“Eu não acredito nisso!” escutei a voz de Liz ao longe. Virei para os lados, para certificar que ela está mesmo falando comigo. Ergui uma das sobrancelhas, incapaz de entender todo aquele sobressalto. “Nossa banda favorita vai fazer um show!”

“O quê?” fiquei boquiaberta ao mesmo instante, e toda aquela empolgação contagiante passou para mim.

“Às 19 horas, no primeiro sábado de abril, a banda Random Reflections, se apresentará no palco mais famoso do mundo. Os ingressos começaram a ser vendidos online à partir da meia-noite.” ela leu tudo apressadamente, enquanto eu tentava ler o texto por cima de seu ombro. “Garanta já o seu!” ela se virou pra mim, visivelmente eufórica. “Nós temos que ir.” eu não consegui reprimir uma risada ao ver sua expressão.

“O que aconteceu?” disse Nate se aproximando com um sorriso nos lábios, alternando seu olhar entre nós.

Liz repetiu tudo o que havia falado para mim, com a voz esganiçada e dando pequenos pulinhos. Nate apenas riu e concordou em ir conosco.

“Oi, Sam.” a voz de Adam me distraiu. Nem havia reparado o quão perto ele estava de mim.

“Adam!” abri um sorriso enorme em sua direção. Ele pareceu um pouco sem jeito, mas eu não pude reprimir. Em parte, estava ansiosa para saber se ele cumpriria com a promessa. Em outra, pela notícia que havia acabado de receber. Ficamos se encarando por alguns segundos, perceptivelmente constrangidos e sem saber como agir. Até que ele quebrou o silêncio.

“Tenho certeza que essa felicidade não é apenas em me ver, certo?” eu ri e assenti com a cabeça. “O que houve?”

Assim que abri a boca para falar, a voz de Liz me interrompeu.

“Ei, garoto! Já falei pra você ficar lon...”

“Liz, está tudo bem.” lhe lancei um olhar de alerta e ela ficou absolutamente surpresa. “Eu falo com você depois.” acrescentei olhando para Adam. Ele apenas assentiu com a cabeça e seguiu em direção à sua sala.

“O que significa isso, Samanta?” disse Nate se aproximando, com os braços cruzados e uma expressão não muito boa. Liz também parecia irritada.

“Eu resolvi dar uma segunda chance.” dei de ombros, tentando parecer indiferente.

“Ele não serve para ser seu amigo, Sam.” Liz me repreendeu.

“E por que não?” olhei fixamente para ela.

“Só não diga que eu não te avisei.” ela puxou Nate pela mão e os dois saíram em disparada até a sala de aula.

***

Ainda na última aula, consegui ouvir os primeiros pingos de chuva batendo contra à janela. Respirei fundo, imaginando como enfrentaria aquilo. Eu realmente precisava de um carro e o mais rápido possível.

Assim que o professor nos liberou, vasculhei minha bolsa em busca de meu guarda-chuva. Com um suspiro, constatei que havia o deixado em casa. Brilhante! Caminhei derrotada até a saída e fiquei encarando a forte chuva, pensando em uma solução.

Liz, com toda certeza, ainda estava chateada por eu ter decidido ser amiga de Adam. Nem ousaria pedir uma carona. Ela havia me ignorado durante toda a aula, assim como Nate. Ainda podia ouvir sua voz me alertando “Fique longe dele, Sam!” No inicio, a ideia pareceu idiota e improvável. Por que eu me aproximaria de Adam? Mas agora, a última frase dela, com aquele breve tom de ameaça me fez ficar apreensiva. O que de tão ruim poderia acontecer?

“Sam!” uma voz interrompeu meus devaneios. Olhei para frente, procurando quem havia me chamado e logo Peter surgiu em meu campo de visão, com um sorriso largo e os cabelos espalhados pela testa. “Precisa de uma carona?”

Mordi meu lábio, visivelmente constrangida. Desde o incidente no boliche, em que Peter havia me levado para casa, eu não havia falado com ele. Bem, não pessoalmente. Trocamos algumas mensagens, já que naquele dia, após ter comprado outro telefone, ele havia pedido meu celular. Conversamos por horas. Sabia que as indiretas e jogadas de charme eram uma estratégia de Peter, mas eu não conseguia me interessar por ele. Ele podia ser rico, bonito e até legal, mas faltava algo. Eu não sabia exatamente o quê.

Quando lembrei-me subitamente que ainda lhe devia uma resposta, entreabri meus lábios, mas uma outra pessoa respondeu por mim.

“Na verdade, ela vai comigo. Não é, Sam?” senti a mão de Adam sobre meu ombro. Que diabos ele estava fazendo? Virei-me de lado e o encarei, mas ele apenas me lançou um sorriso. Olhei então para Peter.

“Adam já havia me oferecido uma carona, Peter.” abri um sorriso sem jeito. Peter parecia decepcionado e até um pouco surpreso, então decidi acrescentar. “Sinto muito, mas obrigada por ser gentil.”

“Claro, não tem de quê.” ele deu um pequeno sorriso, seguido de um aceno rápido, que retribui.

Assim que ele saiu, virei em direção à Adam, com os braços cruzados na altura do peito e franzi o cenho.

“O que foi isso?”

“Peter é um idiota, não sei por que ainda perde seu tempo com ele.” ele abriu um sorriso sarcástico.

“Não sei por que ainda perco meu tempo com você.” revirei os olhos impaciente. “Não é você quem deve decidir o que é bom para mim, Adam.”

Não sei exatamente o motivo de minha irritação, mas odiava quando as pessoas faziam decisões em meu lugar. Primeiro, meus pais em relação a minha carreira profissional, depois Liz em relação a minha amizade com Adam e agora Adam estava tentando enxotar Peter em meu lugar. Cuidem de suas vidas!

“Já vamos começar?” ele ergueu uma das sobrancelhas, numa expressão claramente entediada.

“Não.” bufei e voltei a olhar para frente. A chuva estava mais forte e parecia que não pararia tão cedo. Assim que ouvi o barulho intenso de um trovão, senti meu corpo estremecer. Droga, eu odiava aquele ruído!

“Vamos, vou te levar para casa.” Adam tocou meu braço de leve, com a expressão mais suave.

“Não vou a lugar algum com você.”

Foi a vez dele, revirar os olhos.

“Não me obrigue a carregar você.”

“Você não faria isso.” debochei.

“Não me desafie.” ele estreitou os olhos.

“Você é insuportável.” levantei as mãos em frustração e segui até o estacionamento, com passos rápidos.

“Acho que você está começando a gostar de mim.” ele me seguiu, com um sorriso convencido nos lábios.

“Pobre iludido.” falei com desdém.

Até Adam achar as chaves de seu carro, eu já estava completamente ensopada. Entrei xingando, frustrada no veículo, enquanto Adam ria e me estendia uma toalha.

“Do que você está rindo?” perguntei com carranca enquanto me secava e, em seguida, o entregava para que ele fizesse o mesmo.

“Já percebeu que sempre que nos encontramos, bom, na maioria das vezes, você acaba molhada?” tentei ignorar o tom malicioso em sua voz, mas minhas bochechas coraram instantaneamente. “A festa com o drink, o dia do boliche com a chuva e agora. Não podemos tornar isso um hábito.”

“Cala a boca.” rebati e desvio meu olhar para frente, mas percebi que o seu continuava em meu rosto.

Até que ele deu partida no carro e começou a dirigir. Me encolhi mais uma vez quando vi um clarão proporcionado por outro relâmpago.