Annie e Finnick - Até que a morte nos separe. escrita por Carmel Verona


Capítulo 4
O Caminho




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Sou rapidamente levada até uma sala dentro do Edifício da Justiça, onde tenho cinco minutos para me despedir de meu pai. Ele entra correndo e me dá um abraço, percebo que está tentando o máximo que pode para não chorar, mas mesmo assim algumas lágrimas rolam pelo seu rosto, então eu preciso ser forte por ele. Engulo o nó que se formou em minha garganta e garanto a ele que tudo vai ficar bem. Ele se afasta de mim e segura meu rosto com as mãos.

– Você é tão parecida com a sua mãe. - ele diz com a voz chorosa. Então ele tira algo do bolso e coloca em minhas mãos. São as conchas que eu peguei hoje mais cedo.

– Ah, pai - nunca foi tão difícil segurar minhas emoções.

Dou outro abraço nele e logo os pacificadores o tiram de mim.

– Eu prometo que voltarei para casa - grito para ele, mas não sei se essa será uma promessa que eu conseguirei cumprir.

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Tudo que aconteceu depois foi muito rápido e quando dou por mim estou na sala de jantar do trem. Dallon está sentado ao meu lado, mas ele nem sequer olha pra mim. Eu o encaro por um momento e tento dar um sorriso. Ele olha pra mim, mas seus olhos estão frios, distantes, e isso parte o meu coração.

Uma senhora entra na sala acompanhada de Finnick, os dois olham para nós com um sorriso nos lábios. Eu vasculho a memória e me lembro da senhora, era Mags. Os dois agora eram nossos mentores.

– É um prazer conhecê-los - Diz ela em um tom acolhedor - Eu sou Mags e esse é o...

– Sabemos quem vocês são - Dallon corta a senhora.

Eu fico impressionada com seu jeito. Dallon nunca foi assim e eu o conheço há muitos anos.

– Tudo bem - ela não parece abalada, talvez estivesse acostumada por causa dos outros tributos-, tentem descansar um pouco, amanhã teremos um longo dia.

Meu amigo levanta e se retira quando ela mal termina sua frase. Eu apenas o acompanho com os olhos e tento imaginar o que aconteceu com ele. Os jogos nem começaram e Dallon já está assim, não gosto nem de imaginar como as coisas serão na arena. Eu tento ir atrás dele e quando chegamos em seu quarto, ele fecha a porta na minha cara. Eu olho através do pequeno vidro da porta e vejo que meu amigo apenas encara a pequena janela de seu quarto. Eu suspiro e volto para a sala de jantar, onde me sento em um sofá e me encolho, triste.

Por volta de uma hora depois, o jantar é servido. Estamos todos sentados a mesa e Finnick diz qualquer coisa sobre patrocinadores. Eu não consigo prestar atenção, apenas encaro o meu prato com carne e batatas e tento pensar em como me reaproximar de Dallon. Por que tudo tão de repente? Por que tínhamos que ser nós dois? E por que ele não fala mais comigo?

– Você precisa comer, Annie - Mags sorri para mim - Melhor comer e descansar bastante agora para ter toda a energia que conseguir na arena.

Como ela consegue ser tão doce e reconfortante? Eu sei que os jogos são horríveis e sanguinolentos, mas como ela consegue fazer eles parecerem apenas uma partida de vôlei com os amigos? Eu vou morrer!

Aceno com a cabeça e sorrio, tentando ser educada. Eu pico toda a minha comida e levo apenas três ou quatro garfadas à boca, mas como minha comida está toda picada, tenho a impressão de que comi mais do que de fato eu comi.

Dallon sai da mesa assim que termina de comer e não pede licença, apenas volta para o seu aposento, provavelmente para encarar a janela pelo resto da noite. Decido que vou fazer o mesmo.

– Me desculpem por ele - digo assim que termino de picar toda a comida - Se me derem licença, preciso descansar.

Mags e Finnick acenam com a cabeça e eu me dirijo ao meu quarto. Eu deixo a porta encostada e vou direto para a cama, abraço um travesseiro e as cenas da colheita e do resto do dia começam a passar pela minha cabeça. Meu nome sendo sorteado, meu pai me abraçando, Dallon me ignorando, Finnick inexpressivo e Mags sendo uma mãe. Por que tudo mudou tão de repente? Queria que não tivéssemos sido sorteados. Queria que os Jogos não existissem.

Tateio o bolso do vestido e vejo as conchas que peguei hoje de manhã e é nessa hora que eu desisto de lutar contra as minhas emoções. Deixo que as lágrimas ensopem o travesseiro e que os soluços venham a tona. Apenas cubro o rosto com o travesseiro para que não possam ouvir meu desespero. Eu choro até não conseguir mais, até me cansar de tudo, até me conformar e aceitar que tudo aquilo era real, até ficar cansada de tanto chorar.

Estou exausta e vazia. Lágrimas ainda escorrem pelos meus olhos, mas eu fico imóvel, encarando a porta, inexpressiva, enquanto abraço meu travesseiro. Até que alguém abre a porta do meu quarto com muito cuidado.

– Annie? - Finn coloca a cabeça para dentro, tentando espionar.

– Pode entrar - minha voz agora está um pouco rouca.

– Sinto muito. - Ele entra com cautela, parece que está pisando em ovos - Mags disse que ouviu você e me pediu para ver se estava tudo bem.

– Está tudo bem- minto.

Continuo deitada e enxugo os meus olhos enquanto o rapaz se senta na cama.

– Se quiser conversar, eu estarei aqui - Ele tenta dar um sorriso para me acalmar, mas não funciona muito - Eu sei como se sente.

E aquilo era verdade. Ele já havia passado por isso e muito mais. Eu fecho os olhos e digo, por fim:

– Tudo bem - abraço o travesseiro mais forte.

– Tudo bem - Finnick repete e tira um pouco do cabelo que ficou grudado em eu rosto.

Seu toque é leve e macio, o que faz com que eu relaxe, e finalmente consiga adormecer.

Mas o sono não me traz paz, em vez disso, tenho um pesadelo. O mesmo pesadelo da noite anterior, mas agora ele é mais completo.

Meu nome é chamado pela mulher azul e eu subo ao palanque. Ela chama por Dallon e quando ele sobe, nós dois estamos na Arena. Meu amigo me ataca e suas mãos voam para o meu pescoço. Eu caio no chão e ele me enforca.

– Você vai morrer - Ele ri e chora ao mesmo tempo - Você vai morrer.

Estou perdendo o ar.

Acordo com um susto, está tudo escuro, até que vejo uma sombra sentada em minha cama.

– Não! - Eu me arrasto pra trás e bato as costas na parede. Estou ofegante.

– Calma, calma - a voz é familiar.

– Finnick?

Meus olhos agora se adaptam a luz e posso ver o belo rosto do meu instrutor. Coloco a mão no meu coração e percebo que ele está disparado.

– Desculpe - Diz ele, com sinceridade - Não quis assustar você. Foi um pesadelo, não é?

Faço que sim com a cabeça.

– Tome um banho e venha tomar café - propõe ele -, em pouco tempo chegaremos a capital.

Decido fazer o que ele me sugeriu. Tomo uma rápida ducha no banheiro ao lado do meu quarto, coloco o vestido de minha mãe e vou para a sala de jantar com a toalha enrolada em meu cabelo ainda molhado.

Chegando lá, vejo que Dallon também está acordado e que ele observa a janela. Decido ir ao lado dele, mas não dirijo uma palavra a meu amigo, e me impressiono com a vista. Grandes prédios, extravagantes na verdade, podemos ver telas de tevê em quase todos eles e alguns pontos coloridos, provavelmente as pessoas, já são visíveis. Mesmo de longe, tudo parece exagerado.

Nós chegamos a Capital.


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