Juntas escrita por llucida


Capítulo 10
Castigo




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Ela não podia comer os doces que a mãe estava fazendo para o chá de bebê da tia Hina, não podia brincar no andar de cima, nem jogar queimada com o Inojin e Boruto, que haviam decidido que era brincadeira de menino.  De onde eles haviam tirado isso?

Havia sobrado apenas brincar na caixa de areia sozinha. Mas eles haviam permitido isso? Não, ao invés disso inventaram que ela tinha medo de libélulas. Claro que ela não tinha medo de libélulas, mas não era por isso que iria querer uma no cabelo! E ele ainda estava se achando só porque ia ter um irmão.

Era tudo culpa do Boruto.

— Aquele idiota. — praguejou com um muxoxo que não passou despercebido pela mãe, que ajudava a tia Hinata a arrumar os doces em uma bandeja.

Doces que ela não podia comer — isso já foi dito? Nada mais injusto.

"Você não vai conseguir jantar se comer agora." Sua mãe dizia. Claro que ela ia conseguir. Não tinha nada demais em comer um doce. Ou dois.

Ela e a tia Ino estavam ajudando nos preparativos para o chá de bebê que seria irmão daquele idiota, enquanto o tio Naruto estava acabando de arrumar o quarto do neném. Ela queria ver como estava ficando, mas era só subir um degrau que ouvia sua mãe reclamar.

"Está empoeirado e você pode se ferir mexendo no que não deve".

Ela não podia fazer nada!

Era só ela querer fazer algo ali que recebia prontamente um não.

— Estou ouvindo, Sarada.

— Humpf — ela bufou, apoiando o rosto sobre as mãos, mantendo o cotovelo sobre os joelhos.

Estava sentada ali nos primeiros degraus da escada há uns três minutos. Sua mãe a havia mandado sentar ali para pensar. E era certamente o que estava fazendo. Talvez não do modo que a mãe esperava.

Queria ter jogado mais areia no Boruto, areia o suficiente pra deixa-lo enterrado no chão do jardim! Quem sabe assim ele não fosse lhe dedurar pra sua mãe.

— Mas isso não é justo — resmungou.

— Não é mesmo — Sakura falou se aproximando da filha. — Você poderia ter machucado seriamente o Boruto. A areia contém muitos micróbios, já pensou se um deles cria um infecção nos olhos dele?  Você gostaria disso?

A menininha abriu a boca em protesto, mas se obrigou a parar com frustração, se resignando a fazer um muxoxo. Ela não queria isso, afinal. Boruto era um idiota, mas ela não iria gostar de vê-lo cego, talvez abarrotado de areia, mas não cego.

 Sakura levou a mão até o rosto da filha, para que esta a encarasse.

— Então você já pode pedir desculpas pra ele, não?

Sarada assentiu, ainda a contragosto, e viu a mãe chamar o Boruto até ali, que se aproximou, ainda que desconfiado. Aquela menina sabia ser assustadora.

— Acho que a Sarada tem algo a te falar — incentivou Sakura com expectativa.

A garotinha ainda parecia hesitante, olhando raivosamente para Boruto.

— Um pedido de desculpa pelo que fez, não é Sarada? — insistiu ela com um tom mais severo.

Aquilo encorajou Boruto, que a olhou com um sorriso vitorioso. Eles sempre se provocavam quando o outro levava bronca. E agora ele estava na vantagem.

— Sarada... —advertiu Sakura encarando a garotinha com ar muito sério.

— Sim, eu queria... — começou Sarada relutante quando se obrigou a parar.

Boruto e aquele um risinho idiota na cara.

— Eu te desculpo, Sarada. — falou com ar de superioridade, estendendo a mão. Aquilo era uma provocação.

Seus olhos foram para o de sua mãe, como se ponderasse se recusar a se desculpar, mas não queria ver sua mãe brava, então achou melhor pegar a mão dele.

— Apesar de você ser medrosa — Ele completou, extinguindo o momento de paz.

— Idiota — ela pestanejou, torcendo os dedos do menino, que puxou a mão, correndo para trás do pai que estava do outro lado da sala.

— Sarada! — sibilou Sakura já irritada.

— Mas é culpa dele mamãe, ele que não me deixou jogar queimada e ainda colocou aquilo no meu cabelo — reclamou com a voz já embargando —, e ainda por cima tá se achando porque vai ter um irmão. Eu quero ir embora!

Antes que percebesse, a filha já estava chorando e resmungando coisas sobre ela ser proibida de fazer tudo. Sakura inalou profundamente contando até dez, antes de pegar a menina no colo.

— Você não pode jogar areia nos olhos das pessoas toda vez que te irritarem — falou, obtendo como resposta apenas uma fungada. — Tem que aprender a conversar e resolver as coisas de modo civilizado.

Sim, essa era Sakura discursando sobre resolução pacífica de conflitos e controle de raiva.

Maternidade muda as pessoas.

Naruto apoiou uma das mãos no queixo e estreitou a visão como se tivesse perguntando "Hm, é mesmo?".

Sakura o ignorou, afagando a cabeça da filha que se encontrava chorosa apoiada na curvatura do seu pescoço. Poderia dar uns cascudos nele depois.

Sarada havia perdido a soneca da tarde e passado da hora de comer. Ela não estava acostumada a ter sua rotina de sono e alimentação interrompida, o que a fazia não ficar surpresa por ver a filha tão irritadiça. Não que sua menina tivesse um gênio fácil em qualquer época, mas adicionado à fome ou sono, Sarada era um xarope.

Trocou uma rápida piscadela com Hinata sinalizando que subiria e pegou a bolsa no sofá. Talvez em um lugar mais calmo a filha pudesse adormecer e compensar o atraso na rotina ao menos por algum tempo. Não poderia deixa-la dormir se fosse um pouco mais tarde, já que garantiria que a menina demoraria de dormir a noite.

Hinata era mãe de criança pequena também. E bem, quando você é mãe de uma criança pequena é bom que as portas de cozinhas e banheiros dos seus amigos estejam sempre abertas pra você, uma vez que se acostuma a passar por certos apertos, como seu filho fazer xixi em uma hora indevida, em um lugar mais indevido ainda, ou vê-lo subitamente sujo de lama após uma ida jardim em que você desgrudou o olho por alguns segundos. Além de ter a hora da soneca, e de acabarem se cansando em algum momento e dormindo no meio de uma visita.

Sakura foi até um dos banheiros de uso comum já começando a afrouxar suas roupas, a começar pela blusa de linho de botões que ela costumava usar. Ela ainda se encontrava chorando, visivelmente bêbada de sono. Ela a banhou cuidadosamente, vendo-a se acalmar. Banho sempre ajudava. Já vira as versões mais furiosas e estressadas de Sarada se converter a de um anjo quieto e sonolento após três minutos de banho.

 Pegou a pequena muda que levava consigo, a vestiu e a levou ao quarto de Boruto, sentando-se e esperando a filha, que já se encontrava praticamente adormecida, realmente pegar no sono. Nem adiantaria tecer mais alguma reclamação pelo ocorrido, visto que a menina estava bêbada de sono.

— Mamãe — Ela chamou após alguns minutos os quais Sakura julgou que ela estava adormecida — É verdade que eu não vou ter irmãos?

— Quê?

— O Boruto disse que só tem irmão quem tem pai e mãe, e o papai não tá aqui.

Sakura então entendeu porque ela já estava tão mais rude com o Boruto.

— Bem, eu não posso dizer se eu e seu pai iremos te dar irmãos um dia — Sakura falou, resoluta a tentar, no entanto. — Mas se você for uma boa amiga, certamente poderá ter irmãos um dia. O que não acontecerá se continuar jogar areia nos olhos das pessoas

— Como a Senhora e o papai com tio Naruto?

— É, tipo isso.

— Mas a senhora outro dia jogou...

— Pshiu — silenciou ela, nem querendo saber do que ela havia lembrado. Ela não era o melhor exemplo. Seria bom colocar isso na lista de coisas pra fazer pra educar Sarada. — Isso não importa.

 Ela fechou os olhos, e alguns minutos depois,  levou sonolentamente uma das mãos até seu colo, tateando até a curvatura do seu pescoço antes de abrir os olhos uma última vez com cenho franzido, fechando-os em seguida ao se ajeitar nos seus braços com uma careta, fazendo Sakura se permitir rir.

Sarada, desde que desmamara, havia se habituado a dormir com uma das mãozinhas sempre enroscada em seu cabelo, talvez para garantir que não fosse embora.  Sakura havia cortado o cabelo há alguns dias atrás, para a frustração da filha, que ainda elevava inconscientemente as mãos à procura de seus cabelos, e constantemente ficava enfezada por não achar.

Assim que viu que ela estava totalmente adormecida, estendeu uma manta sobre o chão por ser mais fresco, e a deixou dormindo, pegado algumas almofadas para acomodar sua cabeça.

...

Fora acordada por um leve susto de algo caindo sobre sua mão, abafando o grito ao empurrá-lo por reflexo. O inseto negro caíra sobre o assoalho, correndo no sentido contrário ao que estava, enquanto esta se encolhia na parede. Ela resolveu segui-lo, desfiando a cortina.

Sua mãe havia dito que algumas aranhas eram inofensivas, e serviam até para afastar alguns mosquitos que realmente fossem prejudiciais, por isso não era bom sair matando-as. Aproximou-se com cuidado e se abaixou, enlaçando-a o nó que havia preparado. A aranha se debateu um pouco, e ela foi até à janela, onde ficava um dos galhos da árvore do quintal, libertando-a ali.

Sarada a observava se afastar lentamente quando lhe ocorreu uma ideia. Ela podia não ter medo de libélulas, aranhas, ou qualquer inseto nesse mundo, mas conhecia alguém que tinha.

A pegou de volta rapidamente, prendendo-a ao lado do travesseiro de Boruto, e desceu correndo ao encontro da mãe, que certamente logo iria pra casa.

— Já ia te chamar — dito e certo, Sarada pensou, mas viu a mãe fazer menção de subir as escadas. — Vou pegar suas coisas.

— Ah, não mãe, deixa que eu pego — ela protestou. — Vou guardar tudo direitinho.

A filha disse as últimas palavras já correndo apressada para o andar superior, ela a esperou e ambas se despediram de Naruto, Hinata e Boruto.  Ino já havia ido embora com o filho enquanto Sarada dormia.

Algumas horas depois Sakura entendeu que deveria ter suspeitado desde o começo. Já ia mandando Sarada pra cima para escovar os dentes desfazia a mesa do jantar quando o telefone tocou e esta foi atender. A pequena logo se levantou, olhando de modo suspeito demais enquanto ela pegava o telefone.

 — Hinata, tudo bem? — Ela perguntou ao ouvir a voz do outro lado da linha.

— Mãe, eu vou escovar os dentes — se habilitou Sarada correndo para o primeiro andar.

 Ao ouvir sobre o que Hinata encontrara quando fora colocar Boruto para dormir, Sakura logo percebeu o quanto havia sido ingênua ao achar que a situação estava resolvida. Aquilo era algo para encarnações futuras, talvez um carma que fosse levar em suas vidas futuras.

Desligou o telefone, e uma única palavra foi ecoada em todo o quarteirão.

— Sarada! 


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Notas finais do capítulo

A fruta não caiu muito longe do pé se tratando de vingança, né? haha

Ai, essa era pra ser uma drabble sobre o cabelo da Sakura, me veio um headcanon de que ela pequenininha era daquelas crianças que gostam de dormir grudadas ao cabelo da mãe.


Beijos e até mais ^^