Chocolate branco escrita por Lorde


Capítulo 1
Capítulo 1 — Ensino ruim?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e tenham uma boa leitura ~



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Thomas remexeu-se na arquibancada, alternando entre olhar para seu celular conferindo as horas e procurar seus amigos em meio à multidão que começara a se aglomerar na quadra. Suspirou cansado após ter se passado longos dez minutos. Toda aquela espera estava o deixando angustiado, sentindo-se deslocado por estar sozinho em meio ao um local cheio de milhares de outras pessoas da sua idade que podiam ter os mesmos gosto que ele e tudo mais; enxugou as palmas de suas mão suadas em sua calça jeans, tentando não chamar nenhuma atenção, agindo como uma estátua.

Subitamente, gritos começaram a ser ouvidos, vindos de diversos alunos, estes que corriam para um canto específico, que em sua opinião, não passavam de bestas querendo apenas ver desgraça e agressão do próximo.Tentou olhar por cima apenas por mera curiosidade, até que começou a correr em direção à baderna ao constatar que a menina que estava brigando era sua amiga. Empurrou e deu cotoveladas para conseguir chegar o mais depressa possível, segurando a garota por trás para impedir que continuasse a desferir murros e tapas na segunda jovem que conseguiu reconhecer visualmente sendo de outra sala. Porém, mesmo com seu esforço, os demais alunos incitavam mais brigas com argumentos inválidos e falsas ofensas, e tudo só conseguiu ser controlado com a chegada demorada de um inspetor que estava lá desde o início. Mais funcionários foram chegando e para fugir das consequências, a maioria dos estudantes correu para longe, mesmo sabendo que os inspetores não se dariam ao trabalho de ficar reconhecendo os envolvidos. Como Thomas estava no meio do conflito, foi levado junto à diretoria com as duas alunas.

— Eu não tenho culpa de nada. Oras, ela começou dando um tapa na minha cara, queria que eu simplesmente calasse a boca e aceitasse?

A coordenadora estava com um semblante de puro tédio, como se aquilo não importasse para ela, e talvez fosse verdade. Olhou pelos cantos dos olhos para a adolescente que mantinha-se de pé com a face um pouco avermelhada pela agressão, mas com os olhos fuzilantes, como se pudesse estrangular alguém num único segundo.

— Michel, você continua causando problemas, anda muito nervosinha. Veja a Laura, os olhos dela estão inchados e até está ficando roxo, ela está chorando! — Abriu a gaveta procurando a ficha de ambas. — Vou te dar uma suspensão, mocinha. E para a Laura e o mocinho ali, uma advertência.

— Espera um pouco. — Thomas balançou a cabeça sabendo que sua amiga não aceitaria tão facilmente. — Eu apenas me defendi e vou receber uma punição maior?

— Sim, você tem que aprender a agir feito gente civilizada. Onde já se viu, uma moça como você-

— Primeiro de tudo, o que o fato de eu ser mulher me impede de bater em alguém?

— Espere eu terminar de falar. — A mulher a encarou, unindo as duas mãos na frente do corpo, mas sentiu-se desconfortável ao ver que Michel a olhava com ferocidade. — Damas, — Colocou bastante ênfase na palavra, como se aquilo fosse algo superior e distante da garota à sua frente. — não ficam brigando feito homens, elas tem que ter o mínimo de educação-

— Então quer dizer que homens que brigam não tem educação, e que mesmo assim eles podem e eu não? Ah, mas quer saber? Dane-se, você só sabe dizer asneiras machistas. Pode ligar para meus pais se quiser, pode ser agora, pode até pedir para eles virem aqui, que eles ficarão ao lado de suas falácias. Vamos, o telefone está livre, certo? Mas se você fizer isso é por que não tem argumentos contra mim.

Michel a olhava em tom de desafio, e sorriu com ar de superioridade ao vê-la se levantar e chamar seu superior. Olhou de soslaio para Laura que a encarava com raiva, seus cabelos negros bagunçados presos em um frouxo rabo-de-cavalo.

— Que foi? Eu posso te bater de novo.

Thomas puxou a camiseta branca que Michel usava. Ela sentou-se no banco ao lado dele, parando por ora com as provocações. Penteou com os dedos seus longos cabelos castanhos-escuros comuns, repartindo no meio para fazer duas tranças, até que seu amigo deu uma risadinha.

— Onde tem Michel, tem confusão.

Michel concordou soltando um sorriso.

❀ ❀ ❀ ❀

Thomas olhou com receio para o papel de advertência em sua mão. Certamente, se sua mãe soubesse, estaria em apuros. Estava caminhando com Michel até que encontrou Argus os esperando no portão da escola com os fones de ouvido ligados e as mãos no bolso da calça. Seu coração bateu mais rápido, coisa que passou despercebida no causador da reação, que estava surpreso ao escutar de Michel que ela não seria punida com suspensão, mas com um bilhete marcando reunião com os pais.

— Essa escola é mesmo uma ‘merda’. — Comentou Argus, usando um palavreado vulgar e comum.

— Eu não diria isso só da escola. Eu diria que as pessoas em si são as grandes ‘merdas’.

— Esse país que é um lixo. O ensino daqui é ridículo, por isso que ninguém aprende nada, e é tudo culpa da Dilma. — Thomas completou, soltando um sorriso de deboche.

— Quê? Nada a ver, cara, pensa direito. O ensino é ruim, é fato, mas não é de todo mal, qualquer aluno se quiser consegue aprender. E não bote toda a culpa na presidente.

— Eu estou apenas brincando. — Retrucou, fechando a cara. Na verdade estava falando sério, e odiava momentos assim, onde era repreendido.

— Brincadeira sem-graça.

Viu Michel dar de ombros e Argus suspirar. Não sabia no que o loiro estava pensando, mas teve a ligeira impressão de que ele concordava com sua amiga, apenas não quis discutir. Ficou pensando se sua amizade era bonita até chegar em sua casa, excluindo-se temporariamente, enquanto ouvia eles conversarem sobre um trabalho de artes.

❀ ❀ ❀ ❀

De noite, após ter jantado e lavado a louça, sentou-se em frente a sua escrivaninha e ligou o computador, que tardou a se iniciar. Imediatamente entrou no Facebook, sorrindo ao ver que seus amigos estavam online. Mas sentiu um frio na barriga ao ver a foto de Argus sorrindo ao lado do nome e a bolinha verde do bate-papo. Ele era realmente muito atraente, e mesmo que isso fosse uma verdade, Thomas sentia-se mal ao pensar nisso. Oras, ele era um homem achando bonito outro homem? Xingou-se mentalmente de ''viadinho’’ e '' que deveria agir como um macho.’'

Rolou o feed de notícias abaixo, até ver um print de uma conversa de Michel com outra menina, onde sua amiga dizia que Jennifer Lawrence era linda e recebeu um ''lésbica’’ como resposta. Ao ver os comentários, apenas viu Michel dando lição de moral nos amigos da sua amiga. Suspirou. Michel era tão politicamente correta ao seu ver que se tornava chata.

"Calma, eles só estão brincando.”

Mal deu tempo de Thomas ver as notificações de outra rede social ao perceber que sua janela do bate-papo já piscava

''Podem brincar, mas sei que eles ficam zuando em situações sérias também. Devem ser um daqueles milhares de retardados que dizem que a zueira é sem limites.”

Thomas nada respondeu, apenas visualizou, percebera a indireta-direta.

“A Michel está chata, né?”

A tela do celular exibia três pontinhos, indo e deslizando até começar novamente, em frente a foto de perfil do seu amigo. 

“Como assim chata?”

“Toda certinha. Parece que não tem senso de humor.”

“É que deve ser chato para ela, né, ficar ouvindo aquelas coisas só por ter chamado alguém de bonita. “

“Mas não é verdade?”

“O quê?”

“Tipo, é estranho alguém achar uma pessoa atraente sendo do mesmo sexo. E a Michel já parece lésbica, falando alto e andando com um monte de homem.”

“Mas isso é normal e não tem nada a ver.”

“Tá.”

Fechou a aba de conversa. Fora contrariado por seus dois únicos melhores amigos, como a noite poderia piorar?

Decidiu parar de pensar no assunto e foi conferir notícias sobre sua atriz favorita, perdendo várias horas da noite, até ouvir um berro da sua mãe lhe ameaçando de morte caso não fosse dormir. Desligou tudo correndo e foi deitar, pensando no que lhe disseram.

❀ ❀ ❀ ❀

— Ei, coloca meu nome no trabalho de artes? Ontem tive que ficar cuidando dos meus irmãos e fiquei sem tempo para fazer. — Thomas pediu para Michel, que revirou os olhos e limitou-se a mostrar o dedo do meio.


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