Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 24
Uma surpresa nada agradável


Notas iniciais do capítulo

HEY HEY HEY
Olha quem está de volta?
Antes que comecem os xingamentos e acusações, quero me desculpar com vocês, mas estou atolada, muito mesmo. As provas do vestibular estão chegando e eu só tenho tempo para ler e resolver questões.
Sorry, mas não abandonarei a história por isso!
Boa leitura (:



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Ele estava com um blazer preto sobre uma camisa branca, calça jeans escura e suas usuais botas de cadarço. Eu ainda não havia dito nada e até conseguir forçar para meus lábios enfim se fecharem, vários segundos haviam se passado. Ele então colocou a mão nos bolsos e inclinou a cabeça para o lado, erguendo as sobrancelhas.

“Hã, está tudo bem?”

“O que diabos você está fazendo aqui?” sibilei com raiva. Aproximei-me um passo, puxando a porta atrás de mim, fechando-a.

“Você havia dito que sua mãe tinha me convidado para o jantar, lembra? Terça à noite.” ele falou franzindo a testa, fingindo estar confuso. Senti meu sangue ferver assim que ouvi seu tom irônico.

“Quem é, Samanta?” escutei minha mãe perguntar ao longe.

“Se você fizer alguma coisa, eu juro...” estreitei os olhos em sua direção, deixando a frase no ar. Ele apenas revirou os olhos, claramente impaciente.

“Vamos logo com isso, Samanta. Estou com fome!” ele passou por mim, girou a maçaneta e empurrou a porta calmamente.

Soltei um suspiro de frustração e não tive outra opção a não ser segui-lo. Ele me olhou por alguns segundos, medindo-me de cima a baixo.

“O que foi?” perguntei irritada.

“Não é nada.” ele apenas balançou a cabeça, com um sorriso torto nos lábios.

“Ah, meu Deus! Adam você veio mesmo.” minha mãe abriu um sorriso e praticamente bateu palmas de tanta felicidade assim que chegamos à sala de jantar. “Quando você disse que viria, eu não acreditei.” ela apressou-se em lhe dar um abraço, e Adam retribuiu, ainda que desajeitado, dando-lhe alguns tapinhas de leve nas costas.

“Você sabia que ele vinha?” a olhei surpresa, meu tom de voz visivelmente esganiçado.

“Claro que sim.” ela olhou para mim por um instante. “Não foi você quem fez o convite?” todos olharam para mim no mesmo momento, confusos com minha atitude, então apenas abri um pequeno sorriso e assenti com a cabeça.

“Boa noite.” Adam falou baixinho, sem se direcionar a alguém especifico. A única cadeira disponível era a que estava ao lado da minha, à minha esquerda, e assim que todos responderam seu cumprimento, ele a arrastou e sentou-se.

“Filho, há quanto tempo!” Antony comentou sorrindo e fez menção de levantar a mão para cumprimentá-lo, mas o olhar que Adam lançou em sua direção o fez abaixá-la. Vi o punho do garoto se fechar e sua mandíbula cerrar. Mas ele apenas soltou o ar, que aparentemente estava prendendo, e assentiu, olhando para o prato à sua frente.

Assim que Antony havia chegado, havia me lembrado de tudo o que Adam havia me contado sobre o pai. Entre suas falas trôpegas, a história de como sua família havia sido destruída. Não que eu tivesse esquecido, mas eu sabia que jamais conseguiria encarar Antony da mesma forma.

Me peguei olhando para ele, uma ou duas vezes, em busca do homem que Adam havia descrito. Felizmente, não o encontrei. E tinha esperanças que Adam também percebesse isso. Bom, o fato de ele ter vindo, mesmo depois da primeira recusa, para mim, era um progresso.

“Então, fiquem à vontade.” minha mãe fez um gesto em direção as travessas e logo começamos a nos servir.

O assunto estava agradável e por alguns instantes, esqueci que ainda estava com raiva de Adam. Porém, em nenhum momento, dirigi a palavra diretamente à ele. Minha mãe e Melissa discutiam a respeito dos protagonistas da nova novela, meu pai e Antony discutiam sobre as classificações dos seus respectivos times de futebol, enquanto Adam e eu ocasionalmente participávamos, dando breves opiniões. Eu sinceramente estava mais interessada na comida deliciosa a minha frente.

“Então, Adam...” meu pai começou, atraindo a atenção de todos. “Você estuda com Samanta, certo?”

“Na mesma escola, mas eu estou no último ano.” ele deu de ombros, enquanto engolia a última garfada.

“E você trabalha? Ou algo assim?”

“Pai, o que é isso?” falei abrindo um sorrisinho contido. “Interrogatório agora?” lancei um olhar de alerta em sua direção. Por que meus pais viviam fazendo perguntas indiscretas?

“O que tem demais eu querer saber sobre o garoto que está saindo com minha filha?”

Adam tossiu um pouco, se engasgando com seu refrigerante. Dei alguns tapinhas em suas costas, até que enfim sua respiração se estabilizou. Nossos olhares então se cruzaram pela primeira vez naquela noite.

“Obrigado.” ele disse num tom abafado.

“Stevens!” minha mãe o repreendeu com o olhar.

“Nós não estamos saindo.” Adam e eu respondemos em uníssono. Eu, de forma desesperada, enquanto ele tinha um tom de explicação, misturado com divertimento pela insinuação.

“Ah, então... Me desculpem.” meu pai deu de ombros, mas não parecia nem um pouco arrependido.

“Bom, respondendo a sua pergunta, Sr. Harper...” Adam disse após alguns minutos de um constrangedor silêncio. “Eu trabalho sim. Meio-período, em uma revista. Sou fotógrafo.”

“Ah, é mesmo?” meu pai inclinou-se para frente, apoiando o queixo em sua mão. “Que tipo de fotografias?”

“Um pouco de tudo na verdade.” Adam gesticulou. “Porém, mais de paisagens, eventos ou quando eles entrevistam alguém famoso.”

Prestei atenção em cada palavra pronunciada por Adam. Ele nunca havia me dito sobre o trabalho, ou ao menos que tinha um emprego. Bom, eu também nunca havia perguntado. Mas era óbvio... Como ele pagaria o aluguel daquele apartamento se não tivesse uma renda?

Fiquei tentada em perguntar o nome da revista. Realmente queria ver seu trabalho. Já tinha visto algumas de suas fotos, na estante de sua casa, mas, mesmo assim, minha curiosidade havia sido aguçada.

“Hora da sobremesa, então?” minha mãe atraiu a atenção de todos, assim que se levantou. Todos concordaram animados. “Bom, essa eu deixei por conta da Sam.”

“Essa eu quero ver.” Adam sussurrou, inclinando-se em minha direção. Apenas revirei os olhos, deixando clara a minha impaciência.

“Não sabia que você gostava de cozinhar, Sam.” Melissa abriu um sorriso, detestável, para mim. “Podemos marcar um dia para você ir lá em casa, para passarmos à tarde. Tenho algumas receitas ótimas, não é mesmo amor?” ela deu um leve beijo na bochecha de meu pai.

“Então vocês estão morando juntos?” perguntei fingindo interesse, mas deixando evidente meu desapontamento ao olhar para meu pai.

“Eu ia te contar, querida.” ele se explicou, abrindo um sorriso sem graça.

“Eu sei que sim.” abri um sorriso forçado. “Ai de você se não contasse, não é?”

“Mas ela adoraria, não é mesmo, Samanta?” minha mãe lançou uma mensagem clara com o olhar ‘Seja educada!’.

“É só marcar, Mel.” falei no tom mais meigo que consegui.

“Pode deixar.” ela se levantou e começou a recolher os pratos e talheres sujos numa pilha única. “Deixe que eu te ajudo, Cristina.”

As duas então foram para a cozinha, conversando sobre novas receitas que haviam visto na Internet. Percebi que Adam não tirou os olhos de mim e assim que o encarei, ele fingiu estar interessado na tela de seu celular, desbloqueando a tela. Espiei por alguns segundos e percebi que havia algumas chamadas perdidas. Três, para ser mais exata.

“Bom, e que tal uma partida de pôquer?” meu pai sugeriu com um sorriso, querendo evidentemente mudar o foco. “Podemos fazer uma pequena aposta.” ele cutucou Antony com o cotovelo, na altura das costelas.

No mesmo instante, vi Adam lançar um olhar em pânico na direção do pai. Olhei de relance para Antony e percebi que esse também estava visivelmente tenso. As palavras de Adam vieram a minha mente. Jogos... Jogos de azar.

“E que tal se não apostar nada?” falei soltando um risinho. Meu pai me olhou interrogativamente. Sempre tínhamos essa brincadeira na família. A aposta era apenas um estímulo, porque no final, ele sempre acabava devolvendo o dinheiro dos outros participantes. Porém, o olhar determinado que lhe lancei foi suficiente para que ele recuasse.

“Tudo bem, tudo bem.” meu pai soltou um suspiro e revirou os olhos. “Vocês vão querer jogar?” eu e Adam negamos com a cabeça, mas Antony, talvez apenas por pura educação, assentiu com a cabeça. “O baralho ainda fica no mesmo lugar?” olhou para mim enquanto se levantava. Assenti com a cabeça e ele seguiu em direção à sala, convidando Antony à segui-lo. Parecia que a casa ainda era dele.

“Sua família é bem mais interessante que a minha.” Adam comentou. Não consegui decifrar sua expressão naquele momento. Estávamos sozinhos à mesa e eu sentia as palmas de minhas mãos suadas. Passei-as disfarçadamente sobre o tecido de meu vestido. “Com um destaque principalmente para sua madrasta.”

“Ah, meu Deus! Você olhou para o vestido dela? Como uma mulher comprometida pode se vestir de maneira tão vulgar?” falei num tom baixo, porém indignado.

“Bom, eu não vejo problema nenhum.” ele deu de ombros, abrindo um sorrisinho cínico.

“O que você está fazendo aqui, Adam?” perguntei seriamente, cruzando os braços na altura do peito.

“Eu acho que já te respondi isso.”

“Não, quero saber o real motivo de você estar aqui.”

“Motivo? Tudo para você precisa de um motivo?” ele balançou a cabeça. “Eu quis vir, simples assim. Não preciso de um motivo para isso.”

“Você adora me provocar, esse é o verdadeiro motivo.”

“Isso, eu considero uma espécie de bônus.” ele abriu um sorrisinho cínico.

Olhei rapidamente em direção da cozinha, perguntando-me porque elas estavam demorando tanto. Ouvi as risadas de Antony e meu pai vindas da sala, assim como o barulho da TV ligada. Fiquei extremamente tentada em levantar e subir para meu quarto, mas sabia que isso implicaria em milhões de perguntas depois, e Adam já havia levado quase cem por cento de minha paciência.

“Então, gostou do presente?” ele perguntou, atraindo novamente minha atenção.

“Presente?” ergui uma das sobrancelhas. “Que presente?”

“O livro. Daquela banda que você gosta. Que estava no seu armário.” ele acrescentou.

“A biografia da Random Reflections?” fiquei tão boquiaberta quanto no momento em que tinha aberto à porta. “Foi você?”

“E quem mais seria?” ele riu.

“Por que fez isso?”

“Achei que um pedido de desculpas não seria suficiente.”

“Então, resolveu tentar me comprar?” ele olhou para mim, procurando a seriedade ou brincadeira na insinuação que eu havia dito.

“Você não poderia simplesmente agradecer?”

“Muito obrigada!” enfatizei bem as palavras, com o sarcasmo impregnado na voz.

“Não tem de quê, Samanta!” ele imitou meu tom.

Ficamos mais alguns segundos em silêncio. Eu tamborilava impacientemente os dedos sobre a mesa, criando uma sequencia ritmada. Olhava quase toda hora por cima do ombro, como uma espécie de tique nervoso.

“Quem era aquele garoto que estava com você no bar?”

“Acho que isso não te interessa.”

“Bom, se não interessasse eu nem perderia meu tempo perguntando.”

“Você é sempre tão gentil.”

“Responde logo, Samanta.” ele revirou os olhos.

“Travis.”

Travis? Quem é Travis?” ele perguntou com desdém.

“Ele é do grupo em que eu sento na hora do almoço. E por que isso te interessaria?”

“Apenas curiosidade. Não sabia que você estava saindo com ele.”

“Não estou saindo com ninguém.” respondi secamente.

“Não? Então, você simplesmente beija um garoto qualquer assim?” ele perguntou com sarcasmo.

“Não sou como as garotas que você está acostumado a sair, Adam.”

“Realmente não é.”

Olhei para ele por um segundo, tentando compreender seu comentário como um elogio ou uma ofensa, mas sua expressão estava impenetrável. E eu estava cansada daqueles joguinhos.

“Qual o seu problema? O que você está tentando fazer?”

“Às vezes, eu não tenho ideia.”

“Eu disse para nunca mais falar comigo.”

“É, eu sei.” resmungou.

“Você riu Adam, simplesmente riu. Depois de tudo que eu... Argh!”

“Não Sam, não foi de você. Foi da situação, de tudo. O que você queria que eu fizesse?” ele olhou-me perplexo.

“Esperava algo melhor do que aquilo.” ele ficou em silencio, desviando o olhar para a cadeira à frente. A cadeira em que antes seu pai estava sentado. “Você não vai dizer nada?”

“Eu não sei o que dizer.”

Seu celular voltou a vibrar em seu bolso. Ele o pegou novamente. Em vez de atender a ligação, apenas a encerrou. Logo, digitou uma mensagem rapidamente e voltou a guardá-lo.

“Eu preciso ir.” ele se levantou. “Diga para sua mãe que eu agradeço o convite.”

“O que aconteceu?” perguntei franzindo a testa.

“Não foi nada.”

“Não vai me dizer quem te ligou?” insisti. “O que há?”

“Não há nada, tá legal? Que droga! Por que você sempre está me enchendo de perguntas?”

“Não há nada? Ótimo então.” me levantei rapidamente, tomando cuidado com o vestido. Ouvi a cadeira de Adam ser arrastada, mas não virei-me para trás quando ele sussurrou meu nome. Parei no corredor, sem que ele pudesse me ver, e escutei o baque fraco da porta quando foi fechada.


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Notas finais do capítulo

É isso amores!
Não sei quanto tempo voltarei a postar e juro que estou com um bloqueio de criatividade imenso.
AH, NOVIDADES. Alguém conhece o livro "Dias Perfeitos"? Eu conheci o autor, Raphael Montes, na Bienal, e ele é um doce. Recomendo muito os livros dele. Apenas uma leve dica.
Até qualquer dia, comentem bastante e quero muitas sugestões.
Um beijo, um queijo e até o próximo capítulo! Tchau!