Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 20
Uma noite não planejada!


Notas iniciais do capítulo

Bom, agora chegamos ao grande momento da história. Pelo menos, o esperado por muitos. Acho que foi devido a isso que o capítulo ficou bastante extenso. Quis ser bem detalhista acerca dos detalhes.
Adam colocou tudo para fora nesse capítulo, literalmente.
De qualquer modo, boa leitura :)



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Assim que abri a porta, me surpreendi ao ver Peter parado ali.

"Não vai me dizer que esqueceu do nosso encontro?" ele disse num tom brincalhão, abrindo um sorriso para mim.

Sua boca ainda estava visivelmente machucada, porém sem sangue e bem menos inchada do que eu imaginava. Ele vestia uma camiseta azul-clara e calça jeans. Com as mãos nos bolsos e olhar ansioso, estava realmente bonito.

"Pela sua expressão, acho que você realmente esqueceu." ele ergueu as sobrancelhas.

Eu estava absolutamente perplexa e não conseguia mais encontrar minha voz. Parecia que minha habilidade de fala estava completamente comprometida. Me perguntei como eu explicaria que não poderia sair com ele, porque, na verdade, eu iria sair com Adam. Mas antes que acontecesse qualquer coisa, um carro preto parou em frente a minha casa.

Soltei um sonoro palavrão e Peter olhou para trás.

Adam foi se aproximando aos poucos. Não estava muito diferente do normal, mas ao invés da tradicional camiseta preta, ele havia a trocado por uma branca e devo admitir que ficava muito melhor assim. A cor destacava as tatuagens presentes em sua clavícula.

Seu sorriso desapareceu assim que ele reconheceu Peter.

"Não me lembro de ter convidado ele para ir conosco." ele disse, parando há alguns metros de nós.

"Eu..."

"O quê ele está fazendo aqui, Sam?" Peter se virou para mim, confuso.

"Eu estava me fazendo à mesma pergunta." Adam cruzou os braços, olhando para mim. Sua expressão estava morbidamente séria. "O quê ele está fazendo aqui, Samanta?"

Ótimo! Realmente ótimo! Senti meu rosto corar ao ver que os dois me encaravam fixamente.

"Peter, eu... Eu tinha combinado de sair com Adam hoje e eu não te liguei porque eu..."

"Sair com ele?" o tom de Peter era incrédulo. "Depois daquela cena no corredor você está me dizendo que vai sair com ele?"

"Peter, eu sinto muito por aquilo. Por ter te machucado e..."

"Quer saber, Sam? Esquece." ele soltou um suspiro e olhou para o alto.

"O que foi, Peter? Até que enfim caiu na real?" Adam riu irônico. Ele evitava olhar para mim.

"Cala a boca." Peter fez menção de dar um passo na direção do outro garoto, mas eu entrei em sua frente.

"Parem com isso!" gritei.

Mas Peter olhou em meus olhos, balançou a cabeça e abriu um sorriso irônico.

"Sabia que você seria um passatempo interessante, mas não que seria tão complicado." Oi? Passatempo? Ele então simplesmente passou por mim e Adam, e seguiu em direção ao seu carro, saindo dali em alta velocidade.

"Eu não acredito que você aceitou sair com aquele otário." Adam balançou a cabeça, atraindo minha atenção.

Ele parecia magoado e eu fiquei sem saber o que dizer. Até que ele também se virou e foi em direção ao carro.

"Adam?" chamei, enquanto corria em sua direção.

"O que é?" seu tom estava rude e ali estava o Adam que eu havia conhecido. Ele virou-se e ergueu as sobrancelhas, insistindo para que eu falasse.

"Você já vai embora?" meu tom saiu tímido.

"Eu não sei, você marcou com algum outro garoto ou...?"

"Adam!" exclamei irritada.

"O que foi?" ele estava visivelmente alterado.

"Para de ser idiota!"

"Entra logo no carro, Samanta." ele revirou os olhos.

Fiz o que ele pediu, ainda que andando com passos duros e expressão emburrada. Fomos durante todo o trajeto em silêncio. Adam ao menos olhou em minha direção. Parecia que a atmosfera calma que havíamos atingido pela tarde tinha se dissipado completamente.

Quando chegamos, a festa já estava lotada. A maioria das pessoas se parecia mais com Adam do que comigo, digo, na maneira de se vestir. Me senti intimidada por estar cercada por aquelas pessoas.

Fiquei surpresa quando vi Travis e Will num canto e logo me aproximei para falar com eles assim como Adam fez com seus amigos. Apesar da expressão contrariada, ele me apresentou como sua amiga.

“Samanta, certo?” uma garota loira me cumprimentou. Tiffany, pelo o que eu me lembrava. Ela estava com um vestido preto tão justo que me perguntei como ela estava conseguindo respirar. Me abriu um sorriso simpático e me deu um rápido beijo na bochecha. Tudo bem, não era tão ruim. Eu iria sobreviver.

Logo me servi de uma bebida, enquanto conversava com um dos amigos de Adam, Teddy, o mais simpático entre eles. Nenhum deles achou estranho quando chegamos juntos e supus que Adam já teria contado que me levaria. Aquela ideia me deixava inquieta e imaginava o que seus amigos estariam pensando sobre nós.

Fiquei tensa quando Alex se aproximou, mas logo me surpreendi por ver que ele estava com o braço em volta de Jasmine. A garota ao menos olhou para mim. Olhei confusa para Adam, mas ele apenas deu de ombros. Deveria ser absolutamente normal a troca de casais no grupo, já que, dessa vez, Tiffany não estava com Simon, mas sim com outro garoto que eu nunca vi na vida.

As coisas começaram a ficar ruins quando um pequeno grupo começou a jogar strip-poker. Eu sinceramente não estava acostumada com aquilo. Nunca tinha acontecido em nenhuma das festas que eu tinha ido e logo havia algumas garotas e garotos seminus sentados em uma rodinha. Outros jogavam Verdade ou Desafio, desafiando os oponentes a situações desagradáveis ou constrangedoras.

Os garotos começaram a apostar quem bebia mais e comecei a ficar seriamente preocupada quando Adam virou uma garrafa de vodka cheia sem ao menos piscar. Revirei os olhos diante daquilo e virei as costas, indo em direção a varanda.

“Ei, Sam. O que foi?” Adam me seguiu e se aproximou, abraçando minha cintura. Estava visivelmente bêbado e parecia ter esquecido completamente que estava irritado comigo. Tinha um sorriso afetado no rosto.

“Acho melhor eu ir para casa, Adam.” falei desconfortável, empurrando-o um pouco para o lado.

“Eu levo você.” o olhei cética. “O quê? Eu estou bem.” sua voz trôpega o contradizia no ato.

“É melhor não.”

Ele apenas revirou os olhos e acenou de longe para seus amigos, andando em direção ao carro. Bufando contrariada, concordei em segui-lo.

***

“Adam, você está sendo um babaca. Se continuar, eu vou embora.” falei assim que adentramos em seu apartamento.

Era eu quem havia dirigido. Tinha a intenção de ir para casa, mas perguntei-me como Adam voltaria sozinho, e preferi deixa-lo em seu apartamento e, em seguida, pegar um ônibus para casa. Sabia que nenhum de seus amigos teria condições de dirigir, e não fazia a mínima ideia de quem era o dono da casa onde a festa estava acontecendo. Ia tirar minha carteira de motorista em poucos meses, então não me incomodei, já que o trajeto era curto e Adam estava realmente mal para isso.

Adam havia falado obscenidades por todo o caminho e eu nunca havia ficado tão sem graça em toda a minha vida.

“Não, não. Por favor, fica.” sua voz ficou repentinamente mais suave “Desculpa.” eu apenas assenti com a cabeça.

Ele abriu um sorriso torto e foi andando cambaleante em direção ao sofá.

“Porra!” ele xingou baixinho ao tropeçar no tapete.

“Você quer que eu ligue para alguém? Alex? Seu pai?” me arrependi no mesmo momento que a última palavra saiu de minha boca. O rosto de Adam se contorceu em fúria e ele estreitou os olhos em minha direção.

“Você nem ouse dizer alguma coisa para aquele imbecil.” seu tom era baixo, e, mesmo assim, ameaçador.

“Adam...”

“Você não entende, Samanta. Não sabe porra nenhuma do que ele fez.” ele chutou a mesinha de centro para o lado, com força.

“Então me conta.” cruzei os braços, controlando os tremores em meu corpo. Nunca havia visto alguém perder o controle daquela maneira.

Ele me olhou com desconfiança. Pareceu considerar a ideia por alguns instantes, mas logo balançou a cabeça em discordância, sentando-se no sofá.

“Conta, Adam.” insisti. Já era hora, eu precisava saber o que tornava aquele garoto tão angustiado. Eu queria ajudá-lo. Eu precisava ajudá-lo.

Ele fechou os olhos e passou as mãos pelo cabelo. Soltou um suspiro profundo antes de olhar para mim novamente. Suas pupilas estavam tão dilatadas que seus olhos pareciam completamente pretos.

“Ele foi o culpado pela morte delas.” sua voz falhou na última palavra.

“O quê?” ergui as sobrancelhas, surpresa.

“A culpa é completamente dele. Se não fosse...” ele parou de falar. Respirou fundo outra vez e simplesmente pegou o arranjo sobre a mesa de centro e tacou contra a parede. O barulho fez com que eu desse um pulo de sobressalto. Ele não olhava para mim.

“Adam...” o chamei baixinho. “Sabe que pode confiar em mim, certo?” sentei-me ao lado dele e vi que ele balançou a cabeça em concordância.

“Jogos de azar.” o olhei intrigada, esperando que continuasse. “Eu tinha oito anos quando meu pai começou a jogar, compulsivamente.” suas palavras não eram muito claras, saiam emboladas de sua boca. O cheiro de álcool me inebriava, mas eu não conseguia me afastar. “Minha mãe sustentava a casa, porque ele gastava todo o dinheiro que recebia em jogos. Achava que ia ganhar uma boa grana com aquilo. Até que ficou desempregado e começou a vender coisas de dentro de casa para sustentar o vício. Jogos, bebida... Logo estávamos endividados e mal tínhamos dinheiro para pagar as contas. A família tentou ajudar, mas mesmo assim, minha mãe não queria incomodar ninguém.” sua voz ia diminuindo gradativamente. Me inclinei um pouco em sua direção, ansiando por mais.

“Eu tinha 13 anos quando isso aconteceu.” ele deu uma breve pausa, como se estivesse escolhendo suas próximas palavras. Parecia ter dificuldade para lembrar os fatos e a cada frase dava uma longa pausa. Era agonizante esperar. “Minha mãe tinha ido buscar a mim e minha irmã no colégio, mas ela estava estranha.” ele franziu a testa, como se estivesse se lembrando de algo realmente difícil. “Ela nunca foi daquele jeito. Eu sabia que alguma coisa estava acontecendo, mas resolvi esperar até chegar em casa.” ele recostou-se no sofá. “O celular tocava sem parar, mas ela insistia em não atender. Até que depois da sexta ligação, ela estava tão desesperada que se voltou pra trás, para vasculhar sua bolsa. Nessa hora o cotovelo dela atingiu o volante e... Vinha um caminhão na outra pista... Ela tentou desviar, mas...” percebi que seus olhos estavam brilhando. Peguei sua mão e apertei de leve. Ele me olhou surpreso.

“Eu sinto muito.” Eu sinceramente não sabia ao menos o que pensar com aquele relato.

Ele apenas olhou para o teto antes de continuar. “Eu acordei no hospital dias depois. Meus avôs não queriam me falar o que aconteceu, mas no fundo eu sabia.” ele se mexeu desconfortável no sofá. “Dias depois eu descobri o que tinha acontecido.” a raiva estava ali, novamente presente. “Meu pai tinha pego dinheiro emprestado com uns caras, para suprir outra dívida. Em vez de quitar, ele gastou o dinheiro, jogando. Os caras foram atrás dele e o deram uma surra. Foi bem feito." ele começou a rir e fiquei assustada por alguns momentos. "Ele deveria ter sofrido mais, como minha mãe sofreu. Mas ele ficou muito mal, todo quebrado, e alguns moradores o encontraram e ajudaram. As ligações eram do hospital. Minha mãe estava receosa em atender, pensando que fosse outro cobrador ou algo assim. Ela sabia que meu pai tinha saído mais cedo para pegar dinheiro, ela estava com medo. E Alice...”

Alice. Involuntariamente, voltei meus olhos para a fotografia sobre a estante. Exceto pelos olhos, poderia dizer que ela era praticamente idêntica a Adam. O mesmo formato do nariz e da boca, até mesmo o sorriso. Na imagem, os dois estavam abraçados, sentados num sofá, ainda crianças. Adam emburrado e a menininha com um lindo sorriso com covinhas, agarrada a um bichinho de pelúcia.

“Eu tentava protegê-la, sabe?" sua voz ia ficando cada vez mais embargada e as palavras saiam com muita dificuldade. "Quando meu pai chegava bêbado em casa, eu simplesmente a colocava dentro do quarto e tentava acalmá-la, abafar as discussões entre eles, conversando com ela ou qualquer coisa.” ele secou o rosto com o dorso da mão e fez uma careta, como se estivesse envergonhado por estar chorando. “Mesmo assim, ela era completamente apaixonada por ele. Ela só tinha sete anos quando tudo aconteceu.”

“Adam...”

“Eu tentei culpá-lo, sabe? De certa maneira, a culpa era dele. Ele foi um cretino, com a família inteira. Mas o pior é que depois ele quis simplesmente apagá-las da nossa vida. Tirou as fotos delas do mural e evitou falar o nome delas, como se isso fosse mudar alguma coisa.” ele soltou minha mão e pareceu estar em uma luta interna consigo mesmo.

Era de partir o coração ver Adam daquele jeito. Tão vulnerável. Senti vontade de confortá-lo, mas sabia que ele não permitiria isso. Adam não parecia ser o sujeito que gostava de auto-piedade. Ele continuou falando, cada vez com mais urgência. As palavras chegavam a se atropelar, uma as outras.

“Ele então arrumou um emprego e conseguiu organizar as finanças, mas já era tarde. Não adiantava mais nada. Elas já estavam mortas." ele deu de ombros. "Fiz a primeira tatuagem aos dezesseis anos.” ele ergueu o antebraço e passou o dedo indicador sobre um dos desenhos. Um elefante, em preto e cinza. Era pequeno, mas, mesmo assim, impressionante. “Alice adorava elefantes. No dia do acidente, ela tinha levado uma pelúcia de um. Queria homenageá-la de alguma forma, levar parte dela comigo. Provocar e provar ao meu pai que não podíamos simplesmente ignorar o passado. Tatuar isso foi a melhor coisa que pensei na época.” ele riu baixinho, como se agora achasse ridícula aquela ideia. Ele fungou, secando o nariz na jaqueta e fechou os olhos por alguns segundos.

As palavras simplesmente não chegavam a minha boca. Nunca havia ficado tão sem falas quanto naquele dia. Adam me contou algo que eu jamais imaginaria. Algo maior do que todas as minhas convicções. Estava absolutamente abalada por tudo o que tinha acabado de ouvir.

Os ombros dele relaxaram assim que ele terminou de falar. ‘Não é bom ficar se sufocando com os próprios segredos’. Ele parecia de certo forma aliviado, mas não por muito tempo.

Adam fez uma careta estranha e se inclinou para frente. Não precisei nem olhar para saber o que tinha acontecido. O barulho e odor o entregaram na hora.

"Ah, meu Deus, Adam!" fechei os olhos por um instante.

"Sam..." ele tentou falar, mas foi tomado por outra ânsia.

"Levanta!" implorei. Sua blusa e calça estavam completamente imundas, assim como o tapete da sala. Eu não tinha planejado terminar minha noite assim, não mesmo.

Ele obedeceu e foi andando cambaleante em direção ao banheiro, apoiado em mim. Tentei manter o máximo de distância de seu corpo. Amigos amigos, vômitos à parte.

Ao chegarmos, ele inclinou-se sobre o vaso sanitário e vomitou ainda mais. Tentei respirar fundo, olhando para o lado, para que eu não fizesse o mesmo.

"Adam, você acha que..."

Antes que eu terminasse de falar, ele simplesmente tirou sua camiseta e limpou a boca com ela. Fiquei sem falas ao observar seu corpo seminu. Ele deu descarga e sentou-se sobre o sanitário, com a tampa fechada.

"Acho que eu vou precisar de ajuda." sua voz estava fraca quando ele abaixou sua calça jeans e a jogou num canto.

"Fica assim!" meu tom saiu estridente e um pouco alto demais.

Ele me lançou um sorriso divertido antes de se levantar e se encaminhar até a pia. Abriu o armário e pegou sua escova de dentes. Estava pálido e abatido, mas mesmo assim, ainda arrumava tempo para suas gracinhas. Escovou os dentes de maneira lenta, e assim que terminou de enxaguar sua boca, levantou o olhar para mim.

"Seu rosto está vermelho ou eu estou..."

"Pro chuveiro, Adam!" o puxei pelo braço e o coloquei dentro do box, com um pouco de dificuldade, admito. Liguei a ducha e logo a água gelada caiu sobre ele, impedindo-o de fazer qualquer comentário que fosse. Ele ficava animado demais quando bebia.

Ele soltou um resmungo de protesto, mas permaneceu parado ali. Minha intenção era apenas acordá-lo, porém, não conseguia ignorar a visão a minha frente e estava olhando sem pudor para o corpo do garoto. Estava do lado de fora do box, mas, mesmo assim, a água acabou espirrando sobre mim.

"Fico feliz que tenha escolhido essa camiseta branca." sua voz estava mais suave, mas ao olhar para seu rosto, vi um sorriso malicioso em seus lábios.

Olhei para baixo e percebi o motivo de seu comentário. A frente de minha camiseta havia se molhado completamente, deixando minha blusa transparente. Tentei me cobrir com um dos braços, instintivamente.

Quando ergui o olhar, Adam também olhava para meu rosto, e antes que eu desse conta, apoiou a mão em meu rosto e seus lábios tocaram os meus. Seus lábios pressionaram os meus com certa urgência. Ele agarrou-se a minha cintura com o braço livre e eu até esqueci onde estávamos, nem sentia mais a água batendo sobre nossos corpos.

Eu sabia que era errado. Adam estava bêbado, mal sabia o que estava fazendo. Mas ao sentir seus lábios em meu pescoço, sua respiração contra minha pele, deixei de pensar em qualquer coisa.

Suas mãos apertavam minha cintura com força. Ele não estava sendo nem um pouco gentil. As minhas estavam passando pelo seu cabelo, o puxando de leve. Sentia seu corpo sendo cada vez mais pressionado contra o meu, minhas costas contra a parede, até que tive um colapso de consciência.

"Adam!" o chamei, mas ele pareceu não me ouvir. Continuou descendo seus dedos por minhas costas, causando-me arrepios. Deu um aperto forte em minha bunda, me sobressaltando. "Adam!" o empurrei com mais força e ele olhou para mim confuso. "Para!"

Ele me olhou por mais alguns segundos e pareceu irritado quando me afastei. Desliguei o chuveiro e peguei as toalhas, entregando uma para ele. Ele seguiu até o quarto, se escorando pelas paredes, sem ao menos me olhar. Sentei-me no sofá, repassando a cena. O que estava acontecendo ali?

“Você vai ficar, não é?" ele surgiu novamente, enquanto passava a camiseta pela cabeça. Os cabelos estavam uma perfeita desordem.

“Adam, eu preciso...”

“Fica, Sam!” ele me interrompeu, suplicante. Ele se aproximou e levou sua mão até meu rosto, acariciando minha bochecha suavemente com o polegar. Aquele fato me surpreendeu ainda mais do que o beijo. "Por favor!"

“Tudo bem." concordei com a cabeça e me inclinei um pouco para trás. Eu estava sem graça, ninguém poderia me culpar. Adam mudava tanto de humor que era difícil acompanhar. "Eu fico no sofá e qualquer coisa que você pre...”

“Não! Dorme comigo.” seu tom era uma mistura de súplica com ordem. Seus olhos me fitavam de maneira invasiva e meu instinto foi desviar.

Senti meu rosto corar fortemente ao ouvir as palavras dele, mas antes que eu pudesse contradizê-lo, ele me puxou para o quarto. Eu tinha que admitir que aquele pedido havia feito meu coração se acelerar de uma forma inimaginável.

Ele sentou-se na cama, me observando. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, e eu não sabia se era devido ao choro ou a bebida. Logo jogou-se para trás.

“Pode pegar uma camiseta e uma bermuda.” sua voz saiu abafada, devido ao seu rosto estar contra o travesseiro.

Eu já havia vestido roupas de Adam outra vez, e bom, as minhas estavam completamente encharcadas, como da última vez. "Não vamos tornar isso um hábito, certo?" Lembrei-me das palavras de Adam no carro. Parecia ter tanto tempo.

Fui até o banheiro e me troquei, demorando mais tempo do que o necessário. Pendurei minhas roupas no varal, rezando pra que elas secassem até de manhã. Assim que voltei ao quarto, percebi que Adam já havia dormido.

Certifiquei-me de mandar uma mensagem para minha mãe. Amanhã eu explicaria. Bom, tentaria explicar.

Peguei então alguns travesseiros e coloquei no meio da cama, separando claramente o meu lado e o de Adam. Ah, o que foi? Já tinha dividido ocasionalmente a cama com Mike e, em outra ocasião, com meu primo Arthur, mas eu os conhecia há anos.

Eu estava aprendendo a confiar em Adam, mas depois de seus comentários maliciosos e o fato de ele dormir apenas de bermuda... Bom, confesso que naquela situação, não confiava nem em mim mesma. 'Você é alguma espécie de puritana?' sua voz me veio à mente no mesmo instante.

“O que é isso?” ele perguntou abrindo os olhos lentamente, depois que esbarrei acidentalmente em seu ombro.

“O que parece?”

“Que estamos numa guerra de trincheiras.” a expressão em seu rosto era hilária. A testa franzida, as sobrancelhas unidas, numa clara confusão.

O quarto estava um pouco escuro, iluminado apenas pelo abajur sobre o criado-mudo.

“É uma barreira.” falei, enfatizando o óbvio.

“Por que eu não resistiria ao seu charme?” tudo bem, eu admitia. Era ridículo!

“É só por precaução. Eu me mexo muito dormindo e você pode acabar levando um soco sem querer.” não era inteiramente mentira, mas eu havia exagerado um pouquinho.

“Você se preocupando com minha segurança é um fato inédito.” ele resmungou.

“Só cala a boca e dorme, Adam.” sentia meu rosto arder.

Me deitei bem na beirada da cama, ainda constrangida com aquela situação. Após alguns minutos, senti ele afastar alguns travesseiros e me içar com seu braço, fazendo minhas costas baterem contra seu peito. Não ousei ao menos me mexer.

Meus sonhos aquela noite foram invadidos por um caminhão em alta velocidade batendo contra um carro azul.


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Notas finais do capítulo

Sinto lhes dizer, porém esse capítulo será um dos últimos por algum tempo.
Estou com alguns problemas familiares, como o fato de minha avó paterna estar em coma.
Então, ficarei pelo menos alguns dias/semana sem escrever.
Então, um beijo, um queijo e até lá!



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