Annie e Finnick - Até que a morte nos separe. escrita por Carmel Verona


Capítulo 25
Memórias




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Sinto uma sensação estranha toda vez que olho para a tevê. Os idealizadores planejaram um ótimo jogo, posso ver a Capital indo a loucura com o Massacre.

Não consigo dormir ou comer, só consigo me concentrar nos Jogos enquanto procuro por Finnick o tempo todo. Ele está com Mags e os tributos do doze, Katniss e Peeta; minha antiga mentora parece estar a salvo com eles. Os idealizadores fizeram um ótimo trabalho, estou quase convencida de que eles são realmente bons aliados, mas então eu me lembro do ano dos meus jogos, quando meus aliados pareciam meus amigos, mas na verdade nunca foram nada além de ameaças. A não ser Dallon. E talvez seja por causa dele que eu ainda estou viva hoje.

Lavigne seca seus olhos cheios de lágrimas toda vez que vê Katniss e Peeta juntos e quase abre um berreiro quando pensa que Peeta está morto depois de bater em uma espécie de parede invisível, mas como sempre, Finnick salva o dia.

– O seu Finnick é realmente uma ótima pessoa - Ela diz soluçando entre as lágrimas.

Meu Finnick. Fico feliz que pelo menos alguém desse lugar saiba que pertencemos um ao outro, não importa o quanto eles tentem nos separar.

Me sinto estranha por não chorar, pois já perdi a vontade. Assisto os Jogos como se eu fosse uma participante. Eu deveria estar lá no lugar de Mags e ao me lembrar disso me sinto culpada e com sorte de ter tido alguém como ela na minha vida.

A arena me confunde, toda hora vemos cenas reprisadas das mortes e das batalhas. As da Cornucópia são as mais assustadoras, enquanto as do resto da arena são intensas. Chuva de sangue, bestantes de vários tipos como os macacos super agressivos e os pássaros que imitam vozes. Ao ouvir os pássaros eu sinto calafrios. As vozes são muito reais. Não consigo não imaginar o quão louca eu ficaria se ouvisse a voz de Dallon ou as vozes dos meus pais.

As horas se passam e eu não consigo me desligar da tevê. Finalmente posso ver Finnick descansando, ele parece estar bem e isso me acalma um pouco. Continuo assistindo, apesar de nada parecer acontecer, então é aí que começa uma nova ameaça da arena. Uma neblina venenosa. Ao ouvir o berro de Katniss, fico em alerta. Finnick carrega Mags em suas costas enquanto os tributos do doze correm para longe da neblina. Infelizmente eles não são rápidos o suficiente e ficam para trás. Finnick e Mags não podem ajudar. Quando Peeta cai e uma boa parte de seu corpo fica coberto na névoa, a câmera dá um close em seu rosto e eu arregalo os olhos diante daquela cena horrível. Metade de seu rosto parece paralisado, anestesiado, como se tivesse um sério problema. Katniss tenta ajudar seu aliado, mas não obtêm muito sucesso.

Não consigo desgrudar os olhos da tela, como se estivesse presa a esse programa. Mas não do mesmo modo que Lavigne. Para as pessoas da Capital, isso é apenas um tipo idiota de novela, mas para mim são as únicas pessoas com que eu ainda tenho um vínculo, a vida das únicas pessoas que eu amo e que me amam de volta estão em risco.

Finnick volta para ajudar Katniss e começa a carregar Peeta e a garota do doze agora carrega Mags. Por que ele está fazendo isso? Por que ele está ajudando tanto essa garota? Ela é uma desconhecida. Sei que sou egoísta ao pensar assim, mas preciso que ele volte para casa mais do que qualquer outra coisa.

É então que uma mistura de tristeza profunda e um vazio tomam conta de mim. Vejo Mags beijando os lábios de Finnick e sei o que isso significa. Eu desligo a tevê antes que possa ver Mags indo em direção a névoa. Eu não grito, eu não choro, eu não me expresso me maneira nenhuma e Lavigne parece compreender meu estado. Tudo o que eu faço é sair do apartamento e ir em direção ao primeiro lugar desse prédio que me vem a mente para poder me sentir melhor.

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A sensação da água gelada em volta do meu corpo me faz esquecer por um segundo tudo o que aconteceu. Finnick está vivo, eu sei que está. Também sei que não posso dizer o mesmo sobe Mags.

Eu me afundo na piscina enorme e fico perto do piso dela. A piscina é tão grande que a pressão da parte de baixo não permite que eu boie e isso é perfeito. Não quero ficar lutando contra a água, assim como não quero lutar contra mais nada. Eu fecho os olhos e me concentro em boas memórias.

Como o dia em que eu pesquei meu primeiro peixe. Foi uma pequena truta de um pesqueiro do meu distrito. Eu tinha apenas 4 anos. Minha mãe me ensinou como colocar a isca no anzol de um jeito que ela não caísse e não fosse comida pelos peixes a toa. Ela me ensinou a mirar direitinho no centro do pesqueiro e eu consegui pegar uma truta em minha primeira tentativa. Minha doce mãe sorria para mim e dizia estar muito orgulhosa. Ela era parecida comigo, com seus longos cabelos escuros e pele levemente bronzeada.

Desde que eu me lembro eu estive perto do mar. A primeira vez que eu mergulhei de verdade foi com meu pai e minha mãe. Eu tinha 7 anos e tinha acabado de aprender a usar o snorkel e pés de pato na escola. Meus pais me levaram de barco até perto dos corais e mergulhamos os três juntos. Não estávamos lá para pescar, nem nada. Lembro que era uma época que meus pais estavam nervosos com tudo, mas nunca me diziam porque, e nesse dia resolveram me levar para mergulhar já que o mar era algo que acalmava a família inteira. Lembro da primeira água viva que vi, ela era muito pequenina e provavelmente estava perdida. Foi nesse dia que eu me assustei com uma lagosta e descobri que o oceano parecia um novo mundo debaixo d'água. Foi o dia em que eu me encantei pela vida marinha e decidi que nunca mais ficaria longe do mar.

Uma semana depois minha mãe se foi. Os pais de um garotinho da minha sala da escola foram em casa e ajudaram meu pai a se recuperar do luto. Eu ainda era nova, mas conseguia entender o que estava acontecendo, e esse garotinho esperto me deu uma concha e uma flor para colocarmos no túmulo da minha mãe. Desde aquele dia, aquele garotinho e eu ficamos amigos inseparáveis.

Toda semana Dallon colocava conchas e flores sobre o túmulo da minha mãe e ia até o mar comigo para nadar um pouco. Ele não deixou com que eu ficasse triste por causa da minha perda.

Os anos foram se passando e continuamos melhores amigos, quase irmãos.

Me lembro do dia em que eu dei meu primeiro beijo em um garoto em uma festinha das pessoas da escola. O nome dele era Matthew e ele era o garoto mais popular da turma. Depois de me beijar, ele espalhou para todos que só fez aquilo, pois estava com dó, já que todos me chamavam de garota estranha e sabia que eu era afim dele. Eu me arrependi na hora e fui correndo contar para Dallon o que tinha acontecido. Ele deu um soco na cara de Matthew, que quebrou um nariz e nunca mais disse uma palavra sobre mim.

Eu tenho vontade de rir ao lembrar de Matthew e seu nariz quebrado. Mas então me lembro de Finnick.

O dia em que ele me salvou e eu acordei já empurrando-o para longe de mim. Me lembro também de ter poucos dias em paz com ele e Dallon tendo um pouco de ciúmes, pois eu arranjei um amigo. Finnick jamais substituiu Dallon de qualquer maneira. Eram pessoas completamente diferentes e depois de conhecer Finnick eu percebi que ambos eram muito importantes na minha vida.

Até hoje não consigo entender por que Finnick se apaixonou por mim, mas por algum motivo isso aconteceu, e eu me apaixonei de volta. Não foi de primeira. Foi algo que começou pequeno e acabou crescendo muito rápido, mas de um jeito bom.

Mãos fortes me agarram pela cintura e me tiram dos meus pensamentos. Com o susto eu acabo engolindo um pouco de água e quando chego a superfície eu me livro da pessoa que estava me segurando.

–O QUE VOCÊ...- Eu tento dizer, mas começo a tossir no meio. Quando finalmente abro os meus olhos vejo um rosto um tanto conhecido - Que merda, Nataniel.

Seus olhos estão arregalados e ele parece preocupado.

– Desculpe, eu pensei que você estivesse inconsciente, ou que estava se afogando, ou....

Eu desisto de ficar na água e saio da piscina.

– Meu lar é o Distrito Quatro - Digo enquanto tiro excesso de água do meu corpo e do meu cabelo - Isso não diz nada para você?

– Desculpe, Srta. Cresta - Ele sai da piscina e parece extremamente constrangido - Finnick pediu para que eu ficasse de olho em você, então eu me preocupei...

Finnick pediu para que ele ficasse de olho em mim? Olho curiosa para ele. Por que Finnick pediria alguma coisa dessas para ele? Então eu paro e penso por um minuto. Talvez ele soubesse que Snow não me deixaria voltar para casa e fez isso por prevenção. E se Finn pediu a ele que fizesse isso, deve ser porque confia nesse homem.

– Tudo bem - Digo finalmente e dou um leve sorriso - Desculpe pela minha reação exagerada. E você pode me chamar de Annie.

O rapaz sorri e estende a mão para mim.

– Você pode me chamar de Nate.

Eu aperto sua mão e tenho a sensação de estar concretizando algo, mas ainda não sei dizer o que.


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