Annie e Finnick - Até que a morte nos separe. escrita por Carmel Verona
Sou rapidamente levada até uma sala dentro do Edifício da Justiça, onde tenho cinco minutos para me despedir de meu pai. Ele entra correndo e me dá um abraço, percebo que está tentando o máximo que pode para não chorar, mas mesmo assim algumas lágrimas rolam pelo seu rosto, então eu preciso ser forte por ele. Engulo o nó que se formou em minha garganta e garanto a ele que tudo vai ficar bem. Ele se afasta de mim e segura meu rosto com as mãos.
– Você é tão parecida com a sua mãe. - ele diz com a voz chorosa. Então ele tira algo do bolso e coloca em minhas mãos. São as conchas que eu peguei hoje mais cedo.
– Ah, pai - nunca foi tão difícil segurar minhas emoções.
Dou outro abraço nele e logo os pacificadores o tiram de mim.
– Eu prometo que voltarei para casa - grito para ele, mas não sei se essa será uma promessa que eu conseguirei cumprir.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Tudo que aconteceu depois foi muito rápido e quando dou por mim estou na sala de jantar do trem. Dallon está sentado ao meu lado, mas ele nem sequer olha pra mim. Eu o encaro por um momento e tento dar um sorriso. Ele olha pra mim, mas seus olhos estão frios, distantes, e isso parte o meu coração.
Uma senhora entra na sala acompanhada de Finnick, os dois olham para nós com um sorriso nos lábios. Eu vasculho a memória e me lembro da senhora, era Mags. Os dois agora eram nossos mentores.
– É um prazer conhecê-los - Diz ela em um tom acolhedor - Eu sou Mags e esse é o...
– Sabemos quem vocês são - Dallon corta a senhora.
Eu fico impressionada com seu jeito. Dallon nunca foi assim e eu o conheço há muitos anos.
– Tudo bem - ela não parece abalada, talvez estivesse acostumada por causa dos outros tributos-, tentem descansar um pouco, amanhã teremos um longo dia.
Meu amigo levanta e se retira quando ela mal termina sua frase. Eu apenas o acompanho com os olhos e tento imaginar o que aconteceu com ele. Os jogos nem começaram e Dallon já está assim, não gosto nem de imaginar como as coisas serão na arena. Eu tento ir atrás dele e quando chegamos em seu quarto, ele fecha a porta na minha cara. Eu olho através do pequeno vidro da porta e vejo que meu amigo apenas encara a pequena janela de seu quarto. Eu suspiro e volto para a sala de jantar, onde me sento em um sofá e me encolho, triste.
Por volta de uma hora depois, o jantar é servido. Estamos todos sentados a mesa e Finnick diz qualquer coisa sobre patrocinadores. Eu não consigo prestar atenção, apenas encaro o meu prato com carne e batatas e tento pensar em como me reaproximar de Dallon. Por que tudo tão de repente? Por que tínhamos que ser nós dois? E por que ele não fala mais comigo?
– Você precisa comer, Annie - Mags sorri para mim - Melhor comer e descansar bastante agora para ter toda a energia que conseguir na arena.
Como ela consegue ser tão doce e reconfortante? Eu sei que os jogos são horríveis e sanguinolentos, mas como ela consegue fazer eles parecerem apenas uma partida de vôlei com os amigos? Eu vou morrer!
Aceno com a cabeça e sorrio, tentando ser educada. Eu pico toda a minha comida e levo apenas três ou quatro garfadas à boca, mas como minha comida está toda picada, tenho a impressão de que comi mais do que de fato eu comi.
Dallon sai da mesa assim que termina de comer e não pede licença, apenas volta para o seu aposento, provavelmente para encarar a janela pelo resto da noite. Decido que vou fazer o mesmo.
– Me desculpem por ele - digo assim que termino de picar toda a comida - Se me derem licença, preciso descansar.
Mags e Finnick acenam com a cabeça e eu me dirijo ao meu quarto. Eu deixo a porta encostada e vou direto para a cama, abraço um travesseiro e as cenas da colheita e do resto do dia começam a passar pela minha cabeça. Meu nome sendo sorteado, meu pai me abraçando, Dallon me ignorando, Finnick inexpressivo e Mags sendo uma mãe. Por que tudo mudou tão de repente? Queria que não tivéssemos sido sorteados. Queria que os Jogos não existissem.
Tateio o bolso do vestido e vejo as conchas que peguei hoje de manhã e é nessa hora que eu desisto de lutar contra as minhas emoções. Deixo que as lágrimas ensopem o travesseiro e que os soluços venham a tona. Apenas cubro o rosto com o travesseiro para que não possam ouvir meu desespero. Eu choro até não conseguir mais, até me cansar de tudo, até me conformar e aceitar que tudo aquilo era real, até ficar cansada de tanto chorar.
Estou exausta e vazia. Lágrimas ainda escorrem pelos meus olhos, mas eu fico imóvel, encarando a porta, inexpressiva, enquanto abraço meu travesseiro. Até que alguém abre a porta do meu quarto com muito cuidado.
– Annie? - Finn coloca a cabeça para dentro, tentando espionar.
– Pode entrar - minha voz agora está um pouco rouca.
– Sinto muito. - Ele entra com cautela, parece que está pisando em ovos - Mags disse que ouviu você e me pediu para ver se estava tudo bem.
– Está tudo bem- minto.
Continuo deitada e enxugo os meus olhos enquanto o rapaz se senta na cama.
– Se quiser conversar, eu estarei aqui - Ele tenta dar um sorriso para me acalmar, mas não funciona muito - Eu sei como se sente.
E aquilo era verdade. Ele já havia passado por isso e muito mais. Eu fecho os olhos e digo, por fim:
– Tudo bem - abraço o travesseiro mais forte.
– Tudo bem - Finnick repete e tira um pouco do cabelo que ficou grudado em eu rosto.
Seu toque é leve e macio, o que faz com que eu relaxe, e finalmente consiga adormecer.
Mas o sono não me traz paz, em vez disso, tenho um pesadelo. O mesmo pesadelo da noite anterior, mas agora ele é mais completo.
Meu nome é chamado pela mulher azul e eu subo ao palanque. Ela chama por Dallon e quando ele sobe, nós dois estamos na Arena. Meu amigo me ataca e suas mãos voam para o meu pescoço. Eu caio no chão e ele me enforca.
– Você vai morrer - Ele ri e chora ao mesmo tempo - Você vai morrer.
Estou perdendo o ar.
Acordo com um susto, está tudo escuro, até que vejo uma sombra sentada em minha cama.
– Não! - Eu me arrasto pra trás e bato as costas na parede. Estou ofegante.
– Calma, calma - a voz é familiar.
– Finnick?
Meus olhos agora se adaptam a luz e posso ver o belo rosto do meu instrutor. Coloco a mão no meu coração e percebo que ele está disparado.
– Desculpe - Diz ele, com sinceridade - Não quis assustar você. Foi um pesadelo, não é?
Faço que sim com a cabeça.
– Tome um banho e venha tomar café - propõe ele -, em pouco tempo chegaremos a capital.
Decido fazer o que ele me sugeriu. Tomo uma rápida ducha no banheiro ao lado do meu quarto, coloco o vestido de minha mãe e vou para a sala de jantar com a toalha enrolada em meu cabelo ainda molhado.
Chegando lá, vejo que Dallon também está acordado e que ele observa a janela. Decido ir ao lado dele, mas não dirijo uma palavra a meu amigo, e me impressiono com a vista. Grandes prédios, extravagantes na verdade, podemos ver telas de tevê em quase todos eles e alguns pontos coloridos, provavelmente as pessoas, já são visíveis. Mesmo de longe, tudo parece exagerado.
Nós chegamos a Capital.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!