela segunda vez naquele dia. E depois, tão clara como se eu corresse um perigo imediato, a voz aveludada de Edward sussurrou em meu ouvido.

Seja feliz”, disse-me.

Fiquei paralisada por alguns momentos e Jacob interpretou minha reação de forma errada.

– Não, esqueça, olha, eu sei que não é assunto pra hoje. Só... Saiba que eu vou estar aqui por você. – ele disse me olhando nos olhos e se aproximando mais de mim, como eu pensei em fazer antes. Porém, eu o contive antes, espalmando a mão em seu peito.

– Eu... Preciso te explicar algumas coisas. – Era isso. Eu devia isso à Jacob. E o faria o mais rápido o possível. – Você pode voltar à noite? Quando Charlie já tiver ido dormir? Eu deixo a janela do quarto aberta e você sobe como naquela noite.

Mas que droga! – ele sibilou, batendo as mãos no volante.

– Jake? O que foi? – perguntei alarmada.

– Tem um vampiro em sua casa. – ele respondeu observando minha reação.

– Vampiro? Como você sabe? – perguntei me agitando em seus braços para ver a varanda da minha casa. Meu coração falhou quando reconheci o carro. O Mercedes preto de Carlisle. – É do Carlisle. O que ele... O que eles estão... – tropecei nas palavras e tateei a porta do carro procurando a maçaneta. Jacob me segurou forte pelo pulso, me fazendo virar para ele.

– Bella, por favor... Não vá... Fique aqui comigo. Por favor. Fique viva. Por mim... Por Charlie... – ele pediu, a voz mergulhada em tristeza, assim como sua expressão. E foi aí que minha cabeça deu um estalo e eu percebi. Percebi que não podia ficar sem Jacob, sem sua segurança, sem seus abraços quentes que me mantinham inteira. Não podia e não queria ficar longe de seus sorrisos quando eu aparecia na sua oficina, sem seu bom humor costumeiro quando passávamos a tarde inteira juntos tomando refrigerantes quentes em latas.

Larguei a maçaneta e rodeei seu pescoço com meus braços, buscando faminta sua boca e o beijando como se aquela fosse a última hora de nossas vidas e fui recebida com alívio por seus lábios. Meus dedos puxavam com força seus cabelos querendo que a distância entre nós se tornasse ainda menor. Por alguns instantes me senti completa nos braços de Jake, quase como se pudesse me manter inteira e me agarrei àquele sentimento assim como minhas mãos agarravam seus cabelos. Mas, mais uma vez, fui a primeira a nos separar. Maldito ar que me faltava!

– Eu preciso entrar... – falei, a culpa me consumindo. Ele começou a protestar, mas coloquei um dedo na frente dos seus lábios o impedindo. – Por favor, espere aqui. Ainda quero conversar com você. Só preciso... Preciso esclarecer isso.

– Não vai acontecer, Bella. – ele disse, a voz fria enquanto olhava para longe de mim.

– Jake...

– Bella, só... Entre nessa maldita casa. E veja se não tenta se matar outra vez. Eu vou embora. – ele disse e se afastou de mim de uma só vez, abrindo a porta da picape e correndo em direção à floresta.

Me recostei no banco tentando afastar as lágrimas que se formavam. Quase podia ver todos os fragmentos de mim mesma que se separaram novamente pelo chão. Mas não podia me apegar à isso agora. Virei o rosto para o carro preto estacionado em frente à minha varanda e sai do carro apressada.

– Olá? – me obriguei a perguntar quando acendi a luz da sala.

– Bella? – consegui distinguir uma figura pálida e miúda no canto do cômodo, antes que ela se movesse rapidamente em minha direção, parando em minha frente. Não era Carlisle. Muito menos... ele.

– Alice! – gritei, minha voz esganiçada por causa da surpresa, enquanto eu corria ao seu encontro, a abraçando imediatamente. Correr em direção à Alice era como correr de encontro à um muro de tijolos, irremediavelmente dura. Mas seus braços logo me circularam, parecendo aliviados.

– Quer me explicar como é que está viva? – ela perguntou depois de um tempo, me puxando para o sofá. Passei meus braços por sua cintura fina querendo prendê-la ali pelo maior tempo possível. – Eu vi você pulando de um penhasco e então não consegui vê-la mais!

– Eu... Eu não estava tentando me suicidar. Estava me divertindo. – falei, assentido freneticamente para me dar mais crédito e olhei em seu rosto.

– Se divertindo? – perguntou incrédula – Como foi que saiu de lá?

– Meu amigo... Jacob Black... Ele me encontrou. – falei insegura com sua reação.

– Mas como foi que eu não o vi em minhas visões? – ela perguntou agora me olhando pensativa.

– Eu não sei, eu... – hesitei antes de continuar. Não era para isso que eu entrara em casa. – Ele voltou com você? – perguntei baixo, sabendo que ela iria ouvir.

– Não, Bella. Sinto muito. – ela se desculpou, os olhos desolados. – Ele não fala mais conosco também. Estava no Brasil, em algum lugar do Rio de Janeiro da última vez que o vi em minhas visões.

Abri minha boca para responde-la, mas não consegui encontrar nada para dizer. De repente a raiva era maior do que o torpor em que eu estivera todos esses meses. Como ele pode ser tão egoísta a esse ponto? Ele tinha deixado à mim, mas isso eu conseguia entender. Ele não me amava mais e eu sempre soube que isso aconteceria algum dia; ele era bom demais pra mim. Mas deixar os Cullen, sua família, Carlisle que sempre se sacrificou tanto por ele? Deixar a todos que se importam com ele preocupados por causa de um capricho?

Levantei-me apoiando na parede e respirei fundo algumas vezes tentando me acalmar. Ele realmente me pedira para não fazer nada imprudente enquanto ele mesmo largava a própria família para ir para outro continente? Me encolhi levemente. A mais vaga lembrança daquela noite em que ele partira, mesmo com toda a raiva, ainda fazia doer todas as partes do meu ser. Eu queria odiá-lo. Queria dizer que não o queria ver na minha frente, que a raiva que eu sentia era maior do que o amor, mas não podia. Não podia porque não era verdade. Uma parte mínima e egoísta de mim pensou com esperança que, se ele não tinha largado apenas a mim, ainda havia esperança para nós. Mas a outra parte, o pouco de racionalidade que ainda havia em mim, dizia que aquilo não queria dizer nada. Isso só o deixava mais longe de mim. Mas inalcançável.

– Bella, tudo bem? – Alice me perguntou, tocando meu braço de leve. Balancei a cabeça em negação, incapaz de responde-la. Aceitei de imediato o abraço que ela me ofereceu e senti as lágrimas começarem a cair.

– Sinto tanto a sua falta... – admiti, o rosto escondido em seu pescoço.

– Eu também. Desde que nos mudamos – ela disse, me abraçando mais forte.

– Fique... – pedi, me agarrando a um fiapinho de esperança. Se eu não podia tê-lo, pelo menos poderia tentar ter um dos Cullen e me apegar à verdade de que eles nunca foram ilusões. Que tudo o que eu passei com ele, com eles, nunca fora apenas invenção da minha mente conturbada.

– Eu queria, mas... sinto muito. – ela se desculpou, me afastando gentilmente e secando minhas lágrimas com os dedos finos e gelados – Preciso voltar. Ninguém sabe que eu estou aqui. – ela sorriu triste.

– Tudo bem... – eu disse, me sentindo desmoronar novamente.

– Bella? – Jacob irrompeu pela porta esquadrinhando a sala com preocupação. O alívio ganhando espaço em seus olhos assim que seu olhar recaiu sobre mim enquanto ele vinha a passos largos me abraçar.

– Jake? Achei que tinha ido embora... – falei baixo demais. Não que fosse um problema para as duas pessoas presentes em minha casa. Não pude evitar a felicidade que se instalou em mim ao ver que ele mudara de ideia. Eu sabia que precisaria dele comigo, agora mais do que nunca.

– Vim só conferir se ainda estava viva. Não vou ficar. – ele disse, se afastando cedo de mais.

– Não... Não, por favor, fique... – pedi tentando controlar o pânico que eu começava a sentir. A ideia de ser abandonada novamente na mesma noite era aterrorizante.

– Esse é o seu amigo, Bella? – Alice perguntou cuidadosamente, franzindo o nariz.

– Sim... Jacob Black. Foi ele quem me... tirou da água hoje.. – falei ainda um pouco atordoada. – Jacob, essa é a...

– Alice Cullen. – ele me interrompeu, olhando com ar hostil para ela. Eu quis brigar com ele e censurá-lo por agir de forma tão grosseira com ela, mas simplesmente não tive forças.

– Bem, obrigada por salvar Bella. – ela disse, educada, mas medindo Jacob com os olhos.

– Não fiz isso por vocês. Fiz por ela.

– Da mesma forma, agradeço. – ela disse e virou o olhar para mim – Bella, você me acompanha até o carro? – perguntou, o tom de tristeza voltando à sua voz.

– Não precisa, estou de saída. – Jacob disse, se afastando de mim. Segurei sua camisa com força e ele pareceu entender o recado, pois me abraçou com força e falou baixo em meu ouvido: - Vou voltar. Assim que ela for embora. – assenti e o observei ir embora. Assim que ele fechou a porta, Alice se virou para mim, formando a pergunta com muita cautela:

– Bella, você e ele... Vocês... Vocês estão juntos?

– Não! – eu a corrigi rápido – Claro que não, Alice, como você pode...

– Bella, acalme-se, ok? – ela pediu, aproximando-se de mim – Não sou ninguém para julgá-la. Quero que ao menos tente ser feliz, apesar de eu sempre ter achado que isso deveria acontecer com o Edward. – só a simples menção do nome dele me fez estremecer e acho que ela percebeu isso, pois apressou-se a se desculpar – Sinto muito. Ainda dói, não é? – apenas assenti em resposta, abraçando meu corpo, um hábito que tem se tornado muito comum para mim ultimamente. – Me escute. Por mais que eu ache que meu irmão tomou a pior decisão de toda a vida dele, ele tinha um propósito. Ele queria que você levasse uma vida sem riscos, que você tivesse uma chance de viver longe de toda a loucura que o nosso mundo impôs a você. Não dou razão a ele, mas estou lhe pedindo que tente. Tente ver como é a vida longe de nós. Vou estar sempre de olho em você se algo der errado, mas não deixe que todo esse sofrimento seja em vão. Nem mesmo eu posso ver o futuro com certeza, mas posso lhe garantir que não lhe fará mal algum. – ela terminou e se pôs nas pontinhas dos pés para me dar um beijo no rosto. – Por favor, não faça com que pular de penhascos se torne uma rotina.

– Se eu o fizer, você volta? – perguntei com ar sério. Ela apenas me olhou com censura, um sorriso leve de canto se revelando.

– Cuide-se. Eu não suportaria voltar um dia e ver que você não está aqui mais – ela terminou, sumindo em seguida. A única coisa que ouvi foi o motor do Mercedes ficando cada vez mais baixo com a distância.


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Notas finais do capítulo

Leitores fantasmas, revelem-se, obg
Beijo



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