Annie e Finnick - Até que a morte nos separe. escrita por Carmel Verona


Capítulo 3
A Colheita




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Acordo com um susto no meio da noite, me sento na cama e vejo no relógio da cabeceira que são cinco e meia da manhã. Enxugo minha testa soada com as costas da minha mão e decido sair da cama. Chegando na cozinha eu resolvo tomar um gole d´água, tentando me acalmar e quase a derrubo em meu colo por causa das minhas mãos trêmulas. Deixo o copo na pia, me apoio sobre a bancada da cozinha com as duas mãos e respiro fundo.

Eu não deveria estar tão nervosa, penso. É apenas mais uma colheita dos jogos.

Eu nunca fui sorteada, não vai ser hoje, além do mais quase todos os anos alguém se voluntaria então se, e apenas se, eu fosse sorteada alguém provavelmente salvaria a minha pele.

Afasto esses pensamentos e saio de casa. Pego os meus pés de pato e meu snorkel que estão na varanda e decido ir até a praia, sem pressa. O dia está começando a clarear e a maré já está ficando mais baixa, aproveito para sair antes que meu pai acorde.

Quando chego na praia, o mar está completamente vazio já que os pescadores e nadadores ainda não começaram o dia. Eu entro na água e quando ela está na altura da minha cintura, coloco os pés de pato e o snorkel e vou para o fundo, nado até chegar perto dos corais e mergulho. A água me ajuda a ficar distraída, mas mesmo assim a colheita para os Jogos Vorazes não saem da minha cabeça; No meu sonho, eu era escolhida e o sonho se repetia e repetia com aquela mesma cena: meu nome sendo sorteado e uma voz feminina anunciando-o para que todos pudessem ouvir em alto e bom som. Vou mais para o fundo do mar onde já estou abaixo dos corais. O sol já ilumina essa parte e consigo ver tudo o que tem no chão: Areia, algas, conchas e alguns peixeis ainda tímidos que não saíram de suas tocas. Pego algumas conchas pequenas e levo na mão comigo, logo resolvo voltar para a praia antes que os pescadores comecem a pescar e eu fique presa em suas redes.

Quando chego na praia, vejo Finnick sentado na areia.

– Acordou cedo. - Diz ele

– Olha quem fala.

Eu tiro toda a tralha que me atrapalha andar na areia e me sento ao lado dele, coloco as conchas dentro de um dos pés de pato e torço o cabelo. O rapaz apenas me observa com calma, enquanto eu faço tudo isso, agora com um pouco mais de pressa. Logo ele pergunta:

– Nervosa?

Eu tento sorrir, mas minha boca treme em vez disso, o que me faz desistir e apenas olhar para o chão. Ele não precisa de uma resposta. Deve ser óbvio que todos tem medo da colheita, ou pelo menos aqueles que não estão preparados para os jogos, como eu. Sempre tentei parecer forte e não me importar, mas hoje parecia mais difícil do que nunca.

– Vai ficar tudo bem - diz ele por fim -, além do mais, somos carreiristas, sempre temos um voluntário.

Mordo a parte de dentro da minha bochecha enquanto lembro das edições anteriores a minha, uma delas na qual o próprio Finnick estava lá, quando ainda era pequeno. Ninguém se voluntariou por ele.

– Como é? - olho para ele.

O rapaz respira fundo e volta a olhar para o horizonte.

– Não sei te contar. - ele parece cansado, e eu não o culpo. Eu sei a resposta para a minha pergunta, os Jogos são horríveis, mas eu tinha uma esperança de uma resposta diferente - É muito diferente do que vemos aqui na tevê.

Engulo seco e dou um sorriso nervoso. Decido me levantar e ir para casa, sem ao menos me despedir, mas quando eu dou as costas para Finnick ele vem atras de mim e pega a minha mão livre.

– Vai ficar tudo bem- ele repete.

Eu me viro para ele e agradeço suas palavras acenando com a cabeça. Eu sinto, eu sei que nada vai ficar bem, mas tentei me enganar com as palavras dele, mesmo que por um segundo.

Pego uma das pequenas conchas que peguei no mar e coloco sobre a palma do rapaz, o que faz com que ele fique um pouco surpreso.

– Toma - Fecho a mão dele e a seguro com a minha.

– Obrigado - Diz ele com um sorriso.

Eu sorrio de volta e volto para casa.

Chegando em casa vejo que o antigo vestido branco e perolado de minha mãe está sobre a minha cama. Eu tomo um rápido banho e luto contra o meu cabelo tentando vários penteados, porém nenhum deles fica decente o que me faz desistir e resolvo deixá-lo num simples rabo alto. Quando desço para a cozinha vejo que meu pai está me esperando.

– Você está linda - Ele abre os braços, me convidando para um abraço.

Vou correndo na direção dele e enterro meu rosto em seu peito. Ele me abraça forte, como se fosse o último abraço que fosse me dar e isso aperta o meu coração.

Eu me afasto um pouco dele, ignorando o pensamento horrível que acabara de ter.

– Pronta para mais um grande dia?

– Vai ficar tudo bem - repito as palavras de Finn.

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Não vejo Dallon desde a última vez em que treinamos. Ter a companhia dele agora seria ótimo para espantar o nervoso que sinto, procuro-o com os olhos entre todos os adolescentes, mas não o encontro em lugar nenhum até estar cadastrada e enfileirada na frente do Edifício da Justiça. Lá esta ele conversando com algum garoto ao seu lado, logo ele olha pra mim e sorri, eu sorrio de volta, aliviada.

Em pouco tempo, todos estão enfileirados e a cerimônia logo começa. Uma mulher com pele azulada e cabelo também azul colado na testa sobe ao palco e junta as palmas como se estivesse prestes a ganhar um presente.

– Sejam todos bem vindos! Feliz Jogos Vorazes e que a sorte esteja sempre ao seu lado - Diz ela - E antes de começarmos, eu trouxe esse filme, direto da capital.

A mulher vira seu corpo para a enorme tela instalada o lado do edifício e todos nós somos obrigados a assistir aquele filme, como todos os anos. O filme que explica por que temos os jogos vorazes, o que é ridículo. É só mais um evento que anima a Capital e coloca terror sobre todos os outros distritos. Isso sempre foi claro para mim.

– Agora chegou a esperada hora de escolher dois bravos jovens, uma mulher e um homem, para representar o Distrito Quatro na Septuagésima edição dos Jogos vorazes. - Diz ela, com toda a animação que um mestre de cerimônias poderia ter - E como sempre foi de costume, as damas primeiro.

Meu coração bate forte e sinto uma leve tontura. Procuro o rosto de Dallon, mas já o perdi de vista. Continuo procurando até ouvir alguém me chamar.

– Annie Cresta.

Meu coração para de bater, meu estômago pesa duas toneladas e meus membros se recusam a se mover. Não consigo acreditar que ouvi meu nome. Ninguém se voluntaria, nenhum som vem da plateia e a mulher tenta de novo:

– Annie Cresta?

Uma menina ao meu lado me cutuca e de repente eu aprendo a me mover de novo. Vou em direção ao palco, com dois pacificadores ao meu lado e consigo ouvir os soluços de meu pai ao fundo. Ao chegar no palco, vejo que Finnick me encara inexpressivo, como já o havia visto antes.

– Muito bem - prossegue a moça - Agora vamos aos garotos. - ela se aproxima da enorme bola de vidro e pega um papel de la - Dallon Philos.

Não consigo acreditar no que ouvi até ver Dallon subindo ao palco e se posicionando ao meu lado. Duas lágrimas escapam de cada olho meu.

– Feliz jogos vorazes - diz a mulher - E que a sorte esteja sempre ao seu lado.


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