Book 5: Love escrita por VeraLGPedrosaBadWolfPT


Capítulo 6
Capitulo VI: A Solução




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Korra já tinha ido há dias.

Plantas serpentavam por entre as ruas da cidade, apertando os prédios ate que eles começassem a tremer.

O presidente Raiko destacou Asami e Varrick para encontrar uma maneira de parar a super arma de Kuvira. Bolin havia-lhe dito que arma tinha a capacidade de destruir cidades com um único disparo. Isso não era nada bom. A Future Industries ajudou a criar, literalmente, uma ponte ferroviária entre o Reino da Terra e Republic City. E pensar que essa mesma ponte poderia ser usada para destruir a cidade…era muita coisa para se pensar.

Ela tinha de se concentrar, mas parecia impossível. Jinora e os outros airbenders tinham sido presos pelas plantas.

Mako tinha-se oferecido para ir com Korra, o que deixou Asami desconfortável. E se Zaheer conseguir-se libertar. E se ele…

Varrick bate fortemente na mesa dela.

“Hey Asami, chop! Chop! Eu sei que sou um grande gênio. Vamos trabalhar! Vamos mostrar ao presidente Raiko que nos dois somos os mais devastadores CEOs que Future Industries pode ter!”

“Tu não és…” Ela tenta dizer antes de pegar no bloco de desenho. “Eu vou apanhar um pouco de ar fresco. Tenta não roubar tudo enquanto eu estiver fora.” Ela ignora o seu discurso de indignação e vai lá para fora. Durante anos, ela viveu na Future Industries e agora ela não podia suportar estar lá. Bem, sem dúvida a presença de Varrick lá não ajudava.

Ela encontra um banco debaixo duma árvore e senta-se nele. Ela pousa o bloco de desenho no seu colo e tudo o que ela podia fazer era olhar para ele.

As ruas da cidade estavam incrivelmente tranquilas. A evacuação temporária foi ordenada até que a situação com as plantas acalmasse-se. Asami não tinha dúvida que Korra iria resolver a situação, ainda assim, ela tinha esquisita. Korra havia colado a chávena partida e em seguida escreveu-lhe uma carta a dizer-lhe que ia visitar o homem que tinha aterrorizado.

Korra tinha falado sobre a dificuldade que ela havia tido nos anos anteriores. Não lhe espantava que as coisas tinham sido difíceis. Incapaz de andar e a precisar de alguém para ajuda-la em tudo…o que havia de difícil de entender nisso? Não, havia algo mais. Algo que tinha sido mantido abaixo da superfície. Asami percebeu que aquilo que ela sabia era apenas a ponta do iceberg. O medo nos olhos de Korra durante a sua disputa amigável.

Asami perguntou-se momentaneamente se Zaheer não ter-se-ia libertado e ido atrás dela. Aquele pontapé que ela havia-lhe dado, não doera tanto quanto ver aquele olhar no rosto de Korra. Que pesadelos seriam aqueles que assombravam-na todos os dias?

“Foca-te.” Ela murmura.

Ela aperta o lápis no papel. Korra não tinha voltado para a cidade ainda. A situação com a Kuvira estava a ficar pior. Asami tenta fazer o máximo que ela podia. Agora, mais do que nunca ela precisava esforçar-se. Kuvira estava a por em risco não só o Reino da Terra, mas o resto do mundo também. Se eles iriam detê-la, ela precisava fazer a sua parte. Ela pergunta-se se Korra terá de lutar contra Kuvira novamente. O pensamento a deixava inquieta.

Porque Korra ainda não retornou?

Tu precisas de confiar nela. Ela vai fazer o que tem a fazer. Ela pode fazer qualquer coisa.

Como é que ela acreditava nas suas palavras e ainda continuava tão nervosa? Uma folha, pequena e verde, voa, roçando nos seus lábios, cuidadosamente como o começo do beijo de Korra. A pousou no canto do bloco e Asami começa a pensar naquela noite no parque e no jeito que ela tinha pensado que o seu coração iria explodir. Eu acho que nós só estávamos felizes por vermo-nos uma à outra.

Asami massaja as suas tempuras. Ela concordou com o que ela tinha dito porque ela tinha escolha se não concordar. Não importava os seus sentimentos, Korra não estava pronta para um relacionamento agora. Ela limpa a garganta suavemente. Ela já há muito queria aquele beijo. Queria aquilo à mais tempo do que ela imaginava. Ela não tinha a certeza de quando ela tinha-se apaixonado, mas sabia que, sem dúvida, era verdade. Tudo fazia sentido agora. Porque é que ela demorou tanto tempo para perceber isso? Era porque elas eram melhores amigas?

Isso não importava. O que Korra precisava agora era de amizade, apoio, estabilidade e alguém em que ela possa confiar. Asami dar-lhe-ia tudo o que ela precisasse. Ela vai fazê-lo sem pedir nada em troca.

Eu esperava que quando voltasse…Nós podíamos…Eu queria…

Deixar ir. Não importa o que Korra esperava. As coisas são como são. Korra precisava de se recuperar. Asami estava feliz que ela tinha voltado, mesmo que ela já se foi outra vez. Mais uma vez, ela pergunta-se quando Korra iria voltar.

Então há um pequeno flash de cores, azuis e verdes, no seu pensamento. Ela pisca. Um colibri-libelinha tinha aterrado no centro do seu bloco, as suas asas a esvoaçar.

Uma brisa soprava através do edifício, entrando pelo grande buraco que a planta havia deixado. A lua cheia brilhava no céu. Agora, tanto quanto antes, Asami olhava para ela e lembrava-se todo aquele tempo que ela e Korra haviam estado separadas. Ela supõe que estava a ficar um pouco sentimental.

A boa notícia era que esses momentos eram raros.

Silenciosamente e rápido, ela esgueirava-se pelo exército da Kuvira e destruindo qualquer arma que ela tivesse, sem ferir ninguém no processo. Esse era o plano, de qualquer maneira.

Ela rabisca algumas anotações matemáticas num papel, quando uma sombra cobre a página.

Korra agacha-se e entra pela abertura na parede, com um brilho nos olhos que Asami não tinha visto desde que ela tinha voltado. Ela fica de pé rapidamente, mas a voz dela é contida.

“Estas de volta.”

Varrick salta para os seus pés, deixando a sua posição anterior, que era estar ditado no sofá, com a cabeça inclinada para trás a ressonar, e foca a sua atenção em Korra.

“Avatar Korra! É bom vê-la no meio da nossa pequena operação, estava a pensar que não iria vir.” Ele envolve um braço ao redor dos ombros de Asam, puxando-a para perto. “Não vai acreditar o quão duro eu trabalhei para fazer isto! É um trabalho exaustivo, eu acho que estive acordado por, sei lá, umas nove, doze horas?” Asami abre a boca, mas ele continua.

“É impossível levá-la a concentrar-se e tenho medo que a sua presença não vai ajuda…”

“A tua presença é que não ajuda!” Korra responde-lhe. Ela retira o braço dele do ombro dela e agarra no seu pulso e puxa-a para o corredor. Os seus passos faziam barulho no chão de metal. O edifício estava quase vazio. Luzes penduradas no teto, brilhando na solitárias na escuridão da noite.

“Agh, eu pensei que estavas sozinha, o que é que ele está aqui a fazer?”

“Longa história.”

“Kuvira?”

“Afinal não é assim tão longa…”

Korra sorri.

“O Bolin disse-me o que estava a acontecer no Reino da Terra. Eu acho que faz sentido reunir os nossos maiores gênios e começar uma operação.”

Elas caminham pelo pequeno corredor, quando Asami percebe que Varrick estava a observá-las pela frincha da porta.

“Então.” Ela finalmente para de andar, e coloca as palmas das mãos no corrimão. “Eu estou de volta.”

“Tu estas de volta.” Ela diz cautelosamente. “Eu sei que tu fizeste o que sentiste que tinhas de fazer, mas isso não significa que eu tenha gostado disso. Eu estava preocupada. E eu gostaria de não ter acordado e ter lido aquela carta. Estava com medo que tu te magoasses outra vez.”

A tensão deixa o rosto de Korra.

“Eu acho que eu não tinha pensado nisso. Eu apenas pensei que gostarias de ter outra carta.” Asami tenta impedir o seu rosto de corar. “Eu não queria acordar-te. Eu não iria embora sem te dizer adeus.”

“Então…tu viste-o?”

“Sim eu vi-o.”

Korra conta-lhe sobre Jinora e as plantas, que eram espíritos, e a sua incapacidade de se comunicar com eles por causa da sua perda de conexão com o mundo espiritual. Ela conta-lhe como o seu coração quase pulou para fora do seu peito quando Zaheer investiu contra ela, mas ele haviam-lhe dito que agora os seus objetivos eram os meus que os dele, como eles agora estavam unidos pela causa e como ele tinha a levado para o mundo espiritual.

“Eu sei que parece uma loucura. Aquele tipo quase me matou. Ele envenenou-me.” Ela puxa os joelhos contra o peito, envolvendo os braços em volta das pernas. “Ele levou-me a ver aquilo que ele tinha feito. Eu não queria. Mas eu fi-lo. E eu sobrevivi a isso.” Ela balança a cabeça. “Eu andei por lá muito chateada. O Raiko teve uma reunião sobre o Reino da Terra com o Wu. Com o Wu! E eu não fui convidada! E então o Tenzin disse que eles haviam-me colocado em ação muito cedo. Depois de três anos!” Asami fica calada e, eventualmente Korra continua. “Ele estava com medo de deixar-me ver o Zaheer, mesmo quando era a segurança de Jinora que estava em jogo. Eu não sei, faz sentido que toda a gente tenha perdido a fé em mim. A razão pela qual eu não podia salvar a Jinora e os outros antes foi porque eu não conseguia chegar a mundo espiritual. Ninguém pensou que eu poderia fazer alguma coisa…mas o Zaheer, ele disse-me que o meu poder é ilimitado, que o veneno tinha matado qualquer um, mas eu era a única que conseguiria vencer aquilo.” Ela fecha os olhos, respira e sorri. “Eu sei que é muita coisa.”

“Deve ter sido emocionante poder chegar ao mundo espiritual novamente.” Parece que quase toda a gente tem ido lá. Ela não podia imaginar como aquele lugar era. Seria bom ir lá algum dia. Talvez se ela fosse um bender ela poderia ter tido essa oportunidade antes, mas ela não com Korra aqui, ela não teria razão nenhuma para ir para a Tribo da Água do Sul.

“É.” Korra olha para ela. “Eu não consigo dizer-te o quão me sinto melhor agora. Eu sinto-me…com pessoa completa novamente. Por muito tempo, eu sentia-me como se estivesse a andar num labirinto sem fim…tentando encontrar a saída que não existia, tentando não tropeçar e cair. Depois de tudo o que o Zaheer fez… Todos os outros membros da Lotus Vermelha estão mortos. Eu não sei. Às vezes eu tem pensamentos obscuros sobre ele.”

“Eu também.” Diz Asami calmamente.

Korra vira-se para ela.

“Mas agora…Todos esses pensamentos parecem tão estúpidos para mim. Se o Zaheer não estivesse lá, ele nunca poder-me-ia ter ajudado. Talvez eu nunca iria conseguir voltar ao mundo espiritual. Ainda há muito que fazer. Eu não posso fingir que estou bem agora, mas eu acho que é um novo começo. Acho que posso começar a seguir em frente. Mesmo que a Toph estava certa e eu sempre vou fazer asneira, não importa o que eu faça, é o meu dever restaurar o equilíbrio, mesmo que isso seja difícil, mesmo que eu sofra. Eu sou o Avatar. E ninguém mais pode fazê-lo.”

Os seus olhos encontram-se e ela sorri.

“Estou feliz por ouvir-te falar dessa maneira outra vez.”

“Houve uma festa no Templo do Ar, para os espíritos e para as pessoas que tinham sido libertadas do mundo espiritual. Vim para aqui o mais rápido que pude. Realmente só queria dizer-te o que tinha acontecido. E…eu não quero que fiques preocupada.”

O “preocupada” no final da frase, meio que tornou-se uma pergunta.

“Aprecio isso. Tu pões-me louca às vezes.” Ela suspira baixinho, pensando na carta que Korra havia deixado, pensando, que de certa forma era injusto que a única pessoa que podia ajuda-la, era a mesma pessoa que tinha a espancado brutalmente. Mas ai ela lembra-se, que isso era apenas uma maneira egoísta de pensar. Não importava quem tinha a ajudado, o que importava é que havia alguém que foi capaz de fazê-lo.

Korra olhava para ela com ansiedade e Asami considerava as revelações que Korra havia-lhe dito na carta, mas não se atrevia a perguntar sobre qualquer delas.

“De qualquer forma…É melhor eu voltar para o Varrick.” Diz ela, levantando-se.

Korra salta para cima, e com a mesma rapidez ela pergunta:

“O quê? A sério? Eu vim aqui para te ver. É muito tarde. Por não saímos daqui’”

E fazer o quê? Ela não podia perguntar-lhe isso. Se ela perguntasse, Korra responderia algo cativante, e ela não estava disposta a distrair-se ainda mais.

“Eu tenho de cumprir com um prazo. Isto é muito importante.”

“Tu achas que eu não seu como isso é importante?” Antes que Asami pudesse responder, Korra balança a cabeça. “Desculpa. Toda a gente está lá fora a tentar encontrar uma maneira de derrubar a Kuvira. A Suyin e a família dela estão presos e eu não posso detê-la. E agora a Opal, a Lin e o Bolin foram numa missão top secret para salva-los. Eu deveria estar lá para ajuda-los a fazer alguma coisa.”

“Tu acabaste de voltar de “fazer alguma coisa”.”

Korra dá um passo em frente e Asami dá um passo atrás.

“Só tenta descansar um pouco.” Os olhos de Korra seguiam todos os movimentos dela. “Tu vais salvar toda a gente em breve.” Asami anda para trás, de frente para ela. “Eu sempre pensei que tu podes fazer esse tipo de coisas.”

“Asami…”

“Trabalhar.” Ela volta para o escritório.

Korra salta da ponte, e numa corrente de ar, ela aterra no banco do pendura do carro de Asami. Os olhos dela arregalaram-se.

“O que é que estas a fazer?!” Ela exige, olhando furiosamente para a estrada e para Korra. “Quase mataste-me de susto!”

Korra sorri em tom de desculpa.

“Eu…uh…queria surpreender-te.” Bem, missão comprida.

Asami agarra-se com mais força ao volante. Korra percebe que ela tinha derrubado o tabuleiro de Pai Sho que estava no assento antes de ela ter aterrado, as peças estavam espalhadas pelo chão do carro. Ela tenta, desajeitadamente, apanha-las.

“Ok, talvez foi idiota, mas eu só queria passar algum tempo contigo, mas tu estas sempre ocupada. O Varrick disse-me que tinhas saído, então eu vim ter contigo. Foi divertido.”

Asami desvia o olhar da estrada e olha para ela e depois olhou para a estrada novamente. Ela aperta as mãos no volante.

“Eu vou encostar para que possas sair.”

Korra fez uma carranca:

“O quê? Porquê? Não. Vá lá.” Ela suspira. “Oh! Talvez tu estejas a tratar de algum recado, não? Eu vou buscar o que tu quiseres. Eu vou ser os músculos desta operação. Por favor não pares o carro.”

Não, Asami não encostou, embora os seus olhos estreitaram-se.

“Tu ainda estas com raiva de mim?” Korra pergunta. Asami franze a testa. “Sobre…Eu ainda estou muito triste por ter-te magoado. Entendo se quiseres que eu saia.”

Asami pisca.

“Deixa isso para lá. Não é por isso que eu estou chateada.”

E por um momento ela volta a ser a mesma Asami de sempre, calma e tranquila.

“Okay.” Ela resmunga. “Então…é por causa do Zaheer?” Mal as palavras saíram da sua boca, Asami da uma guinada acentuada à direita, passa pelo meio do trânsito e para num beco.

Korra encolheu-se.

“Eu vou sair…”

“Não. Eu apenas não conseguia conduzir e ouvir-te ao mesmo tempo.”

“Ouch.”

“Tu sabes o que eu quero dizer.”

“É que nunca tinha sido um problema antes.” Isso foi antes delas terem-se beijado, antes que Korra a tinha magoado, antes que Korra insinua-se que o beijo fora só a emoção do reencontro.

Um cão ladra ao longe, e então, Korra percebe o quão escuro aquele beco era. Ela tenta não se lembrar do que aconteceu no Reino da Terra e daquele espírito obscuro a persegui-la num beco. Ela não podia pensar nisso. Não agora. Ela concentra-se em Asami.

“Eu não te tenho visto há muitos dias e realmente sentia a tua falta.”

Asami ainda tinha as mãos no volante. Até que ela larga-o e coloca as mãos no colo.

“Eu estive muito ocupada com este projeto.” Ela olha para a frente. Havia algo diferente entre elas. Korra não sabia ao certo como é que ela sentia-se em relação a isso. Tu sabes muito bem como é que te sentes em relação a isso. É uma merda.

“Mas estas certa, nós não nos vimos tanto quanto eu gostaria.” Ela olha para Korra. “Estive a comer, viver, respirar e dormir Varrick.” Korra fica vermelha. “Eu preferia que fosses tu.” E com a mesma rapidez, ela desvia o seu olhar. “Ele é tão desgastante. Mal posso esperar que esta operação acabe.”

Operação? Oh. Sim. Obrigado espíritos. Isso faz mais sentido. Ela agora tentava apagar todas as imagens de Varrick e Asami da sua cabeça.

“Ok. Eu sinto que as coisas realmente mudaram entre nós. Eu posso ver isso claramente. Talvez isto tenha sido um erro.”

“O que foi?”

O rosto de Asami tinha uma expressão tão dolorosa como quando Korra a tinha atingido. Korra não conseguia engolir o nó na sua garganta.

“Hum…Eu ter saltado para o teu carro sem pedir autorização. Ugh, eu tinha vontade de falar contigo, só que simplesmente não encontrava o momento certo para isso.” Ela passa a mão pelo cabelo. “Tu tens estado tão ocupada e toda a gente está a ficar doida por causa da Kuvira. Eu só gostaria que houvesse mais tempo para nós.”

Asami pisca, limpa a garganta e liga o motor do carro.

“Isso é…Eu também sinto falta da minha melhor amiga.” Diz ela.

A melhor amiga dela. Ela não podia ficar chateada ou desapontada. Ela é que tinha arruinado qualquer coisa que podia ter acontecido entre elas. Korra tinha a beijado, e Asami rapidamente tinha concordado com ela que aquilo apenas tinha sido a emoção do reencontro. Ainda assim ela desejava que tivesse sido melhor. Ela podia jurar que Asami sentia-se da mesma forma. Que as cartas dela eram mais do que apenas palavras da sua melhor amiga - talvez mais que isso- elas talvez fossem cartas de amor.

“Então…Onde vamos?” Korra pergunta.

Asami tira o carro do beco, passa novamente pelo meio do trânsito.

“Vamos ver o meu pai.” Ela diz. “O horário de visitas é bastante limitado e eu estive bastante ocupada. Sempre que acontece algo grande, vidas perdem-se. Eu só queria falar com ele, caso possa acontecer-me alguma coisa.”

“Eu não vou deixar que nada te aconteça.” Korra diz ferozmente. “Não importa o quê.”

Asami olha para ela.

“As coisas que tu dizes…” Ela tenta esconder o seu sorriso. “Tens a certeza que não queres que eu encoste?”

“Não! Se tu queres ir ver o teu pai, nós vamos ver o teu pai!”

“Eu não sei…” Ela diz, pensativa. “O que aconteceu com o Amon e os igualitários foi realmente assustador. Eu sei o quão isso ainda te aterroriza.”

Ela ainda se lembrava do bloodbending do Amon e do Tarrlok, e de como Amon havia-lhe tirado os poderes.

“Não foi fácil para todos nós.” Korra faz carranca. “Eu não posso dizer que aprovo o que o teu pai fez, mas sei que perder as pessoas que mais amamos é devastador. Houve alguns momentos, quando eu estava na Tribo da Água do Sul, que eu podia sentir o veneno de tudo o que eu tinha perdido, a apodrecer dentro de mim.”

“Eu gostaria de ter estado lá contigo.”

O seu coração pula.

“Eu também.”

Mesmo que ela tivesse sido idiota ao ter recusado a oferta de Asami, quando pedira-lhe se ela podia ir com ela.”

Elas trocaram olhares e sorrisos até que Asami olha outra vez para a estrada.

“Na verdade, é engraçado que estejas aqui. Tu desapareceste por tanto tempo. Toda a gente achava que eu estava a lidar com isso muito bem, mas eu não estava. Eu não sei o que teria feito se não tivesse uma empresa para administrar.” Ela olha para Korra. “Eu entendo porque é que te fostes embora. Eu entendo. Mas ainda assim era difícil não te ouvir. Eu não podia mudar a maneira como eu me sentia.”

“Eu não podia pedir-te nada.”

“Comecei a pensar que nunca mais irias voltar. O Mako estava ocupado, o Bolin tinha ido embora e, honestamente, sem ti, eu nunca senti que pertencia à família do Tenzin e dos outros. Eu pensei que tinha-te perdido e o meu pai escrevia-me a aquelas cartas. Eu não conseguia pensar em nenhum motivo para estar com raiva de mim mesma. Era como se fosse veneno. Comecei a pensar: se me acontecer alguma coisa, tu o que o meu pai me deixou foi a raiva dele? Eu não queria isso. Uma parte de mim também tinha medo de ficar sozinha. Bem, afinal de contas ele é a única família que me resta.”

Ela balança a cabeça.

“Acho que o que eu quero dizer é, não ter-te aqui fez-me lembrar que é importante aproveitarmos as coisas enquanto podemos, enquanto as temos.”

Korra fez o seu máximo para não a beijar ali mesmo.

“Sim, eu sei o que queres dizer.”

O carro estava estacionado no topo de uma ribanceira com vista para a cidade, as ondas batiam abaixo delas. Republic City brilhava como ouro, as estrelas acima delas pareciam diamantes. Elas estavam sentadas em cima do capô, a olhar para o céu. As suas mãos estavam próximas umas das outras, mas chegavam a tocar-se. A brisa da noite batia-lhes na cara.

A viagem de volta da prisão passou toda em silêncio. A prisão em si era pequena, cinzenta e monótona. Hiroshi estava mais velho, mais frágil do que Korra se lembrava. As costas de Asami estavam retas como uma vara. Korra observava a sua expressão ao entrar na cela fria, e ao decorrer da visita. Hiroshi parou quando a viu. Uma parte dele perguntava-se se ele tinha sido traído. Avatar Korra. Ele acenou com a cabeça e mal olhou nos olhos dela. Asami apertou o pulso dela antes se sentar na cadeira frágil em frente a ele.

Korra ficou atrás dela, a olhar para o pôr-do-sol por atrás da grades da janela, a ouvir a voz de Asami, calma e controlada, murmurando desculpas ao seu pai.

Então ela pegou num tabuleiro de Pai Sho e, juntos, pai e filha começaram a jogar. Korra sentia-se tão de parte, que chegou a perguntar baixinho a Asami se ela deveria ir embora. Ela balançou a cabeça. Um guarda trouxe-lhe uma cadeira e ela sentou-se ao lado de Asami. Hiroshi olhou para elas, com um pequeno e nostálgico sorriso.

“Obrigado por teres vindo comigo ver o meu pai.” Diz Asami. Elas saíram após a visita e ela apoiou as mãos nos joelhos e respirou fundo. Tu estas bem? Pergunta Korra. Sim…vamos embora.

“É bom ter-te de volta. Eu geralmente fico uma merda depois destas visitas.”

Não era de imaginar que Asami se sentisse assim. Se Korra não tivesse voltado, será que Asami não teria contado isto a mais ninguém? Ou ela iria sofrer calada?

“Então eu estou feliz por ter lá estado. Eu sei…o quão difícil isto é. Eu sinto-me culpada por ter-me intrometido.”

“Talvez ele também precisava de ti…Depois de tudo o que ele fez.” Asami cruza os braços e Korra pergunta-lhe se ela estava com frio, ou se ela estava apenas a tentar manter as memórias longe. Eu sei que eu causei uma grande quantidade de dor à minha filha. Hiroshi curvou-se humildemente, antes delas saírem, trocando um olhar com Asami que tinha uma expressão fechada no rosto.

“Não deve ter sido fácil para ti vê-lo. Afinal, ele tentou matar-te.”

Ele também te tentou matar. Korra não tinha estado lá quando isso aconteceu, então ela não sentia que tinha o direito de falar disso.

Asami estava a tentar seguir com a vida dela desde então.

Bolin tinha-lhe contado o que tinha acontecido dia. Ouch, ele é mesmo um pai horrível. Eu até pus o Pabu a fazer alguns truques de malabarismo, com o bigode fofinho e tudo, mas não resultou! Ela trancou-se no quarto a chorar. Não estou a mentir. Eu...tinha encostado o ouvido a porta. E ele tinha passado a meia hora seguinte abraçado ao Pabu, a dizer-lhe que nunca iria magoa-lo.

“Ele realmente massacrou-me no Pai Sho.” disse Korra. “Quando o Bolin voltar eu vou dar-lhe um raspanete.”

Asami sorriu fracamente. “Ele estava tão feliz por ver-te. O que ele vez com os igualitários...não foi correto.” Ela encolhe os ombros. “Mas as pessoas mudam. A forma como ele estava contigo hoje...”

“Eu ainda não perdoei-o.” Asami defende-se, mas quase parecia que ela estava a lutar consigo mesma. “Ele não estava à espera que tu viesses comigo.”

“Sim, eu não o culpo. Não era assim que eu queria passar a noite de Sábado.”

“Então porque é que vieste?”

“Tas a brincar? Foi importante para ti.”

“Tu és importante para mim.” Asami contava as estrelas. “Estou muito feliz por voltares a poder entrar no mundo espiritual. Achas que um dia tu poderás perdoar o Zaheer por tudo o que ele fez?”

A pergunta foi inesperada. Apesar de que o Zaheer ter mudado a vida dela, ele mudou-a, ela nunca tinha pensado o bastante sobre esse assunto. Ele era um pesadelo para ela, uma presença obscura, que magoou-a tanto fisicamente, como emocionalmente.

“Eu não sei.” diz ela com um tom sincero. “Não foi só a mim que ele magoou.

“E se fosse?”

“Eu ainda não saberia.” Ela cruzou os braços atrás da cabeça. “Às vezes eu penso que ele roubou a minha vida. De mim, da minha família e dos meus amigos. E outras vezes eu penso que se calhar eu é que fui fraca. Que talvez eu não me tenha esforçado o suficiente. Mesmo que eu esteja “inteira” novamente, sei que nunca voltarei a ser o que era. As pessoas sempre dizem que o que não nos mata, faz-nos mais fortes, mas talvez isso nem sempre é verdade”

“Eu acho que é.” Asami olhou para ela. “Mesmo depois de tudo o que passas-te, voltas-te para cá. Tu foste-te vê-lo. Tu estas mais forte do que jamais foste.”

Ela cruza a perna sobre a outra, e espelhando a amiga, cruza os braços atrás da cabeça, e os seus olhos viram-se mais uma vez para o céu estrelado.

“Eu pensei muito sobre isso. Eu pensei sobre isso todos os dias desde que voltas-te. Sobre cada minuto que ficas-te longe de Republic City. Como eu odeio o Zaheer. Eu odeio o que ele te fez, o que eles fez a todos nós. Eu nunca poderia perdoá-lo.” Ela olhou para Korra. “Nunca.”

O seu coração pesava-lhe no peito. Era estranho. Mesmo que ela ainda não sabia ao certo o que sentia em relação a isso, ela queria que Asami pudesse perdoa-lo. Ela não queria que ela carrega-se esse rancor.

“Talvez com o tempo...”

“Não.” Houve um flash de raiva na sua voz, um pitada de vulnerabilidade.

Elas ouviam as ondas a bater contra o penhasco.

O escritório de Asami estava escuro, mas a luz da lua brilhava pela janela.

Asami coloca as chaves do carro em cima da mesa. Korra estava ao lado dela. Ela optou por não voltar para o Templo do Ar e foi com Asami em vez disso.

“Eu nunca tinha te trazido aqui, pois não?”

“Portanto, é aqui que tu te escondes quando eu não estou por cá , não é?” Korra olhava ao seu redor. Havia varias placas dadas pelo presidente e muitas planos de engenharia espalhados pelas paredes.

“Trouxeres-te para aqui algum namorado?”

Asami ri.

“Só tu.” Ela reclina-se contra a borda da mesa. “Fiquei aqui todas as noites e sempre pegava numa caneta e papel e escrevia: “Korra, eu sinto a tua falta...” Eu escrevi-te mesmo que eu não o punha no papel.” Ela sorri e cruza os braços. “As vezes eu tinha de fazer isso para que fosse capaz de dormir, o que era raro. Mas frequentemente eu estava aqui. Esta é a minha casa.”

“E agora que eu estou de volta?”

“A definição é diferente. É mais que uma simples construção com uma quarto, uma sala e etc...Sabes?” Korra acena com a cabeça, afasta a pilha de documentos em cima da secretaria e senta-se.

“O que é que escreves-te para os teus pais quando sais-te da Tribo da Água do Sul? Eles disseram que tu tinhas-lhes escrito a dizer que estavas aqui, em Republic City.”

“Sim. Eu escrevi-lhes. Eu não queria que eles ficassem preocupados. Por isso eu menti.” A sua expressão fica mais triste. “Eu realmente nunca menti. E eu não quero começar agora. Eu disse aos meus pais que estava feliz por estar de volta a Republic City. Como eu estava feliz por voltar a estar com as pessoas que amo outra vez.”

“Mudou muita coisa para ti?”

“Todo parece o mesmo...só que diferente. Os últimos seis meses antes de eu voltar foram tão solitários. Eu estava à procura de mim, mas tudo o que eu via era a minha versão obscura, a relembrar-me o que eu tinha perdido, a lembrar-me do meu fracasso. Eu sentia-me tão em baixo.”

Korra abaixa a cabeça, mas logo as mãos de Asami seguram-na firmemente. Korra olha para ela.

“Todas as vezes que eu me sentia assim, eu lia as tuas cartas. Sempre que eu as lia, não me sentia uma causa perdida. Eu sempre sentia-me menos solitária quando, era como se uma parte de ti estivesse comigo. Sinto muito, eu não te escrevi. As tuas cartas salvaram-me.” ela sussurra. “E eu nunca te dei nada por elas.”

“Eu não as escrevi para receber algo em troca. Eu escrevi-as porque eu...” Asami engoliu em seco, franziu a testa, e inclinou a cabeça para trás, de olhos fechados.

“Eu não deveria ter dito aquilo, sobre o beijo. Por ter dito que tinha sido apenas a emoção. Quer dizer...Eu estava feliz por te ver, mas acho que uma parte de mim estava com medo que dissesses que aquilo tinha sido um erro e que não irias mais querer falar comigo...E depois de tudo o que eu fiz...”

Asami pega a mão dela. Korra continua:

“Eu pensei que merecesses alguém que não tivesse sempre a cabeça às voltas. Alguém mais parecido com a antiga Avatar que eu costumava ser. Mas agora que eu estou a sentir-me melhor, eu penso que temos algo especial entre nós...”

Korra sai de cima da secretaria e fica em frente a ela.

“Eu sinto-me bem quando estou contigo. Nunca ninguém fez-me sentir assim e talvez seja algo que toda a gente saiba. Eu quero isto. Levei muito tempo para perceber, mas agora eu sei e não quero desperdiçar mais nenhum segundo. E acho que tu queres a mesma coisa. Não podes negar que há algo entre nós. Algo além de amizade.”

A última coisa que ela esperava ver, era hesitação nos olhos de Asami.

“Korra, eu...eu não sei.”

Essas palavra deixaram um clima tenso na sala. Korra franze a testa.

Tu sabes.” Ela da um passo em frente, coloca uma mão em cada lado da mesa, prendendo-a. Os seus lábios roçaram no pescoço dela. Eu sei que tu sabes.” Korra põem a sua mão sobre o pescoço de Asami. E ela põem a mão nas costas de Korra, puxando-a contra ela, e sussurra-lhe.

“Sim, eu sei.” Os seus olhos encontraram-se e elas beijaram-se intensamente.


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