Chocolate branco escrita por Lorde


Capítulo 2
Capítulo 2 — Raiva


Notas iniciais do capítulo

Não tenho desculpas para a demora, só agradecimentos para quem esperou e não deixou de acompanhar ♥
Estou enfrentando algumas dificuldades em relação á escrita. Agora que eu me toquei que mesmo estando anos no universo das fanfics, nunca cheguei a escrever e completar alguma história. Quando estou trabalhando nesta aqui, escrevo capítulos paralelos e essa não é minha intenção. Estou aprimorando minhas habilidades, então, se tiver alguma crítica construtiva pra mim, aceito de bom grado.



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Thomas bufou e revirou os olhos a resposta da amiga, mas nada disse; sabia que estava errado porém nunca admitiria. Uma parte sua reclamava de frustação por ter sentido ser deixado para trás, enquanto sua consciência clamava que estava errado e não seria nada justo ficar bravo com ela. Por isso, quando o sinal bateu e o educador da matéria em questão deixou a sala, ele levantou os ombros levemente fingindo indiferença e deu um sorriso fraco para Michel.

Foi a característica expressão carrancuda de outro professor com que fez que eles virassem corretamente para a frente. Nada a ver com respeito, apenas não queriam complicar-se, mas por dentro, podia-se ter certeza que todos estavam insatisfeitos. Quando a aula começou, a maioria já suspirava e outros xingavam mentalmente. Thomas não foi excessão, mesmo com o tempo a passar e assim continuara.

O garoto mexia no celular distraidamente no celular enquanto o professor explicava novamente sobre a segunda guerra mundial. Não, mais especificamente, só falava que Hitler fora muito cruel por manter os judeus nos campos de concentração. O negro não sabia se o educador só tinha aquele pouco de conhecimento do assunto ou simplesmente não ligava para explicar melhor o que acontecera ali. Desde que lera alguns livros ficção-história e relatos sobre, as aulas pareciam superficiais.

"Ciganos, poloneses, afro-germanos, prisioneiros de guerra, testemunhas de Jeová, homossexuais, pessoas anti-sociais, africanos, eslavos, comunistas, maçons...''

Ele sabia que o maior número de mortos e perseguidos eram os judeus, mas ninguém falava dos outros grupos dizimados. Não que estivesse desmerecendo o sofrimento dos judeus, de maneira nenhuma! Só sentia que outros foram excluídos e que pereceram em vão, visto que suas mortes não são discutidas ou lembradas.

Tão entretido estava que levou um susto ao ouvir o berro do homem ao gritar — desligando seu aparelho rapidamente e tentando o esconder atrás do estojo —  o nome de Michel,  A mesma o olhava desleixadamente, com o aparelho ainda ligado  na mão.

— É por isso que a geração está perdida! Os jovens de hoje em dia só sabem ficar mexendo no celular, em redes sociais! Então crescem sendo BURROS, IGNORANTES, e o Brasil fica como está hoje! Mas ninguém liga, né?! E nós, os professores passamos nervoso e não somos reconhecidos! E-

— Você ao menos sabe o que estou mexendo aqui pra afirmar que sou burra?

Todos calaram-se. O professor, surpreso por ser interrompido em seu desabafo de frustação e raiva. Os alunos, por causa da ousadia de uma aluna falar num momento inoportuno.

— Eu não a chamei de burra. Não coloque palavras na minha boca. Se a caparapuça serviu...— E deixou a frase no ar, já dando para ouvir suspiros exclamados sobre a humilhação para a morena.

— Voê chama minha atenção, reclama do celular e em seguida diz que os jovens. — Michel gesticula para a sala, apontando de modo geral. — crescem sendo burros. É bem óbvio o que você quer dizer, né? Ao menos saiba admitir o que fala e pensa, em vez de se esconder em omissão com medo de processo.

— Processo?! — Riu deliberadamente, afiando o olhar de Michel. — Você vai me processar?! Como? Advogado? Com que dinheiro?

— Não é porque estou numa escola pública que signifique que não tenho dinheiro. Alías, belo preconceito o seu. Atacar alguém que julga que não pode se defender. —  Diz, cada veneno pingando da ponta da língua, esperando o momento para dar o bote, humilhar aquele cara que estava a sua frente da pior maneira possível em frente a todos da escola, seus colegas e se puder, sua família. Thomas podia sentir o desprezo que a morena emanava na carteira a sua frente. — E pra sua informação, estou estudando porque você não sabe explicar direito. Tivemos quatro aulas suas e até agora não ouvi nada sobre outros assassinados além dos judeus. — Respirou rapidamente, para não dar chance de retrucamento. — E você especificou para nós todos, a sala inteira de testemunha, que esta seria a última aula sobre o holoscauto. Como vai explicar tudo para nós, sendo que resta cinco minutos? Avisou que o conteúdo está atrasado. Vai fazer ficarmos sem matéria completa ou vai fazer mal feito e continuar com a apostila até o final?

Por um momento, o educador arregalou os olhos, mas também estava apertando os dentes, o maxilar meio travado, que por vezes abria e fechava, antes de calcular as palavras e repensar. Todos os alunos sabiam que ele guardava veneno nos lábios também. Eles sabiam porque eram atingidos diariamente.

— Eu sigo as regras da escola, não está satisfeita, reclame na diretoria.

— Você é o professor. Estou fazendo uma reclamação direta com o senhor. Quer empurrar isso para os seus superiores? Como planeja lutar por seus direitos no futuro? Por que você acha que o Brasil está assim? PORQUE VOCÊ NÃO LUTA! — A garota elevou o tom de voz, enfurecida.

Thomas não aguentando a tensão em encarar somente os dois envolvidos na discussão — porque aquilo não era debate; estava repleto de falácias e insultos escondidos. — e observou seus colegas. Viu alguns concordarem discretamente com a cabeça, outros sorrindo simplesmente por tirar o tédio do dia, outros impassíveis, mas a maioria estava ansiosa pela resposta, se não todos. Discussões longas eram raridade em salas de aula, visto que os professores interrompiam os argumentos dos alunos antes da hora, não deixando-os explicarem e abusarem do direito de autoridade. Mas isso não era um erro somente nessa profissão, era em praticamente todos os humanos. A razão por qual este cargo levava o maior peso de críticas era porque o jovem espera alguém que os ensine, não que gritem com eles ou que enfiem teorias e opiniões tendenciosas goela a baixo. Era uma decepção enorme encontrar alguém seguindo sistemas e os obrigando a se encaixarem nisso, quando ambos não concordavam.

— Não grite em sala de aula. Está ficando brava por que? — Instigou com ar de superioridade. — Eu estou calmo. Não vejo motivo nenhum pra isso.

— PERDEDOR!

Isso foi o climax da rebeldia agressiva da adolescente. Michel o encara com fúria pura nos olhos, desacreditando que na sua frente estava alguém que a deveria educar para a vida; alguém que deveria moldar o futuro de muitos jovens; mas a realidade era aquela: alguém achando-se superior por não discutir. Sabia que havia perdido a briga por ter perdido a paciência e xingado. Sabia. Se interior queimava com o gosto amargo de odiar o mundo e o sistema, mas estava preso nele, odiando parte do seu ser por isso.

Thomas olhava piedoso para sua amiga. Sabia sobre seu senso de justiça, que achava incrível ainda não ter se apagado. Estavam no colegial e nesse tempo, todo os brilhos nos olhos sobre esperança de mudar algo já se fora. Achava até uma proeza ter conseguido discutir com um professor sem que ele a mandasse para fora ou a cortasse inteiramente com palavras. Sabia que a briga não daria em nada, uma suspensão, sem mudanças de atitudes e acabou. Mas era importante para Michel. Ela queria lutar contra o sistema e isso era uma pequena luta.

O sinal bateu. O homem estava parecendo estupefato ainda, mas baixou a cabeça e começou a guardar seus materiais, não olhando pra ninguém do local, apesar de perceber os olhos encravados em si. Saiu da sala encarando a sua frente, com a vista reta para a porta, sem nem virar o canto do olho. Os murmúrios começaram.

Michel havia perdido.

❀ ❀ ❀ ❀

— Os homossexuais eram marcados com triângulos rosas em suas roupas. — Argus pensara alto. — Não sabia disso.

— Claro que não sabia.— Respondera Michel.  Não para ser rude e dizer que seu amigo era ignorante, apenas estava com raiva de ninguém saber algo importante.

Argus se colocava na situação. Imaginava-se num campo horrível com pessoas esqueléticas e doentes, o lugar cheirando a dor, e outros, exibindo os triângulos, sendo mandados serem asfixiado até a morte por amar. Calculou a diferença de anos até agora. Setenta e um anos. 71. Quase um século para as pessoas ainda não saberem respeitar a diferença.

Congelou ao imaginar a hipótese de um novo genocídio contra seus amigos. Sabia que era provável e então, aterrorizante. Apertou os olhos fortemente quando Thomas chegou ao dois.

Obviamente, o jovem notara o que acontecera. O observava detalhadamente nos últimos tempos. Essa constatação o levou a uma confusão mental, que tratou de dispersar, não queria demonstrar nada na frente dos outros. Resolveu perguntar para distrair seu cérebro:

— O que foi isso, Argus? — Pronunciar o nome parecia estranhamente vergonhoso. — Está com dor?

— Não. Deixe pra lá. — Mesmo sem campo de concentração, esse país ainda faz uma carnificina com vocês, pensou. — Tenho que ir, até.  

Argus virou-se de costas, deixando apenas para trás seus longos cabelos loiros enbraquiçados. Aquilo cortou a respiração do negro. Era rídiculo ter todas essas sensações e insegurança por uma pessoa, sendo bem provável que não era correspondido pela mesma. Era ainda mais insuportável não aceitar a si mesmo. Ele queria convencer-se de todas as formas que não era um homossexual, sem saber o porquê. Sempre se rotulara como alguém sem preconceito.

— Tenho aula de química. Você sabe como a professora é.

E acenou com a mão, dispensando mais explicações de Michel. O que eu devo fazer?, divagou, enquanto passeava pelo pátio a caminho do banheiro. Após pensar sobre repetidas coisas do qual já havia pensando, sem chegar a conclusão nenhuma, decidiu que pensaria novamente mais tarde, resolvendo distrair a mente com coisas banais e foi para a aula sem pressa alguma. Na realidade, já sabia o que deveria ser feito, apenas não tinha coragem. Todos sabiam, mas ninguém fazia.

Estava ficando irritado já de tanto pensar. Por isso que ninguém pensa, faz passar raiva. Então quando um aluno passou correndo e esbarrou em si, gritou vários xingamentos e resolveu que isso bastava. Correu até o corredor onde estava sua classe, esbarrando em alguns colegas e foi matar aula em algum lugar sem importância. Só queria perder tempo, pois era isto que fazia quando não queria pensar.


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Notas finais do capítulo

Só pra deixar claro: Thomas é preconceituoso sim.



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