Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 26
Sensações desconhecidas


Notas iniciais do capítulo

Bom, não sei se é o que vocês esperam depois de um final bombástico como o do último capítulo, mas espero que gostem e entendam a reação de ambos PORQUE ESTAMOS IMITANDO A VIDA REAL! -q
Prometo responder aos comentários anteriores, é isso!
Boa leitura :)



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Senti quando Samanta respirou fundo por alguns segundos antes de abrir a boca e corresponder ao beijo. Seus lábios estavam com gosto de morango, devido ao gloss que ela usava. Sua língua morna, enquanto percorria a minha. Senti suas mãos em minha nuca, puxando levemente meus cabelos, enquanto eu acariciava seu rosto, antes de levar ambas as mãos aos seus quadris, aproximando mais ainda nossos corpos.

Já tinha beijado inúmeras garotas, sem querer me gabar, mas nenhuma havia provocado aquela sensação inquietante em meu estômago. Minha pulsação estava acelerada e minha respiração ofegante. Ouvi algumas buzinadas e alguns garotos gritando no meio da pista. Idiotas!, foi meu único pensamento. Afastei-me um pouco e dei um beijo de leve em seus lábios.

Nenhum de nós disse nada de imediato. Apenas encostei minha testa na dela, ainda de olhos fechados. Ela ergueu a mão até meu rosto, alisando calmamente minha bochecha. Abri meus olhos e encontrei um par de olhos castanhos brilhantes e um sorriso contido me encarando. O rosto de Sam estava inteiramente vermelho, assim como seus lábios.

“Você quer entrar?” ela sussurrou, com tom de dúvida.

“Quero.”

Ela então abaixou-se e pegou a chave que estava caída no chão. Compartilhamos um sorriso quando ela destrancou a porta e entramos no corredor. Ela guiou-me até a sala, e sentou-se no sofá. Fiz o mesmo. Eu batucava impacientemente os dedos sobre minha perna, enquanto ela procurava o controle remoto entre as dobras do sofá.

“Hã... Onde está sua mãe?” perguntei olhando para os lados, como se Cristina fosse surgir a qualquer momento de um dos cômodos.

“Ela disse que ia ao mercado.” deu de ombros e conferiu o relógio sobre o rack. “Tecnicamente, era pra eu estar saindo da escola agora.”

“Ela não vai estranhar de estarmos aqui... Sozinhos?”

“Não é a primeira vez que fico sozinha com um garoto, Adam.” ela riu, mas mesmo assim, era evidente que estava constrangida. Ambos estávamos.

Apenas uma incessante pergunta martelava em minha cabeça naquele momento: “E agora?” Odiava me sentir daquela forma. Sem saber o que fazer a seguir. Deveria segurar sua mão? Voltaríamos a nos beijar? Seria realmente apenas um beijo? E aquela era a primeira vez em muito tempo em que eu ficava constrangido ou sem ação perto de uma garota.

“Hum, quer assistir alguma coisa?” ela sugeriu, dando-me o controle.

“Tudo bem.”

“Quer pipoca?”

“Pode ser.” concordei com a cabeça enquanto zapeava pelos canais de filme, procurando por algum título interessante.

“Brigadeiro?” ela fez outra pergunta enquanto se levantava.

“Se você quiser.”

“Você...?”

“Seria bom se você trouxesse algumas camisinhas também.” acrescentei, fingindo seriedade.

“O quê?” ela arfou, com uma expressão escandalizada no rosto.

“Fala sério, Sam! Só vamos assistir um filme.” eu ri, incapaz de me controlar ao ver o nervosismo dela.

“Idiota!” ela revirou os olhos enquanto se dirigia para a cozinha.

A segui com o olhar até ela sumir de vista. Bufei e desisti de procurar um bom filme. Não tinha nada de interessante passando. Apenas algumas idiotas comédias românticas. Estiquei as pernas e me recostei no sofá. Minutos depois, o cheiro de manteiga e chocolate invadiram a sala. Resolvi me levantar e ir até a cozinha.

Sam estava com a testa franzida enquanto mexia com a colher de pau a panela de brigadeiro. Quem precisava de tanta concentração para aquilo? Me aproximei e passei os braços em volta de sua cintura, apoiando o queixo em seu ombro.

“Precisa de ajuda?” sussurrei perto de seu ouvido. Senti seu corpo ficar tenso e sorri comigo mesmo, satisfeito por provocar aquela reação. Passei calmamente a ponta de meu nariz em seu pescoço e vi os pelos de seu braço se arrepiarem.

“Já estou acabando.” ela me olhou pelo canto dos olhos, a voz um pouco trêmula. “Pega uma vasilha naquele armário ali...” apontou para o armário acima da pia. “Pra colocar a pipoca.”

“Sim, madame.”

Fiz o que ela pediu e logo ela apagou o fogo, colocando o brigadeiro em um prato, e a pipoca na vasilha.

“Escolheu o filme?” ela perguntou enquanto voltávamos para a sala.

Tinha enchido minha boca com um punhado de pipoca segundos antes, por isso demorei um pouco para responder. “Não tem nada que preste.”

“Podemos ver Orgulho e Preconceito?” ela ergueu as sobrancelhas.

“Pode ser. Eu nunca assisti ao filme mesmo.” dei de ombros.

“Sério?” ela riu. “Já assisti dezenas de vezes.” pegou o DVD e o colocou, em seguida sentou-se ao meu lado, um pouco distante demais.

“Não sei qual a graça de ver algo repetido.” falei, colocando o pote sobre a mesa de centro. “Eu já sei o que vai acontecer a seguir, então qual o sentido?”

“Eu gosto. Consigo perceber uma coisa diferente a cada vez. Detalhes que antes passaram despercebidos, sabe?” ela olhou para mim significativamente, e por um instante, me dei conta que ela não falava apenas do filme. Assenti.

Ficamos em silêncio nos primeiros dez minutos, apenas ouvindo as vozes dos personagens e o barulho de nossas mastigadas. Sam depois aproximou-se, apoiando a cabeça em meu ombro. Fiquei sem reação por alguns segundos. Não estava acostumado com toda aquela proximidade afetiva. Eu normalmente não assistia filmes e ficava abraçado com a garota. Não deixava que elas corressem os dedos pelas tatuagens em meu braço como Sam estava fazendo naquele momento. Ou... Merda! Para de ficar comparando o que está acontecendo aqui com o que aconteceu com as outras garotas.

Passei um dos braços pelos ombros dela, enquanto ela deitou-se sobre meu peito. Eu sinceramente não estava prestando a mínima atenção no filme. Passei mais da metade do tempo encarando Sam pelo canto dos olhos. Observando suas reações. Seu sorriso quando tinha uma parte mais emocionante. Ou seus lábios se movendo, já prevendo a próxima fala. Ou a mecha que insistia em cair sobre seu olho esquerdo. O modo como piscava. Sabia que ela já tinha percebido, mas mesmo assim, não conseguia parar de olhar. Esperava que não estivesse virando uma espécie de psicopata.

“Então, gostou do filme?” ela perguntou assim que se levantou para retirar o DVD.

“Ainda prefiro o livro.”

“Isso é óbvio.” ela revirou os olhos, voltando para o sofá. O canto de sua boca estava sujo, manchado com o brigadeiro que ela havia devorado praticamente sozinha. Sem pensar muito, levei minha mão ao seu rosto e limpei. Logo ela já havia me puxado e nossos lábios se encontraram pela segunda vez no dia.

O beijo começou de forma carinhosa. Sam mordeu levemente meu lábio inferior, bem aonde ficava meu piercing. Nossas bocas se moviam em sincronia e, em pouco tempo, ela já estava no meu colo. Senti sua pele quente, assim que meus dedos entraram por debaixo de sua camiseta, em suas costas. Mas nesse momento ela parou, como se estivesse congelada.

“O que foi?” sussurrei com a boca a centímetros da dela.

“Eu só... Só acho que estamos indo rápido demais.” ela gaguejou e logo percebi que seu rosto estava inteiramente vermelho, talvez por vergonha.

“Me desculpe.” falei, erguendo-a pelos quadris e a tirando de meu colo. Ela ajeitou-se no sofá, com as pernas cruzadas.

“Não, é que...” ela começou.

“Tudo bem, Sam.” abri um sorriso, mas ela ainda estava me olhando com cara de dúvida, como se fizesse uma pergunta silenciosa. Por algum motivo, desviei o olhar, me lembrando da noite do jantar.

“Qual o seu problema? O que você está tentando fazer?” ela perguntou, enquanto estávamos sentados à mesa, aguardando a sobremesa.

“Às vezes, eu não tenho ideia.” respondi com sinceridade.

Bom, ainda não tenho.

“Eu já volto.” ela anunciou recolhendo os potes e voltando para a cozinha.

Soltei a respiração, que até segundos atrás não havia percebido que estava a prendendo. Passei os dedos entre os cabelos e fechei os olhos por alguns instantes. Nem percebi quando Sam voltou. A atmosfera entre nós havia passado de ardente para passional, e agora estava completamente fria.

“Em que está pensando?” ela perguntou em voz baixa.

“Nada.” menti, abrindo um sorriso até certo ponto convincente.

Ela voltou a se recostar em mim e permiti que meus dedos percorressem seus cabelos enquanto assistíamos à uma das séries favoritas dela.

Passamos a tarde inteira daquela forma e por mais estranho que fosse para mim, não me senti tão desconfortável quanto achava. Fora até bom.

Sam me levou ao seu quarto e me obrigou a escutar algumas músicas de sua banda favorita, mesmo que eu fizesse caretas e revirasse os olhos a cada verso enjoativamente romântico.

“Ah, vai! Admita que eles são bons.” ela riu.

“Bons para fazer a gente dormir.”

“Para de ser idiota.” me deu um soco de brincadeira nas costelas, enquanto eu estava jogado em sua cama.

“Desculpe, mas é parte da minha essência.”

Eu não havia percebido da primeira vez, mas no teto havia algumas estrelas penduradas. Sam contou que era algo que ela e o pai tinham feito quando ela era criança e apesar de ser infantil, ela não queria tirar, porque isso a fazia lembrar dos velhos tempos.

“Você voltou a falar com seu pai?” ela perguntou pronunciando as palavras lentamente, testando minha reação.

“Por que eu voltaria?” apoiei-me em meus cotovelos enquanto a fitava.

“Eu não sei. Pensei que já que aceitou vir no jantar, mesmo ele estando aqui, isso era algum tipo de...” deu de ombros.

“Tentativa de reconciliação?” completei e ela assentiu. “Nem de longe. Meu pai não merecesse nada de mim, entende?”

“Mas, Adam, ele mudou. Mudou de verdade. O homem que você conheceu não existe mais e ele está tentando...”

“Eu não me importo.” a interrompi. Estava segurando a raiva e o volume de minha voz. “E por favor, não vamos estragar tudo falando sobre minha relação com meu pai.”

“Tudo bem.” ela baixou a cabeça e desviou o olhar para suas mãos. “Mas uma hora você vai ter que lidar com isso.”

Ficamos alguns poucos minutos em silêncio, ela encarava a rua pela janela, e eu encarava as estrelas no teto.

“Vem cá.” por fim sussurrei. Ela me olhou por um instante, em dúvida, mas logo se deitou ao meu lado. “Bem que poderíamos estar na escola e de repente, começaria uma tempestade, e você teria que passar outra noite no meu apartamento. Ou quem sabe, eu poderia me embebedar.”

“Por que? Gostou tanto assim de dormir comigo?” ela riu.

“O quê?” ergui as sobrancelhas. “É claro que não. Você se mexe demais. Acho que levei uns dois tapas e um pontapé aquela noite. Não sei como sobrevivi. E fora que roubou praticamente todo o cobertor para o seu lado.”

“Ha-ha. Até parece. Você nem se lembra!”

“Mas lembro perfeitamente de você vestindo minhas roupas.” abri um sorriso malicioso.

“Adam!” ela deu um tapa de brincadeira em meu braço e, em seguida, caiu na gargalhada.

“O que foi?” perguntei, fingindo inocência, mas logo acompanhei a risada dela.

Assim que Cristina chegou do mercado, fomos para a cozinha para ajuda-la a guardar as compras. É claro que ela perguntou o que eu estava fazendo ali, como tinha sido a aula e se eu ficaria para jantar. Dei uma desculpa dizendo que tinha alguns trabalhos da empresa e da escola para concluir. A situação já estava embaraçosa demais.

“Então, boa noite.” Sam falou enquanto me acompanhava até a porta. Seu tom estava esquisito e me perguntei se, assim como eu, ela estava preocupada se as coisas entre nós mudariam. É óbvio que sim, mas preferia as provocações e brigas do que esse constrangimento constante entre nós.

“Até amanhã, Sam.” sorri e me inclinei para dar um beijo na bochecha dela, já que sua mãe estava rondando pela sala. “Quer que eu te dê uma carona amanhã?”

“Eu já tinha combinado com Will.” ela sorriu como se se desculpasse.

“Tudo bem. Boa noite!” acenei já de longe, xingando-me mentalmente pelo tom afetado de minha voz.


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Notas finais do capítulo

Uma OBS aqui: estou ficando PÉSSIMA em criatividade de títulos para os capítulos.
Um beijo, um queijo e até o próximo! Tchau