Juntas escrita por llucida


Capítulo 14
O melhor presente do Mundo




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Açúcar, farinha, manteiga, chocolate, sal, ovos, fermento, castanhas, essência de baunilha, creme de avelã. Misturar, sovar... Ia dar tudo certo.  

Sarada batia a massa sobre o mármore escura, virando-a de um lado para o outro, amassando e batendo em sua superfície com o rolo. Teve que segurar a irritação no nariz com a farinha que levantava no ar toda vez que batia a massa na bancada.

Era assim que sua mãe fazia, não? Ou era com pizza? Bem, não importava, a massa deveria estar bem misturada e batida com muita força e vigor e... 

— Sarada — ouviu a voz sonolenta de Sakura chamar —, o que... 

Ela se sobressaltou ao ouvir aquela voz, e antes que pudesse responder,  notou, não tarde demais, a tigela de vidro da mãe que oscilava  sob a bancada devido aos vigorosos movimentos, pender rumo ao chão juntamente com a massa, que voou para o outro lado da cozinha. A tigela que a mamãe pegou na casa da vovó, sua mente gritou alarmada. Estava encrencada.

Em retrospecto, a mente de Sakura registrou justamente as três coisas que fizeram  o alarme Sarada-cozinhar-fogo soar na sua cabeça assim que entrou na cozinha: Sarada se encontrava com as mãos brancas e a cara pela farinha de trigo; o fogão ligado com o que seria... Chocolate??? E a última coisa que registrara antes do alarme soar foi a travessa de vidro que roubara da casa de sua mãe caindo. Se Sarada achava que estava com problemas com ela por aquilo, não queria nem imaginar como ela estaria com Mebuki.

Seus instintos ninja  fizeram seu corpo se mover para desligar o fogão,  e  pegar Sarada antes que a tigela alcançasse o chão e ela se machucasse com os estilhaços. 

— O que você acha que estava fazendo? 

— Eu... Eu...  

Sakura não deixou ela se explicar.

— Eu não quero saber de você perto dessa cozinha, ouviu bem? — determinou incisiva a encarando nos olhos. 

A garotinha acenou e quando Sakura a soltou, passou o olhar no entorno da cozinha. Estava tudo uma bagunça. Os armários estavam abertos com panelas para todo o lado, farinha de trigo se espalhava pela pia e chão, um banquinho, que estava certa que Sarada usara para alcançar os armários e fogão, se encontrava em frente à bancada. Ela tinha idéia do perigo que se submetera?

Deveria ter suspeitado que ela aprontava algo, claro que devia. Há dias ela estava ocupada com uma pesquisa, precisando de tempo e silêncio para estudar. Deveria ter estranhado ter conseguido aquilo tão fácil naquele dia. Ao contrário de todos os outros dias do ano, Sarada estava quieta desde que chegara da escola. Apenas a deixou estudando pelas últimas o quê... — Ela olhou o relógio — três horas. Já deveria ter aprendido que a casa muito quieta nunca era um bom sinal.

 Quando ela se aproximou da bancada, Sarada logo se exasperou, sinalizando para que parasse. 

— O que... O que estava fazendo? — perguntou mais calma e ligeiramente curiosa, notando que a filha estava visivelmente envergonhada. 

— Eu não queria causar problemas. .. Eu... Eu nunca te dou um presente, então eu pensei... 

Era seu aniversário. Como tinha esquecido? Sarada estava tentando fazer algo para seu aniversário! Aquela idéia rapidamente afastou qualquer irritação de seu coração.

— Como não, eu tenho todos os que você me dá! Como aquele porta-jóias... — Sakura a lembrou do presente do último dia das mães.

— De picolé — ela contra-argumentou.

 — Tem também as flores, os porta-retratos.

— Papel crepom e cartolina! — protestou contrariada — Eu queria um... Um presente de verdade. 

Sakura riu com ela desprezando as coisas que fazia em datas comemorativas na escola. 

— Eles são de verdade pra mim. Eu amo seus presentes. 

E amava mesmo. Eram cartões coloridos, corações de papel, pinturas com as palmas das mãos dela impressos com tintas coloridas... Ela amava cada um dos pequenos presentes que a filha lhe fazia em datas comemorativas desde que começara a freqüentar a escolinha. Estava certa de quando Sarada tivesse 40 anos ela ainda teria cada uma daquelas lembranças guardadas. 

Não lhe ocorreu que Sarada sentisse a necessidade de lhe dar algum outro presente.

— Creme de avelã e castanhas, é? Quero ver isso.

Sarada se emburrou.

— Ah, agora não seria mais surpresa — ela se sentou na bancada enfezada.

Sarada era uma teimosa, mas Sakura não desistiria.

— Com chocolate... Eu não posso aguentar...

A garotinha a fitou por trás dos óculos quadrados com dúvida estampada na face. Ela cederia.

— Talvez o ingrediente que falte seja a garota mais fofa do mundo — Sakura avançou jogando farinha nos cabelos da pequena, seguido por cosquinhas.

Como se tanta superfície de contato só servisse pra isso, sua testa foi o primeiro alvo a ser acertado quando a filha se recuperou do excesso de risos, buscando deixá-las em mesmas condições.

Com o arrastar da tarde, após levar a massa ao forno, as duas arrumavam a bagunça instaurada nos breves minutos de preparo.

Sarada era muito atenta a receita, quase a enlouqueceu questionando cada decisão sua de fazer do jeito que sabia em sua mente. Ela constatou com ternura que a menina havia decorado a receita, apesar das dúvidas sobre como seria uma colher de chá, ou um terço de colher de sopa.

Lustrava o chão quando o cheiro doce a despertou.

Sarada também pareceu se atentar ao cheiro do biscoito que já devia estar quase pronto.

— Creme de avelã — inspirou o ar em volta com expectativa.

— Com castanha — Sarada concordou sonhadora.

— E baunilha.

— E chocolate.

— E... Fogo? Fogo — se a primeira palavra saiu como uma indagação, a segunda foi um grito de desespero.

As duas correram para o forno, observando o fogaréu que se formara na parte interna. Sakura desligou a boca, jogando uma toalha e água para conter as chamas. Ele devia estar com algum problema de congestionamento de gás.

— Ao menos conseguimos apagar — falou animadamente recostando-se na pia ao lado quando as chamas cessaram.

Sarada tossiu com a nuvem espessa de fumaça ainda apresente, mas concordou.

Elas olharam uma pra outra, e Sakura foi primeira a dar um passo em direção ao fogão, colocando a mão no puxador. Inspirou profundamente. Sarada ficaria chateada se o biscoito tivesse queimado. Seria a ruína do presente que ela tanto queria lhe dar.

Ao abrir, sentiu a menina se aproximar afoita atrás de si para ver o estado dos biscoitos.

Olhou para a filha esperando uma reação que não veio até o olhar das duas se encontrar. Um riso baixo começou a soar e ela não conseguiu não acompanhar. Cadenciadamente, o volume dos risos passou a poder ser ouvido em toda a casa.

Ainda em meio a risos, ela pegou a bandeja e a colocou sobre a mesa. Foi quando Sarada, sem nenhum preâmbulo, a abraçou.

A percepção dos bracinhos da pequena em volta de si tão repentinamente fez brotar algumas lágrimas junto com um riso bobo. Então a abraçou de volta.

— Feliz aniversário, mamãe.

Os biscoitos, que Sarada cuidadosamente moldou com algo que sugeria a silhueta delas e de Sasuke, juntos e de mãos dadas, descansavam sobre a mesa queimados como um tição. Mas não importava. Tinha o melhor presente do mundo nos seus braços.


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Notas finais do capítulo

HOJE É O DIA DA RAINHA!!!!
Era para essa drabble ter sido publicada no aniversário do ano passado, não riam. Como deveria ter encerrado Juntas em dezembro, viraria um one avulsa hoje.
Moral da história: Ainda estou toda enrolada em meus próprios prazos, mas saiu o/

Espero que tenham gostado
Obs: Imaginei a Sarada com uns 5/6 anos nesse capítulo



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