Essa é uma lenda esquecida pelo tempo e pelo povo.

Devo avisá-los com antecedência, meus caros, de que a história que contarei agora é de longe a mais chocante e reveladora. Isto porque revela a verdade por trás de todas estas lendas, amarra todas as pontas soltas até então, e é claro, como toda boa lenda, cria outros mistérios... Eu mesma, quando a descobri, não pude conter a surpresa.

O último aviso já foi dado, agora não existe mais volta. Se tudo o que lerá agora é verdadeiro ou não, você decidirá. Então, vamos começar?

Passados cinco anos desde o que ficou conhecido como A Revolução do Reino Amarelo, devido aos cabelos dourados da família real, uma jovem historiadora pesquisava sobre o acontecido. Chegou a escrever uma série de livros sobre isto. Aliais, devo agradecê-la, já que grande parte do material que consegui reunir se deve ao seu trabalho. Inclusive seu último livro, “Handbeat Clocktower”, que contava esta assustadora verdade que ela mesma descobrira.

Talvez fosse melhor que o segredo tivesse permanecido enterrado... Pois assim que as máscaras caíram, o Príncipe Azul teve sua vida destruída. Mais uma vez.

Porque no topo da Torre do Relógio, o verdadeiro demônio sentado numa cadeira, rindo da tragédia que acontecia a sua frente, era ninguém menos que sua mãe.

A rainha do Reino Azul, na verdade arquitetara toda revolução, desde seus primórdios... Matara os pais daqueles miseráveis gêmeos, e os separara, fazendo com que a malvada rosa se tornasse rainha. Aproveitara-se até mesmo dos sentimentos da Filha do Mal e de seu filho, além de ordenar a morte da Garota de Madeira. Tudo para que seu reino se tornasse o mais poderoso.

Ah, mas naquele momento, a dramática História do Mal finalmente chegaria ao fim... Porque, juntamente da Dama Vermelha, o Príncipe Azul subia na Torre do Relógio, o ponto central do Reino Azul, pronto para dar fim àquilo.

Com todas as dúvidas, conflitos e lembranças voltando a sua mente, o pobre rapaz estava a beira do colapso. Ouvindo o som dos ponteiros do relógio, ele continuava na direção do topo da torre, empunhando a espada que daria fim a tudo.

“O que é o 'Mal', afinal de contas?”

“És um demônio, ou será que és minha mãe?”

Todas estas questões perpetuavam na mente do Lorde de Azul. Oh, pobre rapaz. Somente uma alma inerte, com um coração já morto, que queria o fim de todo aquele sofrimento.

Mesmo assim, ele não mais hesitaria, mesmo que tivesse que empunhar a espada contra sua própria família. Os incentivos e a reza de sua amiga, a jovem historiadora, ainda se sobressaíam em sua mente. O caminho certo a trilhar ainda não sumira, e deveriam continuar indo em frente, por mais que as coisas que pudessem fazer fossem pequenas. Se o fizessem, um dia, a chuva pararia de cair.

Ah, mas a dramática História do Mal finalmente chegaria ao fim... Porque o Príncipe Azul resolvera escrever aquele fim com suas próprias mãos, tentando rir dos momentos em que sofrera.

Ele não mais hesitou, mesmo quando encontrara, em meio dos degraus, sua irmã. Eis que surge mais uma peça esquecida dessa história, a filha bastarda da rainha com o falecido rei do Reino Amarelo. E a verdadeira assassina da Garota de Madeira.

A garota de cabelos dourados havia se infiltrado no castelo da Filha do Mal, agindo como espiã para a rainha. Anos mais tarde, retornara ao Reino Azul, e naquele momento, estava frente a frente com seu irmão, a quem causara tanto sofrimento.

Com poderes até então desconhecidos pelo rapaz, vindos de um misterioso cálice*, a garota estava ao ponto da loucura, com o único objetivo de matá-lo. Contudo, a Dama Vermelha, depois de uma árdua batalha, conseguira derrotá-la.

Ah, mas a dramática História do Mal finalmente chegara ao fim... Porque, ao chegar no topo da Torre do Relógio, o Príncipe Azul encontrara sua mãe sentada numa cadeira a apodrecer.

Por mais que tivesse imaginado-a rindo diabolicamente, e se preparado para aceitar a triste verdade, fora tudo em vão. A Rainha Azul já estava morta. Supõe-se que a própria filha enlouquecida a matara, por não ter reconhecido seus serviços durante todo aquele tempo.

E enquanto as cortinas se fechavam no último ato da História do Mal, o pobre rapaz questionava-se uma última vez:

“És um demônio ou será que és aquela que já foi minha mãe?”

Acabou? Oh não meus queridos, porque uma lenda jamais acaba de verdade. E aquelas pobres almas, cheias de pesares e arrependimentos, um dia haverão de se encontrar novamente. E guardem minhas palavras, essa dramática história será reescrita, com um final feliz.